FUNDAMENTOS DAS GEOMETRIAS HIPERBÓLICA, ESFÉRICA E PROJETIVA. Antonio Deígerson da Costa Lopes (Bolsista do PIBIC/CNPq); Newton Luís Santos (Orientador, Depto. de Matemática– UFPI). Resumo Expandido Introdução Euclides de Alexandria sistematizou na sua obra Os Elementos os conhecimentos de Matemática da época, nas categorias de conceitos primitivos, axiomas (verdades que se assume sem demonstração), teoremas e proposições (que devem ser demonstradas). A geometria descrita naquele trabalho veio a chamar-se geometria Euclidiana. Dentre os axiomas que fundamentavam a geometria Euclidiana, o quinto axioma, chamado axioma (ou postulado) das paralelas, tem um enunciado singular: "Dada uma reta e um ponto fora dela, então por este ponto passa uma única reta que não intersecta a reta dada". É possível provar, sem assumi-lo, que dada uma reta e um ponto externo, então por este ponto passa uma reta que não intersecta a reta dada. Seria então possível demonstrar este axioma? Foi esta aparente demonstrabilidade do axioma que fez com que inúmeros estudiosos e matemáticos se interessassem pelo problema e procurassem por uma prova. Foi buscando tal demonstração, que Girolamo Saccheri (1667-1733) e Johann Lambert (1728-1777), propuseram uma nova abordagem ao tema, a saber: impor a não validade do postulado como um substituto àquele e desenvolver a teoria, procurando chegar em algum momento a uma contradição. Estavam dados os primeiros passos para o surgimento de uma nova disciplina na geometria: a Geometria Hiperbólica. Esta, contudo, somente passou a existir como uma geometria de fato, com um sistema completo de axiomas, após os trabalhos fundamentais de Carl Friedrich Gauss (1777-1855), Johan Bolyai (1802-1860) e Nikolai Ivanovich Lobachewsky (1793-1856). Atualmente, as geometrias hiperbólica e elíptica tornaram-se apenas mais um capítulo dentre a infinidade de geometrias não euclidianas existentes - o que, de maneira alguma diminui sua importância. Esferas, espaços Euclidianos e espaços hiperbólicos, por se tratarem de ambientes cuja geometria é amplamente conhecida (são geometrias homogêneas), teorias e técnicas avançadas da geometria são frequentemente testadas nestes espaços. O nascimento das geometrias hiperbólica, elíptica e das geometrias não-euclidianas determinaram mudanças de paradigmas dentro da Matemática que nos poderiam trazer mudanças internas e em todas as demais áreas do conhecimento que dependiam de ideias profundas na Matemática, tais como a Física, a Lógica Matemática e mesmo a Filosofia. Compreender estas mudanças permite entender o caminho sutil e repleto de contradições e dificuldades em que a Matemática foi construída. Metodologia Tendo em vista a temática Fundamentos das Geometrias Hiperbólica, Elíptica e Projetiva, objetivamos conhecer os caminhos do surgimento destas geometrias, os seus principais fundamentos, bem como as suas axiomáticas. Dessa forma, compreendemos que a metodologia é o caminho que orienta o pesquisador a buscar a compreensão do objeto estudado. Esta pesquisa se inscreve numa abordagem bibliográfica e descritiva, pois permite-nos entender e responder às nossas indagações sobre os fundamentos das geometrias, é através dela que podemos comprovar e demonstrar, teoremas e resultados da pesquisa, bem como, descrevê-las à luz do referencial teórico. Nos desdobramentos da pesquisa realizamos apresentações de seminários para o orientador, uma vez na semana, no intuito de discutir as principais definições, demonstrações de teoremas, possibilitando o desenvolvimento de novas habilidades e competências para prosseguirmos e alcançar os objetivos desejados. Para isso, dentre as principais fontes bibliográficas da pesquisa, alguns livros selecionados pelo orientador, como Andrade (2010), Andrade (2013) e Andrade (2015). Além disso, foram feitas diversas consultas e pesquisas em artigos publicados na internet, periódicos, dissertações e outros. Resultados e Discussão A validade (no sentido de consistência) dos axiomas da Geometria Euclidiana foi levada a cabo por David Hilbert. A consistência é verificada apresentando-se um modelo onde a geometria efetivamente se realiza e, neste caso, o espaço R² é um modelo aritmético para o Plano Euclidiano, onde podemos verificar os axiomas de Hilbert, assim também, a esfera redonda em R³ é o modelo aritmético para a Geometria Elíptica. Ficou mais ou menos estabelecido entre 1832 (advento da Geometria Hiperbólica) e 1932 (axiomatização da Geometria Rimanniana) que um sistema axiomático teria validade se existisse um "conjunto numérico" no qual os axiomas poderiam ser verificados. Para tanto a Matemática deixou de ser uma Ciência da Natureza, como era considerada até então e passou a ser um conhecimento autônomo, uma criação intelectual, sem compromisso imediato e necessário com a realidade física (ANDRADE, 2013). O modelo geométrico consistente para a geometria elíptica é a esfera unitária canônica, S². Essa geometria é fundamentada num grupo de axiomas que são verificáveis. Compõem-se o grupo por: Axiomas de incidência, de congruência e de continuidade. Neste modelo não há retas que são paralelas, e este axioma é enunciado na seguinte redação: " Seja 𝑟𝜇 uma reta e A um ponto não pertencente á 𝑟𝜇 , então toda reta que passa por A , a intersecta" a intersecção é dupla, ou seja, em dois pontos. E o que corresponde a retas euclidianas são grandes círculos ou círculos máximos e esta são chamados de geodésicas. Por exemplo, a linha do equador é uma reta elíptica que divide o globo terrestre em dois hemisférios, e a distância entre dois pontos elípticos, é a menor das determinações de comprimento de arco. Definimos ângulos ou Lua como um conjunto obtido pela interseção de dois semiplanos positivos, dada uma reta elíptica 𝑟𝜇 , o semiplano positivo, 𝐻𝜇 , definido por 𝑟𝜇 é a região formada por todos os pontos u ∈ S², tais que <u, 𝜇> ≥ 0. Veja a configuração de uma Lua: Figura 1: Lua 𝑳µ𝜼 É importante compreender a geometria dos espaços em que vivemos e suas regras. Um triângulo elíptico, em uma esfera é definido por uma região limitada por três segmentos esféricos (menores arcos das retas elípticas definidos pelos vértices u, v e w ∈ S²) conforme configura na figura 2. Em todo triângulo elíptico, tem-se que a soma dos ângulos internos excede 180º, diferentemente da geometria Euclidiana. Teorema de Girard Seja 𝛥𝑢𝑣𝑤 um triângulo elíptico de vértices u, v e w. Se as medidas dos ângulos determinados pelos vértices u, v e w são, respectivamente, α, β e γ, então Área (𝛥𝑢𝑣𝑤 ) = α + β + γ –π Corolário A soma das medidas dos ângulos internos dos ângulos do triângulo elíptico é maior do que π. Outro resultado importante em geometria elíptica são as leis dos senos e cossenos para triângulos elípticos. Lei dos senos e lei dos cossenos. Seja 𝛥𝑢𝑣𝑤 um triângulo elíptico. Se as medidas dos lados opostos aos vértices u, v e w são, respectivamente, a, b, c, e as medidas dos ângulos com vértices u, v e w são, respectivamente, α, β e γ, então senα senβ senγ cosc−cosa.cosb = = e cosγ = . sena senb senc sena.senb Quando nos referimos a fenômenos de ilusão ótica, tais como, uma longa estrada em que suas margens parecem encontrar-se no infinito, nas diversas ilustrações de M. C. Escher (1898-1972) em que são retratadas situações impossíveis, entre outras, podemos perceber que a Geometria Euclidiana é um modelo da realidade não tão próximo das nossas sensações quanto estamos acostumados a pensar. É nesse sentido, intuitivamente que surge a geometria projetiva. Ao olharmos aquela estrada longa em linha reta, em que suas margens assumidas paralelas aparentam encontrar-se em um ponto afastado, Figura 2 Triângulo elíptico estamos lidando com outro tipo especial de geometria, que tratamos neste projeto, que é a Geometria Projetiva. Nesta geometria também não existem retas paralelas. Conclusão A pesquisa intitulada "Fundamentos das Geometrias Hiperbólica, Elíptica e Projetiva nos possibilitou compreender as características históricas de suas construções. Entender também que com a negação do Quinto Postulado de Euclides, desencadeariam anos e anos de estudos feitos por grandes matemáticos como Carl Friederich Gauss (1777-1855), Johan Bolyai (1802-1860), Nikolai Ivanovich Lobachewsky (1793-1856) e Bernhard Riemann (1826-1866). Foram necessárias inúmeras tentativas e estratégias de demonstração via redução ao absurdo até atingirem a compreensão do axioma, como independente dos outros. Portanto, no ambiente em que vivemos a matemática nos ensina estratégias de como nos apropriarmos de suas estruturas para melhor compreendermos o nosso universo (inclusive sensorial). Apoio PIBIC - UFPI Referências Bibliográficas ANDRADE, Plácido; BARROS, Abdênago. Introdução à Geometria Projetiva. Coleção Textos Universitários. Rio de Janeiro, SBM, 2010; ANDRADE, Plácido. Introdução à Geometria Hiperbólica. Rio de Janeiro: SBM, 2013. ANDRADE, Andrea Ferreira Faccioni de. Um estudo da geometria projetiva elíptica. Rio Claro, 2015. Dissertação de Mestrado. HILBERT, David. Foundations of Geometry. Illinois: The Open Court Publishing, 1980. Palavras-chave: Fundamentos; Geometria Elíptica e Geometria Projetiva.