Introdução Este volume inclui os teóricos responsáveis pelos mais importantes e inovadores avanços nas idéias formativas dos pensadores presentes em 50 sociólogos fundamentais. E são “contemporâneos”, pela duradoura relevância de suas inovações teóricas para o trabalho sociológico vigente. Os contemporâneos partiram de contribuições dos teóricos formativos, ampliando seus argumentos, ou desenvolveram conceitos totalmente novos como base da própria obra. A teoria contemporânea não deve ser vista como um conjunto de formulações que substitui a teoria formativa anterior ou que faz dela um conhecimento sistemático totalmente ultrapassado e moribundo. Pelo contrário, a teorização contemporânea deve ser encarada como uma extensão e elaboração de muitos temas desenvolvidos pelos autores fundamentais e que amplia o arsenal de ferramentas teóricas disponíveis aos sociólogos. É por essa razão que a maior parte dos cursos de teoria social adota uma estrutura cronológica, mapeando o desenvolvimento das idéias, em seu percurso do formativo ao contemporâneo. Esse avanço teórico ocorreu em todas as principais áreas da teorização social. Todas as compreensões da cultura, da estrutura social, da socialização, da ação e do conflito e mudança, por exemplo, passaram por significativos debates e importantes elaborações teóricas. De fato, muitas das velhas idéias foram superadas ou, uma vez provado que eram equivocadas ou parciais, suplementadas por novas percepções teóricas. Contudo, de todas as áreas da teoria social que experimentaram avanços sociais, duas se sobressaem, e estão presentes na obra de autores que elegeram como preocupação central questões de gêneros e etnicidade. Entre os teóricos fundamentais, Harriet Martineau foi pioneira na tentativa de compreender a situação e posição da mulher, sendo seguida por um pequeno grupo de pensadores. Entretanto, essas preocupações estiveram, em larga medida, ausentes do debate teórico promovido pelas correntes sociológicas predominantes. Somente após a segunda onda do feminismo da década de 1970, novas idéias conceituais acerca de gênero, sexualidade e patriarcado tiveram um impacto relevante no âmbito da sociologia e das ciências sociais de maneira mais ampla; Simone de Beauvoir e Viola Klein desbravaram novos enfoques sobre essas questões, e suas idéias permearam a pesquisa posterior de autoras tão diversas como Shulamith Firestone, Ann Oakley, Dorothy Smith, Donna Haraway e Judith Butler. “Raça”, por outro lado, foi um tema que não passou despercebido dos teóricos formativos, que escreveram prolificamente sobre o tópico. Porém, o que escreveram sobre raça tendia a refletir os modelos biológicos de raça e etnicidade então prevalecentes. Teóricos fundamentais como William Dubois rejeitaram 50 Grandes sociólogos contemporâneos tal determinismo e ressaltaram a importância de construções sociais de raça, e idéias desse tipo inspiraram uma nova geração de teóricos a explorar as estruturas de racialização e formação racial e os processos de inclusão e exclusão a que estavam associados. Autores como Frantz Fanon, C. L. R. James, Paul Gilroy e Orlando Patterson estão entre os teóricos que mais e melhor contribuíram com esses argumentos, ao passo que William Julius Wilson explorou as conseqüências empíricas desses processos. Alicerçando grande parte dos textos sobre raça e gênero, estiveram os avanços teóricos na análise da cultura. A cultura sempre foi questão central para os antropólogos sociais e sociólogos formativos, mas apenas no período contemporâneo passou a ser objeto de atenção teórica rigorosa e consistente. Autores como Basil Bernstein e Mary Douglas são exemplos importantes desse novo foco de atenção; no entanto, o maior impacto se verificou na obra de pensadores influenciados pelo estruturalismo de Claude Lévi-Strauss. Trabalhando na vertente predominante do estruturalismo, Roland Barthes contribuiu tremendamente com os debates teóricos, ao passo que nomes como Michel Foucault e Jean Baudrillard, cada qual à sua maneira, abriram caminho para os argumentos “pós-estruturalistas” e “pós-modernistas” que ajudaram a reorientar áreas inteiras do debate. Intimamente vinculados a esses avanços teóricos estão os desdobramentos na teorização de raça que passaram a ser referidos como “pós-colonialismo”, interessados em examinar, em particular, os contextos imperiais de relações de raça, explorando as idéias de diferença étnica e hibridez. Os nomes mais notáveis nesta discussão são Edward Said e Gayatri Spivak, ambos com formação em teoria literária. A inclusão neste volume de autores chave de fora das fronteiras da sociologia é importante. A sociologia se desenvolveu como disciplina centrada em torno da construção da teoria social, embora esta também tenha sido desenvolvida nas ciências sociais especializadas. Por essa razão, incluí aqui diversos filósofos, psicólogos e antropólogos sociais e outros, cujas idéias tiveram grande impacto nas idéias discutidas e debatidas no âmbito da sociologia propriamente dita. Os antropólogos Claude Lévi-Strauss e Clifford Geertz, a psicanalista Melanie Klein, o filósofo Gilles Deleuze e a bióloga primatologista Donna Haraway merecem, todos, inclusão num livro sobre os sociólogos mais importantes, mesmo que eles próprios e muitos comentadores recusem a identidade de “sociólogos”. São suas idéias e o impacto delas no âmbito da sociologia que garantem sua inclusão neste volume. Minha seleção particular de sociólogos reflete meus próprios interesses e preocupações: é inevitável. Contudo, busquei aconselhamento, de modo a assegurar que minha seleção fosse a mais representativa possível. Minha seleção 10 introdução inicial de autores foi submetida a um painel de colegas da Universidade de Essex, o mais importante departamento de sociologia da Grã-Bretanha. Pedi a meus colegas que votassem nos nomes cuja inclusão ou exclusão julgavam obrigatória. Também pedi que identificassem quaisquer outros autores que considerassem merecedores de inclusão no livro. A partir dessas sugestões foi elaborada uma lista revisada, que foi submetida novamente ao painel, para uma avaliação final. Por fim, a lista completa foi divida em duas outras – de autores “formativos” e “contemporâneos” – e cada lista foi refinada até chegar aos 50 autores essenciais que parecia sensato incluir na relação definitiva. Os verbetes deste livro foram elaborados por uma variedade de especialistas internacionais. Diferem em estilo e formato, mas todos adotam um enfoque semelhante. Detalhes biográficos básicos sobre a vida e a carreira de cada teórico situam cada um em seu contexto histórico e social. Os verbetistas tentaram delinear as idéias fundamentais e principais estudos realizados por cada autor, mostrando as maneiras como suas idéias surgiram e foram desenvolvidas. Tentei listar cada pensador simplesmente pelo primeiro nome e sobrenome. No entanto, nos casos em que se convencionou chamá-los por um nome alternativo (por exemplo, C. Wright Mills e William Julius Wilson), eles foram assim relacionados. Cada verbete encerra-se com uma lista das principais obras do teórico e algumas sugestões de leitura complementar. As ligações com outros teóricos são indicadas pelas referências cruzadas em “Veja também”. As referências cruzadas incluem alusões aos autores do volume 50 sociólogos fundamentais. Para saber mais Baert, Patrick. Social Theory in the Twentieth Century. Cambridge: Polity Press, 1998. Craib, Ian. Modern Social Theory: From Parsons to Habermas. London: Harvester Wheatsheaf, 1992. Scott, John. Social Theory: Central Issues in Sociology. London: Sage, 2006. Scott, John. Sociological Theory: Contemporary Debates. Aldershot: Edward Elgar, 1995. 11