Marcelo D´Agosto Fungicidas microbiológicos

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Universidade de São Paulo
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
LPV-5733-TÓPICOS ESPECIAIS EM AGROECOLOGIA
Departamento de Produção Vegetal
“MODO DE AÇÃO DOS FUNGICIDAS MICROBIOLÓGICOS”
Marcelo Galvão D’Agosto ( N°usp 6912269)
Piracicaba
Dezembro - 2016
As doenças são a principal causa de danos às culturas e às plantas que podem
ser causadas por inúmeros organismos fitopatógenos (agentes causais). Os fungos são
os principais causadores de danos às culturas em todo o mundo. Vírus, nematóides e
bactérias também causam doenças em plantas. Sintomas semelhantes aos causados
por patógenos podem ser causados por fatores abióticos (sem vida), tais como
deficiência nutricional, poluição do ar e também insetos.
Os fungicidas, herbicidas e inseticidas são todos pesticidas utilizados na
proteção de plantas. Um fungicida é um tipo específico de pesticida que controla
doenças fúngicas por inibir ou matar especificamente o fungo causador da doença.
Nem todas as doenças causadas por fungos podem ser adequadamente controladas
por fungicidas. Nestas se incluem murchas vasculares causadas por Fusarium e
Verticillium. Doenças causadas por outros tipos de organismos, desordens causadas
por fatores abióticos e danos por insetos não podem ser controlados por fungicidas.
Então, é essencial que, primeiramente, se determine as causas dos sintomas antes de
aplicar um fungicida.
Por que os fungicidas são necessários?
As doenças são de ocorrência comum em plantas, tendo muitas vezes um
impacto econômico significativo no rendimento e qualidade das culturas, portanto, o
manejo de doenças é um componente essencial na produção agrícola. De forma geral,
existem três razões principais para o uso de fungicidas:

Controlar uma doença durante a fase de estabelecimento e
desenvolvimento de uma cultura

Incrementar a produtividade de uma cultura e reduzir os danos
estéticos. Culturas de interesse alimentar podem produzir menos porque as
suas folhas, as quais são necessárias para a fotossíntese, estão afetadas pela
doença . Danos estéticos podem afetar a parte comestível de uma cultura ou,
no caso das ornamentais, sua atratividade, o que em ambos os casos pode
afetar o valor de mercado de uma cultura.

Aumentar o período de armazenagem e a qualidade do produto
e das plantas colhidas. Algumas das grandes perdas ocasionadas por doenças
ocorrem na pós-colheita. Os fungos freqüentemente estragam (inutilizam)
frutos, vegetais, tubérculos e sementes armazenados. Um pequeno grupo de
fungos que infectam grãos, produzem toxinas (micotoxinas) capazes de causar
doenças graves, ou mesmo a morte, em serem humanos e animais, quando
estes grãos são consumidos. Os fungicidas têm sido utilizados para reduzir a
contaminação de grãos de trigo afetados pela giberela ou fusariose do trigo,
mas a maioria dos fungicidas desenvolvidos até agora não têm sido
suficientemente efetivos para serem úteis no manejo (controle) de micotoxinas
associadas com outras doenças.
Função dos fungicidas no manejo de doenças
As doenças de plantas são manejadas (controladas) de melhor forma pela
integração de um número de práticas de controle que podem incluir: rotação de
culturas, seleção de cultivares tolerantes ou resistentes à doença (cultivares
geneticamente menos suscetíveis que outras cultivares), momento de plantio, nível de
fertilidade, modificação do microclima, profilaxia e aplicação de fungicidas. Fungicidas
são muitas vezes uma parte vital do manejo de doenças pois (a) eles controlam
satisfatoriamente muitas doenças, (b) as práticas culturais muitas vezes não
proporcionam controle adequado das doenças, (c) cultivares resistentes muitas vezes
não estão disponíveis ou não são aceitas pelo mercado e (d) algumas culturas de alto
valor têm uma tolerância extremamente baixa à ocorrência dos sintomas.
Em contraste com a maior parte dos medicamentos humanos, uma boa parte
dos fungicidas precisam ser aplicados antes que a doença ocorra, ou no momento em
que os primeiros sintomas são visíveis, para serem eficazes. Ao contrário de muitas
doenças de humanos e animais, o dano causado por doenças em plantas não é
eliminado, mesmo que o patógeno seja morto. Isto porque as plantas crescem e se
desenvolvem diferentemente de animais. Os fungicidas só podem proteger da doença
os novos tecidos sem infecção. Além disto, poucos fungicidas são eficazes contra
patógenos após eles terem infectado uma planta.
Biofungicidas ou Fungicidas Microbiológicos:
Os biofungicidas são compostos de microrganismos benéficos, como fungos ou
bactérias que atuam sobre a doença patogênica em plantas. Os biofungicidas são uma
alternativa aos fungicidas químicos e são usados como parte de um programa de
gestão da doença, a fim de reduzir o risco de doenças de plantas. Além disso, são
produtos naturais que evitam agressões ao meio ambiente e aos trabalhadores na
lavoura.
A ação ocorre com o biofungicida se alimentando do fungo fitopatogênico,
parasitando-o. Nesse processo o biofungicida detecta o fungo alvo e se desenvolve em
direção a ele. Ao alcançá-lo, inicia um ataque bioquímico através da produção de
exoquitinase extracelular que se difunde e catalisa a liberação de oligômeros da
parede celular do fungo alvo, que irão induzir a liberação de endoquitinases
fungitóxicas pelo biofungicida sobre o alvo, antes do crescimento tópico sobre fungo
No mercado atual de produtos biológicos para o controle de Sclerotinia
sclerotiorum existe uma diversidade de fungicidas biológicos, sendo a maioria
formulados a partir do fungo Trichoderma spp., que é um fungo antagonista de
ocorrência natural, atuando na inibição e destruição de fungos fitopatógenos.
Para isso, utilizam a antibiose (mecanismos como antibióticos, toxinas e
enzimas), que afeta o desenvolvimento e degrada as paredes celulares dos fungos
fitopatógenos, invadindo-os para utilização de seus nutrientes. A produção de enzimas
extracelulares, incluindo ß-1, 3-glucanase, quitinase, celulase, protease e metabólitos
antifúngicos também são fatores importantes na destruição dos micélios e limitação
do crescimento dos fitopatógenos.
Além disso, podem atuar também na decomposição de matéria orgânica e na
degradação de resíduos tóxicos em solos contaminados com agrotóxicos. No caso
desses fungicidas biológicos formulados com Trichoderma, o engenheiro agrônomo,
entomologista e consultor em Fitossanidade Sustentável, Fernando Fonseca, considera
duas tecnologias disponíveis no mercado:
Esporos: é nessa tecnologia que se encontra a maioria dos fungicidas
biológicos, e tem como ingrediente ativo esporos do fungo Trichoderma spp. O esporo
é a estrutura de reprodução do fungo, sendo basicamente uma célula envolvida por
uma parede celular que a protege até que as condições ambientais se mostrem
favoráveis à sua germinação.
Então, quando se aplica um fungicida biológico formulado em esporos, sempre
se deve pensar em tratamento preventivo, além da necessidade que se faça sob
condições ambientais favoráveis (alta temperatura, alta umidade, tempo de exposição
a essas condições ambientais, baixo índice de raios UV) para que ocorra a germinação,
e se transforme em micélio, que é a estrutura do fungo capaz de degradar o fungo
patógeno e se alimentar dele.
Já o tratamento curativo com a tecnologia de esporos pode ser considerado
arriscado, pois se não houver condições ambientais favoráveis o tratamento
certamente não será efetivo no momento em que a fitossanidade do cultivo exige.
Normalmente, essa tecnologia é empregada para controle de doenças de solo,
como é o caso da S. sclerotiorum no início do cultivo.
Micélios + carga enzimática: esta tecnologia pode ser considerada a “evolução”
da tecnologia de esporos, pois a partir dela é possível obter resultados de controle
efetivos e em um curto espaço de tempo. Assim, pode ser comparada aos fungicidas
químicos em relação ao tempo de ação no controle do fitopatógeno.
O micélio é a estrutura do fungo responsável pela sustentação e absorção de
nutrientes, ou seja, é o responsável pela alimentação do fungo; é a estrutura que vai
degradar o fungo fitopatógeno.
Fernando Fonseca afirma que esta tecnologia apresenta, além de micélios do
fungo Trichoderma spp., uma alta quantidade de complexos enzimáticos do tipo
celulase, quitinase e protease, produzidas pelo próprio Trichoderma spp. “Essa alta
quantidade de enzimas é capaz de degradar as paredes do micélio fúngico
fitopatógeno devido à quebra das moléculas que as compõem, e abre o caminho
rapidamente para que o micélio do Trichoderma spp. penetre no corpo do fungo
fitopatógeno, se alimente do mesmo, e o deixe controlado devido à destruição das
suas paredes celulares”, discorre o profissional.
A tecnologia pode ser empregada tanto para doenças de solo quanto para
aquelas da parte aérea da planta.
A utilização dos produtos biológicos representa uma alternativa aos fungicidas
convencionais, por:
– Restrição de usos de fungicidas convencionais: em geral existe uma
tendência pela eliminação de produtos de natureza “química” por parte das
autoridades. Grandes números de substâncias estão sendo questionadas, e a
tendência é maior, pois se abre um espaço a produtos de origem natural alternativos a
outros formulados químicos.
– Fenômenos de resistências a fungicidas: à medida que as aplicações de um
mesmo fungicida químico têm sido realizadas de maneira repetitiva durante grandes
períodos e durante vários ciclos de cultivo, os fungos estão desenvolvendo maior
resistência a estes princípios ativos, pois produtos muito efetivos inicialmente estão
perdendo parte de sua eficácia.
De acordo com o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento os
fungicidas Microbiológicos liberados são:
Exemplos de Biofungicidas e como agem:
TRICHODERMIL® é um fungicida microbiológico composto de linhagem
selecionada do fungo Trichoderma harzianum, denominada ESALQ 1306. Certificado
como insumo aprovado pelo IBD, foi o primeiro fungicida biológico registrado no
Brasil.
TRICHODERMIL® contribui para restabelecer o equilíbrio do solo e a
performance das culturas, através do controle de patógenos, ciclagem de nutrientes e
interação com plantas e organismos do solo.
Modo de ação
O fungo Trichoderma harzianum apresenta diferentes mecanismos de ação
para o controle e supressão de fitopatógenos de solo, tais como micoparasitismo,
antibiose e antagonismo.
O micoparasitismo é a ação direta de parasitismo em outros fungos de solo,
enquanto a antibiose é o bloqueio químico decorrente da produção de enzimas e
antibióticos pelo Trichoderma no início do desenvolvimento vegetativo da planta.
A rápida e eficiente colonização da rizosfera pelo Trichoderma faz com que ele
seja um fungo antagonista, que inibe a ocupação do espaço por outros organismos que
também se desenvolvem no solo. Isso estimula e induz a planta a se tornar mais
resistente ao ataque de patógenos e pragas de solo, tais como nematoides.
Serenade®:
SERENADE® é um fungicida bactericida microbiológico que possui múltiplos
modos de ação. Os lipopeptídeos produzidos pelo Bacillus subtilis QST713 presentes na
formulação atuam na membrana celular das estruturas reprodutivas do fungo,
provocando sua deformação e produzindo rupturas. O Bacillus subtilis também age por
competição de espaço e nutrientes na superfície vegetal da planta e no solo junto ao
sistema radicular. É usado em pulverização preventiva no controle de doenças.
• Dado o efeito protetor, deve-se fazer uso preventivo de Serenade,
recomendando-se as menores dosagens onde houver menor pressão de inóculo e/ou
em condições climáticas menos favoráveis ao desenvolvimento das doenças.
• As aplicações preventivas podem ser repetidas com intervalo de 7 dias,
usando-se volume de calda e tamanho de gotas adequado à boa cobertura das partes
das culturas (folhas, flores e/ou frutos), conforme indicado na tabela acima.
• Alternar o uso preventivo de Serenade com outros fungicidas químicos
convencionais registrados para as culturas, para o manejo de resistência e um melhor
controle. • Nas aplicações foliares utilizar adjuvante conforme recomendação do
fabricante, exceto para as hortaliças folhosas como alface.
Doenças controladas:

Mancha-de alternaria (Alternaria dauci)

Mancha-púrpura (Alternaria porri)

Mofo-cinzento (Botrytis cinerea)

Antracnose (Colletotrichum gloeosporioides)

Podridão-olho de-boi (Cryptosporiopsis)

Amarelão Tombamento (Pythium ultimum)

Oídio (Sphaerotheca macularis)

Mofo-branco Podridão-de Sclerotínia (Sclerotinia sclerotiorum)
Fotos 1: Mancha púrpura em cebola.
Foto 2: Colletotrichum gloeosporioides
Foto 3: Sclerotinia sclerotiorum
Foto 4: Botrytis cinerea
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