Lições 21 e 22 do 12ºA e B

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Lições 21/22 – 12ºA e B
23-10-2012 (terça-feira)
Auditório - 13H30/15H00
Sumário: Realização em grupo das respostas
alusivas ao documentário «Segredos da Mente»,
da PBS. Esclarecimento de dúvidas e avaliação de
trabalhos.
Nota: na última aula a aluna Beatriz Maduro
respondeu às questões sobre a função vicariante e
o lobo occipital, aquando da introdução ao
documentário.
 Depois de legendar o documentário, experimentá-lo no auditório de manhã.
 Instalar o VLC player, testar.
- Pretende-se com a observação deste documentário mostrar aos alunos como o
estudo do cérebro normal se faz por via indireta, a saber, pelos casos de
experiência invocada, a partir do estudo de pessoas que sofreram acidentes e lesões
cerebrais que afetaram regiões específicas do córtex.
- Das questões que são sugeridas pela análise e descrição de cada caso clínico,
merece destaque o fenómeno da dor sentida por pessoas cujos membros corporais
já não existem: como é possível explicar uma sensação de um membro corpóreo
inexistente? Será que a do, e o nosso próprio corpo, não é mais do que uma
construção do nosso cérebro?
- Explora-se a hipótese da reorganização das redes neurais, ou vias de feixes de
células nervosas, e pretende-se confirmar, por recurso à experimentação, com um
«brain scan», que isso acontece no caso das pessoas cujos membros foram
amputados e que continuam a experimentar sensações dos membros ausentes.
- Hipótese de tratamento: criar uma ilusão visual aos pacientes, de modo a que
estes, através de uma «caixa de espelho», reaprendam a entender os estímulos ao
nível cerebral, reduzindo assim a dor «do membro-fantasma».
- A lesão cerebral conhecida como «Negligência Visual», implica a perda cognitiva
de um lado corporal, no caso descrito, de Peggy Palmer, ao desenhar flores, o lado
esquerdo surge sempre em falta, apesar de nada de errado existir com as funções
visuais da paciente. Um AVC danificou o córtex somatossensorial direito, afetando
a memória visual para os objetos e eventos do lado esquerdo do corpo.
- Mais intrigante é o fenómeno de «Delusão de Capgras» e que leva uma pessoa a
suspeitar da realidade de pessoas, lugares e objetos que eram familiares e evidentes
antes de uma lesão cerebral. Destaca-se neste caso a ausência de estímulos
sensoriais ligados às emoções e à memória. Sem resposta emocional que
acompanhe a memória das pessoas que conhecemos, origina-se uma dissociação
cognitiva. De notar a referência ao suporte neurológico do córtex auditivo, que
permite recuperar a noção de realidade das memórias antigas dos seus pais. É por
isso que ao telefone a ilusão reduplicativa deixa de existir.
- O último caso, de John Sharon, refere-se aos efeitos da epilepsia do lobo
temporal, que reduz a capacidade de controlo emocional e origina o estranho
fenómeno semelhante ao êxtase religioso. A explicação de Ramachandran é
complexa, mas não deixa de ser uma aproximação científica interessante para
explicar a origem da conduta religiosa: a paixão pelo «todo», pela deidade, enfim,
pelo sagrado e transcendência não terá uma explicação neurológica ao nível de
uma desregulação da importância emotiva que damos às coisas na experiência
quotidiana?
Tópicos orientadores para as questões do
documentário
1. A síndrome de membro-fantasma é basicamente uma
«sensação de dor e de presença na consciência» que uma
pessoa experimenta em zonas corporais que foram alvo de
amputação ou de remoção cirúrgica: sente-se dor de um
membro corporal que já não existe.
2. O caso de Derek Steen é um exemplo claro de «membrofantasma». A explicação dada no documentário passa pela
função de suplência do cérebro e pela reorganização das redes
neuronais no que diz respeito ao «mapa corporal». O
neurologista recorreu à imagiologia cerebral (um «scan»)
para mostrar como é que a área cerebral responsável pela
sensibilidade do rosto passa a assumir a sensibilidade da mão
e braço amputados. Ao observar o estímulo na mão direita,
regista-se no «scan» cerebral que a parte esquerda está ativa
normalmente (cor verde para a mão e braço direitos); mas, ao
ativar o rosto na face esquerda, verifica-se que a área direita
do cérebro preencheu a área responsável pelas sensações do
braço esquerdo (e mão) amputado. Ora, é por isso que há
inervação do «membro-fantasma».
3. A ideia central de Ramachandran que foi formulada a
título de hipótese, a partir do estudo de pacientes que sofriam
da síndrome de membros-fantasma, é a seguinte: «as redes
neuronais são capazes de se reorganizar massivamente ao
longo da vida e de se adaptar a novas situações». Ou então,
existem redes neurais secundárias, que só ficam ativas quando
são necessárias para compensar eventuais danos nas redes
neurais primárias (esta hipótese é mais difícil de comprovar).
4. O «dogma científico» que foi refutado pela hipótese de
Ramachandran era a ideia preconcebida de que o
desenvolvimento neuronal estaria completo no final do
período de maturação biológica. As redes neuronais não são
inalteráveis nem fixas – pelo contrário, possuem um carácter
moldável, plástico. Ramachandran acentua a noção de
plasticidade cerebral numa visão mais dinâmica e que envolve
o ciclo de vida das pessoas, notando-se esse proceso de
reestruturação neuronal sobretudo nas situações de défices
das funções cerebrais.
5. O fenómeno de «visão cega» é um caso bizarro que se
verifica em pacientes lesionados, como acontece com Graham
Young, e que permite «ver sem ver», isto é, uma pessoa é
capaz de detectar o movimento de objectos no espaço, mas é
incapaz de identificá-los, de reconhecê-los. Podemos
considerar que esta condição rara e bizarra revela-nos uma
espécie de agnosia visual para o reconhecimento dos objetos.
O que se mostra neste caso é que a organização de um quadro
visual é um processo muito mais complexo do que se poderia
pensar, envolvendo cerca de 30 regiões cerebrais e níveis
diferenciados de consciência. O que falta a Graham Young é a
capacidade de organizar num todo a sua visão do real – ele só
pode contar com um nível de observação não consciente e que
regula em grande parte o nosso quotidiano, um tipo de visão
estruturante semelhante à dos répteis e outros mamíferos
inferiores. Ora, este caso é interessante e coloca-nos questões
subtis: se fazemos imensas coisas de modo inconsciente, por
que razão não fazemos tudo assim? Precisamente porque não
ter consciência implica não ter consciência, o caso de «visão
cega» é uma oportunidade única para detetar o
funcionamento cerebral ao nível do processamento visual em
modo de «piloto automático» (a explicação é referida a partir
da localização de uma rede de fibras nervosas cuja origem é o
tronco cerebral e termina no córtex somatossensorial
superior). É por isso que Graham Young deteta movimentos
no seu campo visual, mas é incapaz de detetar que objetos se
tratam, ou cores, ou formas, tamanhos, etc.
6. A «ilusão de Capgras», ou «paramnésia reduplicativa» é
um défice comportamental bizarro provocado por lesões
neuronais: uma pessoa tende a ver pessoas, objetos, animais,
lugares conhecidos como se fossem cópias. E acredita que
todas essas imitações são impostores. No caso descrito, de
David Silvera, as dimensões cognitivas da memória e a relação
com a amígdala, o portão de entrada no sistema límbico,
responsável pela regulação e reconhecimento das emoções,
foram afetadas. O paciente duplica as pessoas conhecidas em
função da ausência de um marcador emocional e toma-as por
cópias ou sósias.
7. O caso clínico de John Sharon explica-se através da
epilepsia que afecta os lobos temporais. Os comportamentos
evidenciados são perturbadores: acredita que fala com Deus,
ou que é um profeta, e interessa-se por questões filosóficas
especulativas. As crises de epilepsia levam-no a descargas
emocionais intensas, que se aproximam de visões místicas e
alucinatórias.
A explicação de Ramachandran é a seguinte:
- Os ataques epilépticos de John são essencialmente uma
tempestade eléctrica, que ocorre nos lobos temporais, quando
um grupo específico de neurónios começa a disparar ao acaso,
fora de sincronia com o resto do seu cérebro.
- Admite o professor Ramachandran: uma possibilidade é a
de que a actividade neuronal, quando as crises epiléticas
ocorrem no lobo temporal, gera um turbilhão de emoções
estranhas na mente e cérebro da pessoa, e este turbilhão de
emoções bizarras causa a estranha impressão no paciente de
que está a passar por uma experiência de visita de seres
alienígenas, ou a impressão de que «Deus está a falar comigo».
Outra hipótese é a incapacidade de distinguir o que é
emocionalmente importante: se tudo é emocionalmente
equivalente, uma pessoa que sofre este tipo de crises de
epilepsia pode emocionar-se com um simples grão de areia:
«ver o mundo num grão de areia». Se há uma espécie de
«paisagem emocional» que está registada nas redes neuronais,
os ataques epiléticos afetam a sua constituição normal,
criando novos sulcos ou saliências que nos levam a atribuir
importância emocional a coisas, pessoas, ou situações que,
normalmente, são emocionalmente neutrais para as pessoas.
8. Ramachandran especula sobre a possibilidade de existir um
conjunto de redes neuronais que são responsáveis, em todas as
pessoas, por crenças de tipo religioso, ou por questões de
natureza filosófica. Será que há uma espécie de «centro
neuronal» responsável pela experiência religiosa, ou por
Deus? E que lugar tem este padrão neuronal na evolução da
espécie humana?
Pensa-se que um fator crítico é a ligação neuronal entre as
áreas sensoriais nos lobos temporais e a amígdala, que é o
portão de entrada para os centros emocionais do cérebro. A
força dessa ligação, dessas redes neuronais, é que determina
até que ponto pode uma coisa ser emocionalmente saliente, ou
relevante. Por conseguinte, podemos falar de uma espécie de
paisagem emocional, com vales e montes, correspondendo
àquilo que é ou não importante. E acontece que cada um de
nós tem uma paisagem emocional ligeiramente diferente.
Agora imagine, através de uma analogia, o que pode
acontecer a uma pessoa quando sofre uma crise de epilepsia
do lobo temporal, uma série repetida de ataques epiléticos: o
que pode estar a acontecer é um reforço, um aumento
indiscriminado da intensidade das ligações neuronais. É um
pouco como se tivéssemos cursos de água a descer por uma
falésia, formando sulcos, quando chove repetidamente, com
tendência para os aprofundar com a passagem contínua da
água. Ora, é este aprofundamento progressivo e repetido dos
sulcos, por analogia, os ataques repetidos de epilepsia, que faz
aparecer artificialmente no nosso cérebro a importância
emocional de algumas categorias de estímulos sensoriais. É
por isso que um paciente que sofre deste tipo específico de
epilepsia, em vez de achar emocionalmente saliente apenas
tigres, leões, e mães, julga pelo contrário, que tudo é
profundamente saliente. Por exemplo, um grão de areia, um
ramo de uma árvore caída no chão, uma onda do mar, tudo
isto apresenta-se, para a mente do paciente, como impregnado
de significado profundo. Ora, esta tendência para atribuir
significado emocional cósmico para tudo aquilo que nos
rodeia, pode ser semelhante àquilo que consideramos ser uma
experiência mística típica da religião, uma espécie de união
com o cosmos, ou uma conversa com Deus, a observação de
seres de outros planetas, vozes estranhas, ou até a própria
aparição de Deus na experiência da pessoa afetada.
Note-se como se explora no documentário os dois lados de
uma questão: que efeitos comportamentais podem ocorrer
quer num défice de reações emocionais, quer num excesso de
reações emotivas.
Anotações:
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