1 HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA DA MÚSICA POPULAR

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1
HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA:
DOS BARQUINHOS ÀS MONTANHAS – A PRODUÇÃO
DISCOGRÁFICA DA BOSSA NOVA MINEIRA*
SHEYLA CASTRO DINIZ1, ADALBERTO PARANHOS2
RESUMO: A Bossa Nova, geralmente associada, tanto pelos acadêmicos quanto pelo senso
comum, com o ambiente musical carioca dos anos 1950 e 1960, revela-se, neste trabalho,
como um tipo de canção igualmente consumida e produzida em Minas Gerais (Belo
Horizonte) durante o mesmo período. Este artigo se propõe a analisar o movimento bossanovista mineiro no que compete à sua produção discográfica, que foi desenvolvida
principalmente pela atuação do Sambacana, grupo encabeçado por Pacífico Mascarenhas,
tendo em vista suas interações com a Bossa Nova do Rio de Janeiro, as apropriações e
reapropriações realizadas nesse contexto. Destaco que o caráter além-fronteiras (de tempo e
de espaço) que caracteriza a Bossa Nova se configurou em um alicerce para a musicalidade
belo-horizontina, sobre o qual se estruturaram parte da sonoridade do Clube da Esquina e a
formação artística de vários músicos posteriores.
Palavras-chave: História, Música Popular, Bossa Nova.
RESUMEN: La Bossa Nova, generalmente asociada tanto por los académicos como por las
personas comunes, con el ambiente musical carioca de los años 1950 y 1960, se enseña en
este trabajo, como una modalidad de canción igualmente consumida y producida en Minas
Gerais (Belo Horizonte) durante el mismo período. Este artículo se propone a analizar el
movimiento bossa-novista mineiro de acuerdo con su producción discográfica, que fue
desarrollada principalmente a través de la actuación del Sambacana, grupo encabezado por
Pacífico Mascarenhas, llevando en cuenta sus interacciones, apropiaciones y reapropiaciones
con la Bossa Nova de Río de Janeiro. Resalto que, el carácter más allá de las fronteras (de
* Esta pesquisa, realizada no período de agosto de 2007 a julho de 2008, deu continuidade aos trabalhos
iniciados em julho de 2006, mediante o financiamento – por dois anos consecutivos – do Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq/UFU).
1
Licenciada em Ciências Sociais e graduanda em Música pela Universidade Federal de Uberlândia. Bolsista
PIBIC/CNPq/UFU, projeto G-015, 2007/2008. Rua Nelson de Oliveira, 512 – cs. 2, bairro Santa Mônica,
Uberlândia/MG, CEP: 38408-204. [email protected]
2
Professor doutor do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-graduação em História da
Universidade Federal de Uberlândia. Rua Olegário Maciel, 543, ap. 2102, Centro, Uberlândia/MG, CEP: 38400084. [email protected]
2
tiempo y espacio) que caracteriza la Bossa Nova, se cambió en una base para la musicalidad
belo-horizontina, sobre la cual se estructuraron parte de la sonoridad del Clube da Esquina y
la formación artística de varios músicos posteriores.
Palabras-llave: Historia, Música Popular, Bossa Nova.
visão
INTRODUÇÃO
quase
unânime
que
buscamos
acrescentar mais uma página à história da
a
Para que o leitor possa contextualizar
Bossa Nova, ainda não contada e muito
pesquisa
menos problematizada, focalizando sua
rapidamente
desenvolvida,
o
debate
retomo
em torno
do
vertente mineira, que teve início na década
surgimento da Bossa Nova em 1958.3 A
de 1960, em meio à efervescência deste
assimilação de procedimentos jazzísticos
movimento artístico brasileiro.
(de origem estadunidense) pela canção
bossa-novista
gerou
dos
final da década de 1950 contava com a
“defensores” de uma tradição musical
famosa Turma da Savassi – da Praça da
brasileira que não admitiam tal influência
Savassi –, que, composta basicamente por
externa, apontando o aspecto “deturpador
jovens do sexo masculino, era reconhecida
de nossas origens culturais”. Ao mesmo
na cidade por suas peripécias diversas. Os
tempo, o novo gênero recebia a aprovação
amigos que ali se encontravam, no bairro
de muitos que enxergavam nele o ponto de
dos
partida para a renovação musical do Brasil.
realizavam “amorosas serenatas” nas casas
Ressaltamos, contudo, que o trabalho
das namoradas, organizadas com base em
aqui apresentado centra-se na perspectiva
um repertório de sambas-canções, que já
da
apontavam
modernidade
protestos
A cena musical belo-horizontina do
estético-musical
Funcionários,
para
inaugurada pela Bossa Nova, sem perder
popular
de vista seus precursores. Importa salientar
essencialmente
que o local comumente vinculado à sua
Nova.
a
constantemente
“moderna
brasileira”
referenciada
música
(MMPB),
na
Bossa
4
produção e maior propagação sempre foi o
Rio de Janeiro, mas é na contramão desta
3
Para mais informações, ver PARANHOS,
Adalberto. Novas bossas e velhos argumentos:
tradição e contemporaneidade na MPB. História &
Perspectivas, n.º 3, Uberlândia, UFU, jul./dez.
1990, p. 5-18.
4
Sobre a importância da Bossa Nova na
consolidação da chamada MMPB (moderna música
popular brasileira), que passou a ser reconhecida
somente por MPB, ver NAPOLITANO, Marcos.
“Seguindo a canção”: engajamento político e
indústria cultural na trajetória da música popular
brasileira (1959-1969). Tese de doutorado em
História Social. São Paulo: USP, 1998, p. 1-17.
3
De
(1999),
acordo
o
ritmo
com
Walter
Garcia
denominada Bossa Nova, mas enfatizamos
mais
que este gênero repercutiu além dos limites
bossa-novista,
precisamente o pulsar do baixo do violão
do território fluminense.
de João Gilberto (considerado o seu
Em Minas Gerais, a Bossa Nova
inventor ou sintetizador), estaria mais
ganhou forma a partir de reuniões musicais
ligado aos procedimentos de mesma
que passaram a acontecer no início dos
natureza adotados para o samba-canção
anos 1960, no sítio do pai de Pacífico
tradicional das décadas de 1930 e 1940,
Mascarenhas, um dos componentes da
bem como para a técnica de violão no
Turma da Savassi. Regadas a samba e
acompanhamento
samba-canção
caldo de cana, como revelou Pacífico em
moderno da década de 1950. Apontamos
entrevista6, “nada mais natural do que
que, para além do aspecto rítmico, os
batizá-las de Sambacana”, nome que se
sambas-canções modernos, celebrados, por
popularizou na série de LPs lançados pelo
exemplo, nas vozes de Dick Farney e
músico, mas que não representava um
Lúcio Alves, os quais compunham as
grupo coeso, já que sua composição era
atividades musicais dos integrantes da
diferente em cada disco gravado. Ao longo
Turma
de
da
do
Savassi,
revelavam
uma
sua
trajetória,
desde
o
primeiro
sofisticação estilística presente nas letras
lançamento em 1964, o Sambacana reuniu
mais coloquiais e na forma de cantar
vários artistas que estavam ingressando no
menos dramática e menos impostada.
meio musical e que se transformaram em
No período pré-Bossa Nova, os
jovens músicos belo-horizontinos, assim
ícones da Bossa Nova e da MPB, como
Joyce, Wagner Tiso e Milton Nascimento.
Neste
como os do Rio de Janeiro, estavam
artigo,
ocupamo-nos
não
sintonizados com as diferentes sonoridades
somente da análise da produção do
que permeavam o meio musical, advindas,
Sambacana, mas também de outras que
em grande parte, das incursões do cool
paralelamente se integraram à canção
jazz5. Não negligenciamos a primazia dos
bossa-novista das Geraes7, procurando
cariocas que, apoiados na batida de João
mostrar, inclusive, traços peculiares em
Gilberto, puderam dar o acabamento final
composições mais recentes dos músicos
para um tipo de canção convencionalmente
6
5
“O cool jazz é elaborado, contido,
anticontrastante. Não procura pontos de máximos e
mínimos emocionais. O canto usa a voz da maneira
como normalmente fala. Não há sussurros
alternados com gritos. Nada de paroxismos”
(BRITO. In: CAMPOS, 1978, p. 18-19).
Entrevista com Pacífico Mascarenhas concedida a
Sheyla Castro Diniz em 09 de junho de 2007. Belo
Horizonte/MG, duração de 60 min.
7
O termo Geraes se refere à maneira como o
Estado de Minas Gerais era chamado no passado,
inclusive o termo foi consagrado como título de um
disco de Milton Nascimento datado de 1976.
4
belo-horizontinos, inseridas no que Luiz
composições dos músicos mineiros que
Tatit (2004) chama de Bossa Nova
foram gravadas antes e depois que a Bossa
“extensa”.
Nova estabeleceu seus parâmetros de
execução. Temos ciência de que o seu
surgimento não se deu da noite para o dia,
“EU GRAVO ATÉ EM DISCO”8 A
considerando
que
muitas
obras
antecedentes já apontavam características
BOSSA NOVA DAS GERAES
harmônicas, melódicas, poéticas, rítmicas e
A música, assim como as fontes
visuais – artes que compuseram o quadro
de interpretação, mais tarde sintetizadas
pelo movimento bossa-novístico.
dos chamados “novos objetos” dentro das
Exemplo desta constatação é à
ciências humanas –, exige do pesquisador
interpretação
de
João
Gilberto
para
um olhar mais apurado para compreender
“Saudade da Bahia”9, de Dorival Caymmi,
os seus significados, não limitados à
que ganhou uma ressignificação estética e
linguagem textual, mesmo porque muitas
de estilo manifestada pela economia dos
“canções” são escassas de palavras.
instrumentos (violão, marcação da bateria,
Partimos da premissa de que a
trompete e um trombone somente na
análise da música popular como texto
introdução), pela voz contida na fluência
“literário” e “sonoro” implica a adoção de
da fala e pela singularidade do ritmo. A
uma metodologia capaz de comportar o
gravação da mesma música pelo seu
entendimento de que letra e som podem se
próprio autor10 sugere um clima bem
complementar
contrapor,
distinto, com arranjo carregado de cordas,
dependendo, muitas vezes, da performance
sopros e vocalizações que permeiam, quase
de seus intérpretes e do momento histórico
o tempo todo, a melodia regida pela
em que ela se faz e se refaz. Em outras
expressividade
palavras, uma composição é um “espaço
acompanhamento binário do samba ao
aberto para a pluralidade de significados e
pandeiro e cavaquinho.
e/ou
se
modificações
8
no
com
possibilidades trazidas pela Bossa Nova,
(PARANHOS, 2004, p. 24).
forma,
voz,
Este tipo de prática deve-se às novas
para a incorporação de vários sentidos”
Desta
da
destacamos
as
tratamento
de
Alusão à música “Amor certinho” do mineiro
Roberto Guimarães, gravada por João Gilberto no
LP O amor, o sorriso e a flor, de 1960.
9
“Saudade da Bahia” (Dorival Caymmi). João
Gilberto, LP João Gilberto. Odeon, 1961
(relançamento: CD de João Gilberto, O mito. Emi,
1992).
10
“Saudade da Bahia” (Dorival Caymmi). Dorival
Caymmi, LP Eu vou pra Macacangalha. Odeon,
1957.
5
que, além de inovar em termos de
cantor
elementos
constituir o elemento mais marcante na
estético-musicais,
busca
Gilberto
valorizar o “espírito da coisa”11, ou seja,
música,
um jeito diferente de conceber a canção.
grandiloqüente
Seguiram essa linha as composições
não
Santana,
apresenta
apesar
uma
com
interpretativos,
de
emissão
contrastes
assemelhando-se
ao
de Pacífico Mascarenhas reunidas no LP
colorido romantizado e volumoso da voz
Um passeio musical – gravado em 1958 na
de Lúcio Alves, que naquela época era
Cia Brasileira de Discos (RJ), hoje
estimado por muitos músicos mineiros.
Universal –, que, segundo ele, foi a
Ao escutar a mesma composição,
primeira produção independente do Brasil.
gravada em 1964 no primeiro disco da
Organizado com 14 faixas, sendo as sete
série Sambacana e cantada por Joyce
últimas instrumentais, o disco mostra a
(artista
tendência da pré-Bossa Nova, trazendo
musical)
músicas que mesclam jazz, choro, bolero e
continuidade
samba-canção, explicitando o hibridismo
chamamos
de gêneros musicais que assinalavam a
transformações ocorridas em favor de uma
tentativa de criar algo novo. As canções
concepção à luz da Bossa Nova. Diferentes
são interpretadas por Paulinho e Seu
significados estéticos e sonoros foram
Conjunto, grupo belo-horizontino do qual
inseridos nessa gravação, que, além de ter
faziam
o ritmo modificado, pouco propício à
parte
alguns
participantes
esporádicos da Turma da Savassi.
ainda
e
desconhecida
Toninho
à
a
(que
carreira
no
meio
não
deu
de
atenção
cantor),
para
as
dança, comporta improvisações ao piano e
Selecionamos propositalmente duas
à flauta13, que por vezes comenta em
faixas desse LP que foram gravadas quatro
trechos curtos, a melodia do canto. O
anos depois. A primeira delas, “Quanto
canto, por sua vez, não apresenta-se como
tempo” (Pacífico Mascarenhas), assume
foco
características
samba-canção
integração com a harmonia, formando, em
alguns momentos, duetos dissonantes. Esse
de
um
abolerado,
convidativo
à
aclimatado
para
execução
uma
dança
e
principal
devido
a
sua
maior
de
orquestras de baile, acostumadas com gran
finalles em dominante e tônica12. A voz do
11
Esta expressão foi retirada de uma fala de Carlos
Lyra, apud PARANHOS, 2000, op. cit, p. 39.
12
Os ritmos que, na década de 1950, estavam
atrelados à dança, tal como o bolero, geralmente
apresentavam uma harmonização simples baseada
no campo harmônico primário, com finalizações
vibrantes que confirmavam a tonalidade através do
movimento da dominante (tensão) para a tônica
(estabilidade).
13
Encontram-se práticas de improvisação em
gêneros musicais brasileiros anteriores à Bossa
Nova, como, por exemplo, o choro, porém, certas
habilidades neste sentido só foram devidamente
exploradas a partir de experimentações jazzísticas.
6
é despojado, desprovido de quaisquer
formalidades e impostações vocais.
Segundo Brito (op. cit.) a Bossa
Nova ultrapassou os dualismos relativos à
utilização de acordes consonantes ou
dissonantes e à separação do que seriam
harmonia e melodia, visto que a primeira
era quase sempre elaborada em favor da
última. Neste sentido, o hibridismo de
gêneros que aparece em Um passeio
musical
foi
suplantado
no
primeiro
trabalho de fato bossa-novista de Pacífico
Mascarenhas, lembrando que os arranjos
deste disco são de Roberto Menescal e
Hugo Marota e os teclados executados por
Eumir Deodato, músicos já com certa
experiência nesse campo.
Outro
elemento
inovador
está
expresso na troca de palavras da canção
“Se
eu
tivesse
coragem”
(Pacífico
Mascarenhas), sobre a qual o autor relata
ter composto com o objetivo de embalar as
serenatas que realizava com seus amigos.
Em Um passeio musical, esta composição
está em linha de sintonia com o estilo
galante que alimentava tais práticas de
conquistas amorosas.
Se eu tivesse ao menos coragem/ de
dizer que te amo e te quero/ que te adoro
meu bem/ que há muito te espero/ que
por ti meu amor já sofri/ e por ti meu
amor já penei/ se ao menos, porém
refletisses/ e pensasses um pouquinho
em nós dois/ se porém compreendesses
que te amo tanto/ que por ti meu amor já
sofri/ que por ti meu amor morrerei/ eu
não consigo te dizer/ que gosto muito de
ti/ fico acanhado em te pedir/ que me
dês logo o teu amor/ se um dia, porém
resolveres/ confessar que me amas
também/ tão feliz eu seria/ se tivesse um
dia/ um momento feliz ao teu lado/ um
momento feliz com meu bem (“Se eu
tivesse coragem", Pacífico Mascarenhas,
LP Um passeio musical, 1958, faixa 3).
Percebe-se um toque de erudição
literária na disposição dos verbos em
segunda pessoa, embalados pelo bolero
que rege o ritmo desta música – aspectos
não observados na gravação para o
primeiro Sambacana. A letra da canção
acima, na voz de Joyce, é modificada em
muitos trechos, substituindo-se “tu” por
“você” e mudando-se os tempos verbais
para o infinitivo, o que configura um clima
informal e “relaxado”. Frisamos que,
apesar da canção tratar das “dores de
amor”, ela assume ares de jovialidade que
transformam a tristeza em coisa leve e até
corriqueira,
numa
atitude
típica
dos
letristas da Bossa Nova.
Porém, o principal indício de um
despojamento literário no ainda pré-bossanovista LP Um passeio musical está
presente em “Turma da Savassi”, um
samba-choro que exibe uma variada gama
de gírias para contar o cotidiano desse
grupo, com direito a assovio no início da
introdução.
A turma é mala, esculachada, dá
pernada/ é de tudo, né de nada/ a turma
briga, dá pancada/ bebe whiskie até
7
cachaça/ e prá dá azar não ameaça/
ninguém põe banca com a Turma da
Savassi/ por que turma assim de cancha/
não de mete com essa classe/ o povo
sabe que essa turma é diferente/
conquista todo mundo/ e não dá bola
pressa gente/ por isso mesmo vai aqui
nosso lembrete/ quando derem um
banquete/ e nós não convidar/ nunca
esquecendo que essa turma é de apetite/
com entrada ou sem convite/ no seu lar
vai penetrar (“Turma da Savassi”,
Pacífico
Mascarenhas,
José
S.
Guimarães e Luiz Mario Barros, LP Um
passeio musical, 1958, faixa 7).
quando este já era um músico conhecido, e
ousou mostrar a ele sua composição
“Amor certinho”, que veio a integrar o LP
O amor, o sorriso e a flor, de 1960.15 A
mesma composição foi gravada um pouco
antes por Jonas Silva, ex-integrante do grupo
vocal Garotos da Lua, a pedido do próprio
João Gilberto, que também atuou como
croonner do conjunto. E posteriormente a
canção também se fez ouvir nas vozes de Leila
Pinheiro em 1994 e Lô Borges em 2003.16
Sobre a letra, Pacífico explica que
antigamente, a palavra mala é o
contrário de hoje. A turma é mala,
quer dizer, a turma é espetacular.
Esculachada, não ligava pra nada.
Dá pernada, a gente tinha mania de
ficar dando pernada... Então, você
fala em mala hoje é completamente
o contrário do que significava
antigamente.14
Valendo-se
de
adjetivos
no
diminutivo que reproduzem uma atmosfera
ingênua e jovial (principalmente na voz
contida de João Gilberto), “Amor certinho”
é um caso interessante de sutileza poética.
Estruturada à luz da Bossa Nova no que
compete
ao
ritmo,
disposição
dos
instrumentos e acordes dissonantes com as
Além de fazer parte do CD Belo
chamadas tensões harmônicas17, a canção
Horizonte que eu gosto, de 2003, “Turma
não perde de vista o comentário recíproco
da Savassi” ganhou uma nova roupagem
entre letra e música: o amor, que já tem
instrumental jazzística no disco em que o
patente registrada, pode ser gravado em
norte-americano Cliff Korman, ao lado do
disco
Quartet Bossa Jazz, gravou 19 músicas de
conhecimento do “negócio bem bolado,
Pacífico Mascarenhas.
direitinho” da Bossa Nova.
para
todo
mundo
tomar
Antes de continuar analisando a
produção
discográfica
de
Pacífico,
Amor à primeira vista/ amor de primeira
mão/ é ele que chega cantando, sorrindo/
direcionamos o foco a outro personagem
de igual importância que se inclui entre os
bossa-novistas
mineiros.
Roberto
Guimarães teve contato com João Gilberto,
14
Entrevista com Pacífico Mascarenhas concedida
a Sheyla Castro Diniz em 22 de julho de 2008. Belo
Horizonte/MG, duração de 60 min.
15
João Gilberto. LP O amor, o sorriso e a flor.
Odeon, 1960 (relançado em CD).
16
Leila Pinheiro. CD Isso é Bossa Nova. EMI,
1994, faixa 4; e Roberto Guimarães & convidados.
CD Amor certinho. S/ grav., 2003, faixa 1.
17
Em termos harmônicos, a Bossa Nova
configurou-se em um rico laboratório para a
experimentação de notas que se superpunham aos
acordes convencionais – as referidas tensões.
8
pedindo entrada no coração/ o nosso
amor já tem patente/ tem marca
registrada/ é amor que a gente sente/ eu
gravo até em disco todo esse meu
carinho/ todo mundo vai saber/ o que é
amar certinho/ esse tal de amor não foi
inventado/ foi negócio bem bolado/
direitinho pra nós dois/ foi ou não foi?/
esse tal de amor não foi inventado/ foi
negócio bem bolado/ direitinho pra nós
dois
(“Amor
certinho”,
Roberto
Guimarães. João Gilberto, LP O amor, o
sorriso e a flor, 1960, faixa 11).
As
composições
de
pelo arranjo do piano, único instrumento a
dar pinceladas harmônicas, remetendo-se,
por vezes, a um clima impressionista
debussyano.18
Branca é a estrela mais pura/ de uma
noite imensa/ que nasceu da ternura/ de
um beijo da lua/ e viveu desse encanto/
sem nunca morrer/ Branca é a última
espuma/ de uma onda do mar/ que
chorou de tristeza/ ao vê-la perdida/ nos
braços da praia/ sem nunca voltar/
Branca é a gota de orvalho/ que a noite
deixou/ na flor mais bonita/ meu sonho
mais puro/ mais cheio de sonhos/ que o
dia acordou/ Branca é a alma criança/
alegre lembrança/ de saudade feliz/ é a
imagem mais pura/ a mais doce ternura/
de um sonho que eu quis (“Serenata
branca”, Roberto Guimarães. Sérgio
Ricardo, LP Depois do amor, 1961,
faixa 5).
Roberto
Guimarães, criadas no auge da década de
1960,
não
certinho”,
se
limitaram
contudo,
ao
muitas
“Amor
delas
só
apareceram em 2003 no CD Roberto
Guimarães & convidados, como, por
exemplo, “Manhã já vem”, “Encoste o
rosto ao meu” e “Adeus que não parte”.
Revisitada, a canção ganha outro
No compacto gravado em 1962, com
a parceria de Pacífico, registram-se três
músicas de Roberto: “Menina da blusa
vermelha”, “Para haver amor” e “Sem
dizer mais nada”. Entre essas gravações da
década
de
significativas
1960,
é
uma
“Serenata
das
mais
Branca”
(Roberto Guimarães) cantada por Sérgio
Ricardo em seu LP Depois do amor, de
1961, que reúne obras de Ronaldo Bôscoli,
Roberto Menescal e Tom Jobim. Nele, a
interpretação desta canção agrega uma
profunda sensibilidade em relação à letra; a
voz do cantor não segue à risca o chamado
canto-falado bossa-novista, mas nem por
isso deixa de manifestar um caráter
intimista que se fortalece principalmente
perfil, ao associar violão, violoncelo,
trompete e uma performance mais tênue
com o vocal de Renato Motha no CD
Roberto Guimarães & convidados (2003).
Apesar de se constituir – como revela, de
18
“A música de Debussy abandona o modo
narrativo, e com ele o encadeamento coerente
projetado pela consciência” (GRIFFITHS, 1998, p.
10), o que se percebe também no arranjo de
“Serenata branca”: a técnica impressionista é
praticada do ponto de vista da harmonia não tão
previsível e da utilização da “poesia-retrato”. Os
procedimentos de criação e concepção da Bossa
Nova se devem, em parte considerável, à música
erudita, especialmente introduzida pelas mãos de
Tom Jobim, apreciador de compositores modernos,
como Stravinsky, Schoenberg, Prokofiev, Debussy,
Villa-Lobos e Radamés Gnattali, parceiro de Tom,
apontado como um importante mediador entre o
“erudito” e o “popular” na música brasileira. Sobre
o assunto, ver NAVES, Santuza Cambraia. Da
Bossa Nova à Tropicália: contenção e excesso na
música popular. Revista Brasileira de Ciências
Sociais, n. 43, v. 15, jun. 2000, p 35-44.
9
antemão, o título – mais como uma
projetadas pelo movimento da Bossa
serenata, ela se concilia aos experimentos
Nova” (CAMPOS, In: CAMPOS, 1978, p.
que dominaram a cena musical brasileira a
61), e são organizadas de forma semântica
partir do pioneirismo da Bossa Nova.
e sintática em integração com a harmonia,
Por hora, demarcando a década de
melodia e instrumentação. O texto, como
1960, o primeiro disco da série Sambacana
significação literária, não exprime por si só
(1964) foi o que mais se aparentou às
o conteúdo da música, pois este está
características primárias da Bossa Nova,
necessariamente arraigado ao som. No que
tendo como apoio principal a experiência
compete às temáticas e à forma, “a letra,
dos músicos cariocas já citados. A primeira
primeiramente, restabelece para a música
faixa do LP, com um minuto e onze
popular brasileira a poesia não-poética”
segundos de duração e intitulada “Pouca
(SANT’ANNA, 2004, p. 44), recheada de
duração” (Pacífico Mascarenhas), valendo-
trechos prosaicos que evocam cenas
se de uma história de amor, apresenta uma
triviais, privilegiando o momento, como
co-dependência entre letra e som, numa
um retrato, inversamente à narração de
estreita ligação que não sustenta o mesmo
uma história.
sentido
se
esses
elementos
fossem
analisados separadamente.
A
utilização
da
A audição de “Pouca duração” nos
remete a essas práticas, comprovando o
metalinguagem
envolvimento de seu compositor com as
(presente em “Pouca duração”) na canção
novidades
popular e precisamente na Bossa Nova, ou
novistas.
estético-musicais
bossa-
seja, a especificidade de se falar de música
utilizando-se da própria, foi elucidada
pelos estudiosos Augusto de Campos
(1978) e Affonso Romano de Sant’Anna
(2004),
ao
analisarem
composições
emblemáticas como “Samba de uma nota
só” e “Desafinado” (ambas de Tom Jobim
e Newton Mendonça), e também por
Walter Garcia (1999), no caso de “Bim
Bom”
(João
Gilberto).
Essas
três
composições, cada uma à sua maneira,
articulam “relações formais ou estruturais
de
natureza
propriamente
musical,
Essa canção terá pouca duração/ como o
nosso amor que tão cedo acabou/ pode
compará-la também com uma flor/ que
desabrochou, mas não durou secou/ por
isso a canção só terá essa parte/ a outra
existirá na imaginação/ vamos combinar
eu termino a canção/ se você voltar/ mas
só se você voltar/ se você voltar para o
meu coração (“Pouca duração” Pacífico
Mascarenhas. LP Conjunto Sambacana,
Odeon, 1964, faixa 1 – interpretação de
Joyce e Toninho).
Podemos fazer uma sutil comparação
entre “por isso a canção só terá essa parte/
a outra existirá na imaginação/ vamos
10
Vou descobrir onde mora/ essa garota
colegial/ que passa sempre dando bola/
dentro de um especial/ não sei se essa
menina estuda no Colégio Assunção/ se
é do Santa Marcelina/ ou do Sagrado
Coração/ já me disseram que ela mora lá
na Serra/ já estudou no Izabela/ no Sion
e Helena Guerra/ esta garota talvez seria
aquela do Sacré Couer/ que muito me
prestigia com a do Santa Maria/ hoje o
especial passou/ e ninguém olhou pra
mim/ ou ela não foi à aula/ ou não gosta
mais de mim.
(“Ônibus colegial”,
Pacífico Mascarenhas e Ubirajara
Cabral. LP Conjunto Sambacana,
Odeon, 1964, faixa 6 – interpretação
Joyce e Toninho).
combinar eu termino a canção/ se você
voltar para o meu coração” com o seguinte
trecho de “Bim Bom”: “é só isso o meu
baião/ e não tem mais nada não/ o meu
coração pediu assim só/ bim bom bim bim
bom/ bim bom bim bim bom/ bim bom”.19
Ambas as canções revelam procedimentos
metalingüísticos
entre
o
texto
e
a
concepção musical e ainda reforçam o
ideário econômico da Bossa Nova. Tem-se
registrado que João Gilberto em um
encontro informal com os músicos bossanovistas mineiros em Belo Horizonte,
interpretou, ao seu modo particular, “Pouca
duração”.
numa análise do LP Conjunto Sambacana
(1964) são os assuntos de algumas letras
que revelam o cenário cotidiano daqueles
jovens compositores. Um exemplo disso se
encontra em “Ônibus colegial” (Pacífico
Mascarenhas e Ubirajara Cabral), na qual
são mencionados, sob o pretexto de
onde
estudaria
a
menina
paquerada, muitos colégios da cidade. Essa
estratégia
significou
um
marketing
interessante, já que “quando essa música
tocava na rádio, todo mundo se ligava
nela”
Roberto Menescal, lança mão de recursos
auditivos que imitam, no início e no final
da música, a buzina do ônibus colegial, que
Outro aspecto a ser considerado
descobrir
A instrumentação, arranjada por
(cf.
entrevista
de
Pacífico
Mascarenhas).
parece ser mais o transporte do narrador
(eu lírico) do que propriamente da “garota”
que “passa sempre dando bola dentro de
um
especial”
(veículo
de
transporte
coletivo da época). Em “Ônibus colegial”,
encontramos a primeira alusão a Belo
Horizonte, que se repetiu e ganhou ares até
saudosistas
em
trabalhos
posteriores.
Pontuamos que um dos ambientes mais
citados nas composições de Pacífico
Mascarenhas é a Praça da Savassi, lugar
onde se reunia a turma que, de certa forma,
deu início ao movimento mineiro de Bossa
Nova, adquirindo a mesma importância
atribuída à praia de Copacabana pelos
músicos do Rio de Janeiro.
Cabe observar que os compositores
19
A música “Bim bom” (João Gilberto) foi lançada
em 78 rpm, lado B, pela Odeon no ano de 1958.
mineiros não se absteram de falar da
11
capital carioca, afinal era ali o lugar das
caráter
gravadoras que poderiam oferecer um
cuidadosamente celebrado no primeiro
melhor trabalho em termos fonográficos.
Sambacana. No entanto, o fato de se
Assim como ocorrera com o primeiro disco
conceber um arranjo instrumental mais
do Sambacana, procederam as gravações
complexo não nega a essência bossa-
do LP do Quarteto Sambacana, Muito pra
novista revelada, de maneira mais ousada,
frente (1965), tendo Milton Nascimento
pelo ritmo constante que dá margem às
como cronner e participação de Wagner
improvisações instrumentais, vozes que,
Tiso como cantor e compositor. O quarteto
justapostas, propiciam acordes dissonantes
se
e interpretações em sintonia com o modelo
justifica
pelas
quatro
vozes
que
integraram os coros: Milton Nascimento
econômico
da
Bossa
Nova,
despojado e intimista.
(solista), Gileno Tiso (irmão de Wagner
Esse disco traz, na faixa inicial, mais
Tiso), Sérgio Salles e Marcos de Castro
um caso de metalinguagem: “Tom da
(arranjador do disco), lembrando que
canção” (Pacífico Mascarenhas), que segue
Wagner Tiso também conduziu os vocais.
a mesma lógica de “Pouca duração”, na
Antes de dar prosseguimento ao
qual há o entrecruzamento de letra e
assunto, convém registrar que, em 1964,
música. Além de uma introdução suspensa
Pacífico
(Milton
que eclode com o canto e os instrumentos
Nascimento) e Wagner Tiso participaram
transpostos meio tom acima, ouvem-se
das vocalizações da faixa “Deus brasileiro”
improvisações vocais ao final – herança
(Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle) do
jazzística que aproxima-se do econômico
único disco da cantora Luiza, produzido e
jogo prosódico, de caráter minimalista,
arranjado por Moacir Santos, que contou,
presente em “Bim bom”.
Mascarenhas,
Bituca
inclusive, com a gravação de “Olhando as
estrelas no céu”, de autoria de Pacífico
Mascarenhas
e
Gilberto
Mascarenhas
Cury.
Numa comparação com o disco
Conjunto Sambacana, nota-se, no LP
Muito pra frente, uma instrumentação mais
densa que engloba metais em praticamente
todas as faixas, além da estrutura das vozes
em blocos de acordes, o que, à primeira
vista, envolveria um distanciamento do
Olhe, meu bem/ achei o tom/ o tom da
canção/ para você cantar/ não repare não/
que eu toco mal violão/ se você quiser/
peça alguém para acompanhar/ obrigado
meu bem/ já pode começar/ farei todo
possível/ pro’s acordes não errar/ vai sair
horrível/ assim mesmo vou tentar/ só
para ouvir você cantar/ bem bem bem
bem bom/ bem bem bem bem bom
(“Tom
da
canção”,
Pacífico
Mascarenhas. LP Quarteto Sambacana
Muito pra frente, Odeon, 1965, faixa 1 –
interpretação Milton Nascimento).
12
Entretanto, o que faz do disco um
marco
importante
é
justamente
trazendo como pano de fundo a marcação
a
de uma bateria, introduz o som esporádico
participação de Milton Nascimento e
de uma viola caipira, de flauta e piano,
Wagner Tiso, atestando as raízes musicais
articulando,
bossa-novistas destes artistas e refletindo
agrupamento de vozes que faz lembrar os
na produção futura do Clube da Esquina,
coros das canções litúrgicas – ingrediente
do qual eles foram ícones.
que insere as igrejas como símbolo das
a
estes
elementos,
um
Minas Gerais na elaboração da letra. Luiz
Pacífico deu muita força para Bituca e o
incentivou na carreira musical. A
primeira vez que Bituca entrou num
estúdio foi para gravar “Barulho de
trem”. A segunda foi para gravar como
vocalista num disco de Pacífico
Mascarenhas (BORGES, 2004, p. 6869).
“O
navio
e
você”,
Cláudio, inclusive, comprometeu-se com
uma vertente de canções seresteiras, tanto
na
instrumentação
quanto
na
letra,
reavivando o cotidiano simples das cidades
históricas mineiras.
(Pacífico
O seresteiro sempre trazia/ nas mãos as
prendas da alegria/ no paço traço de uma
saudade/ na voz o canto do que só fazia/
cidade antiga de Ouro Preto/ teu soneto
se escondia/ pelas sacadas onde a
saudade/ vela o sonho de tanta Maria/
me conta agora o que cantou/ o violeiro
que aqui passou/ nesses caminhos
coloniais/ me fala coisas dessas igrejas/
anjos barrocos, paços, candeias/ lembro
o amor que aqui ficou/ o casario
esparrama o dia/ sobre a cidade
adormecida/ pela viola que ainda chora/
numa janela do meu coração/ lá lá lá lá...
(“Em canto antigo”, Luiz Cláudio e
Roberto Guimarães. LP Conjunto
Sambacana, v. 3, Odeon, 1969, faixa
11).
Mascarenhas e Wagner Tiso) remonta o
clima praiano carioca que, a exemplo de
“O barquinho” (Roberto Menescal e
Ronaldo Bôscoli), descreve a volta do
navio “que vem do sul/ trazendo o meu
amor/ flutua no mar azul/ vai navegando e
assim/ estou a esperar.../ Olha pro cais/ o
navio apitou”. Mais adiante, o navio foi
substituído pelo trem de ferro nos temas
das canções de Milton Nascimento e de
letristas como Fernando Brant e Márcio
Borges.
Referindo-se ao terceiro Sambacana,
Tal característica interiorana, que se
Pacífico Mascarenhas explica que Marcos
confunde com a idéia de mineiridade,
de Castro (arranjador), em função de seu
ornamenta algumas músicas que compõem
contrato com a Odeon, aproveitou o disco
o
para
terceiro
Sambacana:
Conjunto
acrescentar
músicas
de
outros
Sambacana vol. III, de 1969. Entre elas,
compositores, como Tito Madi, Paulo
destacamos “Em canto antigo” (Luiz
Moura, Tibério Gaspar, Wagner Tiso e
Cláudio e Roberto Guimarães), que,
Antônio Adolfo. Justamente por essa
13
diversidade de compositores, o terceiro
intérpretes em shows de jazz e Bossa
Sambacana se diferencia dos dois discos
Nova, e passaram a integrar o Sambacana
anteriores, provocando um estranhamento
ao gravarem o terceiro exemplar desta
em relação ao estilo bossa-novista, pois
série, fazendo também parte da vertente
algumas canções fogem da perspectiva
mineira do “Música nossa”, movimento
rítmica, instrumental, melódica e estética
criado por Roberto Menescal no Rio de
da
Janeiro.
Bossa
Nova.
Contudo,
tal
distanciamento não acontece de forma
Relatando seu envolvimento com a
integral, porque, além de ser perceptível
Bossa Nova a partir da audição de
uma ou outra particularidade da Bossa
“Desafinado” com o Tamba Trio, Bob
Nova em músicas aparentemente distantes
Tostes explica o porquê de o terceiro
dela, outras exibem parâmetros que em
Sambacana
carregar
nada contrariam tal vinculação, como é o
diferenciado,
interagindo
caso de “Saudade nos olhos” (Pacífico
linguagens musicais.
um
com
aspecto
outras
Mascarenhas), “Perdido no espaço” (Bob
O terceiro, eu acho que é um disco
diferente, é menos Sambacana que os
outros, mudou de cara um pouco...
Estava acontecendo aqui no Brasil, não
era bem um movimento musical, mas
tinha um estilo de música que se baseou,
a meu ver, um pouco no Wilson Simonal
(ele gostava muito da expressão “vamos
voltar para a pilantragem”), daí criaram
a Turma da Pilantragem...20 E para mim
tem muito a ver com a toada moderna
que o Antônio Adolfo criou... O Marcos
de Castro quis “modernizar” um pouco o
Sambacana e esse disco tem uns arranjos
que estão sintonizados com essa Turma
da pilantragem e nele tem duas
composições do Antônio Adolfo: “Giro”
nós a tornamos Bossa Nova, mas
“Moça” traz esse ritmo de dança...
Contudo, foi um disco que ficou um
Tostes e Elmo de Abreu Rosa), “Giro”
(Antônio Adolfo e Tibério Gaspar) e “Por
que” (Pacífico Mascarenhas).
Seja entre essas canções ou entre as
demais que compõem as onze faixas do
disco, há um elemento comum ensinado de
forma especial pela Bossa Nova: a maneira
de cantar, alheia a qualquer tipo de
impostação,
intérpretes
adotada
Bob
e
pelos
irmãos
Suzana
Tostes.
Pontuamos o caráter até sussurrado da voz
de Suzana, comum a cantoras do repertório
bossa-novista. Além dos solistas, incluindo
a cantora Magda, mencionada no disco, o
trabalho contou com a participação de um
grupo de quatro vozes de Juiz de Fora.
Bob Tostes e Suzana apareceram na
cena musical belo-horizontina no final da
década de 1960, apresentando-se como
20
A Turma da Pilantragem, grupo idealizado e
produzido por Nonato Buzar, atuou nos anos 1968 e
1969, recuperando e ressignificando clássicos da
música brasileira, como “Primavera” (Carlos Lyra e
Vinícius de Moraes), à luz de um ritmo dançante, já
que a Bossa Nova se afastara desta característica.
Essa prática foi também utilizada pelo músico
norte-americano Chris Montez, que gravava
standarts com swing para a dança, cf. entrevista
com Bob Tostes.
14
pouco
descaracterizado,
perdido...
gozado que há uns três ou quatro anos,
ele foi relançado no Japão.21
de Janeiro. Todavia, no quarto Sambacana,
encontramos referências explícitas à cidade
de Belo Horizonte e à Praça da Savassi,
De certa forma comprometido com
confirmando que o lugar de origem das
um caráter dançante e outras sonoridades,
composições teve, para a Bossa Nova
o
mineira, a mesma importância que as
terceiro
Sambacana
não
perde
a
simplicidade e a espontaneidade que regem
as
músicas
a
Sabemos que o Estado de Minas
complexidade em que se apresentam os
Gerais não é banhado pelo mar, mas é só
arranjos
trocar “m” por “b” para chegar a um dos
do
do
primeiro,
segundo,
visto
praias tiveram para a Bossa Nova carioca.
que
teve
a
participação de Milton Nascimento.
lugares muito mencionados pelos bossa-
Adiantando-se à época em que a
canção
bossa-novista,
muitas
cariocas, um local propício para encontros
polêmicas, consolidou-se até mesmo como
inspiradores era a praia, nas Geraes, longe
“cartão
do oceano, um dos cenários preferidos era
postal”
do
após
novistas mineiros: o bar. Se para os
Brasil,
o quarto
Sambacana, de 1976, colheu alguns frutos
o
regados pela Bossa Nova das Geraes.
“Programa
Analisando, em primeiro lugar, o aspecto
Mascarenhas). Bob Tostes conta que
bar,
como
de
se
pode
conferir
Domingo”
em
(Pacífico
visual deste LP, visualizamos na capa a
foto de um carro antigo que leva Pacífico
Mascarenhas a bordo e exibe a placa
dianteira
com
os
grifos
“MG-Belo
Horizonte”. Além de celebrar a paixão de
seu idealizador por carros antigos, a
ilustração indica o vínculo das músicas
gravadas com a capital mineira.
Importa lembrar que, como tema de
várias canções bossa-novistas, as praias
cariocas de Ipanema e, principalmente, de
Copacabana ocuparam lugar privilegiado,
o que contribuiu decisivamente para a
conexão imediata entre Bossa Nova e Rio
21
Entrevista com Roberto Tostes Martins (Bob
Tostes) em 18 de maio de 2008. Belo
Horizonte/MG, duração de 90 min.
o "Chez Bastião", localizado perto da
Praça da Liberdade, foi o primeiro
barzinho da cidade. Fundado por Tuíca
Rabello nos anos 1960, foi o único do
seu gênero durante anos... ele não tinha
aquela conotação de bar boêmio... Já o
Baubles foi inaugurado em 1974 por
mim, que na época tranquei minha
matrícula na PUC onde fazia
Comunicação. Localizado na Savassi, o
Baubles durou apenas quatro anos, pois
em 1977 abri a loja de discos (que durou
20), mas movimentou a cena com muita
música ao vivo e pockets show. O nome
Baubles foi uma idéia que eu tive a
respeito daquela música que o Frank
Sinatra gravou, inclusive com o Tom
Jobim: “Baubles, bangles...”, e foi lá que
eu praticamente comecei a cantar em
público” (Entrevista com Bob Tostes).
15
De
caráter
altamente
jovial
e
descontraído, o arranjo de “Programa de
suavidade, como se a canção estivesse
suspensa e flutuasse, como um avião.
domingo”, neste LP, traz improvisações
vocais, instrumentais e pequenos breaks22
Sobrevoando o meu país/ enquanto vou
voltando/ da viagem que eu fiz/ olha lá/
entre rios e montanhas/ cidades tão
antigas/ só pode ser Minas Gerais/ ainda
bem/ que ela deve estar me esperando/
ela mora aqui também/ penso nela
enquanto estou voando/ avisto ao longe
Belo Horizonte/ o avião já vai chegar/
meu amor a me esperar/ o avião já vai
pousar/ meu amor a me esperar (“Minha
cidade”, Pacífico Mascarenhas. IV
Sambacana, Tapecar, 1976, faixa 12 –
interpretação de Bob Tostes e Suzana).
que dialogam com uma prática jazzística
sobre um ritmo constante da bateria e do
violão, não deixando que o “balanço”
ritmo da Bossa Nova se perca, lembrando,
entretanto, que esta não se justifica
somente por seu aspecto rítmico.
Aconteceu no verão num piquenique/ um
bate-papo/ um bingo e uma esticada até
o pique/ para iniciar o nosso encontro no
domingo/ à tarde passeamos na Savassi/
e depois você insinuou/ vamos ao
Baubles ou Chez Bastião/ e depois de lá
uma seresta/ um violão/ quando o outro
dia clareou/ você brigou/ e o nosso
programa terminou/ mas eu vou sentir
muita saudade/ do domingo que passou.
(“Programa de domingo”, Pacífico
Mascarenhas. IV Sambacana, Tapecar,
1976, faixa 6 – interpretação de Bob
Tostes e Suzana).
Bob Tostes e Suzana, cronners deste
disco, registraram suas vozes como quem
canta para pequenos públicos, de maneira
informal, contida e econômica. Contudo,
eles não foram os únicos a beber dessa
fonte musical e dar continuidade à
iniciativa dos bossa-novistas mineiros
Pacífico
Mascarenhas
e
Roberto
Guimarães, pois outros músicos que já
Já a canção “Minha cidade” (Pacífico
Mascarenhas) parafraseia com “Samba do
avião” de Tom Jobim, podendo ser
compreendida
até
mesmo
como
a
atuavam
no
cenário
belo-horizontino,
conhecidos por fazerem parte do Clube da
Esquina23,
atestaram
suas
habilidades
instrumentais no IV Sambacana. A ficha
correspondente mineira desta. Em sintonia
com a letra, o andamento musical discorre
lento, dando base a uma instrumentação e a
uma harmonia que se apegam à melodia
leve e amena, suscitando uma sensação de
22
Por break entende-se uma pausa em determinado
momento da música para que haja uma
improvisação rápida (vocal ou instrumental), muito
comum no jazz e também no subgênero do samba,
hoje quase inexistente, conhecido por samba de
breque.
23
A denominação “Clube da Esquina” não foi
premeditada pelo grupo de instrumentistas e
compositores que, com características musicais
próprias, formou-se em Belo Horizonte no final dos
anos 1960. O título surgiu mais a partir de um
anseio midiático em rotular a nova sonoridade
marcada pelo lançamento, em 1972, do LP Clube
da Esquina, nome dado em virtude de um dos
pontos de encontro desses músicos: a esquina da
Rua Divinópolis com a Rua Paraisópolis no bairro
de Santa Tereza. Ressaltamos que a vinculação dos
músicos ao nome em questão teve a aceitação de
todo o grupo, lembrando, porém, que eles seguiram
carreira individual, estabelecendo, ao longo dos
anos, diversas parcerias.
16
técnica de tal LP informa que os arranjos
das canções e a gravação do piano ficaram
aos cuidados de Wagner Tiso e o violão a
cargo de Toninho Horta. Novelli se
encarregou do baixo elétrico e os sopros
(sax e flauta) foram executados por
Nivaldo Ornelas. O disco reforçou ainda
mais a importância da Bossa Nova mineira
e da figura de Pacífico Mascarenhas para a
seguinte
geração
de
músicos
belo-
24
horizontinos . Milton Nascimento cunhou
o seguinte texto na contracapa do LP IV
personalidade do autor. Vá em frente,
Mestre. E continue olhando por nós
(texto retirado da contracapa do LP IV
Sambacana de 1976).
Estes dados, além de comprovar as
relações entre a Bossa Nova produzida em
Minas Gerais e o Clube da Esquina,
sinalizam
a
abrangência,
em
termos
estéticos, estilísticos e musicais, da canção
bossa-novista, que se encontra presente,
sob diferentes aspectos, no repertório
musical brasileiro posterior ao seu período
de efervescência.
Sambacana:
Pacífico Mascarenhas sempre foi um
cara muito importante pra mim. A
primeira grande demonstração de
confiança e amizade do “Mestre” foi
durante a gravação do segundo LP do
Conjunto Sambacana (Marcos Minhoca,
Wagner Tiso, Gileso Tiso, Sérgio e eu).
Seu apoio foi fundamental para nós,
músicos novos à procura de uma
oportunidade. O tempo passou e
Pacífico, em seu sossego de Minas,
continuou o mesmo: o amigo sincero, o
coração do tamanho do mundo. E foi
essa bondade imensa que fez com que
ele me honrasse ao pedir que escrevesse
estas linhas para a contracapa de seu
último disco. Este disco de canções
tranqüilas, de um som sereno como a
A PRODUÇÃO RECENTE E AS
REMINISCÊNCIAS DA BOSSA NOVA
MINEIRA
“Eles aprenderam com a Bossa Nova que
o universo dos sons é um mundo sem
fronteiras de qualquer espécie”
(PARANHOS, 1990, p. 86)
Esta citação, empregada em outro
contexto
pelo
autor,
concilia-se
à
problematização que propomos agora.
Luiz Tatit, num capítulo à parte de
24
Em 1999, Pacífico Mascarenhas foi
homenageado pelo grupo belo-horizontino Alarme
Falso Bossa Nova (CD Passagem), com a
composição “Ao mestre com carinho”. Esta canção
não só demonstra a admiração e gratidão que os
músicos têm por Pacífico, como fala dele como
referência em termos de Bossa Nova e de apoio a
tantos artistas, citando, ao final, um trecho de
“Ônibus colegial” (Pacífico Mascarenhas e
Ubirajara Cabral) e ainda mencionando a Turma da
Savassi, que antes do Sambacana, procurava pela
“canção moderna” em noites de serenatas também
“modernas”.
seu livro O século da canção, estabelece
uma argumentação interessante que situa a
Bossa Nova sob dois pontos de vista:
Uma coisa é a Bossa Nova como
movimento musical – caracterizado
como intervenção “intensa” que durou
por volta de cinco anos (de 1958 a
1963), criou um estilo de canção, um
17
estilo de artista e até um modo de ser
que virou marca nacional de civilidade,
de avanço ideológico e de originalidade.
Outra coisa é a Bossa Nova “extensa”
que se propagou pelas décadas
seguintes, atravessou o milênio, e que
tem por objetivo nada menos que a
construção da “canção absoluta”, aquela
que traz dentre de si um pouco de todas
as outras compostas no país (TATIT,
2004, p. 179).
associado simploriamente à classe média.
Esta postura foi adotada curiosamente pelo
até então bossa-novista Carlos Lyra, que
defendeu, inclusive, a necessidade de um
diálogo entre os compositores da Bossa
Nova e os compositores “populares” de
samba. Vale lembrar que, nesse espaço de
tempo, despontariam as composições de
O autor comenta que da Bossa Nova
Chico Buarque e Edu Lobo, que, com
“intensa” participaram diretamente João
questionadoras temáticas sociopolíticas,
Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Moraes
mesclaram as tradições sambista e regional
e toda a turma de músicos da Zona Sul do
às inovações celebradas pela Bossa Nova,
Rio de Janeiro. Alargando a perspectiva de
resgatando
Tatit e com o olhar voltado para a cena
composições de Noel Rosa e da cultura
musical
popular nordestina, no caso de Edu.25
Pacífico
mineira,
consideramos
Mascarenhas
e
que
(especialmente
Chico)
Roberto
Assim, a musicalidade que surgiu
Guimarães, mesmo que um pouco mais
posteriormente ao referido movimento
tarde, também podem ser incluídos nesta
“intenso” não excluiu as características
vertente, já que suas composições e
primordiais da Bossa Nova, mesmo que
atuações marcaram e influenciaram o meio
aparentemente elas tivessem esmaecido
artístico belo-horizontino.
em favor de uma posição ideológica, como
Passado esse período imediato, a
no caso do CPC. Essa postura é levada à
Bossa Nova teria se confinado nos
cabo ainda hoje pelo pesquisador José
bastidores para dar lugar às canções de
Ramos Tinhorão, incapaz de enxergar o
protesto atreladas, de forma especial, ao
caráter expansivo da Bossa Nova após
Centro Popular de Cultura (CPC) da União
1963.26
Nacional dos Estudantes (UNE), em
Para avaliar os projetos mais recentes
virtude de um cenário político controverso
dos compositores mineiros, adotamos a
e cada vez mais elitista e repreensivo que
definição de Bossa Nova “extensa” como
se agravou com o Golpe Militar de 1964.
processo “de depuração de nossa música,
Segundo os militantes do CPC, a música
25
popular deveria se preocupar em relatar os
problemas sociais “do povo ao povo”, o
que
negaria
o
modelo
bossa-novista
Para mais informações, ver NAVES, Santuza
Cambraia, op. cit.
26
Para mais informações, consultar TINHORÃO,
José Ramos. Música popular: um tema em debate.
3ª. ed. São Paulo: Editora 34, 1997, p. 36-47.
18
de triagem estética, que se tornou modelo
fusão de outros elementos, as contribuições
de concisão, de eliminação dos excessos,
da Bossa Nova, principalmente em relação
economia
à sua vertente mineira, o que nos interessa
de
recursos
e
rendimento
artístico” (TATIT, 2004, p. 179), práticas
que
não
estão
mais de perto.
necessariamente
Para dar prosseguimento a tal
subordinadas a um tempo cronológico. No
assunto, abrimos aqui um parêntese. Após
entanto, Tatit enfatiza que, dessa fase,
o quarto Sambacana foram lançados mais
participaram somente João Gilberto e Tom
três
Jobim, distantes, de certa forma, dos
composições do passado, intercaladas com
caminhos que a canção brasileira tomou
músicas novas que ressaltam, sobretudo,
naquele período, com a consolidação da
cenas e cenários mineiros, como pode ser
MPB, os grandes festivais e a retomada das
observado em Belo Horizonte que eu
hibridizações musicais que chegaram ao
gosto, CD lançado em 2003. Projetado
auge com a Tropicália.
com canções que exaltam uma visão de
Ampliando o sentido “extenso” da
discos
realidade
desta
acerca
série,
de
Belo
reavivando
Horizonte,
Bossa Nova, entendemos que ele pode ser
Pacífico destaca a Praça da Savassi, o
empregado, inclusive, na análise dos
Minas Tênis Clube (do qual é diretor social
resultados de procedimentos depuradores
há 23 anos) e o futebol, tema da canção “O
da música brasileira, executados com
jogo” (Pacífico Mascarenhas).
excelência por João Gilberto, Tom Jobim e
Descrevendo
com
detalhes
a
outros compositores que, seguindo os
dinâmica de uma partida de futebol, esta
passos destes dois, igualmente deram suas
canção cita o nome do ex-jogador belo-
contribuições, a exemplo de Pacífico
horizontino Tostão, que se sobressaiu,
Mascarenhas e Roberto Guimarães.
segundo a mídia e a apreciação popular,
Além das manobras artísticas de Edu
tanto no América e no Cruzeiro (times
Lobo e Chico Buarque e das inovações do
mineiros) quanto na seleção brasileira. Nos
Tropicalismo27, apontamos como resultado
registros da obra de Pacífico Mascarenhas,
dessa “depuração” o Clube da Esquina e a
“O jogo” só aparece no quinto Sambacana
produção independente de seus integrantes,
(1981), mas sua primeira gravação consta
na qual é possível perceber, em meio à
no LP Milton – lançado por Milton
27
Nascimento em 197028 – ao lado de “Tema
Naves (2000, op. cit.) explora os pontos de
referência pelos quais se ligam e se contrapõem a
Bossa Nova e a Tropicália: apesar de a primeira
valorizar a contenção e a segunda optar pela
excessividade, ambas têm no despojamento sua
fórmula comum.
28
Neste LP, aparecem pela primeira vez as
gravações de “Clube da Esquina” – música que deu
nome ao movimento belo-horizontino – e “Para
19
de Tostão” e “Aqui é o país do futebol”
interação
entre
a
Bossa
Nova,
(ambas de Milton Nascimento e Fernando
especialmente aquela composta em Minas
Brant). Sintomaticamente, este disco, de
Gerais, e o Clube da Esquina, permitindo
caráter pluralista em temática e sonoridade,
relacionar os dois movimentos musicais
traz à tona músicas que celebram um dos
também no que se refere às temáticas
ícones da brasilidade, justamente em 1970,
locais, uma vez que canções como “Ruas
ano em que o Brasil disputou e ganhou a
da cidade” (Lô Borges e Márcio Borges) e
Copa do Mundo.
“Clube da esquina” (Milton Nascimento,
Lô Borges e Márcio Borges) discorrem
Já vem vindo/ meu time atacando/
jogadas surgindo/ com a bola rolando/
em passes ligeiros/ no campo contrário/
do adversário/ cruzaram a pelota/ da
intermediária/ num chute certeiro/ para a
grande área/ eis que surge então/ o lance
genial/ do craque Tostão/ que toma a
bola/ entra na área/ passa a primeiro/ o
segundo, o terceiro/ vai mais à frente/
finta o goleiro/ e chuta pro gol/ a bola
vai entrando no fundo da rede/ o juiz
apita gol/ a torcida levanta/ solta
foguete/ e pede mais um/ recomeça o
jogo/ a charanga tocando/ bandeiras
acenando na comemoração/ da vitória do
povo/ que tanto esperou/ ser campeão
(“O jogo”, Pacífico Mascarenhas. LP
Milton, EMI-Odeon, 1970, faixa 13).
indiretamente sobre Belo Horizonte.
Em relação às carreiras individuais
dos músicos que participaram do Clube da
Esquina, também é possível perceber as
heranças da Bossa Nova. Nelson Ângelo,
por exemplo, gravou em 1972, com a
cantora Joyce – a mesma que anos antes
foi solista do primeiro Sambacana –, um
disco
que
insere
canções
com
características regionais, jazz, rock e uma
conotação
suave
de
Bossa
Nova,
principalmente em “Tiro cruzado” (Nelson
Com recursos auditivos que evocam
o ruído de uma torcida em êxtase, “O jogo”
transita
facilmente
por
Ângelo e Márcio Borges) e “Linda”
(Nelson Ângelo e Joyce).29
características
Outra figura importante reconhecida
jazzísticas (especialmente nos desenhos da
muitas vezes por sua ligação com Milton
bateria),
(nas
Nascimento é Toninho Horta, compositor,
harmonizações e no ritmo do violão) e
instrumentista e cantor que conta com um
sambistas
vasto repertório independente do Clube da
bossa-novistas
(pela
estrutura
do
canto
exaltado). O fato de esta composição
Esquina.
estrear em um disco de Milton Nascimento
violonista do IV Sambacana, Toninho
revela mais um elemento que nos remete à
Horta sempre deixou transparecer, entre
Lennon e McCartney”, que demarcou a influência
dos The Beatles entre os compositores do grupo.
29
Participando, em 1976, como
Nelson Ângelo e Márcio Borges são nomes
emblemáticos do Clube da Esquina; o primeiro,
principalmente
por
sua
atuação
como
instrumentista, e o outro, por suas letras.
20
outras influências, as lições que aprendeu
linguagem espontânea, simples e direta
com a Bossa Nova, sejam na maneira de
deve-se, em grande parte, a Vinícius, que
cantar, na habilidade com o violão e a
modificou sua perspectiva de escritor para
guitarra ou no tratamento dos arranjos de
compatibilizar sua arte às propostas da
suas composições, reveladas desde os
Bossa Nova.31
primeiros trabalhos – um deles concebido
E mesmo a gente que é letrista também
viveu o surgimento da Bossa Nova... eu
cresci ouvindo até a pré-Bossa Nova:
Tito Madi, João Donato, Johnny Alf,
Lúcio Alves, Dick Farney... Mas o que
me marcou de fato, além do disco do
João Gilberto, foi quando apareceu um
disco do Tamba Trio em 1962, e em
particular o jeito de tocar do Luiz Eça,
com um balanço danado... E na minha
condição de letrista, o Vinícius de
Moraes era quem dava um exemplo
diferente. Eu cresci no momento em
que... não somente essa coisa de música,
mas também essa parte de cinema, de
literatura, pois eu estava interessado em
tudo... mas na parte de música, a Bossa
Nova se fez presente.32
em parceria com Beto Guedes, Danilo
Caymmi e Novelli em 1973. O compositor
Roberto
Guimarães
descreve
suas
impressões acerca de Toninho Horta ainda
adolescente:
Eu era muito amigo do irmão mais velho
dele, o músico Paulinho Horta... E o
Toninho fazia uns acordes... umas
pestanas que usava o dedo polegar... E
tirava uns acordes completamente
inusitados que você nunca tinha ouvido
nada igual. Eu lembro até hoje a
sensação que eu tive, que coisa
fantástica, né... e ninguém o conhecia...
imagina, 15 anos... na flor da idade... e
olha o que ele se tornou... O Toninho
Horta representa para o Clube da
Esquina o que eu acho que o João
Gilberto representa para a Bossa Nova.30
Esta relação por nós mencionada não
se refere aos temas propriamente ditos,
mas sim à maneira de conceber um texto
informal
Julgamos
pertinente
ainda
estabelecer laços entre a Bossa Nova e o
Clube da Esquina no que diz respeito à
valorização de uma nova estética no campo
sonoro
e,
neste
caso,
especialmente
poético, o letrista Fernando Brant admite,
entre outras bases de sua formação, a
importância de influências como a de
(mesmo
que
metafórico)
e
acessível do ponto de vista cotidiano,
atentando também para a valorização do
discurso musical atrelado à letra ou para a
primazia desta. No caso da Bossa Nova,
temos o uso da metalinguagem, e no Clube
da Esquina, vê-se a utilização de recursos
auditivos que remetem a um plano visual e
a não subordinação do som ao texto como
Vinícius de Moraes. O arejamento das
letras bossa-novistas por meio de uma
30
Entrevista com Roberto Guimarães. Belo
Horizonte/MG, 17 de maio de 2008. Duração de
120 min.
31
Para mais informações, consultar PARANHOS,
1990, op. cit., p. 48-49.
32
Entrevista com Fernando Brant. Belo
Horizonte/MG, 25 de julho de 2008. Duração de 40
min.
21
Sonhei que eu estava no Clube da
Esquina/
na
Divinópolis
com
Paraisópolis/ vendo Lô Borges no “Trem
azul”/ Beto Guedes fazendo “Avião”.../
depois quem chegou foi Toninho Horta/
veio no jipe “Manuel Audaz” trazendo
Marilton/ Murilo Antunes, Tavinho
Moura, Ronaldo Bastos/ vejam só que
coisa
maluca/
Fernando
Brant,
Marcinho, Bituca/ pedindo notícias do
mundo de lá/ ao Flávio Venturini na
“Estação de trem”/ surpreso eu fiquei
quando já ia embora/ uma homenagem
tão calorosa/ Nelson Ângelo ao violão/
Wagner Tiso, acordeão/ Nivaldo Ornelas
tocando “Pouca duração” (“Sonho no
Clube
da
Esquina”,
Pacífico
Mascarenhas, VII Sambacana, faixa 15 –
interpretação Renato Motha).
mera prática de acompanhamento. Sobre
esta questão, Fernando Brant afirma que
quase sempre compunha suas letras depois
que a música já estava pronta, procurando
encaixar as palavras “conforme o que a
música queria dizer” (cf. Fernando Brant).
Além da participação de Milton
Nascimento, Wagner Tiso, Toninho Horta
e
Nivaldo
Ornelas
nos
discos
do
Sambacana, as relações entre o Clube da
Esquina
e
a
Bossa
Nova
mineira
novamente se confirmam em 2004, quando
Pacífico Mascarenhas é convidado para
Esta música, estruturada à maneira
fazer parte do conselho consultivo do
“Museu
Clube
da
Esquina”,
uma
associação de amigos que, sem fins
lucrativos, visa, entre outros projetos,
expandir a obra do movimento. Na
intenção de selar o convite, Pacífico
Mascarenhas compôs “Sonho no Clube da
Esquina”, na qual cita, fazendo um
contraponto com o título de algumas
canções, os nomes dos integrantes do
grupo, que ao final se juntam para tocar
“Pouca duração”, considerado entre eles, o
“cartão de visita” da Bossa Nova das
Geraes.33
de Pacífico – compositor fiel ao estilo
inaugural de seu trabalho –, conta com a
interpretação vocal e violonística de
Renato Motha no VII Sambacana, CD
gravado em 2006 e com previsão de
lançamento para o ano de 2008. Outro
músico atuante dentro e fora do cenário
belo-horizontino, inclusive parceiro de
Toninho Horta e Chiquito Braga34 no disco
Quadros Modernos (2000), é Juarez
Moreira, guitarrista convidado para as
gravações do quinto e do sexto discos da
série
Sambacana.
Com
formações
diferenciadas que vão da literatura ao jazz
instrumental, Renato e Juarez declaram a
33
Nesse mesmo espírito de influências mútuas, sem
perder de vista, contudo, as várias possibilidades de
“tributo” e propaganda em favor dos 50 anos da
Bossa Nova, comemorados em 2008, Milton
Nascimento gravou, ao lado do Jobim Trio, o CD
Novas Bossas, cantando composições consagradas
de Tom Jobim e João Donato e incluindo sucessos
do Clube da Esquina. O trio é formado por Paulo
Jobim, Daniel Jobim e Paulo Braga – este, parceiro
de Milton Nascimento desde os tempos do
Berimbau Trio em Belo Horizonte na década de
1960.
34
Chiquito Braga é violonista atuante na cena
musical de Belo Horizonte, participando, inclusive,
das gravações de Belo Horizonte que eu gosto e
Guinness:
Bossa
Novíssima
de
Pacífico
Mascarenhas.
22
importância da “escola bossa-novista” em
(participante da turma do Sambacana),
suas carreiras.
Carlão, Marcos Marzano, Sérgio Santos,
Affonsinho e Beto Lopes, e os já
A Bossa Nova aparece na minha vida
como influência, mas eu nunca me
considerei um bossa-novista, para mim
ela está viva enquanto é permeável de
fusões... toda música brasileira tem um
retorno à Bossa Nova...35
A música pra mim sempre foi algo
muito aberto, eu nunca fiquei assim
preso a um gênero só, até porque eu
nunca precisei disso, sempre tive uma
liberdade
assim
de
músico
independente... Mas a Bossa Nova
sempre esteve presente na minha
concepção, dentro do meu objeto
musical, seja nos meus discos, seja nas
minhas realizações com o Bob, o
Roberto ou com o Pacífico...36
conhecidos Renato Motha, Bob Tostes e
Suzana.
Situado um pouco depois do que
podemos chamar de “velha guarda” da
Bossa Nova mineira, representada por
Pacífico
Mascarenhas
e
Roberto
Guimarães, Bob Tostes é um músico que
intercala, na sua condição de cantor e
produtor, as impressões iniciais da Bossa
Nova carioca, caracterizadas por aquele
“momento intenso”. Dialogando com o
estilo particular de Roberto Menescal, com
Uma das realizações mencionadas
o qual mantém uma relação profissional
por Renato se concretizou com o Guinness
até hoje, a singularidade de Bob está no
Bossa Novísssima, CD concebido por
modo ímpar com que sonda a canção e a
Pacífico Mascarenhas em 2002, fruto da
adorna com uma perspectiva mineira. O
criatividade que, desde os anos 1960,
CD Sessão Dupla/Novas Bossas, assinado
permeia a divulgação de sua obra. Além de
também por Suzana Tostes em 2001,
reunir sessenta “bossas”, entre recentes e
apresenta, no encarte, o desenho de alguns
antigas – projeto inédito que premeditava a
barquinhos que flutuam sobre “ondas
entrada para o Livro dos Recordes –, o
montanhosas”, conduzindo à leitura de que
trabalho traz à apreciação do público a voz
a Bossa Nova, na contínua expansão de sua
e os instrumentos de músicos belo-
estética e de seu estilo marcantes, pode ser
horizontinos pouco citados pela mídia,
reinterpretada
como Marilton Borges (irmão de Lô
contextos, como o foi em Minas Gerais.
Borges), Marina Machado, Paula Santoro,
Carla
35
Villar,
Gilberto
Mascarenhas
Entrevista com Juarez Moreira. Belo
Horizonte/MG, 23 de julho de 2008. Duração de 30
min.
36
Entrevista com Renato Motha. Belo
Horizonte/MG, 24 de julho de 2008. Duração de 60
min.
com
Mostramos
base
que
em
os
outros
elementos
caracterizadores da Bossa Nova não se
limitaram a um espaço específico e muito
menos
a
um
cronologicamente,
período
determinado
alternando,
muitas
vezes, os seus significados pelas constantes
23
encontrei, afinal/ bem no meio do dial/
na onda que trazia/ o Rio na Rádio
Nacional/ Rio que mora no mar/ de onde
eu curtia Lúcio Alves/ Dick Farney, o
Radamés e o Tom Jobim/ nos morros
gerais de Minas/ em rimas e desvarios/ o
meu Rio, meu Rio/ um abraço João
Gilberto/ que me deixa tão desperto/
vem me tirar o sossego/ de meu mineiro
aconchego/ ai ai ai, ai que chamego/
você foi arranjar/ que esse sonho tão
desperto/ essa mania de João Gilberto/
não pode acabar (“Mania de João
Gilberto”, Roberto Guimarães, CD
Roberto Guimarães e convidados – Amor
certinho, 2003, interpretação Marina
Machado, faixa 6).
misturas e novas concepções no âmbito da
música popular brasileira. Os artistas
mineiros
pertencentes
a
uma
“nova
geração” há tempos perceberam esta
tendência, o que não exclui, contudo, os
modelos consagrados do passado. Neste
aspecto, João Gilberto e João Donato37
continuam sendo referência para vários
músicos, como traduz, por meio de
canções, o compositor Roberto Guimarães,
um dos idealizadores da Bossa Nova em
Minas Gerais nos anos 1960.
Este samba é pro Donato/ que é João, é
um barato/ todo João é uma canção/ de
piano ou violão/ ou é santo ou pecador/
mas é sempre cantador/ vem do Acre ou
da Bahia/ tem o lacre da poesia/ é bim
bom, café com pão/ sapo, rã, lugar
comum/ olodum, emoriô/ quem não sabe
já dançou/ passarinho em bananeira/ que
besteira é não cantar/ quem não curte já
morreu/ não nasceu para bailar/ acredite
João Donato/ te curtir é um barato/ aqui
vai simples carinho/ de quem tem amor
certinho/ pelo samba verdadeiro/
balançado brasileiro/ só de ouvir sou
muito grato/ pelo samba do Donato
(“Samba
pra
Donato”,
Roberto
Guimarães, CD Roberto Guimarães e
convidados – Amor certinho, 2003,
interpretação Vanessa Falabella, faixa 8).
É incoerente pensar que a Bossa
Nova feita em Minas Gerais ocupou uma
posição
de
prestando
coadjuvante
homenagens
na
história,
a
figuras
reverenciadas e não desapegando do
ambiente carioca, como ocorre na letra de
“Mania de João Gilberto”. Em caminho
inverso, a começar por João Gilberto com
a gravação de “Amor certinho” em um de
seus discos, vários músicos brasileiros de
renome internacional deram a devida
importância
Mascarenhas
ao
trabalho
e
Roberto
de
Pacífico
Guimarães.
Destacamos Eumir Deodato, que gravou e
Um abraço João Gilberto/ foi de peito
aberto e traço certo/ que o seu
desafinado/ me fez tão encantado/ chega
de saudade, a realidade/ é que em
cinqüenta e tal/ a primeira vez que te
lançou, nos Estados Unidos, versões
instrumentais
de
“Começou
de
brincadeira” (1964) e “O jogo” (1973),
ambas de Pacífico Mascarenhas.38 Da
37
João Donato, com suas habilidades ao acordeão e
ao piano, deu contribuições imprescindíveis à
Bossa Nova, mas não se ateve puramente a ela,
buscando formas de enriquecê-la com concepções
advindas do samba, do jazz e da música latinocaribenha. Por isso, a composição de Roberto
Guimarães dedicada a Donato contém um sentido
híbrido mais presente.
mesma forma, Luiz Eça, Luiz Alves e
Ricardo Costa (Luiz Eça Trio) inseriram
38
Estas músicas encontram-se, respectivamente,
nos LPs O som dos catedráticos (1964) e Os
catedráticos (1973), gravados pela Ubatuqui.
24
em seus trabalhos, sob o selo da gravadora
estabelecer a existência de duas Bossas
Velas, vinte músicas do compositor.
Novas distintas, nosso objetivo foi o de
No
que
evidenciar a importância da vertente
ressoavam das Geraes também se fizeram
mineira em termos de movimento e de
ouvir, resultando na consolidação de dois
herança para a MPB.
CDs
exterior,
as
instrumentais
canções
do
pianista
Nesta perspectiva, consideramos a
estadunidense Cliff Korman e outro com
atuação
voz e arranjos do músico argentino Jorge
horizontinos que se apoiaram nos trabalhos
Cutello.
dos pioneiros Pacífico Mascarenhas e
de
Roberto
produção
CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS
vários
Guimarães,
músicos
o
bossa-novista
belo-
consumo
mineira
da
pelos
músicos cariocas e ainda as repercussões
no exterior, incluindo influências num
Neste ano de 2008, a mídia brasileira
vem prestando homenagens aos 50 anos da
contexto musical geral, principalmente
sobre o jazz.
Bossa Nova, que teve seu início marcado a
partir de 1958, mais precisamente pelo
lançamento do LP Chega de Saudade, de
João Gilberto. Como era de se esperar, os
debates sobre este movimento musical
estão
centrados
na
reafirmação
da
exclusividade carioca, cultivando sempre
os mesmos clichês e idéias cristalizadas.
Poucas são as iniciativas que se propõem a
lançar novos olhares sobre o tema e a
problematizar noções “esgotadas”.
em
pesquisas
que
antecederam sua escrita, foi o de elucidar
as características da produção fonográfica
da
Bossa
Nova
em
Minas
Gerais,
mostrando peculiaridades e pontos comuns
em relação à dinâmica bossa-novista do
Rio
de
Janeiro.
Longe
de
popular brasileira se modificou, a partir da
adoção de novos elementos introduzidos
pela Bossa Nova, esta não se conformou ao
que se pode chamar de “puritanismo”
musical, buscando interagir com múltiplos
estilos e tendências que compõem o
complexo e rico cenário artístico brasileiro.
Não
confinados
composicional,
a
mas
uma
sim
fórmula
embasados
estética e musicalmente na Bossa Nova,
A intenção do presente artigo,
fundamentado
Da mesma forma que a música
querer
artistas mineiros como Bob Tostes, Renato
Motha, Juarez Moreira, Toninho Horta,
Nelson Ângelo, Fernando Brant, Wagner
Tiso e Milton Nascimento puderam rumar
por outras direções no plano sonoro, ora
mais
perto,
ora
mais
distantes
iniciativas bossa-novistas das Geraes.
das
25
CASTRO, Ruy. Chega de saudade: a
AGRADECIMENTOS
história e as histórias da Bossa Nova. 3.ª
Para a realização desta pesquisa,
ed. São Paulo: Companhia das Letras,
contei com o financiamento do Programa
1990.
de Iniciação Científica do CNPq, do qual
GARCIA, Walter. Bim bom: a contradição
fui bolsista por dois anos consecutivos, sob
sem conflitos de João Gilberto. São Paulo:
a inestimável orientação e apoio do
Paz e Terra, 1999.
professor Dr. Adalberto Paranhos. Dedico
GRIFFITHS, Paul. A música moderna:
este
de
uma história concisa e ilustrada de
belo-
Debussy a Boulez. Rio de Janeiro: Jorge
artigo,
também
agradecimento,
horizontinos
em
aos
forma
artistas
Pacífico
Mascarenhas
e
Zahar: 1998.
Roberto Guimarães, que gentilmente me
MATOS,
concederam
clima
TRAVASSOS, Elizabeth; MEDEIROS,
agradável e informal. Sem eles, a Bossa
Fernanda Teixeira de (orgs.). Ao encontro
Nova das Geraes não seria possível.
da palavra cantada: poesia, música e voz.
Igualmente agradeço àqueles que levaram
Rio de Janeiro: 7 Letras, 2001.
a Bossa Nova adiante, acrescentando sua
MEDAGLIA, Júlio. Música impopular.
marca pessoal: Bob Tostes, Renato Motha
São Paulo: Global, 1988.
e Juarez Moreira, e a Fernando Brant, que
NAPOLITANO, Marcos. “Seguindo a
me prestigiou com suas declarações,
canção”: engajamento político e indústria
entrecruzando a Bossa Nova e o Clube da
cultural na trajetória da música popular
Esquina.
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Entrevista com Fernando Brant em 25 de
julho
de
2008.
Belo
Horizonte/MG,
duração de 40 min.
Entrevista com Juarez Moreira em 23 de
julho de 2008. Belo Horizonte, duração de
30 min.
Entrevista com Pacífico Mascarenhas em
09 de junho de 2007. Belo Horizonte/MG,
duração de 60 min.
28
Entrevista com Pacífico Mascarenhas em
22 de julho de 2008. Belo Horizonte/MG,
duração de 60 min.
Entrevista com Renato Motha em 24 de
julho
de
2008.
Belo
Horizonte/MG,
duração de 60 min.
Entrevista com Roberto Guimarães em 09
de junho de 2007. Belo Horizonte/MG,
duração de 120 min.
Entrevista com Roberto Guimarães em 17
de maio de 2008. Belo Horizonte/MG,
duração de 120 min.
Entrevista com Roberto Tostes Martins
(Bob Tostes) em 18 de maio de 2008. Belo
Horizonte/MG, duração de 90 min.
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http://www.pacificomascarenhas.com.br
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