NOTA CIENTÍFICA Substratos para Aclimatização de Plantas Micropropagadas de Mentha viridis L. Cláudia Simone Madruga Lima1, Juliana de Magalhães Bandeira2,, Sílvia Rubin2, Márcia Vaz Ribeiro2, Paula Moraes de Figueiredo3, José Antonio Peters4 e Eugenia Jacira Bolacel Braga4 Introdução Material e métodos A Mentha viridis é uma planta muito utilizada na medicina popular, pois possui propriedades antiespasmóticas, diurética, carminativas e estomáquicas [1,2]. Também é utilizada na indústria para extração dos óleos, rico em monoterpenos, com propriedades cosméticas, farmacêuticas, culinárias, além de servir para fabricação de licores [3]. Deste modo, devido a importância dessa planta, a aplicação de técnicas de micropropagação, torna-se relevante, para obtenção de plantas de alta qualidade fitossanitária e genética. Uma etapa crítica da micropropagação é a aclimatização, devido à dificuldade de transferir com sucesso plantas da condição in vitro para a casa de vegetação e posteriormente para o campo [4]. Durante a micropropagação as plantas são mantidas em um ambiente totalmente controlado, ao serem transferidas para condições naturais e, por ser uma mudança brusca, isto deve ocorrer paulatinamente, pois as plantas não estão adaptadas ao novo ambiente [5]. Outro fator importante na aclimatização de mudas é o substrato [6], devendo apresentar boa coesão entre as partículas e adequada aderência junto às raízes [7]. Desta forma, a seleção do substrato é fundamental no crescimento e desenvolvimento das plantas micropropagadas, influenciando diretamente no sucesso da aclimatização. Tendo em vista a diversidade dos substratos e de suas características, torna-se difícil escolher o substrato ou a mistura, que atenda as condições para o ótimo crescimento e desenvolvimento das plantas na aclimatização [5]. A vermicompostagem é uma alternativa interessante para a agricultura, pois permite o enriquecimento da matéria orgânica, aumentando a disponibilização de nutrientes, de forma economicamente viável e ambientalmente sustentável [8]. Entretanto, dificilmente encontram-se um vermicomposto que atenda sozinho todas as necessidades das plantas. Para tanto são feitas misturas com condicionadores como casca de arroz carbonizada, que promovem a melhoria em uma ou mais propriedades do material original [9]. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de diferentes substratos durante a aclimatização, em casa de vegetação, de plantas de Mentha viridis oriundas da cultura de tecidos. Este experimento foi realizado no Laboratório de Cultura de Tecidos de Plantas, Departamento de Botânica, UFPel. Como material vegetal utilizou-se plantas micropropagadas de Mentha viridis. As plantas com 30 dias de subcultivo in vitro, mantidas em meio MS [10] foram retiradas dos frascos, lavadas em água corrente para remover os resíduos do meio de cultura aderidos às raízes e colocadas em bandejas plásticas com papéis-toalha umidecidos em água para evitar a desidratação das mesmas. Posteriormente, as plantas foram transferidas para bandejas alveoladas de isopor contendo 128 células e aclimatizadas em casa de vegetação. A aclimatização foi feita sob condições controladas, com sombreamento de 50%, temperatura de 25-30ºC e umidade relativa de aproximadamente 70%. Sobre as bandejas foi utilizado túnel baixo com filme plástico, promovendo um microclima com elevada umidade, assemelhando-se às condições do interior do recipiente de micropropagação. Durante a condução do experimento, as plantas foram irrigadas diariamente. Foram considerados como tratamentos os diferentes tipos de vermicompostos (bovino, búfalo, capivara, suíno), além de húmus fert® misturados com casca de arroz carbonizada (1:1). As análises foram realizadas após 40 dias de cultivo, sendo avaliados a média da altura das plantas, área foliar, comprimento da raiz principal, massa seca da parte aérea e sistema radicular, número médio de brotos, de entrenós e das folhas. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com 10 repetições, cada uma constituída de uma planta por célula. Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade de erro. Resultados e Discussão Para as variáveis área foliar e massa seca da parte aérea (Fig.1) observou-se diferença significativa entre os tratamentos, em que as plantas de Mentha viridis foram submetidas. Enquanto as demais variáveis analisadas não apresentaram diferença estatística. ________________ 1. Aluna da Faculdade de Agronomia - FAEM - Universidade Federal de Pelotas, Bolsista de Iniciação Científica - Laboratório de Cultura de Tecidos de Plantas - Departamento de Botânica, Instituto de Biologia da Universidade Federal de Pelotas. Capão do Leão, RS Caixa Postal 354, CEP 96010-900. E-mail: [email protected] 2. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Fisiologia Vegetal, Departamento de Botânica, Instituto de Biologia da Universidade Federal de Pelotas. 3. Aluna do Curso de Ciências Biológicas, Instituto de Biologia da Universidade Federal de Pelotas. 4. Professor Adjunto do Departamento de Botânica, Instituto de Biologia, Universidade Federal de Pelotas. Apoio financeiro: CAPES e FAPERGS. Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 672-674, jul. 2007 673 A área foliar média, dentre todas as outras variáveis consideradas, é tida como o fator de resposta mais importante durante a aclimatização, pois influencia diretamente no índice de sobrevivência a campo [11]. Para esta variável, houve diferença significativa, e as maiores médias foram obtidas com o substrato casca de arroz carbonizada e vermicomposto bovino (Fig.1), corroborando com os dados obtidos por Almeida et al.[12] e Ricci et al. [13], que observaram melhores respostas com vermicomposto bovino, por este apresentar teor elevado de matéria orgânica. A combinação com casca de arroz carbonizada e vermicomposto de búfalo foi a que proporcionou melhor resultado quanto à massa seca da parte aérea (Fig.1), diferindo estatisticamente dos demais tratamentos. Essas informações contestam os dados obtidos por Werritonn et al. [14] que alcançou maiores médias com húmus fert® , por este ser comercial apresenta sua constiuição corretamente formulada. Para as variáveis número de folhas e entrenós (Fig. 2) as maiores médias foram obtidas com o substrato a base de casca de arroz e vermicomposto de búfalo, apesar de não apresentar diferença estatística em relação aos demais tratamentos. Hartmann et al. [15] mencionam que os principais efeitos dos substratos se manifestam sobre as raízes, podendo acarretar algumas influências sobre o crescimento da parte aérea. O fato da maior massa seca da parte aérea (Fig. 3) ter sido obtida com o vermicomposto de búfalo pode ser justificado pela maior produção de folhas e entrenós. Porém, conforme Costa [16], o número de folhas nem sempre é um critério adequado para se estimar o crescimento vegetal, podendo ser muito variável em relação à idade da planta. Por sua vez, a área foliar revela a capacidade fotossintética, demonstrando o vigor da planta e sua capacidade de sobrevivência a campo [8]. Com base nos resultados obtidos, conclui-se que, substratos combinados com casca de arroz carbonizada, na proporção 1:1, e vermicompostos oriundos de dejetos de ruminantes (bovino e búfalo), são mais adequados para a aclimatização de Mentha viridis. Enfatizando o aproveitamento de resíduos da pecuária e agroindústria, a utilização destes substratos, representa uma possível solução de problemas econômicos, sociais e ambientais [17]. Agradecimentos À Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel (FAEM), ao Departamento de Solos, em especial, à Professora Tânia Beatriz Gamboa Araújo Morcelli, funcionários e seus orientados por terem cedido gentilmente os vermicompostos para a realização deste experimento. Referências Técnico de Hortaliças No 34. UFLA, Departamento de Agricultura, 1ª ed. . [2] COOK, W.M.H. 1869 [Online]. 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Número médio de folhas (A) e entrenós (B) obtidos de plantas de Mentha viridis após 30 dias de aclimatização nos diferentes tipos de substratos. As médias foram comparadas estatisticamente pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade de erro. Letras maiúsculas comparam os diferentes tipos de substratos. A C B D E Figura 3. Plantas de Mentha viridis após 30 dias de aclimatização nos diferentes substratos misturados com casca de arroz carbonizada (1:1): Húmus de bovino (A), de búfalo (B), capivara (C), suíno (D) e Húmus Fert® (E). Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 672-674, jul. 2007