Dr. Luiz Carlos Bertoni - CRM-PR 5779 ______________________________________________________________________________________ POLINOSE: QUANDO AS FLORES PROVOCAM ALERGIA PARTE 1/2 RINOCONJUNTIVITE PROVOCADA POR POLINOSE A polinose geralmente se manifesta com crises de rinoconjuntivite e/ou de asma, ambas apresentam características de ocorrerem durante o período de floração da planta da qual a pessoa é sensível. Entre nós essas crises ocorrem durante a floração das gramíneas, dos arbustos ou das árvores, período em que os polens são liberados pelas flores. A característica dessas alergias é sua periodicidade anual, os sintomas repetem-se durante a mesma época do ano, quando ocorre a polinização. O fator causador da alergia são os grãos de polens de plantas alergógenas que entram no nariz e pulmões, produzindo reação alérgica inflamatória. Em geral os polens são leves e levados pelos ventos a grandes distâncias. Essa alergia é considerada uma doença epidêmica pós-revolução industrial gerada pela urbanização, poluição, movimentos populacionais e mudança de práticas agrícolas. EPIDEMIOLOGIA O Brasil possui uma flora abundante, apesar disso existem poucos polens no ar devido à temperatura, umidade e regime de chuvas. As alergias respiratórias como a asma e rinite alérgica apresentam crises durante todo o ano provocadas principalmente por ácaros da poeira de casa, baratas e fungos-do-ar. A polinose era considerada até alguns anos uma doença rara ou mesmo uma curiosa exceção. O crescimento da população, as modificações no domínio da terra e as novas práticas na agricultura associadas à propagação de plantas alergênicas contribuíram para o aparecimento da polinose no sul do Brasil. A introdução de gramíneas com potencial alergisante como o azevém (Lolium mutiflorum) fechou o ciclo. A polinose no Brasil é muito recente e atingem principalmente os estados do sul como Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Os polens das gramíneas (gramas) são mais freqüente causas de rinite estacional que ocorre durante os meses da primavera (setembro a novembro). A cobertura florestal original do Rio Grande do Sul era de 40% (estimada pelo antigo IBDF) e na década passada 2,6%, fato semelhante ocorreu em Santa Catarina e Paraná onde as gramíneas substituíram a vegetação natural em extensas áreas. Os primeiros casos diagnosticados ocorreram entre 1983-1989, sendo os pacientes moradores de regiões de topografia elevada no Rio Grande do Sul e extremo sul de Santa Catarina. O sul do Brasil tem um inverno extenso e temperaturas baixas, e também tem _______________________________________________________________________________________________ AV. BANDEIRANTES, 515 – TELEFONE (43) 3324-3303 – LONDRINA – PR www.alergiarespiratoria.com.br – [email protected] Dr. Luiz Carlos Bertoni - CRM-PR 5779 ______________________________________________________________________________________ uma primavera exuberante o que faz com haja aumento significativo da concentração de polens no ar nessa estação do ano. Os pacientes previamente sensibilizados aos polens alergógenos manifestam os sintomas da rinoconjuntivite. Naqueles com asma, além do chiado de peito (falta de ar), geralmente associa-se intensos sintomas nasais. A exposição aos alérgenos pode ocorrer tanto dentro das residências como nos locais de trabalho. Os ácaros e a poeira domiciliar representam mais de 90% dos alérgenos responsáveis pelas crises de rinite e asma; os detritos das baratas, por 25%. Os animais domésticos como cães, gatos e aves apresentam baixa alergização entre nós (menos que 5% dos alérgicos). A alergização aos polens apresenta sua maior incidência no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. No Paraná a incidência de polinose ocorre em todo estado incluindo o Norte do Paraná (região de Londrina). Na região montanhosa de Campos de Jordão (SP) existem casos descritos de polinoses. ETIOLOGIA – OS POLENS O Lolium multiflorum (azevém) não é nativo do Brasil, porém sua cultura tornouse quase obrigatória como gramínea forrageira para os meses de inverno, além do aumento das áreas de cultivo, graças ao crescimento das cidades, juntou-se outras espécies de gramíneas com intenso potencial alergênico que crescem desordenamente nas periferias das cidades e em terrenos abandonados. Nas regiões rurais do sul do país, houve modificações de práticas agrícolas em extensas áreas anteriormente cultivadas com Triticum (trigo), que foram substituídas por pastagem de inverno com Lolium (azevém), associadas à Avena (Aveia) e a leguminosa Trifolium (trevo). Neste solo, após a retirada do gado, pode permanecer quantidade considerável de azevém que completa seu ciclo vegetativo polinizando, antes de ser ocupada a terra para o “plantio direto” da soja. Os polens que chegam aos habitantes das cidades têm origem em muitas fontes como, gramíneas invasoras que habitam terrenos abandonados, parques e jardins. Nesses locais, se não forem cortadas mais que uma vez por ano, completam seu ciclo vegetativo e dispersam uma carga polínica importante. No planalto médio do Rio Grande do Sul, as gramíneas forrageiras selvagens mais freqüentes, difundidas e relacionadas com a polinose são aquelas que o agricultor pode comprar as sementes para seu cultivo como, o azevém anual, azevém perene, capim lanudo, timóteo e dátilo. Embora as gramíneas sejam as principais fontes de alergização por polens entre nós, existem árvores que poderão sensibilizar as pessoas. Lembrando que o Platanus e os Ciprestes polinizam durante o inverno. _______________________________________________________________________________________________ AV. BANDEIRANTES, 515 – TELEFONE (43) 3324-3303 – LONDRINA – PR www.alergiarespiratoria.com.br – [email protected] Dr. Luiz Carlos Bertoni - CRM-PR 5779 ______________________________________________________________________________________ LISTA DE PLANTAS POTENCIALMENTE ALERGIZADORAS Gramíneas forrageiras selvagens: Lolium multiflorum (azevém anual) Lolium perene (azevém perene ou capim inglês) Holcus lanatus (capim lanudo) Phleum pratense (capim rabo-de-gato ou timóteo) Poa pratensis (capim do prado ou de Dactylis glomerata (capim dos pomares ou junho) dátilo) Anthoxandum odoratum (capim doce) Gramíneas forrageiras cultivadas: Avena sativa (aveia branca) Avena strigosa (aveia preta) Triticum sativum (trigo) Zea mays (milho) Paspalum notatum (grama forquilha) Avena byzantina (aveia amarela) Secale cereale (centeio) Hordeum vulgare (cevada) Cynodon dactylon (grama rasteira) Phragmites communis Veja a lista de árvores potencialmente alergizadoras: Robinia pseudocacia (acácia) Eucaliptus Ligustrum japonico Ligustrum vulgare Olea europea (oliveira) Platanus acerifolia Pinus silvestris (pinheiro) Ciprestes Veja a lista de arbustos potencialmente alergizadores: Artemisia vulgaris (losna) Chenopodium album (erva Santa Maria) Helianthus annus (girassol) Plantago lanceolata (tanchagem) Taraxacum officinale (dente de leão) Ambrosia trifida Urtica dioica O Ligustrum japonicum (lucidum) é uma árvore exótica usada em arborização urbana, sua polinização ocorre em dezembro/janeiro. Sua polinização ocorre imediatamente à das gramíneas (setembro/novembro) em algumas cidades do sul do Brasil onde foi largamente plantada. Segundo o Dr. Francisco Vieira, em Caxias do Sul (RS), corresponde a 68% das árvores plantadas da área central. Em 323 indivíduos com polinose por gramíneas, 50,3% possuíam sensibilização por Ligustrum. Pesquisas epidemiológicas em algumas cidades do RS estimavam maior polinose em Caxias do Sul (4,8%), localizada na serra gaúcha e _______________________________________________________________________________________________ AV. BANDEIRANTES, 515 – TELEFONE (43) 3324-3303 – LONDRINA – PR www.alergiarespiratoria.com.br – [email protected] Dr. Luiz Carlos Bertoni - CRM-PR 5779 ______________________________________________________________________________________ em Passo Fundo (2,4%) no planalto médio. Atualmente em Curitiba, estima-se que a prevalência da polinose por gramíneas de 1,8% em crianças e de 10,4% em adultos. ETIOPATOGENIA Na polinose existe uma associação de época no desenvolvimento dos sintomas com a elevação de anticorpos IgE (anticorpo da alergia) contra o pólen causador. As evidências de que as manifestações sistêmicas são partes da fisiopatologia da doença. O pesquisador Connel (1968) demonstrou o “priming effect”, onde repetidas exposições da mucosa respiratória por um alérgeno diminui o limiar de reatividade, ou seja, facilitando o aparecimento da alergia respiratória. No hemisfério sul as gramíneas polinizam quase ao mesmo tempo em que as árvores alergogênicas, e assim, os habitantes das cidades correm maiores risco de tornarem-se sensibilizados a diferentes tipos de polens. Vários fatores contribuem para isso a poluição ambiental, o plantio indiscriminado de árvores alergógenas ao paisagismo e as gramíneas invasoras. O numero de polens é significativamente aumentado nos dias quentes, secos e ensolarados, e diminui nos dias frios e úmidos. Crises agudas de rinoconjuntivite são freqüentes nos usuários de motos e mesmo de bicicletas, que não usam proteção de capacete ou óculos. O mesmo ocorre ao cortar grama. O uso de lentes de contato poderá transformar-se em um problema para os indivíduos com conjuntivite polínica. Nas regiões do Brasil que ocorre as polinose, é importante avaliar a quantidade de plantas potencialmente produtoras de doença polínica, relacionadas à prevalência de ventos e obstáculos. O tempo de florescimento pode estar relacionado ao período em que existe maior concentração polínica. No sul do Brasil, nas regiões rurais, atenção especial deveria ser dada à relação entre as culturas extensivas de gramíneas forrageiras ao potencialmente alergógeno e polinose. AS DÚVIDAS E PERGUNTAS DEVERÃO SER LEVADAS AO SEU ALERGISTA PARA ESCLARECIMENTO. IMPORTANTE As informações disponíveis no site www.alergiarespiratoria.com.br possui caráter informativo e educativo. No caso de consulta procurar seu médico de confiança para diagnóstico e tratamento. Dr. Luiz Carlos Bertoni Alergista - Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (ASBAI) Membro - World Allergy Organization (WAO) CRM-PR 5779 _______________________________________________________________________________________________ AV. BANDEIRANTES, 515 – TELEFONE (43) 3324-3303 – LONDRINA – PR www.alergiarespiratoria.com.br – [email protected]