158 EXPERIMENTOS EM FAIXAS 1. Introdução Os experimentos em faixas (split block) distinguem-se dos experimentos em parcelas divididas pela distribuição dos tratamentos não serem inteiramente casualizados nas unidades experimentais, mas, sim, dispostos de modo a formarem faixas. Este esquema experimental pode ser conveniente nas situações onde pode-se facilitar as operações físicas de instalação, normalmente onde é necessário testar fatores que exigem áreas bastante grandes. No entanto, neste tipo de experimento ocorre uma diminuição da precisão de avaliação dos efeitos principais dos fatores A e B e, propicia maior precisão na interação, que será melhor determinada do que num ensaio em blocos casualizados ou em parcelas divididas. Considerando que os números de graus de liberdade associados aos resíduos para os fatores A e B são, em geral, pequenos, é recomendado ser usado somente nas situações em que considerações práticas indiquem seu uso, existem dificuldade de aplicar os fatores em parcelas pequenas ou quando a interação seja o principal objetivo em estudo. Por exemplo, suponha um experimento para testar o fator A em quatro níveis e outro fator B em dois níveis usando três blocos de um ensaio em blocos casualizados. Após a casualização do fator A nas colunas e do fator B nas linhas, um esquema de instalação é Bloco I Bloco II Bloco III a4b1 a3b1 a1b1 a2b1 a2b1 a1b1 a4b1 a3b1 a1b2 a4b2 a2b2 a3b2 a4b2 a3b2 a1b2 a2b2 a2b2 a1b2 a4b2 a3b2 a1b1 a4b1 a2b1 a3b1 Observa-se que a casualização é feita em dois estágios; primeiro casualiza-se os níveis do fator A nas colunas e, em seguida, os níveis do fator B nas linhas. Cada linha pode ser considerada como um bloco completo em relação ao fator A e cada coluna como um bloco do fator B. Esse tipo de experimento pode ser útil em situações, tais como: a) deseja-se estudar o comportamento simultâneo da aplicação de fósforo a lanço e no sulco e para facilidade de aplicação das doses, esta é feita em faixas; b) quando tem-se métodos de preparo do solo e profundidades de avaliação; c) estudo de espaçamento e adubação de cobertura; d) espaçamentos de plantio e densidades de plantio e e) nas situações práticas onde é difícil a instalação do experimento no esquema de parcelas subdivididas ou em fatorial. Uma farta bibliografia sobre o assunto, sua aplicação e a metodologia de análise está ressaltada em 159 diversos textos, de estatística experimental, tais como, Piedade (1987), Banzato e Kronka (1995), Pimentel Gomes (2000), dentre outros. A única vantagem deste esquema é que permite a aplicação de fatores que não podem ser usados em parcelas pequenas e, como desvantagem apresenta precisão diferente na estimação da interação e efeitos principais e, ainda, uma análise um pouco mais complicada. Será discutida a forma de análise de variância de em experimento instalado no delineamento em blocos casualizados, sendo os tratamentos dispostos no esquema de faixas com dois fatores. Seja J o número de blocos, I o número de níveis do fator A e K o número de níveis do fator B. Supondo J = 3, I = 3 e K = 4. As parcelas são em número de nove (I x J = 3 x 3 = 9); os 8 graus de liberdade para comparações entre parcelas são decompostos em 2 graus de liberdade para blocos, 2 graus de liberdade para o efeito principal do fator A e 4 graus de liberdade para o erro experimental existente entre as parcelas, que corresponde ao resíduo (a). Existem 3 graus de liberdade associado com a variação entre os níveis do fator B e seis (2 x 3) relativo a interação blocos x fator B, que corresponde ao resíduo (b) e, ainda, 6 graus de liberdade para a interação A x B e 12 graus de liberdade para um erro experimental ou resíduo (c). O esquema de análise de variância de um experimento em faixas conduzido nos delineamentos experimentais inteiramente casualizados e blocos casualizados, está mostrado na Tabela 76. Tabela 76. Esquema de análise de variância de um experimento em faixas com I tratamentos primários, K tratamentos secundários e repetidos J vezes nos delineamentos experimentais inteiramente casualizado e blocos casualizados. Inteiramente Casualizado Blocos Casualizados V.C.M. G.L. V.C.M. G.L. Fator A I-1 Blocos J-1 Resíduo(a) I(J-1) Fator A I-1 Parcelas IJ-1 Resíduo(a) (I-1)(J-1) Fator B K-1 Parcelas IJ-1 Resíduo (b) (J-1)(K-1) Fator B K-1 AxB (I-1)(K-1) Resíduo(b) (J-1)(K-1) Resíduo (c) (I-I)(J-1)(K-1) AxB (I-1)(K-1) Total IJK-1 Resíduo(c) (I-1)(J-1)(K-1) Total IJK-1 160 2. Um modelo linear Um modelo linear adequado para um experimento em blocos casualizados com os tratamentos dispostos em faixas é y ijk a i b j abij c k bc jk abik ijk onde com: i = 1,2, ..., I níveis do fator A; j = 1,2, ..., J blocos; k = 1,2, ..., K níveis do fator B; yijk é o valor observado na parcela correspondente ao k-ésimo nível do fator B, no do i-ésimo nível do fator A e no j-ésimo bloco; é uma constante inerente a todas as observações (às vezes, representa a média geral); ai é o efeito do i-ésimo nível do fator A; bj é o efeito do jésimo bloco; abij é o efeito da interação fator A x blocos (considerada como o resíduo(a)); ck é o efeito do k-ésimo nível do fator B; bcjk é o efeito da interação fator B x blocos (considerada como o resíduo(b)); acik é o efeito de interação entre o i-ésimo nível do fator A e o k-ésimo nível do fator B; ijk é o erro aleatório atribuído a observação yijk , considerado como o componente do resíduo. 3. Um exemplo Os dados da Tabela 77 são provenientes de um experimento conduzido no delineamento em blocos casualizados com três repetições, com os tratamentos constituídos por três laminas de irrigação (0%, 30% e 60% da EPA) e por quatro tipos de amostragem (ápice, base, geral e externa) em plantas de tangerina cravo. Tabela 77. Valores do peso por fruto da tangerineira cravo em função das lâminas de irrigação, tipos de amostragem e blocos. Blocos I II III Total Lâminas 0 30 60 0 30 60 0 30 60 Posição de Amostragem Ápice 150 188 220 147 157 173 146 172 204 1557(9) Base 163 174 170 141 166 165 140 158 163 1440 Fonte: Dados adaptados de P.A.M. Silva (1999). SQTot = 1702 + 1632 + ... + 1752 - C = 12388,00 Geral 164 182 170 133 144 152 149 142 150 1386 Total Externa 171 182 182 140 143 170 150 160 175 1473 648(4) 726 742 561 610 660 585 632 692 5856(36) 161 C = (5856)2/36 = 952576,00 Para cálculo da soma de quadrado de parcelas, de blocos, de lâmina e do resíduo (a), deve-se organizar uma tabela auxiliar que relaciona os totais dos níveis de lâmina com blocos: Lamina 0 30 60 Total SQBlo = 1 12 (4)(3) 1 4 Bloco 2 561 610 660 1831 Bloco 3 585 632 692 1909 Total 1794(12) 1968 2094 5856(36) (21162 18312 19092 ) - C = 3615,50 1 SQLam = SQPar = Bloco 1 648(4) 726 742 2116(12) (17942 19682 20942 ) - C = 3782,00 ( 6482 5612 692 2 ) - C = 7543,50 SQBloxLam = SQRes(a) = SQPar - SQLam - SQBlo = 7543,00 - 3782,00 – 3615,20 = 146,00 Para calcular a soma de quadrados de Posição de Amostragem e para o resíduo(b), deve-se organizar uma tabela auxiliar que relaciona os níveis de posição com blocos: Posição Ápice Base Geral Externa Total SQPos = 1 (3)(3) SQBlo e Pos = Bloco 1 558(3) 507 516 535 2116(12) Bloco 2 477 472 429 453 1831 Bloco 3 522 461 441 485 1909 Total 1557(9) 1440 1386 1473 5856(36) (15572 14402 13862 14732 ) - C = 1710,00 1 (3) (5582 4772 4852 ) - C = 5813,33 SQBloxPos = SQRes(b) = SQBloePos - SQBlo - SQPos = 5813,33 – 3615,50 – 1710,00 = 487,83 E, para calculo da interação sugere-se organizar uma tabela auxiliar que relaciona os totais de níveis de lâmina com os níveis de posição: Lâmina 0% 30% 60% Total Posição Ápice 443(3) 517 597 1557(9) Base 444 498 498 1440 Total Geral 446 468 472 1386 Externa 461 485 527 1473 1794(12) 1968 2094 5856(36) 162 SQL e P = 1 (3) (4432 4442 4722 5272 ) - C = 7187,33 SQLamxPos = SQL e P - SQLam - SQPos = 7187,33 – 3782,00 - 1710,00 = 1695,33 E, a soma de quadrados do resíduo (c) é obtida pela diferença SQRes(c) = SQTot - SQBlo - SQLam - SQRes(a)- SQPos - SQRes(b) - SQLxP = 951,84 Obtidas as somas de quadrados, pode-se construir a análise de variância (Tabela 78). Tabela 78. Análise de variância para os dados de peso por fruto. V.C.M. G.L. S.Q. Q.M. Blocos 2 3615,00 1807,50 Lâmina 2 3782,00 1891,00 Resíduo(a) 4 146,00 36,50 Posição 3 1710,00 570,00 Resíduo (b) 6 487,83 81,31 Lam x Pos 6 1695,33 282,56 Resíduo(c) 12 951,84 79,32 Total 35 12388,00 Fc Prob > F 51,81 0,0028 7,01 0,0224 3,56 0,0289 Verifica-se que houve efeito significativo de lâmina, posição de amostragem e interação sobre os resultados de peso por fruto. Prob > F indica o nível de significância do valor de Fc, por exemplo, 0,0289 é a probabilidade do valor Fc = 3,56 ser significativo, logo este valor é significativo a 5%, mas não o é a 1%, é uma probabilidade de 2,89%, intermediária. Nesses experimentos podem ser distinguidos três coeficientes de variação: em relação as laminas: C.V.(a) = 36,50 QM Re s( a ) 100 = 100 = 3,71% 162,67 y ... em relação as posições: C.V.(b) = 81,31 QM Re s(b) 100 = 5,54% 100 = 162,67 y ... e, em relação a interação: C.V.(c) = QM Re s( c) y ... 100 = 79,32 162,67 100 = 5,47% 163 Em geral, espera-se que os C.V.(a) e C.V.(b) sejam sempre maior que ou igual ao C.V.(c); quando isto não ocorre possivelmente existe alguma correlação entre as subparcelas ou o modelo adotado não é o mais adequado, entre outras possibilidades. 4. Comparações múltiplas Admitindo-se a possibilidade de rejeição das hipóteses de nulidade, referentes aos efeitos de laminas, posição e interação, tem-se interesse em comparar as médias desses tratamentos usando os procedimentos usuais. Para isto precisa-se das estimativas das variâncias entre duas médias, que são obtidas segundo a metodologia exposta e são considerados os seguintes casos: a) Um contraste entre duas médias de tratamentos A (duas médias de lâminas) A estimativa da variância é Var( yi.. yi'.. ) = 2 2 36,50 = 6,0833 QM Re s( a ) = (3)(4) JK Para a aplicação de algum teste de médias, como o teste de Tukey, a diferença mínima significativa () é dada por = q[I ; GLRes(a) ; %] 1 1 ( y i.. y i ' . ) = 5,04 ( 6,0833) = 8,8 Var 2 2 sendo q o valor tabelado, obtido em função de I tratamentos A e GLRes(a) número de graus de liberdade do resíduo (a) a um nível de significância desejado, ou seja, q[3 ; 4 ; 5%] = 5,04. b) Um contraste entre duas médias de tratamentos B (duas médias de posição) A estimativa da variância é: ( y..k y..k ' ) Var 2 2 81,31 = 18,0689 QM Re s(b) = ( 3)( 3) IJ Para a aplicação de algum teste de médias, como o teste de Tukey, a diferença mínima significativa () é dada por = q[K ; GLRes(b) ; %] 1 1 ( y..k y..k ' ) = 4,90 (18,0689) = 14,7 Var 2 2 sendo q o valor tabelado, obtido em função de K tratamentos B e GLRes(b) número de graus de liberdade do resíduo(b) a um nível de significância desejado, ou seja, q[4 ; 6 ; 5%] = 4,90. c) Um contraste entre duas médias de tratamentos B, dado um tratamento A A estimativa da variância para a diferença entre duas médias de posição dado uma lâmina é: 164 ( yi.k yi.k ' ) Var 2 QM Re s(b) ( K 1)QM Re s( c) 2 81,31 (4 1) 79,32 = = 53,212 3 4 J K Para a aplicação de algum teste de médias, como o teste de Tukey, a diferença mínima significativa () é dada por = q[K ; v1 ; %] 1 1 ( yi.k yi.k ' ) = 4,00 (53,212) = 20,6 Var 2 2 sendo q o valor tabelado, obtido em função de I tratamentos primários e v1 número de graus de liberdade associado à combinação dos dois resíduos, a um nível de significância desejado, ou seja, q[4 ; 18 ; 5%] = 4,00. Com v1 obtido de acordo com Satterthwaite (1947) através de v1 = [QM Re s(b) ( K 1)QM Re s(c)]2 [QM Re s(b)]2 GL Re s(b) [( K 1)QM Re s(c)]2 = [81,31 (4 1)79,32)]2 [81,31]2 6 GL Re s(c) [(3)79,32]2 = 17,5 18 12 d) Um contraste entre duas médias de tratamentos A, dado um tratamento B A estimativa da variância para a diferença entre duas médias de lâminas dado uma posição é: ( yi.k yi '.k ) Var 2 QM Re s(a ) ( K 1)QM Re s( c) 2 36,5 (4 1)79,32 = = 45,74 3 ( 4) J K Para a aplicação de algum teste de médias, como o teste de Tukey, a diferença mínima significativa () é dada por = q[I ; v ; %] 1 1 ( y i.k y i '.k ) = 3,67 (47,74) = 17,6 Var 2 2 sendo q o valor tabelado, obtido em função de I tratamentos A e v2 número de graus de liberdade, a um nível de significância desejado, ou seja, q[3 ; 15 ; 5%] = 3,67, com v2 obtido (Satterthwaite, 1947) através de v2 = [QM Re s(a ) ( K 1)QM Re s(c)]2 [QM Re s(a )]2 GL Re s(a ) [( K 1)QM Re s(c)]2 GL Re s(c) = [ 36,50 ( 4 1) 79,32]2 [ 36,50]2 4 [( 3) 79,32]2 = 14,9 15 12 Para comparar os tratamentos de modo mais fácil, pode-se reunir as comparações entre as médias e a aplicação do teste de Tukey numa única Tabela 79. Observa-se que na lâmina de 60% houve efeito significativo das posições, sendo que o ápice apresentou frutos mais pesados do que nas demais posições; já na lâmina de 30% e na ausência de irrigação não foi verificado diferença entre os pesos dos frutos em função das posições. Por outro lado, os 165 frutos da base e geral não apresentaram significativa em função dos manejos da irrigação, já no ápice a irrigação com 60% propiciou frutos mais pesados e sem irrigação, os frutos menos pesados; na posição externa, os frutos irrigados com 60% e 30% não diferiram entre si, mas na irrigação de 60% ocorreram frutos mais pesados do que sem irrigação. Na média geral observa-se que, o ápice apresentou frutos mais pesados, enquanto que, os frutos da base e da amostragem geral foram os menos pesados; quanto a irrigação, verificou-se que frutos mais pesados foram obtidos com o uso de 60% da EPA e os menores quando não de irrigou. Tabela 79. Valores médios dos pesos por fruto (g) em função das lâminas de irrigação e posição de amostragem dos frutos de tangerina murcotte e respectivas comparações usando o teste de Tukey. Lâminas Posição Média Ápice Base Geral Externa 0% 147,7 c A 148,0 a A 148,7 a A 153,7 b A 149,5 c 30% 172,3 b A 166,0 a A 156,0 a A 161,7 ab A 164,0 b 60% 199,0 a A 166,0 a BC 157,3 a C 175,7 a B 174,5 a 173,0 A 160,0 AB 154,0 B 163,7 AB 162,7 Média Em cada coluna, médias seguidas de uma mesma letra minúscula não diferem entre si pelo teste de Tukey (P > 5%). Idem para letras maiúsculas em cada linha. Exercício 1. Um experimento foi realizado com o objetivo de comparar posições de coletas de frutos na árvore, sendo os tratamentos constituídos de: altura dos frutos (parte superior, mediana e inferior da planta) e posição dos pontos cardeais na planta (norte, sul, oeste e leste). O delineamento experimental foi em blocos casualizados com três repetições, com os tratamentos considerados como dispostos no esquema de faixas. Os valores obtidos de peso por fruto (g) da tangerina murcote, em função dos tratamentos foram: Posição Superior Mediana Inferior Ponto Cardeal Norte Sul Oeste Leste Norte Sul Oeste Leste Norte Sul I 148 111 140 142 142 116 124 142 120 123 Blocos II 151 154 180 144 136 128 121 135 131 117 III 159 169 151 148 162 145 157 156 124 129 166 Oeste Leste 125 129 113 128 a) Faça a análise de variância com interpretação dos resultados; b) Faça um desdobramento da interação e comente os resultados. 127 137