WWW.G1.COM.BR O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO 13/09/2007 ‐ 07h00 ‐ Atualizado em 13/09/2007 ‐ 12h37 Terra poderá sobreviver à morte do Sol Astrônomos encontraram planeta que passou pela mesma situação e resistiu. É certo que, ao inchar, daqui a 5 bilhões de anos, Sol engolirá Mercúrio e Vênus. SALVADOR NOGUEIRA Do G1, em São Paulo entre em contato Em 5 bilhões de anos, quando a principal fonte de energia do Sol acabar, ele vai inchar absurdamente, a ponto de engolir Mercúrio e Vênus. O destino da Terra ainda é incerto, mas um grupo internacional de cientistas acaba de apresentar evidências de que ela tem boa chance de escapar da destruição. Roberto Silvotti, do Observatório Astronômico de Capodimonte, na Itália, e seus colegas encontraram um planeta fora do Sistema Solar que está passando por uma situação semelhante à que a Terra será submetida no futuro ‐‐ e está agüentando firme. Concepção artística de planeta ao redor da estrela V 391 Pegasi (Foto: Helas/Mark Garlick) Saiba mais » Maior planeta extra­solar não deveria existir Ele gira ao redor de uma estrela chamada V 391 Pegasi, localizada na constelação do Pégaso. O astro central é uma estrela gigante vermelha ‐‐ um dos últimos estágios na vida de um objeto como o nosso Sol. » Planeta fora do Sistema Solar tem água » Opinião: A dura tarefa de caçar exoplanetas » De uma vez, grupo acha 28 exoplanetas » 'Planetas fora do Sistema Solar são fajutos' » Planetas habitáveis podem ser milhões Uma estrela normal se tornar gigante vermelha quando o hidrogênio combustível rareia em seu núcleo. O resultado é que ela incha, sua atmosfera se expande e fica até 100 vezes maior do que seu tamanho inicial. O astro ganha a cor avermelhada e "aprende" a usar hélio como combustível, em vez de hidrogênio. Isso dá uma sobrevida à estrela, antes que ela esgote de vez suas possibilidades de seguir funcionando e se encolha alucinadamente, por força da gravidade. O resultado final é uma anã branca. Aparentemente, a V 391 Pegasi passou por um processo estranho, em que o astro perde rapidamente suas camadas exteriores durante a fase de gigante vermelha. "Em certo sentido é um mistério: essa estrela é uma estrela subanã B, e todas essas estrelas, que são bem raras, experimentam uma perda de massa particularmente forte durante a fase de gigante vermelha", disse ao G1 Silvotti. "A razão para essa perda de massa muito forte não está clara, mas ela também não parece ter relação com a sobrevivência do planeta." Esse mundo sobrevivente em nada se parece com a Terra. Em vez de um planeta rochoso, ele deve ser um astro gasoso, com 3,2 vezes a massa de Júpiter. Sua única similaridade com a Terra é a órbita ‐‐ quase um círculo perfeito, com um raio de cerca de 254 milhões de quilômetros (1,7 vez a distância Terra‐Sol). Mas o mais importante mesmo é que, após tudo que aconteceu, ele ainda está lá. E os cientistas acreditam que, antes que a estrela se tornasse uma gigante vermelha, esse planeta estava ainda mais perto, a mais ou menos 150 milhões de quilômetros de V 391 Pegasi ‐‐ a mesma distância entre a Terra e sua estrela‐mãe. Os resultados foram publicados nesta semana do periódico científico britânico "Nature", mas não são garantia de que a Terra vá mesmo sobreviver ao inchaço do Sol, alerta Jonathan Fortney, do Centro de Pesquisa Ames, da Nasa, que comentou o estudo na mesma edição da revista. "Astronomia não é uma ciência experimental ‐‐ não podemos fazer um sistema solar para testar uma hipótese ‐‐ e por isso os astrônomos são obrigados a vasculhar os céus para encontrar um número estatisticamente significativo de amostras, em vários estágios de evolução, para construir interpretações físicas consistentes. No presente, a descoberta de Silvotti e seus colegas é o único sistema planetário que sabe‐se ter sobreevivido à fase de gigante vermelha de sua estrela‐mãe", disse o pesquisador americano. Silvotti concorda. "Para sabermos algo sobre o destino da Terra, precisaremos de mais estatísticas ‐‐ ou seja, mais sistemas planetários similares a esse em torno de estrelas pós‐gigantes vermelhas ‐‐ e melhores modelos. Essa descoberta certamente produzirá mais pesquisas nesse campo e, portanto, no futuro ‐‐ não tão longínquo, eu acho ‐‐ seremos capazes de predizer o que acontece com um planeta durante e depois da fase de gigante vermelha, incluindo a Terra." Claro, para efeito da sobrevivência da vida, toda essa discussão é pouco importante. Muito antes que o Sol se torne uma gigante vermelha, em coisa de 1 bilhão de anos, o aumento gradativo de atividade solar fará com que os oceanos terrestres evaporem, extinguindo todas as formas biológicas em nosso planeta. URL: http://g1.globo.com/Noticias/0,,MUI103414‐5603,00.html