Estados Unidos: crise e recuperação da potência mundial

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Texto complementar
Estados Unidos: crise e
recuperação da
potência mundial
João Rua
GEOGRAFIA
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Geografia
Assunto: Imperialismo estadunidense
Estados Unidos: crise e recuperação da
potência mundial
[...] A emergência da superpotência americana inicia-se no século XIX (após a Guerra da Secessão), quando, com exceção de alguns conflitos internos contra os índios no Oeste, começa um sistemático processo de
expansão externa em direção à Ásia do Pacífico e à América Latina. A aquisição do Alasca, comprado à Rússia
em 1867; nesse mesmo ano, a anexação das ilhas Midway; a deflagração da guerra contra a Espanha, em
1898, que impulsionou a expansão para a Ásia e para as Antilhas, marcaram a política americana de superar
as potências europeias na busca por mercados.
Enfim, a influência americana no século XIX foi conseguida graças à obtenção de possessões, protetorados e
à intervenção militar em diversas áreas do mundo, que colocaram os Estados Unidos na primeira linha das potências mundiais, mas também se pode afirmar que houve um “exoterismo carregado de princípios expansionistas
e convertido em pragmatismo, através de aquisições e anexações realizadas pela União” (BARBOSA, 1996, p. 30).
A Primeira Guerra Mundial, ao arruinar os países europeus, facilitou a ascensão dos Estados Unidos, o
que só vai se concretizar, efetivamente, no pós-Segunda Guerra Mundial, quando se torna a potência-líder
do bloco capitalista. No final dos anos de 1950, depois de um século de isolamento estratégico (DAVID, 1993,
p. 13), os Estados Unidos percebem a nova capacidade militar soviética como um perigo e a possibilidade
de sua atuação contra o território americano. Moscou apresenta, ao mesmo tempo, um desafio geopolítico
de grande potência que é preciso conter, e uma ameaça concreta à sociedade e ao modelo político norte-americano. Para Hobsbawm (1995, p. 233), o governo dos EUA precisava de um “anticomunismo apocalíptico” e um inimigo externo ameaçando o país para que, agora convencido de que a América era uma potência
mundial, pudesse convencer, também, os pagadores de impostos nos EUA, acostumados ao tradicional isolamento estratégico, a financiar a nova faceta da política americana.
A corrida armamentista passa a ser prioridade para as duas superpotências nas décadas seguintes e a manutenção da liderança tecnológica frente a seu principal antagonista, mas também frente a seus aliados, torna-se
uma constante obsessão dos Estados Unidos. O mimetismo soviético fará o resto, lançando, em ritmos inéditos, o
recurso às técnicas armamentistas, ao menos como ameaça. A afirmação norte-americana alterna imagens de hiperpotência e de hipervulnerabilidade (DAVID, 1993, p. 14), imagens fracas e fortes. O ano de 1990 serve de exemplo. À imagem de uma América financeiramente enfraquecida sucede a de superpotência na Guerra do Golfo.
A superpotência técnica necessitando recorrer, segundo se alardeou, a financiamentos de outros países
para as operações bélicas. O desmantelamento do império soviético e o seu enfraquecimento na corrida
armamentista permitiram a construção acelerada do papel de superpotência desempenhado pelos Estados
Unidos em escala mundial, com repercussões no âmbito político (novos acordos e alinhamentos – Pax Americana) e no âmbito econômico (conversações na OMC [Organização Mundial do Comércio], visando reduzir
as barreiras aduaneiras ao comércio internacional).
A mundialização do modelo americano tem contado com uma série de fatores que lhe garantiram sucesso a que foram definindo os atributos internos da potência, em processo bastante complexo, se interligando e produzindo problemáticas que não cessam de criar desdobramentos.
Inúmeros têm sido os aspectos que favoreceram o projeto norte-americano de tornar-se uma potência
mundial. Alguns são frutos de ações deliberadas de organização da produção econômica e de expansionismo político/ideológico. Outros ocorreram por acaso e são resultantes da prodigalidade da natureza que,
aqui, mais do que em outros lugares, funcionou como “matriz” (BERQUE, 1983), já que participa da cultura,
da montagem de uma nova relação sociedade/natureza, em que esta se transformou numa série de signos
para a sociedade e se tornou fator importante para a construção da imagem de potência mundial.
RUA, João. Estados Unidos: Ainda a potência dominante no século XXI? In: HAESBAERT, Rogério (Org.). Globalização e
fragmentação no mundo contemporâneo. Rio de Janeiro: Ed. da 2001. p. 56-57.
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