Limites e alcances da parceria escola-família e seus impactos sobre o desenvolvimento da criança Aline Laurenti Aneás A investigação tem como tema principal as relações criança-família, criança-escola, escola-família e seus efeitos para o desenvolvimento e aprendizado da criança. A escolha do tema justifica-se, inicialmente, pela percepção de um discurso parental distante da realidade observada com as crianças de uma comunidade religiosa, na qual por alguns anos fui professora. Lecionava aulas sobre temas bíblicos nos mesmos moldes de uma classe escolar, com atividades, livros didáticos, livros paradidáticos, avaliações de conteúdo, rodas de conversa, reuniões com os pais, circulação de professores e ambientes, planejamentos, expectativas de aprendizagem e outras práticas que uma escola regular pode oferecer. Ao longo das aulas foi observado que alguns alunos apresentavam dificuldades em relação à aprendizagem e prática dos conteúdos tendo comportamentos divergentes do esperado. Outros, mostravam-se sem dificuldades, e, ao contrário disso, bastante inteirados e respondendo bem à aplicação dos conteúdos. Ao observar as famílias, as relações familiares, o histórico escolar e vivencial dessas crianças, surgiram questionamentos e supostas respostas justificadoras ou ao menos hipóteses sobre as questões anteriormente percebidas. Um dos casos observados que trouxe a ideia de averiguar a influência familiar na caracterização do sujeito infantil foi o discurso de uma mãe que sempre nomeava a filha como disléxica, com grandes dificuldades de leitura e capacidade de progressão na aprendizagem muito lenta, mas não gostava de tratar sobre esse assunto e dar mais detalhes a respeito. A filha possuía a mesma fala. Porem ao acompanhála em classe por um período de aproximadamente seis meses foram observados momentos de aprendizagem efetiva e um excelente progresso da menina em relação a leitura. Mais tarde, estagiando no 4ª ano de uma escola particular, pude presenciar o caso de um aluno, com uma suposta síndrome não diagnosticada, que apresentava diversas dificuldades no convívio escolar, na realização das atividades, comprometendo todo o seu processo de aprendizagem. Em contato com a professora da sala, tomei conhecimento das relações familiares patogénicas desse aluno e da existência de uma conturbada relação entre a sua família e a escola. Em contrapartida, na mesma sala, pude observar uma aluna com uma deficiência física e mental que possuía excelentes relações familiares e a existência de uma boa relação entre sua família e a escola, sendo ela uma aluna com um ótimo desenvolvimento escolar, se destacando e tendo um aproveitamento melhor que o de muitos colegas da sala. A partir dessas constatações iniciais surgiu a necessidade de analisar e identificar a real influência que as relações do núcleo familiar e as relações entre família-escola podem provocar no desenvolvimento dos alunos causando dificuldades ou cooperando para o processo de aprendizagem das crianças na escola. Ao considerar que desde que surgiram, a qualidade das interações entre famílias-aluno-escola tem se tornado cada vez mais decisiva para o sucesso da educação e consequentemente do desenvolvimento dos alunos, é preciso elucidar três grandes momentos dessas interações. Inicialmente a relação família-criança , que tanto por meio das transmissões entre gerações quanto por meio das atitudes diretas influenciam a vida das crianças e as identificam como seres humanos. Posteriormente é preciso discutir sobre as relações criança-escola, apontando qual a função educativa da escola nessa relação, o que ela pretende transmitir e quais são os seus objetivos. E, por último, a relação escola-família, apontada como a relação objeto de estudo principal dessa pesquisa, que aborda a função educativa advinda da escola, as vezes interferente na educação familiar, e os objetivos em comum das duas instituições, onde a criança, que encontra-se no centro dessa relação, será observada como instrumento de ligação entre a família e a escola. A criança, de modo geral, se desenvolve na instituição familiar que é encarregada de prover os recurso necessários à sua sobrevivência; de propiciar-lhe uma base afetiva; de dar-lhe assistência na área de saúde e de ministrar-lhe os primeiros ensinamentos, por sua vez, a instituição escolar está incumbida de realizar a educação formal das crianças e dos jovens (GIANCAGLIA; PENTEADO, 2006, p. 63) A partir dessa problemática surgiram questões: as relações familiares e as relações entre a família e a escola influenciam no desempenho escolar das crianças? Em que medida? Qual é o papel da escola e da família no desempenho escolar das crianças? Qual o papel da escola diante das disfunções originarias (sintomas) produzidos no núcleo familiar patogênico? Qual o limite da intervenção da escola no âmbito familiar e da família no âmbito escolar? Nesse sentido, este estudo tem como objetivo compreender e abrir para a discussão de novos possibilidades as continuidades e as descontinuidades entre a família e a escola na tarefa de socialização de crianças, em idade escolar, que apresentam ou não problemas de comportamento na escola, investigando as explicações acerca da utilização das práticas educativas escolares e familiares e a forma como se expressa a intersecção entre esses dois sistemas. A partir dos dados angariados em minha experiência, parto da hipótese de que não seja o aluno o único responsável pelo sucesso ou fracasso no processo de aprendizagem, sendo a família, a escola e, principalmente, seus vínculos, participantes e influentes no andamento desse processo, o que supõe que o comportamento do aluno, sendo ele desejável ou indesejável, possa a ser também uma consequência de influências externas e não somente uma ocorrência ocasional ou advinda de seus próprios fatores internos e de sua própria capacidade de se adaptar ao meio e buscar formas para manter sua estabilidade psíquica. Pesquisa: Com base nos itens apresentados anteriormente foi observado o cotidiano de uma escola particular , direcionando a observação para a experiência de interação com famílias, participação dos alunos nas aulas, reuniões de pais, desempenho dos alunos, entrada e saída dos alunos na escola, atuação da diretora e da orientadora educacional, intervenções dos docentes e gestores em situações de resolução de conflitos e participação das famílias na vivência escolar. A pesquisa ocorreu em uma escola que valoriza declaradamente em sua concepção a relação com a família. Recortes das observações: ‘’....algumas famílias aceitam quando a gente sugere o acompanhamento, ou uma avaliação. Em outros casos a família vai por conta e diz: ’’olha fui ao psicólogo, fui a fono, fui a um neuro, e ai ele pediu para fazer isso e isso..’’. Então a família vai atrás, então ela traz a coisa pronta pra gente, ‘’precisa fazer assim, a neurologista pediu para fazer assim, pediu para mudar de lugar..’’. Então tem essa questão de parceria, que eu acho que é uma coisa muito bacana que facilita nosso trabalho, não são todas as famílias, mas...’’- Camila, professora do 6º ano. ‘A escola sempre recebeu ele muito bem, sendo uma preocupação própria dela e por eu nunca esconder nada da escola ela não pode nem dizer que a família foi omissa, e por outro lado eu também posso dizer que a escola em momento algum se posicionou de forma a não se importar com o problema, sempre me orientaram a procurar especialistas, fazer avaliações e tudo o que a escola solicitou eu procurei fazer, todos os especialistas, todos os profissionais’ ’- Cris, mãe de aluno com acusação de questões comportamentais em sala de aula e deficiência auditiva. Professora: Conforme já havíamos conversado sua filha está com dificuldades em interpretação de textos, mas tenho ficado feliz com o progresso dela. Te agradeço por me dar parâmetros do que está acontecendo com a Julia para que eu possa ter uma visão melhor do vem ocorrendo. A Julia tem bom relacionamento em sala, mas fica retraída comigo, tenho a impressão de que ela pensa que eu não gosto dela, porque ela está sempre chamando a minha atenção. Será que ela não está necessitando de um atendimento mais atencioso em casa? As vezes a percebo com a autoestima muito baixa. (...) Mãe: Obrigada pela paciência! Professora: O Otávio é muito tímido Mãe: Sim ele é mesmo, e nós, o pai dele e eu também somos. Em casa ele é bastante independente, as vezes ele esquece da lição. Eu também sou uma pessoa muito esquecida Professora: Como é o apoio de vocês com relação aos estudos do Otávio? Mãe: Quem ajuda mais ele é o meu esposo, ele quem apoia mais. Professora: É muito importante que vocês o apoiem e compareçam nas reuniões Mãe: É, é muito importante mesmo. Mãe: Quero saber como está o comportamento do meu filho.. Professora: Ele tem um comportamento bem reservado Mãe: É eu percebo. Ele chega agressivo em casa quando acontece algo na escola. Ele até faz tratamento com a psicóloga e a psicóloga afirma que ele é extremamente tímido. Você tem indicação para eu tratar com ele em casa? Considerações finais Com base nos dados apresentados anteriormente pressupõe-se então que, para que as crianças tenham sucesso em seu processo de aprendizagem, as relações entre a família e o aluno e as relações entre a família e a escola devam existir e, além disso, serem de qualidade e saudáveis a criança, a escola e a família. Ao se falar sobre famílias é preciso considerar que tanto os modelos familiares quanto o conceito de educação se transformaram ao longo do anos e são hoje dinâmicos, porem mesmo após as mudanças a família ainda é o conjunto social mais relevante para a criança, pois é na família o primeiro lugar que a criança encontra os exemplos que futuramente imitará e a identificará, sendo os familiares responsáveis por influenciar na personalidade e na formação da consciência da criança. Isso ocorre pois as influências iniciantes são as que mais permanecem, e as que menos se modificam na vida do ser humano. (...) a importância da primeira educação é tão grande na formação da pessoa que podemos compará-la ao alicerce da construção de uma casa. Depois, ao longo de sua vida, virão novas experiências que continuarão a construir casa/ indivíduos, relativizando o poder da família (Lacan, 1980, apud BOCK,1989, p. 143) Dessa forma pode-se dizer que, sendo a família a base para uma pessoa principalmente na infância, as crianças precisam fazer parte de uma família. Não somente de uma família biológica, mas de uma família afetiva, de um lar, de uma vida familiar que por meio do ambiente físico e social gerado nessa instituição, há a possibilidade de proporcionar as condições necessárias para o bom desenvolvimento da criança de forma que ela seja orientada com critérios de verdade e justiça; com afeto, elogios e incentivos para a construção de seu caráter. Mas ainda que exista uma família, é preciso que as relações familiares existam e sejam de alguma forma saudáveis e aproveitáveis pela criança, pois são nessas relações que a criança encontra um espaço para o seu desenvolvimento, tanto de habilidades cognitivas quanto de valores humanos. Nesse caso a convivência precisa ser prazerosa e oferecer espaço para a educação familiar se instaurar. Ao inserir o espaço escolar nessa relação, aliado a execução das funções parentais, Martins (2001), enfatiza a influência que as determinações, causadas pelos diversos discursos que se produzem em torno das crianças podem causar nelas e deixar consequências por toda a infância. Integrada a isso, a principal questão é como a educação das crianças tem se realizado no espaço escolar, e qual é atualmente a concepção que tem sido compartilhada acerca da função educativa da escola, uma vez que os processos de educação das crianças em um em determinado momento de suas vidas passa a acontecer além da família, surgindo outros ambientes sociais que se desenvolvem em relações ao redor da criança, surge então um outro responsável por esse processo, acrescentando à vida da criança a escola. Sendo assim a escola exercerá enorme influência na formação pessoal e social da criança, pode ser desde uma formação positiva até uma agente de sofrimento, quando tratando-se de uma educação repressora, com excesso de normatização e alienação dessa criança, por exemplo. Nesse momento alguns dos papéis da escola se unem as responsabilidades familiares, como a de estabelecer parâmetros para a criança crescer como um ser humano autônomo, e construir um ambiente que mostre na teoria e na prática valores fundamentais, por exemplo. O envolvimento entre as duas instituições no momento em que se iniciam os processos de ensino e aprendizagem das crianças, é o momento em que tanto a escola quanto a família serão responsáveis por manter esses processos de maneira contínua, permanente e exponencial, pois é através da interação com os indivíduos mais experientes do seu meio social que a criança constrói suas funções mentais superiores. Isso quer dizer que a escola também se tornará responsável pela educação moral das crianças. “Os bons pedagogos ensinam não apenas as letras as criancinhas, mas também os bons costumes e as maneiras decentes (...)”(AIRÈS, 1978, p. 24). Com isso nota-se que o desejo de aprender e ensinar depositado nas crianças, deve vir tanto dos educadores quanto dos pais, devendo ser a função do educador, uma extensão da função dos pais. O que é da ordem do seu desejo, enquanto sujeito, articulou-se desde antes, na sua própria escolha laborativa, pelo viés desse ofício de educar, permeando a sua prática, delineando o seu estilo. O desejo de educar entra em jogo mediante a responsabilização e disponibilidade subjetiva, oferecendo- se enquanto modelo identificatório, na transmissão de saberes e visões de mundo, na perspectiva de que ali, na criança, há "alguém em formação", um sujeito em constituição. (MARTINS, 2001, p. 30) Articulado aos itens citados anteriormente conclui-se que a família e a escola possuem valor insubstituível, pois são parte importante na vida das crianças e na construção de sua consciência. Mas nem sempre vemos esse elo perfeito se formando. Isso se dá pela grande falta de um bom relacionamento entre a escola e a família, advindo de conflitos diversos. Quando se faz referencia a necessidade de que exista uma relação construtiva e estável entre a escola e a família, relevamos a convivência, primeiro, do conhecimento mutuo e, segundo, da possibilidade de compartilhar critérios educativos capazes de eliminar essas discrepâncias que podem ser prejudiciais à criança. Precisa ficar claro que a escola e a família são contextos diferentes e que, nesses contextos, as crianças encontrarão coisas, pessoas e relações diversas; nisso consiste em parte a sua riqueza e potencialidade.(BASSEDAS, HUGUET & SOLE, 1999, p. 283) O relacionamento ideal entre escola e família se dará por diversos pontos. Inicialmente para que estes estejam em harmonia é preciso criar acordos, entre os que se destacam estão: manterem-se informados sobre o ensinoaprendizagem adquiridos pelos filhos; colaborar com educadores para tornar eficiente a atuação da escola; mostrar interesse pelas atividades realizadas pelos filhos; valorizar a escola e os professores; criar a expectativa positiva em relação ao que se aprende na escola, se interessar pela rotina do filho na escola; demonstrar confiança na escola; sempre procurar resolver os problemas entre família a escola. Os itens citados acima são, na grande maioria, de responsabilidade dos pais, pois a educação não caminha sozinha, mas sim com a atuação que a família desempenha dentro, fora e junto à escola. Sem a participação da família, não é possível que a escola consiga um trabalho integrado que possibilite a criança desenvolver um olhar crítico em relação a tudo que tem contato. Analisando as cenas observados e os diálogos que as constituem percebe-se que tanto na família como na escola existem sentimentos desconexos que podem gerar em ambos o desejo em delegar suas próprias responsabilidades para outros, o que explica as constantes reclamações de professores que dizem que os pais pedem tudo para a escola e vice versa. Essa tarefa é tão complexa que há trabalho para todos. O que convém é não complica-la, e sim torná-la mais simples e gratificante. Em uma perspectiva de colaboração mutua, que passa pela confiança e pelo conhecimento, é possível fazer o que seja necessário: assegurar que os dois contextos de desenvolvimento mais importantes nos primeiros anos de vida de uma pessoa possam compartilhar critérios educativos que facilitem o crescimento harmônico das crianças( BASSEDAS, HUGUET & SOLE, 1999, p. 285) Essas relações podem se tornar mais necessárias e ao mesmo tempo deficientes quando ocorrem situações ocasionais que mexem com a estrutura da família. Apresentados os possíveis conflitos, como então manter um bom relacionamento entre essas instituições? Para Bassedas, Huguet e Sole é preciso que os professores saibam como é a criança. Quais os seus ritmos, como se relaciona com as outras pessoas, como se sentem bem e como não se sentem, por isso o contato entre os pais, as mães e os professores deve servir para que possam ser como colaboradores que compartilham determinados interesses e tarefas. As famílias possuem suas relações próprias, por isso é preciso respeitá-las, pois somente a partir do respeito e da valorização da escola pela família é possível desempenhar a tarefa de tomar decisões sobre a educação das crianças. Outro ponto a se considerar é entrar em acordo na interpretação da conduta que preocupa pais e educadores. Uma criança que tem se demonstrado tímida, por exemplo, é preciso que ambos saibam se essa criança se comporta da mesma forma nos dois ambientes ou se trata-se apenas da questão de se soltar ao longo do tempo, ou até mesmo se algum fator interno a família ou a seu convívio na escola está influenciando seu comportamento. Em casos específicos como esse citado como exemplo, a relação entre a família e a escola pode ser muito enriquecida pela interação de outros profissionais (que, em diferentes níveis, podem ajudar a apresentar maneiras construtivas de trabalhar conjuntamente ( BASSEDAS, HUGUET & SOLE, 1999, p. 297). Para tornar harmônica essa relação concordo com Bassedas, Huguet e Sole, que sugerem que esses contatos entre familiares, educadores coordenadores e outros profissionais especialistas, sejam feitos por meio de reuniões gerais, reuniões particulares, contatos cotidianos, entrevistas e questionários, que não precisam necessariamente ser realizadas somente quando se detecta um problema, ou quando este já está em nível muito avançado. Não se deve esperar que o problema se resolva sozinho, ou esperar um tempo para as coisas se acertarem, isso, segundo os autores, provavelmente não dará resultados satisfatórios. Por isso a combinação da prudência, da prevenção, da observação e da comunicação tranquila entre a família da criança e a escola parece ser a maneira mais adequada para compreender o que se passa e poder realizar uma intervenção. Relacionado a essas maneiras de contato entre as instituições Basseadas, Huguet e Sole atentam ser sempre importante atender aos pedidos de conversa dos pais, pois podem estar ocorrendo coisas no ambiente familiar que convenha ao professor ter conhecimento para que sejam consideradas nos momentos de oferecer sugestões de trato com as situações. O fato de estarem acontecendo coisas no ambiente familiar que possam vir a interferir no processo de aprendizado na escola delimita outro ponto importante dessa pesquisa. Desde o primeiro contato, os pais devem ser alertados sobre a importância de comunicarem ao sistema de orientação educacional novos eventos na família que possam interferir no aproveitamento escolar e no comportamento geral do aluno como: nascimento de irmão; ciúmes; brigas no lar; alcoolismo, separação ou divorcio dos pais; abandono do lar, mudanças; agressões as crianças; morte; assaltos; acidentes; doença prolongada ou grave; desemprego; despejos etc. Tais informações serão tratadas com a máxima discrição e sigilo. (GIACAGLIA E PENTEADO, 2006, p.70) Em casos como esses citados no trecho acima, existem os quais os pais, pelas suas dificuldades, não conseguem lidar com a situação de forma clara e natural, o que pode vir a prejudicar o andamento da criança na escola. Surge a partir desse momento diversos caminhos que casos como esses podem tomar. Em um primeiro momento o educador deve oferecer a oportunidade de escutar aos pais dentro da escola, sendo possível em alguns momentos que ele saia da posição de quem orienta, de quem sabe o que o pai deve fazer para salvar o filho do problema ali apresentado. Ele pode construir uma pergunta junto com esse pai, e procurar sua resposta na cadeia significante que se põe em jogo no ato em que o pai começa a falar sobre o que o tem afligido, ou sobre ao que atribui tal manifestação sintomática do filho. Quando observado esse tipo de tratamento nas cenas das reuniões de pais, percebe-se uma melhor aceitação dos pais quanto as sugestões do professor. Observou-se também outro tipo de atendimento aos pais em que a escola pôde oferecer o que é oposto ao anterior, onde o orientador/professor pôde, em ocasiões especificas, mudar de posição e posicionar-se do saber que a ele é atribuído. Essa estratégia é validada pela explicitação da necessidade de uma interdição formal. Nesse momento é preciso pensar que ha diversos papeis na escola, e com isso destacamos três momentos: a relação direta dos pais com o próprio educador, a relação dos pais com a coordenação, e a relação da escola trabalhando com grupos (reuniões, escola de pais, cursos, etc), sendo esse ultimo importante no trabalho de formação, sendo uma medida preventiva. Porém, há ainda um terceiro momento observado na coleta de dados: quando o trabalho feito a partir de intervenções em grupos ou individuais não é suficiente para resolver a questão, e as possíveis intervenções não tem efeito. Nesse caso a intervenção institucional chegou ao seu limite. Não há o que, respeitando a ética que orienta esta prática, possa ser feito (FRAGELLI, p.100). A partir desse momento o educador deve sugerir um encaminhamento para fora da instituição escolar, ou seja, eles devem compreendem junto aos pais que é necessário que a questão seja tratada de outro modo. Os profissionais da instituição escolar tentam garantir e acompanhar que o encaminhamento feito seja cumprido, que os pais de fato procurem esse outro profissional. Há também a possibilidade de que seja feito um pedido de análise por parte dos pais ou até mesmo pela própria criança. Nestes casos, o encaminhamento também é feito. A partir do momento que o trabalho com as crianças se torna clínico, surgem novas consequências, o que pode resultar em um mal-estar, que ora se faz representar do lado da criança, pelo discurso parental, ora do lado da escola, pelo discurso escolar. Há ainda a recorrente queixa do jogo das responsabilidades, sobre como e quem devem educar as crianças, percebe-se que há muitos pais cobrando a escola de responsabilidades que eles julgam ser unicamente da escola, mas que soam como responsabilidade não exclusivas do campo do pedagógico, mas do educativo, ou seja, para pais e educadores. Diante dos argumentos apresentados, percebe-se que há ainda um grande caminho a percorrer tanto pela escola quanto pelas famílias. Um caminho de cooperação que só́ será́ efetivo se os pais compreenderem que à escola não cabe exercer totalmente a função moral da família, e sim que cabe a escola promover ações de conscientização junto a essas famílias. Assim ficará claro a importância do dever de cada uma destas instituições no desenvolvimento do aluno. De qualquer modo, é um amplo ambiente a ser trabalhado com o envolvimento de pais, mães, responsáveis, professores, psicopedagogos, e outros especialistas que, se bem encaminhado, será benéfico para todos conjuntamente e para as crianças a quem são dirigidos os esforços. REFERÊNCIAS: AIRÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro:Zahar Editores, 1978 DEL NERO, Sonia. Psicanalise das relações familiares. São Paulo: Vetor, 2005. GIACAGLIA, Lia Renata Angeline & PENTEADO, Wilma Millan Alves Orientação educacional na pratica:Princípios, técnicas, instrumentos. 5’ Ed. Ver. E atual. São Paulo : Cingage Learning, 2008. Cap:8 A orientação educacional e a família do aluno MARTINS, V. A. C. Espaço escolar como herdeiro das funções parentais. Estilos da Clinica. Revista sobre a infância com problemas. São Paulo: USP-IP, v.VI, n11, 2001. BASSEDAS, Eulália. Aprender e ensinar na educação infantil. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999 KUPFER, Maria Cristina Machado. A contribuição da psicanálise aos estudos sobre família e educação. Psicol. USP. [online]. 1992, vol.3, no.1-2, p.77-82. COSTA, Jurandir Freire. Violência e Psicanálise. Rio de Janeiro: Edições Graal, 3ª edição, 2003, p. 81-102.