Título: MODELAGEM E IDENTIFICAÇÃO DE CARGAS NO DOMÍNIO TEMPO Autores: Fernando Soares dos Reis, Member, IEEE ** Paulo Ribeiro, Fellow, IEEE Guilherme A. Dentzien Dias Marcos Telló Vicente Mariano Canalli Júlio César Marques de Lima Uiraçaba A. S. Sarmanho Reinaldo Tonkoski Jr., Student Member, IEEE Gert Bolten Maizonave Fabiano Daher Adegas Gabriel Bartz Ceccon Endereço: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Faculdade de Engenharia LEPUC – Laboratório de Eletrônica de Potência da PUCRS Av. Ipiranga, 6681 CEP: 90619-900, Porto Alegre, RS - Brasil. **Calvin College Electrical & Computer Engineering Department Office SB134 Telefone: +55 (51) 3320 3686 / 3320 3500 Ramais: 4156, 4571, 3686 SubRamais: 216, 224 e 225 Fax: +55 (51) 3320 3625 E-mail: [email protected] Autor para Contato: Fernando Soares dos Reis Área de Interesse: Qualidade de Energia Elétrica Abstract – In this paper it is presented a methodology for load modeling useful for time domain simulations. Those models allows to determinate the correlation between diverse types of load and the power quality in the electric mains in virtual environments and may be used with simulation programs like PSIM©, Matlab© or ORCAD©. It is presented load models for typical full bridge single phase rectifiers with output capacitor and input inductor filtering; three phase rectifiers and typical linear loads. MODELAGEM E IDENTIFICAÇÃO DE CARGAS NO DOMÍNIO TEMPO Abstract – In this paper it is presented a methodology for load modeling useful for time domain simulations. Those models allows to determinate the correlation between diverse types of load and the power quality in the electric mains in virtual environments and may be used with simulation programs like PSIM©, Matlab© or ORCAD©. It is presented load models for typical full bridge single phase rectifiers with output capacitor and input inductor filtering; three phase rectifiers and typical linear loads. Keywords – Qualidade de Energia, Índices de Qualidade. I. INTRODUÇÃO Neste artigo serão apresentadas várias abordagens metodológicas que irão permitir a modelagem dos principais tipos de cargas encontradas nos ambientes Universitários. Foi identificado na Faculdade de Engenharia da PUCRS há existência de um grande número de cargas não lineares monofásicas, constituídas na sua maioria por um retificador em ponte completa associado a um capacitor de filtragem. Assim, surgiu à necessidade de que fosse desenvolvido um estudo específico que permitisse a modelagem destas cargas. Na bibliografia não foi possível identificar nenhum trabalho que apresentasse uma solução para este problema, de forma completa, apresentando um modelo e uma metodologia de identificação das cargas não lineares no domínio do tempo, voltada para a utilização simuladores comerciais de circuitos eletroeletrônicos. Koval e Carter em seu trabalho [1] apenas descrevem o comportamento das cargas não lineares e em [2] apresentam um modelado destas cargas baseado no espectro harmônico da corrente o qual não descreve o comportamento das cargas na presença de distorções harmônicas de tensão da rede. Reformat et al em [3] apresentam uma modelagem matemática não facilmente utilizável em programas de simulação, Karlsson e Hill em seu trabalho [4] seguem a mesma linha de Reformat. Porém, Karimi e Mong em [5] apresentam um estudo muito próximo ao que será realizado neste trabalho sem, porém abordar o problema da identificação dos parâmetros do circuito equivalente que compõem estas cargas. Este trabalho tem como finalidade principal descrever a metodologia que foi adotada para permitir a identificação dos diferentes componentes que constituem as diferentes cargas em estudo, para tanto buscar-se-ão correlacionar os dados obtidos mediante mapeamento das diversas cargas existentes na Faculdade de Engenharia (FENG), com a modelagem proposta de forma a possibilitar a identificação dos componentes equivalentes, resistores, indutores e capacitores, e a posterior simulação digital das diversas cargas em separado e em conjunto. Para tal fim, será empregado o programa de simulação PSIM® o qual apresenta a possibilidade de que sejam criados sub-circuitos que irão representar o comportamento das diferentes cargas. Devido à limitação do número de páginas, somente será abordado neste resumo o retificador monofásico com filtro capacitivo e indutor de entrada. Na versão final serão abordados outros modelos, como retificadores trifásicos, cargas com características indutivas entre outros. II. TOPOLOGIAS BÁSICAS DE CARGAS NÃO LINEARES MONOFÁSICAS Atualmente a grande maioria das cargas são não lineares ou também conhecidas como cargas eletrônicas por se tratarem na sua maioria de equipamentos eletrônicos, tais como: Equipamentos de áudio; Equipamentos de vídeo; Equipamentos de entretenimento; Computadores pessoais e industriais; Monitores de Vídeo; Impressoras; Comandos Numéricos; Reatores Eletrônicos para Lâmpadas de descarga; Projetores Multimídia; Osciloscópios; Etc... Os quais têm na sua essência a necessidade de operar em corrente continua (CC), uma vez que o sistema de distribuição de energia se dá em corrente alternada (CA) se faz necessário a existência de uma etapa de conversão de energia intermediária para transformar a tensão alternada em tensão continua. Esta conversão é realizada por circuitos eletrônicos denominados retificadores, os quais na maioria das aplicações de baixa potência são do tipo monofásico. O circuito retificador mais comumente utilizado nos dias de hoje é o retificador em ponte com filtro capacitivo. Esta estrutura constitui o estagio de entrada da grande maioria das fontes chaveadas do tipo of-the-line que são constituídas na sua maioria por um estagio de entrada que converte a tensão alternada em tensão continua associado a um conversor CC-CC conforme ilustra a Fig. 1. A função deste conversor é de reduzir e estabilizar a tensão retificada a níveis adequados para alimentar os delicados circuitos eletrônicos utilizadas nos equipamentos eletrônicos. Fig. 1. Fonte de alimentação típica dos circuitos eletrônicos. Este conjunto retificador em cascata com um conversor CCCC pode ser simplificado tratando o conversor CC-CC e sua carga, como uma carga resistiva equivalente. Na Fig. 1, acima representada, o indutor L representa as indutâncias parasitas do circuito ou mesmo a presença de um filtro EMI na entrada do circuito. O capacitor CCC é o capacitor de filtragem do retificador e normalmente são utilizados capacitores de elevada capacitância. Assim, a grande desvantagem deste circuito consiste no fato do mesmo drenar energia da rede somente durante a etapa de carga do capacitor resultando em elevada distorção harmônica da corrente de entrada, as componentes harmônicas destas correntes ao circular pela impedância da rede irão introduzir distorções harmônicas de tensão na rede elétrica. Somente como ilustração, a Fig. 2 apresenta formas de onda típicas para este tipo de carga não linear. Observando-se esta figura fica claro o conceito de carga não linear eletrônica, pois não existe uma relação linear entre as formas de onda de tensão e corrente nos terminais da carga. De certa forma a presença da indutância parasita de entrada L é benéfica para a rede, toda vez que aumenta o tempo de duração da corrente na entrada do conversor. R Fig. 2. Formas de onda de tensão na carga, tensão na entrada do retificador e corrente na entrada do retificador circulando na instalação na presença de indutância parasita. Nesta figura, observa-se que: A corrente de entrada apresenta uma elevada taxa de crescimento (di/dt), a qual pode ser responsável pela elevação do nível das interferências eletromagnéticas (EMI) geradas pelo circuito; Ocorre uma redução do ângulo de condução dos diodos em relação ao período total da rede 360o; Uma elevação significativa do valor máximo da corrente de entrada é observada em relação a uma hipotética corrente senoidal, para uma mesma potência. A. Modelagem do Retificador em Ponte com Filtro Capacitivo e Indutor de Entrada Atualmente, a grande maioria das fontes de alimentação comerciais são do tipo comutada, ou chaveada, as quais apresentam uma estrutura clássica como a representada na Fig. 1. Devido à presença do conversor CC-CC operando em alta freqüência a inclusão de filtros EMI é praticamente inevitável, assim o indutor L representado naquela figura não poderá ser considerado desprezível na maioria dos casos. A continuação será apresentado um estudo que visa criar uma metodologia para identificar os valores de todos os componentes equivalentes apresentados na Fig. 1, os quais são o capacitor CCC, o indutor L e o resistor R, a partir das medidas das formas de onda de tensão e corrente de entrada. Conhecida a potência consumida pelo retificador e o valor médio da corrente de saída da ponte retificadora, vide Fig. 2 (iD out), é possível a determinação do valor do resistor equivalente R, uma vez que se pode assumir que toda componente continua desta corrente irá circular pela carga resistiva equivalente, e que a totalidade da componente alternada desta corrente é desviada pelo capacitor de filtro CCC. Para obtenção direta do valor médio da corrente de saída da ponte de diodos seria necessária a utilização de processos invasivos os quais não estão permitidos na maioria das situações. Uma simples análise do circuito representado da Fig. 1, permite que se observe que a corrente que irá circular na saída da ponte retificadora iD out nada mais é que o valor absoluto da corrente de entrada i(t). Desta forma, é possível a obtenção do valor médio da corrente iD out (ID Méd) de forma indireta conforme ilustra a expressão (1) abaixo representada: 1 (1) I D Méd ( t ) i ( t ) d t P I D Méd 2 Para obtenção das equações de i(t), vC(t) e iC(t) será utilizada a abordagem clássica da eletrônica de potência que consiste em estudar o comportamento do circuito nas suas diversas etapas de funcionamento. Assim, o circuito da Fig. 1 pode ser redesenhado conforme mostrado na Fig. 3 a qual representa a primeira etapa de funcionamento do circuito retificador na qual a tensão da rede é aplicada diretamente ao circuito via condução dos diodos. Esta etapa ocorre durante o intervalo de tempo no qual ocorre a carga do capacitor CCC e existe durante o intervalo tD on. À continuação será apresentado o conjunto das equações diferenciais que descrevem o comportamento do circuito retificador de entrada o qual é bastante conhecido do ponto de vista qualitativo, porém existe uma grande carência de informação do ponto de vista quantitativo. Neste trabalho pretende-se preencher esta lacuna apresentando uma ampla analise quantitativa, baseada no equacionamento deste circuito permitindo assim a identificação e a modelagem das diversas cargas eletrônicas descritos anteriormente. Fig. 3. Circuito equivalente da etapa de carga do capacitor CCC. A corrente de entrada i(t) pode ser obtida conforme mostrado na equação abaixo: (3) i t iC t iR t Sendo as correntes no capacitor e no resistor obtidas a partir dos conceitos básicos de circuitos elétricos, as equações (4) e (5) descrevem a evolução destas variáveis. iC t CCC iR t d vC t dt (4) vC t R (5) Desta forma, a corrente de entrada pode ser obtida substituindo-se as expressões (4) e (5) na expressão (3) resultando na expressão (6) abaixo representada. i t CCC d vC t dt vC t R (6) Uma expressão para tensão de entrada pode ser obtida aplicando-se ao circuito, representado na Fig. 3, a lei das malhas resultando na expressão (7). d i t v t L vC t dt (7) Isolando-se a tensão no capacitor CCC, vC(t), se pode reescrever a expressão (7) resultando na expressão (8) mostrada a continuação: d i t vC t v t L dt (8) Substituindo-se a expressão (6) na expressão (8) obtém-se: vC t v t L d vC t vC t d CCC dt dt R 0 O valor do resistor equivalente R pode agora ser facilmente determinado a partir da lei de ohm, e lembrando que se está assumindo que a corrente que circula pelo resistor é constante e isenta de harmônicos, resultando na expressão (2) abaixo representada. (2) vC t v t LCCC LCCC d2 L d vC t vC t d t2 R dt d2 L d vC t vC t vC t v t d t2 R dt (9) (10) (11) Solucionando-se a equação diferencial de segunda ordem representada na expressão (11) é possível a determinação da tensão no capacitor CCC, durante o intervalo de carga, e posteriormente a determinação da expressão da corrente de entrada i(t) através da expressão (6). É de fundamental importância recordar que não se trata de um circuito linear, mas sim de um circuito não linear, porém linear por partes, que esta sendo estudado. Portanto é necessário expressar corretamente o momento em que ocorre o início desta etapa de funcionamento, a qual tem inicio quando a tensão no capacitor CCC torna-se igual à tensão da rede depois de transcorrido o intervalo (tD off) e se conclui quando a corrente de entrada se anula i(t)=0, para representar a tensão de entrada no inicio da condução a tensão da rede não será expressa como uma simples onda senoidal mas sim como uma composição de duas ondas uma senoidal e outra cossenoidal, operando na mesma freqüência, conforme representado abaixo. A sen t B cos t A2 B 2 sen t (12) B tg 1 A o Sendo: A B o valor de pico da tensão da rede e ângulo de defasagem entre a corrente na entrada do retificador e a tensão da rede. Os coeficientes A e B podem então ser obtidos conforme expresso nas equações 12 e 13 respectivamente. 2 2 A B 2 Vo 1 tg 2 (13) 2 Vo tg ( ) 1 tg 2 (14) Esta modificação na forma de definir a tensão de entrada v(t) visa simplificar a solução da equação diferencial expressa na equação (11) assim substituindo-se a expressão (12) na equação (11) obtém-se a expressão (15). LCCC d2 L d vC t vC t vC t A sen t B cos t d t2 R dt (15) Aplicando-se a transformada inversa de Laplace, as expressões (15) e (6), se obtém as expressões da tensão no capacitor CCC, vc(t) e da corrente na entrada do retificador, i(t), conforme expresso abaixo: b v 0 C3 B B B C B vC t 2 C1 sen t C1 C2 cos t C 2 C1 bC2 ebt sen (at ) vC 0 C1 C2 ebt cos (at ) A a Aa A A a (16) i t vc t b sin a t B B B B CCC C2 C1 cos t C1 C2 sin t bVco C3 2 C1 bC2 ebt cos a t Vco C1 C2 e bt b cos a t a sin a t R A A A a A (17) Onde: C1 A 2 b a 2 2 b3 a 2 b 2 2 a 2 a 2 b 2 2 a 2 a 4 a 2 2 2 a 2 b 2 2 b 2 b 4 C 2 A 2 2 a b 2 a 2 a 2 b 2 2 a 2 C3 A a 4 a 2 2 b4 2 b2 a b 2 a 2 a 2 b 2 2 a 2 2 (18) (19) 2 b 1 2 R CCC a 2 b2 1 L CCC (20) (21) (22) De posse destas expressões é possível montar um sistema de equações que permita a determinação dos parâmetros de circuito desejados, resistor equivalente R, capacitor equivalente CCC e o indutor equivalente L. Observando as expressões (18) à (20) constata-se que os coeficientes C1, C2 e C3, dependem dos parâmetros a e b definidos nas expressões (21) e (22) que por sua vez são função dos parâmetros de circuito que se deseja determinar. O sistema de equações pode ser definido utilizando-se para tanto os valores obtidos a partir dos resultados experimentais. Para montar este sistema de equações foram eleitos alguns pontos de interesse de fácil obtenção através de ensaios de campo não invasivos, os quais são apresentados à continuação: O instante, inicial em que se estabelece o início da condução dos diodos t = 0, neste momento sabe-se que a tensão vc(0) é igual a tensão de entrada da rede (vc(0) = v(0)) e a corrente de entrada é nula (i(0) =0). Este momento pode ser identificado, como sendo o instante no qual a corrente na entrada do retificador começa a evoluir a partir de zero. Sendo a tensão da rede no instante inicial, v(0), obtida a partir das medidas realizadas com o osciloscópio. O instante em que ocorre o pico da corrente de entrada (tp), neste ponto, a derivada da corrente é nula, logo a tensão no indutor L também o é, portanto, toda a tensão da rede é aplicada ao capacitor CCC. Em resumo, (i(tp) = Ip) e (vC(tp) = v(tp)), sendo os valores de tp, v(tp) e Ip obtidos a partir das aquisições de dados realizadas experimentalmente. Sabe-se que depois de transcorrido o intervalo de condução dos diodos tD on a corrente de entrada volta a ser nula. Em resumo (i(tD on) = 0) sendo o valor de tD on obtido a partir das medidas realizadas. Como se pode observar foi estabelecido um sistema de cinco equações para determinar três incógnitas (R, L e CCC). Convêm ressaltar que se trata de um conjunto de equações transcendentais e, portanto sem solução analítica por isso utilizou-se um maior numero de equações do que aquele essencial para obtenção da resposta. Foram observados vários problemas de convergência do algoritmo de solução do conjunto de equações de forma que se optou por determinar o valor do resistor equivalente segundo a expressão (2) descrita anteriormente. Esta alternativa viabilizou a convergência do algoritmo para valores de indutor equivalente L e o capacitor equivalente CCC coerentes com os resultados experimentais, dado que não existe uma única combinação destes componentes que solucione o conjunto de equações descrito anteriormente. Portanto a solução encontrada depende muito das condições inicias empregas (valores iniciais de R, L e C). III. CONCLUSÃO Neste resumo, é apresentado um completo estudo que permitiu a modelagem e a identificação no domínio do tempo para representar o comportamento de cargas não lineares, constituídas pelas fontes de alimentação chaveadas dos PCs, monitores de vídeo, equipamentos de áudio e reatores eletrônicos, em simuladores comerciais. Um árduo trabalho foi necessário para elaboração da metodologia proposta, dado que na bibliografia não foram encontrados métodos de identificação dos componentes dos circuitos equivalentes destes tipos de carga no domínio do tempo, assim o método de identificação proposto neste artigo, se constitui em uma contribuição original deste trabalho. Os circuitos equivalentes para máquinas elétricas e cargas RL e R foram adotados a partir da teoria clássica de circuitos. Simples manipulações de expressões algébricas foram utilizadas para a identificação dos valores equivalentes destes componentes. A partir dos circuitos equivalentes é possível se realizar simulações no domínio tempo dos diversos equipamentos existentes em uma instalação. A identificação dos componentes que compõem os equipamentos é realizada através da associação de um levantamento de cargas e do sistema de equações proposto. Devido à limitação de páginas, somente foi abordado neste resumo o retificador monofásico com filtro capacitivo e indutor na entrada. Na versão final deste trabalho serão abordados outros modelos, como retificadores trifásicos, cargas com características indutivas entre outros, bem como uma análise do impacto da conexão destas cargas na qualidade de energia de uma instalação.