1 DISLEXIA, O DIAGNÓSTICO TARDIO E SUA RELAÇÃO COM PROBLEMAS EMOCIONAIS. CARDOSO, Marcelo1 DOMINGUES, Camila A.2 INTRODUÇÃO A dislexia é um distúrbio específico de aprendizagem, de origem constitucional, caracterizado pela dificuldade no processamento de informações fonológica e na leitura e escrita de palavras, mesmo apresentando o nível de inteligência médio para idade cronológica (LIMA et al, 2011). Devido às dificuldades de seu diagnóstico, juntamente com o despreparo dos professores, na identificação e intervenção, a dislexia vem sendo erroneamente interpretada como desinteresse do aluno em aprender, reforçada com queixas do aluno a seus pais (TABAQUIM et al., 2016). O diagnóstico, muitas vezes, ocorre tardiamente, devido pouca informação da população sobre este assunto, levando o disléxico, muitas vezes, a desenvolver transtorno psicológico, como por exemplo, a depressão. A proposta deste trabalho é oferecer informações sobre a Dislexia, possibilitando ao leitor maior amplitude de informações sobre suas características, bem como aos problemas encontrados com relação ao seu diagnóstico. OBJETIVO Investigar a dislexia, suas características principais, salientando a importância do diagnóstico nos primeiros anos escolares. MÉTODO Este trabalho utilizou como método a pesquisa exploratória, pois teve como objetivo chegar a maior clareza sobre o assunto, tornando-o explícito (GIL, 2002). Quanto aos procedimentos técnicos utilizados, utilizamos da pesquisa bibliográfica, desenvolvida com base, exclusivamente, em livros e artigos científicos, analisando 1 Marcelo das Neves Cardoso. Psicologia, 3°semestre, Faculdade integrada de Santa Maria, [email protected]. 2 Psicóloga, Mestre, Docente do curso de Psicologia da Faculdade Integrada de Santa Maria FISMA, [email protected]. 2 os diferentes posicionamentos sobre um mesmo problema, assim fundamentando nossas hipóteses (GIL, 2002). Neste momento foram selecionados diversos artigos científicos sobre a dislexia. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A dislexia vem sendo investigada cientificamente, através do trabalho de pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, os quais buscam entender melhor suas características. Segundo Pestun, Ciasca e Gonçalves (2002), a dislexia é uma disfunção do sistema nervoso central, com frequência de origem constitucional, caracterizada pelas dificuldades, do indivíduo, de aprender ou de usar a leitura e/ou escrita, que acontecem em crianças, com inteligência normal, sem déficits sensoriais, com instrução supostamente adequada e na ausência de problemas físicos ou emocionais significativos. De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), os principais critérios diagnósticos são: desempenho em leitura/escrita abaixo do esperado para sua faixa etária, nível de inteligência dentro da média para a faixa etária, ausência de alterações sensoriais não corrigidas, ausência de outros problemas neurológicos e psiquiátricos que justifiquem as dificuldades. A avaliação da dislexia deve ser realizada por uma equipe interdisciplinar, que devem avaliar diferentes habilidades cognitivas, processamento fonoaudiólogo e linguagem escrita, observando-se alterações que dificultem a aprendizagem, apontando assim para o diagnóstico de dislexia, além de comorbidades, presentes (LIMA, AZONI, CIASCA, 2013 apud PESTUN, CIASCA, GONÇALVES, 2002). Os transtornos psicológicos se iniciam devido à falta de informações sobre a dislexia, por parte de professores, que confundem a dislexia com outros distúrbios que afetam a aprendizagem escolar (TABAQUIM et al., 2016). Queixas são apresentadas sobre o aluno, como distração, agressividade, ansiedade, pouco relacionamento social e queixas somáticas. Por sua vez, os pais não sabendo do que se trata, começam a cobrar melhoras no comportamento, desta criança, sem obter resultados (LIMA et al, 2011). A criança passa a ser cobrada, tanto na escola, quanto em casa e isolada muitas vezes, pelos colegas de aula, o que resulta na redução da autoconfiança, onde a mesma passa a acreditar que não é inteligente, pois vê seus colegas realizando as tarefas, com pouca dificuldade, mas ela não consegue, muitas vezes, nem começar. Lima, Salgado e Ciasca (2011) apontam que 3 em suas pesquisas há uma porcentagem alta nos escores de queixas relacionadas à depressão/ansiedade, baixo relacionamento social, comportamentos agressivos, problemas de atenção. Alertar-se para dados informados por Lima, Salgado e Ciasca (ibidem) que divulgam o aumento nos escores de testes de depressão em crianças dislexas, aumentando este escore conforme o aumento da idade cronológica. Também apontam que crianças com dislexia apresentam baixo autoconceito, costumam isolar-se, desenvolvem comportamentos apáticos, ausência de prazer e não tem vontade de ir à escola. Para que tais problemas não ocorram e a criança siga uma vida escolar tranquila, é observada a importância da identificação e encaminhamento para o diagnóstico. Segundo Machado e Capellni (2014) o disléxico deverá receber os estímulos nas áreas prejudicadas, para que possam de forma gradativa, conseguir acompanhar e participar efetivamente das atividades propostas em sala de aula. Aqui temos um entrave, pois ao que concerne às responsabilidades escolares, como já sabemos, os professores, que lecionam possuem um despreparo, falta de conhecimentos específicos sobre o assunto, que leva muitas vezes, o aluno mesmo diagnosticado, a não ter um acompanhamento adequado. A falta de pesquisas no Brasil, sobre este assunto, também dificulta uma melhor solução para os indivíduos que apresentam este transtorno de aprendizagem (TABAQUIM et al., 2016). O objetivo desta pesquisa é justamente alertar, sobre os perigos que circundam o disléxico, principalmente os que se encontram em fase escolar, pois as dificuldades de aprendizagem que estes apresentam se não identificadas e trabalhadas podem acarretar em uma série transtornos psicológicos de alta gravidade. Segundo Tabaquim et al. (2016) mesmo quando diagnosticado, professores dizem que não possuem recursos pedagógicos necessários em sua metodologia para estes alunos, além de desconhecer os fundamentos específicos que está na base da utilização das estratégias pedagógicas. Isso reforça a importância das pesquisas nesta área, pois o transtorno de aprendizagem é muito pouco pesquisado no nosso país. Por outro lado, resultados da pesquisa de Machado e Capellini (2014), mostraram uma melhora no desenvolvimento da leitura e escrita de crianças com dificuldade de aprendizagem com o uso da tutoria baseada no modelo RTI – resposta a intervenção. Este tutor faz um acompanhamento, auxiliando nas dificuldades especificas dele para este se efetivar nas práticas pedagógicas da escola. Assim, mostra-nos, que existem meios para 4 quem possui esse transtorno superar as dificuldades e aprender, afastando assim, problemas emocionais e comportamentais futuros. CONCLUSÃO Constatamos a importância do diagnóstico, nos primeiros anos escolares, mostrando as comorbidades decorrentes do transtorno de aprendizagem. O diagnóstico feito, nos primeiros anos escolares, após avaliar-se a extensão e as especificidades dos déficits poderá ser planejado as intervenções necessárias, assim como relacionar quais profissionais irão fazer um acompanhamento como, por exemplo, psicólogo, fonoaudiólogo ou outros. Por esta razão, mostra-se de grande importância pesquisar formas de diagnósticos, mais acessíveis, bem como pensar a capacitação de professores, principalmente nos anos iniciais, para que possam identificar sinais, de que um aluno possui tal transtorno, para poder encaminhá-lo e possibilitar o mais rápido possível o diagnóstico. Só desta maneira pouparemos crianças e jovens, que possuem dislexia de passarem pelos anos escolares, com sofrimento e angústia, acreditando que são menos capazes que seus colegas. No Brasil, mais especificamente, deve-se investir em pesquisas de diagnóstico e de intervenções eficazes para a dislexia, assim fazendo com os desleixos possam ter um período escolar proveitoso e semelhante ao dos seus colegas. DESCRITORES Dislexia; Aprendizagem; Diagnóstico; Problemas emocionais. 5 REFERÊNCIAS GIL, A. C. Como Elaborar Um Projeto de Pesquisa. 4ª ed. ed. São Paulo, SP: Editora Atlas S.A., 2002. American Psychiatric Association (2002). DSM-IVTR: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (4ª Ed. Rev.). (Cláudia Dornelles, Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas. LIMA, R. F. D.; AZONI, C. A. S.; CIASCA, S. M. Atenção e Funções Executivas em Crianças com Dislexia do Desenvolvimento. Psicol. Pesq., Juiz de Fora, v. v.7, n. n.2, p. 208-219, Dez. 2013. LIMA, R. F. D.; SALGADO, C. A.; CIASCA, S. M. Associação da Dislexia do Desenvolvimento com Comorbidade Emocional: Um Estudo de Caso. CEFAC, São Paulo, SP, v. v.13, n. n.4, p. 756-762, Jul. / Ago. 2011. MACHADO, A. C.; CAPELLINI, S. A. Tutoria em Leitura e Escrita Baseado no Modelo de RTI – Resposta à Intervenção em Crianças com Dislexia do Desenvolvimento. Rev. CEFAC, São Paulo, v. v.16, n. n.4, p. 1161-1167, Jun./ Ago. 2014. PESTUN, M. S. V.; CIASCA, S.; GONÇALVES, V. M. G. A Importância da Equipe Interdisciplinar no Diagnóstico de Dislexia do Desenvolvimento. Arq. Neuropsiquiatr., São Paulo, v. v.60, n. n.2A, p. 328-332, junho 2002. TABAQUIM, M. D. L. M. et al. Concepção de professores do ensino fundamental sobre a dislexia do desenvolvimento. Revista brasileira de estudos pedagógicos, Braslia, v. v.97, n. n.245, p. 131-146, jan./abr. 2016.