o papel da filosofia na formação do profissional do ensino

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU – ESPECIALIZAÇÃO EM
DIDÁTICA E METODOLOGIA DO ENSINO SUPERIOR
SANDRA REGINA LODETTI
O PAPEL DA FILOSOFIA NA FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DO
ENSINO SUPERIOR
CRICIÚMA, 2006
2
SANDRA REGINA LODETTI
O PAPEL DA FILOSOFIA NA FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DO
ENSINO SUPERIOR
Monografia apresentada à Diretoria de Pós-graduação
da Universidade do extremo Sul Catarinense – UNESC,
para obtenção do título de especialista em Didática e
Metodologia do Ensino Superior. Sob a orientação do
professor Ricardo L. Bittencourt.
CRICIÚMA, 2006
3
Dedico esta monografia a meus filhos,
Larissa e Guilherme, que sempre serão
minha força e incentivo, na busca de meus
objetivos, pois nenhum sentido teria a minha
vida, o meu trabalho e os meus sonhos se
eles não fizessem parte deles. Com todo o
amor que aprendi a cultivar a partir do
momento que tive a oportunidade de ser
mãe.
4
AGRADECIMENTO
Agradeço a Deus que sempre me iluminou, e a todas as pessoas que direta
ou indiretamente contribuíram para que esta monografia pudesse ser concretizada.
Meus colegas de pós-graduação, principalmente, Leonardo Milioli Mangili, o
”Leo” que me convidou para fazer o curso e me ajudou muito com suas caronas, um
ótimo parceiro.
A todos os professores do curso, em especial, Professor Marcos Herter que
me inspirou na escolha do tema. Professor Antônio Serafim Pereira , que sempre me
elogiou e me deu segurança para realizar meus trabalhos.Professora Vera Maria
Silveira que com sua paixão pela profissão é um exemplo a ser seguido. E ao meu
querido orientador, Professor Ricardo L. Bittencourt, que com sabedoria, carinho e
paciência me deu tranqüilidade e segurança para elaborar esta monografia.
A meus filhos que compreenderam os momentos de ausência.
5
“Um profissional que não use filosofia é
inevitavelmente superficial. Um profissional
superficial pode ser bom ou mau; mas se for
bom é menos bom do que poderia ser; e se for
mau, pior do que precisaria ser.”
George F.Kneller
6
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO___________________________________________________________ 7
2 IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA PARA A FORMAÇÃO DO SER________________ 11
3 PROPOSTA CURRICULAR DE SANTA CATARINA __________________________
3.1 Considerações sobre: Proposta Curricular de Santa Catarina-PC/SC _____________
3.2 Eixos norteadores da proposta curricilar ___________________________________
3.3 Filosofia e filosofia da educação _________________________________________
26
26
28
30
4 METODOLOGIA ________________________________________________________ 32
4.1 Instrumentos de coleta de dados__________________________________________ 36
4.2 Análise dos dados coletados _____________________________________________ 38
5 CONCLUSÃO____________________________________ Erro! Indicador não definido.
REFERÊNCIAS ___________________________________________________________ 49
ANEXOS ________________________________________________________________ 51
7
1 INTRODUÇÃO
“O que pretendo sobre o título de filosofia, como fim e campo das minhas
elaborações, sei-lo, naturalmente. E, contudo não o sei... Qual o pensador para
quem, na sua vida de filósofo, a filosofia deixou de ser um enigma?... Só os
pensadores secundários que, na verdade, não se podem chamar filósofos, estão
contentes com as suas definições” (HUSSERL).
A Filosofia, sendo uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto, acerca de
uma dada realidade, em busca da “verdade”, muitas vezes é vista pela maioria das
pessoas como algo inútil, principalmente numa realidade em que o pragmatismo
impera, considerando útil apenas o que apresenta resultados imediatos em forma de
dinheiro, poder e fama.
Neste sentido, se faz necessário que se perceba a utilidade da Filosofia, que
em última instância reflete sobre a realidade, não apenas para constatar como é,
mas como pode ser.
Com freqüência ouvimos os acadêmicos dizendo que, a cadeira de Filosofia é
inútil e demasiado complexa, não há empenho em aprofundar-se na busca do
sentido e do valor da Filosofia.
Creio que esta situação acontece porque não se faz a relação da Filosofia
com o cotidiano, ficando esta, desconectada da realidade. A partir da nossa
experiência como aluna na Universidade, percebemos que grande número de
professores não a utilizam em suas disciplinas como se esta fosse algo
desvinculado do processo de ensino e aprendizagem
e da construção do
conhecimento. Impera a idéia de que Filosofia é o estudo dos filósofos, como se
fosse um conhecimento do passado da humanidade e que nada tem a ver com o
presente e o futuro.
Neste contexto está situado nosso problema de pesquisa:
Qual a percepção que o acadêmico tem da Filosofia e sua importância na
formação profissional?
No Brasil, durante o Regime Militar, a Filosofia foi excluída dos currículos
escolares, sendo considerada subversiva, e agora a partir da abertura política
retorna aos currículos escolares, porém somente se torna obrigatória no Ensino
8
Médio, ficando mais uma vez limitada a áreas específicas, geralmente àquelas
ligadas à formação de professores. Nos cursos de graduação, não se torna
conhecida e passa a ser desdenhada pelos acadêmicos principalmente dos cursos
de ciências exatas e técnicas.
Assim, são propósitos deste estudo, tanto em âmbito geral quanto específico,
analisar, investigar, e provocar a reflexão acerca da concepção que o acadêmico
tem da Filosofia e da sua importância para a formação humana e profissional.
Conhecer como a Filosofia é utilizada na construção das bases curriculares
nos diferentes cursos de graduação.
“Como são infindáveis as perspectivas desde as quais um assunto pode ser
abordado, vemos aí então que a aprendizagem não termina nunca, o que torna
perigosa, diria mesmo ridícula a postura de quem se acha o dono do saber” (l986
p.12).
Nenhum profissional pode considerar-se capacitado no momento em que
recebe o diploma de graduação, pois ele nada mais é do que uma “chave” com a
qual abrirá novas portas em busca de novos desafios, assim refletir acerca do
conhecimento e da utilização do mesmo torna-se essencial no processo de
formação do profissional das diferentes áreas.
“Todo aquele que quer ensina-aprender, deve estar de posse da arte de
manter-se firme em suas convicções sem ser dogmático, e respeitoso das
convicções alheias sem ser subserviente” (l986 p.12).
O conhecimento traz à luz da realidade e a partir dele é que a mesma pode
ser transformada. Do ponto de vista da Filosofia o conhecimento que se pode ter do
mundo humano pode oferecer bases mais sólidas nas interações sociais que
produzem, mantêm ou transformam a sociedade.
“A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo” (Merleau-Ponty).
Partimos da premissa de que o Ensino Superior é o espaço favorável para
formar indivíduos capazes de efetivarem essa mudança, que supostamente estaria
construindo conhecimentos e que o indivíduo ao construí-los, assume uma
responsabilidade social da qual não poderá se esquivar.
Especialmente no caso da Universidade que é responsável pela difusão e
construção do conhecimento através do tripé, ensino, pesquisa e extensão,
constata-se a necessidade de formar acadêmicos comprometidos com seu papel
social e que assumam essa responsabilidade que, etimologicamente e em última
9
instância, significa responder, dar respostas, entendo que sem Filosofia torna-se
quase impossível a efetivação desta “verdade” que o acadêmico deve perceber.
Há 20 anos leciono Filosofia, inicialmente nos cursos de magistério e
posteriormente a lei da obrigatoriedade (L.D.B. l996) nas séries de Ensino Médio e
tenho observado a dificuldade de aceitação da disciplina por parte dos alunos, bem
como a descaracterização da mesma por alguns professores que muitas vezes a
transformam em aulas de debates sobre artigos de revistas ou questões de
adolescentes que pouco contribuem para o desenvolvimento da reflexão
filosófica.Quando estes alunos chegam a Universidade sem uma fundamentação do
que seja a Filosofia rejeitam-na.
Ciente de que esta visão ingênua da Filosofia está vinculada ao despreparo
do professor do Ensino Médio e conseqüentemente daquele que será professor no
Ensino Superior, reafirmamos a importância de pesquisar qual a percepção da
Filosofia pelos alunos do Ensino Superior para a partir daí sugerir um trabalho de
reformulação da postura profissional e curricular
nas diferentes
áreas do
conhecimento.
O primeiro capítulo contém a introdução do estudo onde destaco a
importância da pesquisa, o problema levantado, os objetivos e as questões
norteadoras.
O segundo capítulo destaca a importância da Filosofia para a formação do ser
humano, com argumentações de diferentes autores. Fiz também uma explanação na
qual apresento a relação existente entre educação e sociedade, partindo do fato de
que o contexto social, político e econômico determina a estruturação do sistema
educacional, influenciando assim a formulação dos objetivos educacionais, bem
como a escolha de conteúdos e métodos de ensino.
No terceiro capítulo apresento a Proposta Curricular de Santa Catarina e o
ensino da Filosofia, considerando seus aspectos gerais os quais são fundamentados
na teoria histórico-cultural de Karl Marx. Com base na teoria histórico-cultual de Marx
o Estado de Santa Catarina pretende constituir um sistema educacional que
favoreça a construção de sujeitos históricos. Se levarmos em consideração a
afirmação de que “a ignorância é o fator mais determinante da miséria”,
perceberemos a pertinência das bases teóricas da Proposta Curricular de do Estado
de Santa Catarina.
10
O capítulo quatro contém a explanação da metodologia utilizada para chegar
às respostas que exponho nesta monografia, bem como o enfoque que foi dado ao
trabalho. Apresento também os dados coletados e sua respectiva análise.
Desta maneira se estrutura esta monografia, onde ao final exponho minhas
conclusões e pareceres a partir das experiências que vivenciei em busca de
respostas ao problema apresentado, bem como as referências bibliográficas nas
quais fundamentei meu trabalho e um modelo do questionário utilizado como
instrumento de coleta de dados.
11
2 IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA PARA A FORMAÇÃO DO SER
HUMANO
Em nossa caminhada como profissional da educação, deparamos com um
número significativo de literaturas que discutem a Filosofia na formação profissional
do acadêmico, o que nos leva a questionar se aqueles que ingressam no Ensino
Superior concebem a idéia do que é ser acadêmico, já que, segundo Josef Pieper,
em seu livro “Que é acadêmico? Que é Filosofia?”, o termo nada tem a ver com a
definição pura que nos remete a escola de Platão, mas sim a essência da academia,
já que é certo e “incontestável que a escola platônica de Atenas era uma escola
filosófica, um círculo de Filosofia” (1981, p. 57).
Sendo assim o que a caracterizava era a Filosofia, “o modo filosófico de
encarar o mundo” (l981, 57 p.) Podemos então a princípio estabelecer que
“acadêmico quer dizer filosófico. Diríamos então que formação acadêmica é
formação filosófica, ou, pelo menos baseada na Filosofia. Conclui-se então que um
estudo sem Filosofia não é um estudo acadêmico”. É necessário também que se
conceba o que quer dizer Filosofia. Geralmente há uma visão clássica em que
“encarar uma coisa filosoficamente significa, abstrair-se completamente de tudo que
costuma chamar-se de ‘vida-prática.’ ”
Podemos observar que para que o estudante do Ensino Superior elabore o
conceito de acadêmico, faz-se necessário que este possa conceituar Filosofia e
conhecimento filosófico.
Partindo da premissa de que “filosofar” é um ato em que é ultrapassado o
‘mundo do trabalho’, este mundo, da utilidade, do oportunismo, da produtividade, do
exercício de uma função, o mundo das necessidades e do produto, o mundo da
fome e do modo de saciá-la, o qual é dominado pelo objetivo, realização do bem
comum, mundo do trabalho na medida em que trabalho significa o mesmo que
atividade útil, a qual tem o caráter de atividade e esforço ao mesmo tempo.
Assim quando se diz que filosofar é um ato que ultrapassa, transcende o
mundo do trabalho, percebemos que “filosofar” aparentemente um ato teórico,
“abstrato” transforma-se de repente num ato historicamente de extrema atualidade.
Porém podemos afirmar que a hodierna situação da Filosofia é, antes de tudo,
caracterizada por esse agravamento, por essa ameaça do totalitarismo por parte do
mundo do trabalho e não pela problemática interna da própria Filosofia.
12
A Filosofia aparece cada vez mais, com aspecto de algo estranho, de mero
luxo intelectual, de algo incompatível e indigno de ser tomado a sério, quando a
exigência do mundo do trabalho, cada vez mais exclusivamente embarga os passos
do homem (l981, p. 4).
Recordemos as ocupações que dominam o dia de
trabalho do homem de hoje, encontramos a correria diária atrás da existência
meramente física, alimentação, vestuário, habitação, enfim as necessidades de
progresso, de desenvolvimento, as lutas pelo aproveitamento dos bens da terra, as
oposições de interesses. E neste mundo do trabalho encontramos também formas
espúrias e mentirosas de pseudo-atitudes fundamentais no que se refere a religião,
a arte, aos comportamentos, ao eros e a Filosofia.
Num mundo onde não pode florescer o aspecto religioso, onde a arte não
encontra lugar, onde o abalo da morte e do eros é privado de sua profundidade, e
banalizado, aí não poderá florescer a Filosofia. (l981, p. 7)
Todas essas pseudo-atitudes fundamentais concordam em não só não
transcender, mas ainda em fechar o mundo mais e mais debaixo da cúpula, e em
enclausurar totalmente os homens no mundo do trabalho. (1981, p. 8).
Reafirmo aqui através das palavras de Josef Pieper, a importância da
Filosofia que é “in-úitil”, no sentido de ausência de utilidade e de aplicação imediata,
porém extremamente útil na busca do saber. Devemos aqui considerar as palavras
de Francis Bacon, que disse: “saber e poder são a mesma coisa”, e: “o sentido de
todo saber é dotar a vida humana de novas invenções e meios de subsistência”, ou
ainda de Karl Marx ” A Filosofia até agora só viu como tarefa sua interpretar o
mundo: trata-se agora de transformá-lo.”
Assim a tese de Josef Pieper afirma que pertence a essência do ato de
filosofar que ele transcenda o mundo do trabalho (l981, p.12).
Vamos agora considerar o aspecto filosófico da formação acadêmica,
acreditamos que todo o estudante universitário que se decide por determinada
profissão espera que o saber adquirido se torne frutuoso e útil. Assim entendemos
que a finalidade do estudo universitário, é, precisamente, formar médios, químicos e
juristas capazes encontramos aí a importância de preocupar-se com a finalidade do
conhecimento ou daquele que vai adquirí-lo.
Por isso se faz necessário que se determine concretamente a “maneira
filosófica” de estudar um ramo espacial da ciência, por exemplo, a química (l981, p.
60).
13
É importante que fique claro o fato de que a Filosofia não é uma “matéria” ao
lado de outras matérias de estudo, até mesmo a Filosofia pode ser estudada
enquanto matéria de estudo de maneira bem pouco filosófica. Assim a formação
universitária só terá um caráter acadêmico, quando a Filosofia for de fato, o princípio
orientador da pesquisa e for encarada como uma atitude fundamental diante do
mundo.
Para Josef Pieper “a maneira filosófica de se estudar uma matéria particular
poderia ser o remédio contra aquilo que, desde há muito, é considerado a ruína da
vida acadêmica em nossas universidades: a demasiada especialização” (l981, p.
63).
Nas palavras de Edgar Morin: “Nossa tarefa como educadores do futuro está
em unir/globalizar, tomar consciência de que o conhecimento só será pertinente e
válido, na medida em que reconhecer o contexto, o global, o multidimensional, o
complexo”.
Dentre as argumentações do autor, existem dois aspectos que, a meu ver,
são problemáticos na Universidade Brasileira. Um, refere-se á supremacia do
conhecimento fragmentado, que impede de operar o vínculo entre as partes e a
totalidade. Existe a dificuldade de se perceber que as partes e o todo se relacionam
e influenciam-se mutuamente. Sem a tomada de consciência de que é necessário
situar, conhecimento político, econômico, antropológico, ecológico, filosófico enfim,
tudo no contexto e no complexo planetário, a Universidade não será capaz de
cumprir sua função.
Karl Jaspers em seu livro ‘Introdução ao pensamento filosófico’, afirma:
“Estamos no mundo, mas nunca temos, por objeto, a totalidade do mundo. Aos
olhos do nosso conhecimento o mundo não aparece como unidade inteiriça, mas
fragmentada.” Além disso, vivemos um momento de crise em um mundo de enigmas
que se conflitam, o gênero humano está infeliz, a ciência dá lugar a superstição da
ciência e esta sob a máscara de pseudociência lembra um amontoado de
extravagâncias onde não está presente ciência, nem filosofia nem fé.
Ao
refletir
diante das colocações de Karl Jaspers pude concluir o quando é urgente trazer à luz
a consciência do homem, e esta é sem dúvida a missão da Filosofia.
O momento que vivemos nos mostra a urgência em se distinguir entre ciência
e Filosofia, tarefa urgentemente necessária no interesse da verdade, em nossos dias
14
quando a superstição da ciência parece atingir seu apogeu e a Filosofia se vê
ameaçada de destruição.
“Talvez em nenhuma época anterior o homem tenha experimentado tão
urgente necessidade de tomar consciência da singularidade de sua posição no
quadro da história universal” (2003, p. 26).
Devemos aqui fazer uma observação a respeito do que se entende por
consciência, a qual deve ser voltar-se para o eu, a pessoa, o cidadão e o sujeito. O
que se entende por consciência?
Segundo Marilena Chauí (1997; p.17) “A capacidade humana para conhecer,
para saber que conhece e para saber o que sabe que conhece. A consciência é um
conhecimento (das coisas e de si) e um conhecimento desse conhecimento
(reflexão).” Assim do ponto de vista psicológico a consciência é o sentimento de
nossa própria identidade, é a consciência do eu que é formada pelas nossas
vivências. Do ponto de vista ético e moral a consciência é a espontaneidade livre e
racional, para escolher, deliberar e agir conforme à liberdade aos direitos alheios e
ao dever. É pessoa dotada de vontade livre e de responsabilidade. Do ponto de
vista político a consciência é o cidadão, tanto o indivíduo no tecido das relações
sociais, quanto o membro de uma classe social. Do ponto de vista do conhecimento,
a consciência é uma atividade sensível e intelectual dotada de poder de análise
síntese e representação, o sujeito.
Assim, “Eu, pessoa, cidadão, sujeito constituem a consciência como
subjetividade ativa, sede da razão e do pensamento, capaz de identidade consigo
mesma, virtude, direitos e deveres”.
Entendemos que a Filosofia como caminho na busca do conhecimento , pode
contribuir na constituição da consciência do homem, que cada vez mais se sente
afastado da sua essência, diante de um mundo que se constitui numa política
capitalista e de consumo, acredito que indivíduos conscientes tem maior
possibilidade de efetivarem as mudanças que o nosso momento histórico necessita.
Na situação histórica atual, dos pontos de vista político, social, científico,
técnico e espiritual, vimos assistindo mutações tão radicais que Alfred Weber pôde
falar do fim da História como a concebemos até agora. (WEBER apud JASPERS,
2003, p. 29).
Uma infinidade de questionamentos surgem em função da
transformação da existência humana em um processo de produção e consumo
deixando o homem inseguro, envolvendo-se em profecias pessimistas.
15
“Somos responsáveis pelas tarefas que reconhecemos como nossas. Hoje,
vemos nosso destino integrado ao destino da humanidade. Nossa missão é a de
encontrar o elo de união entre os homens” (2003, p. 33).
Podemos entender por “nossa tarefa”, aquela referente à profissão que
escolhemos e para qual iremos fazer um curso superior, fica evidente então que a
formação filosófica do acadêmico poderá mostrá-lo que seu trabalho não será
apenas para conquista de dinheiro mas antes deverá ser de responsabilidade social
e de compromisso com a humanidade
Ao filosofarmos diante desta realidade devemos buscar, nos “esclarecer a
respeito da grandeza e pequenez dos homens ou a respeito do esplendor de suas
obras. E o essencial é que ao contemplarmos isso possamos despertar em nós o
sentido de responsabilidade. Devemos decidir o que acolher e o que repelir. A
filosofia deve fazer-nos conscientes dos horizontes do futuro mostrando-nos os
limites de toda ação humana” (2003, p. 32) Conseqüentemente o estudante do
Ensino Superior que perceber isso, creio eu, fará de sua profissão um meio para a
(re)construção do homem e da humanidade. “Nada há que se compare a natureza
do homem” (2003, p. 45).
“Por força da tradição a Filosofia é politicamente respeitada, mas, no fundo
objeto de desprezo. A opinião corrente é a de que a Filosofia nada tem a dizer e
carece de utilidade prática. Ora isso equivale a dizer: é inútil o interesse pelas
questões fundamentais da vida. Um instinto vital, ignorado de si mesmo odeia a
Filosofia. Se eu a compreendesse, teria de alterar minha vida” (2003, p.139).
Outro aspecto relevante está ligado às ideologias políticas que desejam
manter seu status, já que, massa e funcionários são mais fáceis de manipular
quando não pensam, mas tão somente usam de uma inteligência de rebanho. É
preciso impedir que os homens se tornem sensatos. Mais vale, portanto que a
Filosofia seja vista como algo entediante. Quanto mais vaidades se ensine, menos
estarão os homens arriscados a se deixar tocar pela luz da Filosofia. Assim a
Filosofia se vê rodeada de inimigos, a maioria dos quais não tem consciência dessa
condição (2003, p.139).
Ainda segundo Karl Jaspers “a oposição à filosofia se traduz em fórmulas
como: a filosofia é demasiado complexa, não a compreendo, está além do meu
alcance, não tenho vocação para ela e portanto não me diz respeito” (2003, p. 139).
16
Neste sentido e por tudo isso o estudante não consegue fazer a relação
atenção/reflexão, teoria/prática.
A filosofia está presente em nosso mundo e a ele se refere, assim não
podemos deixar que a Educação Superior perca essa oportunidade impar de formar
cidadãos e cidadãs, homens e mulheres que pensem filosoficamente os destinos da
humanidade, “contudo, nem mesmo a mais profunda meditação terá sentido se não
se relacionar a existência do homem aqui e agora”.
Como já disse, a filosofia aspira a “verdade” total, sendo, portanto
perturbadora da paz, já que o mundo não quer a verdade. Porém está ao alcance de
todos ou de quase todos, bastando que verdadeiramente a queiram.
Num mundo em que a economia predomina, as ditaduras e totalitarismos se
manifestam cada vez mais como tendências de governo, a ameaça da bomba
atômica pesa sobre todos nós, qual será o papel da Filosofia?
Ensina a não nos deixar iludir, a encararmos a catástrofe possível. Só ela tem
o poder de alterar nossa forma de pensamento e de preservar a dignidade do
homem em declínio compreendendo-se como um ser de possibilidades.
Regis de Morais em seu texto “Discurso humano e discurso filosófico na
educação”, reafirma essa tendência a não aceitação da filosofia e destaca a
necessidade de revertermos essa tendência se quisermos viver a plenitude de
sermos humanos. Partiremos do sentido do verbo existir “ex-sistere” ir do que é para
o que pode ser colocar-se para fora de si, significar. Considerando, então, como
vertente básica do existir humano aspectos religiosos, artísticos, filosóficos e
científico-tecnológicos,
perguntamos,
onde
pode
ser
integrado
o
discurso
educacional?
Assim todas as áreas do ensino, todo acadêmico e todo professor necessita
conhecer o valor da filosofia, a qual sempre esteve em constante diálogo com a
ciência ou com as ciências. A filosofia não pode ser um discurso fechado sobre si
mesmo.
Continuando nossa revisão literária encontramos no livro “Filosofia na Escola
– O prazer da reflexão” de Marcos Antônio Lorieri e Terezinha Azerêdo Rios,
subsídios para tornar a filosofia prazerosa para o estudante, e mais uma vez o seu
valor e importância na citação de Paulo Freire (l992, p. 34) em que nos adverte: “Ao
não perceber a realidade como totalidade, na qual se encontram as partes em
interação, se perde o homem na visão ‘focalista’ da mesma. A percepção
17
parcializada da realidade rouba ao homem a possibilidade de uma ação autêntica
sobre ela” (FREIRE, apud, LORIERI e RIOS, 2004, p. 27).
Pretendo agora identificar: Qual o papel da escola como instituição, que
no
contexto
social
também
é
ideológica
e
política,
necessitando
assim
constantemente estar refletindo acerca de seu compromisso e responsabilidade
social.
Devemos pensar na presença da filosofia em todos os espaços da escola,
desde a sala de aula, das diversas disciplinas, até as reuniões e pedagógicas na
elaboração dos planejamentos, mostrando a importância/necessidade da presença
de uma atitude crítica, para enfrentar e superar problemas com os quais nos
deparamos no cotidiano da escola, e que esse exercício seja realizado de maneira
prazerosa.
Percebemos aqui a importância do estudo das produções dos chamados
grande filósofos, sendo que a filosofia é a manifestação histórica que testemunha a
produção das significações da realidade.
Sabemos que o gesto que caracteriza a reflexão filosófica é o de perguntar.
Mas que tipo de pergunta seria uma pergunta filosófica, se considerarmos toda a
produção dos grandes filósofos vamos observar que dificilmente encontraremos
algum que não tenha trabalhado com temas como: O ser gente; O que entender
por mundo; O pensar, o saber do próprio saber; Os valores; A vida social; A
organização do conhecimento.
Observamos assim que ao trabalharmos esses temas ou suas partes
substanciais
estamos
construindo
conhecimentos
nas
áreas
de
ontologia,
antropologia filosófica, axiologia, epistemologia, filosofia política e lógica. As quais
são áreas do conhecimento da humanidade que com certeza ao serem investigadas
e questionadas possibilitarão ao estudante compreender a utilidade da filosofia na
sua formação humana e profissional.
Marilena Chauí (l994, p.18) tem uma resposta para a pergunta que
comumente se faz na escola quando nos referimos a presença da filosofia no
trabalho dos professores e professoras. Qual a utilidade da filosofia? “Se abandonar
a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar levar
pela submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil;se buscar
compreender a significação do mundo da cultura da história;se conhecer o sentido
das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil;se dar a cada um
18
de nós e à nossa sociedade meios para serem conscientes de si e de suas ações
numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então
podemos dizer que a Filosofia,é o mais útil de todos os saberes de que os seres
humanos são capazes.”
Aqui podemos chegar a uma importante consideração, sobre o papel
educacional da Filosofia que será o de desenvolver no estudante o senso crítico,
que implica na superação das concepções ingênuas e superficiais, sobre o homem,
a sociedade e a natureza. Concepções estas geralmente forjadas pela ideologia
social dominante. O resultado desse processo é a ampliação da consciência
reflexiva, do estudante, voltada para dois setores fundamentais: a consciência de si
mesmo, crítica de si próprio e de seu papel individual e social. A consciência do
mundo, compreensão do mundo natural e social e de suas possibilidades de
mudança. Reiteramos aqui as palavras de Kant, ensinar a filosofar através da
Filosofia.
Isto deve ser levado a sério principalmente pelos professores, pois será
impossível levar o meu aluno a ter uma atitude filosófica diante do mundo e da
realidade se eu, como professor não tenho esta postura, diante de uma realidade
que muitas vezes não é entendida, não é compreendida, parece abstrata.
Se crítica é a vigilância constante, de quem diz, por que diz o que diz, e o que
o faz dizer o que diz, será impossível conceber que um professor possa trabalhar o
senso crítico de seus alunos, se ele próprio não tiver uma postura crítica.
O papel do professor dentro de sua área de conhecimento ou especialização
será então, despertar no educando o interesse pela busca do conhecimento e
mostrar o caminho a seguir. O professor deve caminhar lado a lado com o
educando.
Ensinando o aluno a aprender e a se construir, para que este descubra por si
só o que fazer de si, com o que fizeram dele. Essa responsabilidade pé maior ainda
ao levarmos em conta que o educador estará formando aqueles que irão formar as
gerações posteriores.
A arrogância da inteligência diz de fato, abra os ouvidos e me escute, pois eu
conquistei o saber e você é um ignorante. Mas a inteligência que é completa, lúcida
e não se perdeu a si mesma, esta diz: Vamos, aí está um caminho, vamos comigo.
Este caminho nunca será igual para nós dois, mas podemos aprender juntos ao
longo dele.
19
Voltamos então a pergunta, qual o papel da escola? Ora podemos observar
que mesmo que esta esteja vinculada, e está, aos ditames do sistema político e
econômico em que está inserida, a escola não pode deixar de ser crítica de cumprir
o seu papel social, e aqui quando me refiro a escola quero deixar bem claro todos
que dela participam especialmente professores e professoras, que estes tenham a
consciência de seu papel vendo a educação como uma necessidade radical, de uma
resposta radical a esta realidade.
As potencialidades e a essência do homem acontecem na história. Onde as
situações vão exigir do homem que este resolva as carências e as necessidades
daquele momento histórico. O objeto da Filosofia é o real, que é transformação
permanente. Do ato de pensar, refletir, analisar, criticar, deve resultar o produto da
noção de mundo, a concepção de mundo (que mundo queremos), a concepção de
homem (que homem queremos construir) em relação à dialética teoria X prática.” Ou
a Filosofia é dialética ou não é Filosofia.”.
Se entendermos a educação como um direito humano, teremos uma noção
da responsabilidade do professor e a amplitude do seu papel social. O que fazemos
quando realizamos nosso trabalho de professores? Socializamos a cultura,
partilhamos conhecimentos crenças e valores, é por isso que se diz que a educação
pode ser definida como “construtora de humanidade.” Vamos nos tornando humanos
num processo educativo que está presente em todas as instituições e, a escola
aparece como uma instituição que faz isso de maneira sistemática e organizada, ela
é um espaço intencional e organizado de ensino e de aprendizagem, da ciência, das
ciências , das artes , da filosofia .
Temos, portanto, de nos voltar para a nossa escola e olha-la com um “olhar
novo”, buscar ver o que ainda não vimos. Problematizar nossas necessidades, com
certeza vão além de ensinar os conteúdos. Será que acreditamos na possibilidade
de ensinar algo com relação as atitudes? Haverá uma boa forma de ensinar e
aprender valores? Temos autonomia para tal?
Ao perguntarmos de que maneira fazer um trabalho mais significativo par a
nossos alunos para a sociedade, estamos tomando uma postura filosófica diante do
nosso trabalho e assumindo a nossa responsabilidade de educadores.
Não podemos deixar de lembras que um dos problemas mais sérios que
enfrentamos na escola, é o trabalho solitário da fragmentação, embora se encontre
muito o discurso da interdisciplinaridade. Não se dialoga com o “mesmo” a diferença
20
e a especificidade são motivadoras da troca, da partilha. (LORIERI e RIOS, 2004, p.
68).
Sendo assim podemos perceber que a profissão de professor é cheia de
desafios e debruçar-se sobre estas questões que nos desafiam, do ponto de vista da
filosofia, implica perguntar, em última instância pelo sentido da educação e do
próprio homem.
Nós, professores e professoras, não estamos nunca formados, prontos.
Nossa educação tem de estender-se pela vida toda. Assim também como a
educação dos outros profissionais da sociedade, pois a cultura, a ciência, o saber,
não se congelam, não se totalizam, é, portanto necessário que se assuma uma
postura constante de reflexão crítica das nossas práticas profissionais levando em
consideração a dialética do mudo e o contexto histórico do momento,” só há um
momento de fazer a história: o presente.
Como já disse, a história é feita a partir das interações sociais num processo
que, precisa ser dialético, embora nem sempre é, onde os homens ao construí-la
constroem-se. Assim devemos considerar a relação que existe entre educação e
sociedade a qual é determinada pelos aspectos político, econômico e cultural.
Nós, professores quando nos envolvemos num trabalho educativo na escola
temos intenções explícitas, queremos com certeza produzir certos efeitos em nossos
alunos, assim procuramos formular “currículos” que viabilizem nossos objetivos, que
de modo geral constituem-se em permitir que estes se tornem seres humanos de
algum modo.
Um currículo realiza-se por meios dos componentes curriculares que
envolvem as disciplinas e todas as demais atividades que se desenvolvem no
contexto escolar e em suas relações com o contexto social, então para se gente é
necessário conviver com gente e esta convivência se da sempre em sociedade,
sendo assim nosso trabalho pretende influenciar no funcionamento da sociedade
humana organizada.
Nada no campo da Filosofia é simples, porém investigar filosoficamente é
fundamental para a ação educativa.
Através do nosso trabalho de professores,
construímos, destruímos, reconstruímos a cultura de nossa sociedade. Os seres
humanos, diferentemente dos outros animais, não estão prontos, eles precisam
inventar-se, e o fazem por meio do trabalho, construtor da cultura, a vida precisa ser
construída e significada.
21
Devemos pensar, portanto na responsabilidade do professor que, desenvolve
seu trabalho e no significado de sua intervenção na construção da vida. Realizar
nosso trabalho de educadores e educadoras é uma das formas de fazer história,
para que os indivíduos possam participar dessa construção da polis, adquirir e
aprimorar conhecimentos e capacidades “tanto para governar, como para ser
governado”, é preciso que sejam educados.
Considerando que a educação, e a escola como Instituição Educacional,
estão diretamente ligadas aos aspectos sociais políticos e econômicos, ao quais são
historicamente determinados e consequentemente se refletem na função social da
escola como instituição, do professor como mediador e do conhecimento como
instrumento, percebe-se que em decorrência das mudanças históricas, também as
funções do professor, da escola e do conhecimento mudam consideravelmente.
Atualmente podemos supor que a função da escola/professor/conhecimento
seria de favorecer a formação de “representações sociais’ nos indivíduos, com base
no contexto histórico atual. Daí vemos que é absolutamente necessário que a escola
e o professor tragam a tona questionamentos acerca da utilização do conhecimento,
principalmente no que se refere a sobrevivência da espécie humana., no sentido de
oportunizar a formação de valores éticos e morais que concorram para a
preservação da vida.
Da forma como o conhecimento vem sendo utilizado hoje, basicamente como
estratégia militar, é necessário que o professor pereba a sua responsabilidade e
compromisso social para transformação dessa realidade, fazendo com que
utilizemos o conhecimento como meio de preservação da vida e não como meio de
enriquecimento individual ou de grupos políticos e econômicos.
Tudo o que diz respeito ao que o ser humano faz, diz também a educação,
daí se vê quanto é importante e necessário a reflexão filosófica na formação e na
prática do educador. Até porque, mesmo que não tenhamos clareza disso, há
sempre alguma filosofia presente em nós quando intencionamos nossa ação,
portanto, nossa ação educativa.
Se partirmos do pressuposto de que ser professor não é apenas uma
profissão, e que de modo geral envolve muito mais do que apenas ter formação
(graduação) e conhecimento teórico, já que o trabalho do professor está diretamente
ligado ao ser humano em sua complexidade, considera-se necessário que o mesmo
22
busque um conhecimento mais aprofundado a respeito do aluno como ser humano,
de si mesmo e, principalmente daquilo que é seu objetivo, a aprendizagem.
Ressaltamos aqui a importância de se ter um conhecimento sobre as
diferentes teorias de aprendizagem, pois cada uma em particular e todas em geral
procuram de alguma forma explicar como acontece o processo de aprendizagem,
trazendo subsídios que podem dar ao professor o suporte necessário, para que este,
a partir de uma reflexão crítica possa desenvolver sua prática.
Em educação não existe receita, mesmo porque é um processo que envolve
pessoas e ambientes diferentes, bem como uma construção cultural heterogenia,
não há como determinar qual “a melhor” teoria, porém é possível construir uma
prática coerente e por que não dizer eficiente dentro de sua realidade de trabalho, a
partir do conhecimento das diferentes teorias.
Para podermos conceber o conceito de educação, o papel da escola e do
professor neste contexto, que como já vimos se constrói dentro de uma realidade
complexa e diversificada, onde política, economia, cultura, determinam os caminhos
da educação, precisamos percorres caminhos da Filosofia da Educação.
O que é Filosofia da Educação? Se a Filosofia não é a sofia mesma, e sim o
desejo, a procura dessa sofia, sendo então o trabalho filosófico um trabalho de
reflexão, qual seja, voltar atrás, reconsiderar, examinar com cuidado, diríamos então
que Filosofia
da Educação é uma reflexão rigorosa sobre os problemas que a
realidade educacional apresenta.
Assim a Filosofia da Educação, não estabelece métodos ou técnicas de
educação, não visa fornecer os meios de educação, nem, contudo analisar
comportamentos ou ralações entre pais e filhos, professores e alunos.
A Filosofia da Educação como reflexão radical coloca primeiro, no que
concerne á educação questões fundamentais como: O homem necessita ser
educado? Pode ser educado? O que é Educação? A educação pode ser instrumento
de libertação do homem?
Vamos considerar um aspecto levantado por David P. Ericson em seu texto
Orientação para a filosofia da educação do livro “O que é Filosofia da Educação”,
organizado por Paulo Ghiraldelli Jr.onde nos apresenta as seguintes observações:
Da dificuldade introduzir estudantes no campo da filosofia a educação, sendo que” a
maioria dos estudantes, em programas de formação de professores ou em
programas de graduação em escolas e faculdades de educação, vem para a área
23
com pouca preparação e base em filosofia como uma disciplina de investigação.”
(2002, p. 205)
Gerando assim um grande problema, pois lhes falta o mínimo necessário para
começar a se envolver com questões problemas e idéias referentes a educação
deste século e dos anteriores. Além do fato de que os estudantes dos cursos de
formação de professores estão mais interessados em sua sobrevivência em salas de
aulas e escolas, do que em se comprometer com o processo educacional, dentro do
contexto social.
Assim como nos outros cursos de formação profissional aproximam-se da
filosofia com apreensão e desdém, principalmente pelo fato de terem de lidar com
um assunto que é um mistério para eles, e pela preconcepção de que a filosofia é
pouco prática e inútil para ajudá-los a dominar os instrumentos de sobrevivência em
sala de aula.
Para severino( ano e página)“é tarefa da Filosofia da Educação contribuir para
a intencionalização, da prática educacional, a partir de sua própria construção em
ato; como presença atuante na sociedade.”
“Intencionalizar a prática educacional é dar-lhe condições para que ela se realize como
práxis, como ação pautada num sentido, como ação pensada, refletida, apoiada em significações
construídas, explicitadas e assumidas pelos sujeitos envolvidos. É pó isso que se pode definir a
Filosofia da Educação como o esforço para o desenvolvimento/construção do sentido da educação no
contexto do sentido da existência humana, em sua totalidade.”
Na tentativa de reverter esse quadro professores de filosofia da educação e
autores de materiais para serem utilizados criam uma infinidade de estratégia para
introduzir a filosofia da educação nos cursos. Estratégias estas que vão desde tratar
a filosofia da educação com História da Filosofia da Educação, apresentar a filosofia
como um confronto de ismos, realismo, empirismo, pragmatismo, etc., abordar a
história da filosofia com uma virada critica, no sentido de tentar estimular os
estudantes a adotarem um espírito crítico, até a abordagem não histórica em que se
espera que o estudante confronte conceitos fazendo filosofia por eles mesmos, ou
seja, que este seja capaz de pensar corretamente de uma maneira filosófica. Enfim
o ensino de filosofia nos curso de formação superior, como já foi dito está em crise,
e podemos apontar como um dos fatores, além do que já foi mencionado, que é a
questão do sistema capitalista que na verdade pretende formar profissionais para o
mercado, e não para o mundo. Já que não é de interesse do sistema que “todos”
saibam construir conhecimento.
24
A trajetória da Filosofia da educação no contexto da história da educação do
Brasil, segundo Severino (ano e página) “falar de filosofia da educação no Brasil não
é tarefa simples, até porque ainda são poucos os estudos históricos específicos
como também os estudos teóricos mais sistematizados sobre sua natureza”.
A questão da identidade da Filosofia da Educação só agora vem sendo
assumida e discutida com mais freqüência. Assim podemos buscar nas bibliografias
mais recentes os estudos a respeito das questões referentes a Filosofia da
Educação, que em determinado momento historio apareceu como disciplina dos
cursos de formação de professores. Enfim muito ainda há para se investigar e definir
sobre Filosofia e Filosofia da Educação, e seu papel na formação do profissional do
ensino superior.
Tendo como base estas obras é que fundamentei a proposta deste projeto
com o intuito de contribuir com a produção
de conhecimento nesta área, a fim de
viabilizar uma maior utilização da filosofia entre acadêmicos e professores dos
cursos de graduação sejam eles das ciências orgânicas, inorgânicas ou superorgânicas. Diante disso busquei possibilidades, caminhos, que pudessem auxiliar
professores e acadêmicos a reverter esse quadro, a princípio na formação do
profissional da educação que estará desenvolvendo o gosto pelo saber “o amor à
sabedoria” nas gerações futuras e a partir daí na formação dos profissionais das
outras áreas do conhecimento e de atuação humana já que “todo aquele que se
dedica a filosofia quer viver para a verdade”.
Sabemos que a produção do conhecimento que visa o bem comum é
responsabilidade de todos, especialmente do Ensino Superior que não pode se
omitir dessa (CHAUÍ l994, p. l7) “reflexão ampla em busca do fundamento e do
sentido da realidade em suas múltiplas formas indagando o que são, qual sua
permanência e qual a necessidade interna que as transforma em outras. O que é o
ser e o aparecer-desaparecer dos seres” (CHAUÍ, apud LORIERI e rios, 2004, p. 26).
Assim após esta caminhada reafirmo a minha inquietação a respeito da
percepção que os acadêmicos têm da Filosofia e sua importância na formação
profissional, principalmente nos cursos de graduação que não estão diretamente
ligados a formação de professores. E a partir desse projeto espero que possa
contribuir para que professores e acadêmicos sejam filósofos numa realidade
carente de verdades.
25
Devemos, precisamos superar nossa visão de que o futuro é previsível, de
que a história é cíclica e linear e nos prepararmos para as incertezas. Segundo
Morin “estar preparado para as incertezas significa estar consciente de que o
possível de torna impossível, mas também,o inesperado torna-se possível e se
realiza.”
Saibamos então esperas o inesperado e trabalhar pelo improvável, superando
o marasmo e o conformismo, acreditando na educação, construindo e difundindo
conhecimento. O Ensino Superior precisa mudar ser autônomo, acreditar nas
potencialidades do ser humano, precisa filosofar.
O caminho passa pela postura do professor, na qual deve haver coerência
entre seus pensamentos, palavras e atos.
Creio que seja possível aplicar uma nova pedagogia ao currículo escolar, a
partir do momento em que professores e professoras percebam que suas disciplinas
pouco contribuem se não estiverem relacionadas ao contexto histórico e social do
processo de construção do conhecimento. é certo que não é simples, já que, como
se sabe, existem muitos profissionais da educação que ainda se sentem os donos
do saber e resistem em aceitar que o aluno é um sujeito histórico e a educação, um
processo dialético.
“Quem se dedica a filosofia põe-se a procura do homem, escuta o que ele diz,
observa o que ele faz e se interessa por sua palavra e ação, desejoso de partilhar,
com seus concidadãos, do destino comum da humanidade.” (JASPERS, 2003, p.
140)
26
3 PROPOSTA CURRICULAR DE SANTA CATARINA
Neste capítulo apresento a Proposta Curricular de Santa Catarina,
destacando tanto os aspectos gerais que a fundamentam, quando os específicos,
referentes à Filosofia.
Porém antes de conhecermos esta proposta, como ela se constitui
atualmente, é interessante recordarmos um pouco da História da Educação de
Santa Catarina, o trajeto feito até chegarmos ao documento que hoje apresenta as
diretrizes da educação em nosso Estado.
3.1 Considerações sobre: Proposta Curricular de Santa Catarina-PC/SC
A Proposta Curricular de Santa Catarina é uma proposta pedagógica
elaborada num processo coletivo de estudo e diálogo entre Secretaria de Estado da
Educação e Desporto e os educadores catarinenses. Tem sua origem no movimento
de discussão curricular ocorrido no país entre as décadas de 80 e 90.
Em l983, desencadeou-se um processo de discussão da educação
catarinense. Deste processo participaram educadores da rede pública estadual e
das Instituições de |Ensino Superior. Essa discussão culminou com a realização de
um congresso estadual no município de Lages, em outubro de l984. Este congresso
deliberou sobre a democratização da educação e fez uma análise crítica às
propostas de ensino até então desenvolvidas e indicando a necessidade de buscar
novos referenciais, numa perspectiva crítica, contextualizada e moderna. Assim este
movimento indicava uma retomada do processo de ensino-aprendizagem, pautada
em uma nova fundamentação, dando origem a proposta do Plano Estadual de
Educação – PEE, para o período de l985/88. Tendo como princípio este movimento,
inicia-se um processo sistemático de estudo e discussão ocorrido no período de l988
até l991. Resultando na primeira versão da proposta Curricular de Estado de Santa
Catarina.
Entre l996 e l998, esta proposta passou por um significativo processo de
revisão e aprofundamento, resultando numa segunda versão sistematizada em l998,
27
em três volumes distintos: Disciplinas Curriculares, Temas Multidisciplinares e
Formação Docente.
O volume das disciplinas curriculares traz uma fundamentação teórica e
orientações de ordem didática para as disciplinas constantes do currículo escolar. É
importante ressaltar que a ênfase não recai sobre que conteúdos devam ser
ensinados em cada série, mas na compreensão dos fundamentos de cada disciplina
e das possibilidades de abordá-las no âmbito da concepção histórico-cultural.
No volume da Formação Docente para a Educação Infantil e Séries Iniciais
constam às disciplinas do curso de formação de professores em nível médio,
também com ênfase nas questões teórico-metodológicas.
No volume dos Temas Multidisciplinares constam os temas considerados
relevantes no atual momento histórico, para além das disciplinas curriculares
convencionais. É composto pelos temas Educação Sexual, Educação e Tecnologia,
Educação de Jovens e Adultos, Educação Ambiental, Educação Especial, Avaliação,
Abordagem às Diversidades no Processo Pedagógico, Educação Escolar Indígena,
Escola: Projeto Coletivo em Construção Permanente e Educação e Trabalho.
A abordagem multidisciplinar parte do entendimento de que suas temáticas,
apesar de terem uma especificidade, fazem parte de todas as áreas do
conhecimento e, por isso, podem e devem ser abordadas em todas elas. Não se
trata de compreender que se devem procurar correspondências entre os Temas
Multidisciplinares e determinados e determinados pontos de determinadas
disciplinas. Trata-se de entender que os Temas Multidisciplinares pela sua
importância social, devem ser apropriados e internalizados por todos os educadores
para que, em todas as disciplinas, possam estar abordando, no curso normal de
suas aulas, esses temas.
Difere,
portanto,
da
abordagem
transversal,
mencionada
nos
Parâmetros
Curriculares Nacionais.
A Proposta Curricular de Santa Catarina fundamenta-se em uma determinada
concepção de humanidade e de sociedade e numa determinada concepção de
aprendizagem. Como concepção de humanidade e de sociedade, orienta-se pelo
Materialismo Histórico, e como concepção de aprendizagem alinha-se pela
perspectiva Histórico-Cultural ou Sociointeracionista.
Estas concepções foram escolhidas como fundamento teórico da Proposta
Curricular, por serem condizentes com os interesses da maioria da população.
28
Especificamente no que tange à concepção de aprendizagem, é importante
considerar que, no âmbito da concepção histórico-cultural, o processo pedagógico
passa a ter um sentido ético mais marcado do que em muitas outras concepções. As
concepções que permitiam a classificação das crianças e dos jovens em capazes e
incapazes de aprender podiam, muitas vezes, levar a escola a remeter à natureza
ou ao esforço pessoal a responsabilidade pelo fracasso escolar. A concepção
histórico-cultural, ao contrário, à medida que considera todos capazes de aprender e
compreende que as relações e interações sociais estabelecidas pelas crianças e
jovens são fatores de apropriação do conhecimento, traz consigo a consciência da
responsabilidade ética da escola com a aprendizagem de todos, uma vez que ela é
interlocutora privilegiada nas interações sociais de todos os alunos (Conforme
Proposta Curricular se Santa Catarina: disciplinas curriculares, l988, p. 17).
3.2 Eixos norteadores da proposta curricular
Entendemos como eixos fundamentais uma concepção de homem e uma
concepção de aprendizagem.
Pela primeira, decide-se que homem se quer formar, para construir qual
modelo de sociedade. Consequentemente escolhe-se o que ensinar; pela segunda,
escolhe-se a maneira de compreender e provocar a relação do ser humano com o
conhecimento.
Para a Proposta Curricular de Santa Catarina, o ser humano é entendido
como social e histórico isso significa ser resultado de um processo histórico,
conduzido pelo próprio homem. Assim, somente com um esforço dialético é possível
entender que os seres humanos fazem a história, ao mesmo tempo em que são
determinados por ela.
Em termos de conhecimento produzido no decorrer do tempo, esta proposta
curricular parte do pressuposto de que o mesmo é um patrimônio coletivo, e por isso
deve ser socializado.
Falar-se em socialização do conhecimento implica em garanti-lo a todos. Isto
tem implicações com políticas educacionais que devem zelar pela inclusão e não
pela exclusão.
29
Há, portanto, uma relação do conhecimento considerado mais legítimo em
cada tempo com o poder. Gramsci (l989) chama a atenção para a necessidade de
as camadas populares terem acesso ao conhecimento próprio da camada
dominante da sociedade para se tornarem também governantes.
A socialização é sempre socialização de riqueza. À escola não é possível
promover a socialização da riqueza material. A socialização da riqueza intelectual,
no entanto, é um dos caminhos para a socialização da riqueza material. Isso
significa que a apropriação da riqueza intelectual abre caminhos para a ação política
das camadas populares, capacitando-as para criarem alternativas sociais de melhor
distribuição da riqueza material. Em termos de concepção de aprendizagem, a
Proposta Curricular de Santa Catarina faz a opção pela concepção histórico cultural
de aprendizagem, também chamada sócio-histórica ou sociointeracionista, que na
sua origem, tem como preocupação a compreensão de como as interações sociais
agem na formação das funções psicológicas superiores as quais são resultado de
um processo histórico e social.
Na educação escolar, o professor passa a ter a função de mediador entre o
conhecimento historicamente acumulado e o aluno, o que implica em também ter se
apropriado desse conhecimento. No âmbito dessa concepção de aprendizagem, o
processo pedagógico passa a ter um sentido ético mais marcado do que em muitas
outras concepções. Traz consigo a consciência da responsabilidade ética da escola
com a aprendizagem de todos os alunos (PC/SC, p. 12, 13,14).
Em 2001, novas discussões entre os educadores da rede pública estadual,
permitiram a confecção de um documento, do qual tive novamente a oportunidade
de ser co-autora na área da disciplina de sociologia, em que estabelecemos
conceitos científicos essenciais, competências e habilidades a serem desenvolvidas
nas disciplinas da Educação Básica.
O documento consta de Diretrizes para a Organização da Prática escolar na
educação básica, tendo como objetivo subsidiar a elaboração dos Projetos PolíticoPedagógicos das Unidades Escolares.
No processo de elaboração e sistematização dos subsídios, tivemos como
base, a experiência concreta das escolas, assim como a PC/SC e as Diretrizes
Curriculares Nacionais. Os subsídios estão organizados por disciplinas curriculares.
Para cada disciplina são apresentados: um mapa conceitual e um quadro sugerindo
30
a ênfase a ser dada a cada conceito em casa série ou fase da Educação Básica
(Diretrizes 3, p. 13, 14,15).
Em 2003, a Secretaria de Estado da Educação dá início, a uma nova fase no
processo de consolidação da
Proposta Curricular, tendo como meta garantir a
transposição da teoria consubstanciada nos documentos publicados para a prática
em sala e aula. A intenção é realizar um intensivo movimento em torno da formação
continuada dos professores.
Assim a escola pública estadual de Santa Catarina vem buscando organizar a
sua ação educativa por intermédio de um currículo que deixa de ter função
meramente técnica, para assumir as características de um artefato social e cultural.
O desafio maior que se apresenta hoje para a Escola é como materializar a ação
educativa proposta teoricamente, de modo que cada estudante possa apropriar-se
dos conceitos científicos que lhe possibilitem lidar com sua realidade sócio-histórica
e acessar as riquezas materiais e espirituais socialmente produzidas.
Assim a educação no Estado de Santa Catarina vem se constituindo num
caminho para a construção do cidadão livre. Porém é, e será sempre uma
caminhada coletiva, em que professores e professoras, cidadão e cidadãs devem
manter-se vigilantes, atentos às políticas educacionais deste Estado, para que não
se perca o que até então foi construído com luta e perseverança, daqueles que
realmente são comprometidos com a humanidade e reconhecem as tarefas pelas
quais assumiram responsabilidade.
3.3 Filosofia e filosofia da educação
Desde o seu nascedouro, a proposta Curricular não se apresentava como
pronta e acabada. O processo de reflexão continua e dele vão resultando novas
sínteses (PC/SC, p39).
Entendemos que o compromisso da escola pública é com a maioria da
população que hoje, por força do modelo econômico, político, social, cultural está
fragmentada em vários segmentos-minorias, organizadas ou não na sociedade.
Estes seguimentos todos participam da produção da riqueza, mas historicamente
tem sido expropriado, excluídos, manipulados, discriminados, de muitos modos em
seus direitos fundamentais.
31
Passar pela escola deve significar então, ter o domínio da cultura, do
instrumental teórico prático, que os homens produziram na caminhada civilizatória,
para estabelecer uma nova forma de relacionar-se, entender e transformar de modo
permanente e simultâneo a natureza, a sociedade, a si mesmo e a história.
A partir dessas referências básicas, o desafio permanente, é o de pensar que
presença marcará a Filosofia na formação dos adolescentes, jovens e adultos que
freqüentam o ensino médio. E com relação a Filosofia Da Educação, presente no
curso de Magistério, que contribuição dará, no sentido que estes educadores
venham a se comprometer com o mundo, com a história e consequentemente com
um Projeto Político Pedagógico que aponte na perspectiva de uma sociedade
democrática, justa e solidária.
Em nosso Estado, antes da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
de l996 que contempla a Filosofia como conhecimento necessário, já reconhecia a
importância e o lugar da Filosofia na formação da consciência crítica dos nossos
educandos.
Entendendo que “a Filosofia é um processo de reflexão e elaboração crítica de uma
concepção de mudo enquanto totalidade e o compromisso com sua realização
prática” (PC/SC, 1991).
A Filosofia propõe ao homem-sujeito a postura da radicalidade teórico-prática.
Uma radicalidade teórico-prática que nos afaste do dogmatismo, porque deverá ir
sendo o exercício atento do rigor, da criticidade da dialeticidade. Uma radicalidade
teórico-prática que também nos afaste do ceticismo, porque vai exigindo dos sujeitos
a escolha, e esta escolha deverá ir se pautando pela perspectiva de um projeto
histórico comprometido com a transformação, com a superação da exploração, da
dominação, da exclusão, da alienação, tendo em vista a humanização, novas
relações do homem com o mundo, do homem com os outros homens, do homem
condigo mesmo (PC/SC, p. 40, 41).
Assim a Proposta Curricular oferece aos professores sugestões de uma
metodologia, apresentando o que se considera necessário para viabilizar o objetivo
educacional da Filosofia, além de trazer subsídios referentes ao procedimento
didático-pedagógico e uma listagem do conteúdo programático.
32
4 METODOLOGIA
Sempre que desejamos resolver algum problema, devemos buscar caminhos
que nos possibilitem a solução. Um destes caminhos é a pesquisa, a qual é
geralmente dirigida para resolver problemas práticos.
Na opinião de Goergen (Apud RICHARDSON, 1981, p.65) “a pesquisa nas
Ciências Sociais não pode excluir de seu trabalho a reflexão sobre o contexto
conceitual, histórico e social que forma o horizonte mais amplo, dentro do qual, as
pesquisas isoladas obtêm o seu sentido”. Portanto a pesquisa social deve contribuir
na direção do desenvolvimento do ser humano, embora seu objetivo imediato seja a
aquisição de conhecimento.
Na busca de respostas ao problema que levantei, realizei uma pesquisa social
crítica, a qual tem como fundamento a procura coletiva de solução de problemas
práticos, assim esta pesquisa não está destinada a formular ou testar teorias, como
pesquisadora meu interesse estava em descobrir a resposta para um problema
específico.
Sabemos que o homem é fundamentalmente diferente dos animais, não
possui atributos necessários para sobreviver no reino animal, como garras e dentes
poderosos, está porém,
dotado de algo muito mais poderoso: a consciência, a
capacidade de pensar. Graças a eficácia da mente podemos lidar com conceitos
abstratos. A partir dessa verdade é que, através de pesquisa investiguei aspectos
referentes ao papel social que os acadêmicos reconhecem como seus, em função
de sua formação profissional.
Também procurei saber sobre o conhecimento que o acadêmico tem a
respeito do que é Filosofia, de suas áreas de estudo, bem como a importância que a
Filosofia tem para o exercício da profissão para qual o acadêmico está se
preparando.
Visto que a mente humana está diretamente relacionada com nossa
existência, meu interesse estava em saber como pensam os acadêmicos do século
XXI, em função do contexto social em que vivemos.
Minha pesquisa esteve também voltada para questões do ponto de vista da
Didática, ou seja, de que maneira são dadas as aulas de Filosofia, qual o material
didático utilizado e se os acadêmicos percebem a relação da filosofia com as outras
33
disciplinas do curso. Enfim busquei através da pesquisa realizada obter uma visão
mais ampla do processo de ensino e aprendizagem da Filosofia na formação do
profissional do Ensino Superior.
Faz-se necessário ressaltar que nem sempre alcançamos resultados com
100% de veracidade, já que a maneira de testar a validade de uma afirmação é
submetê-la a exame empírico, porém é possível se obter uma base considerável
para análise e reflexão.
A pesquisa foi realizada com acadêmicos de ambos os sexos, dos cursos de,
Pedagogia, Letras e Matemática, da Universidade do Extremo Sul Catarinense –
Unesc, das 5as e 6as fases, no 1º semestre de 2006.
A escolha de acadêmicos destas fases se deve ao fato de que, no meu
entender os alunos destas fases possuem mais maturidade, e conseqüentemente,
mais clareza quanto ao que desejam e pretendem com a formação que estão
buscando.
No primeiro momento levantei dados a respeito do problema que estou
investigando em livros de diversos autores, e no segundo momento levei o problema
para a sala de aula buscando assim uma relação sujeito-sujeito favorável para
alcançar meu objetivo.
A pesquisa foi do tipo básico, de natureza qualitativa, pois não era minha
intenção empregar um instrumental estatístico, e, por ser este tipo de pesquisa a
forma adequada para entender a natureza de um fenômeno social, tendo em vista
que minha intenção é especificamente buscar saber do acadêmico o que ele pensa
sobre o papel da Filosofia para a sua formação profissional.
Nos
últimos
consideravelmente,
l0
anos
adquiriu
a
posição
mais
da
pesquisa
respeitabilidade,
qualitativa
sendo
que
mudou
pode
ser
caracterizada como uma tentativa de uma compreensão detalhada dos significados
e características situacionais apresentadas pelos entrevistados, em lugar da
produção
de
medidas
quantitativas
de
características
ou
comportamentos
(RICHARDSON, 1999, p. 90).
Sabemos que a produção de conhecimento envolve a abstração do mundo
material para o mundo teórico, podendo assim informar melhor sobre nossa
atividade prática. Porém a realidade objetiva está em estado de fluxo permanente e
nossas tentativas de captá-la por definição, com o passar do tempo ficam obsoletas
34
e inadequadas. Configura-se assim uma difícil relação entre um processo e sua
representação.
Assim, o objetivo de estudar um fenômeno através do tempo é revelar a
especificidade histórica de sua aparência e essência e verificar até que ponto é
construído socialmente (RICHARDSON, l999 p. 93).
A crítica social implica ainda um segundo elemento, a “desconstrução” de
categorias ou fenômenos, o que significa trocar a ênfase explicativa das próprias
categorias para as relações sociais que lhes servem de base. Outro efeito
importante da “desconstrução” é a descoberta da essência de um fenômeno,
localizando suas condições de existência em um conjunto específico de ralações
sociais e econômicas.
Isso também revela fatores políticos que nem sempre podem ser captados na
aparência do fenômeno, embora interfiram sobre ela. Tal interferência dá-se no
sentido de torná-la funcional, seja da perspectiva da revelação, quando conveniente,
seja da do ocultamento, mais usual, dos referidos fatores.
Assim procurei desenvolver minha pesquisa, sob este prisma, pois acredito
que a visão que se tem da Filosofia hoje, é conseqüência direta de fatores culturais,
sociais e políticos, e a mudança desse quadro só será possível a partir da
concepção dessa realidade por parte de professores e alunos.
É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à
realidade do mundo. Portanto embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula
pensamento e ação. Ou seja, nada pode ser intelectualmente um problema, se não
tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática. As questões da
investigação estão, portanto, relacionadas a interesses e circunstâncias socialmente
condicionadas. São frutos de determinada inserção no real, nele encontrando suas
razões e seus objetivos (MINAYO, 2000 p. l8).
A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares, ela se
preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela
trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e
atitudes. A abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados das
ações e relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações,
médias e estatísticas (MINAYO, 2000 p. 220).
Sendo assim não seria possível desenvolver, ou aplicar outro tipo de
pesquisa, senão a que utilizei. A referida pesquisa me proporcionou uma visão
35
essencial do aspecto/desafio que agora deve ser superado, por professores e alunos
dos diferentes cursos das diversas áreas de formação do Ensino Superior, visto que
já não se pode pensar em formação acadêmica sem bases filosóficas, que
favoreçam a discussão dos currículos e programas dos cursos do Ensino Superior,
no que tange a Filosofia e seu processo de ensino e aprendizagem.
O enfoque dado ao meu trabalho foi do ponto de vista do marxismo, ou
Materialismo Dialético, que tem em sua ideologia, oposição clara a toda forma de
positivismo e estruturalismo.
Num tempo em que as promessas de bem estar para todos fracassavam e a
degradação das condições de vida aumentava. Surge Karl Marx e diz: “A questão se
cabe ao pensamento humano atingir uma verdade objetiva não é teórica, mas
prática”. Em outras palavras, não basta interpretar o mundo – é necessário
transformá-lo.
Marx coloca o homem racional – idealista de cabeça para baixo. E afirma:
“não é a consciência dos homens que determina sua existência, mas, ao contrário, é
a sua existência social que determina a sua consciência”.
Então vejamos, na linguagem marxista, o termo materialismo refere-se a
teoria filosófica preocupada em destacar a importância dos seres objetos como
elementos constitutivos da realidade do mundo. Assim para o materialismo, a
matéria é uma categoria que indica a realidade objetiva dada ao homem por meio de
suas sensações e que existe independente dele.
O materialismo marxista afirma que o pensamento, a consciência e a idéia se
desenvolvem como reflexos da realidade material, objetiva, produzidos no cérebro
humano. Não são, porém reflexos passivos, mas reflexos ativos, dialéticos, isto é,
em que a realidade influencia a idéia e o sujeito consciente influencia a realidade.
A partir dessa idéias podemos perceber que o marxismo permitiu
compreender que os fatos humanos são instituições sociais e históricas produzidas,
não pelo espírito e pela vontade livre dos indivíduos, mas pelas condições objetivas
nas quais a ação e o pensamento humanos devem realizar-se. Assim podemos
compreender que as mudanças históricas não resultam de ações súbitas e
espetaculares de alguns indivíduos ou grupos, mas de lentos processos sociais,
econômicos e políticos (CHAUÍ, 1997 p.275).
36
4.1 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
Existem diversos instrumentos de coleta de dados que podem ser utilizados
para obter informações acerca de grupos sociais, entre eles temos o questionário
que talvez seja o mais comum.
O questionário foi o instrumento de coleta de dados que escolhi para a minha
pesquisa, por que, entendo que a informação obtida por meio de questionário
permite observar as características de um indivíduo ou grupo, fato que beneficia a
análise a ser feita por um pesquisador. As características educacionais de um grupo,
por exemplo, podem contribuir para explicar determinadas atitudes políticas desse
grupo.
Além disso, a formulação de perguntas múltiplas com vários itens
estreitamente ligados à problemática estudada, podem servir para medir diversos
fenômenos atitudinais, tais como, alienação, autoritarismo, religiosidade, etc.
Sendo o meu objetivo saber o que os acadêmicos pensam da Filosofia como
disciplina e sua importância para a formação profissional, optei pelo questionário de
perguntas abertas.
Este tipo de questionário caracteriza-se por perguntas ou afirmações que
levam o entrevistado a responder com frases ou orações, já que meu interesse
como pesquisadora não estava em antecipar as respostas, mas sim coletar uma
maior elaboração das opiniões dos entrevistados.
Uma das vantagens das perguntas abertas é a possibilidade de o entrevistado
responder com mais liberdade, não estando restrito a marcar uma ou outra
alternativa, o que ajuda muito o pesquisador, principalmente se este tem pouca
informação a respeito dos entrevistados.
Faz-se necessário observar, que as perguntas abertas têm a desvantagem de
dificultar a classificação e codificação. Diversas pessoas podem dar respostas
aparentemente semelhante, mas o significado pode ser totalmente diferente. Isso
dificulta a codificação. Daí a importância de se tomar cuidado e ter bom critério para
se trabalhar com esse tipo de pergunta.
Existem pessoas que têm mais facilidade para escrever que outras isso
evidentemente pode afetar a análise de determinado assunto. Outro aspecto é que
perguntas abertas demandam tempo para serem respondidas. Portanto o
37
pesquisador não deve exagerar na quantidade de perguntas para evitar o cansaço
do entrevistado.
Sendo assim optei por um questionário que contém seis perguntas abertas, e
para respondê-las foram selecionados cinco acadêmicos de cada curso perfazendo
um total de vinte questionários, os quais foram aplicados diretamente por mim, com
este procedimento há menos possibilidade de os entrevistados não responderem ao
questionário ou de deixarem algumas perguntas em branco.
No contato direto, o pesquisador pode explicar e discutir os objetivos da
pesquisa e do questionário.
Finalmente é importante observar que apesar de o questionário ser um
instrumento comumente utilizado para coleta de dados de uma pesquisa, o mesmo
apresenta algumas limitações. Muitas vezes não se obtém os 100% de respostas
aos questionários, podendo produzir vieses importantes na amostra, que afetam a
representatividade dos resultados.
Nem sempre é possível ter certeza de que a informação proporcionada pelos
entrevistados corresponde a realidade. Isso varia segundo o tema tratado, por
exemplo, opiniões, interesses, características pessoais.
Devemos considerar também que, as respostas dos indivíduos variam em
diferentes períodos de tempo, as atitudes e opiniões podem varias de acordo com a
situação emocional de uma pessoa.
Em termos gerais, o questionário é uma ferramenta muito útil para coletar
dados, mas pode transformar-se em um instrumento de alienação quando o
pesquisador não tem uma problemática teórica clara e a utiliza como um fim e não
como um meio de captação de informação. Além disso, o pesquisador deve ter clara
consciência de que a relação com o entrevistado precisa ser de sujeito a sujeito, e
não de sujeito a objeto. Nenhum ser humano pode desenvolver-se com a existência
de relações instrumentais (RICHARDSON, 1999 p.205).
Após o levantamento das informações, os dados foram tabulados e
categorizados e posteriormente foram analisados. A partir das análises feitas
elaborei algumas sugestões de procedimentos didático-pedagógicos que poderão
servir como subsídios que a partir de uma discussão por parte de professores e
alunos, poderão sanar algumas necessidades relacionadas ao processo de ensinoaprendizagem da Filosofia como disciplina dos cursos, bem como sua utilização nas
bases que norteiam os currículos do Ensino Superior.
38
O método utilizado para o tratamento dos dados levantados na pesquisa foi o
de análise de conteúdo, em que tomei como base o referencial teórico adotado.
4.2 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS
1) Qual o papel social do acadêmico do curso de:
PEDAGOGIA
Sujeito A – Formar alunos críticos, autônomos, criativos, para a transformação
social.
Sujeito B – Dar uma base para que a criança inicie sua vida de estudos.
Sujeito C – Contribuir para a formação da pessoa como cidadã, capaz de atuar
sobre a sociedade, de modo a transformá-la, sabendo lidar com as diferenças de
forma dialética.
LETRAS
Sujeito A – Ajudar as pessoas a encontrarem orientações em relação a língua
portuguesa.
Sujeito B – O comprometimento com o estudo e o ensino de línguas e literatura nas
suas mais diversas formas e contextos.
Sujeito C – Viabilizar o conhecimento a respeito da língua materna e suas literaturas
e disponibilizar uma sabedoria acerca da linguagem e sua importância no meio
social.
MATEMÀTICA
Sujeito A – Conscientizar o povo sobre a importância da educação e seu papel para
mudar o país para melhor.
Sujeito B – Do acadêmico desconheço, porém do professor é bastante relevante.
Sujeito C – Desenvolver o saber crítico e reflexivo relativo a toda sociedade, é
fundamental que todos os acadêmicos trabalhem para a melhoria da vida sóciopolítica da população.
39
ANÁLISE
Percebe-se que os sujeitos direcionam o seu papel social par sua área de
formação, limitando-se a sala de aula. Vejo que não possuem uma visão macro de
seu papel, e fecham-se em seu mundo de docentes,não percebendo-se como seres
históricos pertencentes a um contexto bem mais amplo.Embora aja alguma alusão
ao aspecto da necessidade de transformação da sociedade.
2) O que é Filosofia?
PEDAGOGIA
Sujeito A – Um estudo do pensar para melhor preparação psicológica. Nos remete à
reflexão profunda, indagações, sempre buscando achar o “porque” das coisas.
Sujeito B – É o estudo do saber.
Sujeito C – A arte de pensar e questionar-se sobre as coisas que acontecem a
nossa volta e conosco.
LETRAS
Sujeito A – Estudo da sabedoria humana, onde pensadores questionam sobre
mundo, natureza e suas leis e principalmente sobre a humanidade e seu meio
social.
Sujeito B – A ciência que estuda ideologias criadas por ilustres pensadores, muitas
vezes discriminados pelo seu próximo.
Sujeito C – Estudo sobre como o homem entende a vida e o comportamento social.
MATEMÁTICA
Sujeito A – É uma forma de pensamento que visa explicar a essência do mundo
através da razão.
Sujeito B – É o meio de pensamento reflexivo diante de tudo que envolve o mundo,
o universo, enfim, tudo e todos.
Sujeito C – Estudar os pensamentos de uma forma ampla criando conceitos
próprios para chegar ao conhecimento desejado.
40
ANÁLISE
Para a maioria dos sujeitos a Filosofia, é apenas o estudo dos filósofos e de
seus pensamentos. Percebe-se uma noção muito ingênua do que seja a Filosofia,
alguns a confundem com psicologia e sociologia. Fica claro que possuem um
conceito muito limitado da filosofia, o que consequentemente os impede de
conceber sua importância e utilidade.
3) O que se estuda em Filosofia?
PEDAGOGIA
Sujeito A – Os grandes pensadores e suas idéias, como estas influenciaram no
decorres da história. Que transformações estas possibilitaram e possibilitam ainda
hoje. É possível estudar tudo aquilo que nos desperta curiosidade.
Sujeito B – As correntes de pensamentos. Dando ênfase aos filósofos que de
alguma maneira contribuíram para a sociedade positivamente.
Sujeito C – Estuda os filósofos e sempre tentando achar o “X” da questão.
LETRAS
Sujeito A – Geralmente se estuda na filosofia, os pensadores e suas correntes.
Sujeito B – O comportamento humano dentro de uma sociedade, o meio em que
vive, na religiosidade e principalmente seus pensamentos e sabedoria.
Sujeito C – Teoria, sociedade, o indivíduo, a influência dos pensadores na
sociedade.
MATEMÁTICA
Sujeito A – Os pensamentos historicamente construídos em relação ao mundo, o
homem e suas origens, com isso tenta libertar o homem para alcançar novos
horizontes usando a razão.
Sujeito B – Os grandes pensadores, suas formas de pensar o mundo, para
identificar-se com alguns deles ou criar pensamentos autônomos.
Sujeito C – Idéias, ações, ser humano, enfim, tudo o que existe ou mesmo o que não
exista efetivamente, que existe em ideal.
41
ANÁLISE
Com relação ao conteúdo estudado, a maioria dos sujeitos da pesquisa
responderam que estes referem-se aos grandes pensadores e sua idéias, e que o
objetivo de estuda-los está no fato de a partir daí desenvolver ou “criar “ como dizem
idéias autônomas.
Mais uma vez percebo um conhecimento limitado do contexto de estudos da
filosofia, assim posso confirmar o que havia descrito em minha justificativa.
Professores e alunos não concebem com clareza a Filosofia limitando-a a ser
apenas mais uma disciplina do curso, que contem um conjunto de conteúdos a
serem repassados pelos professores e memorizados pelos alunos.
4)Qual a importância da Filosofia para o exercício de sua profissão?
PEDAGOGIA
Sujeito A – Devemos conhecer os pensamentos filosóficos sobre a educação para
que nos mostrem olhares diferentes sobre o assunto e contribuindo para melhorar
soluções.
Sujeito B – Ampliar os horizontes do conhecimento e assumir uma postura críticoreflexiva frente às propostas de ensino e sobre minha prática pedagógica.
Sujeito C – A pessoa que filosofa ou pensa mais profundamente sobre algo, terá
melhores condições para lidar com situações “desagradáveis” que possivelmente
possa acontecer em seu cotidiano profissional.
LETAS
Sujeito A – A Filosofia abrange, e muitas vezes norteia, o modo de pensar e agir do
profissional.
Sujeito B – É importante, pois ela trás consigo uma carga muito grande de grandes
pensadores, que com seus pensamentos transformaram a sociedade ou tentaram
mudar.
Sujeito C – Permite-nos relacionar aos conteúdos uma forma mais abrangente de
ensino. Relação indivíduo X modo de pensar X ação.
42
MATEMÁTICA
Sujeito A – Primeiro estabelecer uma ideologia a seguir, para a partir desta objetivar
a construção de uma sociedade menos desigual.Além disso é importante para
entender os primeiros conceitos matemáticos.
Sujeito B – Devemos passar autonomia de pensamento para nossos alunos para
que eles não se tornem massa de manobra.
Sujeito C – Compreender reflexivamente o comportamento e todo o processo
educacional.
ANALISE
De modo geral as respostas a esta questão não mudam muito nos diferentes
cursos, basicamente se vê a filosofia como meio par auxiliar na escolha de uma
postura profissional, considerando que esta escolha se torna possível a partir do
conhecimento dos diferentes modos de pensar.
Constatei ainda a noção que os acadêmicos tem, a respeito da necessidade
de se trabalhar a liberdade de pensamento e expressão com os alunos, embora
algumas respostas me parecem estar mais ligadas a psicologia e a sociologia.
5) Como acontecem as aulas de Filosofia?
PEDAGOGIA
Sujeito A – A grande maioria dos professores estudam a vida e alguns pensamentos
sobre alguns filósofos..
Sujeito B – Através de leituras, discussões, debates sobre diversos temas.
Sistematização do conhecimento através da produção de textos, teatros, músicas e
outros meios.
Sujeito C – Sempre com muito diálogo, debates, discussões sobre as questões mais
profundas do ser humano.
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LETRAS
Sujeito A – Alunos sentados e professor “ viajando” no mundo da filosofia.
Sujeito B – Com discussão, questionamento, pensamento e muita leitura a respeito.
Sujeito C – Na sala de aula.
MATEMÁTICA
Sujeito A – O professor a partir de um assunto começa a falar do mesmo e depois o
assunto se desdobra.
Sujeito B – De uma forma que organize disciplina e liberdade de pensamento.
Sujeito C – Decorrem em forma de discussões críticas, relevando todas as formas
de pensar.
ANÁLISE
Em todos os curso as aulas são ministradas através de debates e discussões,
essencialmente teóricas, pelo que percebi não há contextualização nem vivência de
situações da vida prática. Fato que a meu ver reforça a idéia de que a filosofia é
essencialmente teórica, não tendo assim utilidade prática.
6) Qual o material didático mais utilizado pelo professor?
PEDAGOGIA
Sujeito A – Textos e algumas dinâmicas de grupo.
Sujeito B – O material didático mais usado são textos ( apostilas).
Sujeito C – Recursos bem diversificados, mas sempre dando ênfase a textos
diversificados de apostilas.
LETRAS
Sujeito A – Um livro.
Sujeito B – Apostila e livros de filosofia.
Sujeito C – Retro-projetor, lâminas e apostilas.
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MATEMÁTICA
Sujeito A – Apostilas.
Sujeito B – Apostilas e retro-projetor.
Sujeito C – Apostilas.
ANÁLISE
Quanto ao material utilizado, este limita-se a textos e apostilas, na maioria
das vezes apresentados no retro-projetor. Enfim, ao que me parece são aulas
monótonas e com uma rotina de atividades que apenas contribuem para o
desinteresse do acadêmico.
7)Você percebe a relação da Filosofia com as outras disciplinas do curso?
PEDAGOGIA
Sujeito A – As teóricas sim.
Sujeito B – Sim percebe claramente a influência ou a relação da filosofia com outras
disciplinas, e ajuda também a entender porque aprendemos da forma que
aprendemos.
Sujeito C – Com certeza a filosofia nos ajuda a refletir melhor, sendo assim acredito
que ela tem uma grande ralação com a psicologia da educação.
LETRAS
Sujeito A – A Filosofia aparece muitas vezes relacionada, em partes, com a
literatura, já que muitos autores da literatura sofrem influência de correntes ou
movimentos.
Sujeito B – A Filosofia faz parte de todos os cursos pois nela há um questionamento
sobre nós seres humanos e o meio em que vivemos e sobre tudo o que nos cerca.
Sujeito C – Muito pouco, principalmente com relação aos professores e seu modo de
aplicar os conteúdos.
45
MATEMÁTICA
Sujeito A – Sim, todas as ligadas a didática, algumas também ligadas a cálculo.
Sujeito B – Sim porque não somos máquinas de reproduzir conhecimento, mas
devemos produzi-los também.
Sujeito C – O acadêmico que já tem uma visão mais além do que é proposto
percebe as relações, os menos “avançados” com certeza não associam a
importância da Filosofia para o papel docente.
ANÁLISE
Da forma como responderam a esta pergunta me leva a crer que os outros
professores das outras disciplinas do curso, fazem muito pouco ou quase nenhuma
relação de suas disciplinas com a Filosofia. A noção que tenho é de que existe uma
compartimentação das disciplinas, dificultando o entendimento do todo e da relação
que existe entre os aspectos sociais políticos e econômicos no contexto da
realidade em quer estamos inseridos.
46
5 CONCLUSÃO
Ao finalizar minha monografia, posso afirmar que esta foi uma experiência
enriquecedora sob vários aspectos. Pelo fato de ser o meu primeiro trabalho de
monografia pude perceber o quanto é difícil realiza-lo, porém, gratificante já que
durante sua execução tive a oportunidade de conhecer uma série de autores que
tratam, em suas obras, do tema ao qual dediquei minha pesquisa, fato que me
deixou muito satisfeita, pois percebi que o problema que levantei é relevante e está
sendo discutido por muitos autores.
Os contatos que tive com os alunos dos cursos em que apliquei os
questionários foram de grande valia, bem como, com os professores que
gentilmente me cederam suas aulas.
Durante minha busca para investigar como os acadêmicos de diferentes
cursos percebem a filosofia, tive o intuito de provocar uma reflexão acerca da
importância da filosofia na formação humana e profissional do acadêmico.
A realização dessa monografia foi sem dúvida uma experiência impar que me
proporcionou uma visão mais ampla e segura no campo da pesquisa, já que este
trabalho me proporcionou também a oportunidade de conhecer diferentes
metodologias de pesquisa muitas das quais não conhecia. Sem dúvida, é um
aspecto importante, pois sempre que trilhamos novos caminhos na busca do
conhecimento vamos enriquecendo-nos e consequentemente descobrimos o quanto
há para se saber e que o que sabemos é muito pouco, porém esta caminhada me
deixou uma certeza quero continuar nesta busca.
Minha pesquisa foi do tipo básica, e tratou da questão do papel da filosofia na
formação do profissional do Ensino Superior, para a realização desta pesquisa
utilizei como instrumento de coleta de dados um questionário, comporto de sete (7)
perguntas abertas com a intenção de proporcionar ao entrevistado mais liberdade
para responder.
O questionário foi aplicado a alunos de diferentes cursos da Universidade do
Extremo Sul Catarinense – UNESC, pois minha intenção era ainda verificar esta
postura filosófica sob diferentes ângulos das diferentes áreas do conhecimento.
Porém sob este aspecto não cheguei a me sentir satisfeita, visto que em função de
alguns aspectos burocráticos, tive que limitar minha pesquisa a cursos da área da
47
educação, habilitação magistério. Não tive assim a oportunidade de aplicar os
questionários em cursos das outras áreas do conhecimento como, saúde, Ciências
sociais, Engenharias etc.
Mas ainda assim através da análise dos resultados pude chegar a uma
resposta razoável a respeito do meu questionamento pois pude perceber claramente
e confirmar minha justificativa para a pesquisa, com havia suposto, visto que ainda
há uma grande defasagem, no campo da Filosofia no que dez respeito a sua
utilidade. Existe nas Universidades uma visão pouco clara, diria mesmo, ingênua por
parte dos acadêmicos, a respeito da Filosofia e de seu papel na sua formação
profissional. Visão esta que também não é muito diferente por parte dos professores,
já que me pareceu não haver clareza a respeito do papel que a Filosofia pode e
deve exercer na formação do profissional do Ensino Superior.
Situação esta, que pode ser constatada ao verificarmos as resposta dadas
nos questionários que apliquei. Ficando assim evidente a necessidade de se rever
este papel, ou seja, de trazer para a Universidade a compreensão da Filosofia como
sendo uma disciplina fundamental para o acadêmico.
Outro aspecto que me chamou a atenção refere-se ao vocabulário limitado
dos acadêmicos, os quais demonstraram dificuldade de expressão escrita, o que a
meu ver deve-se a pouca leitura, fato que faz parte da realidade brasileira, e que
deve ser levado em consideração, ao se repensar a educação e os métodos de
ensino.
Enfim, espero que a partir dessa pesquisa possam ser elaborados, estudos
mais aprofundados a respeito deste fenômeno. Especialmente no que tange aos
currículos dos cursos universitários, com o objetivo de ampliar a cadeira de filosofia,
levando-a para um número maior de cursos. Bem como buscar rever e elaborar
métodos didático - pedagógicos que permitam uma maior compreensão do papel e
da utilidade da Filosofia na formação do profissional do Ensino Superior.
Podendo assim buscar e construir melhores subsídios para uma reformulação
dos currículos e P.P.Ps dos cursos visando maior espaço para a Filosofia na
Universidade.
Deixo como sugestões, a possibilidade de se rever os P.P.Ps. dos cursos e
da Universidade, no que se refere a Filosofia.
Discussão e diálogo mais amplo entre professores de filosofia juntamente
com os professores das outras disciplinas dos cursos.
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Planejamento interdisciplinar, principalmente das áreas afins.
Promoção de amostras e ou simpósios de Filosofia na Universidade, com o
intuito de divulgar e ampliar as áreas de atuação da Filosofia.
Ministrar a cadeira de Filosofia em fases mais avançadas dos cursos, pois
geralmente se trabalha Filosofia nas primeiras fases.
Aprofundamento dos aspectos filosóficos nas áreas específicas dos cursos.
Enfim, existem muitas possibilidades de se melhorar o ensino de Filosofia no
ensino superior, basta vontade política e interesse de professores e acadêmicos.
Sem dúvida há muito por fazer. e a caminhada não é fácil porém na
perspectiva de se chegar ao ótimo podemos realizar o bom, por isso acredito na
educação e na Universidade como instrumentos capazes de hominizar e humanizar
o homem através da Filosofia, tornando assim a educação um fenômeno e um
processo social, neste aspecto reside a importância e o papel da escola.
“A educação deve permitir a cada indivíduo encontrar seu estilo; der ele
mesmo, para além da espontaneidade incoerente para além das normas prontas e
acabadas e dos lugares comuns; ser ele mesmo assimilando o que cada cultura
ofereça de verdadeiramente humano” (MORAES, Regis de, l986 p. 26)
Consideramos aqui a real contribuição da reflexão filosófica, a qual pode
efetivamente melhorar o trabalho de educadores e acadêmicos no contexto do
Ensino Superior, enfim, qual o papel da filosofia no trabalho que se desenvolve na
universidade.
49
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Introdução a Filosofia. São Paulo: Moderna, l986.
CHAUÍ, Marilena, Convite à Filosofia. 6ª ed. São Paulo: Àtica, l997.
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COTRIN, Gilberto, Fundamentos da Filosofia – Ser, Saber e Fazer. 11ª ed. São
Paulo: Saraiva, 1995
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Florianópolis; IOESC,
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Conceitos científicos essenciais, competências e habilidades. Florianópolis: Diretoria
de Ensino Fundamental/Diretoria de Ensino Médio, 2001
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JASPERS, Karl, Introdução ao pensamento filosófico. São Paulo: Cultrix, 2003.
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prazer da reflexão. São Paulo: Moderna, 2004
LUCIANO, Fábia Liliã, Metodologia científica e da pesquisa. Criciúma: Ed.do
autor, 2001.
MINAYO, Maria Cecília de Souza, Org. Pesquisa Social – Teoria, Método e
Criatividade. l6ª ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 2000.
MORAIS, Regis de, Org. Filosofia, Educação e Sociedade – Ensaios filosófico.
Campinas- SP: Papirus, l989.
MORAIS, Regis de, Org. Sala de aula – Que espaço é esse?Campinas-SP: Papirus,
l986.
50
PIEPER, Josef, Que é Filosofia? Que é Acadêmico? São Paulo: E.P.U. ,
l981PROPOSTA CURRICULAR de Santa Catarina, Versão Preliminar, l997
PROPOSTA CURRICULAR de Santa Catarina, Educação Infantil – Ensino
Fundamental e Médio – Formação Docente para Educação Infantil e Séries Iniciais,
l998.
PROPOSTA CURRICULAR de Santa Catarina, Estudos Temáticos, 2005.
RICHARDSON, Roberto Jarry e colaboradores, Pesquisa Social – Métodos e
Técnicas. 3ªed. São Paulo: Atlas, 1999.
51
ANEXOS
UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC
DIRETORIA DE GRADUAÇÃO
Prezado Professor Ricardo L. Bittencourt
Eu, Sandra Regina Lodetti, acadêmica do curso de Pós-graduação
Latu Sensu especialização em Didática e Metodologia do Ensino Superior, venho
através deste solicitar autorização para realizar uma pesquisa para conclusão da
monografia.
Para isso necessito aplicar questionários com acadêmicos de
diferentes cursos desta Universidade. Sendo assim conto com sua atenção e
agradeço o espaço que me será concedido.
Atenciosamente.
_________________________
Sandra Regina Lodetti
________________________
Ricardo L. Bittencourt
52
UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC
DIRETORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
CURSO: Especialização Latu Senso em Didática e Metodologia do Ensino Superior
ACADÊMICA: Sandra Regina Lodetti
Como subsídio para a minha monografia estou fazendo uma pesquisa a
respeito da percepção que os acadêmicos tem da Filosofia e sua importância na
formação profissional.
É muito importante que suas respostas sejam sinceras.
Será mantido sigilo das informações aqui colocadas. Obrigada.
CURSO__________________________________________________
FASE________
INSTITUIÇÃO_______________________________________________________
1. Qual o papel social do acadêmico do curso
de___________________________?
2. O que é Filosofia?
3. O que se estuda em Filosofia?
4. Qual a importância da Filosofia para o exercício da sua profissão?
5. Como acontecem as aulas de Filosofia?
6. Qual o material didático mais utilizado pelo professor?
7. Você percebe a relação da Filosofia com as outras disciplinas do curso?
Criciúma, ___/___/___ .
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