22 DIVERSIDADE DE INSETOS CAPTURADOS EM ARMADILHA

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Interbio v.4 n.1 2010 - ISSN 1981-3775
DIVERSIDADE DE INSETOS CAPTURADOS EM ARMADILHA MCPHAIL NO
PANTANAL SUL-MATO-GROSSENSE
DIVERSITY OF INSECTS CAUGHT IN MCPHAIL TRAPS IN PANTANAL OF MATO
GROSSO DO SUL
SILVA, Luciana Barboza1; FERNANDES, Manoel A. Uchôa2; NASCIMENTO, José
Nicácio do2
Resumo
As armadilhas McPhail podem ser empregadas para avaliar parâmetros populacionais e riqueza de espécies de
alguns grupos de insetos. As amostragens da diversidade de insetos são ferramentas básicas para levantamentos
iniciais de diversidade biológica, bem como para o monitoramento de alterações de diferentes fatores e
componentes ambientais que interferem nessa diversidade. O objetivo deste trabalho foi avaliar se a altura de
armadilhas McPhail tem efeito sobre a captura dos diferentes grupos de insetos em três ecossistemas do Pantanal
Sul-mato-grossense. Foram testadas duas alturas: a 1,5m e a 3,0m ao nível do solo, em três ambientes: mata
ciliar, morro (com vegetação heterogênea) e carandazal (principalmente palmeiras), no Pantanal do Abobral,
região de Passo do Lontra, município de Corumbá-MS. A abundância e a diversidade de organismos foram
significativamente maiores no morro. As alturas não interferiram quantitativamente nas amostragens dos insetos
e maior similaridade foi observada entre a mata e o carandazal. As informações sobre a fauna de insetos, como
identificação das espécies presente e o conhecimento de sua distribuição no espaço e no tempo, contribuirão para
futuros estudos de conservação nos cerrados e no Pantanal.
Palavras-Chave: Insecta, armadilha McPhail, Pantanal
Abstract
McPhail traps can be used to evaluate population parameters and species richness of some insect groups.
Sampling of insect is a fundamental tool for initial surveys of biological diversity, as well as for monitoring
changes in different factors and environmental components that intervene in species diversity. The aim of this
paper is to evaluate the insect diversity, and whether the McPhail trap height has effect on the caught of different
insect groups in three pantanal ecosystems of Mato Grosso do Sul. Two heights were evaluated: 1.5m and 3.0m
above ground level, in three environments: riparian forest, hill (heterogeneous vegetation) and ‘carandazal’
(marshland with mainly ‘caranda’ palm trees), located in the ‘Pantanal do Abobral’, region of ‘Passo do Lontra’,
Corumbá-MS. Insect abundance and diversity were significantly higher in the hill environment. Trap heights did
not intervene quantitatively in the insect samplings and greater similarity was found between the riparian forest
and the ‘carandazal’. Information on insect fauna, such as identification of existent species and their spatial and
time distribution will contribute to further studies on conservation in the cerrados and Pantanal.
Key-words: Insecta, McPhail traps, Pantanal
1
1Departamento de Biologia Animal, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa – MG, Brasil
2 Departamento de Ciências Biológicas, Mestrado em Entomologia e Conservação da Biodiversidade
Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados – MS, Brasil
SILVA, Luciana Barboza; FERNANDES, Manoel A. Uchôa; NASCIMENTO, José Nicácio do
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Introdução
No Pantanal de Mato Grosso do Sul
não há registros sobre a fauna de insetos
coletados em armadilhas McPhail. Essa
região é extremamente carente de pesquisa
sobre a fauna de artrópodes, especialmente
de insetos. Desde 1930, as armadilhas
McPhail têm sido empregadas em
levantamento
para
estudos
sobre
composição de espécies, atividade de
adultos de moscas-das-frutas, lonqueídeos e
outros
insetos
(STEYSKAL,
1977;
UCHÔA-FERNANDES et al., 2003).
As armadilhas McPhail têm grande
importância na avaliação da diversidade
para alguns grupos de insetos que são
atraídos pelo odor do atrativo (STEYSKAL,
1977). Segundo Solbrig et al. (1994),
biodiversidade é a propriedade dos sistemas
biológicos de serem diferentes e a variação é
a propriedade fundamental da vida. Wilson
(1994) definiu biodiversidade como a
variedade dos organismos, que pode ser
considerada em todos os níveis, desde as
variações genéticas intraespecificas até as
diversas séries de espécies, gêneros e
famílias, bem como outros níveis de
organização taxonômica, incluindo a
variação dos ecossistemas (RICKLEFS,
1993).
Os estudos sobre riqueza de espécies
em diferentes estruturas vegetais são
ferramentas básicas para levantamentos
iniciais da diversidade regional e global. As
armadilhas McPhail poderão ser úteis para o
monitoramento de alterações de diferentes
componentes dessa diversidade, como os
parâmetros populacionais, seja perante
condições ambientais distintas, em resposta
a impactos de processos naturais ou de
atividades humanas (NASCIMENTO et al.,
2003). Os artrópodes executam funções
essenciais para os ecossistemas como:
polinização, composição e fertilidade do
solo, decomposição de matérias orgânicas,
ciclagem de nutrientes e servem como
inimigos naturais de espécies pragas e
muitas são presas importantes de outros
artrópodes e de vertebrados (WILSON,
1994; WORK, 2002).
Considerando que a vegetação do
Pantanal é peculiar, devido à sua
diversidade e origem a partir de outras
grandes regiões fitogeográficas estudar a
biodiversidade de insetos das diferentes
estruturas vegetais que o compõe faz-se
necessário.
Os carandazais brasileiros, estrutura
vegetal típica do Pantanal, ainda não foram
alvo de um estudo específico sobre sua
composição florística e estrutura da
vegetação, existindo apenas informações
superficiais em alguns estudos. De modo
geral a flora do Pantanal é pouco conhecida
sendo necessários estudos mais detalhados
que compõem o Pantanal. São formações
vegetacionais homogêneas, onde a palmeira
Copernicia alba Morong ex Morong
Brittton
(Aracaceae)
ocorre
predominantemente constituindo formações
monodominantes (SILVA et al., 1997).
Estas formações são responsáveis pela
cobertura de extensas áreas no Pantanal Sulmatogrossense e foram classificadas como
Savana Estépica Parque (IBGE, 1992). Os
carandazais formam uma subunidade de
vegetação constituída por um extrato
arbóreo formado quase que exclusivamente
pela palmeira carandá e extratos arbustivos e
herbáceos variáveis quanto a composição
florísticas.
Diferente do carandazal a mata ciliar e
o Morro do Azeite apresentam vegetação
heterogênea, a Mata ciliar, área que já
sofreu intensa atividade humana, da qual
resultam diversas alterações ambientais,
colocando em risco a integridade dos
ecossistemas, torna-se cada vez mais
importante realizar estudos sobre a
biodiversidade. As matas ciliares, também
denominadas florestas ribeirinhas, definidas
como “florestas ocorrentes ao longo dos
cursos d’água e no entorno das nascentes”,
são de vital importância na proteção de
mananciais. Do ponto de vista ecológico, as
matas ciliares têm sido consideradas como
corredores extremamente importantes para o
movimento da fauna ao longo da paisagem,
assim como para a dispersão vegetal (LIMA
SILVA, Luciana Barboza; FERNANDES, Manoel A. Uchôa; NASCIMENTO, José Nicácio do
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e ZAKIA, 2001).
O Morro do Azeite, localizado as
margens do rio Miranda, área com estrutura
vegetal semelhante à Mata ciliar, porém
mais preservada da ação do homem é
cercado por baías e baixadas alagadas,
interligadas por cursos de águas perenes - os
corixos - ou efêmeras. Somente esses
terrenos altos, chamados cordilheiras, além
de poucas ilhas e locais mais elevados,
escapam à inundação na época da cheia.
Este trabalho teve como objetivo
avaliar a diversidade de insetos e se a altura
de armadilhas McPhail tem efeito sobre a
captura dos diferentes grupos de insetos, em
mata ciliar e morro com vegetação
heterogênea e carandazal, de vegetação
composta por palmeiras, pequenos arbustos
e gramíneas.
Material e Métodos
As coletas foram realizadas durante o
curso de campo do Programa de PósGraduação (Mestrado) em Entomologia e
Conservação da Biodiversidade-UFMS, no
período de 12 a 26/10/03. As avaliações
foram feitas em uma Mata Ciliar do Rio
Miranda, próximo às imediações da Base de
Estudos do Pantanal (BEP)-UFMS, no
Morro do Azeite, com vegetação
heterogênea e em uma área aberta de
Carandazal na Fazenda São Domingos, com
vegetação típica do Pantanal, todos situados
no
município
de
Corumbá-MS
(19º34’33,8”S e 57º01’03,6”W).
As coletas de insetos foram feitas nos
três ambientes, com duas alturas e cinco
repetições. Em cada local foram testadas
duas alturas empregando-se armadilhas tipo
McPhail. Foram instaladas duas armadilhas
por ponto; uma a 1,5m e outra a 3,0m do
nível do solo, eqüidistantes a 100m,
totalizando 10 armadilhas por ambiente.
O atrativo empregado foi à proteína
R
hidrolisada de milho Tephritid (5%). Esta
técnica permite a captura dos insetos que
são atraídos pelo odor da solução (atrativo
alimentar), sendo uma técnica de coleta
permanente. Os insetos, capturados nas
armadilhas, foram levados para o
Laboratório da BEP, contados, separados,
morfo-especiados e fixados em álcool 70%.
Determinou-se a abundância dos insetos
capturados para os cálculos de diversidade,
usando-se o índice de Shannon. Para testar a
significância entre as diferenças encontradas
na diversidade, em relação às alturas das
armadilhas, utilizou-se o teste de Tukey a
5% de probabilidade. A similaridade entre
as armadilhas nas três áreas e entre as
armadilhas em cada altura foi medida pelo
índice de Morisita.
Resultados e Discussão
As armadilhas capturaram 7.021
insetos de 35 famílias, contendo fitófagos,
parasitóides e predadores. Paras as análises
estatísticas foram consideradas somente as
famílias que apresentaram uma abundância
igual ou superior a 2,0% do total de insetos
capturados (Tabelas 1 e 2). Ao todo foram
coletadas espécies de oito Ordens. As de
maior riqueza representadas nas armadilhas
foram: Diptera (12 famílias), Hymenoptera
(9), Coleoptera (6), Lepidoptera (5) e
Hemiptera (2). Dentre os Diptera
Cecidomyiidae foi à família mais abundante,
com 28% do total dos insetos coletados,
Muscidae foi à segunda família (13,5%),
seguida
de
Tachinidae
(11,5%),
Drosophilidae (7,4%) e Phoridae (5%).
Hymenoptera foi representada por abelhas
(Apidae, 12,8%) e Formicidae (8,62%).
Conforme a análise de agrupamento
(Bray-Curtis, Figura 2) uma maior
similaridade foi observada entre a mata e o
carandazal. Essa similaridade pode ser
explicada pela proximidade dos dois
ambientes, assim os grupos de insetos estão
presentes nos dois ambientes a procura de
alimento, apesar da diferença estrutural dos
dois ambientes. A mata possui uma maior
diversidade de árvores, o que significa
maior quantidade de abrigo para muitos
grupos de insetos, bem como maior
quantidade de alimento, já o carandazal
possui uma estrutura mais simples menor
número de árvores, assim provavelmente os
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insetos da mata, em decorrência da
proximidade dos ambientes foram atraídos
para as armadilhas
carandazal.
localizadas
no
Tabela 1 - Porcentagens das espécies de insetos capturadas em armadilhas McPhail em três
ambientes, instaladas em duas alturas, Pantanal Sul (Abobral), região de Passo do Lontra,
Corumbá-MS (12 a 26/10/2003).
Insetos
mata
morro 1,5m
carandazal
mata
Morro 3,0m
carandazal
% espécie
Tachinidae sp.1
5,8
2,6
4,4
7,1
2,5
6,6
5,84
Tachinidae sp.2
2,3
2,7
2,9
4,3
2,4
3,8
3,69
Tachinidae sp.3
3,6
2,5
0,5
2,1
0,5
0,4
1,92
Muscidae sp.1
1,3
4,7
28,2
2,3
1,0
15,7
10,72
Muscidae sp.2
0,3
0,2
0,3
0,4
2,4
0,7
0,87
Muscidae sp.3
0,2
0,3
0,8
0,4
2,1
0,7
0,90
Muscidae sp.4
0,2
2,1
0,4
0,4
1,2
0,6
0,98
Drosophilidae sp.1
1,0
4,8
0,9
0,2
2,8
1,5
2,27
Drosophilidae sp.2
1,2
2,6
1,4
0,7
2,0
3,6
2,32
Drosophilidae sp.4
0,3
3,9
1,3
0,3
7,3
0,8
2,81
Cecidomyiidae Sp.1
30,2
14,7
15,9
39,8
20,1
18,2
28,02
Otitidae sp..3
1,0
3,2
0,2
0,6
6,5
0,4
2,40
Otitidae sp.5
0,1
3,3
0,3
0,1
1,7
0,3
1,16
Lonchaeidae sp.1
3,6
0,5
1,1
2,6
0,7
2,7
2,22
Mycetophilidae sp.1
1,5
1,7
0,4
1,9
3,8
0,4
1,96
Phoridae sp.2
3,2
2,5
4,9
3,7
2,9
6,4
4,78
Apidae sp.2
4,5
0,7
13,8
2,6
1,3
17,9
8,22
Apidae sp.5
16,1
0,3
1,6
4,0
0,5
0,1
4,57
Formicidae sp.1
0,3
12,3
0,8
1,8
0,6
0,7
3,32
Formicidae sp.3
0,2
5,9
-
-
2,8
-
1,81
Formicidae sp.4
0,3
7,1
1,6
2,1
5,4
0,8
3,49
Formicidae sp.5
0,5
0,3
2,0
0,5
10,1
0,8
2,89
Vespidae sp.3
3,3
0,1
3,9
3,4
0,2
3,1
2,83
Morfo-espécies
Verificou-se que a captura de insetos
nas duas alturas não apresentou diferença
significativa (Tukey 5%) (Figura 1). A
altura não interfere na localização da
armadilha pelos grupos de insetos, o atrativo
colocado em cada armadilha é localizado
pelos insetos independente da altura. Vale
ressaltar que na altura de 1,5m há um maior
número de insetos capturados, fato que pode
ser explicado pela facilidade de localização
da armadilha, ficando essa armadilha na
parte mediana de cada árvore, tão logo os
insetos foram atraídos pelo atrativo em cada
armadilha a de mais fácil localização era a
que estava a 1,5m.
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Figura 1 - Abundância de insetos capturados em armadilhas McPhail instaladas em duas diferentes alturas do
nível do solo. Região de Passo do Lontra, Corumbá-MS (12 a 26/10/ 2003).
Conforme a análise de agrupamento
(Bray-Curtis, Figura 2) uma maior
similaridade foi observada entre a mata e o
carandazal. Essa similaridade pode ser
explicada pela proximidade dos dois
ambientes, assim os grupos de insetos estão
presentes nos dois ambientes a procura de
alimento, apesar da diferença estrutural dos
dois ambientes. A mata possui uma maior
diversidade de árvores, o que significa
maior quantidade de abrigo para muitos
grupos de insetos, bem como maior
quantidade de alimento, já o carandazal
possui uma estrutura mais simples menor
número de árvores, assim provavelmente os
insetos da mata, em decorrência da
proximidade dos ambientes foram atraídos
para as armadilhas localizadas no
carandazal.
Figura 2 - Análise da semelhança dos grupos de insetos capturados em armadilhas McPhail instaladas nos
ambientes: Morro do Azeite (MA), Mata Ciliar (MC) e Carandazal (C), com duas alturas (1,5m 3,0m) em cada
um dos três ecossistemas. Região de Passo do Lontra, Corumbá-MS (12 a 26/10/2003).
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O morro apresentou maior diversidade
(H’ = 1,4) e maior abundância de
organismos, pois acredita-se que haja uma
maior diversidade de plantas o que favorece
a sobrevivência e preferência dos artrópodes
de modo geral (Figuras 3 e 4). Outro fator
que deve ser considerado é que o morro é
um ambiente mais preservado, ou seja sofre
menor ação do homem o que favorece a
presença de muitos grupos de insetos. A
diversidade de espécies de insetos
correlaciona-se positivamente com a
diversidade de espécies vegetais em um
local, isto devido à maior diversidade de
habitats e à maior disponibilidade de
recursos alimentares distribuídos no espaço
e no tempo.
MC
MA
C
Diversidade
2
1,5
1
0,5
0
1,5
3
altura da armadilha
Figura 3 - Índice de diversidade (Shannon-Weaner) para comunidades de insetos capturados em armadilhas
McPhail instaladas em duas alturas e em três ambientes do Pantanal sul-mato-grossense (Morro do Azeite [MA];
Mata Ciliar do Rio Miranda [MC] e Carandazal [C], Faz. São Domingos, região de Passo do Lontra, CorumbáMS (12 a 26/10/2003).
A abundância de organismos foi
significativamente maior no morro (N =
3.236), seguido do carandazal (N= 1.031) e
mata ciliar (N=870), comparando a média
dos
ambientes
amostrados
foram
significativamente diferentes entre si (Figura
4 e Tabela 2), provavelmente, em
decorrência de particularidades de cada
ambiente. Hoje um dos maiores desafios é a
conservação da biodiversidade em função de
perturbações antrópicas. De acordo com os
resultados apresentados no presente
trabalho, observa-se que nas áreas (mata
ciliar e o carandazal) onde ocorreu
fragmentação de paisagens, em decorrência
da ação do homem, há uma menor
abundância
e
diversidade.
Essa
fragmentação reduz o fluxo de animais,
pólen e sementes.
Os
insetos
apresentam
ampla
distribuição geográfica e adaptações
relacionadas a diferentes habitats e hábitos
alimentares por isso mostram-se como
excelente grupo para evidenciar mudanças
em ecossistemas.
As matas ciliares são ecossistemas
complexos e mantenedores de alta
biodiversidade (OLIVEIRA-FILHO et al.,
2004).
Essas
formações
higrófilas
associadas às nascentes e cursos d'água são
locais propícios para uma grande
diversidade de grupos de insetos. Porém no
presente trabalho o número de famílias
amostradas e abundância de organismos foi
menor em relação ao morro, provavelmente,
por ser um ambiente que sofre forte ação
antrópica com histórico de queimadas
constantes. Além disso, o morro é margeado
pelo Rio Miranda o que provavelmente lhe
confere
também
as
características
destacadas por Oliveira-Filho et al. (2004).
O carandazal foi o que apresentou menor
índice de diversidade (H’1,2) e a menor
abundância. Este fragmento está totalmente
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cercado por cultivo de arroz e presença de
gado. Cuzzuol e Lima (2003) afirmam que a
fragmentação e o isolamento das áreas
naturais, devido às atividades antrópicas no
entorno, funciona como barreira para o
deslocamento das espécies, aproximando
estas áreas da situação de ilhas. Os
resultados obtidos nesta pesquisa podem ser
reflexos desta situação ambiental, uma vez
que os insetos são extremamente sensíveis
aos distúrbios ambientais e são facilmente
dizimados por pulverização com agentes
químicos e poluição (Grissell, 1999).
Tabela 2 - Abundância e porcentagem de insetos capturados em armadilhas McPhail a 1,5m
de altura do nível do solo, nos ambientes: Mata Ciliar do Rio Miranda, Morro do Azeite e
Carandazal (Fazenda São Domingos), região de Passo do Lontra, Corumbá-MS, (12 a
26/10/2003). S = Número de espécies; N = número de indivíduos; B = % de indivíduos.
Ordens
Diptera
Neuroptera
Hymenoptera
Blatodea
Lepidoptera
Coleoptera
Hemiptera
Orthoptera
Total
S
30
0
17
1
17
1
2
0
68
Mata ciliar
N
B
54
63
0
0
237
27
2
0
84
10
1
0
2
0
0
0
870
100
S
37
1
22
1
19
4
0
1
85
Morro
N
2016
1
1004
1
201
7
0
6
3236
B
62
0
31
0
6
0
0
0
100
S
31
1
14
0
11
1
0
0
58
Carandazal
N
B
725
70
1
0
271
26
0
0
32
3
2
0
0
0
0
0
1031
100
Figura 4 - Abundância de insetos capturados em armadilhas McPhail, para os três ambientes avaliados na região
de Passo do Lontra, Corumbá-MS (12 a 26/ 10/ 2003).
Tais resultados estão de acordo com a
expectativa teórica, de que uma maior
diversidade estrutural do ambiente implica
em uma maior diversidade de espécies
(PIANKA, 1983 apud FERREIRA e
MARQUES, 1998). Florestas e matas, de
SILVA, Luciana Barboza; FERNANDES, Manoel A. Uchôa; NASCIMENTO, José Nicácio do
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uma maneira geral, fornecem condições
diversificadas para a existência de um maior
número de nichos e conseqüentemente
maior biodiversidade, devido as suas
estruturas mais complexas: Grande número
de espécies vegetais, estratificação vertical,
copas interconectadas, maior sombreamento
e umidade favorecem espécies menos
tolerantes e maior possibilidade de refúgio
contra inimigos naturais (VALLEJO et al.,
1987 apud FERREIRA E MARQUES,
1998). O carandazal, composto por
pequenos arbustos e na maioria, grandes
palmeiras, permitindo irradiação solar, o que
provavelmente contribuirá para a gradual
diminuição da diversidade.
Segundo Cirelli e Penteado-Dias
(2003), a diversidade de insetos está mais
intimamente relacionada a uma combinação
entre a diversidade arquitetural das plantas e
a diversidade espacial, do que à diversidade
taxonômica da vegetação em questão.
A hipótese de que em habitats
fragmentados e impactados, seja por ação
antrópica ou natural, a diversidade de
plantas diminui e, conseqüentemente, a de
insetos também é afetada de forma negativa
(HAWKINS et al., 1992; SUMMERVILLE
et al., 2001) é corroborada por este estudo.
Assim, o conhecimento da riqueza de
Ordens e Famílias presentes nas áreas de
estudo pode ser um indicador indireto do
estado de conservação da flora e fauna. Os
remanescentes naturais como o Morro do
Azeite, objeto deste estudo, abrigam uma
comunidade de plantas, vertebrados e
invertebrados que, contribuem para o
equilíbrio dinâmico dos ecossistemas em
que estão inseridos.
As informações sobre a fauna de
insetos, como identificação das espécies
presente e o conhecimento de sua
distribuição no espaço e no tempo,
contribuirão para futuros estudos de
conservação no cerrado e no Pantanal.
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