MENEZES, M. de C.; SOUZA, M. M. S. de; BOTELHO, R. P. AVALIAÇÃO IN VITRO DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE EXTRATOS DE PLANTAS BRASILEIRAS SOBRE BACTÉRIAS ISOLADAS DA CAVIDADE ORAL DE CÃES MARCIO DE CASTRO MENEZES1 MILIANE MOREIRA SOARES DE SOUZA2 ROSANA PINHEIRO BOTELHO2 1. Discente do Curso de Pós-Graduação em Medicina Veterinária; 2. Professor Adjunto –IV/ UFRuralRJ RESUMO: MENEZES, M. de C.; SOUZA, M. M. S. de e BOTELHO, R. P. Avaliação in vitro da atividade antimicrobiana de extratos de plantas brasileiras sobre bactérias isoladas da cavidade oral de cães. Revista Universidade Rural: Série Ciências da Vida, Seropédica, RJ: EDUR, v. 24, n.2, p. 141-144, jul.dez., 2004. A busca por novas alternativas terapêuticas, que venham a minimizar o impacto da resistência desenvolvida pelos microrganismos frente a drogas, motiva a avaliação da possível atividade antimicrobiana de fitoterápicos. O presente trabalho avalia a atividade de extratos comerciais de plantas brasileiras que possuem indicação antibacteriana bem como o extrato da planta Psidium guava contra bactérias da cavidade oral. Palavras Chaves: antimicrobianos, plantas, bactérias, oral. ABSTRACT: MENEZES, M. de C.; SOUZA, M. M. S. de and BOTELHO, R. P. In vitro evaluation of antimicrobial activity of brazilian plants extracts on bactéria isolated from oral cavity of dogs. Revista Universidade Rural: Série Ciências da Vida, Seropédica, RJ: EDUR, v. 24, n.2, p. 141-144, jul.-dez., 2004. The search for new alternatives in therapy in order to diminish the impact of antimicrobial resistance to drugs, led to the evaluation of a possible antimicrobial activity of natural compounds. The present work has evaluated the activity of Brazilian plants commercial extracts with antimicrobial use indication, and also the extract of Psidium guava against bacteria from oral cavity. Key Words: antimicrobials, plants, bacteria, oral cavity. INTRODUÇÃO Há muitos anos, se usam plantas como uma terapia alternativa ou adjuvante de processos patológicos infecciosos com o intuito de desfrutar de seus efeitos antimicrobianos e o estudo sobre aquelas espécies que apresentam efeito antimicrobiano progride em grande velocidade. Vários trabalhos abordam espécies brasileiras (LOPES, 1991; PERES et al., 1997; GNAN e DEMELLO, 1999 e BIAVATTI et al., 2001), definindose, na maior parte deles, as substâncias responsáveis por este efeito. Os estudos da ação antimicrobiana desses compostos naturais são de extrema importância, pois o surgimento de cepas bacterianas resistentes aos mais diversos tipos de antibióticos é cada vez maior, além da ocorrência de efeitos colaterais como diarréias, vômitos e o aparecimento de manchas dentárias. Com isso, o uso desses extratos naturais pode ser de grande ajuda para combater infecções arresponsivas a esses antibióticos. Em humanos, muitas plantas são utilizadas no tratamento de desordens periodontais e higiene oral através de enxágües orais ou até mesmo com a mastigação rotineira de gravetos ou outras partes dessas plantas, como é feito em alguns países (ADERINOKUN et al, 1999). A atividade antibacteriana de uma planta da espécie Drosera peltata, por exemplo, foi estudada por Didry et al. (1998), pois as folhas dessa planta são normalmente usadas para higiene oral de nativos franceses. Através dos resultados, os autores puderam concluir que a planta pode Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 24, n.2, Jul.-Dez., p.141-144, 2004. Avaliação in vitro... ser usada no tratamento de infecções orais, pois o extrato inibiu o crescimento de bactérias cariogênicas tais como Streptococcus mutans, Streptococcus sobrinus e Streptococcus rattus. As quatro espécies bacterianas utilizadas neste trabalho, Staphylococcus aureus, Streptococcus mitis, Streptococcus oralis e Streptococcus mutans, podem ser isoladas da cavidade oral, fazendo parte da microbiota normal dos cães, ou causando sérias lesões orais como úlceras, gengivites, formação de placas e cálculos dentários, cáries, etc. Além disso, algumas dessas bactérias podem invadir a circulação sanguínea através das lesões da mucosa oral, causando sérios danos a órgãos como rim, fígado, coração, cérebro, além de poder causar lesões ósteo-articulares. A gravidade dessas alterações varia de acordo com a imunidade do animal e com as barreiras locais de defesa, pois a ação antimicrobiana da saliva e um excelente suprimento sangüíneo oral, constituem essas barreiras naturais de defesa local. A idade, cuidados dentários, e os fatores genéticos e raciais também predispõem ao desenvolvimento de doenças periodontais. O objetivo deste trabalho foi avaliar a sensibilidade de espécies bacterianas normalmente encontradas na cavidade oral, frente a extratos comerciais de plantas brasileiras, que são usadas normalmente pela população e que possuem indicação para uso oral em infecções de garganta, gengivites, dor de dente, amidalite, etc. Foi avaliado também o extrato aquoso da folha da goiabeira (Psidium guava), pois de acordo com Gnan e Demello (1999), essa planta possui propriedades antimicrobianas. MATERIAL E MÉTODOS Cepas Bacterianas Padrão. Para a avaliação da atividade antimicrobiana, foram utilizadas cepas padrão de quatro espécies bacterianas: Staphylococcus aureus (ATCC 25923), Streptococcus mitis (ATCC 903), Streptococcus oralis (ATCC 10557) e Streptococcus mutans (ATCC 25175). Cepas bacterianas isoladas. Através de swabs da cavidade oral de cães, foram isoladas duas cepas bacterianas após cultura em ágar sangue e ágar Azida. Com a utilização dos métodos bioquímicos pertinentes, as bactérias isoladas foram identificadas como Streptococcus oralis e Streptococcus mitis. Difusão em disco. Para determinação da suscetibilidade das amostras bacterianas frente aos extratos fitoterápicos será utilizada metodologia recomendada pelo National Committee for Clinical Laboratory Standards (NCCLS). As suspensões das bactérias a serem testadas serão preparadas através de lavagem e diluição na concentração do tubo 0,5 da escala de Mc Farland, equivalente a 1,5 x 106 células/ml, distribuindo-se 0,5ml sobre as placas em meio sólido (ágar Mueller Hinton). Os extratos serão distribuídos em discos de papel de filtro estéreis e dispostos na superfície do ágar previamente inoculado. Após incubação por 24 horas a 360C, os diâmetros da zona de inibição ao redor do depósito do fármaco serão observados e medidos. Além disso, serão feitos dois tipos de controles: o positivo e o negativo. Nos controles positivos, serão utilizados discos de penicilina para Streptococcus spp e discos de vancomicina para Staphylococcus aureus. E nos controles negativos, os discos serão impregnados com solução salina estéril. Extratos. foram avaliados o extrato de romã, um extrato composto de mel, própolis e gengibre, outro composto por mel, própolis e gengibre e romã, além dos extratos de alho (Allium sativum), espinheira santa (Maytenus ilicifolia), da folha da goiabeira (Psidium guava) e o óleo de copaíba (Copaifera officinalis). O solvente utilizado para o extrato de Psidium guava foi água destilada estéril, enquanto que para os outros extratos, Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 24, n.2, Jul.-Dez., p.141-144, 2004. MENEZES, M. de C.; SOUZA, M. M. S. de; BOTELHO, R. P. utilizou-se solução hidro-alcoólica a 40% previamente avaliado quanto a uma possível atividade inibitória, o que não foi detectado. RESULTADOS Detectou-se halo de inibição para o extrato de alho, a espinheira santa e o óleo de copaíba frente ao S. aureus (ATCC 25923), em torno de 11mm, 13mm e 35mm, respectivamente. Em relação às cepas de Streptococcus spp, não foi possível avaliar, pois as bactérias não cresceram em ágar Mueller Hinton, mesmo após 48h em estufa a 37°C. Um resultado positivo também foi encontrado quando se testou o extrato de Psidium guava, apresentando halo em torno de 25mm para S. aureus (ATCC 25923). Para o teste de sensibilidade para os estreptococos, utilizaram-se as cepas bacterianas isoladas diretamente da cavidade oral de cães, no lugar das cepas padrão, verificando-se um halo de inibição em torno de 20mm para Streptococcus oralis e Streptococcus mitis. Entretanto, em relação aos extratos comerciais compostos por mel, própolis, gengibre e romã, não se observou nenhuma atividade antibacteriana frente às cepas isoladas nem frente à cepa de S. aureus (ATCC 25923). Como se observou no teste de difusão em disco, não houve crescimento das cepas padrão de Streptococcus spp em ágar Mueller Hinton. Como a técnica proposta pelo NCCLS não faz restrições ao meio de cultura quanto ao gênero ou espécie bacteriana a ser avaliada (sendo portando um meio padrão), ao testarmos as cepas padrão Streptococcus mitis (ATCC 903), Streptococcus oralis (ATCC 10557) e Streptococcus mutans (ATCC 25175), deveremos utilizar um meio seletivo para estreptococos tal como ágar Azida ou um meio enriquecido como o ágar sangue, com o objetivo de termos um crescimento adequado das bactérias, tornando o teste viável. Como não se observou nenhuma atividade antibacteriana dos extratos comerciais testados, presume-se que eles tenham efeito em outras espécies bacterianas ou ainda que possuam outros tipos de ações tais como antiinflamatória, antihistamínica, etc. Com o aumento significativo da resistência bacteriana aos antibióticos, o uso dessas substancias naturais com efeito antibacteriano comprovado, tornase de grande importância na medicina veterinária e humana, principalmente nos tratamentos tópicos de infecções ou em enxágües orais. CONCLUSÃO DISCUSSÃO De acordo com Didry et al. (1998), o extrato da folha de Psidium guava foi capaz de inibir o crescimento bacteriano de S. aureus (ATCC 25923), onde, além disso, podemos observar também, uma atividade antibacteriana contra Streptococcus oralis e Streptococcus mitis, indicando, portanto, um maior espectro de ação desse extrato. Futuros testes deverão ser feitos com o objetivo de observar se o extrato da folha da goiabeira pode inibir ou não outras espécies bacterianas. Os resultados demonstraram que os extratos de alho, espinheira santa, Psidium guava e o óleo de copaíba inibiram o crescimento bacteriano frente às cepas testadas, enquanto que os extratos contendo mel, própolis, gengibre e romã não foram capazes de inibir o crescimento bacteriano. Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 24, n.2, Jul.-Dez., p.141-144, 2004. Avaliação in vitro... REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADERINOKUN, G. A.; LAWOYIN, J. O. and ONYEASO, C. O. Effect of two common Nigerian chewing sticks on gingival health and oral hygiene. Odontostomatol Trop, v.22, n.87, p.13-8, 1999. BIAVATTI, M. W.; VIEIRA, P. C.; SILVA, M. F. G.; FERNANDES, J. B.; ALBUQUERQUE, S.; MAGALHÃES, C. M. and PAGNOCCA, F. C. Chemistry and bioactivity of Raulinoa echinata Cowan, an endemic Brazilian Rutaceae species. Phytomedicine, v.8, n.2, p.121-4, 2001 DIDRY, N.; DUBREUIL, L.; TROTIN, F. and PINKAS, M. Antimicrobial activity of aerial parts of Drosera peltata Smith on oral bacteria. Journal of Ethnopharmacology, v.60, p.91-96, 1998. GNAN, S. O. and DEMELLO, M. T. Inhibition of Staphylococcus aureus by aqueous Goiaba extracts. Journal of Ethnopharmacology, v.15, n.68, p.1038,1999. LOPES, J. L. Sesquiterpene lactones from Vernonia. Mem Inst Oswaldo Cruz, n.86, Suppl 2, p.227-30, 1991. NATIONAL COMMITTEE FOR CLINICAL LABORATORY STANDARDS. 1997. Performance standards for antimicrobial disk susceptibility tests. Approved standards. NCCLS document M2-A3. National Committee for Clinical Laboratory Standards, Wayne, Pa. Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 24, n.2, Jul.-Dez., p.141-144, 2004.