O Futuro do Tratamento do Câncer de Pâncreas Veículo: Onco News

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Título: O Futuro do Tratamento do Câncer de Pâncreas
Veículo: Onco News - localidade: Não disponível - ND - Publicação: 10/05/2017
Editoria: Notícias - Página: On-Line
Centimetragem: 212 cm - - Retorno de mídia: R$ 9328,00
O futuro do tratamento do câncer de pâncreas é tema do artigo do cirurgião Felipe Coimbra (foto) e colegas do
Departamento de Cirurgia Abdominal do A.C.Camargo Cancer Center. O tema concentrou as atenções do Módulo
Gastrointestinal Alto no Next Frontiers to Cure Cancer, evento que aconteceu entre os dias 20 e 22 de abril, em São
Paulo.
*Por Felipe Coimbra
O adenocarcinoma de pâncreas se caracteriza por ser uma neoplasia extremamente agressiva, e apesar dos
avanços no diagnóstico, no tratamento cirúrgico e no tratamento sistêmico, permanece como a única neoplasia, entre
as mais incidentes, com sobrevida global em 5 anos de apenas 1 dígito, o que a torna uma prioridade para novas
pesquisas e descobertas terapêuticas.
O Next Frontiers to Cure Cancer, através do Módulo Gastrointestinal Alto, concentrou sua programação nesta doença
desafiadora, abordando as fronteiras em relação à sua
epidemiologia, aspectos moleculares da sua carcinogênese, assinatura genética, avanços no diagnóstico, tendências
do tratamento cirúrgico, terapias neoadjuvantes, estado
de arte atual na doença metastática, novas abordagens além da terapia citotóxica e perspectivas de ciência e pesquisa
para um tratamento personalizado.
Promovido pelo Departamento de Cirurgia Abdominal do A.C.Camargo Cancer Center, o painel contou com a
participação de especialistas de importantes instituições
nacionais, incluindo pesquisadores translacionais, epidemiologistas, radiologistas, patologistas, cirurgiões e
oncologistas clínicos, além da participação cirurgião Oliver
Strobel, pesquisador da Universidade de Heidelberg (Alemanha), um dos principais centros de tratamento e pesquisa
de câncer de pâncreas do mundo.
Epidemiologia
Atualmente, os dados epidemiológicos mundiais mostram que o adenocarcinoma de pâncreas representa a 4ª causa
de morte por câncer entre mulheres e a 5ª causa de morte
entre homens, comaproximadamente 270 mil novos casos por ano e 260 mil mortes relacionadas (Siegel R, Ma J, Zou
Z, Jemal A. Cancer statistics, 2014. CA Cancer J Clin
2014;64:9-29).
O cenário para o futuro próximo é extremamente preocupante. Através de projeções epidemiológicas, estima-se que
nos EUA o câncer de pâncreas se tornará a 2 ª causa de
mortes relacionadasao câncer durante a próxima década, ultrapassando as neoplasias colorretais, e ficando abaixo
apenas do câncer de pulmão .(Cancer Res; 74(11); 2913–
21. 2014 AACR).
Esta tendência sombria está relacionada principalmente ao seu comportamento agressivo, com alto potencial de
metástases, à falta de tratamentos eficazes, ao aumento da
incidência, aumento da longevidade e também pela ausência de evidência para screening populacional.
As taxas de incidência de ambos os sexos aumentam com a idade, sendo mais elevada a partir dos 70 anos. É
predominantemente uma doença de idosos, e quase 90% dos
casos são diagnosticados após a idade de 55 anos.
Screening e Prevenção
Não há nenhuma recomendação atual de screening populacional para o câncer de pâncreas. Entretanto, o screening é
recomedado para grupos de alto risco para este tumor,
como famílias com síndrome de pancreatite familiar, mutações de BRCA e síndrome de melanoma familial. Neste
contexto a prevenção é de fundamental importância.
Fatores de risco potencialmente modificáveis incluem tabagismo, obesidade, diabetes mellitus, dislipidemias, dieta rica
em carne vermelha e consumo de álcool. Até o
momento, a melhor estratégia preventiva contra o câncer de pâncreas é a redução de riscos, incluindo mudanças no
estilo de vida como cessação do tabagismo, manutenção
do peso saudável, dieta rica em frutas e legumes, exercícios regulares e evitar excesso de carne vermelha e ingestão
alcoólica.
Estimativas recentes sugerem que o tabagismo é o principal fator de risco externo associado ao câncer de pâncreas,
sendo que o controle do tabagismo oferece a melhor
estratégia disponível para reduzir a sua incidência. Estima-se que cerca de 11 a 32% dos cânceres pancreáticos
poderiam ser evitados através da prevenção do tabagismo .
(Maisonneuve e Lowenfels, International Journal of Epidemiology, 2015, Vol. 44, No. 1).
Em 2009, um estudo prospectivo multicêntrico europeumostrou que o risco é reduzido para os níveis de um
não-fumante após apenas cinco anos de cessação.
Microbiota e Câncer de Pâncreas
Dados recentes sugerem que a microbiota possa desempenhar um papel na carcinogênese do adenocarcinoma de
pâncreas.
Existem evidências crescentes que a infecção por Helicobacter pylori é um fator de risco para o câncer pancreático,
podendo estar relacionado entre 4% a 25% dos
casos (Maisonneuve e Lowenfels, International Journal of Epidemiology, 2015, Vol. 44, No. 1).
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A microbiota oral, especialmente a bactéria Porphyromonas gingivalis, relacionada a doença periodontal, também pode
ter um papel no desenvolvimento do câncer de
pâncreas. Alguns estudos apontam que hepatites virais crônicas também possam ser possíveis fatores etiológicos
(ArchToxicol ,2016, 90:2617–2642).
Entretanto ainda não existem diretrizes ou recomendações em relação a estas recentes evidências. Estudos futuros
com foco no microbioma humano como um marcador
etiológico de susceptibilidade à doença devem lançar maior clareza sobre novas abordagens de prevenção,
diagnóstico precoce e tratamento do câncer de pâncreas.
Fatores Genéticos
Fatores genéticos estão relacionados a aproximadamente 10% dos Adenocarcinomas de pâncreas (Landi 2009;
Raimondi et al. 2009).
Nos pacientes de alto risco para câncer de pâncreas, definidos como parentes de primeiro grau de pacientes com
câncer de pâncreas, pacientes com síndrome de PeutzJeghers,
síndrome de Lynch, pacientes portadores de mutações de p16 e BRCA2, pacientes com pancreatite familiar e
melanoma maligno familiar, a recomendação atual,
baseado em um Consórcio Internacional (CAPS – Cancer of the Pancreas Sccreening) é a realização de US
endoscópico e ou ressonância magnética do abdome em
intervalos regulares.
Uma ferramenta interessante, de acesso livre na internet é a “PancPRO”, que consiste em um programa de
computador que estima o risco de câncer pancreático para
indivíduos assintomáticos com base em um modelo epidemiológico e de susceptibilidade genética.
A quimioprevenção, com agentes como inibidores de COX , AAS , estatinas e metformina podem significar benefícios
para pessoas com risco de desenvolver câncer de
pâncreas , porém ainda precisa ser melhor estabelecido (ArchToxicol (2016) 90:2617–2642).
Terapias Neoadjuvantes e Cirurgia
Cirurgia radical é ainda considerada como a melhor opção para o tratamento potencialmente curativo e de
sobrevivência a longo prazo em pacientes com adenocarcinoma de
pâncreas. No entanto, apenas 20% dos pacientes têm critérios de doença ressecável.
Historicamente, o câncer de pâncreas era classificado basicamente a partir de 3 cenários: doença ressecável
(20%); doença localmente avançada (30%); e doença
metastática (50%) dos casos.
Um desenvolvimento promissor nos últimos anos tem sido a descrição de um subgrupo de pacientes com doença
localmente avançada, definidos como borderline para
ressecabilidade, e que correspondem a aproximadamente 10% dos casos.
Nos casos de adenocarcinoma localmente avançado não metastático é fundamental a avaliação de uma equipe
multidisciplinar dedicada, incluindo cirurgiões e
radiologistas,para definir pacientes potencialmente ressecáveis (borderline anatômico) e pacientes definitivamente
irressecáveis.Além da presença de metástases à distância,
a ressecabilidade é avaliada pelo grau de envolvimento do tumor primário com estruturas vasculares, principalmente
tronco celíaco, artéria mesentérica superior e artéria
hepática. Em relação ao acometimento da veia mesentérica superior e veia porta, é fundamental que seja avaliado a
possibilidade de reconstrução para definição entre os
tumores borderlines e os irressecáveis.
Apesar da definição de borderline não ser uniforme entre as Sociedades especializadas e entre Instituições - American
Hepato-Pancreato-Biliary Association/ Society for
Surgery of the Alimentary Tract / Society of Surgical Oncology (AHPBA/SSAO/SSO), NCCN, MD Anderson e Alliance
for Clinical Trials in Oncology Group- por apresentar
algumas divergências, sobretudo em relação ao grau de contato da lesão com os vasos mesentéricos e tronco celíaco,
existe uma relativo consenso que estes pacientes têm
uma alta probabilidade de alcançar uma ressecção R1, caso seja realizada a cirurgia de princípio.
Neste contexto, o racional de adotar uma terapia neoadjuvante com quimioterapia, associada ou não à radioterapia,
tem demonstrado resultados promissores em taxa de
ressecabilidade e de margens R0, alcançando em algumas séries retrospectivas e de estudos de fase II publicados
pelo MD Anderson sobrevida entre 30 a 40 meses nos
pacientes operados e que completaram o tratamento, a despeito ainda da falta de estudos randomizados conclusivos.
No ano de 2015 existiam mais de 3 dezenas de clinical trials em andamento para avaliar o papel da terapia
neoadjuvante no cenário da doença borderline, com esquemas de
quimioterapia diversos, associados ou não à radioterapia. Entre os mais recentes destaca-se o Alliance A021501,
multi-institucional entre EUA e Canadá iniciado em
dezembro de 2016. O trabalho incorpora terapia indutora citotóxica moderna baseada em FOLFIRINOX, seguido de
radioterapia hipofracionada em um grupo apenas,
reestadiamento, cirurgia, seguido de adjuvância com FOLFOX. A previsão de término é 2020.
Borderline: Mais que um conceito anatômico
O conceito de borderline tem outras dimensões, além de puramente anatômico, propostos sobretudo pelo MD
Anderson, EUA, por Katz e cols em 2008, definindo o conceito de
borderline clínico (paciente com 80 anos ou mais, com baixo KPS, e ou presença de comorbidades) e borderline
biológico (pacientes com CA 19.9 elevado, linfonodos
regionais, presença de nódulos pulmonares ou hepáticos, porém ainda sem caracterizar doença metástatica por suas
pequenas dimensões, além de excessiva perda de
peso), favorecendo nestes pacientes o ínicio do tratamento neoadjuvante.
No guideline do NCCN a partir de 2016, para pacientes com adenocarcinoma de pâncreas considerados borderline
biológicos, recomenda-se considerar tratamento
neoadjuvante mesmo que o tumor seja ressecável do ponto de vista anatômico.
Atualmente, o regime ideal de neoadjuvância ainda precisa ser definido, e existem controvérsias em relação à dose,
tempo e regime de quimioterapia. Da mesma forma, a
associação da quimioterapia à radioterapia também apresenta questões em aberto como tipo, dose e campo a ser
empregado. A melhor sequência do tratamento multimodal
também precisa ser estabelecida.
Doença Ressecável: terapia neodjuvante ou cirurgia up front?
A cirurgia seguida pelo tratamento adjuvante ainda representa o padrão de melhor evidência nos pacientes com
adenocarcinoma pancreático ressecável, porém a despeito de
significativas melhorias no resultado perioperatório, a sobrevida em 5 anos ainda permanece baixa, em torno de 20 a
25%.
Por outro lado, acumulam-se evidências através de estudos pré-clínicos, experimentais e moleculares, de que o
adenocarcinoma de pâncreas é uma doença sistêmica, já em
seus estádios iniciais, sendo imperativo que estes pacientes sejam expostos ao tratamento sistêmico.
As altas taxas de ressecções microscopicamente incompletas R1, descritas em séries históricas de grande instituições,
revelando sobrevida baixa nestes pacientes (cerca de 8
a 12 meses), oferecem uma forte justificativa para o uso da terapia neoadjuvante neste cenário (Varadhachary, Annal
S Oncology, Aug 2006, Volume 13, , pp 1035–1046).
Além disso, cerca de 25% a 48% dos pacientes não conseguem realizar a adjuvância devido à perda de performance
por complicações relacionadas à cirurgia ou por
progressão precoce, sendo que algumas séries relatam que menos que 50% dos pacientes conseguem terminar a
adjuvância (Geus et AL, Surgery 2017 Volume 161,
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Number 3 ; Labori, Acta Oncologica 2016).
Atualmente existem 2 clinicals trials em andamento neste cenário de doença ressecável, com previsão de término em
2019:
NEPAFOX (NCT02172976), estudo alemão multicêntrico, randomizado, fase II/III, que compara gencitabina adjuvante
com folfirinox na neoadjuvância e na adjuvância; e
NEONAX (NCT02047513), trabalho norte-americano, randomizado fase II, comparando nab-Paclitaxel na
neoadjuvância, cirurgia e adjuvância versus nab-Paclitaxel apenas
na adjuvância.
Apesar de controvérsias sobre esta abordagem, pela ausência de estudos randomizados conclusivos, a terapia
neoadjuvante, tanto para tumores ressecáveis como para
tumores borderline, oferece a possibilidade de tratamento precoce da doença micrometastática, com maior tolerância,
e evita-se uma cirurgia de grande porte em pacientes
com doença de progressão rápida.
Câncer de Pâncreas Metastático: O Estado da Arte Atual
Novas combinações de drogas quimioterápicas para o tratamento do adenocarcinoma de pâncreas mudaram
recentemente o paradigma no tratamento da doença metástatica,
historicamente baseado em regime de gencitabina e 5FU. Diante de inúmeros estudos clínicos realizados na última
década no cenário metástatico, apenas 3 estudos foram
positivos e atingiram benefício clínico.
PRODIGY 4/ACCORD 11
Em 2011, o estudo PRODIGY 4/ACCORD 11 demonstrou que FOLFIRINOX, uma combinação de fluorouracil,
oxaliplatina e irinotecano, apresentou sobrevida livre de
progressão e sobrevida global superiores à gencitabina isolada em pacientes com doença metástatica. Entretanto, a
desvantagem foi a toxicidade significativa associada a
este esquema, com maior incidência de neutropenia e trombocitopenia de graus 3 ou 4.
MPACT
Em 2013, o estudo MPACT comparou a combinação de gencitabina e nab-paclitaxel versus gencitabina isolada em um
total de 842 pacientes, demonstrando uma melhoria
estatisticamente significativa na sobrevida mediana (8,7 meses versus 6,6 meses). Importante, este trial não excluiu
pacientes idosos, ao contrário do ACCORD-11.
Toxicidades relacionadas com gencitabina e nab-paclitaxel foram, em geral, muito semelhantes às observadas com
FOLFIRINOX, embora haja uma percepção de que
FOLFIRINOX é melhor reservado para pacientes com melhor performance status.
Os dois regimes nunca foram formalmente comparados. Em abril de 2017 o nab-paclitaxel foi aprovado pela Anvisa
para uso no Brasil neste cenário.
NAPOLI-1
Mais recentemente, em 2015, o estudo NAPOLI-1 comparou o efeito do irinotecano nanolipossomal com ou sem
fluorouracil e ácido folínico, bem como a combinação
fluorouracil e ácido folínico isoladamente em pacientes metastáticos que progrediram após uma abordagem inicial com
gencitabina.
O irinotecano na sua forma nanolipossomal melhorou a estabilidade da droga e seu metabolito ativo, SN-38,
permanece na circulação por tempo mais prolongado. A mediana
de sobrevida global foi significativamente melhor para aqueles que receberam Irinotecano nanolipossomal, fluorouracil
e ácido folínico (6,1 meses versus 4,2 meses) em
comparação com os pacientes que não recebem irinotecano nanolipossomal. Similarmente, a sobrevida livre de
progressão foi melhorada para a terapia combinada com
irinotecano nanolipossomal.
Baseado neste estudo, o FDA aprovou o uso de irinotecano nanolipossomal com fluorouracilo e ácido folínico para o
tratamento do adenocarcinoma de pâncreas metastático
refratário à gencitabina. Ressalta-se, porém, que a toxidade foi relativamente semelhante com o FOLFIRINOX e
gencitabina com nab-paclitaxel.
O Estado da arte
Embora novas combinações de quimioterapia tenham mostrado benefícios na doença metastática, o adenocarcinoma
de pâncreas permenece um grande desafio na prática
clínica devido a múltiplos fatores como população idosa, baixa performance clínica e uma sintomatologia limitante
(caracterizada por obstrução de vias biliares, suboclusão
intestinal, ascite e dor oncológica), além do controle das comorbidades associadas.
O estado da arte está em conciliar todos estes fatores, com a possibilidade de troca de esquemas terapêuticos, a partir
da constatação de progressão de doença do esquema
inicial, ou a necessidade frequente de redução de doses, com o desafio de manter um equilíbrio entre o ganho
terapêutico, efeitos colateriais do tratamento e manutenção da
qualidade de vida dos pacientes.
Assinatura genética do adenocarcinoma de pâncreas: uma neoplasia heterogênea
Recentemente,estudos de análise genômica utilizando técnicas de Next Generation e de análises de transcriptoma
permitiram subclassificar o adenocarcinoma pancreático a
partir de padrões de alterações específicos, permitindo reconhecer uma neoplasia heterogênea, com fenótipos e
prognósticos distintos.
Particularmente, estudos genômicos têm mostrado que múltiplos subclones heterogêneos residem no mesmo tumor
primário com potencial metastático diferente.
Em um estudo seminal, realizado pelo Australian Pancreatic Cancer Genomeatravés do International Cancer Genome
Consortium, realizou-seo sequenciamento de todo o
genoma de 100 casos de adenocarcinoma de pâncreas, sendo observado que a variação na estrutura cromossômica é
um importante mecanismo de lesão do DNA na
carcinogênese. A partir da variação estrutural dos cromossomos foi possível classificar os tumores em 4 subtipos:
estável (20% de todas as amostras), reorganizado localmente
(30%), disperso (36%) e instável (14%). De particular interesse é o fenótipo instável, em que foram encontrados mais
de 200 eventos de variação estrutural, o que muitas vezes
sugere danos às vias de reparo do DNA. Este subgrupo e outros que têm alterações de reparo do DNA podem ser
particularmente sensíveis a quimioterápicos contendo
platina e ou inibidores de PARP (Poly ADP Ribose Polymerase).
Em relação aos estudos transcriptônicos(o transcriptoma corresponde à fração do código genético de DNA que é
transcrita pela RNA polimerase em moléculas de RNA), foram
descritos vários subtipos, que revelaram fatores prognósticos distintos.
Collisson e colaboradores propuseram três categorias: "clássica", "quase-mesenquimal" e "exócrina-like". A forma
clássica apresentou melhor prognóstico; os tumores "quasemesenquimal"
são caracterizados pela expressão relativamente alta de genes mesenquimais que se correlacionam com ocorrência
precoce de transição epitélio-mesenquimal
e maior capacidade de metástase.
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Outra subclassificação foi descrita recentemente por Bailey et al, baseada em amostras de 96 tumores com um
conteúdo epitelial superior a 40% e uma coorte de validação de
232 tumores, revelando 4 subtipos: "escamoso", "progenitor pancreático", "imunogênico" e "aberrante diferenciado
endócrino exócrino.
Estas 2 classificações tem características sobrejacentes. Especificamente, o subtipo clássico se assemelha com o
progenitor, o tipo exócrino com o aberrante e o
quasimesenquimal com o escamoso, que carrega o pior prognóstico e fenótipo mais metastático.
Novos estudos e consensos são necessários para uniformizar estas subclassificações e determinar sua relação com
prognóstico, assim como possibilitar estratégias
terapêuticas dirigidas e personalizadas.
Novas abordagens terapêuticas e clinicals trials
Microambiente Tumoral
O microambiente tumoral no câncer de pâncreas caracteriza-se por ser extremamente complexo, consistindo em uma
reação desmoplásica entre a matriz extracelular e
componentes celulares (de fibroblastos, células estreladas, do sistema imune e células tumorais), em um meio líquido
com citocinas, fatores de crescimento e exossomas
constituindo um estroma denso e hipóxico que dificulta a liberação de drogas quimioterápicas. Pesquisas revelam que
nos sítios metastáticos estas características se
assemelham ao tumor primário.
O ácido hialurônico presente neste microambiente tumoral contribui para a elevada pressão intersticial, levando a uma
vasoconstrição e impedindo a resposta imune e a
entrega de quimioterápicos. Sua inibição através de um agente chamado PEGPH20 pode permitir a ação de drogas
quimioterápicas neste microambiente tumoral. Um estudo
de fase II apresentada na ASCO de 2015 randomizou pacientes com adenocarcinoma de pâncreas metastático para a
associação com PEGPH20 com nab-paclitaxel e
gencitabina, demonstrando ganho significativo de sobrevida livre de progressão nos pacientes com altos níveis de
ácido hialurônico.
Este estudo fornece evidências preliminares em favor desta abordagem e representa um exemplo de como
personalizar o tratamento às características do tumor do paciente.
Outro potencial alvo terapêutico é a redução da densidade estromal pelo saridegib (também conhecido como IPI-926),
uma droga que diminui o tecido estromal pela inibição
de Hedgehog ou pela redução da pressão do fluido intersticial através do ácido hialurônico, favorecendo a liberação e
ação de drogas citotóxicas.
Terapias Alvo
Dados recentes publicados na Nature por Waddell et al relataram o complexo panorama mutacional do
adenocarcinoma de pâncreas, identificando múltiplas mutações
pontuais nos quatro genes principais - KRAS, TP53, CDKN2A E SMAD4, e revelando grande heterogeinade e
complexidade em sua carcinogênese.
Análises de genômica revelaram altos números de alterações genéticas que contribuem para a iniciação e progressão
tumoral, sendo que o KRAS oncôgenico está presente
em mais 90% dos casos, representando um insulto subjacente a inúmeros eventos subsequentes que contribuem para
o desenvolvimento da doença.
Esta mutação é amplamente aceita como uma "reprogramação" do metabolismo das células pancreáticas para o
ambiente ácido necessário para a o colapso da matriz
extracelular e invasão tumoral. Estudos dirigidos especificamente para o alvo KRAS podem, teoricamente, ser uma
abordagem interessante e promissora no tratamento.
Múltiplas vias de sinalização e receptores estão associados com o desenvolvimento e progressão do adenocarcinoma
pancreático, incluindo EGFR, Her2 e VEGFR. Todas
estas funções desempenham um papel importante nos programas RAS / RAF / MEK / ERK e AKT /PI3K / mTOR, vias
envolvidas no crescimento celular. O EGFR também tem
um papel na via JAK / STAT, necessária para a ativação de cascatas de sinalização e transcrição de genes. Dessa
maneira, o uso de inibidores da via JAK STAT pode ser uma
abordagem promissora para o tratamento.
Apesar de evidência clara de benefício da terapia-alvo em outras neoplasias como colorretal, pulmão e rim, vários
estudos clínicos falharam em mostrar benefício terapêutico
para o adenocarcinoma de pâncreas, provavelmente por não ser direcionada molecularmente para sua assinatura
genética.
Atualmente, com novas plataformas de next generation, análises do transcriptoma e análises protêomicas , renasce o
potencial de terapias-alvos no adenocarcinoma de
pâncreas, porém de forma dirigida, racional e personalizada.
Imunoterapia
Novas abordagens terapêuticas como a imunoterapia têm mostrado evidência crescente em outros tipos de câncer
como o melanoma e o câncer de pulmão, e podem
desempenhar um papel promissor no tratamento para o adenocarcinoma de pâncreas. Vários estudos estão em
andamento para investigar o papel da imunoterapia para o
tratamento do adenocarcinoma de pâncreas, que se caracteriza por ser uma neoplasia altamente imunossupressora.
Para combater esta imunossupressão e recrutar células T para o microambiente tumoral do câncer de pâncreas,
inibidores de checkpoint como anti-CTLA-4, anticorpos antiPD-1
e anti-PD-L1 estão sendo testados.
Os resultados preliminares sugerem que estas táticas podem ser bem-sucedidas na luta contra a imunossupressão,
mas não levam à morte de células cancerígenas. Há um
grande interesse de associação de terapias como inibidores de checkpoint combinados a vacinas terapêuticas (GVAX)
e/ou em associação com quimioterapia citotóxica e
radioterapia, como o estudo fase I que investiga radioterapia hipofracionada associada ao inibidor de PD-1
pembrolizumab (NCT02303990).
Estudos futuros, incluindo estudos de proteômica, devem impulsionar o desenvolvimento de novos biomarcadores a
fim de selecionar o grupo de pacientes que melhor
responderão à imunoterapia.
O futuro dos clinicals trials em adenocarcinoma de pâncreas
À medida que se reúne informações genômicas, proteômicas e imunológicas sobre o adenocarcinoma de pâncreas,
acumulam-se evidências para abordagens de tratamento
molecularmente direcionadas.
Nos EUA, atualmente há uma enorme força-tarefa em promover pesquisa translacional através de aspectos
moleculares e de assinatura genética do adenocarcinoma de
pâncreas associados com a realização de estudos clínicos molecularmente dirigidos e específicos, tanto no cenário
para o diagnóstico precoce como na terapia neoadjuvante,
adjuvante e no cenário metastático.
O NCCN recomenda que todo paciente com câncer de pâncreas seja tratado a partir de um clinical trial.
Desde 2014, nos EUA, iniciativas do “Pancreatic Cancer Action Network” como “Know Your Tumor” têm oferecido
análise do perfil molecular do adenocarcinoma de pâncreas
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para dirigir clinicals trials específicos de acordo com as alterações encontradas,permitindo abordagens de tratamento
personalizadas com intenção e esperança de chegar a
tratamentos promissores com maior brevidade.
Novas Perpectivas: Abordagem multi-ômica e Terapia personalizada
Várias camadas celulares podem ser investigadas e analisadas em profundidade por seqüenciamento genômico,
RNAseq, proteômica e fosfoproteômica. O “big data”
adquirido a partir de estudos genômicos são mais extensos com análises genômicas do que proteômica. No entanto, a
fosfoproteômica e outras modificações póstranslacionais
podem criar grandes conjuntos de dados com mais de 200 mil combinações diferentes. A análise integrada destas
informações permitirá ajudar a identificar as
vias aberrantes mais importantes e redes de sinalização do adenocarcinoma de pâncreas, o que possibilitará a
realização de inúmeros clinical trials direcionados e
possivelmente mudar o paradigma dessa doença.
*Autor: Felipe José Fernàndez Coimbra é cirurgião oncologista, diretor do Departamento de Cirurgia Abdominal do
A.C.Camargo Cancer Center e presidente da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO).
Referências
1 - Siegel R, Ma J, Zou Z, Jemal A. Cancer statistics, 2014. CA Cancer J Clin 2014;64:9-29
2 - Cancer Res; 74(11); 2913–21. 2014 AACR)
3 - Maisonneuve e Lowenfels, International Journal of Epidemiology, 2015, Vol. 44, No. 1
4 - Maisonneuve e Lowenfels, International Journal of Epidemiology, 2015, Vol. 44, No. 1)
5 - ArchToxicol ,2016, 90:2617–2642)
6 - Landi 2009; Raimondi et al. 2009)
7 - ArchToxicol (2016) 90:2617–2642)
8 - Varadhachary, Annal S Oncology, Aug 2006, Volume 13, , pp 1035–1046)
9 - Geus et AL, Surgery 2017 Volume 161, Number 3 ; Labori, Acta Oncologica 2016)
Link:
http://www.onconews.com.br/site/noticias/noticias/opini%C3%A3o-an%C3%A1lise/2592-o-futuro-do-tratamento-do-c%C
3%A2ncer-de-p%C3%A2ncreas.html
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