As farmácias são espaços de saúde H e d i t o r i a l Bastonário revista ordem dos farmacêuticos á cerca de seis meses, em entrevista a revista de grande circulação, o presidente da Autoridade da Concorrência (AdC) opinava sobre as alterações que julgava necessárias para o sistema regulador das farmácias, formulando a necessidade de se promover a liberalização da regulamentação relativa a farmácias. Posteriormente, a AdC encomenda um estudo ao Centro de Estudos de Gestão e Economia Aplicada da Universidade Católica, do Porto, dirigido por uma equipa de investigadores que, sem demérito pela sua qualificação académica, desenvolvem a investigação no domínio da economia industrial. Recentemente, a Ordem dos Farmacêuticos foi convidada a assistir à apresentação das conclusões do referido estudo e, sem surpresas, as suas recomendações encaixavam na premonição das declarações proferidas pelo presidente da AdC. Para além deste facto, muitas outras matérias poderão, e deverão, questionar-se em relação ao sumário disponibilizado, e em relação ao relatório final quando disponível. Em primeiro lugar, a selecção dos países comparados é, no mínimo, discutível. Ao analisar 6 países meticulosamente seleccionados pela AdC, na Europa dos 25, reflecte-se uma amostra não representativa da realidade existente na Europa, o que, em primeira instância, coloca reservas sobre a idoneidade e credibilidade pretendidas. Outra nota impressiva destaca-se, negativamente, em relação à metodologia de análise económica implementada que, derivando da economia industrial, se manifesta incapaz de produzir resultados ou indicadores enquadráveis na área da Saúde. Ignora assim a realidade das farmácias como prestadoras de cuidados de saúde, como preconizado internacionalmente pela Organização Mundial de Saúde e pelo Conselho da Europa. Deste modo, e no âmbito dos resultados apresentados, não se vislumbra uma avaliação rigorosa de questões essenciais à prestação de cuidados de saúde, como a equidade ou a acessibilidade, e muito menos se consideram impactos das mudanças em termos de ganhos em saúde. De forma global, o estudo apresentado, para além da diminuta sustentabilidade económica das medidas, é um mero exercício que, modificando apenas os termos, se aplicaria a uma qualquer área puramente comercial, sem em nenhum momento se debruçar sobre incontornáveis aspectos de saúde pública, sobre a especificidade e o papel da farmácia e dos farmacêuticos. Mesmo assim, uma das conclusões apresentadas é significativa: “Assinale-se, contudo, que os resultados de diversos inquéritos sugerem que os consumidores estão, em geral, bastante satisfeitos com o serviço prestado pelas farmácias”. Tal constatação apenas reforça o que a Ordem dos Farmacêuticos vem afirmando em relação ao bom funcionamento do actual sistema de distribuição e dispensa de medicamentos no nosso país. A Ordem dos Farmacêuticos, como entidade que defende em primeiro lugar o interesse público, continua assim disponível para analisar o actual modelo, e implementar eventuais correcções a necessidades sentidas, para a sua contínua melhoria. Neste sentido, e considerando a farmácia como espaço de saúde, preconiza uma cada vez maior articulação do farmacêutico com o sistema de saúde, numa procura de soluções conjuntas, nomeadamente com o Ministério da Saúde, que se traduzam na satisfação de necessidades dos doentes e do interesse público. Defendemos um modelo de farmácia, como espaço de saúde, em que se dispensam medicamentos e se prestam serviços farmacêuticos, promovendo a saúde e prevenindo a doença. Rejeitamos modelos que mercantilizam a saúde, beneficiam grandes grupos financeiros, com farmácias que vendem tabaco, sem acessibilidade a toda a população e com preços dos medicamentos ainda muito mais caros dos que existem actualmente em Portugal. Aranda da Silva Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos