41 FILOSOFIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL NAS ESCOLAS DO MUNICÍPIO DE BARRA DO GARÇAS/MT Cristina Alves Moreira Jaqueline Barbosa da Cruz2 RESUMO A Filosofia nos anos iniciais ajuda a criar condições e oportunidades para o desenvolvimento integral da criança, possibilitando a aquisição de habilidades e competências necessárias à sua vida pessoal e social. Com o intuito de conhecer a realidade foi realizada uma pesquisa com vários referenciais bibliográficos e uma pesquisa de campo em 19 escolas, com coleta de dados para a discussão teórica. Assim, o objetivo deste artigo é analisar o ensino da Filosofia ao educandos dos anos iniciais do ensino fundamental nas escolas do município de Barra do Garças – MT/2012. Palavras-chave: Educação, Filosofia, Ensino Fundamental 1. ABSTRACT Philosophy in the initiate years helps to create conditions and opportunities for the holistic development of children, possibilities the acquisition of skills and competencies necessary to your personal and social life. In order to know the reality of a search was conducted with several bibliographic references and a field survey in 19 schools, with data collection for the theoretical discussion. The objective of this article is to analyze the teaching of Philosophy students the initiate years of elementary education in the schools of the municipality of Barra do Garças – 2012/MT. Keywords: Education, Philosophy, Elementary Education I. 1 Docente orientadora. Graduação em Pedagogia. Especialização Lato Sensu em Docência Multidisciplinar na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Docente nas Faculdades Unidas do Vale do Araguaia. E-mail: [email protected]. 1. INTRODUÇÃO ensino fundamental nas escolas do município de Barra do Garças – MT. Pretende-se discorrer acerca dessa Desde os primórdios que a educação é palco temática e sua importância, bem como pesquisar se a de discussão de muitos estudiosos em busca de Filosofia é uma das disciplinas ministradas e como é melhoria da qualidade do processo ensinotrabalhada nos anos citados. aprendizagem. Uma educação eficaz e eficiente que contribua para o exercício da cidadania. 2. O QUE É FILOSOFIA? O justo é educar para oferecer condições para o educando conquistar pensamento A palavra “filosofia”, de origem grega, é autônomo. O pensamento que conhece suas composta de duas outras: philo e sophia. razões, que escolhe seus critérios, que é Philo quer dizer “aquele ou aquela que tem responsável, consciente de seus um sentimento amigável”, pois deriva de procedimentos e conseqüências e aberto a se philia, que significa “amizade e amor corrigir. Pensamento criativo, capaz de rir de fraterno”. Sophia quer dizer “sabedoria” e si mesmo, buscador de compreensão, sempre dela vem a palavra sophós, sábio. Filosofia atento ao seu tamanho justo. Esse significa, portanto, “amizade pela sabedoria” pensamento não se permite obediência à ou “amor e respeito pelo saber”. (CHAUÍ, regra inquestionável do consumo 2010, p.32). automático, infundado e sem fim. Esse Portanto, a filosofia aparece no sentido de pensamento não se permite tornar-se ação uma busca amorosa de um saber mais ampliado na baseada nos critérios da indústria. Ele não se tentativa de compreender a realidade, compreensão permite o preconceito, não se permite essa que o ser humano deseja desde a mais tenra idade. coisificar. [...]. Afirmamos que o ensino de Independentemente das motivações que filosofia como experiência filosófica pode levaram os homens a fazer filosofia, sabe-se desenvolver esse pensamento. (ASPIS, que este saber surgiu na Grécia, em meados 2004, p.309). do século VI a. C., com os filósofos Contribuindo para essa melhoria encontra-se chamados de pré-socráticos, ou filósofos da a disciplina de Filosofia, a qual deveria ser trabalhada natureza. Pitágoras de Samos, o primeiro a desde a mais tenra idade, pois, conforme Severino utilizar a palavra “filosofia” para designar “o (2010, p.58) ela “desempenha, solidariamente com ser humano que busca o saber”, foi deles, todas as disciplinas, papel fundamental na tarefa de mas não foi o único. Heráclito de Éfeso emancipação do ser humano, quando se tem em pauta a (540-470 a.C), [...], Tales de Mileto (624constituição da autonomia das pessoas”. 558), Demócrito de Abdera (460-370 a. C.) Assim, a proposta deste artigo é analisar o são alguns filósofos entre tantos outros. Dizensino da Filosofia ao educandos dos anos iniciais do se, desses filósofos, que a principal On-line http://revista.univar.edu.br Vol – 3 p. 17 - 23 ISSN 1984-431X Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2013) n.º9 42 característica foi a admiração sobre como tudo iniciou e o porquê de tudo o que existe, o chamado “espanto inicial”. [...]. O questionamento filosófico englobava várias disciplinas hoje estudadas separadamente, como Matemática, Física, Medicina, [...]. Com o tempo, essas disciplinas passaram a formar saberes separados e o campo da investigação da filosofia passou a ser mais específico, embora ela ainda possa se voltar para qualquer assunto. Uma música, uma poesia, ou um fato político podem ser tema de uma discussão filosófica. (KELM, 2010, p.5). Percebe-se que a filosofia é abrangente e não eclodiu de imediato, mas foi um processo longo que contou com a contribuição de vários filósofos que, maravilhados com o universo, se questionavam sobre a existência, deixando um grande legado de conhecimento para a humanidade. Esse “espanto inicial” é característica de todas as crianças que, dotadas de uma grande sensibilidade, se maravilham com tudo ao seu redor. Querem saborear as coisas, tocar, cheirar, ver, ouvir, enfim, explorar o mundo em que se encontram. Sempre buscam o porquê das coisas, dos fatos e acontecimentos, mas, à medida que crescem, se essa curiosidade inicial não for estimulada, as perguntas se findam, acabando por não saber nem mais como formulá-las. Muitas vezes, tornam-se adultos com dificuldades de se expressar, sem senso crítico e fácil de ser manipulado por qualquer ideologia. Neste sentido, é necessário acolher os seus questionamentos, estimulando uma curiosidade saudável e, para isso, o “trabalho filosófico com crianças deve estar voltado para as dimensões da imaginação, da sensibilidade, da afetividade, enfim, da sexualidade” (SILVEIRA, 2001, p. 53). 2.1. O ENSINO DA FILOSOFIA NA LEI A Lei n° 9394/96, conhecida como Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), estabelece que a educação deve preparar o educando para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. Também, em seu artigo 26, ressalta que Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. (BRASIL, 1996, p. 11). Com isso esclarece que, além dos currículos estarem em consonância com a União, deve-se também contemplar as diretrizes do Estado e do Município a que pertence. A Proposta Curricular para o Ensino Fundamental de nove anos do município de Barra do Garças, estabelece a importância da filosofia como disciplina, destacando que ela: On-line http://revista.univar.edu.br Vol – 3 p. 41 - 47 ISSN 1984-431X [...] contribui para levar as crianças a compreenderem o mundo e a realidade de uma forma racional e orientá-las na busca de razões, da compreensão do homem e da sociedade. Também instiga ao questionamento e à reflexão sobre seus atos e dos outros, levando-as a agir com coerência e ética, o que é ou deveria ser um dos principais objetivos da educação. (MOREIRA et al., 2008, p. 43). Entender o cotidiano e as pessoas com suas aspirações e desejos, favorecendo a formação crítica e humanística, são condições indispensáveis para o exercício da cidadania apregoada pela LDB. A aprendizagem da cidadania – como de resto toda aprendizagem escolar – deve centrar-se na aquisição de competências, e não na transmissão de conhecimentos, [...]. Evidentemente, não se forma sem informações, mas uma acumulação de informações não é em si formativa, o que Montaigne já compreendia no século XVI, quando afirmava que valia mais uma cabeça bem feita do que uma cabeça muito cheia. Portanto, não acredito que a escola forme bons cidadãos restringindo-se, como se fez até aqui, a cursos de civismo [...]. (LELEUX, 2008, p. 193). É uma forma de ajudar o educando a pensar por si mesmo, desenvolver o senso crítico, ter sua própria opinião e respeitar a dos colegas. Isso não acontece de uma hora para outra, é um processo longo e contínuo e, por isso, é necessário trabalhar esses “conceitos e posturas a partir das séries iniciais”, conforme ainda é ressaltado na Proposta Curricular. 2.2. A FILOSOFIA PARA CRIANÇA Pela enorme contribuição à temática, faz-se necessário um breve histórico sobre Matthew Lipman (1923 – 2010), um filósofo norte americano reconhecido como fundador do Programa de Filosofia para Crianças. Em 1948, concluiu sua graduação em Filosofia, na Universidade de Standford e, em 1954, obteve o título de doutor em Filosofia pela Universidade de Colúmbia, em Nova Iorque, onde realizou suas primeiras experiências com a Filosofia para Crianças. [...]. A repercussão positiva de seu trabalho experimental com as crianças, em Colúmbia, valeu-lhe um convite, em 1972, para trabalhar no Departamento de Filosofia do MontClair State College, em Nova Jersey, uma instituição de ensino superior onde, além de lecionar filosofia, poderia dar continuidade ao seu projeto de constituição de um Programa de Filosofia para Crianças. Ali conheceu Ann Margareth Sharp, também doutora em filosofia, que, desde então, tornou-se sua principal colaboradora no desenvolvimento desse projeto. (SILVEIRA, 2001, p. 11). Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2013) n.º9 43 Esse autor conta com uma vasta produção literária traduzidas em várias línguas, inclusive em português. Entre essas obras, encontram-se as “novelas pedagógicas” com livros para a criança e manuais de orientações para o professor, os quais o Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças detém o direito exclusivo, repassando somente para os educadores que fazem o curso de capacitação oferecido pelo Centro. Sua decisão para fundar o Programa de Filosofia para Crianças decorreu da influência de Vygotsky, um renomado socioconstrutivista que enfatizou a capacidade das crianças em trabalhar com ideias, e de duas preocupações: [...] uma, de ordem pedagógico-cognitiva, relacionada com a sua preocupação com as deficiências de raciocínio e de aprendizagem verificadas em crianças e jovens escolares, e outra, de natureza político-social, ligada à apreensão quanto ao comportamento rebelde da juventude, sobretudo a partir da revolta estudantil do final da década de 1960. (SILVEIRA, 2001, p. 14). repleta de experiências ricas e significativas. (LIPMAN, 1994, p. 22) As crianças chegam à escola cheia de expectativas, curiosas e ansiosas por aprender. Gostam do ambiente escolar, mas quanto o assunto é estudo, muitas não vêem significado naquilo que se faz. Aos poucos vai perdendo sua curiosidade inicial, o maravilhar-se com o mundo a sua volta. Num modelo escolar onde o espaço físico é distribuído em carteiras enfileiradas, pessoas tratadas como números de chamada, avaliações classificatórias que não se propõem a transformar nada e ninguém, é preciso resgatar com urgência a filosofia e seu objeto de estudo o ser humano, nas suas relações com pessoas e com o mundo, inserindo uma visão transdisciplinar, transpessoal que garanta aprendizagem bem sucedida com a formação do cidadão consciente do seu papel na sociedade e da sua responsabilidade perante as relações. (MACEDO, 2009, p. 5) Essa preocupação pelo raciocínio ele sentiu tanto em relação à universidade em que lecionava como na escola onde estudavam os seus filhos, sendo solicitado, em uma das reuniões de pais, a ajudar a melhorar o rendimento dos alunos. A coisa de maior importância nesse repertório seria, necessariamente, uma variedade de novos currículos que ajudaria as crianças a pensarem por si mesmas, que provocaria as crianças a fazerem, falarem e agirem mais imaginativamente e reflexivamente que qualquer um dos nossos currículos fizeram no passado. (LIPMAN, 1994, p. 15). Dessa forma, a proposta do Programa Filosofia para Criança é baseada em um diálogo instigante e criativo entre crianças com crianças e adultos com as crianças, sempre com a estratégia de rodas para favorecer a comunicação e a democracia. A filosofia, por contemplar o ser humano em todas as suas dimensões, é um instrumento indispensável para sua formação. Iniciando a criança nesse processo desde os anos iniciais do ensino fundamental, e não apenas no ensino médio, favorecerá melhor uma ação educacional reflexiva. Não se trata em transformar as crianças em filósofos, mas ajudá-las a “escutarem melhor, estudarem melhor, aprenderem melhor e se expressarem melhor” (LIPMAN, 1994, p. 35). É preciso instigar a sua sede de conhecimento, ajudando-as a tornarem suas experiências significativas. [...] a escola deve ajudar as crianças a descobrirem o significado de suas experiências [...]. A informação pode ser transmitida, as doutrinas podem ser incutidas, os sentimentos podem ser compartilhados – mas os significados têm que ser descobertos. Não podemos “dar” os significados às outras pessoas. [...] elas mesmas devem procurá-los por meio do envolvimento no diálogo e na investigação. E isso não é o fim da questão, pois os significados, uma vez encontrados, devem ser cuidados e alimentados [...]. As crianças que não conseguem perceber o significado de suas próprias experiências, que acham o mundo estranho, fragmentado e perturbador, são mais propensas a buscar atalhos para alcançar experiências plenas e eventualmente podem se envolver com drogas e sucumbir à psicose. (LIPMAN, 1994, p. 24). Assim, a disciplina de filosofia nos anos iniciais ajuda a criar condições e oportunidades para o desenvolvimento integral do educando, possibilitando a aquisição de habilidades e competências necessárias à sua vida pessoal e social. 2.3. IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE FILOSOFIA PARA AS CRIANÇAS NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Na educação busca-se a melhoria do processo ensino-aprendizagem, visando o desenvolvimento da autonomia do educando. Sendo assim, a filosofia desempenha um papel importante na vida do ser humano, pois, além de buscar respostas para suas indagações existenciais, ajuda a desenvolver sua capacidade de reflexão e expressão e a sua cidadania. Quais são as expectativas das crianças que freqüentam as escolas? As crianças, geralmente, alegam que as aulas não são relevantes, interessantes ou significativas [...]. Os pais podem ser igualmente concisos: as escolas existem para “fazer com que as crianças aprendam”. [...]. Assim como todo mundo, as crianças anseiam por uma vida On-line http://revista.univar.edu.br Vol – 3 p. 41 - 47 ISSN 1984-431X Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2013) n.º9 44 2.4. Como Trabalhar Filosofia com as Crianças A Proposta Curricular para o Ensino Fundamental de nove anos do município de Barra do Garças (2008) traz como objetivo geral para o trabalho com Filosofia: Aprimorar a arte filosófica trabalhando a autoestima pelo conhecimento de si próprio, pelo pensar por si mesmo, pelo bem de se expressar no grupo, pelo conhecimento das diferentes expressões da inteligência humana refletindo sobre a importância da lógica e da linguagem para a organização do pensamento e da ação. (MOREIRA et al., 2008, p. 44). É de grande relevância ajudar as crianças a se conhecerem melhor, a ampliarem suas respostas e questionamentos sobre o mundo no qual vivemos, sua capacidade de comunicação e sociabilidade, com aulas que valorizem e incentivem sua atitude criativa. As aulas de filosofia são desestabilizantes, pois assim é a filosofia: assim que acaba de encontrar-se, perde-se de novo, deliberadamente. Essas aulas têm vocação para serem emocionantes, não são apenas cerebrais. Numa educação assim o educando delibera e vive aquilo. E, como num jogo, o professor deve sempre deixar claros seus objetivos pedagógicos, seus métodos e suas estratégias para que possa existir a consciência e conivência de todos quanto às regras. (ASPIS, 2004, p. 308) Essas aulas devem ser dinâmicas e desafiadoras, favorecer experiências ricas e significativas para os educandos, envolvendo o lúdico na aprendizagem. Também a Proposta Curricular para o Ensino Fundamental de nove anos do município de Barra do Garças (2008) aborda alguns pontos a serem trabalhos em seu eixo temático com os anos iniciais do Ensino Fundamental. São eles: Habilidades de raciocínio: interpretar, observar, obter e organizar dados, comparar, reconhecer, supor, classificar, raciocinar hipoteticamente e pensar por silogismo. Pensamento por si mesmo (busca da autonomia): identidade, o que faz eu ser eu?, orgulho, os sentidos, amigos, crescer, reconhecimento, quando o assunto interessa, cometer erros, aflição-apavoramento, controlado – ponderado, generosidade. Relação homem e mundo (vivência e atitudes filosóficas): morar admirar, contemplar o meio ambiente, ler, cuidados consigo, com o outro e com o ambiente, esclarecer – ideias claras e ideias obscuras, regras de boa convivência e boa conversação. (MOREIRA et al., 2008, p. 44). On-line http://revista.univar.edu.br Vol – 3 p. 41 - 47 ISSN 1984-431X Assim, percebe-se que o trabalho de filosofia com as crianças deve estar voltado para o desenvolvimento de suas competências e habilidades com atividades que lhe possibilite se expressar, conhecer a si e ao outro, interagir com o contexto em que se encontra. 3. MATERIAIS E MÉTODOS Essa pesquisa foi realizada com o intuito de propiciar uma reflexão acerca do ensino de filosofia para as crianças que se encontram nos anos iniciais do ensino fundamental, devido a sua enorme contribuição na formação da cidadania e autonomia tão requerida pela educação. Trata-se de um estudo quanti-qualitativo, descritivo e exploratório com coletas de dados e consultas bibliográficas que focou a temática em questão. Dessa forma, buscou-se embasamento nas leis e estudiosos que abordam o assunto. Proporcionando uma visão geral sobre o fato, a pesquisa exploratória ajuda a aprofundar o problema, constituindo, assim, uma etapa de investigação de muita relevância para o estudo do tema (ABEC, 2012). O método quanti-qualitativo, além de favorecer a segurança, objetividade na coleta de informações, rigor nos procedimentos adotados e garantia da exatidão dos resultados, ajuda numa compreensão detalhada sobre os significados dos dados apresentados, possibilitando ao pesquisador uma análise pessoal, mas fundamentada, sobre a pesquisa (ABEC, 2012). 3.1 Amostragem A amostra caracterizou-se por 19 escolas do município de Barra do Garças/ MT, que possuem o ensino fundamental 1, do 1º ao 5º ano, sendo estaduais, municipais e particulares, que se dispuseram a colaborar com a pesquisa. 3.2 Coleta de Dados Foi utilizado um questionário como instrumento de coleta de dados, com 4 perguntas objetivas e 1 aberta, destinado à direção da escola. E para a escola que ministrava a disciplina de Filosofia, aplicou-se um segundo questionário para o educador responsável pelas aulas, contendo uma questão de múltipla escolha e 4 abertas que permitiram aos entrevistados posicionar-se quanto a metodologia utilizada, tempo de aula e formação. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os participantes da amostra foram questionados quanto a alguns pontos necessários para o desenvolvimento da pesquisa. Na entrevista junto à direção foi investigada qual o tipo de escola, se a Filosofia é uma das disciplinas ministradas para os Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2013) n.º9 45 anos iniciais do ensino fundamental, quanto ao tempo e com qual propósito foi implantada. Em relação aos tipos de escolas percebe-se que não houve muito desequilibrio de quantidade entre as entrevistadas, mas predominou as escolas municipais. De acordo com a Lei de Diretrizes e Base da Educação (LDB), lei nº 9394-96, em seu artigo 11, parágrafo V, embora a União, os Estados e Municípios devam organizar a educacão nacional de forma colaborativa, é incubência dos Municípios darem prioridade ao ensino fundamental. (Tabela 1) Tabela 1 – Análise dos dados dos tipos de escolas do município de Barra do Garças – MT/2012 F % Escolas Estaduais 6 31,58 Municipais 8 42,11 Particulares 5 26,31 Total 19 100 As 19 escolas foram questionadas se ministravam a disciplina de Filosofia para os anos iniciais do ensino fundamental, obtendo-se os seguintes dados (Tabela 2). Tabela 2 – Análise dos dados de verificação entre as escolas do municipio de Barra do Garças – MT/2012 que ministram a disciplina de Filosofina nos anos iniciais. Ministra Filosofia F % Sim 2 10,52 Não 17 89,48 Total 19 100 Observa-se com esses dados que a maioria das escolas ainda não ministram a disciplina de Filosofia para os educandos dos anos iniciais do ensino fundamental, pois das 19 escolas entrevistadas, apenas 2 (10,52%) responderam que sim. A Proposta Curricular para o Ensino Fundamental de nove anos do município de Barra do Garças, ressalta que o ensino de Filosofia para as crianças não visa o ensinamento de sistemas filosóficos, mas sim ajudá-las a ter opinião própria, trazendo como um dos eixos temáticos da investigação conceitual dos anos inciais a busca da autonomia, vivências e atitudes filosóficas. A criança que hoje é levada a aceitar passivamente um algoritmo ou uma regra sem compreender seu funcionamento, com base apenas na autoridade do professor ou da escola, tenderá a ser o mesmo indivíduo On-line http://revista.univar.edu.br Vol – 3 p. 41 - 47 ISSN 1984-431X que, na vida adulta, aceitará preconceitos e injustiças sociais, também passivamente, sem perguntar seu significado e razão de ser. (PARO, 2011, p. 493). Para as escolas que trabalham a disciplina de Filosofia nos anos iniciais do ensino fundamental, foi também questionado a duração de tempo ela é trabalhada (Tabela 3). Tabela 3 – Análise dos dados para verificação de quanto tempo a disciplina de Filosofia é ministrada nos anos iniciais do ensino fundamental nas escolas de Barra do Garças – MT/2012. Anos em que a Filosofia é ministrada na escola F % 0 17 89,48 2 1 5,26 3 0 0 4 0 0 5 0 0 6 0 0 7 0 0 8 0 0 9 0 0 10 ou mais 1 5,26 Total 19 100 *Uma escola acrescentou 17 anos. Nota-se que há uma grande diferença de anos entre as escolas que trabalham com a Filosofia, pois enquanto uma contempla dois anos, a outra está com 17 anos, conforme respondido no questionário. Não há pesquisas significativas que expliquem isso, podendo se atribuir aos anos de existência da escola. Essas instituições foram questionadas quanto a formação ou curso do educador nesta área, por ser ele o principal responsável direto pela orientação dos trabalhos (Tabela 4). Tabela 4 – Análise dos dados para averiguação da formação do educador na área da Filosofia. Tem formação F % Sim 0 0 Não 2 10,52 Não ministra disciplina 17 89,48 Total 19 100 *Uma escola acrescentou que tem preparação. Verifica-se pelos dados coletados, que os educadores que assumem as aulas de Filosofia não têm formação na área, sendo que uma das escolas ressaltou que os seus professores passam por uma preparação para ministrarem a disciplina. Conforme Monteiro e Pimentel (2010), a qualificação é de fundamental importância ao exercício pedagógico, pois o educador tem o dever de orientar e Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2013) n.º9 46 provocar as reflexões em busca da construção do conhecimento. O limite à concretização da perspectiva do professor de filosofia como iniciador de experiências de reflexão e abordagem conceitual na sala de aula seria a sua não postura filosófica. Isso pode ter origem por vários motivos: déficit de integração entre os conhecimentos pedagógicos e filosóficos ou mesmo a ausência de formação em uma das áreas, o que infelizmente acontece em grande número na maioria das salas de aula, pois muitos dos profissionais que lecionam filosofia não têm a formação filosófica específica. (MONTEIRO; PIMENTEL, 2010, p.330). As duas escolas que trabalham com a Filosofia foram também questionadas quanto ao propósito da implantação dessa disciplina nos anos iniciais do ensino fundamental. Nas respostas abordaram a sua contribuição para a formação integral do educando, tendo em vista a realidade em que estão inseridos, bem como favorecer a criatividade e o bem estar coletivo. Assim, devido a importante função do educador, estes foram questionados quanto ao tempo em que estão atuando na profissão, permanência na escola, formação acadêmica, tempo em que ministram aula de Filosofia para as crianças e sua metodologia de trabalho. Os três educadores entrevistados estão atuando há muito tempo, com 18, 23 e 27 anos de trabalho, sendo que dois permanecem na escola a 20 anos e um a 1 ano e meio. Quanto à formação acadêmica, dois educadores têm pós-graduação, um em Docência Multidisciplinar e outro em Educação em Língua Portuguesa e Filosofia, e um é graduado em Licenciatura em Pedagogia, e trabalham com a disciplina de Filosofia nos anos iniciais há 1, 7 e 15 anos. Questionados em relação à metodologia de trabalho enfatizaram o uso do método investigativo na perspectiva dialógica, também abordando valores que ajudam a formar o caráter do cidadão. Durante as aulas as crianças são incentivadas a participarem da roda de conversa sobre o assunto em pauta, dando suas opiniões. Dessa forma, trabalham atividades que desenvolvam a percepção, a atenção, o conhecimento de si próprio, a memória, a construção de ideias, a orientação espacial e temporal. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Refletindo sobre a importância do ensino de Filosofia nos iniciais do ensino fundamental ficou nítida sua enorme contribuição para formação pessoal e social do educando. O estudo permitiu observar que a maioria das escolas entrevistadas (89,48%) não ministra esta disciplina para os anos iniciais. On-line http://revista.univar.edu.br Vol – 3 p. 41 - 47 ISSN 1984-431X De acordo com Luckesi e Passos (1996, p.81) “ela é de fundamental importância para a vida de todos os indivíduos, como seres humanos que desejam encontrar um sentido para o seu agir”. Fica também constatado neste estudo que não se trata em transformar as crianças em filósofas, mas ajudá-las no desenvolvimento positivo de sua curiosidade, capacidade de expressão, senso crítico e formação da própria opinião para que não permaneçam na superficialidade dos fatos, pois “a filosofia é a possibilidade de transcendência humana que permite pensar sobre o agir” (ARANHA; MARTINS, 2003, p. 90). Assim, o presente trabalho possibilitou uma maior compreensão acerca do ensino de Filosofia para crianças, bem como sua importância para a melhoria do processo ensino-aprendizagem, visto que favorece uma ação educacional reflexiva. Por se tratar de um assunto amplo e complexo, deixa abertura para novas pesquisas e aprofundamentos sobre a temática abordada. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABEC – Faculdades Unidas do Vale do Araguaia. Elaborando Trabalhos Científicos: normas para apresentação e elaboração. Barra do Garças: ABEC, 2012. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à Filosofia. 3 ed. Revista. São Paulo: Moderna, 2003. ASPIS, Renata Pereira Lima. O professor de filosofia: o ensino de filosofia no ensino médio como experiência filosófica. Cad. CEDES [online]. 2004, vol.24, n.64, pp. 305-320. ISSN 0101-3262. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S010132622004000300004&ln g=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 25 de junho de 2012. BRASIL. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Senado, 1996. CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 14 ed. São Paulo: Ática, 2010. KELM, Caroline. 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