http://dx.doi.org/10.15202/1981996X.2015v9n2p48 TELHADO VERDE DE BAIXO INVESTIMENTO COMPOSTO POR PLANTAS MEDICINAIS E AROMÁTICAS Rodrigo Otavio Lopes de Souza Pós-doutor em Ciências pelo Institut de Recherches sur la catalyse et l’environnement de Lyon (IRCELYON), Lyon, França Maria Luzia Soares Sampaio Ferreira Mestre em Desenvolvimento Local pelo Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM), Rio de Janeiro, RJ, Brasil Carlos Alexandre Bastos de Vasconcellos Pós-doutor em Ciências pela Universidade de Coimbra (UC), Coimbra, Portugal Docente no Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM), Rio de Janeiro, RJ, Brasil Docente no Instituto Militar de Engenharia (IME), Rio de Janeiro, RJ, Brasil RESUMO A utilização de telhados verdes tem se apresentado como uma solução cada vez mais interessante para minimização dos impactos provocados pelas ilhas de calor sentidas e observadas nas áreas urbanas. Este estudo se propôs a investigar a ação dos telhados verdes compostos por plantas medicinais e aromáticas apresentando como parâmetro avaliativo o conforto térmico e a captação de águas pluviais. Um sistema experimental de baixo custo permitiu a análise do fluxo de absorção de águas pluviais, a redução da temperatura interna do ambiente e a resistência de plantas medicinais mais adequadas aos telhados ecológicos. Avaliaram-se oito espécies de plantas medicinais e aromáticas, sendo que apenas a hortelã e o manjericão apresentaram alta resistência às condições climáticas e pluviométricas severas da região estudada. Com relação ao conforto térmico, observou-se uma queda de até 5ºC na temperatura interna dos ambientes simulados e o aumento da taxa de absorção de água. Os resultados apontam para a possibilidade de desenvolvimento de soluções sustentáveis, de baixo investimento e de manutenção simples, com vistas à melhoria das condições gerais de conforto térmico e diminuição do fluxo excessivo de águas pluviais nas edificações de baixa renda. Palavras-chave: Telhados verdes. Plantas medicinais e aromáticas. Agricultura urbana. Conforto térmico. Captação de águas pluviais. GREEN ROOF LOW COST COMPOSITE BY MEDICAL AND AROMATIC PLANTS ABSTRACT The use of green roofs has emerged as an increasingly attractive solution for minimizing the impacts of heat islands felt and observed in urban areas. This study aimed to investigate the effect of green roofs composed of medicinal and aromatic plants presenting as evaluative parameter the thermal comfort and rainwater harvesting. A low cost experimental system allowed the analysis of the flow of absorption of rainwater, the reduction of the internal temperature and resistance of more appropriate medicinal plants to green roofs. It evaluated eight species of medicinal and aromatic plants, with only mint and basil showed high resistance to weather 48 Semioses | Rio de Janeiro | v. 9 | n. 2 | p. 48-58 | jul./dez. 2015 Rodrigo Otavio Lopes de Souza, Maria Luzia Soares Sampaio Ferreira e Carlos Alexandre Bastos de Vasconcellos conditions and severe rainfall of the studied region. The thermal comfort presented a decrease maximum of 5°C in the internal temperature of the simulated environments and increased rate of water absorption. The results point to the possibility of developing sustainable solutions, low cost and low maintenance with a view to improving the general conditions of thermal comfort and reduction of excessive flow of rainwater in low-income buildings. Keywords: Green roofs. Medicinal and aromatic plants. Urban agriculture. Thermal comfort. Rainwater harvesting. 1 INTRODUÇÃO O aumento da temperatura média global nos últimos anos tem sido discutido com freqüência pelos diferentes seguimentos da academia e da sociedade civil. As possíveis causas para o aquecimento global podem estar relacionadas ao aumento da densidade populacional mundial nos centros urbanos, a queima de combustíveis fósseis que causam o aumento excessivo de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, o desmatamento indiscriminado e, principalmente a emissão de gases poluentes. Este aquecimento tem provocado modificações significativas na estrutura do planeta, podendo ser evidenciado no derretimento das geleiras, nos ciclos das marés e na alteração das condições climáticas em todo o mundo (NOBRE; SAMPAIO; SALAZAR, 2008). No Brasil, em particular, a ocupação desordenada nos morros próximos aos centros urbanos tem ocasionado enchentes e deslizamentos, devido, não só à diminuição significativa de espaços verdes (desmatamento) que favorecem a diminuição da absorção das águas pelo solo, como também o assoreamento dos rios. Paralelamente, os prédios construídos mais recentemente apresentam um aumento nos incentivos às instalações certificadas, que requerem de maneira geral, a implementação de coberturas ecológicas, pois o comprovado efeito destas coberturas no microclima e a possibilidade de melhora no desempenho térmico das edificações representam uma solução simples e de baixo custo para diversos problemas atuais. O telhado verde ou cobertura verde pode ser caracterizado como toda cobertura impermeabilizada, laje ou telhado, que agrega em sua parte superior, uma camada de solo ou substrato e outra de vegetação (ARAUJO, 2007; MORAIS, 2004). Também conhecidos como: biocoberturas, eco telhados, green roofs, telhados vivos ou simplesmente cobertura vegetal sobre telhados convencionais, essas estruturas são dimensionadas para suportar as vegetações. Laar (2001) classificou essas coberturas segundo o tipo de vegetação utilizada como: intensivas, quando se utilizam plantas de médio e grande porte, formando camadas de solo maiores que 20 cm e gerando sobrecargas na estrutura entre 700 e 1200 kg/m2; ou extensivas (Coberturas Verdes Leves - CVL), quando se utilizam pequenas plantas com camada mais fina de solo, com espessura entre 5 e 12 cm e produzindo sobre a estrutura uma carga média equivalente a 100 kg/m² . Além disso, segundo Nascimento e Schmidt (2008), um telhado verde pode também ser classificado quanto à distribuição das plantas na cobertura como: contínua, quando a vegetação é depositada diretamente sobre a superfície; módulos pré-elaborados, quando placas independentes são depositadas sobre a superfície e; aéreas, quando os ramos se espalham por uma armação. Semioses | Rio de Janeiro | v. 9 | n. 2 | p. 48-58 | jul./dez. 2015 49 TELHADO VERDE DE BAIXO INVESTIMENTO COMPOSTO POR PLANTAS MEDICINAIS E AROMÁTICAS Nesse contexto, este trabalho se propõe a verificar a viabilidade de aplicação dos telhados verdes extensivos contínuos (CVL) compostos por plantas medicinais e aromáticas nas coberturas de lajes em áreas urbanas, visando o aumento do conforto térmico e a atenuação do escoamento excessivo da água da chuva. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Para alcançar os objetivos deste trabalho, utilizou-se uma técnica de bioengenharia que consiste na aplicação e uso de vegetação sobre lajes previamente impermeabilizadas, além de um sistema de drenagem adequado, com aplicação de mantas para filtração da água e uma camada de substratos de forma a promover o desenvolvimento das espécies plantadas. Um sistema simplificado já proposto por outro autor (CUNHA, 2004) revela a composição da cobertura verde, que serve para captação de água de chuvas e avaliação do conforto térmico. Nele, constam os seguintes níveis: a laje, a camada impermeabilizante, a camada drenante, a camada filtrante, o solo e a vegetação, como apresentados na figura 1. Esse estudo foi subdividido em três etapas distintas e inter-relacionadas, a saber: a) 1ª etapa: estudo da resistência das plantas medicinais e aromáticas às intempéries, sem manutenção; b) 2ª etapa: estudo do conforto térmico no interior de um simulador; e c) 3ª etapa: estudo da capacidade de absorção das plantas no sistema proposto. Figura 1: Esquema do canteiro do telhado verde Fonte: (FORTE; MARCONDES, 2009). Na 1ª etapa, em uma laje com área de aproximadamente 25,0 m², sem nenhum tratamento, localizada em uma construção no bairro de Bonsucesso, zona norte do município do Rio de Janeiro foram construídos dois canteiros, com área de 2,0 m², cada. Em cada um dos canteiros foi aplicada, manualmente, uma camada composta por cimento e um produto comercial para impermeabilização de superfícies. Em seguida, foram sobrepostos seguindo o esquema da Figura 1, os agregados, uma manta filtrante (camada drenante) e por fim 5 cm de substrato composto por terra preta, calcário e húmus. Esses canteiros tiveram como objetivo principal o estudo do cultivo e sobrevivência de oito espécies de plantas medicinais e aromáticas, a fim de selecionar as espécies que melhor resistissem ao ambiente estudado. A escolha das espécies baseou-se na cultura e na popularidade das plantas medicinais e aromáticas mais utilizadas no Brasil, a saber: 50 Semioses | Rio de Janeiro | v. 9 | n. 2 | p. 48-58 | jul./dez. 2015 Rodrigo Otavio Lopes de Souza, Maria Luzia Soares Sampaio Ferreira e Carlos Alexandre Bastos de Vasconcellos alecrim (Rosmarinums officinalis); coentro (Coriandrum sativum); hortelã (Mentha piperita); manjericão (Ocimum basilicum); poejo (Mentha pulegium L.); orégano (Origanum vulgaris); saião (Kalanchoe brasiliensis Cambess) e salsa (Petroselinum crispum). Os resultados do estudo sobre a resistência das plantas medicinais e aromáticas à falta de manutenção (adubação, poda e rega) foram coletados no período de julho de 2011 a fevereiro de 2012. Na 2ª etapa, um protótipo em escala reduzida foi construído na cobertura do prédio do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Local da UNISUAM (PPGDL-UNISUAM). O protótipo foi montado em área aberta e sem sombra durante todo o dia permanecendo suscetível às intempéries e outros fenômenos meteorológicos. Ele é composto por 4 módulos de 20 cm (largura) x 30 cm (comprimento) x 40 cm (altura), agrupados sem espaçamento simulando a realidade das comunidades carentes. Para as paredes foram utilizados dois tipos de tijolos cerâmicos furados (29 cm x 19 cm x 9 cm e 20 cm x 20 cm x 9 cm) sem revestimento interno ou externo. A laje de concreto armado foi produzida com espessura de 3 cm, cobrindo uma área de aproximadamente 1500 cm2. Na armadura foi utilizado aço CA-50 com diâmetro de 4,8 mm (3/16²), com 15 cm de espaçamento. Os quatro módulos foram analisados separadamente: modelo sem telhado verde (laje livre); modelo somente com o substrato; e modelos compostos por substratos e duas plantas medicinais e aromáticas (manjericão e hortelã) selecionadas após a etapa anterior. A disposição dos módulos do protótipo pode ser observada na Figura 2. As medidas foram realizadas todas as segundas, quartas e sextas-feiras utilizando termômetros de mercúrio acoplados no sistema. Estes dispositivos foram posicionados de forma centralizada no interior do simulador permitindo a leitura dos dados durante todo o período de análise (janeiro a julho de 2013). Figura 2: Posicionamento dos módulos no simulador. Fonte: Os autores. Na 3ª etapa, um sistema contendo uma caixa d’água de 150 litros e reservatórios coletores de 30 litros com tampa, além de tubos e conexões, permitiu a construção de um sistema simples Semioses | Rio de Janeiro | v. 9 | n. 2 | p. 48-58 | jul./dez. 2015 51 TELHADO VERDE DE BAIXO INVESTIMENTO COMPOSTO POR PLANTAS MEDICINAIS E AROMÁTICAS para produzir chuva artificial. Para este simulador de águas pluviais, a caixa d’água recebeu um dosímetro que possibilita a aferição e controle dos volumes de água lançados nos canteiros supracitados sob o efeito gravitacional de forma que a análise da absorção de água possa ser processada. Dois sistemas de captação foram implantados: o primeiro na parte inferior do meio filtrante do canteiro (coleta de água permeada) e um sistema de calhas nas bordas dos canteiros (coleta de água superficial). 3 RESULTADOS DOS ENSAIOS DE RESISTÊNCIA Este etapa envolveu o plantio de oito matrizes. Esta análise foi realizada em um período total de 45 dias, com incidência de chuvas esparsas e, somente a hortelã e o manjericão sobreviveram à falta de rega, adubação e poda. A matriz do alecrim que necessita de solo arenoso, pouco ácido, rico em matéria orgânica, drenado ou permeável e com projeção a pleno sol para alcançar a fase adulta e se tornar um arbusto de ciclo de vida longo não resistiu aos quarenta e cinco dias. Este fato pode ser explicado pela região em que foi plantada a matriz, uma área de sol parcial que contribuiu para o seu baixo desenvolvimento, associado a baixa umidade. A matriz da salsa, que demanda pouca rega e sol moderado recebeu sol com intensidade acentuada em alguns períodos e também não resistiu, no entanto, o principal agravante nesta espécie foi a falta de poda no momento certo para auxiliar no enraizamento, e na formação de novas mudas. Estas informações corroboram os resultados observados por Borsato e outros (2010), que apontaram o desenvolvimento das plantas aromáticas e medicinais, a partir das demandas nutricionais e cuidados requeridos por cada espécie. A partir dessa análise, observa-se que sem a ciclagem de nutrientes e os cuidados de poda e rega apenas a Hortelã e o Manjericão que são duas espécies herbáceas com características reprodutivas pelos caules e necessitam de pouco água resistiram e puderam ser avaliadas. 4 RESULTADOS DOS ENSAIOS DE CONFORTO TÉRMICO A partir dos ensaios realizados no simulador do telhado verde construído na cobertura do prédio do Mestrado da UNISUAM, no bairro de Bonsucesso, na zona norte do município do Rio de Janeiro foi possível avaliar a variação de temperatura no interior do simulador devido à utilização de diferentes tipos de coberturas verdes compostas ou não por plantas medicinais e aromáticas, definidas previamente através dos testes de resistência. Os dados do perfil de um dia inteiro de medidas no simulador analisando a influência dos diferentes telhados verdes (ver Figura 3), tomados a cada 15 minutos, fornecem os resultados preliminares sobre este estudo. Observa-se que no horário de maior temperatura, o interior das edificações com telhado verde apresentou uma temperatura até 4ºC menor que a externa no mesmo momento. 52 Semioses | Rio de Janeiro | v. 9 | n. 2 | p. 48-58 | jul./dez. 2015 Rodrigo Otavio Lopes de Souza, Maria Luzia Soares Sampaio Ferreira e Carlos Alexandre Bastos de Vasconcellos Figura 3: Perfil da variação da temperatura durante o dia 26 de junho de 2013 Fonte: Os autores. A partir dos dados obtidos nas diferentes datas (dias), a média de temperaturas observadas nos períodos da manhã (8h a 11h), final da manhã e início da tarde (11h a 14h) e da tarde (14h a 17h) foi observada a temperatura máxima de cada dia, para cada tipo de cobertura, bem como a temperatura externa máxima. Na Figura 4 podem-se observar os dados obtidos de temperatura máxima diária do mês de junho de 2013 para cada cobertura analisada. A incerteza instrumental associada àquela devido à leitura do termômetro corresponde a, aproximadamente, 1ºC para mais ou para menos no valor de cada medida. Figura 4: Temperaturas internas máximas no simulador no mês de junho de 2013 Fonte: Os autores. Semioses | Rio de Janeiro | v. 9 | n. 2 | p. 48-58 | jul./dez. 2015 53 TELHADO VERDE DE BAIXO INVESTIMENTO COMPOSTO POR PLANTAS MEDICINAIS E AROMÁTICAS A atenuação da temperatura devido à aplicação de telhados verdes compostos por plantas medicinais e aromáticas pode ser explicada pelo efeito do sombreamento promovido pelas folhas associado à dissipação de calor pelo substrato. O substrato foi responsável por aproximadamente 60% da diminuição de temperatura no interior do módulo, enquanto o restante encontra-se associado à planta. Resultados anteriores mostraram que o efeito do espaçamento entre plantas favorece a refletância (SILVA, 2011). Nesse estudo, a alta densidade no plantio, portanto, favoreceu um maior efeito de sombreamento e conseqüentemente, a diminuição da irradiação solar direta, com a contribuição da evapotranspiração. Segundo Lambert, Dutra e Pereira (2004), o solo ou substrato possui a capacidade de armazenar calor favorecendo processos evaporativos e diminuindo as temperaturas internas. Ao mesmo tempo, o mecanismo regulador de temperatura das plantas age extraindo o calor do ambiente para reaproveitá-lo no processo de fotossíntese ou mesmo no processo de evapotranspiração das folhas que resfriam sua superfície e o ar adjacente, devido às trocas de calor (FERREIRA, 2007; ALVAREZ, 2004). Portanto, o efeito observado nas lajes com substrato e na laje simples pode ser diferenciado pela ação da umidade relativa do ar que é acentuada pelo período noturno. O aumento da umidade do solo tanto na parte da manhã quanto no entardecer favorece aos processos evaporativos que mantém as temperaturas mais baixas no interior do simulador. Adicionalmente, os resultados apontaram que em dias mais quentes, sinalizados pela temperatura máxima superior a 30ºC, as variações de temperaturas (diferença entre a temperatura externa e interna) são maiores. Nesses dias a variação alcançou até 7ºC. Entretanto, o mecanismo biológico das plantas avaliadas (hortelã e manjericão) não apresentou diferença significativa quanto ao seu poder de absorção de energia luminosa. De maneira geral, pode-se concluir que as plantas cumprem um papel importante de filtros solares, principalmente, pelo efeito de sombreamento e que o poder de absorção de energia luminosa das plantas está associado, principalmente, a dois fenômenos distintos: a ação do sombreamento que mantém o solo mais úmido reduzindo a velocidade dos processos evaporativos e do mecanismo de fotossíntese da planta medicinal e aromática que consegue capturar boa parte da energia recebida. 5 CAPTAÇÃO DE ÁGUA DA CHUVA Os resultados observados nesse ensaio de avaliação da captação de água de chuva, em canteiros localizados em um local de clima tropical úmido, foram realizados em período com chuvas freqüentes e de grande intensidade. Assim, os volumes de água recebidos pelo sistema simulador eram muito maiores do que a capacidade do reservatório permitia. A partir desta constatação, os ensaios utilizando o processo de precipitação artificial foram aplicados com o objetivo de se observar a sucessiva capacidade do sistema em reter líquidos. Os canteiros contendo manjericão, hortelã ou apenas substrato, inicialmente com o solo seco foram avaliados. Nessa simulação, o volume inicial adicionado em cada canteiro foi de 20 litros d’água no sistema de gotejamento ao longo de todo canteiro de forma homogênea. Com um intervalo de 30 minutos entre cada nova adição, realizaram-se adições ainda com o solo úmido. Este processo se repetiu mais 10 vezes. O objetivo dessa etapa foi avaliar a variação 54 Semioses | Rio de Janeiro | v. 9 | n. 2 | p. 48-58 | jul./dez. 2015 Rodrigo Otavio Lopes de Souza, Maria Luzia Soares Sampaio Ferreira e Carlos Alexandre Bastos de Vasconcellos na taxa de retenção de água devido ao nível de umidade do solo (úmido ou seco), conforme mostrado na Figura 5. A taxa de retenção de água foi calculada através da seguinte relação: Va − Vsub − Vsup TR = 100 × , Va Onde TR é a taxa de retenção de água (%); Va é o volume total adicionado; Vsub é o volume de água subsuperficial coletado e Vsup é o volume de água superficial coletado. Figura 5: Taxa de Retenção de água (%) à Volume constante Fonte: Os autores. O primeiro ponto na curva representa o solo seco, portanto, os poros do substrato estão completamente livres para a absorção de água. A maior taxa de retenção se deve ao preenchimento inicial do volume poroso pela água. A absorção continuada cessa quando observada a presença de um patamar que para o telhado verde composto por plantas medicinais equivale a adição de 80 litros de água. O canteiro com substrato não apresentou a mesma característica, pois absorção de água constatou-se o processo de escoamento superficial da água, sem captação, visto que o sistema não utiliza calhas e sim tubos coletores de fundo. Observou-se, portanto, um retardo no umedecimento completo do solo devido à criação de caminho preferenciais. Avaliou-se também a capacidade de infiltração do solo através da adição de diferentes volumes de água no período de uma semana sem chuva. Foram adicionados 40, 35, 30, 25, 20 e 15 litros d’água com intervalo de um dia entre cada análise sempre no período da manhã. Os resultados apresentados na Figura 6 mostraram que volumes maiores de água em canteiros com plantas medicinais originam taxas de retenção maiores, pois minimizam os efeitos do escoamento superficial e os processos erosivos. Adicionalmente, a absorção de parte da água pela estrutura da planta, ou seja, folhas e raízes (RADOMSKI, 2008) no período noturno favoreceu o aumento da taxa de retenção no dia subsequente colaborando com a melhor drenagem do solo. Semioses | Rio de Janeiro | v. 9 | n. 2 | p. 48-58 | jul./dez. 2015 55 TELHADO VERDE DE BAIXO INVESTIMENTO COMPOSTO POR PLANTAS MEDICINAIS E AROMÁTICAS Figura 6: Taxa de Retenção de água versus volume adicionado Fonte: Os autores. A taxa de retenção do solo sem matrizes quando avaliada em grandes volumes adicionados se apresentou ligeiramente menor. A velocidade com que a água permeou o solo foi lenta, de modo que se observou a tendência à formação de caminhos preferenciais e, principalmente, de escoamento superficial (55%). Para volumes menores, o escoamento superficial reduziu para até (42%), provavelmente devido ao processo de compactação do solo úmido. Os sistemas contendo matrizes de plantas medicinais e aromáticas (Manjericão e Hortelã) melhoraram a capacidade de retenção de água, pois aumentaram a permeabilidade do solo e favoreceram uma distribuição mais homogênea da água no substrato, potencializando a captação. Nesse aspecto, o escoamento superficial representou no máximo 26% do volume total adicionado. 6 CONCLUSÃO Este estudo verificou o emprego dos telhados verdes sob a ótica dos seguintes aspectos: resistências das matrizes verdes, conforto térmico e a atenuação do escoamento da água da chuva. Do ponto de vista da resistência das matrizes verdes, o manjericão e a hortelã se destacaram em relação às outras espécies avaliadas, pois foi observado que sem a ciclagem de nutrientes e os poucos cuidados de poda e com a rega, apenas essas espécies, com características reprodutivas pelos caules, resistiram e puderam ser avaliadas. Em relação ao conforto térmico ambiental, o estudo permite concluir que as plantas cumprem um papel importante de filtros solares, principalmente, pelo efeito de sombreamento e o pelo poder de absorção de energia luminosa das plantas. Isso explica o efeito de atenuação da temperatura devido à aplicação de telhados verdes compostos por plantas medicinais e aromáticas associado à dissipação de calor pelo substrato. O substrato foi responsável por aproximadamente 60% da diminuição de temperatura no interior do módulo. 56 Semioses | Rio de Janeiro | v. 9 | n. 2 | p. 48-58 | jul./dez. 2015 Rodrigo Otavio Lopes de Souza, Maria Luzia Soares Sampaio Ferreira e Carlos Alexandre Bastos de Vasconcellos Quanto à atenuação do escoamento da água da chuva, os sistemas contendo matrizes de plantas medicinais e aromáticas (manjericão e hortelã) melhoraram a capacidade de retenção de água, pois aumentaram a permeabilidade do solo e favoreceram uma distribuição mais homogênea da água no substrato. Portanto, este trabalho aponta para uma solução sustentável de baixo investimento e manutenção simples que permite melhorar as condições gerais de conforto térmico e fluxo excessivo de águas pluviais nas edificações de baixa renda. 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