o caminho da aporia

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GESTÃO DO CONHECIMENTO
NO CONTEXTO DA
EPISTEMOLOGIA PLATÔNICA –
O CAMINHO DA APORIA
Daniel Peluso Guilhermino
Acadêmico do Curso de Filosofia da UFJF.
Bolsista do PROVOQUE
[email protected]
Este trabalho visa apresentar um panorama geral da problemática do conhecimento no sentir de Platão.
Para isso, foram selecionados três principais diálogos, a saber: “Teeteto”, “Mênon” e “Fédon”. Está
dividido em duas seções. A primeira se ocupa inteiramente do “Teeteto”, porquanto se trata de um
diálogo de profunda complexidade e contém todos os essenciais pontos concernentes ao tema. Todavia, o
mesmo não apresenta soluções positivas para o problema do conhecimento, sendo a segunda seção
inteiramente dedicada à resposta fornecida por Platão à aporia suscitada. Para isso, o “Mênon” e o
“Fédon” foram os principais diálogos a serem utilizados para a análise da teoria metafísica das ideias
(eidos). Procura-se destacar Platão como o primeiro a apresentar o problema do conhecimento em sua
totalidade, com clareza e transparência, fornecendo elementos que para sempre estariam presentes na
meditação filosófica do tema.
PALAVRAS-CHAVE: conhecimento, epistemologia, anamnese, reminiscência.
I - A Investigação Acerca do Conhecimento no Teeteto
Introdução
O Teeteto é um diálogo platônico que diz respeito à natureza do conhecimento. A
problemática referente à possibilidade do alcance do saber e à dicotomia entre
relativismo e verdade é rigorosamente esboçada e analisada. Ao contrário de outros
diálogos concernentes ao mesmo tema (como o Fédon ou o Mênon), o Teeteto deixa as
*Acadêmico do curso de Filosofia e bolsista PROVOQUE pela Universidade Federal de Juiz de
Fora
próprias concepções platônicas acerca da teoria das ideias em segundo plano, rejeitando
todas as definições de conhecimento propostas e terminando por chegar a uma
conclusão negativa. Trata-se, portanto, de um diálogo de caráter destrutivo: várias
concepções são refutadas; nenhuma é aceita como correta. Considerado por muitos
como a mais completa via de acesso à problemática do conhecimento, é inegável que
Platão abrira as portas para o ulterior desenvolvimento da epistemologia. Sendo assim, a
reflexão filosófica que partir do grande mestre Platão tenderá sempre a ser profícua,
uma vez que fornece os alicerces necessários de todo o subsequente progresso moderno.
O diálogo introduz o problema com o questionamento direto de Sócrates a Teeteto, um
jovem e brilhante matemático. Sócrates pergunta: ‘que é o conhecimento?’. Ao longo do
debate, quatro definições são apresentadas por Teeteto, às quais se seguema
pormenorizada análise de Sócrates. A seguir serão esboçadas as quatro definições
acompanhadas de suas respectivas refutações.
Platão e Aristóteles (Detalhe da tela “A Escola de Atenas”, de Rafael Sanzio de Urbino (1510 – Museu
Vaticano)
Primeira Definição: Conhecimento é Tudo Aquilo Que se Aprende
A primeira definição fornecida por Teeteto é a de que conhecimento consiste em coisas
particulares tais quais a carpintaria e a geometria. Sócrates considera tal definição um
tanto quanto ingênua, uma vez que para explicar essas específicas atividades a própria
palavra ‘conhecimento’ precisa ser utilizada. Uma melhor elaboração da pergunta é,
2
portanto, necessária. Sócrates reformula-a de modo que Teetetotente explicar aquilo que
é comum a todas essas formas de conhecimento, isto é, aquilo que se configura como o
conhecimento em si (sua essência).
Segunda Definição: Conhecimento é Sensação
O Homem Como a Medida de Todas as Coisas
Incumbido de tal tarefa, Teeteto refaz sua resposta e afirma que conhecimento nada
mais é que sensação. Trata-se da definição de Protágoras. Para este, “o homem é a
medida de todas as coisas, da existência das que existem e da não existência das que não
existem”. Em outras palavras, tudo é aparência, o vento poderá ser frio para mim e calor
para o outro1. Sócrates entende ter encontrado um ‘sentido oculto’ do pensamento de
Protágoras, a saber, a teoria Heraclítica do ‘devir’.
De acordo com essa doutrina, “o movimento é a causa de tudo o que devém e parece
existir, e o repouso a do não-ser e da destruição”. Isso implica que nenhuma coisa é una
em si mesma, não havendo nada que seja passível de definição com acerto. Desse modo,
não é possível estabelecer como alguma coisa é constituída, porquanto os objetos
sensíveis estão em constante mudança. As qualidades que percebemos, como ‘branco’,
‘quente’, ou ‘grande’, não possuem existência própria, sendo apenas resultado do
encontro de algum dos órgãos dos sentidos com o objeto em questão. Deste encontro
surge, em algum caminho intermediário entre o objeto sentido e o sujeito sentiente, uma
qualidade específica2. É estabelecida, portanto, a distinção entre ‘paciente’ e ‘agente’,
assim como a relação de interdependência entre ambos. Para corroborar essa tese,
Sócrates diz ser absurdo imaginar que a cor aparece para uma pessoa exatamente da
mesma forma como para um cão.
Deduz-se, dessa explicação, que o conhecimento é o que está se ‘formando’, e não o que
‘é’. Disso advém uma série de problemas e contradições concernentes à teoria de
Protágoras, que serão expostos a seguir.
1
Aqui, como nas ilustrações seguintes relacionadas à interação entre “sujeito” e “objeto”, será utilizada
a primeira pessoa do singular.
2
Essa explicação em muito se assemelha com a teoria dos Eflúvios de Empédocles. A mesma fora
também citada em tom de ironia por Sócrates no diálogo “Mênon”.
3
A - O problema da proposição relativa. Esse é um problema de caráter bastante
peculiar, o que fez Sócrates constatar ter sido levado a afirmar “coisas estranhas e
ridículas”. Sócrates exemplifica o problema da seguinte forma: têm-se seis ossinhos
de jogar. Caso se coloque mais quatro ossinhos ao lado dos seis, tem-se que seis é
maior que quatro. Porém, se, ao invés de quatro, doze ossinhos são colocados, temse que seis é menor que doze. Logo, seis é, ao mesmo tempo, grande e pequeno. É o
mesmo problema que aparece quando se compara a altura de Sócrates com a de
Teeteto. Sócrates é mais alto; porém, dentro de um ano, Teeteto o ultrapassará.
Logo, Sócrates é, ao mesmo tempo, alto e baixo.
Para eliminar este problema, Sócrates estabelece três fundamentos que
sustentarão seus argumentos contra a segunda definição de conhecimento.
O primeiro consiste na estabilidade das coisas, isto é, uma coisa jamais fica
maior, em volume ou quantidade, enquanto se mantiver igual a si mesma.
O segundo é uma consequência da primeira, a saber: uma coisa a que nada se
acrescente e nada se tire continuará sempre igual.
O terceiro é relativo a um dos dois principais axiomas gregos. O que não existia
antes, argumenta Sócrates, não poderia ter existido sem formar-se ou ter sido
formado.
Na subsequente análise da doutrina de Protágoras, Sócrates pretende basear-se
nesses três fundamentos em toda sua elaboração argumentativa em defesa do
relativismo suscitado.
B - O problema das ilusões. O segundo problema é um clássico questionamento
acerca da validade dos sentidos. Os sonhos, as doenças, a loucura e as ilusões em
geral, são advindos das sensações. No entanto, não correspondem de modo algum à
realidade. Caso conhecimento se configure como sensação, há que se duvidar até
mesmo se em determinado momento nos encontramos acordados ou a sonhar.
Surgem, portanto, diversas controvérsias referentes ás aparências de cada um.
A defesa de Protágoras, feita por Sócrates, recorre mais uma vez a Heráclito. O
argumento baseia-se na proposição de que agentes dissemelhantes terão
sensações distintas. Se é verdade que a sensação nasce de uma interação única e
recíproca entre paciente e agente, é evidente que cada experiência será específica
e incapaz de ser repetida. Para o Sócrates doente, o vinho terá um sabor diferente
que para o Sócrates saudável. O vinho pode ser doce para a maioria das pessoas,
mas, para o Sócrates doente, é amargo. Conclui-se que cada sensação é
4
verdadeira para o sujeito sentiente, sendo este o único juiz capaz de dizer como
as coisas são para ele, não permitindo que um terceiro corrija-o quanto à sua
própria verdade. Aquilo que me aparece a mim é verdade para mim.
Prossegue válida a definição de Protágoras.
C - O problema da memória. Outra dificuldade para a teoria de Protágoras que vem
à tona é o problema da memória. Quando pensamos em algo, temos na memória
sempre a lembrança de alguma coisa. Se conhecimento é somente sensação, isso
implica que a partir do momento que deixo de ter contato com alguma coisa através
de um dos órgãos do sentido, não mais terei conhecimento dessa coisa, o que seria
absurdo. Por exemplo: se vejo um objeto em determinado local, sei sua localização
com precisão, e adquiri esse conhecimento com a visão. Todavia, quando vou
embora do local, continuo sabendo sua localização por intermédio da memória.
Portanto, a memória é um exemplo de conhecimento independente da sensação.
A defesa de Protágoras a esse ataque é, mais uma vez, elaborada por Sócrates. É
possível, afirma Protágoras, conhecer e não conhecer uma coisa ao mesmo
tempo. Quando, por exemplo, tapamos um dos olhos ao ver determinado objeto,
podemos dizer que vemos e não vemos a coisa ao mesmo tempo. Além disso,
referindo-se à memória, é evidente que a mesma não se configura exatamente
como igual à impressão passada, mas, pelo contrário, bastante inexata.
Por fim, as três contradições não são capazes de derrubar a tese de que ‘conhecimento é
sensação’. Resta, para Sócrates, tentar outra via de refutação.
A Escola de Platão (Tela de Daniel Delville, Museo D´Orsay – Paris)
Pragmatismo e a Possibilidade do Erro
Outras objeções são feitas à doutrina de Protágoras, mas a maioria é, posteriormente,
retirada. É o caso da crítica feita por Sócrates de que não necessariamente o homem é a
5
medida de todas as coisas, mas o porco poderia também o ser. Simplesmente tomada
como vulgaridade, tal objeção é considerada inválida. No entanto, há que se notar que,
implicitamente, esse argumento representa a percepção de Platão quanto ao problema da
redução da natureza humana a uma simples natureza animal contida na concepção
empirista do conhecimento.
A exigência de uma medida justa de crítica faz Sócrates enxergar um problema de
coesão entre a vida levada por Protágoras e a doutrina professada pelo mesmo. Se
conhecimento é sensação, e o que aparece a cada homem é verdadeiro para ele, nenhum
homem pode saber mais que outro. Como pode, então, Protágoras ser professor e cobrar
por suas aulas? A resposta oferecida por Protágoras argumenta que a função do sábio é
mudar o aspecto das coisas, fazendo-as parecerem boas para as pessoas. Isto é, embora
um juízo não seja nunca verdadeiro, poderá ser melhor, enquanto proporcionar melhores
consequências. Nota-se sugerida a ideia do pragmatismo.
Sócrates se defende dessa possível objeção utilizando-se de elementos extraídos do
próprio argumento de Protágoras, tentando demonstrar que sua tese é insustentável.
Partindo do princípio de que o sábio, de acordo com Protágoras, consegue discernir o
melhor e o pior, é impossível dizer que todas as opiniões são verdadeiras. Logo, há a
possibilidade do erro: umas opiniões são verdadeiras e outras falsas. Isso implica que
um homem difere do outro quanto ao saber, pois um médico será muito mais
competente ao traçar o diagnóstico de um enfermo do que outro homem qualquer seria.
Portanto, certas opiniões serão mais verdadeiras que outras. Conclui-se que cada
homem pode ser a medida do que é, mas talvez não a medida do que será: o saber
especializado corrobora esta hipótese.
Contra a Doutrina Heraclítica do Devir
Insatisfeito em refutar as próprias consequências da doutrina de Protágoras, Sócrates
sente-se na obrigação de atacar a essência em que se baseia tal doutrina, a saber, a tese
heraclítica do fluxo universal. É nesta seção do diálogo que fica explícita a grande
herança e influência de Parmênides na problemática do conhecimento como concebida
por Platão. Demonstrando profundo respeito pela escola eleática, ele coloca na fala de
Sócrates os seguintes dizeres: “Parmênides me inspira (...) respeito e vergonha a um só
tempo”. Tomada a decisão de não se discutir Parmênides, Melisso e os demais
representantes da escola de Eléia, é iniciada a análise da doutrina do fluxo universal.
6
De acordo com essa doutrina, há duas espécies de movimento, a saber: a translação e a
alteração. A translação diz respeito à mudança de um objeto de um local para o outro;
a alteração diz respeito à mudança qualitativa de determinada coisa. Desse modo,
nenhuma assertiva a respeito de alguma coisa poderá ser válida, pois no instante em que
se inicia uma frase a respeito de algo, ao fim da mesma esse algo já será outra coisa
completamente distinta. O ser está definitivamente eliminado, cedendo lugar para o
aparecer proveniente do vir-a-ser. Logo, conhecer será o mesmo que o não-conhecer.
Mas não-conhecer é ausência de movimento, o que é proibido por essa doutrina. Por
conseguinte, no sentir de Platão, tal doutrina é completamente incompatível com a
realidade, e seus autores precisam criar uma nova linguagem para se expressarem.
O Ataque Final à Doutrina ‘Conhecimento Como Sensação’
Finalmente, depois da pormenorizada análise da tese de Protágoras, Sócrates elabora o
seu argumento final quanto à afirmação de que conhecimento equivale à sensação. Esse
argumento é um ponto de partida para a tese própria de Platão acerca da teoria do
conhecimento, aprofundada em outros diálogos.
A argumentação inicia assinalando que não percebemos com os sentidos, mas através
deles. Quando vemos um objeto com os olhos e ouvimos um som com os ouvidos, por
exemplo, não é nem a visão e nem a audição os responsáveis por determinar o som e o
objeto como coisas distintas. Logo, não é nenhum dos órgãos dos sentidos, no entender
de Platão, que é responsável por perceber certas características tais quais semelhança e
dessemelhança, identidade e diferença, ser e não-ser. É por intermédio da alma que
essas noções são atingidas, independentemente das sensações. A alma, para Platão, é
responsável por reduzir a multiplicidade da sensação à unidade do conhecimento.
A doutrina de Protágoras pode, enfim, ser descartada.
Terceira Definição: Conhecimento é Opinião Verdadeira
Impelido a encontrar uma nova definição de conhecimento, à guisa do que já fora
analisado, Teeteto afirma ser impossível que qualquer opinião possa se configurar como
conhecimento, tendo em vista a possibilidade da opinião falsa. É então que se chega à
terceira definição: conhecimento é opinião verdadeira.
7
Sócrates identifica um problema na nova definição que pode colocá-la em xeque. Antes
de perscrutar o problema, elabora uma definição de ‘pensamento’ que pode estar em
uma das passagens mais importantes do diálogo. De acordo com sua definição, o
pensamento é um discurso da alma consigo mesma. A alma formula um diálogo para si
mesma com perguntas e respostas, ora para afirmar ora para negar. A filosofia moderna,
de certo modo, pode ser vista como uma concretização dessa concepção de Pensamento.
A partir dessa definição, o problema é suscitado: como é possível a opinião falsa? Tratase de um problema lógico. A aporia é explicitada por Sócrates nos seguintes termos:
“Designamos como opinião falsa o equívoco de quem, confundindo no pensamento
duas coisas igualmente existentes, afirma que uma é outra. Desse modo, ele sempre
pensa em algo existente, porém põe uma coisa em lugar de outra”. Para tentar
solucionar o problema, Sócrates propõe reduzir a oposição saber e não saber a ser e
não-ser. Desse modo, o raciocínio elaborado é como se segue. Quem pensa em alguma
coisa, pensa em algo existente. Logo, quem pensa no não existente (isto é, no não-ser),
pensa em nada. Ora, pensar em nada é não pensar de forma alguma. Logo, opinião falsa
é diferente de pensar o que não existe (o não-ser).
Com efeito, Sócrates encontra-se diante de uma engenhosa dificuldade. Após outras
fracassadas tentativas de resolução, vêm ao auxílio do filósofo duas metáforas, a serem
expostas a seguir.
A - A metáfora da cera. A primeira metáfora que tentar resolver o problema da
opinião falsa é, resumidamente, como segue. Supõe-se que a alma seja uma tábua de
cera. Quando queremos memorizar algo, inscrevemos uma impressão nesta tábua.
Deste modo, enquanto a inscrição durar, a memória é capaz de lembrar-se dela. A
opinião falsa surge quando se confunde certas impressões. Por exemplo: Sócrates
conhece Teeteto e seu professor Teodoro e tem imagens deles inscritas na cera. Ao
avistar Teeteto ao longe, identifica-o erradamente com a imagem de Teodoro.
Quanto mais indistintas e indefinidas forem as imagens na cera, mais provável é o
erro. Segundo essa metáfora, portanto, a opinião falsa ocorre em função da
discrepância entre sensação e pensamento.
B - A metáfora dos pássaros. A metáfora da cera, no entanto, não explica porque o
erro ocorre em situações que são independentes da percepção, como, por exemplo,
os erros em somas aritméticas. Para tentar explicar esse tipo de erro, Sócrates
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compara a alma a um aviário. À medida que aprendemos coisas novas, adquirimos
novos pássaros, sendo que saber algo é possuir o pássaro correspondente no aviário.
Se quisermos usar algum conhecimento, temos de apanhar o pássaro apropriado e
segurá-lo nas nossas mãos antes de libertá-lo novamente. Logo, os erros aritméticos
se dariam da seguinte forma: uma pessoa que responda que 7 + 5 = 11, ao invés de
apanhar o décimo segundo pássaro, apanha o décimo primeiro. De acordo com essa
analogia, Sócrates afirma ser possível possuir um conhecimento sem o ter na alma
em determinado momento.
Não satisfeito com suas soluções metafóricas, Sócrates propõe a retomada da
investigação primeira do que seja o conhecimento para somente depois analisar a
possibilidade da opinião falsa. A definição de ‘opinião verdadeira’ como conhecimento
é refutada, no dizer de Sócrates, pela arte dos oradores e advogados. De acordo com
esse argumento, um juiz persuadido de maneira justa dá o veredito por um julgamento
do tipo ‘ouvi dizer’, pois que não possui o mesmo conhecimento que uma testemunha
ocular. Portanto, é um juízo sem conhecimento, apesar de verdadeiro.
Dessa forma, Teeteto precisa complementar sua terceira definição.
Quarta Definição: Conhecimento é Opinião Verdadeira Acrescida da Explicação
Racional
Diante da exigência de Sócrates para uma resposta mais bem elaborada do que seja
conhecimento, Teeteto chega à quarta e última definição analisada no diálogo, a saber:
conhecimento é opinião verdadeira acrescida da explicação racional.
A partir do novo caminho traçado, Sócrates sente-se na obrigação de investigar o real
significado do que venha a ser ‘explicação racional’. Desenvolvendo o complemento
fornecido por Teeteto, Sócrates elabora uma análise que servirá como base para a
discussão subsequente. A análise inicia-se com o argumento de que os elementos
primitivos dos quais tudo é composto não admitem explicação. Isso significa que a
esses elementos só é possível nomear, não sendo plausível sequer atribuir-lhes
existência ou não-existência. Segundo essa definição, restam duas opções: se um todo
for formado por vários elementos, tais elementos devem ser conhecidos para que se
tenha conhecimento do todo. Como isso não é possível, o todo é inexplicável e
incognoscível. O exemplo de Sócrates utilizado para ilustrar esse argumento é a
9
distinção entre sílaba (todo) e letra (elemento). De fato, as sílabas são compostas por
letras, que, por sua vez, carecem de explicação, sendo praticável apenas nomeá-las. É
possível soletrar ‘Sócrates’; o mesmo não ocorre com a letra ‘s’. A segunda opção
analisada é a de que o todo é uma ideia distinta dos elementos, sendo uma e indivisível3.
Neste caso, ela se assemelharia a um elemento, e, ipso facto, seria desconhecida e
inexplicável.
Deixando a questão em aberto, da qual Sócrates conclui poder aduzir muitos
argumentos, três significados para explicação racional passam a ser considerados.
A - O primeiro significado trata-se do simples ato de tornar claro o pensamento
por meio da voz. Sócrates considera tal definição um tanto quanto simplória,
argumentando que qualquer um que não seja surdo ou mudo é capaz de tal feito.
Contudo, tal hipótese não pode ser aceita como critério para explicação racional.
B - O segundo significado é mais bem elaborado. O mesmo consiste na capacidade
de explicar a natureza de alguma coisa através da sua redução a elementos
primordiais. A enumeração dos elementos componentes de alguma coisa é tida
como satisfatória e adequada por Teeteto, que, a este ponto do diálogo, encontra-se
perplexo e maravilhado. Essa explicação, porém, esbarra no problema já exposto
anteriormente da impossibilidade do conhecimento dos elementos primitivos e,
consequentemente, do todo. Ademais, uma criança pode saber todas as letras
(elementos) e, ainda assim, errar ao soletrar um nome (todo). Logo, o conhecimento
dos elementos não é suficiente para o conhecimento do todo.
C - O terceiro e último significado proposto para explicação racional é que esta
consistiria na indicação de um sinal que distinga de todos os outros o objeto do
qual se trata. De acordo com essa definição, o conhecimento de um determinado
objeto seria a opinião verdadeira do mesmo acrescida da diferença que o distingue
dos demais. Exemplificando: para que eu conheça Teeteto, necessito conhecer suas
particularidades (suas características próprias) para diferenciá-lo dos demais
homens. O mesmo ocorre no que diz respeito à explicação do sol em relação aos
demais astros: o sol possui suas próprias qualidades que o diferenciam de todas as
outras estrelas. Ora, se essa definição é correta, o ‘acréscimo da diferença’ nada
mais é senão o ‘conhecimento da diferença’. Portanto, dizer que conhecimento é
3
Possível referência ao mundo das Ideias, ainda que de uma perspectiva um tanto quanto cética.
10
‘opinião verdadeira acrescida do conhecimento da diferença’, ou seja, definir o
conhecimento pelo conhecimento, nada mais é que uma espécie de tautologia, sendo
considerada por Sócrates como o “cúmulo da simplicidade”.
Desse modo, o diálogo termina com a conclusão de que o conhecimento não pode ser
“nem sensação, nem opinião verdadeira, nem a explicação racional acrescentada a essa
opinião verdadeira”. À maneira dos diálogos socráticos do primeiro período, a discussão
termina numa atmosfera de espanto e admiração, com Sócrates fazendo alusão à sua arte
maiêutica de partejar. No entanto, apesar de não chegar a uma conclusão objetiva, há
muito que se aproveitar dessa riquíssima obra filosófica.
Conclusões Sobre o Teeteto
Em que pese não apresentar uma resposta final para a problemática do conhecimento,
Teeteto acaba por introduzir todos os elementos genuínos que permeariam a evolução
posterior da epistemologia. É possível que, na visão de Platão, a maior contribuição do
diálogo tenha sido a solução oferecida para o problema do ceticismo ontológico,
proporcionado pela doutrina de Heráclito, mostrando como o fluxo universal das coisas
é implausível e insustentável. Por outro lado, o ceticismo antropológico, que tem sua
base na doutrina de Protágoras, não fora suficientemente superado, uma vez que a
posterior história da epistemologia seria uma crítica a essa concepção. A definição de
conhecimento como sensação foi posteriormente sistematizada por Aristóteles, sendo
definitivamente aceita até o final da Idade Média. René Descartes foi o responsável por
instaurar o Cogito no início da Idade Moderna,fazendo com que tal definição
enfrentasse uma crise da qual jamais se recuperaria por completa. Em contrapartida, a
quarta definição de conhecimento apresentada no diálogo, isto é, a de ‘opinião
verdadeira acrescida da explicação racional’, foi ainda aceita por vários filósofos do
século passado como correta a partir de sua reelaboração como ‘crença verdadeira
justificada’, colocada em dúvida somente após o artigo de Edmund Gettier intitulado “É
a crença verdadeira justificada conhecimento?”, de 1963. As concepções originais de
Platão que dizem respeito a esse tema foram, curiosamente, postas em segundo plano
nesse diálogo, sendo necessária a leitura do Mênon, do Fédon, e de outros diálogos para
encontrar uma resposta definitivamente platônica para o problema. O ‘mundo das
ideias’, ou ‘hiperurânio’, não é sequer citado no Teeteto, apesar de definitivamente ser
possível encontrar certos elementos do mesmo nas entrelinhas.
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Em função disso, o Mênon e o Fédon serão os dois diálogos que ocuparão a atenção
desse trabalho daqui para frente.
II - O Mênon e o Fédon: O Conhecimento Como Anamnese e o
Refúgio Nas Ideias
Introdução
Nesta segunda seção serão abordados os princípios gerais da Teoria das Ideias de
Platão. Os diálogos Mênon e Fédon, apesar de não apresentarem com clareza a estrutura
do mundo das ideias, possuem sua principal relação com a problemática do
conhecimento. De fato, essa é uma teoria de longuíssimo alcance, que diz respeito não
apenas à epistemologia, mas também à psicologia, política, educação, religião, dentre
outras áreas4.
Tanto o Mênon quanto o Fédon não possuem a temática do conhecimento como seu
principal problema. O Mênon gira em torno da definição de Virtude, questionando se
ela pode ou não ser ensinada. A partir deste questionamento, pergunta-se antes como se
ensina algo a alguém, desembocando, assim, na teoria do conhecimento. Já o Fédon
narra os momentos finais de Sócrates antes de tomar a cicuta e morrer. As reflexões
contidas no mesmo dizem respeito à alma e seu destino final, o que possui muita ligação
com a teoria do conhecimento de Platão, como se verificará a seguir.
Ambos os diálogos estão recheados de elementos órfico-pitagóricos, frequentemente
sendo difícil distinguir quais pesam para o lado do mito e quais para a ciência. Todavia,
há que se ressaltar que mesmo nas passagens em que Platão se utiliza do mito para
alguma explicação, não se trata absolutamente do mito pré-filosófico, sendo algo
completamente distinto deste. O mito pré-filosófico desconhece o logos, ao passo que o
4
Vários outros diálogos tiveram sua atenção voltada para a solução platônica do problema do
conhecimento baseada na Teoria das Ideias. Dentre eles, pode-se citar o “Parmênides”, o “Timeu”, o
“Fedro”, e, principalmente, “A República”. Este último contém, no seu livro VI, uma sistematização
completa de como o homem atinge o conhecimento em vários graus. No entanto, para os princípios
gerais de tal teoria que pretendo analisar, ou seja, a relação fundamental entre sujeito sentiente e
objeto, bastam os diálogos “Fédon” e “Mênon”.
12
mito platônico subordina o logos a si. Essa diferença é, sem dúvida, essencial para se
compreender Platão.
A Doutrina Erística da Impossibilidade do Conhecimento
Para apresentar suas conjeturas a respeito da teoria do conhecimento, Platão precisa
solucionar a tentativa de bloquear o problema levantado pelos eristas. Estes afirmavam
ser impossível conhecer algo, e resumiram sua doutrina da seguinte forma: Como pode
o homem procurar algo que não conhece? Se ele não conhece, caso encontre esse algo
na sua frente, não saberá reconhece-lo. E caso o reconheça, isso significa que ele já o
conhece, portanto não vindo a conhecer nada de novo.
Platão, através de Sócrates,considera ser este um árduo problema. Para resolvê-lo,
decide confiar no que diziam “sacerdotes e sacerdotisas” a respeito de “coisas sábias e
divinas”. Nota-se que um desencantamento com o mundo dos fenômenos é várias vezes
exposto na obra platônica. No Fédon, por exemplo, Sócrates relata sua desilusão com a
doutrina de Anaxágoras, que se absteve de utilizar o “espírito” como a causa ordenadora
de tudo, reduzindo todo o mundo surgido após a criação à simples relação causal. Do
mesmo modo, no Mênon, Sócrates se depara com a doutrina erística, que, baseada na
sofística (que, por sua vez, nega a impossibilidade de se sair do mundo fenomênico),
apresenta a impossibilidade lógica do alcance do conhecimento. Por essas razões, Platão
decide “buscar refúgio nas ideias e procurar nelas a verdade das coisas”, porquanto os
sentidos, na tentativa de compreender os objetos, o deixaria completamente cego. Logo,
somente o juízo da razão, que é capaz de conjeturar o mundo ideal, pode almejar
alcançar a verdade, enquanto que os sentidos, presos no plano fenomênico, se
configuram como erro.
O Conhecimento Como Recordação
A Teoria da Reminiscência
Para resolver o problema suscitado pela erística, Platão propõe uma mudança de
perspectiva: ao invés de buscar a solução na estrutura da natureza, busca-se, agora, na
estrutura do espírito. O homem é capaz de conhecer as coisas porque já as tem presente
no seu espírito. A única atividade que o homem faz, ao conhecer, é relembrar. Portanto,
apesar de o homem conhecer através dos sentidos, é, ao mesmo tempo, independente
13
dos mesmos, porquanto já possui estes conhecimentos inatos na alma.5 Os sentidos
serviram apenas como um estímulo para que a alma relembrasse aquilo que sempre
esteve presente na mesma. Essa teoria é denominada como anamnese ou teoria da
reminiscência.
Para explicar como a alma já é possuidora de todo o conhecimento, Platão utiliza-se do
mito. Com influência clara das doutrinas órfico-pitagóricas, conceitua a doutrina da
metempsicose, isto é, a transmigração das almas. Com isso, é aceita a hipótese de que há
uma existência anterior à atual, na qual a alma contemplou as Ideias Puras, das quais
agora se lembra ao verificar os fenômenos com os órgãos dos sentidos. Essa lembrança
será sempre imperfeita, porquanto somente no mundo das Ideias a perfeição pode ser
alcançada. Essa doutrina possui vários pormenores, sendo elaborada e reelaborada
diversas vezes e modos distintos em vários diálogos. O que importa para se
compreender a epistemologia platônica é a justificativa da reminiscência através de uma
existência anterior.
A Maiêutica e as Matemáticas Como Evidências da Anamnese
A doutrina da reminiscência não é apresentada somente em forma de mito, tendo
também sua representação dialética. A seguir serão apresentadas duas dessas formas,
que serviram, respectivamente no Mênon e no Fédon, como comprovações da teoria.
A - A interrogação do escravo. Desafiado por Mênon para comprovar sua
doutrina, Sócrates realiza uma experiência maiêutica, interrogando um escravo
ignorante em geometria e incumbindo-o de solucionar um complicado problema
que envolve o teorema de Pitágoras. Apenas estimulado por Sócrates,
respondendo perguntas do mesmo, o escravo consegue encontrar a resposta.
Sócrates não ensinou-lhe nada, e o escravo não possuía conhecimentos prévios
de geometria. Logo, para que tenha conseguido resolver o problema, Sócrates
conclui que ele nada conheceu, apenas relembrou, extraindo de si mesmo
verdades que antes supunha não conhecer.
B - As noções matemáticas. Outra forte evidência em favor da anamnese parte da
análise de objetos fundamentada em conhecimentos matemáticos. De fato,
quando se analisa determinados objetos, constata-se a existência de figuras
5
É possível dizer que aqui se encontra a primeira concepção do “a priori” em sentido objetivo.
14
“quadradas”, “circulares”, “iguais”, etc. No entanto, nenhuma dessas formas é
absolutamente quadradas, circulares ou iguais, sendo, portanto, necessário ter
conhecido um Quadrado em si ou Circularem si para que se possa estabelecer
tal relação. Essas noções seriam absolutamente perfeitas, e se originariam do
mundo das ideias, onde teriam sido contemplados pelas almas antes destas se
prenderem ao corpo. Logo, quando nosso intelecto realiza tal reflexão,
estabelecendo noções como “identidade”, “diferença” ou “causalidade”, nada
mais está fazendo querecordando.
É pelo juízo da alma que o homem chega ao conhecimento, contrariamente à simples
percepção dos dados da experiência. A teoria da reminiscência é, sem dúvidas, fundada
em toda a metafísica platônica, que, por sua vez, possui sua maior expressão no Mundo
das Ideias.
Conclusão: A Diferença Entre a Opinião Verdadeira e a Ciência
O debate entre episteme (ciência) e doxa (opinião) está presente em toda a antiga
tradição grega, em torno do qual gira em torno a problemática do conhecimento. No
final do Mênon podem ser verificadas passagens que expressam suscintamente os
problemas evocados por esse debate.
Com efeito, opinião verdadeira não se diferiria de ciência caso esteja em xeque somente
a utilidade de determinada concepção. Exemplificando: um guia de viagem que conhece
de fato o caminho a ser traçado para se chegar até Larissa não estaria em melhor
patamar que um simples viajante que, por opinião, acerta o caminho mesmo sem o
conhecer. Logo, se nos pautarmos pela utilidade, opinião certa e ciência não possuem
nenhuma distinção.
No entanto, Sócrates discorda dessa definição. Para ele, de nada adianta acertar
determinado conhecimento por opinião sem o conhecer.6Para distinguir opinião de
ciência, Sócrates aprimora o que foi estabelecido no Teeteto, argumentando que a
ciência se diferencia da opinião verdadeira por seu encadeamento racional. No
supracitado Teeteto, a tentativa de definir o que vem a ser esse “encadeamento racional”
levou o debate para um caminho aporético, sem uma resposta satisfatória. Contudo, no
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Tal distinção também fora destacada no “Teeteto” através da dicotomia entre “ter” o conhecimento e
“possuir” o conhecimento.
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Mênon, uma nova hipótese levantada pode ser responsável por resolver essa aporia, a
saber: a anamnese.
É assim que conclui Sócrates ser a anamnese, ou a reminiscência, o encadeamento
racional que, acrescido à opinião verdadeira, transforma-a em ciência, determinando por
fim a definição de conhecimento para Platão. Fica claro no discurso socrático que não
se trata de uma posição dogmática, isto é, da imposição de uma verdade absoluta (a
metempsicose) advinda de uma revelação divina. Longe disso, Platão deixa bem claro,
através de Sócrates, que a sua distinção entre mundo inteligível e mundo sensível, ou
entre ser e ente, foi uma escolha. A opção pela crença, no sentir de Platão, produz
homens melhores e suas consequências são inevitavelmente superiores às da doutrina
sofística ouàs de um mundo mecanicista e materialista.
Duas passagens dos escritos de Platão servirão de auxílio para deixar claro esse ponto e
concluirão esse trabalho. A primeira trata-se de um trecho do Mênon, posterior à
explicação da teoria da reminiscência. A segunda, retirada do Fédon, aparece
posteriormente à narração de um mito que narra o destino das almas no além. Ei-las:
“O mesmo digo eu, Mênon; e por isso não pretendo afirmar de modo absoluto que essa
teoria é verdadeira. Uma coisa, entretanto, posso afirmar e provar com palavras e atos: é
que nos tornamos melhores, mais ativos e menos indolentes, se cremos que é um dever
procurar o que ainda não sabemos, do que se considerarmos impossível e estranho ao
nosso dever a busca da verdade desconhecida. Isto sustento contra todos, pelos meus
discursos e pelas minhas ações, tanto quanto isso me seja possível!”
“Certamente, não convém a um homem dotado de bom senso sustentar que as coisas se
passem exatamente como eu as descrevi; sustentar, entretanto, que algo de semelhante
deva acontecer no que diz respeito às almas e às suas moradas, a partir do fato de que se
conclui que a alma é imortal, me parece perfeitamente legítimo, sendo interessante
correr o risco de acreditar, porquanto o risco é belo! É importante que, com tais crenças,
nos encantemos a nós mesmos; é por isso que eu, desde há algum tempo, continuo
sustentando meu mito.”
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