SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR: UM ESTUDO DE CASOS NO SETOR DE TELEFONIA MÓVEL CARLOS AUGUSTO PAMPLONA DE SOUZA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS – CCJE INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO - COPPEAD MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO ORIENTADORA: LETICIA CASOTTI RIO DE JANEIRO 2002 2 Souza, Carlos Augusto Pamplona de Serviço de Atendimento ao Consumidor: um estudo de casos no Setor de Telefonia Móvel/ Carlos Augusto Pamplona de Souza. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2002. viii, 160 p. ; il Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPEAD, 1999. 1. Serviço de Atendimento ao Consumidor - Tese. 2. Marketing de Relacionamento - Tese. I. Título. II Tese (Mestr. - UFRJ/COPPEAD). 3 Agradecimentos Agradeço a todos que, de alguma maneira, me ajudaram durante o período do mestrado. Entretanto, gostaria de expressar um agradecimento especial às seguintes pessoas: Aos professores, funcionários e colegas de turma do COPPEAD por tornar meu mestrado uma experiência tão enriquecerdora e inesquecível. À Professora Letícia Casotti, minha orientadora, pelas contribuições, apoio e confiança no meu trabalho. Às Professoras Angela da Rocha e Marie Chauvel pela participação na banca, sugestões à dissertação e, principalmente, pelo conhecimento transmitido ao longo do mestrado. A Telefônica Celular e ATL por acreditarem na importância do trabalho, aceitando ser objeto desta dissertação. Aos meus pais, minha irmã, minha namorada, Daniela e todos meus amigos por tudo. 4 Resumo SOUZA, Carlos Augusto Pamplona de. Serviço de Atendimento ao Consumidor: um estudo de casos no Setor de Telefonia Móvel. Orientadora: Letícia Casotti. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2002. Dissertação.(Mestrado em Administração) O Serviço de Atendimento ao Consumidor é uma das principais ferramentas da estratégia de marketing de relacionamento pois é um importante canal de comunicação com os clientes da empresa. O presente estudo tem como objetivo identificar a estrutura e o papel do Serviço de Atendimento ao Consumidor em duas empresas de telefonia móvel, a ATL Celular e a Telefônica Celular (nome fantasia da Telerj Celular). O setor de telefonia foi o escolhido pela tendência de forte aumento de competitividade e pelo SAC aparentar ser um diferencial importante nessas empresas. 5 Abstract SOUZA, Carlos Augusto Pamplona de. Customer Service: a case study in the Mobile Sector. Orientadora: Letícia Casotti. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2002. Dissertação.(Mestrado em Administração) Customer Service is one of the most significant tools of relationship marketing strategy because it is an important communication channel with the firm and its customers. The purpose of this study is to identify the role of the Customer Service in two mobile companies : Telefônica Celular e ATL Celular. The Mobile Sector was chosen because of the increasing competition and because the Customer Service seems to be na important differential in these firms. 6 Lista de Figuras e Tabelas Tabelas Tabela 1.1 – Total de reclamações nos Procons em 2000 5 Tabela 2.1 – Número de negócios começados 8 Tabela 2.2 – As vantagens de uma estratégia de marketing de relacionamento 45 Tabela 4.1 – Variáveis de avaliação dos operadores da Telefônica 116 Quadro-resumo da análise dos casos 134 Figuras Figura 2.1 – A mudança de um paradigma com foco em bens para um com foco em serviços 13 Figura 2.2 – O conceito total do produto 23 Figura 2.3 – Serviços suplementares envolvendo o core product 26 Figura 2.4 – Lucratividade proporcionada pelos consumidores ao longo do tempo 43 Figura 2.5 – Fórmula para maximizar a satisfação do consumidor e sua lealdade à marca Figura 2.6 – Estruturas de reportagens para DSC’s 54 62 Figura 2.7 – Determinantes de deleite e desapontamento nos resultados Das reclamações dos consumidores 73 Figura 4.1 – Motivos das ligações recebidas pelo SAC da ATL 89 Figura 4.2 – Posição organizacional do SAC da ATL 90 Figura 4.3 – Posição organizacional do SAC da Telefônica 107 7 SUMÁRIO 1.O PROBLEMA 1 1.1 Introdução 1 1.2 A pergunta da dissertação 2 1.3 Relevância do estudo 3 1.4 Organização do estudo 6 2. REFERENCIAL TEÓRICO 7 2.1Marketing de serviços 7 2.1.1 O crescimento da importância dos serviços 7 2.1.2 Uma comparação entre bens e serviços 11 2.1.3 Características dos serviços 15 2.1.4 Serviços como um diferencial 21 2.2 Marketing de relacionamento 31 2.2.1 Críticas ao marketing mix 31 2.2.2 Fundamentos do marketing de relacionamento 35 2.2.3 Vantagens do marketing de relacionamento 41 2.3 O serviço de atendimento ao consumidor 46 2.3.1 As vantagens do serviço de atendimento ao consumidor 46 2.4 Aspectos organizacionais do SAC – O trabalho de Lancioni 60 2.5 O tratamento e a análise das reclamações dos consumidores 65 2.5.1 O tratamento das reclamações individuais dos consumidores 65 2.5.2 A análise das reclamações 75 3. METODOLOGIA 81 3.1 Tipo de pesquisa 81 3.2 Seleção das empresas pesquisadas e dos entrevistados 83 3.3 Coleta de dados 84 3.4 Tratamento dos dados 85 3.5 Limitação do método 86 8 3.6 Limitação do estudo 86 4. DESCRIÇÃO DOS CASOS 87 Caso ATL 87 Caso Telefônica Celular 106 5. ANÁLISE DOS CASOS 123 5.1 Aspectos organizacionais e estruturais 123 5.2 Contato com o cliente 126 5.3 Tratamento das reclamações e os operadores 127 5.4 Análise das reclamações 132 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 136 6.1 Discussão final dos resultados 136 6.2 Sugestões para estudos futuros 141 7. BIBLIOGRAFIA 143 ANEXO 1 – Roteiros elaborados para as entrevistas 155 9 1. O PROBLEMA 1.1 Introdução O nível de competição nunca foi tão elevado em praticamente todos os setores da economia mundial. Com isso, diferenciar sua oferta daquela de seus concorrentes, de modo a promover a fidelização de seus consumidores, se tornou pré-requisito básico para a sobrevivência de qualquer empresa, inclusive nos setores onde o produto é normalmente chamado de commodity . Entretanto, LEVITT (1985) observa que a diferenciação por si só não traz uma vantagem, pois é necessário que a companhia diferencie seu produto de acordo com as necessidades e os desejos de seus consumidores. Para obter mais informações sobre clientes, a empresa deve se aproximar mais deles, tentando iniciar e manter um relacionamento com eles. Essa visão de marketing que reconhece a crescente importância das empresas protegerem sua base de clientes devido ao aumento da competição e a importância do estabelecimento de relacionamento com os consumidores é considerada por alguns autores (GUMMESSON , 1987 e GRÖNROOS, 1994) um novo paradigma, denominado marketing de relacionamento. 10 O Serviço de Atendimento ao Consumidor aparece como uma das principais ferramentas dessa estratégia de marketing de relacionamento pois é um importante canal de comunicação com os clientes da empresa. O presente estudo tem como objetivo identificar a estrutura e o papel do Serviço de Atendimento ao Consumidor em duas empresas de telefonia móvel no Brasil, a ATL Celular e a Telefônica Celular (nome fantasia da Telerj Celular). O setor de telefonia foi o escolhido pela tendência de forte aumento de competitividade, pelo SAC aparentar ser um diferencial importante nessas empresas e por estar em primeiro lugar no ranking do número de reclamações nos Procons tanto do Rio de Janeiro quando de São Paulo. 1.2 Pergunta da Dissertação Esse estudo procurou responder à seguinte pergunta de pesquisa: Qual a estrutura e o papel do Serviço de Atendimento ao Consumidor em empresas de telefonia móvel? Para atingir esse objetivo, serão abordadas as seguintes perguntas intermediárias. - Quais são os aspectos estruturais e organizacionais do SAC? - Como ocorre o contato do consumidor com o SAC (com quem ele fala, quais os motivos do contato, quais as formas de contato etc.)? - Como são tratadas as reclamações do consumidor? - Como são analisadas as reclamações? 11 1.3 Relevância do Estudo O Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) pode ter grande importância para uma empresa. Além de contribuir para melhorar a imagem desta junto a seu público-alvo, ele recolhe informações importantes através de reinvidicações, reclamações, sugestões e pedidos de informação de seus consumidores, que podem ser utilizadas no planejamento estratégico, em decisões operacionais e na construção de um relacionamento com o cliente. Outros benefícios que um SAC eficiente pode trazer para a empresa são: redução da probabilidade de processos legais, redução do boca-a-boca negativo e aumentar a lealdade a marca (MITCHELL, 1993). Com relação à competição entre as empresas, o governo tem procurado estimulá-la. Na parte de telefonia fixa, o modelo de privatização já previa a existência de empresas-espelho para que nenhuma companhia atuasse sem um competidor. Com relação aos locais pelos quais as empresas-espelhos não se interessaram devido ao baixo potencial de retorno, o governo está estimulando a entrada de firmas menores, chamadas “espelhinhos”. Além disso, as concessionárias que anteciparam as metas de qualidade estipuladas pela Anatel de 2003 para 2001, foram liberadas do impedimento de obter novas outorgas de telefonia fixa em regime privado ou ainda outorgas de outros serviços. Isto é, as empresas que anteciparam as metas puderam entrar em qualquer estado do país. Já sobre a telefonia móvel, além da competição entre empresas das bandas A e 12 B, mais concorrentes estão entrando através das bandas C, D e E. Assim, uma mesma região poderá ter até cinco competidores (ATLAS, 2000). No Rio de Janeiro, por exemplo, a TIM e a Oi estão entrando para competir com a ATL e a Telefônica. Segundo estudo da consultoria Deloitte, o mercado brasileiro só comporta cinco operadoras de telefonia celular. Hoje, entre banda A e B, existem 39 (CESAR, 2002). Com isso, o setor de telefonia vem experimentando um grande aumento de competitividade, o que resultará em uma preocupação cada vez maior das empresas em fidelizar seus consumidores. Desta forma, os SAC’s parecem assumir um papel estratégico cada vez maior para as empresas de telefonia móvel. Além disso, dados do Procon ( Tabela 1.1) mostram que esse é um dos setores que mais recebe reclamações, sugerindo que o SAC seja um departamento muito exigido nessas empresas. 13 Tabela 1.1 Total de Reclamações nos Procons em 2000 Rio de Janeiro Telefonia fixa, móvel e longa distância Cartão de crédito Bancos Financeiras Planos de Saúde São Paulo Telefonia fixa, móvel e longa distância Planos de Saúde Bancos Serviços Públicos Cartão de crédito Fonte: Meireles, Moraes e Propato (2001) 14.467 3.671 2.770 1.010 358 6.780 1.973 1.654 1.627 771 Ao analisar o papel do SAC em empresas do setor de telefonia móvel, este estudo fornece uma contribuição aos profissionais de marketing e estratégia no sentido de disponibilizar informações sobre como essas empresas estão utilizando o SAC. Além disso, apesar da reconhecida importância do tema, pouca pesquisa tem sido produzida recentemente no Brasil. 14 1.4 Organização do Estudo No Capítulo 2, o referencial teórico mostra a criação do marketing de relacionamento deveu-se como necessidade de uma nova visão de marketing que considerasse o aumento da importância dos serviços; a inexistência da dicotomia bens/serviços das ofertas das empresas; as características únicas do marketing de serviços e o marketing industrial; o aumento da competição entre as empresas, fazendo com que seja cada vez mais importante proteger sua base existente de clientes; o reconhecimento crescente da importância da retenção e do relacionamento com os consumidores para as empresas, entre outras tendências. Em seguida, o Serviço de Atendimento ao Consumidor, um dos principais instrumento de marketing de relacionamento, é estudado através de suas características e vantagens. A descrição da metodologia adotada neste estudo, e o motivo de sua escolha, se encontram no Capítulo 3. O Capítulo 4 traz a descrição das informações coletadas nas entrevistas com funcionários da ATL e da Telefônica. A análise dos casos é realizada no Capítulo 5. As conclusões deste estudo se encontram no Capítulo 6 e as sugestões feitas para estudos futuros baseadas nessas conclusões se encontram no Capítulo 7. 15 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Marketing de Serviços 2.1.1 O crescimento da importância dos serviços A partir da segunda metade do século 20, os serviços começaram a desempenhar um papel cada vez maior na vida econômica dos países industrializados (HAKSEVER et al, 2000). Na medida em que as economias evoluem, cada vez mais suas atividades se concentram na produção de serviços (KOTLER, 2000). Isto é, a maioria dos países do Ocidente entraram ou estão a um passo de entrar na chamada economia de serviços, onde uma grande proporção da força de trabalho não está empregada na agricultura e na indústria, mas em serviços. Também nessas economias, a proporção do setor de serviços no Produto Interno Bruto (PIB) vem aumentando (COWELL, 1986). HAKSEVER et al (2000) analisaram o impacto do setor de serviços sob cinco óticas: emprego, PIB, número de companhias criadas, comércio internacional e contribuições para a indústria. Os resultados, em relação à economia norteamericana, foram: 16 • Emprego – Em 1990, o setor de serviços empregava 75% dos trabalhadores dos EUA, contra 64% em 1970. • Produto Interno Bruto - O setor de serviços era responsável por 76% do PIB norte-americano em 1990. Em 1970, esse número era 66%. • Número de negócios começados – De acordo com a Tabela 2.1, o setor de serviços é onde a maioria das novas companhias são criadas. Tabela 2.1 Número de Negócios Começados Indústria 1985 1990 1995 Extração 6.063 2% 3.349 2% 2.763 Produção de bens 56.398 23% 36.116 23% 29.152 Produção de serviços 184.487 74% 115.581 73% 113.446 Estabelecimentos não-classificáveis 2.282 1% 3.884 2% 22.797 Total 249.230 100% 158.930 100% 168.158 Fonte: Dun & Bradstreet Corporation, A Decade of Business Starts" in Statistical Abstract of the United States, 1997, p.547 apud HAKSEVER et al (2000), p.7 • 2% 17% 67% 14% 100% Comércio Internacional – Cerca de 30% das exportações dos EUA são serviços. • Contribuições para a indústria – A relação entre bens e serviços é muito forte; um não pode existir sem o outro. Em uma empresa que produz bens, vários serviços são fornecidos interna e externamente, sem os quais a firma não poderia funcionar. Como exemplo, temos telecomunicações, contabilidade e manutenção. 17 Segundo GRÖNROOS (1990), em nível micro, a importância dos serviços está crescendo muito além das fronteiras de um “setor de serviços”. Qualquer estatística que defina um setor deste tipo será uma grosseira interpretação da realidade , já que os serviços produzidos por fabricantes de bens não são incluídos. O autor demonstra esse fato através do exemplo de uma empresa que produz elevadores. Se a manutenção dos elevadores é feita por uma firma separada que presta esse tipo de serviço, ela é considerada parte do setor de serviços. Entretanto, se ela for feita pelo próprio fabricante, a manutenção, mesmo sendo um serviço, vai ser registrada no PIB industrial do país. Assim, GRÖNROOS (1990) chama atenção para a existência de um grande setor oculto de serviços. O que vem acontecendo é um crescimento dos serviços em geral, seja o que faz parte de estatísticas tradicionais de serviços, seja aquele que faz parte do setor oculto de serviços. LEVITT (1985) se refere a esse setor oculto de serviços argumentando que uma grande parte das indústrias tradicionalmente chamadas de “manufatureiras” têm uma grande proporção de suas receitas e despesas atreladas a serviços de pré e pós-compras. As razões para esse crescimento dos serviços são várias. Para HAKSEVER et al (2000), as principais são: 18 • O aumento da eficiência da agricultura e da indústria, o que dispensa força de trabalho para os serviços • O fluxo de trabalhadores da agricultura e outra atividade extrativa para a indústria e desta para os serviços • A aplicação da vantagem comparativa no comércio internacional • A diminuição do investimento, como porcentagem do PIB, em países industrializados de alta renda ou um aumento, como porcentagem do PIB, em países com baixa renda • O aumento da renda per capita • O aumento da urbanização • Desregulamentação • Mudanças demográficas • Um aumento no comércio internacional • Crescimento simbiótico do conjunto dos serviços com a indústria Já COWELL (1986) destaca os seguintes motivos para o aumento da economia de serviços: • A defasagem do crescimento na produtividade do trabalho em serviços comparado com o resto da economia. Isto é, parte da explicação para o crescimento dos serviços é atribuído ao crescimento mais lento da produtividade do trabalho em serviços. 19 • O crescimento da demanda intermediária por parte das firmas. Isto decorre de dois movimentos. O primeiro é relacionado à criação de novas firmas especializadas para prestarem serviços que antes eram realizados dentro das próprias firmas. Os exemplos incluem serviços de engenharia e consultoria. O segundo movimento se refere à criação de firmas especializadas para prestar serviços novos. Estes são normalmente relacionados a tecnologia de computação e ao processamento de informações, mas também estão surgindo novos serviços relacionados ao meio ambiente (GRÖNROOS, 1990). • Crescimento da demanda final por parte dos consumidores. Na medida em que a sociedade vai ficando cada vez mais rica e na medida em que utilidade marginal de se ter bens diminui, as pessoas passam a voltar seus gastos para serviços. SCHOELL E IVY (1981) enumeram razões relativamente diferentes das apresentadas acima: aumento da riqueza, maior tempo livre, maior porcentagem de mulheres no mercado de trabalho, maior expectativa de vida, maior complexidade dos produtos, complexidade crescente da vida, maior preocupação com a ecologia e com recursos escassos e número crescente de novos produtos. 2.1.2 Uma comparação entre bens e serviços Para LEVITT (1972), não existe algo como uma indústria de serviços, pois todas as indústrias têm componentes de serviços. O que ocorre é que eles são 20 encontrados em maior proporção em algumas indústrias do que em outras. Indo mais além, o autor diz que é mais útil pensar em tangíveis e intangíveis do que em bens e serviços já que, seja qual for a oferta de uma empresa, ela terá componentes intangíveis. A utilidade desse raciocínio aparece ao se considerar a questão de como o marketing de intangíveis é diferente do marketing de tangíveis (LEVITT, 1981). As idéias acima parecem ser compartilhadas por COWELL (1986), para quem, do ponto de vista de marketing, tanto bens quanto serviços são produtos, pois ambos fornecem benefícios e satisfação para os consumidores. O autor defende a visão ampla de produto, segundo a qual “produto é um conjunto de atributos tangíveis e intangíveis” (COWELL, 1986, p.35). Isto é, todo produto tem uma parte intangível, seja ele bem ou serviço. O que há de específico em relação aos serviços é a predominância da parte intangível, o que os torna um tipo especial de produto. Com isso, eles podem necessitar de um entendimento e esforços de marketing especiais. Isto é, uma empresa cujo produto tenha forte componente intangível podem necessitar de adaptações em suas estratégias e táticas de marketing (COWELL, 1986). GUMESSON (1994a) chega a falar em mudança de paradigma. Para o autor, o consumidor não compra bens ou serviços no sentido tradicional, mas uma oferta que proporciona serviços, os quais criam valor para ele. Vários elementos compõe 21 essa oferta e o valor, sendo alguns deles atividades (serviços) e outros, coisas (bens). Com esse raciocínio, a divisão tradicional entre bens e serviços perde seu sentido. A questão passa a ser redefinir os serviços e passar a encará-los do ponto de vista do consumidor: atividades proporcionam serviços, coisas proporcionam serviços. O autor defende a necessidade de se reconhecer que vivemos uma sociedade de serviços, que houve uma mudança de paradigma com foco em bens para um paradigma com foco em serviços ( Figura 2.1). Figura 2.1 A Mudança de um Paradigma com Foco em Bens para um com Foco nos Serviços Bens Serviços Serviços Bens Fonte: Baseada na figura 1 de GUMMESSON (1994a), p. 79 Embora acreditem na utilidade de comparar a natureza e os papéis do marketing de serviços e o de bens, BERRY e PARASURAMAN (1992) também defendem que não há uma simples dicotomia entre as empresas de bens e as de serviços. Para os autores, as empresas de bens também são empresas de 22 serviços, o que ocorre é que a fonte de benefício essencial de seu produto é mais tangível que intangível. Já em relação as empresas de serviços, o raciocínio é o inverso. Quase todos os produtos têm elementos tangíveis que contribuem para o benefício central. Com relação ao mix de bens e serviços do produto de uma empresa, KOTLER (2000) identificou cinco categorias de ofertas: • Bem tangível – quando a oferta consiste basicamente de um bem tangível, não havendo nenhum tipo de serviço associado ao produto. • Bem tangível associado a serviços – quando a oferta consiste em um bem tangível associado a um ou vários serviços. • Híbrida – quando a oferta consiste em bens e serviços. • Serviço principal associado a bens ou serviços secundários – quando a oferta consiste em um serviço principal com serviços adicionais ou bens de apoio. • Serviço puro – quando a oferta consiste basicamente de um serviço. Já GRÖNROOS (1990) diz que, do ponto de vista gerencial, é um erro falar sobre gerenciamento na indústria de serviços, pois esta e a indústria de bens estão cada vez mais interrelacionadas. Para o autor, o termo “indústria de serviços” foi cunhado em uma época na qual os fabricantes de bens consideravam os serviços como um apêndice de suas operações, sem importância estratégica. 23 Assim, deve-se falar em gerenciamento de serviços ou de elementos de serviços do negócio, não importando se a empresa pertence ao que tradicionalmente se convencionou chamar de setor de serviço ou setor de bens. O autor destaca que há uma necessidade da construção de novos conceitos e abordagens que levem em consideração as características dos serviços e a natureza da competição de serviços. BLUMBERG (1991) também justifica a necessidade de se criar uma abordagem específica para ao ressaltar que existem diferenças claras e importantes entre a estratégia para gerenciar serviços intangíveis como um negócio e gerenciar um negócio de produtos tangíveis. Cabe agora observarmos quais são essas diferenças entre bens e serviços, ou entre os elementos tangíveis e intangíveis da oferta de uma empresa, que justifiquem uma abordagem própria, isto é, que torne relevante a construção de um marketing para serviços. 2.1.3 Características dos Serviços Para KOTLER (2000), os serviços apresentam quatro características principais que afetam a elaboração dos programas de marketing: intangibilidade, inseparabilidade, variabilidade e perecibilidade. 24 Um bem é um objeto físico, isto é, ele pode ser tocado, ouvido, visto e, às vezes, cheirado ou provado antes de ser adquirido. Já um serviço é uma série de atividades ou processos, sendo, portanto, intangível, o que torna difícil fazer marketing da maneira tradicional (GRÖNROOS, 1990). Segundo HAKSERVER et al (2000), um serviço pode até utilizar ou estar “dentro” de objetos físicos, mas ele próprio não é físico. Isto é, embora serviços geralmente incluam elementos tangíveis, o desempenho do serviço em si é basicamente intangível (LOVELOCK, 1991). Para BEBKO (2000), a intangibilidade é a razão mais provável para a variabilidade, inseparabilidade e pericibilidade do serviço. WILSON (1972) sugere que os serviços sejam divididos da seguinte maneira no que concerne ao conceito de tangibilidade: serviços essencialmente intangíveis (ex: museus e sistemas de comunicação), serviços que fornecem valor adicionado a um produto tangível (ex: seguro) e serviços que tornam disponível um bem tangível (ex: armazenagem e varejo). Para COWELL (1986), essa subdivisão de serviços tem similaridades com a idéia de que há um continuum de bens-serviços com bens puros em um extremo e serviços puros no outro, mas com a maioria dos produtos caindo entre esses dois extremos. A segunda característica dos serviços é a inseparabilidade, isto é, eles não podem ser produzidos para depois serem consumidos. Com isso, ao contrário dos 25 bens materiais, eles não podem ser fabricados, estocados, distribuídos para, depois, serem consumidos (KOTLER, 2000). A inseparabilidade também resulta no fato da execução do serviços normalmente exigir que o cliente esteja presente, fazendo com que, por menor que seja, sempre ocorra uma interação do cliente como o prestador. Isto é, o consumidor não só recebe o serviço mas também participa da produção como um recurso (GRÖNROOS, 1990). Assim, tanto um quanto o outro afetam o resultado do serviço, fazendo com que a interação tenha um papel fundamental no marketing de serviços. Outra forma importante de inseparabilidade foi destacada por HAKSEVER et al (2000). Como alguns serviços são produzidos para um grande grupo de consumidores, a experiência de um consumidor não pode ser separada da experiência do grupo como um todo. Já a variabilidade decorre do fato da maioria dos serviços serem produzidos de pessoas para pessoas e dependerem de onde e quando são fornecidos (KOTLER, 2000). Assim, o resultado do serviço vai depender da interação entre consumidor, prestador, local e do momento em que o serviço está sendo executado, e da percepção do consumidor em relação a essa interação (HAKSEVER et al ,2000). 26 Por um lado, isto significa que mesmo que uma pessoa forneça um mesmo serviço para um grupo de pessoas de maneira idêntica, diferentes níveis de satisfação poderão ser experimentados por essas pessoas, já que cada uma pode ter uma percepção diferente sobre o serviço recebido. Por outro lado, uma mesma pessoa realizando um mesmo serviço pode não desempenhá-lo de maneira idêntica a cada performance (HAKSEVER et al ,2000). A última característica citada por KOTLER (2000) é a perecibilidade. Como serviços são produzidos e consumidos ao mesmo tempo, eles são perecíveis, isto é, não estocáveis. Entretanto, HAKSEVER et al (2000) ressaltam que a pericibilidade pode ser diferente do ponto de vista do consumidor. Embora o consumidor não possa levar com ele um serviço depois de produzido, ele pode aproveitar seus efeitos por um tempo depois de sua compra. Como exemplo, pode-se citar uma cirurgia cardíaca. Além dessas quatro características apontadas por KOTLER (2000), COWELL (1986) se refere à propriedade como uma quinta. Segundo essa particularidade, ao contrário do ocorre com bens materiais, a compra do serviço não resulta em sua posse, em transferência de propriedade. HAKSEVER et al (2000) consideram que essa característica decorre de outra, a intangibilidade. LOVELOCK (1996) ressalta que essas quatro características são muito genéricas e que, cada vez mais, há o reconhecimento de que elas não são 27 universalmente aplicáveis a todos os serviços. Com isso, mesmo destacando que também são generalizações, o autor propõe um conjunto alternativo de sete características que tendem a diferenciar marketing de serviços de marketing de bens (LOVELOCK, 1991): natureza do produto (performance ao invés de um objeto), maior envolvimento do cliente na produção, a pessoa como parte do produto, maiores dificuldades em controlar padrões de qualidade, ausência de estoques, maior importância do fator tempo e estrutura de canais de distribuição. Três características apresentadas por LOVELOCK (1991) são relativamente diferentes das apresentadas por outros autores: a maior importância do tempo, os diferentes canais de distribuição e a dificuldade de se manter um controle de qualidade dos serviços. Com relação a maior importância do fator tempo, LOVELOCK (1991), destaca que, como muitos serviços são produzidos em tempo real, os consumidores têm que estar presentes para recebê-lo. Com isso, o tempo que o consumidor está disposto a esperar pelo serviço ser desempenhado deve ser levado em consideração pelo profissional que está responsável pelo marketing. Quanto aos canais de distribuição, se os bens necessitam de canais físicos de distribuição para movê-los da fábrica para os consumidores, os serviços são distribuídos ou por canais eletrônicos ou pela combinação de fábrica de serviços, varejista e ponto de consumo em uma só localidade. 28 Por último, existe a dificuldade em se manter um padrão de controle de qualidade nos serviços decorrente de suas características. No caso dos bens, eles podem ser checados de acordo com os padrões de qualidade antes de serem vendidos. Já os serviços, como são produzidos e consumidos simultaneamente, não é possível realizar essa checagem, dificultando, ou tornando particular, o seu controle de qualidade. Ainda com relação a inseparabilidade, ZEITHAML (1991) ressalta que o fato do comprador geralmente participar da produção do serviço faz com que ele afete a qualidade do mesmo. Com isso, a qualidade da maioria dos serviços e sua habilidade de satisfazer o consumidor vão depender não só de como o provedor desempenha o serviço, mas também de como o consumidor faz sua parte. Além disso, a qualidade do serviço deve mudar no dia-a-dia, pois essa interação ocorre entre seres humanos, cujos desempenhos são afetado por fatores como o humor. A autora também ressalta que, devido à impossibilidade de estocar serviços, o desempenho depende, em parte, do nível da demanda. Em um dia de alta demanda, é possível que o provedor não gaste tanto tempo, ou despenda tanto esforço, comparado a um dia de baixa demanda. Somado a esses fatores que afetam a qualidade dos serviços, MARTIN (1999) aponta ainda a dificuldade do consumidor em avaliá-la. Se por um lado, a inseparabilidade faz com que o consumidor só consiga ter noção da qualidade durante ou após a execução do serviço, por outro, a intangibilidade faz com que, mesmo após o término, o consumidor tenha dificuldade de avaliar o que recebeu por seu dinheiro. 29 2.1.4 Serviços como um diferencial Com os bens se tornando cada vez mais similares entre os concorrentes, uma empresa que queira evitar uma guerra de preços deve encontrar outros meios de oferecer valor adicionado aos seus clientes. Como conseqüência desse processo, os serviços e os elementos de serviços nas relações com os consumidores estão se transformando em uma forma cada vez mais importante dos fabricantes de bens criarem vantagem competitiva. Adicionar um serviço, ou ativar elementos de serviços já existentes, como a entrega e o Serviço de Atendimento ao Consumidor, pode ser uma forma poderosa de diferenciar a oferta de uma empresa das ofertas de seus concorrentes. Isto é, os serviços podem ser utilizados como base de uma diferenciação efetiva entre empresas e, então, se tornarem uma fonte de vantagem competitiva. Com isso, a economia de serviços não seria somente relevante para as empresas do chamado setor de serviços, pois todas as firmas estariam inseridas nela, todas estão na nova competição da economia de serviços (GRÖNROOS, 1990). Para GRÖNROOS (1990), vários serviços que são utilizados administrativamente, como cobrança de contas e o canal de comunicação para o consumidor, são, na verdade, serviços ao consumidor. Devido ao modo passivo como são tratados pela empresa, eles acabam sendo encarados como aborrecimento e permanecendo como serviços ocultos aos olhos do 30 consumidor. Assim, esses serviços oferecem grandes oportunidades para que as organizações os desenvolvam e os transformem em vantagem competitiva. BERRY e PARASURAMAN (1992) sustentam que o serviço produzido é um grande, senão o maior, fator de sucesso das empresas de bens. Uma das principais forças que empurram essas empresas para operações que dependem mais de serviços é o maior potencial para construir vantagem competitiva sustentável através de serviços em comparação aos bens. Os autores destacam que bons executivos de empresas de bens dão importância à qualidade tanto do serviço quanto do bem, em vender tanto o tangível quanto o intangível. Esses profissionais reconhecem que o principal benefício que seus clientes compram não é o bem ou o serviço, mas ambos. Eles enxergam a sinergia do tangível com o intangível como valor adicionado. Recorrendo ao modelo de produto aumentado de LEVITT (1985) pode-se demonstrar como um serviço pode ser utilizado como um fator de diferenciação (Figura 2.2). 31 Figura 2.2 O Conceito Total de Produto Produto Genérico Produto Esperado Produto Aumentado Produto Potencial Fonte: Baseada na figura 2 de LEVITT (1985), p. 85 • Produto Genérico – É a “coisa” substantiva, fundamental, rudimentar. É o mínimo necessário para entrar no jogo de participação de mercado. Entretanto, ele raramente tem viabilidade competitiva por si só. Quando as pessoas compram um produto, eles tem como objetivo a resolução de problemas. Isto é, os produtos devem ser encarados como meios de resolver problemas. O produto genérico não é o produto em si, ele necessita ser diferenciado das ofertas competitivas. O consumidor espera mais que o genérico quando paga pelo produto. Caso suas expectativas mínimas não sejam atendidas, não haverá venda. Como o produto 32 genérico não atende a elas, não será vendido e, consequentemente, ele não existe como produto. • Produto Esperado – É o conjunto de expectativas mínimas do cliente. Embora elas variem com os clientes, condições, entre outras coisas, cada consumidor tem exigências mínimas para comprar, que excedem o produto genérico em si. Assim, como as expectativas variam, as empresas, ao tentarem atendê-las, diferenciarão suas ofertas das ofertas de seus concorrentes. • Produto Aumentado – Além de dar ao cliente o que ele espera, uma empresa pode continuar a diferenciar seu produto ao oferecer ao consumidor mais do que ele pensa que necessita ou que ele está acostumado a esperar. • Produto Potencial – Enquanto que o Produto Aumentado significa tudo o que foi ou está sendo feito, o Produto Potencial é tudo o que potencialmente viável para atrair e manter o cliente. Outro modelo que pode ser utilizado para demonstrar o papel diferenciador dos serviços é o pacote de serviços (LOVELOCK, 1991). Segundo este modelo, o serviço, como um produto, consiste em um pacote ou conjunto de serviços que formam o produto total. Esse conjunto é dividido em duas categorias principais: o core service e um agrupamento de serviços suplementares (GRÖNROOS, 1978, GRÖNROOS, 1990 e LOVELOCK, 1991). LOVELOCK (1996) amplia esse conceito ao dizer que “todos os produtos, tanto bens quanto serviços, consistem 33 de um core element que é cercado por uma variedade de elementos suplementares, às vezes, opcionais” (LOVELOCK, 1996, p.66). Segundo o (LOVELOCK, 1996), o produto core service normalmente é acompanhado de vários elementos de serviços suplementares. A maioria das empresas, sejam elas classificadas como pertencentes à indústria de bens ou a de serviços, oferecem um pacote que inclui várias atividades relacionadas a serviço. Cada vez mais, esses serviços suplementares, além de adicionar valor, também proporcionam a diferenciação que separa as firmas de sucesso das outras. De fato, seja na indústria de serviços, seja na de bens, há uma tendência de que, com o aumento da competição e o amadurecimento da indústria, o core product vire uma commodity. Com isso, a vantagem competitiva vai residir no desempenho dos elementos de serviços suplementares (LOVELOCK,1991). Há uma variedade muito grande de serviços suplementares, mas que podem ser agrupados em oito categorias: informação, consulta, recepção pedido, hospitalidade, tomar conta, exceções, cobrança e pagamento, envolvendo o core product como uma coroa de pétalas, formando, juntos “a flor do serviço” (LOVELOCK, 1996). A Figura 2.2 mostra essa “flor”. 34 Figura 2.3 Serviços Suplementares Envolvendo o Core Product Informação Consulta Pagamento Cobrança CORE Exceções Recepção de Pedidos Hospitalidade Tomar Conta Fonte: Baseada na figura 2 de LOVELOCK (1996), p. 70 LOVELOCK (1991) ressalta que há algumas diferenças na importância e no papel relativos dos vários serviços suplementares. Para o autor, cada vez mais as empresas de serviços estão descobrindo que certos serviços, como fornecer informações, receber pedidos e resolver problemas, se tornaram essenciais para o sucesso. Com isso, se uma empresa não conseguir desempenhar essas tarefas, 35 consideradas genéricas para maioria das indústrias de serviços, ela aparentará incompetência. Já com relação aos outros serviços suplementares, a questão pode ser mais de estratégia competitiva e padrões atuais da indústria. Apesar de considerar o modelo de pacote de serviços uma maneira realista e atraente de ilustrar, pelo menos um pouco, a natureza de qualquer serviço, GRÖNROOS (1990) afirma que ele tem algumas fraquezas caso seja utilizado com fins gerenciais. Uma delas é o fato de que existem serviços suplementares que, gerencialmente, são utilizados de maneiras muito diferentes. Com isso, o autor defende que não é o somente o pacote de serviços que deve ser planejado e comercializado, mas sim uma oferta de serviços total e mais abrangente, um modelo que reconheça todos os aspectos do serviço que o consumidor percebe. Para GRÖNROOS (1990), o gerenciamento dessa oferta de serviços, baseada em um conceito de benefício do consumidor que considera o que ele procura ou gostaria, requer quatro passos: 1) Desenvolver o conceito de serviços, isto é, determinar quais são as intenções da organização. Será baseada nesse conceito que a oferta da empresa será desenvolvida. 2) Desenvolver um pacote básico de serviços. Este pacote descreve o conjunto de serviços que são necessários para satisfazer as necessidades dos 36 consumidores. Ele é constituído, então, por tudo que o consumidor recebe da organização. Por razões gerenciais, os serviços contidos nesse pacote básico devem ser divididos em três grupos: • Core service – é a razão pela qual a empresa está no mercado. • Serviços (e bens) facilitadores – são serviços adicionais necessários para que o consumidor possa utilizar o core service. • Serviços (e bens) de suporte – eles não facilitam o consumo do core service, mas aumentam o valor e/ou diferenciam o serviço dos serviços dos concorrentes. É importante notar que nem sempre a distinção entre serviços facilitadores e de suporte é muito clara. Um serviço pode estar facilitando a utilização do core service em uma situação e, em outra, estar dando suporte a ele. O autor utiliza o exemplo de uma refeição servida em um avião. Se o percurso for grande, a refeição pode ser encarada como um facilitador. Já em relação a um pequeno percurso, ela pode ser vista como um serviço de suporte. A diferenciação entre serviços facilitadores e gerenciais é importante do ponto de vista gerencial. Como os facilitadores são obrigatórios, se eles forem deixados de lado, o pacote de serviços não funciona, entra em colapso. Entretanto, isto não 37 significa que esse tipo de serviço não possa ser utilizado como diferenciador. Na verdade, serviços facilitadores podem e devem ser desenhados com o objetivo de diferenciar a oferta de uma empresa da de seus concorrentes, isto é, eles devem ter finalidade competitiva. Já os serviços de suporte são utilizados somente como meios de competição pois, se faltarem, não comprometem o funcionamento do core service. Entretanto, a falta desses serviços pode tornar a oferta total de serviços menos atrativa e, talvez, menos competitiva. Entretanto, a produção e o sistema de entrega de um serviço, principalmente a percepção do consumidor em relação as interações entre vendedor e comprador, são uma parte integral do produto. Assim, o pacote básico deve ser expandido, transformando-se em uma oferta aumentada de serviço. 3) Desenvolver a oferta aumentada do serviço. Do ponto de vista gerencial, há três características básicas que constituem o processo do serviço, isto é, as interações entre comprador e vendedor (GRÖNROOS 1978 e 1987): • “Acessibilidade” do serviço – essa característica depende, entre outras coisas, do número de empregados, horário de funcionamento, máquinas e documentos. • Interação com a organização – a interação pode ser dividida em: comunicação interativa entre empregados e consumidores; interações com os 38 vários recursos técnicos e físicos da organização; interações com sistemas como o sistema de espera, o sistema da cobrança e o SAC e as interações com os outros consumidores que estão simultaneamente envolvidos no processo. • Participação do consumidor – se refere ao impacto que o consumidor tem no serviço que ele percebe. 4) Gerenciar a imagem e comunicação – tanto a imagem quanto a comunicação impactam na experiência que o consumidor experimenta ao consumir um serviço, isto é, influenciam na qualidade percebida. 39 2.2 Marketing de Relacionamento 2.2.1 Críticas ao Marketing Mix O paradigma do marketing mix tem dominado o pensamento, a prática e a pesquisa de marketing desde seu surgimento. (GUMMESSON, 1987, GRÖNROOS, 1990, GUMESSON, 1994a, AIJO, 1996 e GRUEN, 1997). Ele foi introduzido por Neil Borden nos anos 50 e reflete a idéia do profissional de marketing como um “misturador de ingredientes que planeja vários meios de competição e os junta em um marketing mix, de maneira que a função lucro seja otimizada” (GRÖNROOS, 1990, p. 134). Em seu conceito original, o marketing mix consistia em 12 parâmetros mas que, por razões pedagógicas e para facilitar sua utilização na prática, foi reduzido a 4 Ps (Promoção, Produto, Praça e Preço). Entretanto, essa simplificação resultou, segundo alguns autores, em perda de substância e validade (GRÖNROOS, 1990 e GUMMESSON, 1994b). As críticas em relação ao marketing mix começam pelo fato do modelo ser uma lista de categorias de variáveis de marketing utilizada para descrever um fenômeno. Segundo GRÖNROOS (1994), uma lista não se encaixa em todas as situações, não inclui todos os elementos relevantes e acaba se tornando obsoleta. Um reconhecimento desta limitação é o lançamento, vez por outra, de propostas 40 por parte dos acadêmicos de marketing para aumentar o número de Ps. KOTLER (1986), por exemplo, propôs ao a inclusão de dois Ps, Poder Político e Formação da Opinião Pública1, ao propor o conceito de Megamarketing. Já COWELL (1986), ao revisar o marketing mix para serviços, adicionou três Ps: Pessoas, Processo e Evidência Física2 . Além de ser uma lista, GRÖNROOS (1989) destaca o problema de o modelo ter sido elaborado utilizando dados empíricos somente sobre alguns setores de um lugar específico (bens de consumo e duráveis na América do Norte) e em um ambiente de marketing muito particular (grande mercado doméstico, consumo de massa e um sistema de distribuição muito competitivo, por exemplo) Com isso, a possibilidade de aplicá-lo em qualquer lugar, setor e situação acaba sendo comprometida. VAN WATERSCHHOLT e VAN DE BULTE (1992) também ressaltam algumas deficiências do marketing mix. A primeira é o fato de que as propriedades de classificação e a racionalidade para distinguir os 4Ps nunca foram explicadas. Com isso, não há qualquer especificação formal e precisa das propriedades de acordo com as quais os elementos do modelo devem ser classificados. Além disso, os 4Ps não são mutuamente exclusivos. Por último, há o aumento do número de sub-categorias, os Ps adicionais. 1 2 Do inglês Public Opinion Formation Do inglês Physical Evidence 41 Como uma das conseqüências do marketing mix, GRÖNROOS (1994) destaca o isolamento do marketing dentro de um departamento na empresa. Para o autor, o modelo do marketing mix faz o marketing parecer fácil de se lidar e de organizar. O marketing é separado das outras atividades e delegado a especialistas que trabalham em um departamento próprio. As conseqüências dessa separação são muito negativas para o desenvolvimento de uma orientação voltada para o consumidor ou mercado em uma firma. O marketing fica isolado do design, da produção, do serviço técnico, do SAC e de outras atividades da empresa. Com isso, o resto da organização fica alienada do marketing e, no longo prazo, acaba perdendo interesse no consumidor. Outra característica do marketing mix é o fato dele ser direcionado para a troca. O especialista em marketing “mistura” suas variáveis de marketing para criar trocas. Entretanto, o foco do modelo está voltado para transações unitárias com consumidores que formam uma massa de desconhecidos. A parcela de mercado da empresa é mantida através de uma seqüência de transações unitárias alcançadas pelas ações do profissional de marketing. Não se objetiva o relacionamento com o consumidor. Com isso, a abordagem do marketing mix também é chamada de marketing orientado para transações (GRÖNROOS, 1991). 42 LINDGREEN e CRAWFRORD (1999) também ressaltam que o cerne do marketing de transações está na atração do consumidor, não em sua retenção , pois não considera o lifetime value do consumidor Para GRUEN (1997), a abordagem do marketing baseado em transações tem levado as instituições de marketing a acreditar que o melhor para elas, do ponto de vista econômico, é servir o consumidor médio. Com isso, o consumidor permanece sem rosto e é tratado como um alvo, o índice mais importante é a participação de mercado e os profissionais de marketing ficam em seus departamentos manipulando os 4 Ps como a base do gerenciamento de marketing. Os adeptos desse modelo recolhem informações sobre as necessidades o consumidor típico através de pesquisa e, a partir delas, apresentam seu mix de ofertas. Como destaca GRÖNROOS (1996), embora os Ps tenham alguma utilidade enquanto variáveis de marketing, a base filosófica do marketing mix e seus Ps não se encaixam direito na competição que tem surgido na maioria dos setores das economias do Ocidente. O marketing de massa e a orientação para a transação, assim como a abordagem que encara o consumidor como um adversário e a solução organizacional funcional, inerentes a abordagem do marketing mix, não permite que a firma consiga atender as demandas de um número cada vez maior de consumidores. 43 GUMMESSON (1987) reconhece que o marketing de bens tem desenvolvido ferramentas poderosas, mas que, ao serem aplicadas em outras áreas que não a de bens de consumo, as teorias são parcialmente válidas ou, até, destrutivas. O principal motivo é que elas não reconhecem as características únicas do marketing de serviços e do marketing industrial. Além do mais, as empresas dificilmente são claramente firmas de bens ou industriais ou de serviço. Como destacado anteriormente, suas oferta se constituem de bens e serviços, mas em proporções variadas. Com isso, torna-se necessária uma nova visão de marketing que considere o aumento da importância dos serviços; a inexistência da dicotomia bens/serviços das ofertas das empresas; as características únicas do marketing de serviços e o marketing industrial; o aumento da competição entre as empresas, fazendo com que seja cada vez mais importante proteger sua base existente de clientes; o reconhecimento crescente da importância da retenção e do relacionamento com os consumidores para as empresas, entre outras tendências. Essa nova visão, considerada por muitos um novo paradigma, é o marketing de relacionamento.(GUMMESSON ,1987, GRÖNROOS, 1994, AIJO, 1996 e GRUEN, 1997) 2.2.2 Fundamentos do Marketing de Relacionamento 44 O termo marketing de relacionamento captura a essência de três teorias: marketing de serviços, marketing industrial baseado em network/interações e o gerenciamento da qualidade total (TQM3). A primeira é representada pela Nordic School of Services, e encara o gerenciamento e o marketing através de uma perspectiva de serviços. Já a segunda, é representada pelo IMP Group (International Marketing and Purchasing), que utiliza uma abordagem de network/interação em relação ao marketing industrial. Com relação a última, apesar de não ser uma área de marketing, têm varias implicações para esta. (GRÖNROOS, 1996 e GUMMESSON (1991). A interações e relacionamentos ocupam papel de destaque na abordagem de network/interação em relação ao marketing industrial. De acordo com ela, várias interações ocorrem entre os participantes de uma network através de trocas e adaptações tendo um impacto em suas posições dentro da mesma. As interações não são iniciadas necessariamente pelo vendedor, como pressupõe o paradigma do marketing mix através da figura do profissional de marketing, e podem continuar por um longo período de tempo. (GRÖNROOS,1994). A teoria de marketing de serviços, ao demonstrar que o marketing, a produção, a entrega e o consumo do serviço são parcialmente realizados através de uma interação direta entre o provedor do serviço e o consumidor, faz com que 3 Do inglês Total Quality Management) 45 relacionamentos e interações também sejam peças fundamentais para ela. (GUMMESSON 1987 e GUMMESSON, 1991). É importante ressaltar que, tanto nos serviços quanto nas networks industriais, os funcionários da empresa que participam das interações ou são responsáveis pelo seu sucesso, não pertencem, muitas vezes, ao departamento de marketing ou de vendas. No caso da network, por exemplo, a empresa vendedora, provavelmente irá empregar especialistas de marketing como representantes de vendas ou analistas de marketing. Entretanto, além deles, um grande número de pessoas em funções como pesquisa e desenvolvimento, entrega e análise de crédito que, de acordo com o paradigma do marketing mix não são de marketing, têm um impacto decisivo para o sucesso do marketing do vendedor na network (GRÖNROOS, 1994). GUMMESSON (1991) chamou essas pessoas de part-time marketers (PTMs). São funcionários que influenciam os relacionamentos com o consumidor, sua satisfação, a qualidade por ele percebida e a receita, mas que, ao contrário dos full-time marketers(FTMs), não pertencem nem ao departamento de marketing nem ao de vendas, isto é, seu trabalho principal não é o marketing. A idéia de que o marketing de uma empresa é bem maior que seu departamento de marketing também é um denominador comum da Nordic School of Services e do IMP Group. De acordo com eles, a função de marketing não é o mesmo que departamento de marketing. Este é apenas uma solução do ponto de vista organizacional, uma unidade designada somente para atividades de 46 marketing e de vendas e onde trabalham os FTMs. Já a função de marketing está espalhada por uma grande parte da organização fora do departamento e inclui todas as atividades que têm impacto sobre o comportamento de compras atual e futuro dos consumidores (GRÖNROOS, 1989 e GUMMESSON 1991). Os departamentos de marketing e de vendas só conseguem desempenhar uma porção limitada do marketing já que seus funcionários não podem estar no lugar certo, na hora certa e com o consumidor certo. Com isso, os PTMs tornam-se necessários. É importante que este fato seja reconhecido tanto pelo gerente quanto pelos próprios funcionários (GUMMESSON, 1991). Segundo GRÖNROOS (1989), na maioria das empresas, um grande número de empregados tem alguma relação com o marketing, sendo, portanto, PTMs. Eles podem ter contato direto com os consumidores, como uma telefonista, uma aeromoça ou um caixa de banco, ou podem influenciar o consumidor indiretamente. O autor ressalta que, há uma grande gama de funções que são necessárias para permitir o desempenho de outras funções e das pessoas que têm contato com o cliente. A visão de que o marketing não tem uma vida isolada dentro da empresa, isto é, que ele está interrelacionado com todas as outras funções da empresa, implica na existência de uma dependência interfuncional na organização. Essa idéia de interdependência de funções está relacionada a dois outros fundamentos do 47 marketing de relacionamento: consumidor interno e marketing interno (GUMMESSON, 1987). Enquanto, tradicionalmente, o marketing tem seu foco no cliente externo, “as três teorias” também ressaltam a importância do cliente interno. De acordo com esse conceito, todos na empresa devem se ver com um consumidor de seus companheiros, recebendo deles produtos, documentos, mensagens, entre outras coisas, e se ver também como fornecedores dos outros clientes internos. Isto é, os relacionamentos consumidor-fornecedor são levados para dentro da firma e estabelecem uma ligação entre os funcionários, todos se tornam PTMs (GUMMESSON, 1987 e GUMMESSON, 1991). Para que os PTMs estejam compromissados, preparados, informados e motivados para realizar suas tarefas de marketing, é necessário que a empresa promova o marketing interno (GRÖNROOS, 1990 e GRÖNROOS, 1994). Segundo GUMMESSON (1991, p. 71), “o marketing interno é um amplo conjunto de idéias de treinamento, educação, informação e comunicação.” Em empresas de serviços, onde a interface com o consumidor é mais ampla e intensa, é essencial que as pessoas que tenham contato com ele estejam bem informadas das missões, objetivos, estratégias e sistemas das companhias. Caso contrário, elas não poderão representar bem sua empresa e aproveitar todas as oportunidades que tenham de influenciar as compras presentes e futuras dos 48 consumidores que ocorrem durante as interações com eles (GUMMESSON, 1991). GRÖNROOS (1994) ressalta que o marketing interno deve estar integrado com a função total de marketing da empresa. O marketing externo, seja sua parte tradicional, seja a desempenhada através das interações, começa dentro da organização. Com isso, se o marketing interno for negligenciado, o marketing externo pode sofrer ou, até, fracassar. Outro fundamento do marketing de relacionamento proveniente das “três teorias” é o conceito qualidade. No começo dos anos 80, a qualidade se tornou um assunto de grande interesse entre as companhias da Europa e da América do Norte. Através de estudos nessas áreas, a qualidade, que antes era considerada uma questão tecnológica, passou a ser encarada como questão estratégica, com implicações tanto corporativas quanto de marketing. A qualidade total passou a ser vista como a qualidade percebida pelo consumidor, incorporando a capacidade interna de gerenciar qualidade e considerando as necessidades e a satisfação dos consumidores. Isto é, o consumidor é que decide o que é qualidade. Através desse conceito, a qualidade se tornou um integrador entre orientação para a produção e orientação para marketing ( GUMESSON, 1991 e GRÖNROOS, 1994). 49 Com relação às definições de marketing de relacionamento, GRÖNROOS (1996) sustenta que não existe um consenso na literatura. Embora a maioria tenha vários denominadores comuns, há diferença de escopo. Uma definição abrangente é sugerida pelo autor: “Marketing é estabelecer, manter, e ampliar relacionamentos [usualmente, de longo prazo, mas nem sempre] com consumidores e outros parceiros, visando o lucro, o que faz com que os objetivos das partes envolvidas sejam alcançados. Isto é alcançado através de troca e cumprimento de promessas mútuos.” (GRÖNROOS 1990, p.138) 2.2.3 Vantagens do Marketing de Relacionamento Quando um consumidor deixa de realizar negócios com uma empresa, seus lucros futuros sofrem um impacto muito grande. Os fluxos de caixa esperados ao longo do relacionamento com um consumidor têm maior relação com o lucro da companhia que escala, participação de mercado e vários outros fatores normalmente associados a vantagem competitiva (REICHHELD e SASSER, 1990). 50 Os autores utilizam o exemplo de uma empresa de cartão de crédito para mostrar que, a cada ano que passa no relacionamento, o consumidor proporciona lucros crescentes para a empresa. Antes que o consumidor comece a gerar alguma receita, a empresa terá incorridos em gastos pontuais como propaganda, promoção, abertura de conta, “educar” o consumidor, entre outros. Isto é, antes de realizar sua primeira compra, ele terá sido uma fonte só de despesas para a empresa. No primeiro ano, o consumidor utiliza seu cartão de forma lenta e gera um lucro básico. Na medida em que ele vai se acostumando a utilizar o cartão e ficando satisfeito com o serviço prestado, mais compras serão feitas e o balanço aumenta. À medida que o tempo passa, a tendência é que suas compras no cartão aumentem cada vez mais. Além do aumento da utilização dos serviços da empresa, REICHHELD e SASSER (1990) ressaltam mais duas vantagens no estabelecimento de relacionamento com o consumidor. A primeira é a possibilidade da cobrança de um preço prêmio pelo produto. O argumento utilizado é que os consumidores estariam dispostos a pagar um maior preço por um serviço/produto que já conhecessem e confiassem. A outra vantagem é a propaganda grátis que os clientes leais fazem ao falarem bem da empresa, isto é, referências positivas, para outras pessoas ao longo do relacionamento. 51 A Figura 2.4 mostra o modelo de lucratividade ao longo do tempo desenvolvido pelos autores através de pesquisas com mais de 100 companhias em duas dúzias de indústrias. Figura 2.4 Lucratividade Proporcionada Pelos Consumidores ao Longo do Tempo Lucro do preço prêmio Lucro de referências Lucro da empresa Lucro da diminuição dos custos operacionais Lucro do aumento das compras e balanços maiores Lucro básico 0 1 2 3 4 5 6 7 Custo da aquisição do cunsumidor Ano Fonte: Baseada na figura "Why Customers Are More Profitable over Time"de REICHHELD e SASSER (1990), p.108 GRÖNROOS (1994) destaca outras vantagens do relacionamento. Segundo o autor, empresa e cliente aprendem a interagir melhor um com o outro, implicando em custos de relacionamentos decrescentes para ambos. Além disso, um relacionamento mutuamente satisfatório torna possível os consumidores evitarem significativos custos de transação decorrentes de uma troca de fornecedores. Já em relação às empresas, eles deixam de incorrer em custos de qualidade. 52 O conceito market economies, introduzido por HESKETT (1987), também mostra a importância do relacionamento. Segundo o autor, pode ser mais vantajoso para uma empresa adotar uma escala pequena e investir no conhecimento de seus clientes do que tentar focar em economias de escala. Market economies significa, portanto, que vantagem competitiva e lucro podem ser alcançados através de uma orientação para o mercado, enfocando o conceito de qualidade percebida pelo cliente ao tentar conhecê-lo melhor. Já CRAIG (1990) ressalta que, caso a organização consiga estabelecer um conjunto forte, completo e consistente de elos com seus consumidores, ela pode explorá-lo em benefício de ambos a longo prazo. O relacionamento com o consumidor pode fornecer pistas de suas necessidades, fazendo com que a empresa tenha mais chances de satisfazê-las As principais vantagens do marketing de relacionamento foram resumidas por DAY et al. (1998) em três categorias (Tabela 2.2). 53 Tabela 2.2 As Vantagens de uma Estratégia de Marketing de Relacionamento (1) Relacionamento mais próximo com o consumidor * A companhia desenvolve fortes laços com seus consumidores ao longo do tempo. Esses laços podem ser tecnológicos, relacionados com o conhecimento, relacionados a informação ou de natureza social. Esse conhecimento proporciona uma grande vantagem competitiva. * Quanto mais os consumidores educarem a empresa sobre seus gostos individuais, mais eles ficarão de relutantes de repetir o processo com outro fornecedor. (2) Melhora na satisfação do consumidor * A empresa pode monitorar a satisfação do consumidor na medida em que ela adquire um conhecimento direto de quão satisfeitos estão seus consumidores com a oferta. * O diálogo com cada consumidor permite a empresa descobrir produtos/serviços adicionais, ou modelar os existentes, para o consumidor. * A empresa estará apta a antecipar e atender as necessidades de seus consumidores. (3) Benefícios financeiros * Os relacionamentos de longo prazo, onde ambas as partes aprendem ao longo do tempo como interagir uma com a outra, levam a custos decrescentes de relacionamento. * O consumidor pagará um preço prêmio pelo produto/serviço. * Consumidores leais são mais lucrativos. * Consumidores farão referências a clientes potenciais . * Conseguir um consumidor novo é custa mais que reter um existente. * Perder um consumidor não só significa perder a receita da última venda, mas também o fluxo de caixa esperado que seria gerado ao longo do relacionamento. * Aumentar a retenção de consumidores também aumenta a retenção dos empregados Fonte: Baseada na tabela 2 de DAY et al. (1998), p.830 54 2.3 O Serviço de Atendimento ao Consumidor O surgimento do SAC dentro das empresas está relacionado ao movimento internacional dos consumidores (Zulske, 1991). Segundo a autora, esse movimento teve início nos EUA com a criação das Ligas de Consumidores estaduais no final do século XIX e vem evoluindo até os dias de hoje, com um aumento de seu alcance geográfico e um aumento cada vez maior dos consumidores por seus direitos. No final da década de 1970, a iniciativa privada nos Estados Unidos, percebendo a pressão crescente do movimento dos consumidores, respaldado cada vez mais pelo Estado, tentou uma saída para o conflito, criando setores específicos para atender os consumidores. No Brasil, os SACs ainda representam uma inovação que, principalmente a partir do início da década de 1990 e da implantação do Código de Defesa do Consumidor, foi ganhando cada vez mais adeptos entre as empresas (CHAUVEL, 2000). 2.3.1 As Vantagens do Serviço de Atendimento ao Consumidor O Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) é um canal de comunicação aberto pela empresa através do qual os consumidores podem expressar suas 55 reclamações, dúvidas, pedidos, sugestões e elogios (MITCHELL, 1993). Considerado um dos principais instrumentos de marketing de relacionamento, ele pode ajudar as empresas a alcançar as vantagens inerentes a essa estratégia de marketing ( ARAÚJO, 1999). Entretanto, o SAC traz em si alguns benefícios que merecem ser analisados. HANSEN et al. (1996) consideram que, ao reclamar de algum problema com sua compra, o consumidor está dando à empresa uma oportunidade de corrigi-lo e, consequentemente, preservar sua reputação e sua base de clientes. Além disso, os autores ressaltam que a reclamação fornece informações valiosas para que a empresa melhore a qualidade de seus produtos e serviços, fortalecendo sua posição competitiva. Essa visão é compartilhada por HART et al (1990), que definem o tratamento das reclamações como as estratégias que as empresas utilizam para resolver e aprender através das falhas do serviço com o objetivo de (re)estabelecer a credibilidade da organização aos olhos do consumidor. SODERLUND (1998) também ressalta a importância do feedback do consumidor ao considerar que as reclamações ajudam a empresa a identificar áreas onde podem ser realizadas melhorias e os elogios sugerem quais as áreas onde o desempenho atual talvez não necessite de melhoria imediata. Segundo JONES e SASSER (1995), a habilidade de escutar o consumidor está no cerne de qualquer estratégia para gerenciar satisfação. Para adequar suas 56 ofertas as necessidades dos consumidores, a empresa precisa conhecê-lo o melhor possível. Segundo os autores, são cinco as principais maneiras que as empresas dispõe para escutar seus consumidores. A maioria das empresas de sucesso utilizam várias, se não todas, as alternativa. Muitas das empresas de desempenho fraco ou mediano ou utilizam poucas ou, no caso de utilizarem muitas, realizam um trabalho pobre ao incorporar os resultados em suas estratégias. As alternativas são: Índices de Satisfação dos Consumidores; Feedback (comentários, dúvidas e reclamações dos consumidores se encaixam nessa categoria); Pesquisa de Mercado; Pessoal de Linha de Frente (empregados que têm contato direto com o consumidor são uma ótima maneira de escutá-lo) e Atividades Estratégicas (algumas companhias, por exemplo, vão ao extremo de envolver o consumidor em todos os níveis de seu negócio). Já STAUSS (1992) ressalta que, além das informações provenientes das reclamações serem importantes para a identificação das fraquezas da empresa e de oportunidades de mercado, elas são adquiridas a baixo custo, pois são fornecidas por iniciativa e as custas do consumidor. Entretanto, o autor ressalta que essas informações não devem ser encaradas como completas, pois não é uma ampla compilação de problemas. Essas informações não são totalmente representativas no que diz respeito tanto aos reclamantes quanto aos problemas articulados Além disso, somente uma parte dos consumidores insatisfeitos reclamam. 57 Outra vantagem do SAC se relaciona as percepções dos consumidores e dos gerentes da empresa sobre o produto/serviço. De acordo com PARASURAMAN, ZEITHAML e BERRY (1985) há diferenças (gaps) entre essas percepções, isto é, entre o que os gerentes acham que o consumidor valoriza e o que ele realmente valoriza. E essas diferenças criam um potencial de erro nos esforços que as firmas fazem para fornecer valor ao seu cliente. Com isso, as empresas devem tentar diminuir esses gaps adotando processos que as ajudem a aprender mais sobre seus consumidores (WOODRUFF, 1997). Para MITCHELL (1993), as reclamações funcionam como um controle de qualidade dos produtos fabricados. Isto é, elas podem ajudar a reduzir as taxas de defeitos e fornecer um alerta precoce de problemas potenciais. Assim que a reclamação for feita, a fábrica pode acessar as informações sobre ela e descobrir rapidamente qual o código, o lote e o número da planta, do produto defeituoso, melhorando a eficácia da produção. Além disso, as informações obtidas pelo SAC mostram a qualidade do ponto de vista do consumidor. BERRY e PARASURAMAN (1997) também estabelecem um elo entre qualidade e SAC ao afirmarem que as empresas que quiserem melhorar seus serviços necessitam escutar continuamente três tipos de consumidores: consumidores externos que experimentaram o serviço da firma, consumidores de seus concorrentes e consumidores internos (os empregados). Para realizar essa tarefa, a empresa deve construir o que os autores chamam de sistema de 58 informação qualidade – serviço, isto é, um sistema que utiliza abordagens múltiplas de pesquisa para obter, organizar e disseminar sistematicamente informações sobre a qualidade do serviço para dar suporte a tomada de decisão. Segundo BERRY e PARASURAMAN (1997), para elaborar seu sistema de informação qualidade – serviço, uma empresa pode escolher entre vários tipos possíveis de pesquisa. A natureza do serviço, a estratégia da firma e as necessidades das pessoas que vão utilizar a informação é que vão determinar quais pesquisas utilizar. Entretanto, algumas abordagens normalmente farão parte de qualquer sistema e o SAC é uma delas. Isto é, as dúvidas, comentários, sugestões e reclamações obtidas pelo SAC devem ser utilizados como subsídios para a tomada de decisão de uma empresa. Através dessas informações, pode-se identificar os tipos mais freqüentes de problemas com o produto e oportunidades para melhorá-lo, além do próprio SAC ser uma forma de fortalecer o relacionamento com os consumidores. O SAC também permite que a empresa se antecipe na resolução de problemas, evitando gastos, tanto financeiros quanto de imagem, de processos judiciais. Ao se dirigir ao SAC, o consumidor oferece uma oportunidade para a empresa resolver sua reclamação antes de tomar alguma providência legal (MITCHELL, 1993 e ZÜLSKE, 1991). O fortalecimento da lealdade a marca é outro benefício que pode ser conseguido através do SAC. Segundo um estudo realizado pelo U.S. Office of 59 Consumer Affairs em 1979, os consumidores que reclamam e que têm suas reclamações resolvidas, mostram uma lealdade a marca mais forte que os consumidores que não reclamam. Com isso, o SAC pode ajudar a transformar um consumidor insatisfeito em um consumidor satisfeito e leal à marca (FORNELL e WERNERFELT, 1987). MITCHELL (1993) ressalta outras vantagens do SAC: facilidade de reclamação; evitar boca-a-boca negativo; marketing interno e evidência tangível da orientação para o mercado para a firma. Como somente uma parte dos consumidores insatisfeitos reclamam, o SAC, ao facilitar a comunicação consumidor-empresa, tende a aumentar essa parcela e, portanto, aumentar as chances desses consumidores continuarem a comprar da empresa. No mesmo movimento, ao reduzir o número de consumidores insatisfeito, o SAC também reduz o boca-aboca negativo. Além disso, a empresa pode realizar vendas cruzadas para os consumidores satisfeitos, isto é, se o consumidor reclama de um produto e fica satisfeito com a solução, ele se torna consumidor potencial de outros produtos da empresa. Com relação ao marketing interno, MITCHELL (1993) diz que o SAC permite que informações sobre o consumidor alcancem departamentos que têm pouco ou nenhum contato com ele, ajudando na tarefa estratégica de tornar toda a empresa mais reativa as necessidades do consumidor. Além disso, ao representar o compromisso da companhia em tratar bem seu consumidor, o SAC pode despertar 60 um sentimento de orgulho dos empregados em relação a ela e podem aumentar as chances dos empregados se identificarem com uma empresa que se preocupa com seus consumidores. Como última vantagem citada pelo autor, a introdução do SAC é uma evidência tangível de que a empresa está ficando orientada para o mercado ao representar os interesses dos consumidores em seu processo de tomada de decisão. DONALDSON (1995) destaca a importância do SAC na alocação de recursos de uma firma. Segundo o autor, o serviço ao consumidor deve refletir as necessidades do consumidor. Assim, os recursos não estarão alocados de maneira ótima se a empresa estiver fornecendo serviços acima ou baixo das expectativas de seus consumidores. Embora técnicas formais de pesquisas de mercado possam fornecer grandes insights sobre as necessidades dos consumidores, pesquisas informais e uma variedade de fontes de feedback de consumidores também devem ser utilizadas. LIU et al (2000) ressaltam que as respostas do pós-venda, isto é, das respostas da empresa às reclamações/comentários após a prestação do serviço, influenciam nas expectativas, percepções sobre a qualidade do serviço e intenções comportamentais dos consumidores. Segundo os autores, os consumidores utilizam informações percebidas durante os encontros de serviços para atualizar suas expectativas, e estas são drivers para os consumidores avaliarem. Além disso, o processo de atualização de expectativa tem impacto significativo nas 61 intenções comportamentais dos consumidores em relação ao encontro de serviço presente, encontro de serviço futuro (o que pode levá-lo ou não a comprar novamente com determinada empresa) e comunicações boca-a-boca. Assim, as respostas do pós-venda levam os consumidores atualizarem suas expectativas, o que os leva a atualizar suas percepções sobre a qualidade total do serviço e suas intenções comportamentais. Com isso, uma prestação excelente de serviço seguido de um tratamento inadequado de reclamação podem levar o consumidor avaliar negativamente o serviço como um todo, influenciando suas ações futuras. ADAMSON (1993) utiliza resultados de um estudo realizado pela TARP concluir que, apesar do tratamento das reclamações ser importante, o foco deve estar na qualidade inicial. Segundo o estudo, 80% da satisfação de um consumidor depende do design, da fabricação e da entrega do produto, enquanto que somente 20% dependem da resolução de problemas após sua ocorrência. Assim, confiar somente em reconquistar o consumidor através de um excelente tratamento de sua reclamação é uma estratégia muito arriscada. Consequentemente, o autor enxerga dois grande benefícios no gerenciamento efetivo das reclamações: a análise das reclamações e problemas aumentam a probabilidade de “fazer direito na primeira vez” e, se a resolução do problema for satisfatória para o consumidor, sua lealdade aumentará. Entretanto, o autor ressalta que a maioria das empresas aloca mal seus recursos destinados a reclamações, gastando 95% deles no tratamento de reclamações individuais e menos de 5% em sua análise. A figura 2.5 mostra o papel do gerenciamento das reclamações. 62 Figura 2.5 Fórmula para maximizar a satisfação do consumidor e sua lealdade a marca Fazer o trabalho direito na primeira vez Qualidade melhorada do produto/serviço + Gerenciamento efetivo do contato com o consumidor Respostas aos consumidores individuais Fontes de insatisfação = Satisfacão/Lealdade máxima do consumidor Eles irão: * Recomprar seus produtos/ serviços * Recomendar seus produtos a outros * Comprar outros produtos de sua organização Análise das causas Utilização das informações da análise na prevenção Fonte: Baseada na figura 1 de ADAMSON (1993), p. 440 Com relação sobre os benefícios de um SAC para diferentes empresas, DOLINSKY (1994) ressalta que, embora o SAC tenha valor para todo tipo de firma, ele tende a ter mais importância para aquelas que fornecem basicamente serviços, devido a sua alta variabilidade em comparação aos bens mais tangíveis. É provável que essa variação dê origem a uma quantidade maior de problemas percebidos e, portanto, a um número maior de reclamações. Já FORNELL e WERNERFELT (1987) ressaltam que o tratamento das reclamações é crucial para empresas que atuam em ambientes altamente competitivos, pois, nessas situações, é muito difícil atrair novos consumidores, e 63 os custos de realizar essa tarefa tendem a ser bem maiores que os de reter os consumidores atuais. Quanto mais competitivo o ambiente, mais madura a industria e mais baixo o crescimento do mercado, maior a importância de uma estratégia defensiva de marketing em relação a uma ofensiva (embora ambas sejam importantes). Enquanto esta se preocupa em estimular a troca de marca (isto é, do seu concorrente para sua empresa), uma estratégia defensiva se preocupa em diminuir a taxa de turnover dos consumidores de sua empresa ao proteger produtos e mercados das investidas de concorrentes. E uma das principais ferramentas para maximizar a retenção dos consumidores é tratar de suas reclamações, visando aumentar sua satisfação com a empresa (FORNELL e WERNERFELT 1987). Os autores criaram um modelo cujo ponto de partida é a proposição de que, em mercados estagnados (ou de crescimento baixo), os consumidores insatisfeitos de uma empresa podem representar a única (ou principal) oportunidade de crescimento de seus concorrentes. Assim, há sempre uma probabilidade que (1) um comprador fique insatisfeito e (2) que ele considere comprar de outra empresa, que vai utilizar uma estratégia ofensiva para atrair esses consumidores insatisfeitos. O primeiro passo que uma empresa deve realizar para evitar que o consumidor troque de marca é identificar aqueles compradores que estão 64 insatisfeitos. Depois, ela precisa fazer com que esses compradores permaneçam leais. O modelo mostra que: (1) maximizar o número de reclamações de consumidores é de interesse da empresa. Isto ocorre porque há um custo de oportunidade associado a uma “insatisfação não comunicada,” pois, em um ambiente em que há escolhas, o consumidor insatisfeito que não reclama tem maior probabilidade de trocar de marca. Enquanto essa troca implica em receita perdida, a reclamação implica em custo (de atração e resolução). Caso a receita perdida seja maior que o custo, as reclamações devem ser encorajadas se uma parcela suficientemente grande de reclamantes pode ser persuadida a permanecer consumidores. Uma importante questão é qual a quantidade de deserções que podem ser evitadas através do tratamento das reclamações. Segundo os autores, essa é uma questão empírica e os dados disponíveis indicam que a lealdade do consumidor pode ser aumentada através do encorajamento e tratamento de sua reclamação; (2) recompensar consumidores insatisfeitos com quantias que excedam a margem de contribuição do produto/serviço é, normalmente, recomendável. A quantia de compensação depende do valor de reter o consumidor e da probabilidade do reclamante ficar satisfeito com o que foi dado a ele e continue um comprando da empresa. Assim, principalmente para produtos de compra freqüente, o valor do consumidor é muito maior que o custo do 65 produto objeto da reclamação. Nesses casos, não só o marketing defensivo é crucial, mas talvez seja lucrativo oferecer uma quantia que corresponda a várias vezes a margem de lucro do produto. Os autores ressaltam a importância de uma perspectiva de longo prazo no cálculo da compensação ; (3) ao atrair e resolver reclamações, a empresa pode se defender da propaganda/promoção de seus concorrentes e diminuir o custo de seu marketing ofensivo sem perder participação de mercado. BLODGETT et al (1995) também ressaltam a importância da empresa encorajar as reclamações dos consumidores. Segundo os autores, as empresas precisam entender que alguns consumidores insatisfeitos não darão uma chance da empresa remediar o problema. Esse comportamento ocorre porque eles não acreditam que a empresa estará pré-disposta a resolver seus problemas ou porque são relutantes em reclamar de maneira geral. Ao invés de reclamarem, esses consumidores não comprarão mais da empresa e iniciarão um boca-a-boca negativo , ocasionando perda de vendas e de lucros. Considerando que o custo de atrair um novo consumidor é bem mais alto que reter um atual, a empresa deve encorajar seus consumidores insatisfeitos a reclamarem. 66 Segundo FORNELL e WERNERFELT (1984), apesar da importância das reclamações para os consumidores, há barreiras comportamentais dentro das empresas que impedem que o potencial do SAC seja aproveitado ao máximo pela empresa e que a insatisfação do consumidor seja efetivamente reduzida. Apesar do desenho do SAC variar de uma empresa para a outra, sua função central é o processamento das informações não solicitadas dos consumidores, sendo que as mais importantes são as reclamações. O gerenciamento das reclamações envolve duas tarefas básicas: (1) tratamento individual da reclamação e (2) análise agregada das reclamações. A importância da primeira reside no valor do reclamante a longo prazo( isto é, no valor de suas compras futuras, que é, normalmente, maior que o valor da compra objeto da reclamação) e no impacto do boca-a-boca sobre os outros consumidores. Já importância da análise agregada está na identificação e resolução dos problemas “comuns” aos consumidores, evitando que eles ocorram novamente no futuro. Essa resolução normalmente envolve uma mudança no marketing mix da empresa, o que não pode ser feito pelo SAC isoladamente, isto é, exige a participação do “gerente de marketing” Assim, o SAC necessita comunicar suas descobertas sobre as insatisfações dos consumidores ao “gerente”. Entretanto, há uma tendência de que essa comunicação seja suprimida devido a barreiras comportamentais existentes na organização da empresa. Isto é, o SAC pode encontrar dificuldades em transmitir as informações das reclamações dos consumidores para os outros departamentos devido ao problemas relacionados à transmissão de informações 67 negativas ( as outras áreas da empresa normalmente não gostam de recebê-las, consideram-nas informações externas desagradáveis) (FORNELL e WERNERFELT, 1984). Entretanto, se as outras áreas não ficarem cientes das reclamações dos consumidores, elas não poderão realizar modificações para satisfazê-los, o que contribui para o aumento do número de reclamações. Essas duas relações foram chamadas por FORNELL e WERNERFELT (1984) de Círculo Vicioso das Reclamações dos Consumidores, pois: (1) Quanto mais cresce o volume de reclamações (em proporção aos outros tipos de comunicação que uma empresa recebe), mais o SAC fica isolado da tomada de decisões; (2) Quanto mais o SAC fica isolado da tomada de decisões, maior o volume relativo de reclamações. Com isso, os autores sugerem que, se a empresa desejar se beneficiar das reclamações de seus consumidores, esse círculo vicioso deverá ser rompido. O SAC deve se tornar completamente integrado ao gerenciamento das atividades de marketing da firma, tanto das correntes quanto das futuras. 68 2.4 Aspectos Organizacionais do Serviço de Atendimento ao Consumidor – O Trabalho de Lancioni. LANCIONI (1995) realizou um estudo com mais de 110 empresas de 12 indústrias nos Estados Unidos com objetivo observar algumas questões organizacionais do Serviço ao Consumidor. De acordo com essa pesquisa, 85% das empresas analisadas apresentaram um Departamento de Serviço ao Consumidor (DSC). As estruturas desses departamentos tinham natureza informal ou formal. No primeiro caso, não há uma estrutura dizendo a quem eles devem se reportar e qualquer problema comunicado pelo consumidor ganha atenção imediata do departamento que pode lidar com ele. A estrutura informal foi encontrada na maioria das empresas com menos de 150 empregados. O que caracterizava essas firma era a facilidade de comunicação dentro delas, havendo muito pouca dificuldade de encontrar a pessoa ou o departamento que pudesse resolver o problema do consumidor. Já as companhias com uma estrutura formal eram menos reativas ao lidar com questões do serviço ao consumidor. As funções desempenhadas pelo Departamento de Serviço ao Consumidor também foram analisadas. De acordo o estudo, esses departamentos eram responsáveis por uma variada gama de funções gerenciais, indo desde lidar com as reclamações do consumidor até dar suporte às vendas. A amplitude dessa gama tem relação com a maneira que as empresas definem Serviço ao 69 Consumidor e como o conceito é implantado em suas organizações. Assim, algumas companhias encaram o Serviço ao Consumidor de maneira estreita e o utilizam somente para lidar com as reclamações do consumidor, enquanto outras tem uma visão mais ampla, encarando-o, por exemplo, como suporte de vendas. Neste caso, o DSC vai ser responsável desde retorno de mercadorias até fornecer material promocional para a força de vendas. O resultado da pesquisa mostra que a função mais freqüente do DSCs é lidar com a reclamação dos consumidores (85%). Esta é seguida de suporte às vendas (69%); receber pedidos (59%); serviço de campo (33%); cobrança (26%); crédito (19%) e garantias de venda (11%). Outra questão contemplada pelo estudo se refere a quem o Departamento de Serviço ao Consumidor se reporta. “Como o Serviço ao Consumidor é uma área gerencial híbrida, as empresas geralmente não estão seguras onde colocá-lo.” (LANCIONI, 1995, p.22). Segundo o autor, o Departamento pode se reportar diretamente à alta gerência ou indiretamente (ou sub–reportar), isto é, ele se reporta a um departamento que se reporta à alta gerência (ver Figura 2.6). 70 Figura 2.6 Estruturas de Reportagem para DSCs Estrutura de Sub-Reportagem Presidência Finanças Marketing Produção DSC Estrutura de Reportagem Direta Presidência Finanças Marketing DSC Fonte: Baseada na figura 2 de LANCIONI (1995), p. 22 As vantagens de se reportar diretamente são significativas, segundo LANCIONI (1995). Primeiro, a estrutura direta permite um fluxo livre de comunicação do Serviço ao Consumidor para os principais tomadores de decisão da empresa. Além disso, o DSC pode normalmente obter os recursos que necessita para desenvolver a estratégia de serviço ao consumidor da firma sem a resistência de outros grupos gerenciais. Como última vantagem, o DSC tem a autoridade de resolver rapidamente os problemas dos consumidores já que pode ser mover 71 verticalmente, horizontalmente e diagonalmente através da estrutura gerencial da firma, isto é, a rapidez de resposta é grande. Já com relação a estrutura de reportagem indireta, o autor ressalta que ela funciona bem mas tem algumas limitações. A primeira é o fato da função de Serviço ao Consumidor estar sempre à mercê de grupos de gerentes de nível médio que normalmente encaram o DSC como um estorvo ao invés de um ativo. Com isso, o DSC geralmente enfrenta dificuldades para conseguir informações de outros departamentos, como o status do pedido ou da reclamação. Além disso, o DSC está freqüentemente à mercê do departamento ao qual se reporta, pois geralmente tem dificuldades de conseguir recursos que necessita para lidar com as questões do consumidor que motivaram sua criação. Segundo o estudo, o DSC se reporta ao departamento de vendas na maioria dos casos (29%). Para LANCIONI (1995), esta é uma das melhores situações dentre as estruturas de sub-reportagem, pois ele é que gera a demanda (para a firma) a qual o DSC deve tratar. Entretanto, é importante lembrar que deve ser preservado um balanço entre o nível de vendas e as condições que o DSC necessita para dar suporte a elas. O departamento de marketing vem em segundo lugar na freqüência de reportagem. Essa é a melhor relação em uma estrutura de sub-reportagem, pois o marketing tende a ter uma visão de longo prazo do mercado. Nesses casos, o DSC é utilizado como uma maneira de construir um relacionamento com os consumidores. Em terceiro lugar, está o departamento de 72 produção. Neste caso, o controle de qualidade costuma ser uma das responsabilidades do DSC. Somente em 5% dos casos o DSC se reporta diretamente a presidência. Por ultimo, a pesquisa analisou o nível de reatividade dos departamentos às necessidades do DSC. Em uma escala de 1 a 5, o departamento de marketing foi mais reativo (4.5) e o de informática, o menos (2.95) Segundo o autor, a alta nota do marketing resulta do deste departamento encarar o Serviço ao Consumidor como um instrumento para construir um relacionamento de longo prazo com o consumidor. Já o departamento de informática costuma ter um foco muito operacional, tendendo, portanto, a não ser cooperativo com os outros departamentos. Os outros resultados foram: departamento de vendas (3.69) e alta gerência (3.63). Com relação a este, o autor ressalta que a resposta da alta gerência depende se o DSC se reporta diretamente a ela ou sub-reporta. No primeiro caso, o nível de rapidez as necessidades do DSC tende a ser alto, enquanto que no segundo, não. 73 2.5 O Tratamento e a Análise das Reclamações dos Consumidores 2.5.1 O Tratamento das Reclamações Individuais do Consumidores Para que uma empresa obtenha sucesso na resolução das reclamações de seus consumidores, é necessário que a alta gerência forneça suporte para esse processo. O comprometimento da alta gerência é um pré-requisito essencial para qualquer atividade desempenhada pela empresa, seja um bom tratamento da reclamação, ou não. Além disso, políticas realistas devem ser estabelecidas, escritas e comunicada para todos que estejam envolvidos no processo de resolução de reclamações e, principalmente, para o consumidor. Isto é, o consumidor deve ser informado de como deve proceder para efetuar uma reclamação e isso pode ser feito, por exemplo nos rótulos dos produtos ou nas contas dos serviços prestados (MITCHELL, 1993). MITCHELL (1993) destaca outros aspectos que devem ser considerados para que uma empresa possa tratar efetivamente das reclamações. Segundo o autor, as políticas de reclamação devem ser amplas e consistentes com os regulamentos e com as atitudes e políticas existentes na organização. A continuidade, a existência e a redução de ambigüidade são vantagens que podem ser alcançadas com políticas pré-estabelecidas e comunicadas. Entretanto, existem exceções a 74 essas regras. Caso a organização se torne muito burocrática ou fique rigidamente apegada a suas políticas, a função de tratamento das reclamações pode ser prejudicada. A companhia deve utilizar seu discernimento toda vez que for analisar uma reclamação. Além disso, a própria análise das reclamações serve para melhorar essas políticas. O autor também ressalta que, embora seja importante para uma empresa ter uma boa política de respostas ( o que muitas vezes envolve a troca de um produto ou a devolução do dinheiro), isto acaba aumentando o risco da firma ser abordada por fraudadores. No longo prazo, a empresa deve tomar providências para que esse problema não aumente ou permaneça no o menor possível. Entretanto, apesar dessa preocupação, a companhia deve ter muito cuidado do que diz respeito a acusar consumidores de realizarem reclamações falsas. MITCHELL (1993) sugere que a empresa adote a premissa de que a maioria dos consumidores é sincera ao analisarem a veracidade da reclamação, mas continue tentando minimizar o problema de reclamações falsas. Para GOODWIN e ROSS (1990), a empresa deve desenvolver estratégias e políticas de respostas que não levem em conta a motivação do consumidor e, em alguns casos, que também sejam indiferentes à legitimidade da reclamação. Uma vez que o consumidor faz uma reclamação, a transação original pode se tornar menos relevante para a satisfação final do consumidor que os eventos que ocorrem após a reclamação. Com isso, assim que a firma recebe uma 75 reclamação, ela deve tentar imaginar o que ela pode fazer para deixar o consumidor com uma boa impressão, isto é, satisfeito. Para realizar essa tarefa, a empresa deve entender como o consumidor avalia os processos que ocorrem assim que ele entra em contato com ela para realizar a reclamação. O tratamento de uma reclamação pode ser visto como uma seqüência de eventos na qual um procedimento, que começa com o consumidor comunicando a reclamação, gera um processo de interação através do qual ocorre uma decisão e um resultado (TAX, BROWN e CHANDRASHEKARAN, 1998). Segundo BIAS (1987), cada parte da seqüência está sujeita a considerações sobre justiça. Além disso, a literatura sobre qualidade em serviços ressaltam a influência do tratamento interpessoal, elementos do processo e benefícios/resultados como elementos-chave da avaliação do serviço (TAX, BROWN e CHANDRASHEKARAN, 1998). Com isso, TAX, BROWN e CHANDRASHEKARAN (1998) elaboraram um modelo no qual o consumidor utiliza três dimensões de justiça como principal critério de avaliação do processo que começa com a comunicação de sua reclamação com a empresa e termina com a comunicação da decisão tomada por esta. Essas três dimensões de justiça são: justiça distributiva (relacionada com o resultado obtido pelo consumidor, ou melhor, do resultado em relação ao input, do consumidor); justiça de procedimentos (relacionada com os processos pelos quais o resultado é obtido) e justiça interativa (relacionada com os comportamentos 76 interpessoais apresentados durante os procedimentos e na entrega do resultado). Além das dimensões isoladas, a avaliação do consumidor também é afetada pelas interações entre elas. Ao testarem esse modelo, os autores encontraram alguns resultados que podem ser utilizados na operacionalização do tratamento de reclamações. Com relação à justiça distributiva, a questão que mais apareceu na pesquisa foi a avaliação da compensação oferecida pela empresa, isto é, se ela foi justa ou não. Além disso, o estudo revela que os consumidores esperam um pedido de desculpas da empresa. Entretanto, se a reclamação não for solucionada, os consumidores acharão que a empresa foi injusta com eles e, mesmo com um pedido de desculpas, continuarão insatisfeitos. A pesquisa também ressalta uma aparente relação entre a avaliação dos resultados com questões de procedimento e interação. Os autores citam o exemplo de que resultados fornecidos de forma rude ou indiferente são menos valiosos do que se fossem transmitidos por uma pessoa mais atenciosa. Sobre a justiça de procedimentos, a principal questão colocada na pesquisa foi o fato da empresa evitar assumir a responsabilidade pelo problema. Muitas pessoas reclamaram que o “esforço” para que o processo prosseguisse geralmente era parado pela tentativa da empresa em transferir a responsabilidade da falha para o consumidor. 77 Outros aspectos mencionados sobre os procedimentos foram reclamações quanto a demora e a inconveniência do processo, isto é, quanto mais conveniente e mais rápido o processo, maior a probabilidade do consumidor ficar satisfeito. Além disso, os entrevistados se mostraram deleitados ao serem contatados pela empresa perguntado se a reclamação foi solucionada satisfatoriamente. Educação, empatia e mostrar esforço em tentar resolver a reclamação foram os aspectos mais mencionados em relação a justiça interativa. O fornecimento de explicações sobre o problema foi um ponto de discórdia entre os pesquisados. Quando a empresa oferece informações para que as pessoas entendam a causa do problema e ajudam-nas a obter uma solução rápida e justa, a avaliação tende a ser positiva. Entretanto, quando a informação é oferecida em forma de desculpas para atenuar a responsabilidade da empresa, isto é percebido negativamente. Os autores fazem algumas recomendações práticas a partir desses resultados. Uma das maneiras de melhorar o processo de tratamento das reclamações pode ser dar poder aos empregados que as recebem. O empowerment pode ajudar a solucionar questões críticas como rapidez, conveniência, acessibilidade e flexibilidade dos procedimentos de reclamação. A adoção de call centers formados por empregados especialistas em resolver problemas dos consumidores também podem no que tange a justiça de procedimentos, pois contribui para uma recuperação do serviço rápida, acessível e consistente. Garantia de serviços 78 podem ser utilizadas para ajudar a processar reclamações de forma consistente e eficiente. Para fornecer resultados/recompensas justas, a empresa precisa entender os custos totais incorridos pelos consumidores, isto é, tanto na falha do serviço quanto no processo de reclamação. Com relação à justiça interativa, os autores ressaltam a importância do treinamento dos empregados que recebem as reclamações para que interajam com os consumidores da forma que estes achem justa, isto é, com educação e empatia, por exemplo. A interação entre as dimensões de justiça também deve ser reconhecida pelos gerentes. Um firma que concentre sua atenção em dar uma boa recompensa para um consumidor insatisfeito provavelmente não atingirá seu objetivo se isso for feito através de procedimentos injustos ou de empregados rudes. Assim, interações e procedimentos justos podem diminuir o custo da reclamação e, portanto, reduzir a compensação necessária para atingir a justiça distributiva. SPARKS e McCOLL-Kennedy (2001) também ressaltam que esses três tipos de justiça influenciam a avaliação do consumidor de sua satisfação na recuperação dos serviços, mas as definem de maneira um pouco diferente. Segundo os autores, a justiça distributiva enfoca a justiça percebida do resultado do processo; a justiça interativa enfoca a maneira na qual o consumidor é tratado do decorrer do processo e a justiça de procedimentos está relacionado à percepção que o 79 consumidor tem do processo, isto é, se ele acha que o processo utilizado para se corrigir o problema foi justo ou não. Para MITCHELL (1993), há várias formas através das quais a empresa pode compensar o reclamante. Uma delas é a devolução do dinheiro, cujo estabelecimento depende da preocupação da empresa com as reclamações e da importância da reclamação. Outro método é a substituição do produto. Normalmente, a custo total da substituição é maior que simplesmente devolver o dinheiro, mas ela tem suas vantagens. A troca do produto oferece ao consumidor uma oportunidade para experimentar um produto que seja representativo da qualidade normal da empresa, o que talvez possa encorajá-lo a continuar comprando o produto. Outra vantagem pode ser a restauração da confiança do consumidor na empresa. Por último, a substituição pode constituir uma abordagem mais pessoal que uma simples devolução de dinheiro, fazendo com que o reclamante se sinta “especial.” ESTELAMI (2000) dividiu em duas categorias os determinantes de deleite e desapontamento nos resultados das reclamações: determinantes de procedimento e determinantes competitivos. A primeira categoria envolve rapidez de resposta, fornecimento de uma compensação adequada ao consumidor e o comportamento educado dos funcionários ao tratarem a reclamação, se assemelhando às dimensões de justiça 80 ressaltadas por TAX, BROWN e CHANDRASHEKARAN (1998). Em seu estudo, ESTELAMI (2000) observou que, embora os três procedimentos sejam responsáveis pelo deleite ou não do consumidor, a compensação se revela mais importante. Assim, o autor sugere que as políticas de tratamento de reclamações das empresas incluam elementos como reparo de produtos, troca de produtos e nova execução do serviço, com a intenção específica de compensar o reclamante. Com relação a segunda categoria, ESTELAMI (2000) ressaltou que o nível e a natureza da competição ajuda uma empresa a determinar os benefícios econômicos que ela pode esperar ao resolver as reclamações, isto é, dependendo das condições de mercado, uma firma pode ter maior ou menor incentivo para responder positivamente as reclamações feitas por seus consumidores. O autor identificou dois fatores competitivos. O primeiro é a intensidade competitiva, diagnosticada pelo número de competidores no mercado. Quanto mais competitivo o mercado, mais provavelmente a empresa responderá positivamente às reclamações, pois maiores serão os custos de atrair novos consumidores. O segundo fator é o nível de lealdade do consumidor em relação a firma. De acordo com ESTELAMI (2000), as empresas que experimentam maiores níveis de lealdade de seus consumidores têm maior probabilidade de responder positivamente às suas reclamações. Do pondo de vista da lucratividade, a tendência do consumidor de comprar repetidamente de uma firma fornece incentivo para a empresa resolver as reclamações de seus clientes. Aonível de lealdade do consumidor pode ser considerado por um empresa como um ativo 81 estratégico para evitar que seus competidores penetrem em sua base de clientes, em sua parcela de mercado. Além disso, consumidores leais exigem menores gastos de marketing, compram em maior quantidade e são menos sensíveis a preço. O modelo de ESTELAMI (2000) pode ser observado na Figura 2.7. Figura 2.7 Determinantes de Deleite e Desapontamento nos Resultados das Reclamações dos Consumidores Determinantes Competitivos Intensidade Competitiva Lealdade do Consumidor Determinates de Procedimento Rapidez de Resposta Incentivos da Empresa para Resolver Reclamações Comportamento do Empregado Compensação Modo como a Reclamação é Resolvida Satisfação com a Resolução da Reclamação Desapontamento Mera Satisfação Deleite Fonte: Baseada na Figura 1 de ESTELAMI (2000), p.290 ESTELAMI (2000) também ressalta a que a empresa pode achar produtivo realizar não só um benchmarking de suas estratégias ofensivas de marketing, mas também realizar o mesmo com suas estratégias defensivas, isto é, comparar suas práticas de tratamento de reclamações com aquelas de seus principais competidores. 82 BLODGETT et al. (1995) estudaram o comportamento de reclamação do consumidor e também ressaltaram que a justiça distributiva e interacional são dois dos principais fatores que determinam se o reclamante irá voltar a comprar da empresa (ou abandoná-la) e se fará boca-a-boca positiva ou negativa, isto é, os consumidores insatisfeitos esperam não só receber uma recompensa justa, mas serem tratados com cortesia e respeito. Assim, a maneira de interagir com os consumidores deve fazer parte do treinamento de um funcionário do SAC. Ele deve entender que alguns reclamantes terão experimentado uma grande quantidade de stress e ansiedade devido ao problema estando, portanto, irritadiço. Assim, o funcionário deve ser ensinado a tratar o consumidor com empatia e a dar oportunidade a ele explicar seu problema. Outras descobertas do estudo foram: • Outros dois fatores importantes para determinar se o reclamante irá voltar a comprar da empresa e falará bem dela ou irá abandoná-la e iniciará um boca-a-boca negativo são estabilidade e controle. Reclamantes que acham que a empresa está realmente preocupada com seu negócio, é competente e é compromissada com a satisfação de seus consumidores, têm maior probabilidade de achar que o problema não era normal (isto é, que seja normal a ocorrência daquele problema) nem controlável. O resultado é uma maior probabilidade de voltar a comprar da firma e de realizar um boca-aboca positivo. Assim, os funcionários devem ser treinados para agradecer os 83 consumidores por levarem seu problema ao conhecimento da empresa, por exemplo. • A importância e o custo do produto não são relevantes sobre o comportamento do consumidor insatisfeito, isto é, se ele irá reclamar com a empresa pedindo providências ou irá simplesmente começar a falar mal da empresa. • Consumidores insatisfeitos que percebem uma grande probabilidade de sucesso e que têm uma atitude favorável a em relação a reclamar, têm maior probabilidade de contatar a empresa procurando uma solução e não iniciar um boca-a-boca negativo pré-reclamação e vice-versa. A probabilidade de sucesso tem um maior impacto no comportamento do consumidor que sua atitude frente à reclamação. 2.5.2 A Análise das Reclamações Para SCHIBROWSKY e LAPIDUS (1994), o Departamento de Serviço ao Consumidor tem duas funções em relação as reclamações recebidas: tratar as reclamações individuais e analisar as reclamações de forma agregada. A primeira visa resolver problemas, fazendo com que o consumidor que reclamou não tome nenhuma medida legal, fique satisfeito e não deixe de comprar produtos da empresa. Já a segunda função, visa identificar as causas das reclamações , 84 utilizando essas informações para formular estratégias gerenciais que tenham como objetivo evitar que novas reclamações sejam feitas no futuro. Como ressaltam os autores, resolver uma reclamação individual é importante, mas ataca os sintomas ao invés das causas. O objetivo da análise agregada é identificar e eliminar as causas. Segundo os autores, conduzir uma boa análise de reclamações requer mais do que simplesmente contá-las. O processo requer um planejamento cuidadoso para que os dados resultantes sejam acurados e utilizáveis. Vamos destacar as principais questões que devem ser abordadas no estágio de desenho de um projeto de análise de dados agregados sobre reclamações, de acordo com SCHIBROWSKY e LAPIDUS (1994). Um questão importante é quem deve conduzir o projeto. Um opção são os próprios empregados da empresa. Existem três benefício em se realizar a análise internamente: o projeto pode ser feito a um custo mais baixo; os empregados responsáveis pela análise podem se mover rapidamente na curva de aprendizado associada com a tarefa e a análise pode se tornar facilmente um processo contínuo. Entretanto, há duas desvantagens relacionadas a utilização da abordagem interna: as pessoas encarregadas do projeto talvez não tenham o conhecimento das técnicas de coleta e análise de dados necessárias para desempenhá-lo e a abordagem interna introduz a possibilidade de um viés potencial. Esta desvantagem ocorre pois há um viés de comunicação dentro da 85 firma que favorece uma preferência por reportar informações positivas em oposição à informações negativas para quem vai receber a mensagem. Com relação a utilização de uma empresa externa para realizar a tarefa, o custo é maior mas os dados gerados serão mais acurados e aceitáveis. Assim, empresas que necessitarem dos dados para uso externo devem adotar essa opção. Entretanto, os autores ressaltam que são poucas as firmas que se encaixam neste caso. Outro aspecto do projeto é a obtenção dos dados. O melhor lugar para começar a coletá-los é nos registros internos da empresa. Os consumidores que estão apresentando reclamações contra a firma devem ser contatados pelo SAC e perguntados sobre detalhes de sua queixa. Em alguns casos, a empresa pode simplificar o processo enviando um formulário para o consumidor que contenha todas as perguntas relevantes. Entretanto, é preciso que a firma convença o consumidor a participar desse processo de coleta de dados pois, de outra maneira, ela provavelmente não conseguirá informações suficientes para analisar. Além dos registros internos, a firma deve coletar reclamações realizadas por terceiros contra a firma. Reclamações de terceiros são definidas como aquelas feitas para alguém que não a companhia como, por exemplo, o Procon. 86 Saber que informação coletar das reclamações também é uma decisão importante. Os autores sugerem que se considere: a data das reclamações (permite que a análise identifique o tipo e o número de reclamações ao longo do tempo); para quem a reclamação foi enviada; se a compra foi ou não realizada; a natureza da reclamação e a resolução da reclamação (pode dar uma idéia da validade das reclamações e do custo total associado a elas). Além das decisões sobre quem irá fazer a análise, onde obter os dados e que informação coletar, outra questão importante a ser considerada para se realizar uma boa análise dos dados é a presença da informática. Segundo MITCHELL (1993), um amplo sistema computadorizado de tratamento de reclamações é uma das maneiras mais fáceis de se realizar tanto uma analise agregada de dados quanto o tratamento de reclamações individuais. Ao utilizar computadores, mais informação pode ser gerenciada em menos tempo com maior precisão, melhorando a qualidade de resposta. 87 Síntese da Revisão de Literatura Vantagens/oportunidades geradas pelo SAC - O SAC é um dos principais instrumentos de Marketing de Relacionamento (ARAÚJO, 1999). - A reclamação do consumidor oferece à empresa uma oportunidade de preservar sua reputação e sua base de clientes (HANSEN et al., 1996). - A reclamação fornece informações para a empresa melhorar a qualidade de seus produtos/serviços (HART et al., 1990; MITCHELL, 1993 e BERRY e PARASURAMAN, 1997). - O feedback dos consumidores ajudam a indentificar quais as áreas que necessitam de melhorias, auxiliando na alocação de recursos da firma (SODERLUND, 1998 e DONALDSON,1995). - Escutar e conhecer o consumidor é importante para adequar as suas necessidades (JONES e SASSER, 1995). - As informações provenientes do SAC são adquiridas a baixo custo pois são oferecidas por iniciativa dos consumidores (STAUSS, 1992). - O SAC pode ajudar a diminuir o gap entre as percepções dos consumidores e gerentes da empresa sobre o produto/serviço (PARASURAMAN,ZEITHML e BERRY, 1985 e WOODRUF, 1997). - O SAC permite que a empresa se antecipe na resolução de problemas que poderiam acabar na esfera judicial (ZULSKE, 1991). - O SAC pode ajudar a transformar um consumidor insatisfeito em um cliente satisfeito e leal à marca (FORNELL e WERNERFELT, 1987). - O SAC permite que informações sobre o consumidor alcancem departamentos que têm pouco ou nenhum contato com o consumidor e representa um compromisso da empresa tratar bem seus clientes, podendo gerar sentimento de orgulho nos empregados (MITCHELL, 1993). - A atuação do SAC influencia nas expectativas, percepções sobre a qualidade do serviço e intenções corpontamentais dos consumidores (LIU at al. 2000). 88 Aspectos organizacionais do SAC Tratamento das Reclamações Análise das Reclamações - A estrutura de um SAC pode ser formal ou informal e cada um delas tem suas vantagens e desvantagens (LANCIONI, 1995). - O SAC pode se reportar direta ou indiretamente à alta gerência (LANCIONI, 1995). - O SAC pode desempenhar uma gama de funções, como lidar com reclamações dos consumidores e dar suporte a vendas (LANCIONI, 1995). - O tratamento das reclamações deve contar com o suporte da alta gerência (MITCHELL, 1993). - As políticas de tretamento de reclamações devem ser amplas e consistentes com os regulamentos e as atitudes e políticas existentes na organização, mas não podem ser muito burocráticas (MITCHELL, 1993). - Ao tratar uma reclamação, a empresa não deve levar em conta a motivação do consumidor ao ao reclamar (em determinados casos, ela também deve ser indiferente a legitimidade da reclamação) (GOODWIN e ROSS, 1990). - O consumidor utiliza três dimenções de justiça para avaliar o tratamento da reclamação: justiça distributiva, justiça de procedimentos e justiça interativa (TAX, BROWN e CHANDRASHEKARAN, 1998; ESTELAMI, 2000; BLODGETT et al. e SPARKS e McCOLL-KENNEDY, 2001). - A análise das reclamações pode ser realizada internamente ou terceirizada e cada forma tem suas vantagens e desvantagens (SCHIBROWSKY e LAPIDUS, 1994). - Os dados sobre as reclamações devem ser obtidos internamente (ex: registros internos) e externamente (ex: contatar consumidores que reclamaram) (SCHIBROWSKY e LAPIDUS, 1994). - Recursos de informáticas são fundamentais na análise e no tratamento das reclamações(MITCHELL, 1993). 89 3. METODOLOGIA 3.1 Tipo de Pesquisa VERGARA (1997) propõe dois critérios a partir dos quais as pesquisas podem ser classificadas: quanto aos fins e quanto aos meios. Com relação aos fins o presente estudo é exploratório. A pesquisa exploratória é realizada com o objetivo de compreender melhor determinado assunto sobre o qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado (VERGARA, 1997 e SEKARAN, 1992). Apesar de a proposta inicial de um estudo desta natureza não ser testar hipóteses, é possível que dele surjam algumas. Isto é, ele pode resultar em construção de hipóteses (VERGARA, 1997 e GIL,1988). Assim, como a literatura sobre SAC é muito escassa, principalmente no Brasil, uma pesquisa com esse caráter se justifica. Quanto aos meios, esta pesquisa é um estudo de casos em campo, isto é, um estudo de casos que será realizado dentro da empresa. Apesar da flexibilidade do planejamento da pesquisa exploratória ser grande, ela, na maioria das vezes, assume a forma de pesquisa bibliográfica ou de estudo de caso (GIL, 1988). Segundo CRESWELL (1998, p.61), “o estudo de caso é uma exploração de um sistema delimitado ou um caso (ou vários casos) ao longo do tempo através de 90 uma coleta de dados detalhados e em profundidade envolvendo fontes múltiplas de informação ricas em contexto.” Segundo o autor, o sistema é delimitado por tempo e espaço e é o caso que está sendo pesquisado. Com relação as fontes múltiplas de informação, elas incluem observações, entrevistas e documentos. GIL (1988) ressalta que a profundidade e o detalhamento de informações obtidos pelo estudo de caso são praticamente impossíveis de serem alcançados através de outro método de pesquisa. O estudo de caso é singular em sua habilidade de lidar com uma grande variedade de evidências, como documentos, artefatos, entrevistas e observações (YIN, 1994). Segundo YIN (1994), existem cinco tipos de estratégias de pesquisa (experimento, survey, análise de arquivo, história e estudo de caso) e três questões devem ser consideradas ao escolhê-la: (a) o tipo de questão de pesquisa colocada, (b) o grau de controle que o pesquisador tem sobre o comportamento atua dos eventos e (3) se o foco está em um evento histórico ou contemporâneo. Com relação ao item (a), se a questão for “QUAL”, duas possibilidades se apresentam: a pesquisa pode ser exploratória, onde qualquer uma das cinco estratégia podem ser escolhidas, ou ela é, na verdade, uma forma de “quantos”. Se a pesquisa for exploratória, cabe definir qual estratégia a ser utilizada. O estudo de caso, experimento e história devem ser considerados em questões 91 como “POR QUE” e “COMO.” A opção pelo estudo de caso será feita através da avaliação dos itens (b) e (c). Se a pesquisa tiver seu foco em eventos contemporâneos e o investigador não tiver controle sobre o comportamento dos eventos, a preferência recairá sobre esse método. Sobre a relação entre estudo de caso e pesquisa exploratória, GIL (1994) ressalta que a maior utilidade desse método é verificado nesse tipo de pesquisa. Com isso, além da natureza exploratória deste estudo, a escolha do método do estudo do caso também se justifica pela pergunta da pesquisa: Qual o papel do SAC nas empresas de telefonia móvel no Brasil? Na verdade, esta se confunde com outra pergunta, “COMO funciona o SAC dessas empresas?” Isto é, a primeira só será respondida se a segunda for. Além disso, a impossibilidade de controlar eventos, o fato do objeto de estudo ser recente e a maneira através da qual a pergunta tentará ser respondida, com entrevistas e observações, por exemplo, também justificam a escolha desse método. 3.2 Seleção das empresas pesquisadas e dos entrevistados 92 No momento em que esse estudo foi realizado, somente a ATL e a Telefônica disputavam o mercado de telefonia móvel no Rio de Janeiro, local onde o estudo foi realizado. As entrevistas foram feitas com três pessoas de cada empresa. A primeira estava relacionada diretamente ao SAC. Na ATL, o próprio gerente do SAC respondeu às perguntas. Já na Telefônica, um assistente do gerente foi a pessoa que respondeu às perguntas. Além deles, um operador do SAC e um analista do departamento de marketing (devido ao relacionamento próximo com o SAC) de cada empresa também foram entrevistados. 3.3 Coleta de Dados A coleta dos dados foi feita principalmente através de entrevistas pautada em um roteiro semi-estruturado (Anexo 1). Segundo Gil (1988, p.117), esse tipo de entrevista “apresenta certo grau de estruturação, já que se guia por uma relação de pontos de interesse que o entrevistador vai explorando ao longo de seu curso.” As questões do roteiro foram preparadas com base na revisão de literatura e abordaram os seguintes assuntos: -origem/motivo da criação do SAC; -evolução do SAC na empresa; 93 -a relação com outros departamentos; -treinamento, marketing interno e os funcionários do SAC; -procedimentos utilizados no SAC ; -utilização de tecnologia; -utilização das informações obtidas pelo SAC e resultados obtidos pelo SAC. As entrevistas foram transcritas em um total de quarenta e quatro páginas. 3.4 Tratamento dos Dados Após a realização das entrevistas, estas foram transcritas e o resultado foi separado em categorias, com base na revisão de literatura, para que a análise fosse feita. Além da separação em categorias, as entrevistas foram apresentadas por empresas. Essa agregação de dados por categorias é chamada de agregação categórica e é uma das formas de se analisar e interpretar os dados em uma pesquisa de estudo de caso (Stake, 1995). Em um momento seguinte, foi realizada uma comparação entre as entrevistas e destas com o que foi encontrado na revisão de literatura. Após essa análise surgiram algumas hipóteses e propostas para estudos futuros. 94 3.5 Limitação do Método Segundo Gil (1988), a principal limitação do método do caso é a dificuldade de generalização dos resultados obtidos. A unidade escolhida para investigação pode ser anormal em relação às outras de sua espécie, fazendo com que a generalização se torne um equívoco. O viés do pesquisador e a necessidade de cooperação por parte dos entrevistados são outras limitações que também devem ser consideradas. Além disso, os resultados do estudo ficam muito atrelados ao discurso dos entrevistados, isto é, ao que eles querem dizer. 3.6 Limitação do Estudo O SAC é uma área muito sensível da empresa pois é o “local” onde são evidenciados alguns problemas através das reclamações dos consumidores, o que pode ocasionar dificuldades na busca de informações. 95 4. DESCRIÇÃO DOS CASOS CASO ATL A ATL opera no mercado de telefonia celular (banda B) desde dezembro de 1998 nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. a) DESCRIÇÃO GERAL DO SAC O Serviço de Atendimento ao Cliente da ATL começou a funcionar em setembro de 1998, três meses antes da empresa como um todo. O principal motivo do início precoce de suas atividades foi o desejo dos consumidores por informação em um mercado com demanda reprimida. Devido às notícias que a ATL havia ganho a licitação para operar na banda B dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, consumidores começaram a ligar para o telefone central da empresa solicitando informações como quando a empresa entraria em operação, quando iria começar a venda de aparelhos, se haveria fila de espera etc. Com isso, a ATL decidiu antecipar o começo do funcionamento do SAC. 96 A existência do SAC é divulgada tanto nos kits da ATL quanto na comunicação direcionada para o cliente, como contas, mala direta e mídia. O funcionamento da área ocorre 24 horas por dia e o consumidor dispõe de quatro meios para acessar o SAC: telefone, carta, fax e e-mail. Todavia, a preferência recai no telefone, conforme comenta o representante da empresa: “Raramente nós recebemos cartas... [com relação ao e-mail] Só para você ter uma idéia, eu tenho 5 pessoas trabalhando na área de e-mail...tenho 700 pessoas no SAC...A proporção de e-mails é realmente muito pequena...não chega nem a 0,4%...a gente nem faz essa comparação. O número de telefonemas é infinitamente superior. São 1.200.000 chamadas/mês.” Os principais motivos pelos quais os consumidores contatam o SAC são (Figura 4.1): 97 Figura 4.1 Motivos das ligações recebidas pelo SAC 4% 16% Informação Solicitação Reclamação 80% Fonte: ATL Apesar do pequeno percentual de reclamações, é possível que este número seja bem maior pois a empresa não explicou como um contato é classificado. Por exemplo, quando um cliente liga para reclamar que sua conta de telefone não chegou, é possível que o contato seja classificado como “pedido de informação sobre atraso de conta”. Com relação a hierarquia do SAC dentro da empresa, ele é subordinado a Diretoria de Talentos Humanos e Qualidade (Figura 4.2). Segundo o gerente do SAC, “Essa disposição ocorre porque o SAC corresponde a cerca de 55% do quadro de funcionários da ATL.” 98 Figura 4.2 Posição Organizacional do SAC da ATL Presidência Diretoria de Talentos Humanos e Qualidade SAC O SAC não conta com nenhuma parte terceirizada. O principal motivo desta opção se deve ao reconhecimento da importância da SAC, conforme explica o gerente da área: “Foi uma definição inicial da empresa que a área de atendimento tem uma importância forte para o negócio e, por isso, decidiu-se por trabalhar com funcionários próprios. Foi basicamente isso, não tem nenhuma outra explicação. Trabalhando com funcionários próprios, nós teríamos um time mais comprometido e mais orientado para os objetivos da ATL. Terceirizando, seria mais difícil gerar esse tipo de envolvimento.” 99 Dentro do SAC, o funcionário que ocupa o nível mais alto na hierarquia tem o título de gerente. Respondem a ele mais dois gerentes e, logo abaixo, vem os coordenadores, analistas, pessoal de backoffice e suporte, supervisores, atendentes e assistentes administrativos. Com relação a escolaridade, o gerente principal é pós-graduado e o atendente do SAC tem, no mínimo, segundo grau completo. Com relação a importância e o papel do SAC para a empresa, o gerente do SAC ressalta: “[ o SAC é] Fundamental. O SAC é responsável por 90/95% das interações com o cliente e é através dele que o cliente entra dentro da empresa.. Então, se ele não existisse, a empresa deveria ter uma outra forma do cliente se relacionar com ela. O SAC é um instrumento de relacionamento com o cliente.” Já a funcionária do marketing destaca a importância do SAC como um instrumento não apenas de relacionamento mas também de fidelização: “Eu vejo o SAC e as lojas como armas para estar fazendo esse esforço com o cliente de estar garantindo satisfação. A gente sabe que qualquer ação feita para conseguir um cliente novo é mais barata que uma para reter um existente. Quando você capta um cliente novo, você não sabe que cliente é 100 aquele. Pode ser um cliente que não gaste nada como pode ser um cliente que gaste muito, como pode ser um que gaste muito mas seja inadimplente. Enquanto que, mantendo um cliente que você já conhece os hábitos de consumo, você já sabe o quanto ele está gastando, você nada mais faz do que manter seu fluxo de caixa estável para ter esse retorno mais para frente.” Para essa representante da empresa o SAC também é visto como uma arma para enfrentar a concorrência, na medida em que é uma forma de comunicação com o cliente de custo relativamente mais baixo que os outros esforços de marketing. “O mercado ainda tem um grande potencial de penetração no RJ e no ES, que são as áreas em que a ATL atua, mas a gente sabe que, se não tratarmos bem nossos clientes, não adianta nada botar gente para dentro da casa se tem muita gente saindo. (...) O concorrente entra sempre muito pesado. Eles têm muito dinheiro para fazer mídia no Rio de Janeiro e no Espírito Santo inteiro e agente não tem toda essa grana. Então, a gente se vira como pode. E a forma que a gente pode no final de contas é atender melhor nossos clientes e tratá-los da melhor forma possível. Não tem outra maneira porque concorrer na força mesmo é complicado.” b) O Contato com o Cliente 101 Devido à importância ressaltada, será enfocado o contato que o cliente realiza com o SAC através do telefone. Quando o consumidor liga para a empresa, ele é recepcionado por uma Unidade de Resposta Audível (URA), isto é, um atendimento automático. Se for um cliente da ATL e estiver falando de seu próprio telefone, ele será identificado imediatamente por um BINA. Caso contrário, ele deverá digitar o numero de seu telefone para permitir a identificação. Se o consumidor não for um cliente ATL, a URA comunicará que site da ATL possui várias informações sobre a empresa e seus serviços e, em seguida, fornecerá um menu de opções que permitem acesso a informações sobre as lojas e revendedores da ATL, promoções, serviços especiais, planos de serviços e serviços corporativos. Em todos os casos a pessoa tem a opção de falar diretamente com um atendente. De acordo com sua estrutura interna, o SAC é dividido em grupos chamados ilhas, isto é, o atendimento é feito de forma segmentada. A associação de um cliente a um determinado segmento é realizado automaticamente através da URA e de um sistema chamado Cumputer Telephone Integration (CTI), que integra o telefone com a base de dados da empresa. Logo que o cliente é identificado pelo sistema ele é direcionado para uma parte específica do SAC, de acordo com o banco de dados da empresa. Isto é, dependendo dos seus dados ele será atendido por esta ou aquela ilha. Com isso, existem ilhas de consumidor prépago, pós-pago, cobrança ativa e receptiva, atendimento técnico, atendimento 102 corporativo e retenção e fidelização de cliente. Ao entrar em contato com atendente, o cliente expressa sua dúvida, solicitação, ou reclamação. O gerente do SAC comenta essa segmentação: “Nós temos um trabalho de segmentação. Dependendo do tipo de consumidor que possa estar entrando em contato, eu tenho níveis de serviços melhores e níveis de serviços não tão bons. Em tempo de espera, por exemplo, eu atendo um cliente VIP numa rapidez muito maior que atendo um cliente pré-pago.” Uma das características da integração entre URA e CTI é o aparecimento de todo o histórico do cliente na tela do atendente assim que ele é transferido. Com isso, o atendente não precisa entrar com os dados do cliente para buscar informações sobre e ele para, só depois, transferí-lo para a ilha mais adequada. Além de entrar em contato com o SAC (por telefone, e-mail, carta ou fax) , os consumidores também podem realizar suas reclamações ou tirar suas dúvidas nas lojas da ATL. Entretanto, há algumas diferenças básicas entre os dois meios utilizados. Do ponto de vista operacional, a principal diferença é que, no SAC, todas as ligações são registradas, compondo o histórico do cliente e podendo ser utilizadas em estudos/relatórios internos. Já nas lojas, nem todas as consultas são registradas. Segundo a funcionária do marketing: 103 “Normalmente, as lojas registram alguma coisa quando elas pedem algo para outra área, ou quando o cliente está muito insatisfeito ...mas se eu entro numa loja e pergunto “você tem bateria?”, eles não vão registrar. Se fosse no SAC, eles registrariam: cliente ligou para perguntar o preço da bateria tal. Na loja, pelo dinamismo, por ter vários clientes entrando e saindo, você não tem como parar tudo e fazer isso. Você faz quando o cliente está na sua frente e quer alguma coisa muito específica, uma mexida no sistema ou tem uma reclamação muito séria para fazer. Enquanto o atendente do SAC está com o cliente no telefone, o atendente da loja tem um cliente com ele e vários esperando.(...) [com relação a consultas simples]...” Entretanto, todas as informações registradas são integradas. Assim, se um cliente fez uma reclamação em uma loja, ele pode saber qual seu status através do SAC. Além da sua atuação passiva, recebendo ligações dos consumidores, o SAC tem uma área que contata o consumidor quando ele adquire um produto da ATL pela primeira vez para dar boas vindas, explicar os serviços, os planos e as possíveis dúvidas que ele possa ter c) O Atendente 104 Todos os funcionários do SAC, desde o atendente até o gerente, recebem treinamentos dentro da empresa. Com relação aos atendentes, assim que entram para a ATL, eles recebem um treinamento sobre telecomunicações e algumas técnicas de atendimento. Além disso, eles recebem treinamentos específicos a cada lançamento de produto, serviço ou promoção da empresa (que serão mais detalhados no próximo item). Quando está em contato com o cliente, o poder de decisão do atendente é limitado. O que eles podem ou não falar/fazer é explicitado nos treinamentos e num documento eletrônico localizado na intranet da empresa, isto é, um “script” que pode ser consultado a qualquer hora. Caso o pedido/reclamação do cliente não esteja nesse documento, alguns caminhos podem ser seguidos. Um deles é consultar o supervisor do SAC, deixando o cliente aguardando na linha. Caso o consumidor queira, ele mesmo pode ser transferido para o supervisor. Outro caminho é transferir o cliente para a área da ATL responsável. De acordo com o atendente. “Se a gente tem noção que o problema pode ser resolvido naquele momento mesmo, a gente transfere a ligação dele imediatamente para o setor responsável.” Com relação a como tratar o consumidor, essas áreas não recebem treinamento envolvendo técnicas de atendimento. Entretanto, a ATL promove 105 algumas ações para aproximar consumidores e funcionários que não tem contato cotidiano com eles. Segundo o gerente do SAC: “...tem algumas ações que e empresa promove que mobilizam a empresa como um todo a conhecer o cliente, a ter contato com ele. Por exemplo, normalmente, nas promoções de aniversário da Atl... os funcionários das áreas admistrativas vão para as lojas, para os pontos de vendas, ajudar nas vendas de aparelho e estar em contato com os clientes(...) Esse processo serve para dar um conhecimento da realidade de atendimento ao cliente a pessoas que não tem contato no dia-a-dia com o cliente.” Quando o objeto da chamada não consegue ser resolvido na hora, o atendente pede para o cliente ligar depois e manda um e-mail para o setor responsável comunicando o problema. Com relação ao prazo solicitado, este pode variar de alguns minutos até 48 horas e, conforme ressalta do gerente “...é negociado com a área. Procuramos negociar um prazo realista com a área para que tenhamos um número mínimo de atrasos”. Apesar de ter autonomia limitada para decisões, o atendente do SAC pode emitir suas opiniões através de três canais. O primeiro é uma pesquisa anual chamada de Pesquisa de Opinião, realizada com todos os funcionários da empresa. O segundo é um reunião semanal com o supervisor do SAC. O último é uma área da intranet denominada Fale Conosco, onde o atendente pode analisar 106 os processos que são colocados na intranet e criticá-lo. Segundo o gerente do SAC, este canal é utilizado freqüentemente e já ocasionou várias mudanças nos processos. De acordo com o testemunho de um dos atendentes: “qualquer dúvida que a gente tiver sobre procedimento, sobre algum problema, mandamos um e-mail via intranet para o setor de comunicação. Aí, eles analisam o e-mail e enviam a resposta para o supervisor para ele repassar para o grupo inteiro.” Com relação ao seu desempenho, o atendente é avaliado de duas maneiras. Existe uma avaliação anual que envolve as seguintes variáveis: • Comunicação – qualidade, objetividade e veracidade da informação prestada ao cliente • Flexibilidade – disponibilidade do associado para contribuir em momentos críticos • Energia – Capacidade de demonstrar estados positivos de ânimo • Apresentação pessoal e postura – demonstração cotidiana de asseio e compostura perante situações adversas e abertura o para assimilar feedbacks • Trabalho em equipe – capacidade de contribuir de forma cooperativa com os demais membros do grupo, pares e supervisores • Assiduidade 107 Além disso, o atendente é monitorado constantemente. Os supervisores avaliam mensalmente cerca de três a quatro monitorações por atendente, isto é, ele escuta as ligações sem conhecimento prévio do atendente. Segundo o supervisor, as variáveis são diferentes e mais numerosas que as utilizadas na avaliação anual e são definidas com o objetivo de analisar qualidade do atendimento do SAC da ATL, da interação atendente-cliente. Apesar de não poder fornecer a lista completa dessas variáveis por considerá-la informação estratégica, o supervisor do SAC comenta que a avaliação sempre visa a satisfação e a resolução de problemas para o cliente e contempla as técnicas de atendimento, conhecimento do produto e comunicação com o cliente: “Eu começo [a avaliação] com a abertura. Aí, eu vou avaliando a parte do resolver problemas, resolver questionamentos, tirar dúvidas, raport. Raport é uma técnica que você entra na mesma frequência que o cliente (...)É a forma com que você se expressa, a educação...eu avalio o português...o registro do meu cadastro, isto é, se ele registra bem pois esse registro é importante pelo histórico do cliente, ou seja, o meu atendimento pode ser a chave para o próximo atendimento. A gente avalia o fechamento...avalio o que falar e o que não falar....vícios de linguagem. Isto é, todas aquelas palavras que não tem valor nenhum para o nosso atendimento e só servem para enfear o nosso atendimento e que só toma tempo como, por exemplo o “né”, “sim, sim”. 108 Então, nós ensinamos outras técnicas para que eles substituam esses vícios de linguagem e que o atendimento seja intencional, isto é, que cada palavra tenha um intenção para trazer qualidade de atendimento no menor tempo porque a gente trabalha com “produção.” d) O Relacionamento com outras áreas O SAC recebe freqüentemente informações (inputs) de outras áreas da ATL. Apesar da tentativa de realizar fazer essa transferência de informação o mais estruturada e rápida possível, o gerente do SAC reconhece que, devido à pouca idade da empresa e a grande agilidade do mercado, nem sempre isso ocorre : “em alguns momentos têm processos que esbarram em cima do SAC e o SAC ainda não tinha conhecimento deles. Assim, hoje, nem sempre isso é feito de forma estruturada.” O relacionamento do SAC com outras áreas da ATL ocorre de maneira estruturada, através de reuniões e emissão de relatórios. Entretanto, o contato não estruturado, como conversas no meio do expediente, também são freqüentes. As informações obtidas nessas interações são utilizadas como subsídios para a melhoria de processos e para uma maior adequação dos produtos e serviços às 109 necessidades dos clientes. Para exemplificar, é possível observar alguns pontos de contato entre o SAC e o departamento de marketing da ATL. Antes do produto ou serviço ser colocado no mercado, o marketing faz uma reunião com o SAC para explicar todos os detalhes e ouvir as dúvidas e sugestões. A funcionária do marketing destaca a importância de manter o SAC bem informado : “Quando se formata um produto ou se faz uma promoção, o marketing interage muito com o SAC para adequar o produto ou serviço às necessidades dos clientes e tirar todas as dúvidas antes da promoção ir para a rua. Não adianta nada o marketing estar com tudo estruturado enquanto o SAC não conhece (...)A idéia é sempre manter o SAC informado...” Além disso, a ATL parece reconhecer e aproveitar o SAC como um canal para de pesquisa: “(...)e, além disso, fazer com que o SAC participe também das decisões... Na hora que você pergunta para um atendente do SAC, para um gerente de loja ou para um atendente de loja o que é que um cliente quer ou o que é que está dando errado, ele sabe na hora, na ponta da língua. Não tem muita necessidade de fazer pesquisa...a pesquisa de marketing é feita sim, a gente normalmente testa nossos produtos, quando tem tempo (...) o SAC, na hora 110 que recebe a informação de um produto que está sendo pensado ou que já foi montado e só precisa da comunicação, eles aparecem com todos os “e se”: e se o cliente disser isso? E se acontecer essa situação?...E aí, você começa a pensar em um monte de coisas que você não tinha pensado antes.” Apesar da tentativa de realizar sempre um treinamento/exposição do produto ou serviço para o SAC antes do lançamento, nem sempre há disponibilidade de tempo. Entretanto, sempre há informações sobre o lançamento na intranet. Além disso, há uma preocupação que o fluxo da informação seja uniforme para todas as áreas que se relacionem com os consumidores, como o SAC, as lojas, os vendedores corporativos e o os consultores que vão às empresas oferecer produtos ATL. O principal objetivo desse esforço é evitar que o consumidor receba informações desencontradas sobre um mesmo produto ou serviço ao entrar em contato com a empresa através de dois canais distintos. Ainda com relação as interações entre SAC e marketing, além dos envios de relatórios e das reuniões, a quantidade de contato não estruturado é expressiva, conforme ressalta a funcionária do marketing: “Normalmente, quando você esta interagindo muito com o SAC, você já sabe de antemão que, na hora que aparece a primeira reclamação e as pessoas do SAC não sabem o que está acontecendo, elas ligam direto para o marketing e falam “tá acontecendo isso. O mundo tá acabando. O que é que a gente faz 111 nessa situação?” Então, essas informações gerenciais são bem mais proveitosas para quem está olhando do lado de fora. Quando você não sabe o que está acontecendo no dia-a-dia, quando você não vive o dia-a-dia do SAC...é óbvio que esses relatórios são muito importantes para você ter noção do todo, mas quando você participa do dia-a-dia, você sabe que a informação vai chegar lá naquele relatório.” Apesar das informações obtidas pelo SAC serem utilizadas de várias formas por outros departamentos, elas parecem não influenciar diretamente na avaliação dos mesmos. Por exemplo, caso o SAC receba muitas reclamações que evidenciem uma falha de uma determinada área, esta não é punida diretamente. Entretanto, o que pode ocorrer é uma influência não estruturada e indireta, pois os relatórios do SAC são distribuídos também para alto escalão da ATL. e) O Tratamento das Reclamações A ATL não tem um processo estruturado de feedback , isto é, de retornar a ligação com a resposta para o cliente. Com isso, ele é que tem que ligar para a empresa para saber qual a solução que foi dada a sua reclamação. Com relação a satisfação do consumidor com a solução fornecida para sua reclamação, a ATL tem uma Pesquisa de Satisfação do Cliente mensal que contata os clientes e identifica seu percentual de satisfação com a ATL. Essa 112 pesquisa enfoca vários assuntos, entre eles o contentamento do cliente com o atendimento do SAC e com a resolução das reclamações, e é feita com uma amostra estatística dos clientes da ATL, isto é, nem todos que reclamam são contatados. Outra variável relacionada à solução é a compensação. A ATL tem um departamento de retenção e fidelização de clientes que fica responsável em estudar todos os casos em que o cliente pede uma compensação, isto é, dependendo do caso, a empresa pode atender à solicitação do cliente. É importante destacar que a ATL não oferece compensação sem que o cliente peça. Ainda sobre a questão da reclamação e sua solução, a ATL não analisa indicadores como a porcentagem de soluções dadas em relação ao número de reclamações ou sobre o tempo médio para uma reclamação ser resolvida. Outra característica no tratamento das reclamações é fato do pedido de desculpas ser feito somente se a falha que originou a reclamação tiver ocorrido no próprio SAC como, por exemplo, um cliente ligar reclamando que um outro atendente do SAC desligou na sua cara. A percepção do consumidor sobre o objeto da reclamação também é uma questão enfrentada pelo SAC da ATL. Muitas vezes o cliente entra em contato 113 com o SAC da empresa reclamando de um problema no aparelho. Como o atendente relata: “A ATL é só a operadora, só oferece o sinal. Agora, com relação ao aparelho, a gente muitas vezes encaminha para a assistência técnica ou pede para o cliente entrar em contato com a central de atendimento do fabricante. (...)Muitas vezes eles querem devolver o produto. Mas essa política depende de cada loja. Por exemplo, se ele tiver comprado nas Lojas Americanas ele vai ter que se dirigir às Lojas Americanas para ver a possibilidade de troca junto ao gerente. Aí, já é mais um problema da loja. Muitas vezes o cliente não ficou satisfeito com o aparelho, o plano ou a área de cobertura e quer trocar o aparelho. Aí, a gente encaminha para a loja e é a loja que resolve.” 114 CASO TELEFÔNICA CELULAR O Grupo Telefônica está no Brasil desde 1996, operando a CRT, no Rio Grande do Sul. Em julho de 1998, através da privatização do Sistema Telebrás, a Telefônica ficou com o controle do serviço de telefonia celular da Banda A no Rio de Janeiro e no Espírito Santo. 4 a) DESCRIÇÃO GERAL DO SAC A implantação do Serviço de Atendimento ao Cliente na empresa foi realizada no início das atividades da Telefônica Celular no Rio de Janeiro. No início, a implantação se deu no centro de telefonia e nas lojas, mas foi sendo ampliado para outros meios ao longo do tempo. Segundo uma das responsáveis pelo SAC, o principal motivo de sua criação foi a necessidade de garantir uma maior agilidade no tempo de resposta ao cliente, isto é, “de agilizar o atendimento ao maior número de pessoas possível”. Como ressalta a responsável pelo SAC: “Se eu tivesse que dar uma nota de 1 a 10 a essa importância, eu daria 10. Não só para a Telefônica, mas qualquer empresa de grande porte que presta serviços e possua um número de usuários tão grandes quanto esse, não 115 consegue sobreviver sem um atendimento telefônico, que tem um menor custo que um cara-a-cara, é mais confortável para o cliente e o grau de assertividade do atendimento é bastante alto se for bem controlado, se bem acompanhado.” Dentro do organograma da empresa (Figura 4.3), o SAC se encontra na Diretoria de Atendimento a Clientes. O funcionário do SAC de maior nível hierárquico é o Gerente da Divisão de Atendimento a Clientes e tem, como grau de escolaridade, nível superior completo. Figura 4.3 Posição Organizacional do SAC da Telefonica Presidência Vice-Presidência Diretoria de Clientes Divisão de Atendimento a Clientes SAC 1404, SAC Corporativo... 4 Informações contidas no site www.telefonica.com.br 116 Uma característica importante do SAC da Telefônica é que ele é terceirizado. A empresa optou por deixar a parte operacional do seu SAC a cargo da Atento Brasil, uma firma que também faz parte do Grupo Telefônica e que, segundo seu site “é a maior empresa mundial de call center e CRM (Customer Relationship Management – ou gestão de relação com o cliente).”5 Com isso, dos 1.300 funcionários do SAC, quase a totalidade é da Atento Brasil. A opção pela terceirização é comentada pela empresa: “A terceirização nunca é desvantajosa se você tiver um processo bem estabelecido, bem claro. Nós não terceirizamos por questões econômicas...(mas) por uma questão de agilização dos processos de atendimento do call center. A atividade fim da Telefônica não é essa. Então, para administrar uma estrutura como essa a Telefônica teria um complexo administrativo muito maior. “ Além disso, a empresa procura explicar a escolha da Atento como parceira na gestão do call center: “A atividade fim da Atento é essa. Então, para a empresa, recrutar 200 pessoas, treiná-las, capacitá-las...é muito mais rápido (...) pois agiliza o 117 processo...não é minimização de custo, pois você paga pelo serviço e tem que pagar à altura para permitir uma boa remuneração dos operadores. Então, se a empresa tem agilidade no processo seletivo, agilidade de capacitação, tem seu cliente atendido por um grupo de pessoas com perfil adequado para o atendimento e a nós temos um controle do processo bastante bom, a Telefônica fica aqui com uma equipe super reduzida. A gestão do call center da Telefônica é feita por uma equipe de só 6 pessoas. Por que isso? Porque a Atento é uma empresa que tem essa atividade fim.” Com relação à parte física, uma parte do SAC opera em ambiente físico da Atento e outra no da Telefônica, isto é, uma parte com infra-estrutura da Telefônica e outra da Atento. Entretanto, a gestão operacional dos dois ambientes é realizada pela empresa Atento. Os meios que os consumidores dispõe para acessar o SAC da Telefônica são o telefone, o fax e a internet, todos funcionando 24 horas por dia. Eles também podem se comunicar com a empresa através de carta, mas esse meio não faz parte do serviço prestado pela Atento. Isto é, enquanto a Atento recebe telefonemas, faxes e e-mails, as cartas são recebidas por um setor da própria Telefônica. Os consumidores ficam sabendo da existência desses meios de contato através de anúncios, materiais promocionais, cobranças e outros veículos. 5 www.telefonica.com/quienes_portug/lineas/negocios/atento.html 118 Com relação ao uso dessas formas de contato, a grande maioria dos consumidores opta pelo telefone. Para se ter uma noção da diferença de magnitude, o SAC da Telefônica recebe, em média, cerca de 60.000 chamadas telefônicas por mês e somente 250 faxes no mesmo período. Apesar de não ter fornecido dados mais precisos, a responsável pelo SAC afirmou que o pedido de informações é o motivo mais freqüente que leva os consumidores a contatá-lo. As dúvidas vão desde assuntos mais gerais, como que o que significa telefonia celular e o que é WAP, até àquelas que dizem respeito aos serviços/produtos da companhia (como o que é o serviço Siga-me, como acessar esse serviço e dúvidas sobre contas). Em segundo lugar, foram mencionadas as solicitações de serviços/produtos da Telefônica, que incluem ligar, religar e bloquear o aparelho e a habilitação do serviço “Siga-me”. Por último, foram lembradas as reclamações, que correspondem a cerca de 10% dos contatos realizados pelos consumidores. Como ressaltado na análise do Caso ATL, o número relativamente baixo de reclamações pode ser devido ao fato do critério de classificação dos contatos com o SAC. b) O CONTATO COM O CLIENTE Devido à importância relativa ressaltada pela empresa, foi enfocado o contato que o cliente realiza com o SAC através do telefone. 119 O atendimento do SAC é realizado de forma segmentada, isto é, os funcionários são divididos em grupos e cada grupo atende um determinado segmento de consumidores. A empresa trabalha com duas grandes segmentações: pré-pago e pós-pago. Abaixo delas podem existir três sub-segmentações. Quando um cliente liga para o SAC, existe uma unidade digital que vai pedir para que ele digite o número de seu telefone. Com isso, essa unidade vai dar, através do auto-atendimento, algumas opções com os sub-segmentos, que são os serviços oferecidos pela Telefônica (por exemplo, o serviço Emocion). Assim, depois de identificar que um cliente é pós-pago, a unidade vai perguntar se ele deseja falar sobre o serviço Emocion ou sobre o *3000, por exemplo. Caso o consumidor não queira nenhuma dessas opções, ache que seu caso não se encaixe em nenhuma delas, ou simplesmente prefira ser atendido pessoalmente por um atendente, ele pode. Ao escolher essa opção, ele tem a possibilidade de pedir o que quiser. A segmentação no atendimento ao consumidor ocorre por dois motivos principais. O primeiro diz respeito à capacitação dos operadores. Com a segmentação, cada operador recebe um treinamento específico de acordo com o (sub) segmento que ele irá atender. Entretanto, há os operadores chamados “unificados,” que são capacitados para atender tanto ao segmento pré quanto ao pós-pago. O segundo motivo está ligado a análise de dados. A segmentação 120 permite que a empresa consiga mensurar quantas ligações ela recebe em cada segmento, quais os motivos que levam cada “segmento” a procurar o SAC etc. A empresa destaca, no entanto, que a segmentação não é utilizada para fornecer diferentes qualidades de atendimento aos segmentos e explica. “Todos os clientes são atendidos com o mesmo padrão de qualidade. É cobrado o mesmo percentual de conformidade em todos os segmentos.” O operador dispõe de um sistema onde pode visualizar várias informações sobre o cliente quando fala com ele. Isto é, o operador tem acesso ao tipo de assinatura do cliente, seu histórico de contatos com o SAC, os resultados desses contatos etc. E é através desse mesmo sistema que o operador registra os novos pedidos de informações, solicitações e/ou reclamações. Os consumidores também podem realizar suas reclamações, solicitações e pedidos de informação nas lojas da Telefônica, e estas são registradas no mesmo sistema que serve como base de consulta dos operadores do SAC. c) O Atendente Como ressaltado anteriormente, os atendentes do SAC da Telefônica são funcionários da Atento do Brasil. Todos têm o segundo grau completo e recebem 121 treinamentos tanto gerais (como técnicas de atendimento) quanto específicos (por exemplo, sobre as características do segmento pré-pago). Quando atendem um cliente, os operadores devem se guiar por um conjunto de procedimentos (informalmente chamado de “script” ou roteiro) apresentado durante os treinamentos e localizado na intranet da empresa. Assim, “a autonomia do operador é bastante limitada para algumas questões quando se trata de tomar decisões,” explica o representante da empresa. Caso a solicitação do cliente (seja reclamação, informação ou qualquer outro pedido) fuja do roteiro, o operador pode pedir auxílio ao seu supervisor, que também é funcionário da Atento. Em certos casos, o cliente é passado para o próprio supervisor. Se, depois desse procedimento, a solicitação do cliente ainda não for atendida, o supervisor tem a sua disposição uma linha direta com uma área de retaguarda da Telefônica chamada Backoffice Online. Em situações extremas, o próprio cliente pode ser transferido para a Telefônica. Esse departamento é formado por profissionais mais experientes, mais bem treinados/capacitados do que os operadores/supervisores e que têm por objetivo resolver problemas que fujam do “script.” Devido a essas características ( capacitação e serem funcionários da Telefônica), eles tem maior poder decisório. 122 Os operadores e os funcionários do Backoffice são treinados pela própria Telefonica tanto em como atender o cliente quanto sobre os produtos e serviços empresa. Entretanto, o Backoffice recebe um treinamento mais intensivo no que diz respeito aos aspectos técnicos de produtos e serviços. Com relação ao “script,” um dos métodos utilizados pela Telefônica para tornálo o mais completo possível é receber informações dos operadores. Eles podem fazer sugestões, reclamações e tirar dúvidas de duas maneiras. A primeira é com o supervisor do SAC. Nesse caso, o operador comunica ao supervisor, este repassa para a área de qualidade da Atento, que entra em contato com a Telefônica. A segunda maneira consiste em uma linha direta na intranet que o operador tem com a própria Telefônica. Caso opte por este meio, ele sempre recebe um feedback da Telefônica comentando o e-mail e agradecendo a participação. O único assunto que só pode ser tratado com o supervisor são questões referentes à gestão do call center. O fato do SAC ser terceirizado significa que funcionários de outra companhia (operadores da Atento) respondam em nome da Telefônica. A responsável pelo SAC não acredita que isso seja problema, pois: “Apesar de numerosos, são procedimentos muito claros que o atendente tem que seguir. A Atento tem controle e monitorações de acompanhamento 123 dos operadores. Cada grupo tem um supervisor muito próximo, cada supervisor tem um coordenador, cada coordenador tem um gerente” Assim, caso o pedido do cliente esteja no “script,” o operador da Atento responde como um funcionário da Telefônica. Caso contrário, ele pergunta para alguém do Backoffice da Telefônica ou passa o próprio cliente para esse departamento. A avaliação de um atendente é realizada continuamente e interfere em sua remuneração. Cada grupo de operadores tem um monitor, cujas funções incluem escutar e avaliar o atendimento de um telefonema no momento em que ele está acontecendo. Além disso, todos os telefonemas são gravados com o mesmo objetivo. Como um monitor não pode escutar o atendimento de todos os seus operadores em tempo real, ele faz uma avaliação posterior através das gravações. As variáveis de avaliação estão na Tabela 4.1. Ainda em relação às gravações elas são utilizadas em reprimendas e no aprendizado dos operadores. Quando um monitor percebe erros no atendimento, ele chama o operador para escutar a gravação e conversar sobre o ocorrido. Ao escutar um atendimento, o monitor avalia a conformidade ou não das seguintes variáveis: 124 Tabela 4.1 Variáveis de Avaliação dos Operadores Comunicação Saudação Conforme Não Conforme Contato Conforme Não Conforme Vocabulário/Uso adequado da linguagem Conforme Não Conforme Conforme Não Conforme Dicção Postura Empatia/Cortesia Conforme Não Conforme Ética/Atitude profissional Conforme Não Conforme Conforme Não Conforme Demonstra conhecimento técnico e sistêmico Conforme Não Conforme Identifica solicitação Conforme Não Conforme Encaminha a melhor solução Conforme Não Conforme Feed Back (disponibilidade) Conforme Não Conforme Estabilidade Habilidade/Interesse/Conhecimento Ritmo e condução da ligação Conforme Não Conforme Atenção e concentração Conforme Não Conforme Conforme Não Conforme Conforme Não Conforme Apresenta segurança e confiança Finalização Reforça interesse/preocupação Fonte: Atento Os operadores também têm metas de produtividade a serem alcançadas. Uma dessas metas, por exemplo, se refere ao telemarketing ativo do SAC, quando o operador deve ligar para a casa de um cliente ou potencial consumidor para oferecer um produto/serviço da Telefônica. Tanto o atendente, quanto o supervisor do SAC relataram que, às vezes, há uma dificuldade muito grande de conseguir alcançar determinadas metas estabelecidas. Ao exemplificar, o operador disse que uma das metas é ligar para um determinado número de potenciais 125 consumidores durante seu turno de trabalho para oferecer os serviços da Telefônica. Entretanto, ele explicou, dependendo do horário do turno, a meta é extremamente difícil de ser alcançada, pois a maioria dos potenciais consumidores não está em casa. Caso isso ocorra, a operadores, supervisores e demais profissionais envolvidos da Atento costumam questionar as metas junto à Telefônica. Assim, as metas podem ocasionar conflitos entre Atento e Telefônica. Ainda sobre sua atuação ativa , além da oferta de produtos/serviços, a responsável pelo SAC comenta quais são os procedimentos da Atento para contatar os novos clientes: “Nós fazemos chamadas de boas vindas para todos os clientes recém habilitados no prazo de até 30 dias. Após a habilitação, ele recebe um telefonema para saber como ele está se sentindo com o serviço, como a linha dele está funcionando, se ele está satisfeito, se ele tem alguma sugestão. Se ele é um pré-pago, pergunta-se se ele está sabendo se conduzir com recarga de créditos, se ele está bem com o funcionamento do pré-pago. Cada um tem um script, um roteiro que a gente segue para perguntar para ele. “ d) O Relacionamento com outras áreas O “script” que deve ser obedecido pelos operadores do SAC é confeccionado com informações provenientes de várias áreas da Telefônica, principalmente das 126 ligadas ao marketing. Por exemplo, quando a Telefônica lança um novo serviço, as informações sobre ele são passadas para o SAC através de um treinamento e/ou do “script”. Com relação a essa transmissão de informações, a responsável pelo SAC afirma que dificilmente ocorrem problemas, isto é, “raramente uma informação importante não é passada a tempo para o SAC”. Ao ser questionada sobre a possibilidade do marketing lançar uma campanha e não avisar ao SAC, ela comenta: “Já aconteceu muito, muito. A gente sofreu muito. Mas hoje, isso não acontece. O marketing sabe quais são os canais que ele tem para passar....tem consciência de que, se ele não informar, o cliente vai ser prejudicado” Entretanto, ao serem perguntados sobre essa mesma possibilidade, tanto o supervisor quanto o operador comentaram que vez por outra isso acontece. Segundo os entrevistados, o principal motivo seria a rapidez com que a empresa necessita lançar as campanhas. Caso isso ocorra, isto é, se um consumidor perguntar algo sobre uma campanha que o operador não tenha certeza/conhecimento, ele ou o supervisor entram em contato direto com a Telefônica. 127 Além disso, para poder responder a um cliente, os operadores do SAC têm acesso a um Banco de Dados que é constantemente municiado de informações provenientes de vários departamentos da Telefônica. As informações recolhidas pelo SAC influenciam na avaliação de outras áreas. O responsável pelo SAC apresenta o informe de gestão de seu departamento na reunião de diretoria que ocorre mensalmente. Esse relatório contém informações coletadas pelo SAC como, por exemplo, os motivos das reclamações feitas pelos consumidores. Assim, nessa reunião, as diretorias relacionadas a esses motivos são cobradas, o que influencia na avaliação de seus departamentos. Ao ser perguntada se a utilização dessas informações na avaliação de outras áreas pode gerar algum tipo de antipatia em relação ao SAC, a responsável reforça a posição de seu departamento na empresa e a importância da interação com as outras áreas: “Ao contrário. O SAC é bem respeitado. Ele tem o respeito da empresa como um todo. A empresa visita o SAC.(...) o pessoal da rede vai ao SAC. Eles vão ouvir, acompanhar, ver onde estão falhas...Eles recebem linha direta do SAC também. O pessoal do marketing visita, colhe informações, se sentam do lado dos operadores e colhem informações na ponta de linha. Ontem eu mandei duas fitas gravadas do produto A para eles analisarem pois, para eles, 128 é melhor analisar pela gravação do que em loco. Mas, na semana que vem, eles vão em loco, para conhecer os operadores que cuidam do produto deles” Além das reclamações, outras informações geradas pelo SAC, como sugestões dos operadores e dúvidas dos consumidores, também são passadas para outros departamentos para que sejam analisadas, isto é, utilizadas como subsídios em suas operações. O SAC é visto pelos outros departamentos também como uma fonte de informações. A empresa toda é cliente do SAC no que tange a solicitação de dados. Normalmente, isso ocorre através da emissão de relatórios periódicos. Entretanto, caso um departamento necessite de alguma informação que não conste nesses relatórios, o SAC realiza um estudo específico através de seu banco de dados. Assim, transmissão de informações para os outros departamentos ocorre formalmente (através do informe de gestão de periodicidade mensal) e informalmente (através de solicitações de determinados estudos por parte de diversos departamentos). e) O Tratamento das Reclamações Quando um cliente liga para o SAC da Telefônica para fazer uma reclamação, o operador vai tentar resolvê-la de acordo com o “script”, com o banco de dados disponível e, se necessário, com a ajuda do Backoffice. Caso não consiga resolver 129 na hora, ele diz ao cliente que vai apurá-la e que a resposta estará disponível em até cinco dias úteis. Ao desligar, o operador do SAC encaminha a reclamação para a área competente. Esse é o procedimento básico. Quando o cliente liga muito insatisfeito pois o prazo se esgotou e a reclamação não foi resolvida, quando ele contata o SAC extremamente insatisfeito já na primeira vez ou quando ele pede uma compensação junto à reclamação, o operador do SAC passa o cliente para um departamento da Telefônica responsável pela retenção dos clientes (Departamento de Retenção de Clientes). Essa área de relacionamento com os clientes é responsável pelos consumidores que estejam chateados com a Telefônica e queiram deixar de ser clientes da empresa ou uma compensação. É importante fazer a distinção entre a área de retenção e o Backoffice. Enquanto esta vai ajudar na apuração da reclamação, acompanhamento de seu histórico, enfim, na resolução dela, a primeira é vai cuidar da insatisfação da empresa propriamente dita. Com relação a satisfação do cliente com o procedimento no tratamento e resultado de sua reclamação, a Telefônica implantou um sistema de telefonia idêntico ao do call center para o backoffice. Através dele, os operadores contatam todos os clientes que registraram uma reclamação junto ao backoffice para saber 130 se eles ficaram satisfeitos. Segundo a responsável pelo SAC, os clientes gostam de ser contatados: “De um modo geral, o cliente fica muito satisfeito quando a gente liga, pois ele vê que a gente se importou. Se ele está satisfeito, ele agradece e elogia. Caso não esteja, ele diz que vai sair, que não quer mais e etc. e a gente passa para a área de relacionamento. Alguns já dizem isso até para passar para a área de relacionamento, já é cliente da área” A única situação nas quais o consumidor não é contatado para ser questionado sobre sua satisfação com relação à sua reclamação é quando ocorre um problema em massa que envolva a rede de transmissão, conforme ressalta a responsável pelo SAC: “A não ser quando ocorre um problema em massa. Que a gente também resolve massivamente. Por exemplo, um problema na rede que afetou muitas áreas ao mesmo tempo, ficou 15 minutos com aquele problema e entraram 200/300 reclamações no SAC. Mas, aí, quando você resolveu, você resolveu para os 300 de uma vez. Nesse caso, a gente não entra em contato, pois o cliente percebe que voltou. Se acontecer um problema massivo de outra natureza, como contas, por exemplo, aí a gente envia um telemarketing ativo para ligar para eles porque o backoffice não dá vazão. Em relação à rede, a gente não faz um trabalho ativo”. 131 5. ANÁLISE DOS CASOS Neste capítulo será realizada a análise dos casos com base na revisão de literatura. 5.1 Aspectos Organizacionais e Estruturais Os SACs das duas empresas são gerenciados de maneira ativa, não permanecendo como um serviço oculto aos olhos do consumidor, risco mencionado por GRÖNROOS (1990) . Essa visão do SAC permite que ele possa ser transformado de mero serviço ao consumidor em uma vantagem competitiva. Além disso, a preocupação e a importância dada ao SAC nos casos estudados parece indicar a consciência de que, conforme ressalta LOVELOCK (1991), apesar de ser um serviço suplementar, o SAC torna-se essencial para o sucesso de uma empresa. Com relação aos aspectos organizacionais, ambos os SACs têm estrutura formal. Segundo LANCIONI (1995), esse tipo de estrutura é normalmente encontrada em firmas com mais de 150 empregados (o que se aplica às duas empresas analisadas) e costuma ser menos reativa que uma estrutura informal pois, nesta, há muito pouca dificuldade de encontrar a pessoa ou o departamento 132 que possa escutar o consumidor e que tenha possibilidade de resolver seu problema. Entretanto, uma das hipóteses que pode ser considerada para adoção da estrutura formal é o número de consumidores que cada empresa possui . Isto é, se todos os consumidores entrassem em contato direto com o departamento (ou pessoal) responsável pela resolução de sua reclamação (ou dúvida e solicitação) é possível que o funcionamento das empresas ficasse comprometido. Além disso, o fato de ambos os SACs declararem que utilizam as reclamações, solicitações e dúvidas dos consumidores como subsídios para o “script” de seus operadores pode ter como conseqüência o aumento da incidência de uma postura reativa do SAC. Outro aspecto examinado na descrição geral dos SACs foi sua posição organizacional. Apesar de nenhum dos SACs analisados serem ligados diretamente à presidência, os dois se reportam a diretorias( Diretoria de Talentos Humanos e Qualidade na ATL e Diretoria de Clientes na Telefônica), isto é, altagerência. Assim, segundo LANCIONI (1995), essa é uma estrutura considerada de Reportagem Direta. Suas vantagens seriam o fluxo livre de comunicação do SAC para os principais tomadores de decisão; possibilidade de obtenção de recursos necessários para o desenvolver a estratégia de serviço ao consumidor da firma sem a resistência de outros grupos gerenciais e autoridade de resolver rapidamente os problemas dos consumidores. 133 É interessante ressaltar que a distância do SAC à presidência da empresa apresenta um nível hierárquico a mais na estrutura organizacional da Telefônica em relação a da ATL. É possível que isto signifique que o SAC na Telêfonica tenha um pouco menos de importância do que a ATL. Pode-se ver nos casos estudados que as informações do SAC parecem chegar à alta gerência através de relatórios, o que pode significar que exista um fluxo livre de informações entre o SAC e os tomadores de decisão. possibilidade de obtenção de recursos sem resistência de Com relação à outros grupos gerenciais, os entrevistados não forneceram informações. Entretanto, como os SACs estão ligados diretamente a diretorias, é provável que essa vantagem também ocorra. Com relação às diferenças, existe o fato do SAC da Telefônica ser terceirizado e o da ATL, não. No primeiro caso, o responsável pelo SAC parece só enxergar vantagens na terceirização (“A atividade fim da Telefônica não é essa,” “A terceirização nunca é desvantajosa se você tiver um processo bem estabelecido”). Segundo o ponto de vista do entrevistado, a Atento, empresa contratada de call center, é capaz de ser mais ágil, prestar um melhor serviço e a Telefônica ficaria com uma estrutura de SAC mais enxuta, se preocupando mais com a parte gerencial. Já a ATL defende o SAC próprio argumentando que, apesar de não ser uma atividade fim da empresa, é muito importante (“a área de atendimento tem 134 uma importância forte para o negócio e, por isso, decidiu-se trabalhar com funcionários próprios”) e o representante da empresa declara ser essa a única maneira se ter um SAC envolvido e comprometido com os objetivos da empresa. Com os relatos coletados, a partir das entrevistas, é possível notar que existem divergências em relação às vantagens e desvantagens da terceirização do SAC. Apesar de não poder se afirmar se a estrutura própria é melhor ou não que a terceirizada, cabe ressaltar a declaração do atendente da Atento segundo a qual, às vezes, a Telefônica fixa algumas metas muito difíceis de serem atendidas. É possível que, se fosse uma relação entre dois departamentos da mesma empresa, como no caso da ATL, a fixação de metas pudesse ser melhor discutida e/ou os atendentes se esforçassem mais para alcançá-las, pois estariam mais envolvidos já que seriam metas da empresa onde trabalham. 5.2 Contato com o SAC Nos dois casos são mencionados uma variedade de meios através dos quais o consumidor fica sabendo da existência do SAC (anúncios, contas etc.) e de canais de que ele dispõe para contatá-lo (telefone, carta, e-mail, fax e lojas). Pode-se dizer, portanto, que, se um consumidor quiser fazer uma reclamação, ele não deverá enfrentar dificuldades em descobrir como proceder e terá à sua disposição vários meios para realizá-la. Essa facilidade de contatar o SAC pode ajudar a 135 maximizar o número de reclamações e, consequentemente, possibilitar a obtenção das vantagens que seu tratamento e sua análise comportam, como: - Identificar as áreas onde podem ser realizadas melhorias (SODERLUND, 1998 e STAUSS, 1992); - Receber informações que podem ser utilizadas para satisfazer melhor o consumidor (JONES e SASSER, 1995) - Preservação da reputação da empresa e sua base de clientes (HANSEN et al., 1996 e HART et al., 1990); - Reduzir o gap entre as percepções dos consumidores e gerentes da empresa sobre o produto/serviço (ZEITHAML e BERRY, 1985 e WOODRUFF, 1997); - Adequar as ofertas da empresa às necessidades do consumidor (BERRY e PARASURAMAN, 1997); - Antecipação das resoluções de problemas, evitando gastos com processos judiciais ( MITCHELL, 1993); - Fortalecimento da lealdade à marca (FORNELL e WERNERFELT, 1987); - Melhorar a percepção do consumidor sobre a qualidade do serviço/produto (LIU et al., 2000). 5.3 Tratamento das Reclamações e os Operadores Em ambos os casos, os operadores têm, no mínimo, o segundo grau completo e recebem treinamento tanto sobre a função em si quanto sobre os produtos das 136 empresas em que trabalham. O treinamento relacionado à função de atendimento está ligado às variáveis que depois são utilizadas na avaliação do funcionário e podem estar relacionadas à percepção do consumidor sobre o tratamento de sua reclamação. Este relacionamento será analisado mais adiante, mas é interessante ressaltar que, se as variáveis influenciarem positivamente a avaliação do consumidor do tratamento de sua reclamação, o treinamento será importante. Já em relação ao treinamento sobre o produto, a ATL reconhece que, às vezes, uma campanha de marketing ou um novo serviço/produto é lançado sem que os funcionários do SAC estejam bem treinados. No caso da Telefônica, apesar do responsável pelo SAC negar, o supervisor e o operador afirmam que isso também acontece. Assim, em ambos os casos corre-se o risco do consumidor ligar pedindo uma informação, um serviço ou até reclamando sobre um assunto e o operador não saber sobre o que ele está falando. Assim, é possível que o cliente (potencial) desista do serviço ou da informação e/ou fique irritado com a empresa, principalmente se for uma reclamação. Também nos dois casos analisados, o atendente deve se ater a um “script”. Por um lado, pode-se dizer que esses “scripts” são políticas pré-estabelecidas para resolver reclamações e que, segundo MITCHELL (1993), fazem com que o SAC ganhe em continuidade e na redução de ambiguidades. Por outro lado, no entanto, os atendentes perdem o poder de decisão. Para TAX, BROWN e CHANDRASHEKARAN (1998), a autonomia poderia ajudar a resolver questões 137 como rapidez, conveniência, acessibilidade e flexibilidade dos procedimentos de reclamação, dimensões que influenciam a satisfação do consumidor. Assim, mesmo que o “script” possa aumentar a reatividade do SAC em uma estrutura formal, o empowerment dos atendentes tenderia a aumentar a possibilidade do consumidor ficar satisfeito com o resultado de seu contato com o SAC. Na Telefônica, essa questão da autonomia parece estar mais de acordo com as colocações de TAX, BROWN e CHANDRASHEKARAN (1998), já que existe um Backoffice composto por funcionários da empresa com maior poder de decisão que um operador. Já na ATL, se a reclamação não puder ser resolvida com o “script”, a solução só virá posteriormente, havendo a necessidade de novo telefonema. Entretanto, a ATL declarou que existem alguns casos em que, se o atendente entender que alguma área da empresa pode resolver o problema imediatamente, ele pode transferir a ligação. Ainda em relação aos operadores, suas sugestões são utilizadas nas duas empresas para melhorar o “script” e, quando pertinente, são encaminhadas para outros departamentos, podendo influenciar suas decisões. Uma vantagem desse procedimento é tornar o “script” mais completo e, consequentemente, o SAC passa a ter um grau de reação maior às colocações dos consumidores, não necessitando recorrer à outras áreas. A segunda vantagem, ressaltada por BERRY e PARASURAMAN (1997), diz respeito à qualidade. Segundo os autores, a empresa necessita escutar seus consumidores internos (empregados) para melhorar a qualidade de seus serviços. Outra vantagem possível seria um maior 138 comprometimento por parte dos operadores, já que suas idéias estariam colaborando para a melhora da empresa. A segmentação no atendimento ao consumidor, visando uma melhor capacitação dos operadores, é uma característica comum às duas empresas. Entretanto, a ATL oferece níveis de serviços diferentes para consumidores diferentes, enquanto a Telefônica, não. Essa prática pode ter, como conseqüência, uma influência no processo de fidelização (LOVELOCK, 1991). Com relação ao tratamento das reclamações, ESTELAMI (2000) desenvolveu um modelo segundo o qual três variáveis de procedimento influenciam a percepção do consumidor quanto ao resultado de sua reclamação: rapidez de resposta, comportamento do empregado e compensação. As questões de reatividade e flexibilidade analisadas nos dois casos estudados parecem estar relacionadas à primeira variável, rapidez de resposta. TAX, BROWN e CHANDRASHEKARAN (1998) também desenvolveram um modelo que mostra como os consumidores avaliam o tratamento de suas reclamações. Segundo os autores, o consumidor utiliza três dimensões de justiça para avaliar o resultado de suas reclamações: justiça distributiva, justiça de procedimentos e justiça interativa. De acordo com esse modelo, a justiça de procedimentos é afetada pela reatividade, pela flexibilidade (duas variáveis já analisadas), pelo reconhecimento da responsabilidade pelo problema, por parte da 139 empresa e pelo fato da empresa contatar ou não o consumidor para saber se a reclamação foi solucionada satisfatoriamente. Com relação ao reconhecimento da culpa, não foram fornecidos dados para que seja possível afirmar se as empresas costumam assumir ou não a responsabilidade. Já com relação ao contato, só a Telefônica falou de um processo sistemático de contatar todos os consumidores que reclamaram. O comportamento do operador (ou justiça interativa) também influencia a satisfação do consumidor com o resultado de sua reclamação. As duas empresas estudadas treinam aspectos comportamentais de seus operadores e os avaliam com base nelas. A última variável que, segundo os modelos abordados, influencia a satisfação do consumidor é a compensação (ou justiça distributiva). Tanto a Telefônica quanto a ATL têm um departamento de relacionamento que estuda os pedidos de compensação feito pelos consumidores. Entretanto, nenhuma delas oferece uma compensação a um cliente sem que este peça. Não foi possível obter acesso ao sistema de avaliação de compensação das empresas, isto é, como elas avaliam se vão dar ou não a compensação pedida pelo consumidor. Pode-se observar, no entanto, que essas posturas sugerem um comportamento pouco pró-ativo por parte das duas empresas analisadas. 140 Outra variável que afeta a justiça distributiva é a maneira como o operador “entrega” o resultado da reclamação ao consumidor, havendo compensação ou não. O treinamento e avaliação mencionados na justiça distributiva contemplam essa variável. Ainda sobre a justiça distributiva, os consumidores costumam esperar um pedido de desculpa das empresas. De acordo com os entrevistados, os atendentes das duas empresas costumam se desculpar caso entendam que o objeto da reclamação é culpa da empresa 5.4 Análise das Reclamações Além do tratamento, a análise das reclamações também é importante para a empresa. De acordo com ADAMSON (1993), Além do tratamento individual das reclamações, a empresa deve analisá-la com o objetivo de descobrir as razões da insatisfação de seus consumidores. É a partir dessa análise que empresa conseguirá “fazer direito da primeira vez” (ADAMSON, 1993), o que pode ser a principal razão pela satisfação de seu consumidor. Nos dois casos estudados, as representantes das empresas declaram que as reclamações dos consumidores (junto com suas dúvidas e sugestões) se transformam em relatórios que são utilizados como subsídio para tomada de decisão da alta gerência e demais departamentos da empresa e na reformulação constante do “script” e demais procedimentos do SAC. Entretanto, só a Telefônica 141 menciona que utiliza esses relatórios diretamente na avaliação dos departamentos da empresa. A utilização das informações do SAC na avaliação de departamentos é positivo, pois elas podem ser encaradas como um aviso do que não está certo, do que pode melhorar em uma empresa (SODERLUND, 1998 e STAUSS, 1992). Além disso, as informações podem indicar se um departamento está conseguindo fazer algo a que se propôs. Entretanto, existe a possibilidade de que o SAC venha a ser visto como um “dedo-duro corporativo,” isto é, um departamento que fica apontando as falhas dos outros. Caso o SAC não tenha força dentro da empresa e suas vantagens não estejam explícitas aos demais departamentos, ele pode tornar-se alvo de má vontade e, até, boicote, ocorrendo o risco do aparecimento do Círculo Vicioso WERNERFELT, 1987). das Reclamações dos Consumidores (FORNELL e 142 Quadro-resumo da análise dos casos Aspectos Organizacionais e Estruturais 1) Semelhanças - Gerenciamento ativo - possível vantagem competitiva; diferencial - Estrutura formal - Estrutura de reportagem direta - Telefonica tem um nível a mais 2) Diferenças Telefônica - Terceirizado - Só enxerga vantagens ("A terceirização nunca é desvantajosa se você tiver um processo bem estabelecido”); não é atividade fim; Atento seria mais ágil; estrutura da Telefonica fica mais enxuta e só se preocuparia com a parte gerencial. - Problemas na fixação de metas. ATL - Próprio - Apesar de não ser uma área fim, “a área de atendimento tem uma importância forte para o negócio e, por isso, decidiu-se trabalhar com funcionários próprios” Maior comprometimento dos funcionários do SAC. Contato com o cliente - Disponibilidade de um uma variedade de formas de contato - maximização das reclamações Vantagens como: - Identificar as áreas onde podem ser realizadas melhorias; - Receber informações que podem ser utilizadas para satisfazer melhor o consumidor; - Antecipação das resoluções de problemas, evitando gastos com processos judiciais; - Reduzir o gap entre as percepções dos consumidores e gerentes da empresa sobre o produto/serviço; - Fortalecimento da lealdade à marca etc. 143 Tratamento das reclamações Dimensões de justiças utilizadas pelos consumidores: 1) Justiça de procedimentos - Reatividade (analisada) - Flexibilidade (analisada) - Reconhecimento da responsabilidade pelo problema ( não conclusivo) - Contatar o consumidor para saber sua satisfação (só a Telefonica tem um processo sistemático) 2) Justiça interativa - Aspectos comportamentais dos operadores (treinamento) 3) Justiça distributiva - Compensação (Ambas são reativas, não pró-ativas) - Maneira da entrega do resultado (treinamento) - Pedidos de desculpas (ambas dizem fazer quando acham que a culpa é delas) Análise das Reclamações - Nos dois casos, as reclamações, sugestões e outras informações do SAC se transformam em relatórios que influenciam na tomada de decisão e reformulação do “script” - Só a Telefonica utiliza os relatórios diretamente na avaliação dos departamentos: - Vantagens: aviso do que não está correto no departamento e/ou se ele está fazendo o que se propõe. - Desvantagens: possibilidade do SAC ser visto como um “dedo duro corporativo” - Círculo Vicioso das Reclamações dos Consumidores (aparentemente, não ocorre). 144 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este capítulo traz as considerações finais sobre os casos estudados e sugestões para a realização de estudos futuros. 6.1 Discussão Final do Resultados É cada vez mais difícil negar a importância de um canal de comunicação entre empresa e consumidores. Mais do que um simples departamento que tenta evitar que o consumidor procure a justiça devido a sua insatisfação com a empresa, o SAC pode constituir um forte diferencial para a empresa devido às informações que gera e a maneira com que lida com reclamações e dúvidas dos consumidores. Sabe-se que, hoje, dúvidas e reclamações podem se transformar em oportunidades para fidelizar o cliente. Além de ressaltar essa importância, o presente estudo analisou o papel do SAC em duas empresas de telefonia móvel no Brasil ao mostrar seu funcionamento e outras características. Apesar de seu objetivo não ser a generalização, isto é, afirmar que todos os SAC no setor telefonia se comportem da mesma maneira, o estudo dos casos mostra que o SAC das empresas analisadas têm muitas características semelhantes e algumas diferenças. Além disso, essas características, ao serem confrontadas com a literatura sobre o assunto, sugerem algumas conclusões e sugestões para estudos futuros. 145 Com relação às semelhanças, os dois SACs ocupam elevado nível hierárquico, o que pode significar que as empresas os encaram como departamentos importantes e, mais crucial, que há um comprometimento do alta direção com eles. Nesse sentido, o estudo dos casos sugere a importância do SAC para o funcionamento das empresas, pois transmite informações para outras áreas que são utilizadas de várias maneiras como, por exemplo, método de coleta de pesquisas de marketing e o modo mais apropriado de realizar as cobranças. Por outro lado, os SACs recebem informações para esclarecer dúvidas dos consumidores. No caso específico das reclamações, ambos os SACs parecem fazer um bom trabalho em relação às justiças interativa e de procedimentos. Entretanto, a justiça distributiva ainda carece de maior atenção. Apesar das duas empresas possuírem departamentos que lidam individualmente com os pedidos de compensação dos clientes, nenhuma delas oferece nada sem que o cliente peça antes. Assim, é possível que elas percam grandes chances de “encantarem” seus consumidores. Além disso, embora a ATL fale de fidelização e relacionamento, é possível que essa falta de atenção em relação à justiça distributiva indique que os SACs 146 analisados possuam uma visão de curo prazo ao invés de uma visão estratégica de longo prazo. No que diz respeito às divergências, parecem existir diferentes visões ou percepções nas empresas analisadas quanto às principais funções dos seus SACs. Essas diferenças podem estar associadas não apenas às estruturas terceirizadas ou próprias, mas também à própria origem do SAC nas duas empresas. Enquanto, na ATL, o SAC surge antes do funcionamento da própria empresa, na Telefônica ele já surge em uma outra empresa terceirizada. Quando se procura encontrar no discurso das duas empresas como as funções do SAC são percebidas, a estrutura própria da ATL indica um envolvimento maior com o consumidor, o que está mais próximo do conceito de marketing de relacionamento (GRONROOS, 1994; GUMMESSON, 1987 e AIJO, 1996), quando se localiza nas declarações dos entrevistados expressões relativas ao SAC como, por exemplo, “um instrumento de relacionamento,” “um instrumento de fidelização” e que, por isso, necessita ter funcionários que formem “um time comprometido” e ”com maior envolvimento com os clientes.” Já na Telefônica, o discurso que aparece, a partir das entrevistas realizadas, sobre as funções do SAC parece menos relacionado à construção de relacionamento e fidelização e mais preocupado com a eficiência do processo, com o “timing,” com a “agilidade do atendimento,” com o “controle do processo” e 147 com a “gestão operacional,” ou seja, tudo que pode ser reunido como argumento para justificar a contratação de uma outra empresa. O discurso da Telefônica também sugere uma preocupação em realçar que a eficiência buscada é operacional, não econômica: “não terceirizamos por razões econômicas,” “não é uma minimização de custos.” No entanto, essa busca de eficiência operacional pode ser questionada quando são relatadas, nas entrevistas, ineficiências nos canais de comunicação Telefônica/Atento como, por exemplo, quando do lançamento de novos produtos ou na implementação de promoções. São críticas a terceirização? Não, somente constatação de diferenças. A ATL e seu SAC parecem ter um envolvimento ou entrelaçamento na busca de construção de relacionamentos e de fidelização. Por outro lado, a Telefônica e seu processo de terceirização parecem alcançar maior eficiência na operacionalização do SAC. Ambas, portanto, possuem vantagens competitivas. Constatar essas diferenças pode ser uma forma de contribuir para que cada empresa reflita sobre as vantagens e desvantagens das estruturas de atendimento que escolheram. 148 Em um momento em que a estrutura do mercado está mudando com a entrada de dois novos competidores6, o SAC, como um instrumento de fidelização ou como um instrumento eficiente de comunicação com os clientes, pode ser um importante diferencial. Quadro-resumo da discussão final dos resultados Principais Semelhanças - O SAC ocupa um nível hierárquico alto (importância do departamento e possível comprometimento da alta gerência) - Departamento importante (fornece e recebe informações) - Parecem realizar um bom trabalho quanto às justiças interativa e de procedimentos - Deficiências na justiça distributiva Principais Diferenças - Visões/percepções quanto às principais funções do SAC ATL Demonstra maior envolvimento com o consumidor, visando mais o relacionamento e a fidelização Sobre o SAC: é “um instrumento de relacionamento”; “um instrumento de fidelização” Sobre os funcionários do SAC: “um time comprometido”; “com maior envolvimento com os clientes." Telefonica Priorizam a eficiência operacional Mais preocupado com a eficiência do processo; com o “timming,” com “agilidade do atendimento,” com o controle do processo” - justificativas para contratação de uma outra empresa. 6 A Oi, empresa ligada a Telemar, começou a operar em 2002 e a TIM deve entrar no mercado entre 2002 e 2003. 149 6.2 Sugestões para Estudos Futuros A principal sugestão é para um estudo mais profundo sobre diferenças entre SACs terceirizados e próprios. É importante entender quais as vantagens e desvantagens que cada modelo encerra (custos versus comprometimento, por exemplo), para que uma empresa realize a melhor opção para seu negócio. Uma outra sugestão de estudo se refere à autonomia dos funcionários do SAC. Em ambos os casos, as empresas praticamente não conferem nenhum poder decisório ao funcionário de linha de frente do SAC. Assim, seria interessante um estudo que analisasse o impacto dessa falta de autonomia na satisfação dos consumidores com o tratamento de suas reclamações e na motivação/comprometimento dos atendentes do SAC. Como terceira sugestão, seria interessante um estudo que enfoque a relação dos outros departamentos da empresa com o SAC, analisando, por exemplo, o fluxo de informações e a maneira que eles enxergam o SAC.7 Também seria interessante a realização de um estudo que visse o lado dos consumidores, isto é, se eles percebem diferenças entre SACs de estrutura próprias e de estruturas terceirizadas. 150 Com a entrada de novos concorrentes, tornando o mercado mais competitivo, é possível que ocorram mudanças no SAC da Telefônica e/ou da ATL. Assim, um estudo poderia contemplar a ocorrência dessas mudanças, isto é, se elas existiriam e quais seriam após a mudança da estrutura competitiva. Finalmente, este tipo de estudo aqui realizado pode ser feito em vários outros setores de atividade, pois o SAC começa a ser visto menos como uma parte puramente operacional e mais como estratégico para o futuro das empresas. 7 O presente estudo consultou somente o departamento de marketing das empresas analisadas. 151 7. Bibliografia ADAMSON, C. Evolving complaint procedures. Managing Service Quality, p.439-444, jan. 1993 AIJO, T.S. The theoretical and philosophical underpinnings of relationship marketing: enviromental actors behind the changing marketing paradigm. European Journal of Marketing, Bradford, v.30, n.2, p. 8-18, 1996 ARAÚJO, P. F. Relacionamento com clientes: um estudo em shopping centers do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 1999. 164p. Atlas Brasileiro de Telecomunicações 2001. São Paulo: Editora Glasberg, 2000. 130p. BEBKO, C.P. Service intangibility and its impact on consumer expectations of service quality. 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Abrindo a empresa para o consumidor: a importância de um canal de atendimento. Rio de Janeiro: Qualitymark Editora, 1991. 156p. www.atl.com.br www.telefonica.com 163 ANEXO 1 – Roteiros elaborados para as entrevistas A) QUESTÕES PARA O RESPONSÁVEL DO SAC GERAIS 1. Como é denominado o Serviço de Atendimento ao Consumidor da empresa? 2. Quando e por que (motivos) ele foi implantado? Conte um pouco sobre a evolução do SAC na empresa. - Imitar a concorrência - Atender as necessidades de outras áreas da empresa - Ouvir e Conhecer o consumidor - Para que o consumidor tenha um canal para falar com a empresa antes de tomar medidas legais. 3. Como você avalia a importância do SAC para sua empresa? - Quais as funções/papéis atuais do SAC? 4. Como a empresa enxerga as reclamações dos consumidores? - (transtornos, oportunidade de aperfeiçoamento, oportunidade de novos negócios, controle de qualidade, oportunidade de conhecer melhor o consumidor...)? 5. Qual a posição do SAC no organograma da empresa? Como é o relacionamento da alta gerência com o SAC? 6. Como é a estrutura do SAC (nº de funcionários, escolaridade, tarefas...)? Quem/Como é a pessoa responsável pelo SAC (escolaridade, reporta-se a que dpt...)? 7. Como é a infra-estrutura do SAC? Eles podem consultar algum banco de dados a respeito do consumidor (saber status da reclamação, histórico, quais os produtos que o consumidor consome...) 164 8. Qual a taxa de turnover dos funcionários do SAC? OPERACIONAIS 1. Quais as formas que o consumidor dispõe para acessar o SAC? Qual a mais utilizada (%)? 2. Qual o horário de funcionamento do SAC? 3. Qual é o procedimento básico a partir do contato do cliente? (O que ocorre quando o consumidor entra em contato com o SAC para reclamar?) Como o consumidor sabe da existência do SAC? Há algum tipo de estímulo para que ele entre em contato com o SAC (propaganda...)? 4. Os funcionários do SAC recebem algum treinamento específico? (o treinamento acompanha o avanço tecnológico?) 5. Que tipo de poder decisório possui o funcionário do SAC? - Eles tem poder para resolver os problemas (empowerment)? Qual decisão eles podem tomar? Como é estabelecido o que ele pode ou não falar? E se o consumidor perguntar algo que não esteja no script? 6. Caso não haja o funcionário do SAC não tenha poder decisório, como é o procedimento (passam para outro departamento...)? Caso seja outro departamento que receba a reclamação, é o consumidor que fala diretamente ou é um funcionário do SAC? Essa pessoa do outro departamento é treinada para lidar com o consumidor? Ele tem que parar seu trabalho para atender a reclamação? Se for o funcionário do SAC, o que acontece com o consumidor (fica esperando na linha, a empresa contata depois...)? 7. Como são utilizadas as informações obtidas pelo SAC? Elas são analisadas de forma agregada? Como é realizada (que tipo) essa análise (quem analisa, como, que softwares...)? O que se faz com o resultado da análise? 8. Por que as pessoas contatam o SAC? (distribuição % - reclamação, informação, sugestão, elogio...) Quais os principais tipos de reclamações dos consumidores? Qual a % de soluções/reclamações? E o tempo de solução, 165 como é avaliado que o consumidor ficou satisfeito com o resultado e o tempo de resolução? 9. Alguma parte do SAC é terceirizada? Qual? Por que? Quais os benefícios e malefícios que a empresa enxerga nessa terceirização? O funcionário da empresa tereceirizada pode responder por sua empresa? 10. Avanço tecnológico x necessidades diferenciadas? Como se faz a substituição do ser humano pela tecnologia? Com base em que? 11. Como é o relacionamento do SAC com outras áreas da empresa? Quais áreas? Como ocorre essa interação (reuniões, informalidade, relatório...)? 12. O SAC costuma receber inputs de outras áreas? Isto costuma ocorrer corretamente (sem atraso, com todas as informações pertinentes etc.) Ex: a informação de campanhas publicitárias/novos produtos promoções ocorre adequadamente? 13. As informações obtidas pelo SAC servem para a avaliação de alguma área? Essa área sabe disso? Pode haver algum mal-estar entre essa área com o SAC (encarando-o como um estorvo) e este evite passar informações de performance negativa? 14. O SAC está sujeito a algum tipo de avaliação por parte da empresa? Qual? - Como o funcionário do SAC é avaliado? Em que base? É mais importante o número de telefones atendidos ou % de resolução de problemas? 15. Há algum procedimento para saber o que os funcionário do SAC acham dele? (o que pode melhorar...) 16. Você considera os recursos disponibilizados para o SAC adequados ao seu papel? 17. O SAC costuma contatar o consumidor para saber se ele ficou satisfeito com os procedimentos da empresa (velocidade de atendimento das chamadas telefônicas, de resposta, da velocidade e com a resolução em si, cordialidade...)? Como a empresa fica sabendo se o consumidor ficou satisfeito? 166 18. A empresa costuma oferecer algum tipo de recompensa para o consumidor em função de suas possíveis falhas? 19. Avanço tecnológico x necessidades diferenciadas? Como se faz a substituição do ser humano pela tecnologia? Com base em que? 20. O sr. vê algum tipo de relação entre o SAC e a fidelização do seu consumidor? 21. O sr. acha que o SAC de sua empresa pode é visto como um diferencial positivo (de imagem, de serviço...)? B) QUESTÕES P/ O DEPARTAMENTO QUE RECEBE INFORMAÇÕES DO SAC 1. Qual seu departamento? Conte um pouco sobre ele. 2. Como é que você enxerga o SAC? 3. Como é que você enxerga uma reclamação do consumidor? 4. Qual a relação do seu departamento com o SAC? - Recebe informações - Fornece informações - É avaliado através das informações coletadas pelo SAC 5. Como ocorrem os contatos do seu departamento com o SAC (reuniões, informalidade...)? - Quais são os tipos de informações mais freqüentes enviadas pelo SAC para seu departamento? 6. Como seu departamento utiliza as informações coletadas pelo SAC? Acha que poderiam ser melhor aproveitadas? 7. Como as pessoas do seu departamento reagem quando chega alguma reclamação (sobre seu departamento) enviada pelo SAC? Também já chegou algum elogio? 8. O seu departamento é avaliado por informações provenientes do SAC? 9. Outros: A empresa costuma se desculpar? E assumir responsabilidade pelo problema? E oferecer recompensa? Vocês acompanham o dado %solução por reclamação? E tempo prometido/cumprido? Como é que vocês trabalham a questão de rapidez na resolução de uma reclamação/infra-estrutura da área? 167 Empowerment? O SAC costuma passar ligações para vocês? Vocês recebem treinamento de como lidar com o cliente? C) QUESTÕES P/ O FUNCIONÁRIO DO SAC 1. O que ocorre quando o consumidor entra em contato com o SAC para reclamar? Qual o procedimento? 2. Vocês tem poder para resolver os problemas (empowerment)? Qual decisão vocês podem tomar? Como é estabelecido o que você pode ou não falar? E se o consumidor perguntar algo que não esteja no script? 3. Caso não haja empowerment, como é o procedimento (passam para outro departamento...)? Caso seja outro departamento que receba a reclamação, é o consumidor que fala diretamente ou é um funcionário do SAC? Essa pessoa do outro departamento é treinada para lidar com o consumidor? Ele tem que parar seu trabalho para atender a reclamação? Se for o funcionário do SAC, o que acontece com o consumidor (fica esperando na linha, a empresa contata depois...)? 4. Como você é avaliado? Quais as variáveis utilizadas (tentar com o supervisor)? Em que base? É mais importante o número de telefones atendidos ou % de resolução de problemas? 5. A empresa procura saber a opinião de vocês sobre o SAC? (o que pode melhorar...) 6. O vocês costumam contatar o consumidor para saber se ele ficou satisfeito com os procedimentos da empresa (velocidade de atendimento das chamadas telefônicas, de resposta, da velocidade e com a resolução em si, cordialidade...)? 7. Vocês recebem treinamento ? Como é esse treinamento (o que enfoca etc.)? Recebem treinamento para tratar o consumidor cordialmente? 8. A empresa costuma assumir seus erros para o consumidor? Costuma se desculpar? 168 9. A empresa costuma oferecer alguma recompensa para o consumidor? O SAC costuma receber informações de outras áreas? Isto costuma ocorrer corretamente (sem atraso, com todas as informações pertinentes etc.) Ex: a informação de campanhas publicitárias/novos produtos promoções ocorre adequadamente?