Doces sabe(o)res da Floresta 3.º escalão: alunos dos 2.º e 3.º ciclos “O Homem parece ter sido criado para se alimentar sobretudo de frutos, raízes e de outros produtos suculentos do reino vegetal.” Cuvier Com uma parte significativa de espaço integrada no parque Nacional Peneda-Gêres, Ponte da Barca é, por si, uma região de inegável e complexa riqueza ao nível da biodiversidade e vertentes económica e social, que urge rentabilizar de forma racional, valorizando o que a natureza oferece, sob pena de ver-se condicionado o seu desenvolvimento global, modus vivendi e status das populações locais. Enquanto valor económico, ambiental e paisagístico na dependência do qual estão setores tão estratégicos como o turismo, um traço da identidade cultural do concelho e fator de atratividade de novos residentes ou atividades económicas, usufrui o mesmo de um estatuto sui generis, para o qual tanto concorre a sua localização no único Parque Nacional, reconhecido pela UNESCO como uma reserva mundial da biosfera, o Parque Nacional da Peneda-Gêres. Legitima-se, assim, a valorização dos recursos naturais e locais, atitude crucial à mudança de mentalidades e, por conseguinte, solução de problemas. A mudança é imperiosa, pelo que o presente trabalho tem como enquadramento o princípio do desenvolvimento sustentável e assume-se como um contributo temático para o domínio da educação ambiental, uma vez que circunscrito ao tema da floresta e sua proteção e conservação. É um propósito ambicioso, se pensarmos que é um contributo relevante, não só no contexto económico e ambiental como também ao nível da informação que veicula, abrangendo aos domínios da História, Geografia, Ciências Físico-químicas, Ciências da Natureza, Matemática, etc., satisfazendo, assim, o princípio da multidisciplinaridade. Partindo do princípio que as populações tendem a valorizar e proteger o que conhecem, reconhece-se a necessidade de quebrar o circuito fechado da transmissão familiar desse saber, pouco divulgado, e de promover junto da comunidade conhecimentos capazes de garantir segurança na identificação das espécies e desmitificar medos e práticas erróneas. Para além da identificação das principais espécies, outras das questões que nos preocupa é a prática de colheitas erradas, que põe em causa a biodiversidade da floresta. Se quisermos que os nossos filhos e netos desfrutem dos prazeres que emanam do campo – os aromas dos montes, indiciadores dos seus sabores, o cantar dos passarinhos, o roçar das folhas pela cara, o cintilar das águas límpidas e transparentes -, privilegio que implica a colaboração de todos a quem se exige práticas a tal conducentes. O envolvimento de toda a comunidade escolar e local, é fundamental para cultivar e fomentar uma atitude cívica de respeito pela floresta nas suas múltiplas valências, económica, social, ambiental, cultural e recreativa, só assim faremos da floresta um presente para o futuro. Atemporais são as palavras de Jean Rostand: “Todas as refeições são fármaco-dinâmicas, todas as ementas são receitas medicas”, a incitar-nos para o aproveitamento das potencialidades naturais, capazes de se transformar em realidades económicas, conduzindonos ao lema de Hipócrates, pai da medicina “Que teu alimento seja o teu remédio”, “Que o teu remédio seja teu alimento”. Com este projeto visamos criar um espírito de cooperação sobre as preocupações ambientais e demonstrar as potencialidades dos recursos que a Floresta nos pode oferecer, convictos de que estamos a valorizar os produtos naturais em detrimento dos sintéticos, por serem economicamente e ecologicamente corretos. Propomo-nos, neste contexto, satisfazer os seguintes objetivos: • valorizar a floresta e alguns dos seus produtos, nas suas múltiplas valências económica, social, ambiental, cultural e recreativa. • superar as limitações no campo científico e tecnológico, sendo abordados vários cuidados na colheita, manipulação e consumo dos cogumelos e das plantas medicinais e aromáticas; • mostrar que as florestas são um recurso natural acrescido, sustentável e renovável se for aproveitado de forma racional. • reconhecer que no meio que nos rodeia há plantas com utilização farmacológica, de que são exemplos, o salgueiro de cuja a casca se extrai o ácido salicilico para a produção da aspirina, o alecrim , a murta ,o rosmaninho, entre outras. • distinguir plantas aromáticas de medicinais. • inferir que as plantas aromáticas e medicinais e cogumelos são um recurso florestal quer sob o ponto de vista gastronómico e medicinal quer sob o ponto de vista ecológico/ambiental. • fomentar a alimentação saudável através da utilização de plantas aromáticas reduzindo o uso de cloreto de sódio. • inferir a apicultura como uma fonte de rendimentos. • reconhecer a importância das plantas aromáticas e medicinais na produção de mel. • identificar os cogumelos comestíveis, os venenosos, os alucinogénios e , ainda os de pouco valor alimentar. Para a concretização dos objetivos dinamizaremos as seguintes atividades: • Dinamização de uma palestra, alusiva ao tema Biodiversidade do Parque Nacional PenedaGêres, proferida pela Eng. Céu Osório. • Realização de uma palestra, alusiva aos produtos da floresta, nomeadamente Plantas Aromáticas e Medicinais, proferida pelo doutor Duarte Silva, especialista em Biodiversidade e fundador da empresa Floradata - biodiversidade, ecologia, ambiente e recursos naturais. • Pesquisa relacionada com o tema. • Confronto entre técnicas tradicionais e cientificas de seleção, e fins a que se destinam os cogumelos e plantas aromáticas e medicinais. • Trabalho de campo, envolvendo a comunidade escolar e local,a fim de efetuar um estudo aprofundado das caraterísticas das diferentes espécies: a morfologia, o cheiro, as cores, o sabor e o habitat, sob orientação do doutor Nuno Pousada das Portas do PNPG de Lindoso e da engenheira Sónia Almeida da ADERE - Associação de Desenvolvimento das Regiões do Parque Nacional da Peneda –Gerês. • Aula experimental realizada na Universidade do Minho orientada, pela doutora Ana Cunha, com o objetivo de extrair o princípio ativo das plantas recolhidas pelos alunos. • Em colaboração com a Escola Superior Agrária de Ponte de Lima será efetuada uma observação mais cuidadosa, rigorosa e pormenorizada, considerando algumas características morfológicas, sensoriais (como o cheiro ou sabor) e ecológicas, permitindo descobrir muitas diferenças e variações entre os cogumelos. • Combater a negligência e a ignorância mostrando que confiar em crenças, mitos e outras sabedorias populares para identificar cogumelos e plantas é uma estratégia perigosa. • Realizar a caracterização, biogénese, acumulação e atividades de produtos naturais de plantas empiricamente conhecidas por aromáticas e medicinais. • Fazer uma avaliação da actividade farmacológica e toxicológica de bio-produtos das plantas aromáticas e medicinais. • Em laboratório, fazer a extração do principio ativo, substância química que está presente na planta e é responsável pela cura de doenças, como por exemplo alcalóides, minerais, resinas, óleos essenciais, etc. • Via experimental, identificar a parte da planta onde se encontra o princípio ativo, conhecendo modo e situação de aplicação, efeitos colaterais, entre outros. • Preparação em laboratório da essência de folhas de hortelã e licor de poejo. • Obter esporos de cogumelos comestíveis. • Criação, na escola, de canteiros multissensoriais com plantas medicinais e aromáticas em articulação com o Ensino Especial e com a colaboração de alguns Encarregados de Educação. • Criação de um ervário. • Contacto com a atividade apícola do Parque. • Envolvência na produção de um Manual de Boas Práticas. • Compilação da brochura “Doces sabe(o)res da Floresta” a disponibilizar nos locais de turismo e parceiros do projetos. É possível agir cooperativamente e de facto transformar o futuro e fomentar modos de vida mais sustentáveis por meio de processos educativos, culturais e novas tecnologias de informação. Não podemos portanto dizer que não há mais nada a fazer sem antes tentar esse recurso tão valioso, as plantas, que nos tem surpreendido com excelentes resultados, por isso vamos conhecê-las! A Natureza não para de nos maravilhar, basta sabermos observá-la, compreendê-la e rentabilizá-la.