TELHADO VERDE DE BAIXO INVESTIMENTO COMPOSTO POR

Propaganda
http://dx.doi.org/10.15202/1981996X.2015v9n2p48
TELHADO VERDE DE BAIXO INVESTIMENTO COMPOSTO
POR PLANTAS MEDICINAIS E AROMÁTICAS
Rodrigo Otavio Lopes de Souza
Pós-doutor em Ciências pelo Institut de Recherches sur la catalyse et l’environnement de Lyon (IRCELYON), Lyon, França
Maria Luzia Soares Sampaio Ferreira
Mestre em Desenvolvimento Local pelo Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM), Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Carlos Alexandre Bastos de Vasconcellos
Pós-doutor em Ciências pela Universidade de Coimbra (UC), Coimbra, Portugal
Docente no Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM), Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Docente no Instituto Militar de Engenharia (IME), Rio de Janeiro, RJ, Brasil
RESUMO
A utilização de telhados verdes tem se apresentado como uma solução cada vez mais interessante
para minimização dos impactos provocados pelas ilhas de calor sentidas e observadas nas
áreas urbanas. Este estudo se propôs a investigar a ação dos telhados verdes compostos por
plantas medicinais e aromáticas apresentando como parâmetro avaliativo o conforto térmico e
a captação de águas pluviais. Um sistema experimental de baixo custo permitiu a análise do fluxo
de absorção de águas pluviais, a redução da temperatura interna do ambiente e a resistência
de plantas medicinais mais adequadas aos telhados ecológicos. Avaliaram-se oito espécies de
plantas medicinais e aromáticas, sendo que apenas a hortelã e o manjericão apresentaram alta
resistência às condições climáticas e pluviométricas severas da região estudada. Com relação
ao conforto térmico, observou-se uma queda de até 5ºC na temperatura interna dos ambientes
simulados e o aumento da taxa de absorção de água. Os resultados apontam para a possibilidade
de desenvolvimento de soluções sustentáveis, de baixo investimento e de manutenção simples,
com vistas à melhoria das condições gerais de conforto térmico e diminuição do fluxo excessivo
de águas pluviais nas edificações de baixa renda.
Palavras-chave: Telhados verdes. Plantas medicinais e aromáticas. Agricultura urbana. Conforto
térmico. Captação de águas pluviais.
GREEN ROOF LOW COST COMPOSITE BY
MEDICAL AND AROMATIC PLANTS
ABSTRACT
The use of green roofs has emerged as an increasingly attractive solution for minimizing the
impacts of heat islands felt and observed in urban areas. This study aimed to investigate the effect
of green roofs composed of medicinal and aromatic plants presenting as evaluative parameter
the thermal comfort and rainwater harvesting. A low cost experimental system allowed the
analysis of the flow of absorption of rainwater, the reduction of the internal temperature and
resistance of more appropriate medicinal plants to green roofs. It evaluated eight species of
medicinal and aromatic plants, with only mint and basil showed high resistance to weather
48
Semioses
|
Rio de Janeiro
|
v. 9
|
n. 2
|
p. 48-58
|
jul./dez. 2015
Rodrigo Otavio Lopes de Souza, Maria Luzia Soares Sampaio Ferreira e
Carlos Alexandre Bastos de Vasconcellos
conditions and severe rainfall of the studied region. The thermal comfort presented a decrease
maximum of 5°C in the internal temperature of the simulated environments and increased rate
of water absorption. The results point to the possibility of developing sustainable solutions, low
cost and low maintenance with a view to improving the general conditions of thermal comfort
and reduction of excessive flow of rainwater in low-income buildings.
Keywords: Green roofs. Medicinal and aromatic plants. Urban agriculture. Thermal comfort.
Rainwater harvesting.
1 INTRODUÇÃO
O aumento da temperatura média global nos últimos anos tem sido discutido com
freqüência pelos diferentes seguimentos da academia e da sociedade civil. As possíveis causas
para o aquecimento global podem estar relacionadas ao aumento da densidade populacional
mundial nos centros urbanos, a queima de combustíveis fósseis que causam o aumento excessivo
de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, o desmatamento indiscriminado e, principalmente
a emissão de gases poluentes. Este aquecimento tem provocado modificações significativas na
estrutura do planeta, podendo ser evidenciado no derretimento das geleiras, nos ciclos das marés
e na alteração das condições climáticas em todo o mundo (NOBRE; SAMPAIO; SALAZAR, 2008).
No Brasil, em particular, a ocupação desordenada nos morros próximos aos centros
urbanos tem ocasionado enchentes e deslizamentos, devido, não só à diminuição significativa
de espaços verdes (desmatamento) que favorecem a diminuição da absorção das águas pelo
solo, como também o assoreamento dos rios.
Paralelamente, os prédios construídos mais recentemente apresentam um aumento
nos incentivos às instalações certificadas, que requerem de maneira geral, a implementação
de coberturas ecológicas, pois o comprovado efeito destas coberturas no microclima e a
possibilidade de melhora no desempenho térmico das edificações representam uma solução
simples e de baixo custo para diversos problemas atuais.
O telhado verde ou cobertura verde pode ser caracterizado como toda cobertura
impermeabilizada, laje ou telhado, que agrega em sua parte superior, uma camada de solo ou
substrato e outra de vegetação (ARAUJO, 2007; MORAIS, 2004). Também conhecidos como:
biocoberturas, eco telhados, green roofs, telhados vivos ou simplesmente cobertura vegetal
sobre telhados convencionais, essas estruturas são dimensionadas para suportar as vegetações.
Laar (2001) classificou essas coberturas segundo o tipo de vegetação utilizada como:
intensivas, quando se utilizam plantas de médio e grande porte, formando camadas de solo
maiores que 20 cm e gerando sobrecargas na estrutura entre 700 e 1200 kg/m2; ou extensivas
(Coberturas Verdes Leves - CVL), quando se utilizam pequenas plantas com camada mais fina de
solo, com espessura entre 5 e 12 cm e produzindo sobre a estrutura uma carga média equivalente
a 100 kg/m² .
Além disso, segundo Nascimento e Schmidt (2008), um telhado verde pode também
ser classificado quanto à distribuição das plantas na cobertura como: contínua, quando a
vegetação é depositada diretamente sobre a superfície; módulos pré-elaborados, quando placas
independentes são depositadas sobre a superfície e; aéreas, quando os ramos se espalham por
uma armação.
Semioses
|
Rio de Janeiro
|
v. 9
|
n. 2
|
p. 48-58
|
jul./dez. 2015
49
TELHADO VERDE DE BAIXO INVESTIMENTO COMPOSTO POR PLANTAS MEDICINAIS E AROMÁTICAS
Nesse contexto, este trabalho se propõe a verificar a viabilidade de aplicação dos telhados
verdes extensivos contínuos (CVL) compostos por plantas medicinais e aromáticas nas coberturas
de lajes em áreas urbanas, visando o aumento do conforto térmico e a atenuação do escoamento
excessivo da água da chuva.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
Para alcançar os objetivos deste trabalho, utilizou-se uma técnica de bioengenharia que
consiste na aplicação e uso de vegetação sobre lajes previamente impermeabilizadas, além de
um sistema de drenagem adequado, com aplicação de mantas para filtração da água e uma
camada de substratos de forma a promover o desenvolvimento das espécies plantadas.
Um sistema simplificado já proposto por outro autor (CUNHA, 2004) revela a composição
da cobertura verde, que serve para captação de água de chuvas e avaliação do conforto térmico.
Nele, constam os seguintes níveis: a laje, a camada impermeabilizante, a camada drenante, a
camada filtrante, o solo e a vegetação, como apresentados na figura 1.
Esse estudo foi subdividido em três etapas distintas e inter-relacionadas, a saber:
a) 1ª etapa: estudo da resistência das plantas medicinais e aromáticas às intempéries, sem
manutenção;
b) 2ª etapa: estudo do conforto térmico no interior de um simulador; e
c) 3ª etapa: estudo da capacidade de absorção das plantas no sistema proposto.
Figura 1: Esquema do canteiro do telhado verde
Fonte: (FORTE; MARCONDES, 2009).
Na 1ª etapa, em uma laje com área de aproximadamente 25,0 m², sem nenhum tratamento,
localizada em uma construção no bairro de Bonsucesso, zona norte do município do Rio de
Janeiro foram construídos dois canteiros, com área de 2,0 m², cada. Em cada um dos canteiros
foi aplicada, manualmente, uma camada composta por cimento e um produto comercial para
impermeabilização de superfícies. Em seguida, foram sobrepostos seguindo o esquema da Figura
1, os agregados, uma manta filtrante (camada drenante) e por fim 5 cm de substrato composto
por terra preta, calcário e húmus. Esses canteiros tiveram como objetivo principal o estudo do
cultivo e sobrevivência de oito espécies de plantas medicinais e aromáticas, a fim de selecionar
as espécies que melhor resistissem ao ambiente estudado. A escolha das espécies baseou-se na
cultura e na popularidade das plantas medicinais e aromáticas mais utilizadas no Brasil, a saber:
50
Semioses
|
Rio de Janeiro
|
v. 9
|
n. 2
|
p. 48-58
|
jul./dez. 2015
Rodrigo Otavio Lopes de Souza, Maria Luzia Soares Sampaio Ferreira e
Carlos Alexandre Bastos de Vasconcellos
alecrim (Rosmarinums officinalis); coentro (Coriandrum sativum); hortelã (Mentha piperita);
manjericão (Ocimum basilicum); poejo (Mentha pulegium L.); orégano (Origanum vulgaris);
saião (Kalanchoe brasiliensis Cambess) e salsa (Petroselinum crispum). Os resultados do estudo
sobre a resistência das plantas medicinais e aromáticas à falta de manutenção (adubação, poda
e rega) foram coletados no período de julho de 2011 a fevereiro de 2012.
Na 2ª etapa, um protótipo em escala reduzida foi construído na cobertura do prédio
do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Local da UNISUAM (PPGDL-UNISUAM).
O protótipo foi montado em área aberta e sem sombra durante todo o dia permanecendo
suscetível às intempéries e outros fenômenos meteorológicos. Ele é composto por 4 módulos de
20 cm (largura) x 30 cm (comprimento) x 40 cm (altura), agrupados sem espaçamento simulando
a realidade das comunidades carentes. Para as paredes foram utilizados dois tipos de tijolos
cerâmicos furados (29 cm x 19 cm x 9 cm e 20 cm x 20 cm x 9 cm) sem revestimento interno ou
externo. A laje de concreto armado foi produzida com espessura de 3 cm, cobrindo uma área
de aproximadamente 1500 cm2. Na armadura foi utilizado aço CA-50 com diâmetro de 4,8 mm
(3/16²), com 15 cm de espaçamento.
Os quatro módulos foram analisados separadamente: modelo sem telhado verde (laje
livre); modelo somente com o substrato; e modelos compostos por substratos e duas plantas
medicinais e aromáticas (manjericão e hortelã) selecionadas após a etapa anterior. A disposição
dos módulos do protótipo pode ser observada na Figura 2. As medidas foram realizadas todas
as segundas, quartas e sextas-feiras utilizando termômetros de mercúrio acoplados no sistema.
Estes dispositivos foram posicionados de forma centralizada no interior do simulador permitindo
a leitura dos dados durante todo o período de análise (janeiro a julho de 2013).
Figura 2: Posicionamento dos módulos no simulador.
Fonte: Os autores.
Na 3ª etapa, um sistema contendo uma caixa d’água de 150 litros e reservatórios coletores
de 30 litros com tampa, além de tubos e conexões, permitiu a construção de um sistema simples
Semioses
|
Rio de Janeiro
|
v. 9
|
n. 2
|
p. 48-58
|
jul./dez. 2015
51
TELHADO VERDE DE BAIXO INVESTIMENTO COMPOSTO POR PLANTAS MEDICINAIS E AROMÁTICAS
para produzir chuva artificial. Para este simulador de águas pluviais, a caixa d’água recebeu um
dosímetro que possibilita a aferição e controle dos volumes de água lançados nos canteiros
supracitados sob o efeito gravitacional de forma que a análise da absorção de água possa ser
processada. Dois sistemas de captação foram implantados: o primeiro na parte inferior do meio
filtrante do canteiro (coleta de água permeada) e um sistema de calhas nas bordas dos canteiros
(coleta de água superficial).
3 RESULTADOS DOS ENSAIOS DE RESISTÊNCIA
Este etapa envolveu o plantio de oito matrizes. Esta análise foi realizada em um período
total de 45 dias, com incidência de chuvas esparsas e, somente a hortelã e o manjericão
sobreviveram à falta de rega, adubação e poda.
A matriz do alecrim que necessita de solo arenoso, pouco ácido, rico em matéria orgânica,
drenado ou permeável e com projeção a pleno sol para alcançar a fase adulta e se tornar um
arbusto de ciclo de vida longo não resistiu aos quarenta e cinco dias. Este fato pode ser explicado
pela região em que foi plantada a matriz, uma área de sol parcial que contribuiu para o seu baixo
desenvolvimento, associado a baixa umidade.
A matriz da salsa, que demanda pouca rega e sol moderado recebeu sol com intensidade
acentuada em alguns períodos e também não resistiu, no entanto, o principal agravante nesta
espécie foi a falta de poda no momento certo para auxiliar no enraizamento, e na formação de
novas mudas.
Estas informações corroboram os resultados observados por Borsato e outros (2010),
que apontaram o desenvolvimento das plantas aromáticas e medicinais, a partir das demandas
nutricionais e cuidados requeridos por cada espécie. A partir dessa análise, observa-se que sem
a ciclagem de nutrientes e os cuidados de poda e rega apenas a Hortelã e o Manjericão que são
duas espécies herbáceas com características reprodutivas pelos caules e necessitam de pouco
água resistiram e puderam ser avaliadas.
4 RESULTADOS DOS ENSAIOS DE CONFORTO TÉRMICO
A partir dos ensaios realizados no simulador do telhado verde construído na cobertura
do prédio do Mestrado da UNISUAM, no bairro de Bonsucesso, na zona norte do município do
Rio de Janeiro foi possível avaliar a variação de temperatura no interior do simulador devido à
utilização de diferentes tipos de coberturas verdes compostas ou não por plantas medicinais e
aromáticas, definidas previamente através dos testes de resistência.
Os dados do perfil de um dia inteiro de medidas no simulador analisando a influência dos
diferentes telhados verdes (ver Figura 3), tomados a cada 15 minutos, fornecem os resultados
preliminares sobre este estudo. Observa-se que no horário de maior temperatura, o interior das
edificações com telhado verde apresentou uma temperatura até 4ºC menor que a externa no
mesmo momento.
52
Semioses
|
Rio de Janeiro
|
v. 9
|
n. 2
|
p. 48-58
|
jul./dez. 2015
Rodrigo Otavio Lopes de Souza, Maria Luzia Soares Sampaio Ferreira e
Carlos Alexandre Bastos de Vasconcellos
Figura 3: Perfil da variação da temperatura durante o dia 26 de junho de 2013
Fonte: Os autores.
A partir dos dados obtidos nas diferentes datas (dias), a média de temperaturas observadas
nos períodos da manhã (8h a 11h), final da manhã e início da tarde (11h a 14h) e da tarde (14h a
17h) foi observada a temperatura máxima de cada dia, para cada tipo de cobertura, bem como a
temperatura externa máxima. Na Figura 4 podem-se observar os dados obtidos de temperatura
máxima diária do mês de junho de 2013 para cada cobertura analisada. A incerteza instrumental
associada àquela devido à leitura do termômetro corresponde a, aproximadamente, 1ºC para
mais ou para menos no valor de cada medida.
Figura 4: Temperaturas internas máximas no simulador no mês de junho de 2013
Fonte: Os autores.
Semioses
|
Rio de Janeiro
|
v. 9
|
n. 2
|
p. 48-58
|
jul./dez. 2015
53
TELHADO VERDE DE BAIXO INVESTIMENTO COMPOSTO POR PLANTAS MEDICINAIS E AROMÁTICAS
A atenuação da temperatura devido à aplicação de telhados verdes compostos por plantas
medicinais e aromáticas pode ser explicada pelo efeito do sombreamento promovido pelas folhas
associado à dissipação de calor pelo substrato. O substrato foi responsável por aproximadamente
60% da diminuição de temperatura no interior do módulo, enquanto o restante encontra-se
associado à planta. Resultados anteriores mostraram que o efeito do espaçamento entre
plantas favorece a refletância (SILVA, 2011). Nesse estudo, a alta densidade no plantio, portanto,
favoreceu um maior efeito de sombreamento e conseqüentemente, a diminuição da irradiação
solar direta, com a contribuição da evapotranspiração.
Segundo Lambert, Dutra e Pereira (2004), o solo ou substrato possui a capacidade de
armazenar calor favorecendo processos evaporativos e diminuindo as temperaturas internas.
Ao mesmo tempo, o mecanismo regulador de temperatura das plantas age extraindo o calor
do ambiente para reaproveitá-lo no processo de fotossíntese ou mesmo no processo de
evapotranspiração das folhas que resfriam sua superfície e o ar adjacente, devido às trocas de
calor (FERREIRA, 2007; ALVAREZ, 2004). Portanto, o efeito observado nas lajes com substrato
e na laje simples pode ser diferenciado pela ação da umidade relativa do ar que é acentuada
pelo período noturno. O aumento da umidade do solo tanto na parte da manhã quanto no
entardecer favorece aos processos evaporativos que mantém as temperaturas mais baixas no
interior do simulador.
Adicionalmente, os resultados apontaram que em dias mais quentes, sinalizados
pela temperatura máxima superior a 30ºC, as variações de temperaturas (diferença entre a
temperatura externa e interna) são maiores. Nesses dias a variação alcançou até 7ºC. Entretanto,
o mecanismo biológico das plantas avaliadas (hortelã e manjericão) não apresentou diferença
significativa quanto ao seu poder de absorção de energia luminosa.
De maneira geral, pode-se concluir que as plantas cumprem um papel importante de
filtros solares, principalmente, pelo efeito de sombreamento e que o poder de absorção de
energia luminosa das plantas está associado, principalmente, a dois fenômenos distintos: a
ação do sombreamento que mantém o solo mais úmido reduzindo a velocidade dos processos
evaporativos e do mecanismo de fotossíntese da planta medicinal e aromática que consegue
capturar boa parte da energia recebida.
5 CAPTAÇÃO DE ÁGUA DA CHUVA
Os resultados observados nesse ensaio de avaliação da captação de água de chuva, em
canteiros localizados em um local de clima tropical úmido, foram realizados em período com
chuvas freqüentes e de grande intensidade. Assim, os volumes de água recebidos pelo sistema
simulador eram muito maiores do que a capacidade do reservatório permitia.
A partir desta constatação, os ensaios utilizando o processo de precipitação artificial foram
aplicados com o objetivo de se observar a sucessiva capacidade do sistema em reter líquidos.
Os canteiros contendo manjericão, hortelã ou apenas substrato, inicialmente com o solo
seco foram avaliados. Nessa simulação, o volume inicial adicionado em cada canteiro foi de 20
litros d’água no sistema de gotejamento ao longo de todo canteiro de forma homogênea. Com
um intervalo de 30 minutos entre cada nova adição, realizaram-se adições ainda com o solo
úmido. Este processo se repetiu mais 10 vezes. O objetivo dessa etapa foi avaliar a variação
54
Semioses
|
Rio de Janeiro
|
v. 9
|
n. 2
|
p. 48-58
|
jul./dez. 2015
Rodrigo Otavio Lopes de Souza, Maria Luzia Soares Sampaio Ferreira e
Carlos Alexandre Bastos de Vasconcellos
na taxa de retenção de água devido ao nível de umidade do solo (úmido ou seco), conforme
mostrado na Figura 5. A taxa de retenção de água foi calculada através da seguinte relação:
 Va − Vsub − Vsup 
TR
= 100 × 
 ,
Va


Onde TR é a taxa de retenção de água (%); Va é o volume total adicionado; Vsub é o volume
de água subsuperficial coletado e Vsup é o volume de água superficial coletado.
Figura 5: Taxa de Retenção de água (%) à Volume constante
Fonte: Os autores.
O primeiro ponto na curva representa o solo seco, portanto, os poros do substrato estão
completamente livres para a absorção de água. A maior taxa de retenção se deve ao preenchimento
inicial do volume poroso pela água. A absorção continuada cessa quando observada a presença
de um patamar que para o telhado verde composto por plantas medicinais equivale a adição
de 80 litros de água. O canteiro com substrato não apresentou a mesma característica, pois
absorção de água constatou-se o processo de escoamento superficial da água, sem captação,
visto que o sistema não utiliza calhas e sim tubos coletores de fundo. Observou-se, portanto, um
retardo no umedecimento completo do solo devido à criação de caminho preferenciais.
Avaliou-se também a capacidade de infiltração do solo através da adição de diferentes
volumes de água no período de uma semana sem chuva. Foram adicionados 40, 35, 30, 25, 20
e 15 litros d’água com intervalo de um dia entre cada análise sempre no período da manhã. Os
resultados apresentados na Figura 6 mostraram que volumes maiores de água em canteiros com
plantas medicinais originam taxas de retenção maiores, pois minimizam os efeitos do escoamento
superficial e os processos erosivos. Adicionalmente, a absorção de parte da água pela estrutura
da planta, ou seja, folhas e raízes (RADOMSKI, 2008) no período noturno favoreceu o aumento
da taxa de retenção no dia subsequente colaborando com a melhor drenagem do solo.
Semioses
|
Rio de Janeiro
|
v. 9
|
n. 2
|
p. 48-58
|
jul./dez. 2015
55
TELHADO VERDE DE BAIXO INVESTIMENTO COMPOSTO POR PLANTAS MEDICINAIS E AROMÁTICAS
Figura 6: Taxa de Retenção de água versus volume adicionado
Fonte: Os autores.
A taxa de retenção do solo sem matrizes quando avaliada em grandes volumes adicionados
se apresentou ligeiramente menor. A velocidade com que a água permeou o solo foi lenta, de
modo que se observou a tendência à formação de caminhos preferenciais e, principalmente,
de escoamento superficial (55%). Para volumes menores, o escoamento superficial reduziu
para até (42%), provavelmente devido ao processo de compactação do solo úmido. Os sistemas
contendo matrizes de plantas medicinais e aromáticas (Manjericão e Hortelã) melhoraram a
capacidade de retenção de água, pois aumentaram a permeabilidade do solo e favoreceram uma
distribuição mais homogênea da água no substrato, potencializando a captação. Nesse aspecto,
o escoamento superficial representou no máximo 26% do volume total adicionado.
6 CONCLUSÃO
Este estudo verificou o emprego dos telhados verdes sob a ótica dos seguintes
aspectos: resistências das matrizes verdes, conforto térmico e a atenuação do escoamento
da água da chuva.
Do ponto de vista da resistência das matrizes verdes, o manjericão e a hortelã se destacaram
em relação às outras espécies avaliadas, pois foi observado que sem a ciclagem de nutrientes e os
poucos cuidados de poda e com a rega, apenas essas espécies, com características reprodutivas
pelos caules, resistiram e puderam ser avaliadas.
Em relação ao conforto térmico ambiental, o estudo permite concluir que as plantas
cumprem um papel importante de filtros solares, principalmente, pelo efeito de sombreamento
e o pelo poder de absorção de energia luminosa das plantas. Isso explica o efeito de atenuação
da temperatura devido à aplicação de telhados verdes compostos por plantas medicinais
e aromáticas associado à dissipação de calor pelo substrato. O substrato foi responsável por
aproximadamente 60% da diminuição de temperatura no interior do módulo.
56
Semioses
|
Rio de Janeiro
|
v. 9
|
n. 2
|
p. 48-58
|
jul./dez. 2015
Rodrigo Otavio Lopes de Souza, Maria Luzia Soares Sampaio Ferreira e
Carlos Alexandre Bastos de Vasconcellos
Quanto à atenuação do escoamento da água da chuva, os sistemas contendo matrizes de
plantas medicinais e aromáticas (manjericão e hortelã) melhoraram a capacidade de retenção
de água, pois aumentaram a permeabilidade do solo e favoreceram uma distribuição mais
homogênea da água no substrato.
Portanto, este trabalho aponta para uma solução sustentável de baixo investimento e
manutenção simples que permite melhorar as condições gerais de conforto térmico e fluxo
excessivo de águas pluviais nas edificações de baixa renda.
REFERÊNCIAS
ALVAREZ, I. A. Qualidade do espaço verde urbano: uma proposta de índice de avaliação. 2004.
187 f. Tese (Doutorado em Agronomia) – Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2004.
ARAUJO, S. R. As funções dos telhados verdes no meio urbano, na gestão e no planejamento
de recursos hídricos. 2007. 27 f. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Engenharia
Florestal) – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 2007.
BORSATO, A., V. et al. Resumos das palestras apresentadas no II curso de plantas medicinais,
aromáticas e condimentares de Corumbá, MS. EMBRAPA: Corumbá, 2010. Disponível em:
<http://www.cpap.embrapa.br/publicacoes/online/DOC109.pdf>. Acesso em: 4 mar. 2013.
CUNHA, P. S. R. A. Experimento hidrológico para aproveitamento de águas de chuva usando
coberturas verdes leves. São Carlos: [s.n.], 2004.
FERREIRA, M. F. Teto verde: o uso de coberturas vegetais em edificações. Rio de Janeiro: PUCRIO, 2007.
FORTE, F; MARCONDES, F. R. Esquema de construção de telhado. São Paulo: [s.n.], 2011.
Disponível em: <www.fgmf.com.br>. Acesso em: 20 set. 2011.
LAAR M. Estudo de aplicação de plantas em telhados vivos extensivos em cidades de clima
tropical. In: ENCONTRO NACIONAL DE CONFORTO EM AMBIENTE CONSTRUÍDO, 6., 2001, São
Paulo. Anais... São Paulo: [s.n], 2001. p. 1-7.
LAMBERT, R.; DUTRA, L.; PEREIRA, F. O. R. Eficiência energética na arquitetura. 2. ed. São
Paulo: Pro Livros, 2004.
MORAIS. C. S. Desempenho térmico de coberturas vegetais em edificações na cidade de São
Carlos/SP. 2004. 107 f. Dissertação (Mestrado em Construção Civil) – Universidade Federal de
São Carlos, São Carlos, 2004.
Semioses
|
Rio de Janeiro
|
v. 9
|
n. 2
|
p. 48-58
|
jul./dez. 2015
57
TELHADO VERDE DE BAIXO INVESTIMENTO COMPOSTO POR PLANTAS MEDICINAIS E AROMÁTICAS
NASCIMENTO, W. C; SCHMIDT, A. L. Coberturas verdes na região metropolitana de Curitiba:
barreiras e potencial de estabelecimento na visão dos profissionais da construção civil. In:
ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 12., 2008, Curitiba.
Anais... Curitiba: [s.n.], 2008. p. 1-10.
NOBRE, C. A.; SAMPAIO, G.; SALAZAR, L. Cenários de mudança climática para a América do Sul
para o final do século 21. Revista Parceria Estratégica, Brasília, DF, n. 27, p. 19-42, 2008.
RADOMSKI, M. I. Trabalhador no cultivo de plantas medicinais: plantas medicinais,
aromáticas e condimentares. Curitiba: SENAR, 2008.
SILVA, N. C. Telhado verde: sistema construtivo de maior eficiência e menor impacto ambiental.
2011. 62 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Construção Civil) – Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011.
Recebido em: 4 mar. 2016.
Aprovado em: 6 abr. 2016.
58
Semioses
|
Rio de Janeiro
|
v. 9
|
n. 2
|
p. 48-58
|
jul./dez. 2015
Download