relato de caso clínico

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THAISA BUENO GODOY PARREIRA
RABDOMIOSSARCOMA:
RELATO DE CASO CLÍNICO
Londrina
2014
1
THAISA BUENO GODOY PARREIRA
RABDOMIOSSARCOMA:
RELATO DE CASO CLÍNICO
Trabalho
de
Conclusão
de
Curso
apresentado
ao
Departamento
de
Odontologia Restauradora da Universidade
Estadual de Londrina, como requisito à
obtenção do título de cirurgiã-dentista.
Orientador: Prof. Dr. Antonio Carrilho Neto
Londrina
2014
2
THAISA BUENO GODOY PARREIRA
RABDOMIOSSARCOMA:
RELATO DE CASO CLÍNICO
Trabalho
de
Conclusão
de
Curso
apresentado
ao
Departamento
de
Odontologia Restauradora da Universidade
Estadual de Londrina, como requisito à
obtenção do título de cirurgiã-dentista.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________
Orientador: Prof. Dr. Antonio Carrilho Neto
Universidade Estadual de Londrina - UEL
____________________________________
Prof. Dr. Wagner Ursi
Universidade Estadual de Londrina - UEL
Londrina, _____de ___________de _____.
3
PARREIRA, thaísa bueno godoy. rabdomiossarcoma: relato de caso clínico. 2014.
23 fls. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Odontologia) –
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2014.
RESUMO
Rabdomiossarcoma é um tumor maligno mesenquimal de músculo esquelético
que raramente atinge a cavidade oral, pessoas negras e acima de 40 anos.
Apresenta aspectos clínicos, biológicos e histopatológicos bastante diversificados. O
presente artigo relata um caso clínico de Rabdomiossarcoma de baixa frequência,
em paciente do gênero feminino, raça negra, 49 anos de idade, ocorrendo em
cavidade oral. No decorrer do caso, os autores utilizaram-se de aspectos clínicos,
terapêuticos e imuno-histoquímicos para concluir diagnóstico.
Palavras-chaves: Rabdomiossarcoma; Imuno-histoquímica; Neoplasia.
4
PARREIRA, Thaísa Godoy Bueno. Rhabdomyosarcoma: a case report. 2014.
23fls.Completion of course work (Graduate Dentistry) - State University of Londrina,
Londrina, 2014.
ABSTRACTS
Rhabdomyosarcoma is a malignant mesenchymal tumor of skeletal muscle that
rarely affects the oral cavity and black people above 40 years. It presents clinical,
biological and diversified histopathological aspects.The presenting article reports a
clinic case of Rhabdomyosarcoma of low frequency, in a female pacient, black, 49
years old, in the oral cavity. During the case, the authors used the clinical,
therapeutic and immunohistochemical aspects to complete the diagnosis.
Key Words: Rhabdomyosarcoma; immunohistochemistry; Neoplasia.
5
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Exame Extra-Oral Inicial ......................................................................... 10
Figura 2 – Exame Intra-Oral Inicial .......................................................................... 10
Figura 3 – Panorâmica Inicial .................................................................................. 11
Figura 4 – Paciente após início do tratamento de radioterapia e quimioterapia ...... 15
Figura 5 – Panorâmica mostrando a evolução do tumor ......................................... 15
6
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 7
2 RELATO DE CASO ............................................................................................... 9
3 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 12
4 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 18
REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 19
7
1 INTRODUÇÃO
O
Rabdomiossarcoma
é
uma
neoplasia
maligna
caracterizada
pela
diferenciação celular de origem no tecido muscular esquelético. Esses tumores são
mais comuns em crianças, representando 60% dos sarcomas de tecidos moles na
infância. Em contraste, os Rabdomiossarcomas representam somente 2% a 5% dos
sarcomas de tecidos moles em adultos (STOUT; LATTES, 1967; MAURER et al.,
1988; ENZIGER; WEISS, 1995; GOTOet. al., 1998; QUALMAN et al., 1998; PAPPO
et al., 1999; PAULINO; OKCU, 2008; NEVILLE et. al., 2009), sendo o gênero
masculino mostra-se com uma maior predisposição para o desenvolvimento deste
tumor (LYOS et al, 1996; NEVES, 2003).
De acordo com Chen et al. (1995) a etiologia do Rabdomiossarcoma não é
totalmente conhecida, porém, genes incomuns podem ter um papel importante no
desenvolvimento desta neoplasia. Goto et. al. (1998) relatam um possível
envolvimento viral na sua patogênese, devido à identificação de partículas virais em
tecidos malignos rabdomioblástico e através de estudos citogenéticos e moleculares,
foi
possível
identificar
oncogêneses,porém
a
as
translocações
participação
cromossômicas
destes
eventos
e
mutações
em
na
etiologia
do
Rabdomiossarcoma não está bem estabelecida.
Neville et. al. (2009) descreveram que os sinais e sintomas desta patologia se
manifestam por aumento de volume infiltrativo, indolor, de crescimento rápido.
Hermann, Sotelo-Avila e Eisenbeis (2003) e Burkat e Lucarelli (2005) relataram que
podem ocorrem obstrução nasal, rinorréia, otites, tumoração em fossa nasal ou
alterações da mucosa assim como tumores pequenos restritos aos seios paranasais
com a parede sinusal intacta, que não é possível ser detectado endoscopicamente.
O Rabdomiossarcoma pode ser classificado histologicamente como alveolar,
pleomorfo e embrionário o qual subdivide em botrióide (HORN JR.; ENTERLINE,
1958; ANDERSONet al, 1990; LUU et al., 2006; NATIONAL Cancer Institute, 2014).
Em crianças, aproximadamente 60% dos tumores são embrionários, 20% alveolares,
15% não classificados e 5% pleomorfos (NATIONAL Cancer Institute, 2014).
A localização mais frequente é a região de cabeça e pescoço que representa
35% dos casos, seguido do trato genitourinário e retroperitônio (NEVILLE et.
al.,2009). Os subsítios tumorais na região da cabeça e pescoço incluem a órbita,
sítios
8
parameníngeos e os sítios não-parameníngeos (KRAUS et. al., 1997; LUU et. al.,
2006).
O diagnóstico desta patologia deve incluir uma história clínica completa,
exame
físico,
computadorizada,
hemograma,
ressonância
perfil
bioquímico
magnética
e
sanguíneo,
biópsia
com
tomografia
histopatológico.
(ANDERSON et al., 1990). O atraso no diagnóstico foi associado ao pior prognóstico
do câncer em adultos comparado com crianças, este atraso também pode decorrer
daapresentação clínica do Rabdomiossarcoma que é variada, e, por vezes, pouco
específica (POLLOCK; JEFFREY; TERESA, 1991; KOSCIELNIAK; MORGAN;
TREUNER, 2002; RODRIGUES; CAMARGO, 2003).
As formas terapêuticas variam em função do tipo de tumor, localização
anatômica, tamanho da lesão, progresso de malignidade, invasão das estruturas de
tecidos adjacentes e presença ou ausência de metástase, características que, em
conjunto, determinam um tratamento mais conservador ou radical (ENZIGER;
WEISS, 1995; MIRANDA; FIGUEIREDO; SOUZA, 2001). Como importantes
ferramentas no planejamento da abordagem terapêutica, os exames tomográficos e
de ressonância magnética são utilizados para avaliar a dimensão do tamanho da
lesão e seu espaço ocupado na estrutura óssea (MAURER et. al., 1998; ENZIGER;
WEISS, 1995; MIRANDA; FIGUEIREDO; SOUZA , 2001).
Atualmente,
esta
patologia
tem
uma
abordagem
multiprofissional
e
multidisciplinar, envolvendo a cirurgia, radioterapia e quimioterapia (MAURER et. al.,
1998; PAPPO et. al., 1999; ENZIGER; WEISS, 1995; MIRANDA; FIGUEIREDO;
SOUZA, 2001; WEXLER; CRIST; HELMAN, 2002). Seu prognóstico comparado com
a ocorrência em outras partes do corpo, mostra-se ruim assim como o
comportamento biológico na evolução clínica da doença, segundo Dito eBatsakis
(1962).
O objetivo deste artigo é relatar a ocorrência de caso clínico de
Rabdomiossarcoma de baixa frequência, envolvendo a região maxilar superior
direita, diagnosticado no Pronto Socorro Odontológico 24 horas da Universidade
Estadual de Londrina, Londrina, Paraná, Brasil.
9
2 RELATO DE CASO
Paciente C.S., gênero feminino, 49 anos, raça negra, procurou atendimento
odontológico devido a presença de abaulamento na região de molares superiores
direito com aproximadamente 5 ou 6 meses de evolução e indolor. A paciente referiu
atendimento
em
clínica
odontológica
privado,
onde
recebeu
tratamento
medicamentoso com antibiótico. Posteriormente foi encaminhada ao Pronto Socorro
Odontológico 24 horas, da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Durante
consulta a mesma foi examinada e apresentou pressão arterial 240/180 mmHg,
sendo encaminhada para avaliação médica.
Ao exame clínico extraoral observou-se assimetria facial (Figura 1) e intraoral
na região superior direita, a presença de lesão com aproximadamente 4cm em seu
maior diâmetro, proliferativa exofítica e endofítica, fibrosa a palpação, revestida por
mucosa de cor normal compatível com mucosa adjacente e presença de ulceração
em sua superfície. (Figura 2)
A imagem radiográfica evidencia rarefação óssea no ápice do elemento lateral
superior direita e o aumento de radiopacidade na região superior direito do segundo
pré-molar envolvendo a tuberosidade e áreas do seio maxilar. (Figura 3)
Em um segundo momento, foi realizado biópsia do tipo incisional na região de
fundo de sulco próximo ao elemento 17, sendo o material encaminhado ao
laboratório
de
Patologia
histopatológico.
O
do
resultado
Hospital
Universitário
da
não
conclusivo,
sendo
foi
UEL
para
exame
necessário
seu
encaminhamento para exame de imunoperoxidase para o diagnóstico diferencial
através
da
pesquisa
de
antígenos
tumorais
específicos
pela
técnica
Imunohistoquímica. O painel imunohistoquímico foi positivo para Vimentina,
Desmina, Mioglobina, e negativos para a Proteína S100, Actina, CD68 e HMB45,
concluindo o diagnóstico de Rabdomiossarcoma.
O tumor apareceu na cavidade oral, sendo este local envolvimento primário de
menor frequência e em um segundo momento, sua capacidade visual foi afetada
referindo sensação de pressão no globo ocular devido ao crescimento da lesão.
Paciente teve seu diagnóstico conclusivo em Fevereiro de 2005 e iniciou
sessões de quimioterapia no Hospital do Câncer de Londrina – Paraná - Brasil.Os
laudos médicos referiram ausência de metástase e neoplasia maligna em
10
estadiamento. Como parte do tratamento, foi solicitada que se iniciasse sessões de
radioterapia e no mesmo ano, a paciente foi submetida à cirurgia de maxilectomia
total. Após 3 anos e 10 meses houve recidiva - Região Mediana Remanescente
Maxilar, iniciando uma nova etapa de radioterapia e quimioterapia, impedindo a
reabilitação orofacial. No mês de Outubro de 2010, a paciente foi a óbito.
Figura 1 - Exame Extra-Oral Inicial
Fonte:O próprio autor
Figura 2 - Exame Intra-Oral Inicial
Fonte: O próprio autor
11
Figura 3 - Panorâmica Inicial
Fonte:O próprio autor
12
3 DISCUSSÃO
Rabdomiossarcoma é o sarcoma mais comum na região da cabeça e pescoço
e ocorre predominantemente em pacientes jovens (LAZZARO et. al., 1990;
ENZIGER; WEISS, 1995; PAULINO; OKCU, 2008; NEVILLE et. al., 2009). É raro em
pacientes com idade acima de 45 anos e tem uma leve predominância no gênero
masculino (STOUT; LATTES, 1967; LYOS et al., 1996; GOTO et. al., 1998; NEVES
et al., 2003; NEVILLE et. al., 2009).
Dito e Batsakis (1962) relatam que em relação ao local de acometimento, à
cavidade oral tem manifestação incomum e pode ocorrer por envolvimento primário
ou, secundariamente por invasão local do tumor extra-oral. O'Day et. al. (1965)
declararam que 4 em 11 casos de Rabdomiossarcoma ocorrem no palato mole
assim como Bras et. al. (1987) afirmaram que 8 dos 16 casos e Chen et al. (1995),
que 2 dos 4 casos avaliados também ocorreram nesta área. No presente caso, a
cavidade oral foi de manifestação primária não apresentando subsítios.
Os sinais e sintomas dependem da localização do tumor primário sendo que
algumas vezes o tumor não é detectado ao exame físico, mas torna-se aparente
devido à dor ou distúrbio funcional (WALTERHOUSE; WATSON, 2007).Alguns
autores como Koscielniak, Morgan e Treuner (2002) citam que os sintomas podem
ser inespecíficos e camuflar outras condições, como ocorreu no caso apresentado,
sendo tratado ao primeiro momento como um abcesso e consequentemente
recebendo uma abordagem medicamentosa não direcionada para a neoplasia.
Bras et. al. (1987) descrevem que o sinal mais comum é o rápido aumento de
volume sem sintomatologia dolorosa. Os autores Al-khateeb e Bataineh (2002),
relatam que rápido aumento de volume doloroso, foi um sintoma presente e que
persistiu durante 3-12 semanas em 5 (56%) de um total de 15 casos estudados e
outros sintomas que podem estar presentes são a disfagia, trismo, incapacidade de
fechar os olhos e parestesia.
O'Day et. al. (1965) referiu que em 9 dos 11 casos estudados de
Rabdomiossarcoma intra-oral, a queixa principal foi a presença de uma massa
indolor e nos casos em que houve sintomatologia dolorosa foi principalmente em
tumores avançados. A paciente relatou inicialmente um rápido aumento de volume
13
sem sintomatologia dolorosa e em conformidade com os relatos de O'Day et. al.
(1965), a mesma veio manifestar sintomatologia dolorosa durante a evolução da
doença e conforme relatado por Al-khateeb e Bataineh (2002), comprometimento
oftálmico.
As características microscópicas através da coloração de rotina nem sempre
permite o estabelecimento do diagnóstico, por isso a importância da utilização
exame imuno-histoquímico para identificar as células de origem dos tumores,
principalmente em tipos mais difíceis de diagnosticar. Este exame é um importante
instrumento que ajuda a definir a linhagem celular e confirma a origem mesenquimal
com diferenciação muscular esquelética (FERMAN et al, 2006; SKUBITZ; ADAMO,
2007; RAGSDALE; LEE; MINES, 2009).
Segundo Lopes et. al.(1999) as células tumorais positivas para vimentina,
desmina e actina muscular específica, negativo para S-100 e citoqueratina, assim
como as características microscópicas corado em hematoxilina e eosina e também
por meio da coloração especial com a prata e Tricrômio de Masson, são
consistentes para estabelecer o diagnóstico do Rabdomiossarcoma . O painel inumohistoquímico da paciente foi positivo para vimentina, desmina e mioglobina e
negativo para proteína S-100, actina, CD68 e HMB45, estabelecendo diagnóstico de
Rabdomiossarcoma. Os autores Enziger e Weiss (1995) citam que a intensidade de
marcação para a mioglobina, desmina e actina muscular específica é proporcional
ao grau de diferenciação rabdomioblástica.
Histologicamente, o Rabdomiossarcoma pode ser classificado em três tipos:
embrionário (subtipo botrióide) que ocorre cerca de 70% dos casos, alveolar e
pleomorfo com ocorrência principalmente em adultos (ANDERSON et al, 1990;
HAWKINS et al., 2001; AL-KHATEEB; BATAINEH, 2002; LUU et al., 2006;
NATIONAL Cancer Institute, 2014; FATUSI et., 2009; NEVILLE et. al., 2009).O tipo
embrionário retrata várias fases da embriogênese do músculo esquelético e em
casos com pouca diferenciação pode tornar o diagnóstico difícil.
O tipo embrionário acomete principalmente região oral e adjacente e são
observados em crianças com menos de 12 anos de idade (PETERS et al., 1989), no
entanto, 25% dos casos ocorrem em pessoas acima dos 20 anos(GOTOet.
al.,1998). O subtipo botrióide apresenta aproximadamente de 5 a 10% de todos
Rabdomiossarcomas (MAURER et. al., 1988; ENZIGER; WEISS, 1995; MIRANDA;
FIGUEIREDO; SOUZA, 2001).
14
O tipo alveolar geralmente ocorre entre 10 e 20 anos de idade, em uma média
de 15 anos e representa 20% a 30% dos tumores, sendo o tipo embrionário e
alveolar mais frequente em cabeça e pescoço (SHAFER, 1987; NEVILLE et
al.,2009).
O tipo pleomorfo é uma forma de tumor que ocorre mais frequentemente nas
extremidades do que em outras regiões e, em geral, é observado em pacientes mais
velhos, entre 40 e 60 anos de idade (GOTO et al., 1998; NEVILLE et al., 2009). Em
uma série de 19 casos do tipo pleomorfo, a idade média foi de 53 anos segundo
(SHAFER et al., 1987).
Quanto ao tratamento desta patologia, nas últimas décadas houve grande
progresso e a taxa de cura evoluiu cerca de 25% em 1970 para 70% em 1991.
(PAPPO et. al., 1999; CRIST et al., 2001; WEXLER; CRIST; HELMAN, 2002).
As formas terapêuticas variam em função do tipo de tumor, localização
anatômica, tamanho da lesão, progresso de malignidade, invasão das estruturas de
tecidos adjacentes e presença ou ausência de metástase, características que, em
conjunto, determinam um tratamento mais conservador ou radical (ENZIGER;
WEISS, 1995; MIRANDA; FIGUEIREDO; SOUZA, 2001).
Atualmente, o Rabdomiossarcoma tem uma abordagem multidisciplinar,
envolvendo a cirurgia, radioterapia e quimioterapia (MAURER et al., 1988;
ENZIGER; WEISS, 1995; PAPPO et al., 1999; MIRANDA; FIGUEIREDO; SOUZA,
2001; WEXLER; CRIST; HELMAN, 2002). Estas formas de abordagem objetivam
controlar o tumor primário, evitando o desenvolvimento de metástases à distância
segundoLopeset. al., (1999).
Em acordo com os autores Enziger e Weiss, (1995); Maurer et. al.,(1988);
Pappo et. al., (1999) e Miranda, Figueiredo e Souza (2001) o tratamento abordado
neste caso foi inicialmente sessões de quimioterapia, como tentativa individual,
associando a um segundo momento à radioterapia e cirurgia (Figura 4 e 5). Paciente
em nenhum momento de toda evolução do caso, apresentou exames que
indicassem sinais de metástase conforme laudos médicos.
15
Figura 4- Paciente 5 meses após início do tratamento de Radioterapia e Quimioterapia
Fonte: O próprio autor
Figura 5- Panorâmica mostrando a evolução do tumor
Fonte: O próprio autor
O tratamento multidisciplinar do Rabdomiossarcoma apresenta efeitos
secundários consideráveis. Brás et al., (1987) descreveram os efeitos colaterais da
quimioterapia utilizada no tratamento de Rabdomiossarcoma. Adriomicina pode
causar mielosupressão, alopécia, ulceração na mucosa oral, xerostomia, náusea e
vômito e, em altas doses (acima de 600 mg) toxicidade cardíaca, sendo que a
ulceração da mucosa oral e a toxicidade cardíaca são potencializadas quando essas
regiões
são
irradiadas.
Actinomicina
D
(Dactinomicina)
pode
apresentar
16
mielosupressão, ulceração da mucosa oral, dor abdominal, náuseas e vômito.
Ciclofosfamida pode produzir mielosupressão, alopécia, ulceração da mucosa oral,
náuseas e vômito, cistite hemorrágica e, em altas doses, toxicidade cardíaca.
Maurer et. al. (1988) descreveram 7% de toxicidade grave e 2% de toxicidade fatal
aos quimioterápicos. As complicações relatadas de radioterapia para as regiões de
boca e orofaringe são mucosites graves, segundo Bras et. al,.(1987).
Neville et al., (2009) citam que com o advento das terapias multimodais
durante as décadas passadas, o prognóstico melhorou sensivelmentesendo
influenciado principalmente pelo estágio clínico e localização anatômica do tumor.
Além disso, o tipo alveolar tem sido associado com um pior prognóstico com taxa de
sobrevida de 53% em 5 anos segundo Peters et. al., (1989) e Neville et al., (2009). O
tipo embrionário apresenta taxa de prognóstico e sobrevida cerca de 60% em 5 anos
(TSOKOS; WEBBER; PARHAM, 1992). O subtipo botrióide oferece melhores
respostas para o tratamento e maior taxa de sobrevivência pós-tratamento,
chegando a 95% em 5 anos (MAURER et al., 1988; NEWTON et al., 1995; PAPPOet
al., (1999); MIRANDA; FIGUEIREDO; SOUZA, 2001; NEVILLE et al., 2009).
MAURER et al. (1998), analisando a sobrevida global, relataram relação do
prognóstico com local primário do tumor, identificando órbita (92% em cinco anos)
com melhor prognóstico e a região de cabeça e pescoço com menor sobrevida (81%
em cinco anos), porém com bom prognóstico, enquanto a região de parameninges
apresentou-se com pior prognóstico (69% em cinco anos). A paciente do caso teve
lesão primária em região intra-oral e com a evolução acabou acometendo a região
de órbita, resultando em um prognóstico desfavorável.
Nos poucos relatos de Rabdomiossarcoma em adultos, a taxa de sobrevida é
pior comparada com crianças apesar da terapia multimodal e pacientes com recidiva
este quadro é ainda mais agravante (LA QUAGLIA et. al., 1994; NATIONAL Cancer
Institute, 2014). A paciente recebeu tratamento multimodal, como preconizado pela
literatura, porém apresentou recidiva em região mediana remanescente maxilar após
3 anos da cirurgia de maxilectomia, o que contribuiu de forma negativa para a
sobrevida da mesma.
De acordo com Tommasi (2002), o exame clínico é de extrema importância,
porém o cirurgião-dentista insiste em "protocolos de tratamentos usuais contra
infecções" e outros que não tem utilização, desperdiçando tempo em tratamentos
sem diagnóstico, isso é alarmante quando encontramos lesões sugestivas de
17
malignidade.
Uma série de sinais e sintomas são aplicáveis em grupos específicos de
doenças, incluindo neoplasias malignas, e são decisivos na formulação de uma
hipótese diagnóstica e eleição de exames complementares como a biópsia e raios-x,
assim como a avaliação dos dados alcançados na anamnese e exame clínico, em
conjunto com a realização de exames complementares são fundamentais para se
obter o diagnóstico correto.
A história relatada pela paciente e a sintomatologia apresentada no exame
clínico levou ao descarte da hipótese de abscesso uma vez que não houve
manifestação do processo inflamatório (dor, edema, aumento da temperatura local,
rubor facial, febre), além de referir uso de antibiótico de amplo espectro de ação sem
regressão do quadro clínico, estes fatores foram determinantes para a diferenciação
do diagnóstico.
18
4 CONCLUSÃO
Rabdomiossarcoma é um tumor maligno que raramente atinge a cavidade
oral e em pessoas acima de 40 anos de idade. Apresenta aspectos clínicos,
biológicos e histopatológicos diversificados.
Exame imuno-histoquímico foi o diferencial para a conclusão do diagnóstico
de Rabdomiossarcoma e seu tratamento exige uma abordagem multiprofissional e
multidisciplinar envolvendo cirurgia, radioterapia e quimioterapia.
A avaliação da anamnese, exame clínico e exames complementares são
fundamentais para o correto diagnóstico que, quanto mais antecipado, melhores
serão as chances de um prognóstico favorável e de sobrevida.
19
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