RESUMO 19ªEXPANDIDO RAIB 203/438 361 LEVANTAMENTO DE INSETOS NO CERRADO AMAPAENSE R.A. Silva1, A.B. Gazel Filho1, C.R. Jesus1*, G.S. Carvalho2, W.R. Silva3, J.F. Pereira1 Embrapa Amapá, Rod. JK, km 5, CEP 68903-000, Macapá, AP, Brasil. E-mail: [email protected] 1 RESUMO O cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, dotado de rica biodiversidade e elevados níveis de endemismo. A exploração do cerrado amapaense está centrada basicamente na silvicultura, sendo a agricultura ainda pouco explorada. O objetivo deste trabalho foi caracterizar a estrutura da comunidade de insetos em um fragmento do cerrado amapaense, por meio da utilização de três métodos de coleta. Foram utilizadas armadilhas-de-solo, bandejas amarelas e rede-de-varredura. Foram realizadas cinco coletas, no período de julho a outubro de 2003. As armadilhas-de-solo foram as que apresentaram a maior quantidade de ordens, morfo-espécies e exemplares capturados. As ordens mais abundantes foram Hymenoptera e Diptera. O índice de diversidade de morfo-espécies mais elevado foi registrado em Orthoptera, em todos os métodos de coleta. PALAVRAS-CHAVE: Diversidade, Amapá, Amazônia. ABSTRACT SURVEY OF INSECTS IN A CERRADO REGION OF AMAPÁ STATE, BRAZIL. The cerrado is the second largest biome in Brazil, endowed with a rich biodiversity and high levels of endemism. The economic use of the cerrado of the state of Amapá is centered basically in forestry, agriculture still being little present. The objective of this work was to characterize the structure of the community of insects in one fragment of the Amapá cerrado, through the use of 3 methods of collection. Pitfall traps, yellow trays and sweeping net were used. A total of 5 collections were carried out in the period from July to October 2003. The pitfall traps presented the larges number of orders, morpho-species and individuals captured. The most abundant orders were Hymenoptera and Diptera. In all the collection methods, the highest diversity index for the morpho-species was registered in Orthoptera. KEY WORDS: Diversity, Amapá, Amazon. INTRODUÇÃO O cerrado brasileiro é considerado a savana tropical mais rica do mundo em biodiversidade. Apresenta elevados níveis de endemismo e uma alta riqueza de espécies. É o segundo maior bioma do país em área, apenas superado pela Floresta Amazônica, representando 23% do território brasileiro (ARRUDA, 2001; KLINK & MACHADO, 2005). As áreas de cerrado no Brasil vêm sendo modificadas pelo desmatamento, uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos, em decorrência do desenvolvimento da agricultura e da pecuária. A ocupação irracional foi responsável pela supressão de 60% dos dois milhões de quilômetros quadrados originais de cerrado nativo (ARRUDA, 2001; EMBRAPA, 2005). No Amapá, o cerrado abrange uma área de 9,25% da superfície do Estado (MELÉM JÚNIOR et al., 2003). A vegetação é composta pelos estratos herbáceo, arbustivo e arbóreo. A flora do estrato arbustivo é formada por plantas perenes e semi-perenes, enquanto o estrato arbóreo, apresenta representantes que manifestam adaptações morfo-fisiológicas resultante da escassez de água (CHAGAS et al., 1998). A utilização e o aproveitamento das espécies da flora e da fauna é uma das formas de contribuir para a conservação deste ecossistema. Há diversas espécies frutíferas que já fazem parte da dieta das populações que vivem no cerrado. Algumas plantas possuem outras utilidades, como madeireira, ornamental, forrageira, corticeira, cosmética e medicinal (EMBRAPA, 2005). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Universidade Federal do Amapá, Macapá, AP, Brasil. *Bolsista de Desenvolvimento Científico Regional do CNPq/SETEC/Embrapa Amapá. 2 3 Biológico, São Paulo, v.68, Suplemento, p.361-363, 2006 362 19ª RAIB A entomofauna do cerrado é altamente diversificada, estima-se que ocorram nesse bioma cerca de 90.000 espécies de insetos representadas por diversas ordens (KLINK & MACHADO, 2005). Entretanto as informações são escassas e pouco precisas. Levantamentos sistematizados dos insetos que ocorrem no cerrado amapaense são inexistentes. Este trabalho teve como objetivo caracterizar a estrutura da comunidade de insetos em uma área de cerrado no Estado do Amapá, por meio da utilização de três métodos de coleta. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado no Campo Experimental do Cerrado, pertencente a Embrapa Amapá, localizado no km 45 da BR-156, em Macapá, AP. Foi demarcada uma parcela de um hectare (00º23’15,5" N e 51º03’30,3" W), com pouca cobertura arbórea, arbustos e sub-arbustos esparsos, caracterizando cerrado de campo sujo. As amostragens foram realizadas em intervalos quinzenais, de julho a outubro de 2003, com três métodos de coleta de insetos: armadilha-de-solo (pitfall), bandeja amarela e rede-de-varredura. Foram instaladas 9 armadilhas-de-solo, dispostas em 3 linhas paralelas, contendo 3 armadilhas, em cada linha, com espaçamentos de 25 m na linha e 30 m entre as linhas. As armadilhas eram compostas por frascos de plástico de 15 cm de diâmetro e 10 cm de altura, enterrados no solo, com a borda coincidindo com a superfície do solo. No interior de cada frasco foram colocados 250 mL de solução de formol a 4% e algumas gotas de detergente. Foram instaladas 4 armadilhas para atração de insetos, compostas por bandejas amarelas contendo 500 mL de solução de formol a 4% e algumas gotas de detergente. Em ambos os métodos, o número total de insetos capturados durante cinco dias consecutivos em todas as armadilhas constituiu uma amostra. Para captura de insetos com rede-de-varredura foram realizadas coletas em 10 transectos, percorrendo toda área de amostragem. Em cada transecto eram aplicados 20 golpes de rede, totalizando 200 golpes/ coleta. O material coletado foi conduzido ao Laboratório de Entomologia da Embrapa Amapá, para procedimentos de triagem e posteriormente identificados em nível de ordem. Para estimar a diversidade de insetos coletados foi utilizado o índice de riqueza de espécies de MARGALEF (1951). RESULTADOS Durante todo o período de amostragens, foram capturados 1.863 insetos, pertencentes a 271 morfoespécies, distribuídos em 10 ordens: Blattodea, Coleoptera, Diptera, Hemiptera, Hymenoptera, Lepidoptera, Mantodea, Neuroptera, Odonata e Orthoptera. Com armadilha de solo foram capturados 941 indivíduos, de 105 morfo-espécies: Blattodea (1), Coleoptera (49), Diptera (164), Hemiptera (68), Hymenoptera (618), Lepidoptera (1), Mantodea (2), Neuroptera (1), Odonata (1) e Orthoptera (36). Com bandeja amarela foram obtidos 660 exemplares, de 96 morfo-espécies: Blattodea (3), Coleoptera (52), Diptera (277), Hemiptera (73), Hymenoptera (268), Lepidoptera (3), Mantodea (1), Neuroptera (3) e Orthoptera (17). Com rede-de-varredura foram coletados 262 indivíduos, de 70 morfo-espécies: Blattodea (3), Coleoptera (52), Diptera (277), Hemiptera (73), Hymenoptera (268), Lepidoptera (3), Mantodea (1), Neuroptera (3) e Orthoptera (17). Embora o número de indivíduos capturados com rede-de-varredura e com bandeja amarela tenha sido menor que o número capturado com armadilha-de-solo, a diversidade de ordens capturadas foi semelhante. Tal aspecto demonstra que apesar das diferenças na forma de coleta, inerentes a cada método, todos foram eficientes para medir a diversidade local. A ordem Hymenoptera foi a que apresentou o maior número de representantes coletados nos três métodos (57%). De fato, alguns representantes desta ordem, especialmente as formigas, são dominantes nos ecossistemas tanto pela riqueza de espécies quanto pelo número de indivíduos (RAMOS et al., 2003). Embora os himenópteros tenham apresentado um número maior de indivíduos coletados, foram os ortópteros que apresentaram maior diversidade de morfo-espécies na armadilha-de-solo (α = 8,37), bandeja amarela (α = 5,65) e rede-de-varredura (α = 7,20). Na segunda posição destacou-se a ordem Diptera (24%). O número de indivíduos coletados das ordens Lepidoptera, Mantodea, Neuroptera, Odonata e Blattodea representaram apenas 1,4% do total da amostra. A comunidade de insetos capturada com armadilhas-de-solo foi a que apresentou maior diversidade de morfo-espécies α = 15,19), seguido por bandeja-amarela (α = 14,63) e rede-de-varredura (α = 12,39). Durante o período de amostragem foi possível detectar um declínio considerável do número total de insetos coletados da primeira (julho) para a terceira coleta (início de setembro), coincidindo com a estação seca. Biológico, São Paulo, v.68, Suplemento, p.361-363, 2006 363 19ª RAIB Esta redução se deu principalmente em função do número de insetos coletados com armadilha-de-solo e rede-de-varredura. Já na bandeja amarela, o número de exemplares coletados apresentou uma redução gradual variando de 173 a 103 indivíduos. As variações sazonais na abundância (número de indivíduos) de insetos são comuns e estão relacionadas a diversos fatores, como alterações macro e microclimáticas e redução na disponibilidade de recurso alimentar. CONCLUSÕES O número de insetos coletados no cerrado amapaense diminui de meados de julho a início de setembro, coincidindo com o início do período seco, desfavorável ao desenvolvimento dos insetos. Hymenoptera é a ordem de insetos mais abundante na área. Orthoptera é a ordem que apresenta índice de diversidade de morfo-espécies mais elevado, em todos os métodos de coleta. REFERÊNCIAS ARRUDA, M.B. Ecossistemas brasileiros. Brasília: Ibama, 2001. 51p. CHAGAS, M.A.; RABELO, B.V.; MOCHIUTTI, S.; QUEIROZ, J.A.L. Conservação do Cerrado do Amapá: Contribuições ao debate. Macapá: Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia, 1998. 30p. EMBRAPA. É possível explorar o cerrado com preservação. Disponível em: <http://www21.sede. embrapa.br/notícias/banco de notícias/2005/ folder.2005-06-01.279688>. Acessado em: 1 jun. 2005. KLINK, C.A. & M ACHADO, R. Conservation of the Brazilian Cerrado. Conservation Biology, v.19, p.707-713, 2005. MARGALEF, R. Diversidad de especies en las comunidades naturales. Publicaciones del Instituto de Biologia Aplicada de Barcelona, v.6, p.59-72, 1951. MELÉM JÚNIOR, N.J.; NETO, J.T.F.; YOKOMIZO, G.K. Caracterização dos Cerrados do Amapá. Macapá: Embrapa Amapá, 2003. 5p. (Embrapa Amapá. Comunicado Técnico, 105). Biológico, São Paulo, v.68, Suplemento, p.361-363, 2006