REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DO ADJETIVO EM LIVROS DIDÁTICOS DE ENSINO FUNDAMENTAL Maria Silmara Saqueto (Monitoria Remunerada/ Unicentro), Cristiane Malinoski Pianaro Angelo (Orientadora), e-mail: [email protected] Universidade Estadual do Centro-Oeste/ Departamento de Letras –Irati– PR Palavras-chave: adjetivos, livros didáticos, ensino fundamental. Resumo: Fundamentado nos pressupostos de Linguística Descritiva e da Linguística Aplicada, o presente trabalho objetiva discutir o ensino da classe gramatical adjetivos em dois livros didáticos de 5ª série do ensino fundamental. Os resultados das análises demonstram que é necessária uma readequação das atividades propostas pelos livros didáticos, tendo em vista desenvolver um trabalho voltado à concepção interacionista de linguagem. Introdução Conforme Travaglia (1996), são três as concepções de linguagem que orientam o ensino da Língua Portuguesa na sala de aula: a primeira concepção percebe a linguagem como a expressão do pensamento, baseada em um esquema que deixa de considerar a heterogeneidade linguística, enfatizando a gramática teórico-normativa; a segunda concepção, por sua vez, entende a linguagem como instrumento da comunicação. Aqui a língua é vista como um código capaz de transmitir uma mensagem, isolada de seu uso. A terceira, por fim, compreende a linguagem como forma de interação, em que os falantes têm papel ativo e produtivo em relação à língua. Com base no exposto, acredita-se que o ensino de língua materna deve adotar as abordagens da terceira concepção de linguagem, sem preconizar uma doutrina fundamental de “certo” e “errado”, tampouco basear-se em critérios de conceituar e classificar para entender e seguir as prescrições em relação à concordância, à acentuação, à pontuação e ao uso ortográfico, ou seja, reduzir o ensino de Língua Portuguesa a um sistema de “decoreba”, de maneira descontextualizada. Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009 A linguagem deve, pois, ser vista como uma forma de interação, como trabalho coletivo, de natureza sócio-histórica, que se realiza por meio de práticas e grupos sociais, em que os falantes atuam como sujeitos e o diálogo é o que caracteriza a linguagem. Os três eixos que regem o ensino de Língua Portuguesa – leitura, produção textual e gramática – devem ser estudados de maneira a proporcionar novas habilidades linguísticas ao aluno, proporcionando-lhe condições de ler e produzir textos de forma crítica e criativa. O estudo da gramática deve, portanto, ganhar uma abordagem diferenciada. Os aspectos gramaticais devem ser estudados por meio de processos reflexivos dos sujeitos-aprendizes em relação aos recursos textuais, lexicais e gramaticais, levando-se em consideração o contexto de produção e os fatores veiculados no processo de leitura, de construção e reescrita textuais. Materiais e Métodos A pesquisa foi desenvolvida por meio da análise de explicações e atividades referentes ao ensino da classe gramatical adjetivos, sugeridas por dois livros didáticos, ambos de 5ª série. Os livros utilizados foram Português: leitura e expressão (2002), de autoria de Márcia Leite e Cristina Bassi e Português: ideias e linguagens (2010), das autoras Dileta Delmanto e Maria da Conceição Castro. Para a escolha dos livros levou-se em consideração que ambos integram o Catálogo Nacional do Livro Didático – PNLD, programa que visa proporcionar obras didáticas de boa qualidade para as escolas. Num primeiro momento, fundamentando-se nos pressupostos da Linguística Aplicada, discutiram-se as diferentes concepções de linguagem que podem orientar a prática pedagógica e os tipos de ensino de língua e, por meio dos pressupostos da Linguística Descritiva, questionou-se o conceito de adjetivo proposto pela gramática tradicional, bem como apresentaram-se outros conceitos que amplificam as noções a respeito dessa classe gramatical. Após essa discussão, analisaram-se algumas explicações e exercícios sugeridos pelos livros didáticos, destacando-se os pontos positivos da abordagem e/ ou os possíveis aspectos que precisam ser melhorados para que o ensino dos adjetivos realmente seja concretizado com qualidade no contexto escolar. Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009 Resultados e discussões Com base nas análises feitas em ambos os livros didáticos, compreende-se que, em relação ao livro Português: leitura e expressão, o livro Português:ideias e linguagens, mesmo com alguma limitação, aproxima-se mais da concepção interacionista de linguagem e de um ensino de língua produtivo, embora ainda forneça, em sua maioria, exercícios de fixação e repetição. Dessa forma, acredita-se que, apesar de os livros trazerem sugestões de estímulos de leitura, discussões dirigidas, produção textual depois de explorar previamente o tema do texto a ser produzido, fatores que podem ser eficazes e produtivos para o ensino de Língua Portuguesa, no momento de ensinar os aspectos gramaticais, percebe-se que estes estão isolados de todo o restante da unidade, pois não se faz nenhuma relação com os textos e atividades anteriores. A abordagem utilizada pelos livros didáticos ainda está voltada à primeira e à segunda concepção de linguagem, pois as respostas prontas evidenciam a doutrina do certo e do errado. É oferecido um ensino prescritivo, que procura ensinar por meio da repetição e memorização e, consequentemente, ocorre uma supervalorização da nomenclatura. Conclusões Com esta pesquisa conclui-se que o estudo dos adjetivos ainda é baseado principalmente nos moldes da gramática tradicional, reduzindo o estudo dos aspectos gramaticais a um processo de repetição e fixação, não dando subsídios para um ensino de língua produtivo e proveitoso para a formação do aluno. Compreende-se, assim, que é necessária uma readequação das atividades propostas pelos livros didáticos, com a finalidade de desenvolver um trabalho voltado à concepção interacionista de linguagem, na qual o aluno tem papel ativo em relação ao texto. Somente quando forem dados ao professor subsídios e recursos condizentes com a teoria propagada e os livros didáticos trazerem atividades contextualizadas e produtivas é que o trabalho com aspectos gramaticais possibilitará a ampliação da competência leitora do aluno, bem como a capacidade de construção de texto, que são os verdadeiros propósitos do ensino de língua. Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009 Referências BRASIL. Diretrizes curriculares de língua portuguesa para os ensinos fundamental e médio. Brasília MEC, dez 1996. BASSI, C.; LEITE, M. Português: leitura e expressão. São Paulo: Atual, 1996. CASTRO, M.C.; DELMANTO, D. Português: ideias e linguagens, 12 ed., São Paulo: Saraiva, 2006. TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez, 1996. Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009