Infecções e inflamações das pálpebras

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Infecções e inflamações das pálpebras
As pálpebras desempenham um papel fundamental na protecção do olho. As pálpebras são pregas cutâneas e mucosas que cobrem a abertura anterior do globo ocular com funções de protecção, manutenção do filme lacrimal
sobre a córnea e a conjuntiva e de impedimento da estimulação visual durante o sono.1
As pálpebras estão cobertas externamente pela pele e internamente por uma capa mucocutânea de epitáfio chamada conjuntiva palpebral. No meio há tecido glandular e músculos para o movimento da palpébra.2
Várias glândulas situadas ao longo das margens das pálpebras contribuem para formar o componente lipídico da
lágrima:3 as glândulas de Meibomius, que se encontram por trás da linha de união mucocutânea; as glândulas sebáceas de Zeiss, que desembocam nos folículos das pestanas; e as glândulas sudoríparas de Moll, que podem desembocar no folículo ou directamente na margem palpebral. As glândulas às vezes inflamam-se.1,3
Blefarite
A blefarite, um dos problemas mais comuns, é uma inflamação das margens da pálpebra.2-4,5 Apresentam-se vermelhas e irritadas, com espessamento e frequentemente com formação de escamas e crostas ou de úlceras superficiais.2-4,6 Os doentes podem ter prurido, ardor, sensação de corpo estranho, lacrimejo,3,4 frequentemente com
perda de pestanas.2,4
Os factores geralmente associados à blefarite são infecção bacteriana, disfunção da glândula de Meibomius, dermatite seborreica, acne rosácea, ou uma combinação destes factores.2,3
A blefarite ulcerativa resulta de uma infecção bacteriana aguda (usualmente estafilocócica) da margem da pálpebra
envolvendo os folículos das pestanas e as glândulas de Meibomius.4 Podem desenvolver-se pequenas úlceras nas
margens,5 e crostas aderentes que, quando retiradas, deixam a superfície sangrante. Durante o sono as pálpebras
podem ficar coladas pelas secreções.4
A blefarite seborreica é secundária a um excesso de secreção das glândulas sebáceas que desembocam nos folículos
pilosos à volta das pestanas. Aparece vermelhidão da pálpebra e escamas oleosas na base das pestanas.1 Ocorre
frequentemente colonização bacteriana secundária das escamas.4
Frequentemente a blefarite seborreica pode tornar-se crónica, com secreções abundantes e prurido, em surtos às
vezes difíceis de erradicar.1 A blefarite seborreica associa-se frequentemente à dermatite seborreica. A disfunção
da glândula de Meibomius (meibomite) é também um tipo de blefarite crónica. A disfunção, causada por secreções
anormais da glândula, é frequentemente associada com acne rosácea.4
O objectivo do tratamento da blefarite é proporcionar alívio sintomático e controlar o problema com uma boa higiene.2 A limpeza diária e cuidadosa das pálpebras é importante e necessária para prevenir recorrências.2,6 Se a
causa for dermatite seborreica ou rosácea, estas devem ser tratadas.2,4 Em presença de infecção, deve ser usado
um antibiótico tópico apropriado.5
O doente pode aplicar compressas quentes durante 15-20 minutos, duas a quatro vezes por dia.2,3 Isto desprende as crostas das pestanas e dissolve o óleo produzido pela glândula de Meibomius que produz oclusão do orifício
glandular.3 Cada aplicação deve ser seguida de limpeza das pálpebras, usando um produto próprio suave compatível com os tecidos oculares.2
Para aplicação adequada do produto de limpeza, após lavagem das mãos, colocar umas gotas numa cotonete ou
compressa de gaze. Fechar um olho e limpar a pálpebra superior e pestanas com passagens de lado a lado com o
cuidado de não tocar com o aplicador ou os dedos no globo ocular. Abrir o olho, olhar para cima e limpar a pálpebra inferior e as pestanas com passagens de lado a lado. Repetir o procedimento no outro olho com um aplicador
limpo. Enxaguar cuidadosamente após cada limpeza, com agua tépida limpa.2
A aplicação de antibiótico em pomada na margem da pálpebra deverá ser feita ao deitar porque pode turvar temporariamente a visão.3
Quando não haja resposta ao tratamento, deve ser feita uma cultura para despistar organismos resistentes. Neste
caso ou em doentes com diagnóstico de rosácea ocular, podem ser usados antibióticos orais.3
Os doentes devem ser alertados para o carácter crónico da blefarite, podendo ser necessária uma cuidadosa higiene
continuadamente. Quando o processo está controlado, pode ser suficiente a limpeza uma vez por dia.3 Dada a
natureza crónica da blefarite, é preferível a higiene ao uso prolongado de antibióticos tópicos.2 Deve-se evitar esfregar ou apalpar os olhos com os dedos.5
Hordéolo
Vulgarmente conhecido como terçol, treçolho ou terçolho. É um abcesso palpável doloroso, eritematoso que se
apresenta de forma aguda na pálpebra.3 O organismo infectante mais comum é o estafilococo.1,2,5,7,8
O hordéolo externo ocorre por infecção das glândulas de Zeiss ou de Moll.1-3,4 É o mais frequente.8 Usualmente inicia-se com dor, vermelhidão e sensibilidade na margem da pálpebra, seguido por uma área tumescente pequena e
arredondada. Podem estar presentes lacrimejo, fotofobia e sensação de corpo estranho. Geralmente é localizado,
mas o edema pode ser difuso.4 Em geral aparece no centro da tumescência uma pequena marca, um ponto amarelo; na maioria dos casos drena espontaneamente 3-4 dias depois,8 com descarga de pus e alívio da dor.4,5 A dor,
especialmente ao toque, é o principal sintoma.8
O hordéolo interno é mais grave.4 Resulta da infecção da glândula de Meibomius,1-4,7 e pode evoluir para calázio.1,3 A dor,
a vermelhidão e o edema são mais localizados. No lado conjuntival da pálpebra vê-se uma pequena elevação ou área
amarelada.4,8 Posteriormente forma-se um abcesso, habitualmente com a ponta do lado conjuntival da pálpebra.4
Os hordéolos são frequentes na população em geral e especialmente nos doentes com blefarite crónica.1 A recorrência é comum, especialmente se uma conjuntivite ou blefarite subjacentes não são adequadamente tratadas.8
Não se deve espremer a glândula infectada.1 A resolução é acelerada por aplicação de compressas quentes durante
10 a 15 minutos, duas a quatro vezes por dia, 2,4,8 utilizando compressas limpas para cada tratamento.2 Isto ajuda
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a liquefazer as secreções e facilita a drenagem através do orifício da glândula de Meibomius.8 Se não são resolvidos deste modo, posteriormente podem ser associadas pomadas com antibiótico para evitar a extensão a outras
glândulas.1,5,7 Quando a lesão não se resolve, pode ser preciso fazer incisão e drenagem.2,3,8
A supuração pode ser prevenida nos estádios iniciais com antibióticos sistémicos; no entanto, pela natureza leve
e curta, raramente são indicados.4
O hordéolo externo pode ser tratado com antibiótico tópico.2 A aplicação de pomada 4 vezes por dia na fase aguda
e depois 2 vezes por dia na semana seguinte pode ajudar especialmente a prevenir a infecção nos folículos à volta.8
No entanto, num hordéolo interno, como a infecção é profunda, a aplicação tópica de antibióticos é quase sempre
ineficaz;2, 7 é melhor tratar com antibióticos orais.2
Um hordéolo grande pode tornar a visão difícil se não se puder abrir totalmente o olho.9
É necessária uma avaliação médica se houver interferência com a visão, piorar ou não responder aos cuidados, se
aparece com frequência, ficar muito grande ou doloroso ou se existirem crostas ou descamação da pálpebra.9
Calázio
É um engrossamento crónico granulomatoso de uma glândula de Meibomius por oclusão do ducto, frequentemente seguido de inflamação da glândula e do tecido que a rodeia.4 É muito similar em aparência a um hordéolo interno.2,10
O início e progressão são geralmente lentos e associados a poucos sintomas.8 É indolor,1,2,5,8 mas de princípio, antes
do desenvolvimento pode ser doloroso e eritematoso.3 No começo pode ser indistinguível do hordéolo, manifestando-se com edema, tumefacção e irritação. Após uns dias diminui a inflamação, deixando na pálpebra uma massa indolor de crescimento lento. A pele pode ser deslocada sobre a inflamação, que geralmente se apresenta como uma
massa subconjuntival vermelha ou cinzenta.4 Pode ficar tão grande que causa desfiguração,5 podendo ocasionalmente
desenvolver-se infecção secundária.3,5 Se o calázio for grande, pode turvar a visão por distorção da superfície do olho.10
O tratamento é semelhante ao do hordéolo,2 incluindo a aplicação de compressas quentes aplicadas durante 10-15
minutos, 3-4 vezes por dia, que podem acelerar a resolução.1,3,4,10
Se houver sinais de infecção, pode ser usado um antibiótico tópico. A blefarite, quando presente, deve ser tratada.3 Pode estar indicada a injecção intralesional de um corticosteróide depot ou a incisão cirúrgica se não houver
resolução em semanas (4-6).1,4 A injecção com esteróides pode causar hipopigmentação local da pele;3 também
pode afectar a mecânica das pálpebras.
Outros problemas das pálpebras
A alergia usualmente produz edema da pálpebra num ou em ambos os olhos. O tipo de alergia aguda sazonal é
causado por hipersensibilidade ao pólen do ar ou por aplicação directa da mão com pólen no olho, por exemplo
após trabalhos de jardinagem.4
Ocorrem também reacções alérgicas crónicas por dermatite de contacto provocadas por medicamentos oftálmicos,
cosméticos ou metais (como o níquel).1,2,4 Tumefacção, escamas e vermelhidão com prurido são comuns.2
O envolvimento bilateral sugere alergia; questionar os doentes sobre o uso de novos produtos ou medicamentos.2
O único tratamento necessário é retirar a causa.1,2,4 Aplicar compressas frias sobre os olhos fechados pode acelerar
a resolução.2,4 Se o edema persistir mais de 24 horas, pode ser necessário um corticosteróide tópico em pomada
(não mais de 7 dias).4
Pensa-se que o edema alérgico perene da pálpebra se deve a hipersensibilidade a alergenos de fungos, ácaros do pó
ou de animais.4 Também pode aparecer edema da pálpebra em doenças sistémicas com edema, como em patologia
cardíaca, renal ou da tiróide.1 O angioedema hereditário pode causar edema palpebral.4
A infecção por molluscum contagiosum pode aparecer na pálpebra; é provocada por um vírus que se transmite por
contacto directo, sendo mais frequente em crianças e adolescentes. Origina pápulas de cor esbranquiçada com uma
depressão central característica, que aparecem dispersas por ambas as pálpebras.1 Estas lesões víricas podem ser
tratadas com excisão, crioterapia ou curetagem.3
A infecção por vírus herpes também pode afectar a pálpebra. Podem existir infestações por parasitas, como Phthirus
pubis que provocam intenso prurido e inflamação da margem da pálpebra.1 Pode ser usada uma pomada oftálmica
de parafina.2,4,7 A pomada asfixia o parasita e priva o ovo de oxigénio.2,7
*
Na avaliação dos problemas que aparecem na pálpebra é importante questionar sobre a duração, alterações no
tamanho e aparência da lesão e se se trata dum problema recorrente.3 Nalgumas ocasiões os sinais nas pálpebras
podem levar a suspeitar de doenças sistémicas que precisam de diagnóstico.1
Neste tipo de situações, a terapêutica de primeira linha deve incluir o aconselhamento de tratamento não farmacológico, que muitas vezes é suficiente.2
Aurora Simón
Bibliografia
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