filosofia nos anos iniciais do ensino fundamental nas escolas do

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FILOSOFIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL NAS ESCOLAS DO MUNICÍPIO DE
BARRA DO GARÇAS/MT
Cristina Alves Moreira1
Jaqueline Barbosa da Cruz2
RESUMO A Filosofia nos anos iniciais ajuda a criar condições e oportunidades para o desenvolvimento integral da
criança, possibilitando a aquisição de habilidades e competências necessárias à sua vida pessoal e social. Com o intuito
de conhecer a realidade foi realizada uma pesquisa com vários referenciais bibliográficos e uma pesquisa de campo em
19 escolas, com coleta de dados para a discussão teórica. Assim, o objetivo deste artigo é analisar o ensino da Filosofia
ao educandos dos anos iniciais do ensino fundamental nas escolas do município de Barra do Garças – MT/2012.
Palavras-chave: Educação, Filosofia, Ensino Fundamental 1.
ABSTRACT Philosophy in the initiate years helps to create conditions and opportunities for the holistic development
of children, possibilities the acquisition of skills and competencies necessary to your personal and social life. In order to
know the reality of a search was conducted with several bibliographic references and a field survey in 19 schools, with
data collection for the theoretical discussion. The objective of this article is to analyze the teaching of Philosophy
students the initiate years of elementary education in the schools of the municipality of Barra do Garças – 2012/MT.
Keywords: Education, Philosophy, Elementary Education I.
1
Docente orientadora. Graduação em Pedagogia. Especialização Lato Sensu em Docência Multidisciplinar na Educação
Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Docente nas Faculdades Unidas do Vale do Araguaia. E-mail:
[email protected].
2
Graduada em Pedagogia da UNIVAR – Faculdades Unidas do Vale do Araguaia. E-mail:
[email protected]
1. INTRODUÇÃO
Desde os primórdios que a educação é palco
de discussão de muitos estudiosos em busca de
melhoria da qualidade do processo ensinoaprendizagem. Uma educação eficaz e eficiente que
contribua para o exercício da cidadania.
O justo é educar para oferecer condições
para o educando conquistar pensamento
autônomo. O pensamento que conhece suas
razões, que escolhe seus critérios, que é
responsável,
consciente
de
seus
procedimentos e conseqüências e aberto a se
corrigir. Pensamento criativo, capaz de rir de
si mesmo, buscador de compreensão, sempre
atento ao seu tamanho justo. Esse
pensamento não se permite obediência à
regra
inquestionável
do
consumo
automático, infundado e sem fim. Esse
pensamento não se permite tornar-se ação
baseada nos critérios da indústria. Ele não se
permite o preconceito, não se permite
coisificar. [...]. Afirmamos que o ensino de
filosofia como experiência filosófica pode
desenvolver esse pensamento. (ASPIS,
2004, p.309).
Contribuindo para essa melhoria encontra-se
a disciplina de Filosofia, a qual deveria ser trabalhada
desde a mais tenra idade, pois, conforme Severino
(2010, p.58) ela “desempenha, solidariamente com
todas as disciplinas, papel fundamental na tarefa de
emancipação do ser humano, quando se tem em pauta a
constituição da autonomia das pessoas”.
Assim, a proposta deste artigo é analisar o
ensino da Filosofia ao educandos dos anos iniciais do
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ensino fundamental nas escolas do município de Barra
do Garças – MT. Pretende-se discorrer acerca dessa
temática e sua importância, bem como pesquisar se a
Filosofia é uma das disciplinas ministradas e como é
trabalhada nos anos citados.
2. O QUE É FILOSOFIA?
A palavra “filosofia”, de origem grega, é
composta de duas outras: philo e sophia.
Philo quer dizer “aquele ou aquela que tem
um sentimento amigável”, pois deriva de
philia, que significa “amizade e amor
fraterno”. Sophia quer dizer “sabedoria” e
dela vem a palavra sophós, sábio. Filosofia
significa, portanto, “amizade pela sabedoria”
ou “amor e respeito pelo saber”. (CHAUÍ,
2010, p.32).
Portanto, a filosofia aparece no sentido de
uma busca amorosa de um saber mais ampliado na
tentativa de compreender a realidade, compreensão
essa que o ser humano deseja desde a mais tenra idade.
Independentemente das motivações que
levaram os homens a fazer filosofia, sabe-se
que este saber surgiu na Grécia, em meados
do século VI a. C., com os filósofos
chamados de pré-socráticos, ou filósofos da
natureza. Pitágoras de Samos, o primeiro a
utilizar a palavra “filosofia” para designar “o
ser humano que busca o saber”, foi deles,
mas não foi o único. Heráclito de Éfeso
(540-470 a.C), [...], Tales de Mileto (624558), Demócrito de Abdera (460-370 a. C.)
são alguns filósofos entre tantos outros. Dizse, desses filósofos, que a principal
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característica foi a admiração sobre como
tudo iniciou e o porquê de tudo o que existe,
o chamado “espanto inicial”. [...]. O
questionamento filosófico englobava várias
disciplinas hoje estudadas separadamente,
como Matemática, Física, Medicina, [...].
Com o tempo, essas disciplinas passaram a
formar saberes separados e o campo da
investigação da filosofia passou a ser mais
específico, embora ela ainda possa se voltar
para qualquer assunto. Uma música, uma
poesia, ou um fato político podem ser tema
de uma discussão filosófica. (KELM, 2010,
p.5).
Percebe-se que a filosofia é abrangente e não
eclodiu de imediato, mas foi um processo longo que
contou com a contribuição de vários filósofos que,
maravilhados com o universo, se questionavam sobre a
existência, deixando um grande legado de
conhecimento para a humanidade.
Esse “espanto inicial” é característica de
todas as crianças que, dotadas de uma grande
sensibilidade, se maravilham com tudo ao seu redor.
Querem saborear as coisas, tocar, cheirar, ver, ouvir,
enfim, explorar o mundo em que se encontram. Sempre
buscam o porquê das coisas, dos fatos e
acontecimentos, mas, à medida que crescem, se essa
curiosidade inicial não for estimulada, as perguntas se
findam, acabando por não saber nem mais como
formulá-las. Muitas vezes, tornam-se adultos com
dificuldades de se expressar, sem senso crítico e fácil
de ser manipulado por qualquer ideologia.
Neste sentido, é necessário acolher os seus
questionamentos, estimulando uma curiosidade
saudável e, para isso, o “trabalho filosófico com
crianças deve estar voltado para as dimensões da
imaginação, da sensibilidade, da afetividade, enfim, da
sexualidade” (SILVEIRA, 2001, p. 53).
2.1. O ENSINO DA FILOSOFIA NA LEI
A Lei n° 9394/96, conhecida como Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB),
estabelece que a educação deve preparar o educando
para o exercício da cidadania e a qualificação para o
trabalho. Também, em seu artigo 26, ressalta que
Os currículos do ensino fundamental e
médio devem ter uma base nacional comum,
a ser complementada, em cada sistema de
ensino e estabelecimento escolar, por uma
parte
diversificada,
exigida
pelas
características regionais e locais da
sociedade, da cultura, da economia e da
clientela. (BRASIL, 1996, p. 11).
Com isso esclarece que, além dos currículos
estarem em consonância com a União, deve-se também
contemplar as diretrizes do Estado e do Município a
que pertence.
A Proposta Curricular para o Ensino
Fundamental de nove anos do município de Barra do
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Garças, estabelece a importância da filosofia como
disciplina, destacando que ela:
[...] contribui para levar as crianças a
compreenderem o mundo e a realidade de
uma forma racional e orientá-las na busca de
razões, da compreensão do homem e da
sociedade.
Também
instiga
ao
questionamento e à reflexão sobre seus atos
e dos outros, levando-as a agir com
coerência e ética, o que é ou deveria ser um
dos principais objetivos da educação.
(MOREIRA et al., 2008, p. 43).
Entender o cotidiano e as pessoas com suas
aspirações e desejos, favorecendo a formação crítica e
humanística, são condições indispensáveis para o
exercício da cidadania apregoada pela LDB.
A aprendizagem da cidadania – como de
resto toda aprendizagem escolar – deve
centrar-se na aquisição de competências, e
não na transmissão de conhecimentos, [...].
Evidentemente, não se forma sem
informações, mas uma acumulação de
informações não é em si formativa, o que
Montaigne já compreendia no século XVI,
quando afirmava que valia mais uma cabeça
bem feita do que uma cabeça muito cheia.
Portanto, não acredito que a escola forme
bons cidadãos restringindo-se, como se fez
até aqui, a cursos de civismo [...].
(LELEUX, 2008, p. 193).
É uma forma de ajudar o educando a pensar
por si mesmo, desenvolver o senso crítico, ter sua
própria opinião e respeitar a dos colegas. Isso não
acontece de uma hora para outra, é um processo longo
e contínuo e, por isso, é necessário trabalhar esses
“conceitos e posturas a partir das séries iniciais”,
conforme ainda é ressaltado na Proposta Curricular.
2.2. A FILOSOFIA PARA CRIANÇA
Pela enorme contribuição à temática, faz-se
necessário um breve histórico sobre Matthew Lipman
(1923 – 2010), um filósofo norte americano
reconhecido como fundador do Programa de Filosofia
para Crianças.
Em 1948, concluiu sua graduação em
Filosofia, na Universidade de Standford e,
em 1954, obteve o título de doutor em
Filosofia pela Universidade de Colúmbia,
em Nova Iorque, onde realizou suas
primeiras experiências com a Filosofia para
Crianças. [...]. A repercussão positiva de seu
trabalho experimental com as crianças, em
Colúmbia, valeu-lhe um convite, em 1972,
para trabalhar no Departamento de Filosofia
do MontClair State College, em Nova
Jersey, uma instituição de ensino superior
onde, além de lecionar filosofia, poderia dar
continuidade ao seu projeto de constituição
de um Programa de Filosofia para Crianças.
Ali conheceu Ann Margareth Sharp, também
doutora em filosofia, que, desde então,
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tornou-se sua principal colaboradora no
desenvolvimento desse projeto. (SILVEIRA,
2001, p. 11).
Esse autor conta com uma vasta produção
literária traduzidas em várias línguas, inclusive em
português. Entre essas obras, encontram-se as “novelas
pedagógicas” com livros para a criança e manuais de
orientações para o professor, os quais o Centro
Brasileiro de Filosofia para Crianças detém o direito
exclusivo, repassando somente para os educadores que
fazem o curso de capacitação oferecido pelo Centro.
Sua decisão para fundar o Programa de
Filosofia para Crianças decorreu da influência de
Vygotsky, um renomado socioconstrutivista que
enfatizou a capacidade das crianças em trabalhar com
ideias, e de duas preocupações:
[...] uma, de ordem pedagógico-cognitiva,
relacionada com a sua preocupação com as
deficiências de raciocínio e de aprendizagem
verificadas em crianças e jovens escolares, e
outra, de natureza político-social, ligada à
apreensão quanto ao comportamento rebelde
da juventude, sobretudo a partir da revolta
estudantil do final da década de 1960.
(SILVEIRA, 2001, p. 14).
Essa preocupação pelo raciocínio ele sentiu
tanto em relação à universidade em que lecionava
como na escola onde estudavam os seus filhos, sendo
solicitado, em uma das reuniões de pais, a ajudar a
melhorar o rendimento dos alunos.
A coisa de maior importância nesse
repertório seria, necessariamente, uma
variedade de novos currículos que ajudaria
as crianças a pensarem por si mesmas, que
provocaria as crianças a fazerem, falarem e
agirem
mais
imaginativamente
e
reflexivamente que qualquer um dos nossos
currículos fizeram no passado. (LIPMAN,
1994, p. 15).
Dessa forma, a proposta do Programa
Filosofia para Criança é baseada em um diálogo
instigante e criativo entre crianças com crianças e
adultos com as crianças, sempre com a estratégia de
rodas para favorecer a comunicação e a democracia.
2.3. IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE FILOSOFIA
PARA AS CRIANÇAS NOS ANOS INICIAIS DO
ENSINO FUNDAMENTAL
Na educação busca-se a melhoria do
processo
ensino-aprendizagem,
visando
o
desenvolvimento da autonomia do educando. Sendo
assim, a filosofia desempenha um papel importante na
vida do ser humano, pois, além de buscar respostas
para suas indagações existenciais, ajuda a desenvolver
sua capacidade de reflexão e expressão e a sua
cidadania.
Quais são as expectativas das crianças que
freqüentam as escolas? As crianças,
geralmente, alegam que as aulas não são
relevantes, interessantes ou significativas
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[...]. Os pais podem ser igualmente concisos:
as escolas existem para “fazer com que as
crianças aprendam”. [...]. Assim como todo
mundo, as crianças anseiam por uma vida
repleta de experiências ricas e significativas.
(LIPMAN, 1994, p. 22)
As crianças chegam à escola cheia de
expectativas, curiosas e ansiosas por aprender. Gostam
do ambiente escolar, mas quanto o assunto é estudo,
muitas não vêem significado naquilo que se faz. Aos
poucos vai perdendo sua curiosidade inicial, o
maravilhar-se com o mundo a sua volta.
Num modelo escolar onde o espaço físico é
distribuído em carteiras enfileiradas, pessoas
tratadas como números de chamada,
avaliações classificatórias que não se
propõem a transformar nada e ninguém, é
preciso resgatar com urgência a filosofia e
seu objeto de estudo o ser humano, nas suas
relações com pessoas e com o mundo,
inserindo uma visão transdisciplinar,
transpessoal que garanta aprendizagem bem
sucedida com a formação do cidadão
consciente do seu papel na sociedade e da
sua responsabilidade perante as relações.
(MACEDO, 2009, p. 5)
A filosofia, por contemplar o ser humano em
todas as suas dimensões, é um instrumento
indispensável para sua formação. Iniciando a criança
nesse processo desde os anos iniciais do ensino
fundamental, e não apenas no ensino médio, favorecerá
melhor uma ação educacional reflexiva.
Não se trata em transformar as crianças em
filósofos, mas ajudá-las a “escutarem melhor,
estudarem melhor, aprenderem melhor e se
expressarem melhor” (LIPMAN, 1994, p. 35).
É preciso instigar a sua sede de
conhecimento, ajudando-as a tornarem suas
experiências significativas.
[...] a escola deve ajudar as crianças a
descobrirem o significado de suas
experiências [...]. A informação pode ser
transmitida, as doutrinas podem ser
incutidas, os sentimentos podem ser
compartilhados – mas os significados têm
que ser descobertos. Não podemos “dar” os
significados às outras pessoas. [...] elas
mesmas devem procurá-los por meio do
envolvimento no diálogo e na investigação.
E isso não é o fim da questão, pois os
significados, uma vez encontrados, devem
ser cuidados e alimentados [...]. As crianças
que não conseguem perceber o significado
de suas próprias experiências, que acham o
mundo estranho, fragmentado e perturbador,
são mais propensas a buscar atalhos para
alcançar
experiências
plenas
e
eventualmente podem se envolver com
drogas e sucumbir à psicose. (LIPMAN,
1994, p. 24).
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Assim, a disciplina de filosofia nos anos
iniciais ajuda a criar condições e oportunidades para o
desenvolvimento integral do educando, possibilitando a
aquisição de habilidades e competências necessárias à
sua vida pessoal e social.
2.4. Como Trabalhar Filosofia com as Crianças
A Proposta Curricular para o Ensino
Fundamental de nove anos do município de Barra do
Garças (2008) traz como objetivo geral para o trabalho
com Filosofia:
Aprimorar a arte filosófica trabalhando a
autoestima pelo conhecimento de si próprio,
pelo pensar por si mesmo, pelo bem de se
expressar no grupo, pelo conhecimento das
diferentes expressões da inteligência humana
refletindo sobre a importância da lógica e da
linguagem para a organização do
pensamento e da ação. (MOREIRA et al.,
2008, p. 44).
É de grande relevância ajudar as crianças a
se conhecerem melhor, a ampliarem suas respostas e
questionamentos sobre o mundo no qual vivemos, sua
capacidade de comunicação e sociabilidade, com aulas
que valorizem e incentivem sua atitude criativa.
As aulas de filosofia são desestabilizantes,
pois assim é a filosofia: assim que acaba de
encontrar-se,
perde-se
de
novo,
deliberadamente. Essas aulas têm vocação
para serem emocionantes, não são apenas
cerebrais. Numa educação assim o educando
delibera e vive aquilo. E, como num jogo, o
professor deve sempre deixar claros seus
objetivos pedagógicos, seus métodos e suas
estratégias para que possa existir a
consciência e conivência de todos quanto às
regras. (ASPIS, 2004, p. 308)
Essas aulas devem ser dinâmicas e
desafiadoras,
favorecer
experiências
ricas
e
significativas para os educandos, envolvendo o lúdico
na aprendizagem.
Também a Proposta Curricular para o
Ensino Fundamental de nove anos do município de
Barra do Garças (2008) aborda alguns pontos a serem
trabalhos em seu eixo temático com os anos iniciais do
Ensino Fundamental. São eles:
Habilidades de raciocínio: interpretar,
observar, obter e organizar dados, comparar,
reconhecer, supor, classificar, raciocinar
hipoteticamente e pensar por silogismo.
Pensamento por si mesmo (busca da
autonomia): identidade, o que faz eu ser eu?,
orgulho, os sentidos, amigos, crescer,
reconhecimento, quando o assunto interessa,
cometer
erros,
aflição-apavoramento,
controlado – ponderado, generosidade.
Relação homem e mundo (vivência e
atitudes filosóficas): morar admirar,
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contemplar o meio ambiente, ler, cuidados
consigo, com o outro e com o ambiente,
esclarecer – ideias claras e ideias obscuras,
regras de boa convivência e boa
conversação. (MOREIRA et al., 2008, p.
44).
Assim, percebe-se que o trabalho de
filosofia com as crianças deve estar voltado para o
desenvolvimento de suas competências e habilidades
com atividades que lhe possibilite se expressar,
conhecer a si e ao outro, interagir com o contexto em
que se encontra.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
Essa pesquisa foi realizada com o intuito de
propiciar uma reflexão acerca do ensino de filosofia
para as crianças que se encontram nos anos iniciais do
ensino fundamental, devido a sua enorme contribuição
na formação da cidadania e autonomia tão requerida
pela educação.
Trata-se de um estudo quanti-qualitativo,
descritivo e exploratório com coletas de dados e
consultas bibliográficas que focou a temática em
questão. Dessa forma, buscou-se embasamento nas leis
e estudiosos que abordam o assunto.
Proporcionando uma visão geral sobre o
fato, a pesquisa exploratória ajuda a aprofundar o
problema, constituindo, assim, uma etapa de
investigação de muita relevância para o estudo do tema
(ABEC, 2012).
O método quanti-qualitativo, além de
favorecer a segurança, objetividade na coleta de
informações, rigor nos procedimentos adotados e
garantia da exatidão dos resultados, ajuda numa
compreensão detalhada sobre os significados dos dados
apresentados, possibilitando ao pesquisador uma
análise pessoal, mas fundamentada, sobre a pesquisa
(ABEC, 2012).
3.1 Amostragem
A amostra caracterizou-se por 19 escolas do
município de Barra do Garças/ MT, que possuem o
ensino fundamental 1, do 1º ao 5º ano, sendo estaduais,
municipais e particulares, que se dispuseram a
colaborar com a pesquisa.
3.2 Coleta de Dados
Foi utilizado um questionário como
instrumento de coleta de dados, com 4 perguntas
objetivas e 1 aberta, destinado à direção da escola. E
para a escola que ministrava a disciplina de Filosofia,
aplicou-se um segundo questionário para o educador
responsável pelas aulas, contendo uma questão de
múltipla escolha e 4 abertas que permitiram aos
entrevistados posicionar-se quanto a metodologia
utilizada, tempo de aula e formação.
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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os participantes da amostra foram
questionados quanto a alguns pontos necessários para o
desenvolvimento da pesquisa. Na entrevista junto à
direção foi investigada qual o tipo de escola, se a
Filosofia é uma das disciplinas ministradas para os
anos iniciais do ensino fundamental, quanto ao tempo
e com qual propósito foi implantada.
Em relação aos tipos de escolas percebe-se
que não houve muito desequilibrio de quantidade entre
as entrevistadas, mas predominou as escolas
municipais.
De acordo com a Lei de Diretrizes e Base
da Educação (LDB), lei nº 9394-96, em seu artigo 11,
parágrafo V, embora a União, os Estados e Municípios
devam organizar a educacão nacional de forma
colaborativa, é incubência dos Municípios darem
prioridade ao ensino fundamental. (Tabela 1)
Tabela 1 – Análise dos dados dos tipos de escolas do
município de Barra do Garças – MT/2012
F
%
Escolas
Estaduais
6
31,58
Municipais
8
42,11
Particulares
5
26,31
Total
19
100
As 19 escolas foram questionadas
se
ministravam a disciplina de Filosofia para os anos
iniciais do ensino fundamental, obtendo-se os seguintes
dados (Tabela 2).
Tabela 2 – Análise dos dados de verificação entre as
escolas do municipio de Barra do Garças – MT/2012
que ministram a disciplina de Filosofina nos anos
iniciais.
Ministra Filosofia
F
%
Sim
2
10,52
Não
17
89,48
Total
19
100
Observa-se com esses dados que a maioria
das escolas ainda não ministram a disciplina de
Filosofia para os educandos dos anos iniciais do ensino
fundamental, pois das 19 escolas entrevistadas, apenas
2 (10,52%) responderam que sim.
A Proposta Curricular para o Ensino
Fundamental de nove anos do município de Barra do
Garças, ressalta que o ensino de Filosofia para as
crianças não visa o ensinamento de sistemas
filosóficos, mas sim ajudá-las a ter opinião própria,
trazendo como um dos eixos temáticos da investigação
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conceitual dos anos inciais a busca da autonomia,
vivências e atitudes filosóficas.
A criança que hoje é levada a aceitar
passivamente um algoritmo ou uma regra
sem compreender seu funcionamento, com
base apenas na autoridade do professor ou
da escola, tenderá a ser o mesmo indivíduo
que, na vida adulta, aceitará preconceitos e
injustiças sociais, também passivamente,
sem perguntar seu significado e razão de ser.
(PARO, 2011, p. 493).
Para as escolas que trabalham a disciplina de
Filosofia nos anos iniciais do ensino fundamental, foi
também questionado a duração de tempo ela é
trabalhada (Tabela 3).
Tabela 3 – Análise dos dados para verificação de
quanto tempo a disciplina de Filosofia é ministrada nos
anos iniciais do ensino fundamental nas escolas de
Barra do Garças – MT/2012.
Anos em que a Filosofia é
ministrada na escola
F
%
0
17
89,48
2
1
5,26
3
0
0
4
0
0
5
0
0
6
0
0
7
0
0
8
0
0
9
0
0
10 ou mais
1
5,26
Total
19
100
*Uma escola acrescentou 17 anos.
Nota-se que há uma grande diferença de
anos entre as escolas que trabalham com a Filosofia,
pois enquanto uma contempla dois anos, a outra está
com 17 anos, conforme respondido no questionário.
Não há pesquisas significativas que expliquem isso,
podendo se atribuir aos anos de existência da escola.
Essas instituições foram questionadas quanto
a formação ou curso do educador nesta área, por ser ele
o principal responsável direto pela orientação dos
trabalhos (Tabela 4).
Tabela 4 – Análise dos dados para averiguação da
formação do educador na área da Filosofia.
Tem formação
F
%
0
0
Sim
2
10,52
Não
17
89,48
Não ministra disciplina
Total
19
100
*Uma escola acrescentou que tem preparação.
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Verifica-se pelos dados coletados, que os
educadores que assumem as aulas de Filosofia não têm
formação na área, sendo que uma das escolas ressaltou
que os seus professores passam por uma preparação
para ministrarem a disciplina.
Conforme Monteiro e Pimentel (2010), a
qualificação é de fundamental importância ao exercício
pedagógico, pois o educador tem o dever de orientar e
provocar as reflexões em busca da construção do
conhecimento.
O limite à concretização da perspectiva do
professor de filosofia como iniciador de
experiências de reflexão e abordagem
conceitual na sala de aula seria a sua não
postura filosófica. Isso pode ter origem por
vários motivos: déficit de integração entre os
conhecimentos pedagógicos e filosóficos ou
mesmo a ausência de formação em uma das
áreas, o que infelizmente acontece em
grande número na maioria das salas de aula,
pois muitos dos profissionais que lecionam
filosofia não têm a formação filosófica
específica. (MONTEIRO; PIMENTEL,
2010, p.330).
As duas escolas que trabalham com a
Filosofia foram também questionadas quanto ao
propósito da implantação dessa disciplina nos anos
iniciais do ensino fundamental. Nas respostas
abordaram a sua contribuição para a formação integral
do educando, tendo em vista a realidade em que estão
inseridos, bem como favorecer a criatividade e o bem
estar coletivo.
Assim, devido a importante função do
educador, estes foram questionados quanto ao tempo
em que estão atuando na profissão, permanência na
escola, formação acadêmica, tempo em que ministram
aula de Filosofia para as crianças e sua metodologia de
trabalho.
Os três educadores entrevistados estão
atuando há muito tempo, com 18, 23 e 27 anos de
trabalho, sendo que dois permanecem na escola a 20
anos e um a 1 ano e meio.
Quanto à formação acadêmica, dois
educadores têm pós-graduação, um em Docência
Multidisciplinar e outro em Educação em Língua
Portuguesa e Filosofia, e um é graduado em
Licenciatura em Pedagogia, e trabalham com a
disciplina de Filosofia nos anos iniciais há 1, 7 e 15
anos.
Questionados em relação à metodologia de
trabalho enfatizaram o uso do método investigativo na
perspectiva dialógica, também abordando valores que
ajudam a formar o caráter do cidadão. Durante as aulas
as crianças são incentivadas a participarem da roda de
conversa sobre o assunto em pauta, dando suas
opiniões. Dessa forma, trabalham atividades que
desenvolvam a percepção, a atenção, o conhecimento
de si próprio, a memória, a construção de ideias, a
orientação espacial e temporal.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Refletindo sobre a importância do ensino de
Filosofia nos iniciais do ensino fundamental ficou
nítida sua enorme contribuição para formação pessoal e
social do educando. O estudo permitiu observar que a
maioria das escolas entrevistadas (89,48%) não
ministra esta disciplina para os anos iniciais.
De acordo com Luckesi e Passos (1996,
p.81) “ela é de fundamental importância para a vida de
todos os indivíduos, como seres humanos que desejam
encontrar um sentido para o seu agir”.
Fica também constatado neste estudo que
não se trata em transformar as crianças em filósofas,
mas ajudá-las no desenvolvimento positivo de sua
curiosidade, capacidade de expressão, senso crítico e
formação da própria opinião para que não permaneçam
na superficialidade dos fatos, pois “a filosofia é a
possibilidade de transcendência humana que permite
pensar sobre o agir” (ARANHA; MARTINS, 2003, p.
90).
Assim, o presente trabalho possibilitou uma
maior compreensão acerca do ensino de Filosofia para
crianças, bem como sua importância para a melhoria do
processo ensino-aprendizagem, visto que favorece uma
ação educacional reflexiva.
Por se tratar de um assunto amplo e
complexo, deixa abertura para novas pesquisas e
aprofundamentos sobre a temática abordada.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABEC – Faculdades Unidas do Vale do Araguaia.
Elaborando Trabalhos Científicos: normas para
apresentação e elaboração. Barra do Garças: ABEC,
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