O coração de São Camilo no Brasil! São Camilo de Lellis (1550-1614) é o santo padroeiro dos doentes, dos hospitais e dos profissionais da saúde. Num mundo marcado pela intervenção da ciência e tecnologia, que muito facilmente esquece ou coloca em segundo plano o fator humano no processo de cuidar, é muito saudável resgatar a voz profética do cuidado samaritano de Camilo de Lellis. Seu exemplo de vida é uma inspiração para nós no cuidado dos doentes e sofredores, num mundo cada vez mais tecnicizado, sem alma. Ficou célebre seu grito, junto aos profissionais da saúde de sua época (século XVI), que ainda hoje, quatro séculos depois, neste início de século XXI, não perdeu sua atualidade: “mais coração nas mãos, irmão”. Ou seja, a competência profissional técnicocientífica representada pelas mãos, tem que estar aliada com a competência humano-ética, isto é, com o coração. Essa é a perspectiva da filosofia camiliana do cuidar, o amor busca a técnica e a ciência, para melhor servir e cuidar, de quem mais precisa ou vive uma situação de vulnerabilidade. Essa é a essência de todo e qualquer processo de humanização no âmbito dos cuidados de saúde. Para São Camilo, o processo de cuidar tem como medida a sensibilidade feminina quando diz: “Desejamos, com a graça de Deus, servir a todos os enfermos com aquele amor com que uma mãe amorosa cuida de seu único filho enfermo”. Além disso, trata-se de um envolvimento de todo o ser do profissional cuidador: “Enquanto as mãos fazem o que devem, os olhos vejam o que lhe falta, os ouvidos estejam atentos aos seus pedidos, a língua lhe dirija palavras de conforto e a mente e o coração orem por ele”. Quando da morte de São Camilo, na noite de 14 de julho de 1614, os médicos, que dele cuidavam e o conheciam muito bem, julgaram que um coração tão extraordinário como o de Camilo não poderia desaparecer. Junto com os padres que os assistiam no momento de sua partida desta terra, tomaram a decisão surpreendente de retirar o coração de seu corpo para que fosse preservado para sempre. Nas palavras de Sanzio Cicatelli, um dos seus biógrafos, o coração de Camilo “parecia um rubi e era tão grande que despertou a admiração de todos os que o viram”. O Pe. Mancini, que no momento da morte era o Prefeito da Casa Geral, afirmou que “antes do enterro, o corpo foi aberto para investigar de que mal tinha falecido, e visto que morreu com fama de santidade... foi decidido que o Coração fosse retirado e conservado, na espera de que um dia fossem reconhecidas suas virtudes extraordinárias (...) e assim, na minha presença, foi colocado num recipiente e coberto com aromas e depois posto numa caixa de cipreste!”... Este coração de São Camilo foi extraordinariamente preservado ao longo dos séculos como relíquia numa urna de vidro, dentro de um relicário dourado, no quarto onde ele morreu, que depois foi transformado em Capela na Casa Geral dos Camilianos em Roma. A relíquia do coração de São Camilo muito raramente é levada para fora de Roma. Por ocasião das comemorações dos noventa anos da chegada dos primeiros Camilianos no Brasil (1922-2012), neste mês de julho, este coração, que bateu forte no peito de Camilo, será trazido ao país. O calendário da peregrinação da relíquia do coração passa pelos principais lugares, paróquias e hospitais onde os Camilianos atuam no Brasil. Prof. Dr. Pe. Léo Pessini Provincial e Presidente das Organizações Camilianas Brasileiras