determinação dos antipsicóticos utilizados no hospital

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VII Mostra Interna de Trabalhos de Iniciação Científica
21 a 24 de outubro de 2014
DETERMINAÇÃO DOS ANTIPSICÓTICOS UTILIZADOS NO
HOSPITAL MUNICIPAL DE MARINGÁ – PARANÁ
Fabio Bahls Machado1; Maurício Fábio Gomes2; Sidney Edson Mella Junior3,
Eliane Aparecida Campesatto Mella2
RESUMO: A esquizofrenia é uma doença que atinge 1% da população causando nos pacientes uma
sintomatologia que os exclui da sociedade. Esta doença gera um ônus tanto para o doente como para sua
família e comunidade, pois pode afastar do mercado de trabalho indivíduos em idade produtiva. O
tratamento da esquizofrenia consiste na utilização de duas classes de antipsicóticos: os típicos e os
atípicos. Dessas duas classes de medicamentos, os antipsicóticos típicos são os preferencialmente
fornecidos pela rede pública de saúde através do SUS, devido ao menor custo. Sendo assim, este trabalho
visou determinar a utilização destes agentes pelo Hospital Municipal de Maringá (HMM) com a finalidade de
gerar dados para uma melhor compreensão da utilização e do perfil destes agentes nesta instituição. O
levantamento dos dados foi obtido através da análise de 127 prontuários de pacientes hospitalizados na ala
da Emergência Psiquiátrica em 2005 no HMM. Os medicamentos foram classificados pela "Anatomical
Therapeutic Chemical Classification System" (ATC), classificação recomendada pela OMS. Após a
classificação, os fármacos utilizados foram comparados com os encontrados na literatura. Os dados obtidos
foram analisados quantitativamente avaliando os antipsicóticos utilizados, bem como as características dos
pacientes quanto à idade e o sexo. Os resultados mostram que o medicamento mais utilizado no ano de
2005 foi o haloperidol seguido pela risperidona, clorpromazina, levomepromazina, haloperidol decanoato,
clozapina e olanzapina. A faixa etária mais acometida com o transtorno da psicose foi entre 22 e 50 anos
com 71,43% e o sexo feminino representou 58,73% dos internamentos.
PALAVRAS-CHAVE: Antipsicóticos; Esquizofrenia; Hospital psiquiátrico.
1 INTRODUÇÃO
A esquizofrenia é um severo transtorno do funcionamento cerebral que leva a uma
incapacitação do indivíduo e desvio da personalidade, afetando aproximadamente 1% da
população ao longo da vida. Os indivíduos geralmente são acometidos no auge de seu
potencial produtivo e o curso da doença é crônico e debilitante com importantes déficits
psicológicos, sociais e vocacionais (BRESSAN; PILOWSKY, 2003). A doença interfere de
uma forma geral nos pensamentos, emoções, motivações e na coordenação motora do
indivíduo, interferindo na sua capacidade de trabalho e em suas relações interpessoais.
Retira o paciente da sociedade, gerando gastos com tratamento e se tornando, dessa
forma, um problema de saúde pública (GAMA et al., 2003).
Acadêmico do Curso Farmácia da UNICESUMAR – Centro Universitário Cesumar, Maringá – PR. Bolsista do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq-UniCesumar). [email protected]
2
Acadêmico do Curso Farmácia da UNICESUMAR – Centro Universitário Cesumar, Maringá – PR. Bolsista do
Programa de Bolsas de Iniciação Científica da UNiCesumar (PROBIC). [email protected]
3 Orientadores, docentes do curso de Farmácia da UNICESUMAR – Centro Universitário Cesumar, Maringá – PR.
[email protected];
1
Anais Eletrônico
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UNICESUMAR – Centro Universitário Cesumar
Maringá – Paraná
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A esquizofrenia, assim como outra doença complexa, parece ser causada por uma
série de fatores, incluindo ambientais e hereditários (RANG et al., 2004). As crises duram
seis meses ou mais, com delírios, alucinações, discurso desorganizado, comportamento
grosseiramente desorganizado ou catatônico ou sintomas negativos (STAHL, 2002). O
quadro clínico da doença é expressamente representado pelos sintomas positivos e
negativos, mas embora não sejam reconhecidos formalmente como parte dos critérios
diagnósticos da esquizofrenia, numerosos estudos acrescentam sintomas cognitivos,
agressivos/hostis e depressivos/ansiosos como sintomatologia dessa doença (KAPLAN;
SADOCK; GREBB,1997).
Entre as várias teorias existentes para a elucidação da etiologia da esquizofrenia, a
hipótese da dopamina é a mais plenamente desenvolvida e constitui a maior parte da
base da farmacoterapia, visto que os medicamentos mais utilizados para tal patologia são
os antagonistas da dopamina, que bolqueiam essa hiperatividade da dopamina no SNC,
reduzindo assim os sintomas positivos (OJOPI et al., 2003). Apesar de inúmeros achados
científicos demonstrarem uma disfunção dopaminérgica, uma série de evidências indicam
que outros sistemas de neuroreceptores estão envolvidos na fisiopatologia do transtorno
(BRESSAN; PILOWSKY, 2003). Particularmente a serotonina, a noradrenalina e o
glutamato, interagem fortemente com as vias dopaminérgicas e podem ser importantes
em relação às ações das drogas antipsicóticas e, possivelmente também, na etiologia da
esquizofrenia (RANG et al., 2004).
O
desenvolvimento
de
antipsicóticos,
também
conhecidos
como
antiesquizofrênicos, neurolépticos ou ainda tranqüilizantes maiores, representaram um
dos mais importantes avanços na história da psicofarmacologia e psiquiatria. Os dois
grupos mais utilizados no tratamento da esquizofrenia são ao antipsicóticos típicos e
antipsicóticos atípicos, nos quais estes agem por mecanismos diferentes, atuando
conseqüentemente em locais distintos, gerando resposta terapêutica e efeitos colaterais
divergentes (CORDIOLI, 2000).
A ação terapêutica dos antipsicóticos deve-se, provavelmente, ao antagonismo do
receptor dopaminérgico D2 em via mesolímbica. Os receptores dopaminérgicos mais
conhecidos pela neurofisiologia são o D1 e o D2 (pós-sinápticos), além dos receptores
localizados no corpo do neurônio dopaminérgico e no terminal pré-sináptico. A atividade
terapêutica dos antipsicóticos parece estar relacionada, principalmente, com o bloqueio
da dopamina nos receptores pós-sinápticos do tipo D2, sendo o aumento da dopamina
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nesta via a causadora dos sintomas positivos da esquizofrenia. Esta ação é responsável
não apenas pela eficácia dos antipsicóticos típicos, como também pela maioria dos seus
efeitos colaterais (GAMA et al., 2003).
O termo atípico refere-se em geral, a menor tendência de alguns compostos mais
recentes a causar efeitos colaterais motores indesejáveis. Estas drogas exibem menos
atividades sobre os receptores D2, tendo assim menos efeitos extrapiramidais. Os mais
utilizados são a clozapina, risperidona, sulpirida e olanzapina (BALDESSARINI, 1996;
RANG et al., 2004).
Embora os antipsicóticos típicos ocasionem mais efeitos colaterais, continuam
sendo os mais utilizados nas clínicas e nos hospitais psiquiátricos pelo fato de ser de fácil
acesso e ter um baixo preço (ROY-BYRNE; UPADHYAYA, 2006).
Sendo assim, este trabalho teve por objetivo determinar a utilização destes agentes
pelo Hospital Municipal de Maringá (HMM) com a finalidade de gerar dados para uma
melhor compreensão do perfil de utilização destes agentes nesta instituição.
2 MATERIAL E MÉTODOS
O levantamento dos dados referentes à utilização dos antipsicóticos foi obtido
através da análise de prontuários dos pacientes hospitalizados na ala da Emergência
Psiquiátrica em 2005 no Hospital Municipal de Maringá (HMM). O levantamento de dados
foi executado no período de março a maio de 2006, sendo aprovado pelo Comitê
Permanente de Ética em Pesquisa do Cesumar (COPec), sob o número 156-2006. O
Farmacêutico responsável pelo controle de entrada e saída de medicamentos da
Farmácia do HMM e o funcionário responsável do Serviço de Arquivo Médico e Estatística
(SAME) acompanharam e auxiliaram na coleta dos dados. O levantamento foi obtido
através das análises de 127 prontuários selecionados ao acaso, de um total de 1.548
pacientes hospitalizados no ano de 2005, com índice de confiança de 95%. Os
medicamentos foram inicialmente classificados pela "Anatomical Therapeutic Chemical
Classification System" (ATC), classificação recomendada pela Organização Mundial de
Saúde (OMS). Após a classificação, os fármacos utilizados no setor de Psiquiatria do
Hospital foram comparados com os encontrados na literatura. Os dados obtidos foram
analisados quantitativamente, avaliando os antipsicóticos utilizados, bem como as
características dos pacientes quanto à idade e sexo.
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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os antipsicóticos utilizados no HMM no ano de 2005 encontram-se divididos em
típicos e atípicos, como mostra a Tabela 1.
Tabela 1: Antipsicóticos típicos e atípicos utilizados no ano de 2005.
Antipsicóticos típicos
Antipsicóticos atípicos
clorpromazina 25 mg
clozapina 100 mg
clorpromazina 100 mg
olanzapina 10 mg injetável
haloperidol 5 mg comprimido
risperidona 2 mg
haloperidol 5 mg injetável
haloperidol decanoato 50 mg injetável
levomepromazina 25 mg
levomepromazina 100 mg
Fonte: Hospital Municipal de Maringá
O medicamento mais utilizado no ano de 2005 foi o haloperidol 5 mg comprimido
(33,80%), seguido por haloperidol 5 mg injetável (25,78%), risperidona 2 mg (17,08%),
clorpromazina 100 mg (8,36%), levomepromazina 100 mg (8,01%), clorpromazina 25 mg
(2,44%), levomepromazina 25 mg (2,09%), haloperidol decanoato 50 mg injetável
(1,74%), clozapina 100 mg (0,35%) e olanzapina 10 mg injetável (0,35%) (Figura 1).
Figura 1: Medicamentos mais utilizados em 2005.
O haloperidol, apesar da grande variedade de efeitos colaterais, é o medicamento
mais utilizado na clínica e nos hospitais psiquiátricos pelo fato de ser de fácil acesso e ter
um baixo preço (ROY-BYRNE; UPADHYAYA, 2006).
Antipsicóticos atípicos foram pouco utilizados, provavelmente por serem mais
onerosos. A risperidona é o único atípico padronizado na instituição, os outros só foram
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utilizados por meio de amostras grátis deixadas aos médicos pelos laboratórios de
medicamentos. Este grupo de medicamentos é extremamente seletivo agindo em locais
do cérebro responsáveis por causar apenas os sintomas psicóticos, reduzindo dessa
forma os efeitos colaterais, o que leva a uma melhor adesão do paciente ao tratamento,
melhor prognóstico da doença, prevenção de recaídas, mas com uma desvantagem
prática e econômica, já que seu preço é muito alto.
A faixa etária variou entre 14 e 81 anos na população estudada, sendo que 7,14%
dos pacientes possuíam idade entre 14 e 18 anos; 7,94% entre 19 e 21 anos; 71,43%
entre 22 e 50 anos; 7,94% entre 51 e 60 anos e 5,55% entre 61 e 81 anos. Estes dados
reforçam os trabalhos encontrados na literatura que relatam um maior acometimento da
população por distúrbios psicóticos no auge de sua idade produtividade (BRESSAN;
PILOWSKY, 2003). Dos prontuários analisados, 58,73% dos pacientes eram do sexo
feminino e 41,27% do sexo masculino. Estes resultados são divergentes aos encontrados
na literatura, já que de acordo com estudos epidemiológicos a psicose atinge ambos os
sexos em iguais proporções (GAMA et al., 2003).
4 CONCLUSÃO
A classe de antipsicóticos mais utilizada no HMM é a dos típicos. Estes dados já
eram esperados por tratar-se de um Hospital Municipal, onde as considerações
econômicas são um fator adicional para a escolha do medicamento, uma vez que as
drogas modernas são de custo elevado. A faixa etária mais acometida com o transtorno
da psicose foi entre 22 e 50 anos, com predominância do sexo feminino.
REFERÊNCIAS
BALDESSARINI, R. J. Fármacos e o tratamento dos transtornos psiquiátricos. In:
GILMAN, A. G.; GOODMAN, L. S. As bases farmacológicas da terapêutica. 9. ed. Rio
de Janeiro: Mac Graw – Hill, 1996. p. 290-313.
BRESSAN, R. A.; PILOWSKY, L. S. Hipótese glutaminérgica da esquizofrenia. Rev Bras.
Psiquiatria, v. 25, n. 3, p. 177–183, 2003.
CORDIOLI, A. V. Psicofármacos: Consulta rápida. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. p.
125-130;171, 172.
GAMA, C. S. et al. Relato do uso de Clozapina em 56 pacientes atendidos pelo programa
de atenção de esquizofrenia refratária da Secretaria de Saúde e do Meio ambiente do Rio
Grande do Sul. Rev. Bras. Psiquiatria, v. 26, n. 1, p. 21-28, 2003.
Anais Eletrônico
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KAPLAN, H. I.; SADOCK, B. J.; GREBB, J. A. Compêndio de Psiquiatria: Ciências do
Comportamento e Psiquiatria Clínica. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 1997. p. 439–466.
OJOPI, E. P. B. et al.O genoma humano e as perspectivas para o estudo da
esquizofrenia. Rev. Psiq. Clin., v. 31, n.1, p. 9-18, 2003.
RANG, H. P. et al. Farmacologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. p.
452-459.
ROY-BYRNE, P. P.; UPADHYAYA, M. Neuropsiquiatria e neurociências na prática
clínica. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. p. 948-955.
STAHL, S. M. Psicofarmacologia: Base Neurocientífica e Aplicações práticas. 2.
ed. Rio de Janeiro: Médica e Científica, 2002. p. 359-445
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