Texto de apoio ao curso de Especialização Atividade física adaptada e saúde Prof. Dr. Luzimar Teixeira Colírio compromete visão e saúde No Brasil 78,6% da população está satisfeita com a própria saúde segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) o que não significa que o brasileiro saiba se cuidar. Esta é a comprovação de um estudo inédito no Brasil que foi desenvolvido nos últimos três anos pelo oftalmologista do Instituto Penido Burnier e diretor médico do Banco de Olhos de Campinas, Leôncio Queiroz Neto. Realizado com 2,7 mil pacientes o estudo demonstra que 1809 pessoas, ou seja, 67% fizeram mau uso de colírio o que causou desde complicações resultantes do desperdício e descontinuidade da terapia, até contaminação do medicamento e passagem do princípio ativo para a corrente sanguínea, especialmente entre aqueles que se automedicaram por longos períodos e que por esta razão se tornaram mais vulneráveis a problemas oculares e de saúde. De acordo com Queiroz Neto, dos 1809 pacientes que usaram colírio de forma inadequada, 1045 ou 58% desperdiçaram o medicamento colocando de duas a três gotas em cada olho por não acreditar que em cada aplicação apenas uma gota é o suficiente. Associada ao desperdício, observa, está a descontinuidade do tratamento devido à baixa absorção do efeito terapêutico entre os pacientes que depois da instilação piscavam várias vezes, colocando boa parte do colírio para fora do olho. Estes simples erros resultaram em uma piora significativa da visão entre os 81 portadores de glaucoma que fizeram parte do estudo. Isso porque, ressalta Queiroz Neto, a instilação ininterrupta de colírio por três vezes ao dia é a única forma de controlar a doença e é uma forma segura de reduzir os casos de cegueira causados pelo glaucoma. Os colírios foram contaminados por 1302 pessoas, ou 72% dos pacientes que fizeram uso incorreto, permitindo o contato do bico dosador com o dedo ou superfície ocular. Isso é o suficiente para que a medicação, vista por muitos como água, perca sua propriedade, principalmente entre os diversos colírios que hoje são fabricados sem conservantes para evitar irritações oculares, ressalta o médico. Queiroz Neto afirma que a absorção do medicamento pelo organismo atingiu 1483 pacientes, o que representa 82% dos que usaram colírio de forma inadequada. Ele explica que a absorção acontece porque parte do medicamento desce pela narina e chega à corrente sanguínea. É pequena devido à baixa dosagem, mas a automedicação que nesta pesquisa demonstrou ser uma atitude comum a 900 pessoas ou 30% do total de pacientes, se for feita sem tampar o ponto lacrimal e por um longo período pode causar vários danos aos olhos e à saúde, adverte. Só para se ter uma idéia, colírios antialérgicos podem causar sonolência e induzir á acidentes. Bastante usados para reduzir o desconforto entre glaucomatosos, clarear e diminuir a irritação causada pela água de piscina ou mar, os vasoconstritores predispõem ao surgimento de catarata precoce, alterações cardíacas e elevação da pressão arterial. Já os antiinflamatórios que em geral são recomendados no tratamento de conjuntivite podem causar complicações maiores ainda, porque muitas vezes associam corticóide e antibiótico, adverte. A longo prazo, o uso contínuo de corticóide aumenta o risco de surgir catarata e glaucoma. Além disso, ressalta, reativa a ceratite herpética para quem já teve a doença anteriormente. O antibiótico, explica, quando cai na corrente sanguínea reduz a imunidade e torna a bactéria mais resistente o que aumenta a chance de surgir uma úlcera na córnea ou infecções em outras partes do corpo. Isso tudo significa que tratamentos com colírios exigem técnica de aplicação, e representam uma questão de saúde pública, comenta. As principais recomendações do médico para o uso correto de colírios são: Lave as mãos antes da aplicação. Verifique no frasco se é recomendado agitar o produto antes de usar. Incline a cabeça para trás. Flexione a pálpebra inferior com o indicador. Com a outra mão segure o dosador. Coloque o medicamento sem relar no bico dosado, evitando a contaminação. Feche os olhos por 3 minutos para garantir o efeito. Pressione com o polegar o canto interno do olho para reduzir efeitos colaterais. Se usar lentes de contato retire-as antes da aplicação. Recoloque as lentes de contato depois de 10 minutos da aplicação. Em caso de prescrição de mais de um colírio aguarde 15 minutos entre um e outro. Só aplicar medicação dentro do prazo de validade estipulado na embalagem. Em caso de desconforto, ou mesmo pequenos acidentes, Queiroz Neto diz que o único procedimento que pode ser feito sem supervisão médica é lavar abundantemente os olhos com água ou usar compressas de água mineral. Não desaparecendo o sintoma, deve-se procurar o oftalmologista. Os olhos podem ficar vermelhos por inflamações, infecções, alergias, contato com corpos estranhos, alterações no filme lacrimal, fotofobia, fadiga visual ou alterações na saúde sem relação direta com distúrbios oculares e para cada caso é indicado um tipo de tratamento, conclui. Aplicar um colírio é muito simples: basta abrir os olhos e pingar uma gotinha. Entretanto, a operação exige técnica e a falta de conhecimento compromete a eficácia de tratamentos oculares, chegando a causar danos sérios à saúde. O mau uso de colírios pela população foi comprovado pelo oftalmologista Leôncio Queiroz Neto. Diretor médico do Banco de Olhos de Campinas (SP), Leôncio entrevistou 2.700 pacientes que passaram pelo Instituto Penido Burnier, na mesma cidade. Desses, 1.809 (67%) tiveram complicações resultantes da aplicação excessiva de remédio, da descontinuidade do tratamento ou da passagem do princípio ativo do medicamento para a corrente sangüínea. “As pessoas não acreditam que no olho cabe apenas uma gota de colírio”, disse o médico à Agência FAPESP. Dos 1.809, 1.045 relataram pingar mais de uma gota por aplicação. Além do desperdício, os pacientes revelaram o costume de piscar várias vezes depois da instilação do colírio. De acordo com o médico, para fazer efeito é preciso fechar os olhos e deixar o medicamento agir por alguns minutos. A aplicação errada e a baixa absorção das substâncias fez muitos pacientes interromperem o tratamento, o que levou à piora das doenças. A contaminação dos bicos dosadores dos frascos é outro problema recorrente. Dos pacientes entrevistados, 1.302 permitiram o contato do bico com o dedo ou com a superfície ocular. Colírios contaminados perdem suas propriedades e tornam-se ineficientes. A pesquisa mostrou também que a automedicação é uma atitude comum entre pessoas acometidas por doenças nos olhos. Entre todos os entrevistados, 900 admitiram decidir o próprio tratamento. Justamente os adeptos de procedimentos sem acompanhamento médico estão mais vulneráveis a doenças oculares. “Uma paciente, por exemplo, usou o colírio do pai por tempo prolongado para ‘clarear’ os olhos, ou seja, diminuir alguma irritação. O resultado foi que ela desenvolveu catarata e glaucoma nos dois olhos. Perdeu a visão de um deles e, no outro, tem apenas 20% da capacidade”, relatou o médico, ressaltando a gravidade da automedicação.