SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE Tipo do Documento: PROTOCOLO CLÍNICO Título do Documento: Dor pélvica crônica: papel da histeroscopia na avaliação I. PRO.GIN.008 Página 1/4 Emissão: 01/02/2015 Revisão Nº: 01 – 18/01/2017 AUTORES • Aline Pires • Bruno Hallan Meneses Dias • Francisco das Chagas Medeiros II. CONCEITO A dor pélvica é o sintoma mais desafiador que o profissional enfrenta. Dor pélvica crônica (DPC) representa a mais comum indicação de encaminhamento para a clínica ginecológica, (10%-40% de todas as visitas ginecológicas). A DPC foi definida como dor com duração maior que seis meses, localizada na pelve anatômica, e suficientemente intensa para provocar incapacidade funcional ou exigir cuidados médicos. Muitas vezes, a etiologia da DPC não é identificada. Muitos distúrbios dos sistemas genitourinários, gastrointestinais, musculoesqueléticos, neurológicos e sistêmicos podem ser associados à DPC em mulheres. Os distúrbios ginecológicos mais comuns observados na dor pélvica crônica incluem endometriose, adenomiose, aderências, doença inflamatória pélvica crônica, síndrome da congestão pélvica, patologias intrauterinas ou cervicais (dispositivos intrauterinos, leiomiomas, pólipos cervicais e endometriais, estenose cervical, endometrite crônica). As causas ginecológicas são geralmente detectadas pela anamnese, exame físico, ultrassonografia transvaginal e laparoscopia. Cerca de 60 a 80% das pacientes submetidas à laparoscopia para o tratamento da DPC não tem patologia intraperitoneal. A histeroscopia poderia ser útil na investigação como um método de diagnóstico de diversas patologias que podem estar relacionadas com a etiologia da DPC. Adenomiose - A adenomiose é definida como a presença de tecido endometrial no miométrio. É, tradicionalmente, diagnosticado pelo patologista em material de histerectomia ou por meio de técnicas invasivas, tais como biópsias uterinas laparoscópica. No entanto, o desenvolvimento das técnicas não invasivas (ultrassonografia transvaginal e ressonância magnética) tem um grande interesse no diagnóstico adenomiose antes de qualquer tratamento. Tem sido demonstrado que a histeroscopia pode ser um importante procedimento adicional para a avaliação de patologia uterina, mesmo nos casos de adenomiose, porque oferece as principais vantagens da visualização direta da cavidade uterina e a possibilidade de obtenção de espécimes histológicos sob biópsias dirigidas. A histeroscopia não pode diagnosticar ou excluir definitivamente adenomiose, porque o seu campo de observação está limitado à superfície endometrial, porém alguns pesquisadores têm descrito alguns achados sugestivos histeroscópicos dessa patologia: um endométrio irregular com aberturas superficial, hipervascularização, padrão em morango, lesões císticas-hemorrágicas. Em particular, uma distribuição irregular da vascularização endometrial tem sido detectada em mais da metade dos 1 SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE Tipo do Documento: PROTOCOLO CLÍNICO Título do Documento: Dor pélvica crônica: papel da histeroscopia na avaliação PRO.GIN.008 Página 2/4 Emissão: 01/02/2015 Revisão Nº: 01 – 18/01/2017 pacientes. No entanto, deve-se ressaltar que a vascularização superficial só poderá ser vista corretamente através da redução da pressão intracavitária no momento do exame histeroscópico. Além da visualização direta da cavidade uterina, a abordagem histeroscópica oferece a possibilidade da obtenção de biópsias dirigidas, permitindo as correlações entre histopatologia e imagens a serem feitas. Durante a histeroscopia, alvo de biópsias do endométrio e do miométro subjacente podem ser obtidas, quer com técnicas mecânicas - punch, ou com técnicas que empregam energia, como alça eletrocirúrgica. Além disso, o aspecto visual antes, durante e após a ressecção também pode demonstrar sinais típicos de adenomiose. No momento, não há consenso sobre o diagnóstico da adenomiose pela biópsia com ressectoscópio, no que diz respeito à manipulação, a orientação das peças ressecadas e profundidade de penetração, no entanto, a adenomiose é altamente suspeita quando são encontrados os seguintes sinais: irregularidades no miométrio subjacente, ausência de arquitetura típica miometrial durante a ressecção e endometriomas intramurais. Endometrite crônica - Endometrite crônica é uma condição difícil de identificar com exames não-invasivos. Na verdade, não é detectável pela ultrassonografia transvaginal e ressonância magnética e só pode ser suspeitada em pacientes que têm complicações como aderências, piométrio, ou hidrometrio. Ela pode causar sangramento uterino anormal, embora na maioria dos casos seja assintomática, ou acompanhada por distúrbios como DPC. Um estudo recente demonstrou que >70% dos casos de endometrite crônica é resultado de infecções não-gonocócica ou clamídia, sendo comuns as bactérias e micoplasmas representando os agentes etiológicos mais frequentes. Na literatura não existe nenhum consenso sobre a utilidade da histeroscopia diagnóstica na detecção da endometrite crônica. Recentemente alguns autores descreveram os critérios diagnósticos em histeroscopia: edema estromal, hiperemia focal ou difusa, e micropólipos endometriais (<1 mm em tamanho). Edema estromal, principalmente quando combinada com hiperemia, é um sinal de inflamação que pode ser facilmente detectado em histeroscopia, porque a mucosa endometrial, mesmo em fase proliferativa, aparece pálida, esbranquiçada, não homogeneamente espessa, em alguns casos pode dobrar, simulando um pólipo. Micropólipos, em particular, representam um sinal muito sugestivo de inflamação. Eles são pequenos, vascularizados, abrangidos pelo endométrio e caracterizados por uma acumulação de células inflamatórias (linfócitos, células plasmáticas, eosinofílica ou granulócitos) e edema no estroma, pois eles provavelmente são uma expressão de uma forte reação endometrial e de uma massiva liberação de interleucinas e fatores de crescimento locais. A combinação de hiperemia, edema, e micropólipos têm uma precisão diagnóstica de 93,4%, confirmando a histeroscopia ser uma técnica útil e confiável para investigar endometrite crônica. Anomalias Müllerianas - As anomalias Müllerianas geralmente estão associadas com infertilidade e sangramento uterino anormal e deve ser ressaltado que algumas delas podem causar DPC. Histeroscopia juntamente com a laparoscopia pode contribuir para o diagnóstico de tais anomalias. Alguns autores relataram recentemente o caso de uma cavidade uterina acessória nãocomunicante como causa de dor pélvica. Histeroscopia em conjunto com a ultrassonografia 2 SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE Tipo do Documento: PROTOCOLO CLÍNICO Título do Documento: Dor pélvica crônica: papel da histeroscopia na avaliação PRO.GIN.008 Página 3/4 Emissão: 01/02/2015 Revisão Nº: 01 – 18/01/2017 transvaginal foi útil para a detecção da cavidade. Outros autores descreveram uma maior incidência de endometriose em pacientes com útero septado, sugerindo que, nestes casos, uma combinação histeroscopia e laparoscopia e deverá ser executada. A experiência clínica sugere que a ressecção histeroscópica do septo uterino (mesmo sem tratamento laparoscópico de endometriose) muitas vezes é seguida por uma melhora significativa ou completa resolução da dismenorréia grave. Anomalias intrauterinas - Algumas anomalias intrauterinas podem causar DPC. Estas incluem estenose cervical, aderências intrauterinas, pólipos, e miomas submucosos. No caso da estenose cervical e aderências, a dor pélvica geralmente é causada pela ocorrência de hematométrios, com consequente aumento da pressão intrauterina. Grandes pólipos e miomas submucosos podem causar dor, especialmente quando o útero tenta, por meio de contrações, expulsá-los. Algumas dessas lesões intrauterinas (pólipos, miomas submucosos, hematométrio) podem ser facilmente diagnosticadas com ultrassonografia transvaginal, outras anomalias só podem ser suspeitas e não diagnosticadas (aderências intrauterinas, estenose cervical). Atualmente, a histeroscopia é considerada como o padrão-ouro em qualquer situação em que anomalia intrauterina ou cervical é suspeitada ou tem que ser excluída. Além disso, vários investigadores têm demonstrado que a maioria das lesões cervicais e intrauterinas também pode ser tratada com sucesso pela histeroscopia. III. DISCUSSÃO A histeroscopia é recomendada como um método diagnóstico de primeira linha para a avaliação de sangramento uterino anormal e infertilidade, porque ela é associada com o pouco desconforto para a paciente, excelente visualização, e de complicações e taxas de insucesso muito baixas. Além disso, como uma ferramenta operativa, a histeroscopia permite o diagnóstico simultâneo ao tratamento (ver e tratar) de diversas patologias uterinas e cervicais. A histeroscopia pode ser considerada como um válido instrumento diagnóstico DPC pode que ser para difícil inúmeras de condições diagnosticar ou patológicas que não causando podem ser diagnosticadas por técnicas não invasivas (ultrassonografia ou ressonância magnética) ou até mesmo por laparoscopia (ou seja, endometrite crônica, patologias intrauterinas, anomalias Müllerianas, adenomiose superficial). Além disso, deve ser ressaltado que uma laparoscopia negativa não significa que não há doença ou que uma mulher não tem qualquer base física para a sua dor. Além disso, a histeroscopia pode desempenhar um papel primordial na resolução de muitas causas da DPC, tais como as anomalias Müllerianas, estruturas ósseas intrauterinas, ossificação endocervical, e anomalias intrauterinas. Por estas razões, embora a laparoscopia represente ainda "padrão ouro" para a avaliação de mulheres com DPC, a histeroscopia pode ser considerada uma técnica útil, principalmente quando a causa da DPC continua a ser um dilema diagnóstico. Atualmente, a validade da histeroscopia foi bem demonstrada. No entanto, infelizmente, a maioria dos ginecologistas ainda não é capaz de tirar partido 3 SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE Tipo do Documento: PROTOCOLO CLÍNICO Título do Documento: Dor pélvica crônica: papel da histeroscopia na avaliação PRO.GIN.008 Página 4/4 Emissão: 01/02/2015 Revisão Nº: 01 – 18/01/2017 das inúmeras potencialidades desta técnica ou não realizar procedimentos histeroscópicos. Ela pode ser indicada, juntamente com os outros procedimentos não invasivos, tais como ultrassonografia, como um primeiro passo na investigação de mulheres afetadas pela DPC. Isso poderia reduzir o número desnecessário de laparoscopias que são realizadas em mulheres com DPC. Tabela 1: Papel da histeroscopia na avaliação da dor pélvica crônica Adenomiose Endometrite crônica Anomalias Müllerianas Anomalias intrauterinas Endométrio irregular com aberturas superficial, hipervascularização, padrão em morango, lesões císticashemorrágicas. Obtenção de biópsias dirigidas, permitindo as correlações entre histopatologia e imagens a serem feitas. Edema estromal, hiperemia focal ou difusa, e micropólipos endometriais (<1 mm em tamanho). Detecção de cavidade uterina acessória não-comunicante, em conjunto com a ultrassonografia transvaginal. Auxiliar o diagnóstico de endometriose em pacientes com útero septado, em combinação com a laparoscopia. Diagnosticar estenose cervical, aderências intrauterinas, pólipos, e miomas submucosos. IV. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 1. SARDO, AS; GUIDA, M; BETTOCCHI, S; NAPPI, L; SORRENTINO, F; GIUSEPPE, B; et al. Role of hysteroscopy in evaluating chronic pelvic pain. Fertility and Sterility 2008; 90: 11911196. 2. JARRELL, JF; VILOS, GA; ALLAIRE, C; BURGESS, S; FORTIN, C; GERWIN, R; et al. Consensus guidelines for the management of chronic pelvic pain. J Obstet Gynaecol Can 2005; 27(8):781–826. 3. BEREK, JS. Berek & Novak: tratado de ginecologia.14ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 4