UNIDADE III – ASTRONOMIA DE POSIÇÃO AULA 9 – ASTRONOMIA ESFÉRICA OBJETIVOS: Ao final desta aula, o aluno deverá: ter familiaridade com os sistemas de coordenadas utilizados para localizar astros no céu; ser capaz de descrever fenômenos envolvendo o movimento aparente dos astros. 1 INTRODUÇÃO A aula de hoje aborda, entre outros assuntos, a localização e o movimento dos astros no céu. Sempre que pretendemos associar uma posição a um objeto, precisamos fazê-lo em relação a algum ponto ou sistema de referência. Nas nossas atividades diárias, geralmente utilizamos sistemas informais de referência. Por exemplo, podemos localizar pessoas “em frente ao edifício”, “na terceira esquina à esquerda”, “20 metros em frente” etc. Todos esses sistemas de referência são informais porque são inventados no momento, permitindo a localização aproximada de alguém ou alguma coisa e, logo em seguida, são abandonados. Existe, porém, um sistema formal e permanente de localização em Terra. Esse sistema é definido objetivamente, para uso amplo, e permite localizar qualquer ponto na superfície da Terra, usando referências fixas e que são comuns a qualquer usuário desse sistema. Um sistema desse tipo permite que duas pessoas quaisquer, em quaisquer partes do mundo, sejam capazes de atribuir os mesmos valores de posição para um ponto qualquer na superfície terrestre, coisa impossível de se conseguir usando referências de posição como “à direita do ônibus”, “a 1 metro da árvore” etc. Esse sistema é o sistema esférico de coordenadas geográficas, que veremos na seção 2. Da mesma forma, se pretendemos localizar a posição dos astros no céu, precisamos definir um sistema de coordenadas no céu. Veremos, nesta aula, diferentes sistemas de coordenadas celestes. Mas, primeiramente, vamos relembrar os fundamentos do sistema esférico de coordenadas geográficas. 2 O SISTEMA ESFÉRICO DE COORDENADAS GEOGRÁFICAS Nesse sistema, consideramos que a Terra é uma esfera perfeita. Embora isso não seja rigorosamente verdadeiro, para nossos propósitos essa aproximação será bastante razoável. A Terra, como sabemos, gira em torno de um eixo que passa pelo seu centro. Seu eixo de rotação cruza a superfície terrestre em dois pontos: o polo norte e o polo sul, conforme mostra a figura 9.1. Figura 9.1: O eixo de rotação terrestre e os polos geográficos norte e sul. Podemos fazer cruzar pela esfera terrestre, na figura 9.1, um conjunto de planos imaginários com quaisquer orientações. Quando um plano cruza a esfera terrestre, delimita um círculo sobre a superfície terrestre, como mostrado na figura 9.2. Figura 9.2: Um plano hipotético que cruza o a esfera terrestre, definindo um círculo em sua intersecção. Os círculos delimitados por um plano que cruza a esfera terrestre podem ter diâmetros variados. O maior diâmetro possível que esses círculos podem assumir é o próprio diâmetro terrestre, e isso ocorre quando o plano imaginário cruza a esfera terrestre passando pelo seu centro. Nesse caso, temos um círculo máximo, mostrado na figura 9.3. Figura 9.3: Um plano hipotético que cruza o a esfera terrestre, definindo um círculo máximo em sua intersecção. Vamos definir o equador terrestre como o círculo máximo produzido pelo plano que passa perpendicularmente ao eixo de rotação da Terra. O equador terrestre assim definido está mostrado na figura 9.4. Figura 9.4: O equador terrestre. 2.1 Latitude A partir da definição de equador terrestre, vamos criar a primeira coordenada do sistema de coordenadas esférico geográfico: a latitude. Para qualquer ponto P localizado sobre a superfície terrestre, podemos fazer passar um plano imaginário perpendicular ao eixo de rotação terrestre e paralelo ao plano do equador. Esse plano imaginário descreve um círculo sobre a superfície terrestre. A latitude do ponto P é o ângulo, medido a partir do centro da esfera terrestre, entre o círculo que passa por P e o equador, como mostra a figura 9.5. O círculo que passa pelo ponto P, e que dá a latitude de P, é o paralelo da latitude. Se o ponto P se situa entre o equador e o polo norte, sua latitude é expressa por um número positivo, em graus; se ele estiver situado entre o equador e o polo sul, sua latitude é expressa por um número negativo, também em graus. Assim, podemos definir um conjunto de paralelos de latitude, varrendo a superfície da esfera terrestre, compreendendo desde o polo sul (latitude igual a -90º) até o polo norte (latitude igual a +90º). Figura 9.5: A latitude e o paralelo de latitude de um ponto P na superfície terrestre. Quando a latitude de um ponto não corresponde a um número exato em graus, expressamos as frações de grau em minutos de arco (símbolo ’) e segundos de arco (símbolo ’’). Um minuto de arco corresponde a 1/60 de grau; um segundo de arco corresponde a 1/60 de minuto de arco, ou 1/3600 de grau. Assim, algumas medidas de latitude possíveis são: 20º 15’ 32’’, -42º 33’ 08’’, 66º 00’ 19’’, etc. 2.2 Longitude A segunda coordenada do sistema de coordenadas esférico geográfico é construída a partir de círculos máximos. Considere, novamente, um ponto P localizado na superfície terrestre. Podemos fazer passar por esse ponto um, e somente um, plano que cruze tanto P quanto o centro da Terra e que seja perpendicular ao plano do equador, como mostrado na figura 9.6. Esse plano define um círculo, chamado meridiano de longitude. Figura 9.6: O meridiano de longitude de um ponto P na superfície terrestre. Para definirmos a longitude de P, precisamos de um meridiano de referência. Por razões históricas, o meridiano que passa pelo Observatório Real de Greenwich, em Greenwich (nos arredores de Londres) foi definido como o meridiano de referência, ou primeiro meridiano. A figura 9.7 mostra a orientação do primeiro meridiano sobre a superfície terrestre. A longitude de P corresponde ao ângulo, medido a partir do centro da Terra, entre o meridiano que passa por P e o primeiro meridiano, como mostra a figura 9.8. Assim, os valores possíveis para a longitude vão de 0 a 360º. Figura 9.7: A localização geográfica do primeiro meridiano. Figura 9.8: A longitude e o meridiano de longitude de um ponto P na superfície terrestre. A longitude de um ponto é um número positivo, sempre medido no sentido oeste. Assim, um ponto situado num meridiano 1º a oeste de Greenwich possui longitude de 1º; um ponto situado num meridiano 1º a leste de Greenwich possui longitude de 359º (e não de -1º). Frações de graus em uma medida de longitude são expressos em minutos e segundos de arco, assim como a latitude. Assim, algumas medidas de longitude possíveis são: 32º 02’ 51’’, 98º 23’ 14’’, 178º 44’ 29’’ etc. Usando os conceitos de latitude e longitude, podemos especificar a posição de qualquer ponto sobre a superfície terrestre. Por exemplo, a cidade de Ilhéus, na Bahia, se localiza sobre a esfera terrestre nas coordenadas de -14º 47’ 20’’ de latitude e 39º 02’ 56’’ de longitude. 3 SISTEMAS DE COORDENADAS CELESTES Assim como podemos definir um sistema de coordenadas que nos permite especificar a posição de qualquer ponto sobre a superfície terrestre, podemos definir, também, sistemas de coordenadas que nos permitam localizar astros no céu. A seguir, veremos dois desses sistemas, um dos quais baseado nos mesmos princípios do sistema de coordenadas esféricas geográficas, e o outro baseado na posição dos corpos em relação à linha do horizonte. 3.1 O sistema equatorial O sistema de coordenadas celestes equatorial é uma extensão dos conceitos de latitude e longitude introduzidos no sistema de coordenadas geográficas. Vamos imaginar que exista uma esfera celeste, sobre o qual todos os corpos celestes se situam. O centro dessa esfera celeste se situa no centro da Terra. A figura 9.9 mostra a esfera terrestre e a esfera celeste. Figura 9.9: A Terra e a esfera celeste. Havíamos definido o equador terrestre como o círculo delimitado pelo plano que cruza a esfera terrestre perpendicularmente ao seu eixo de rotação e passando pelo seu centro. Veja, na figura 9.10, que esse mesmo plano cruza, também, a esfera celeste e delimita, sobre a esfera celeste, um círculo máximo. Esse círculo máximo na esfera celeste, sendo formado pelo mesmo plano que delimita o equador terrestre, será definido como o equador celeste. Ainda na figura 9.10, vemos que o eixo de rotação terrestre, se prolongado para além da sua superfície, cruza a esfera celeste em dois pontos, um acima do polo norte e outro, abaixo do polo sul. Esses dois pontos sobre a esfera celeste, associados aos polos norte e sul geográficos, serão definidos, respectivamente, como o polo norte celeste e o polo sul celeste. Figura 9.10: O equador celeste e os polos norte e sul celestes. A partir do equador celeste, podemos especificar a posição de qualquer ponto no céu como o ângulo, medido a partir do centro da terra, entre esse ponto e a linha do equador celeste. Essa coordenada é chamada declinação (representada pelo símbolo δ) e é medida em graus, minutos e segundos de arco. Assim como a latitude, a declinação é uma grandeza que vai de -90º (para um ponto no céu situado no polo sul celeste) até 90º (para um ponto no céu situado no polo norte celeste). Algumas medidas possíveis para a declinação são: 10º 20’ 22’’, 41º 05’ 55’’, -73º 33’ 16’’ etc. Os meridianos de longitude, como já vimos, são delimitados por planos perpendiculares ao plano do equador. Da mesma forma, podemos definir meridianos cruzando a esfera celeste passando pelo seu centro e perpendiculares ao plano do equador celeste, como mostra a figura 9.11. Esses meridianos sobre a esfera celeste são chamados círculos horários. Figura 9.11: Os círculos horários. Assim como foi preciso definir um meridiano de referência para medirmos a longitude, precisamos definir um círculo horário de referência sobre a esfera celeste para nossa segunda coordenada celeste. Esse círculo é aquele que passa pelo ponto ߛ, ou ponto vernal. A razão da escolha desse ponto para o plano de referência será abordada na seção 4. Assim, a partir do ponto vernal, podemos definir uma coordenada que corresponde ao ângulo, medido a partir do centro da Terra, entre o círculo horário ocupado por um ponto e o círculo horário que passa pelo ponto vernal. Essa coordenada é a ascensão reta (representada pelo símbolo α), mostrada na figura 9.12. O ponto vernal, quando definido pela primeira vez, se localizava na constelação de Áries; atualmente ele se encontra na constelação de Peixes. Essa variação na posição do ponto vernal ocorre porque o eixo de rotação da Terra não é constante: com o passar das décadas, esse eixo descreve um círculo próximo aos polos celestes. Esse movimento é chamado precessão dos equinócios. Devido à precessão dos equinócios, os polos celestes norte e sul, juntamente com o equador celeste, mudam lentamente de posição no céu. Esse efeito é muito pequeno para ser notado no intervalo de alguns anos. Figura 9.12: Os círculos horários e a ascensão reta. A ascensão reta pode ser medida em graus, minutos e segundos de arco e, nesse caso, assim como a longitude, é uma grandeza que vai de 0º (para um ponto no céu situado no círculo horário que passa pelo ponto vernal) até 360º. A diferença é que a ascensão reta é medida no sentido leste, ao contrário da longitude, que é medida no sentido oeste. Embora possamos expressar a ascensão reta em unidades angulares, é mais comum a expressarmos em unidades de tempo. Para isso, basta lembrarmos que a Terra dá uma volta completa em torno do seu eixo a cada 24 horas e, portanto, varre todos os 360º de ascensão reta no céu nessas 24 horas. Dessa forma, cada 15º de ascensão reta correspondem a 1 h de tempo. Expressando a ascensão reta em unidades de tempo, seus valores possíveis vão de 0 h (para um ponto no céu situado no círculo horário que passa pelo ponto vernal) até 24 h. As frações de hora são expressas em minutos e segundos de tempo. Assim, algumas medidas possíveis de ascensão reta são: 12h 24m 32s, 7h 19m 09s, 21h 10m 35s etc. Usando os conceitos de ascensão reta e declinação, podemos especificar a posição de qualquer ponto sobre a esfera celeste. Por exemplo, a estrela mais brilhante do céu, Sirius, se localiza sobre a esfera celeste nas coordenadas 06h 45m 09’’ de ascensão reta e -16º 42’ 58’’ de declinação. 3.2 O sistema horizontal O sistema de coordenadas celestes horizontal, ou altazimutal, se baseia na posição dos corpos celestes em relação ao horizonte. Um observador situado em qualquer ponto da superfície pode observar, acima do horizonte, aproximadamente metade da esfera celeste. Se traçarmos uma linha imaginária que sai do centro da Terra e passa pelo observador, essa linha intercepta a esfera celeste em um ponto imediatamente acima do observador. Esse ponto, mostrado na figura 9.13, é chamado zênite. O ponto oposto ao zênite sobre a esfera celeste é chamado nadir. Figura 9.13: Zênite e nadir para um observador. Em qualquer ponto sobre a superfície da Terra, podemos especificar as direções dos pontos cardeais norte, sul, leste e oeste. Vamos traçar um plano imaginário paralelo à linha norte-sul e que passe simultaneamente pelo observador e pelo zênite. Esse plano é chamado plano meridiano. O plano meridiano e a linha do horizonte nos permitem especificar a posição de qualquer ponto no céu do ponto de vista de um observador. Considere um ponto P situado na esfera celeste, como mostrado na figura 9.14. Podemos traçar um plano imaginário que passe simultaneamente pelo observador, pelo zênite e pelo ponto P. Esse plano é chamado plano vertical do ponto P. Figura 9.14: O plano meridiano do observador e o plano vertical de um ponto P na esfera celeste. Vamos definir o azimute (representado pela letra A) do ponto P como o ângulo, medido no sentido horário, entre o plano meridiano e o plano vertical do ponto P. Vamos definir, também, a altura (representada pela letra h) do ponto P como o ângulo entre o ponto P e a linha do horizonte. O azimute e a altura de um ponto P são mostrados na figura 9.15. Figura 9.15: Azimute e altura do ponto P. Através do azimute e da altura, grandezas que definem o sistema horizontal de coordenadas celestes, podemos especificar a posição de qualquer ponto sobre a esfera celeste. Os valores possíveis para o azimute vão de 0º, para um ponto localizado sobre o plano meridiano ao norte do zênite, até 360º. Já os valores possíveis para altura vão de -90º, para um objeto situado no nadir, até 90º, para um objeto situado no zênite. A desvantagem do sistema de coordenadas horizontal em relação ao sistema equatorial é que o azimute e a altura dos astros dependem da localização do observador na superfície terrestre, enquanto que no sistema equatorial isso não acontece. 4 O MOVIMENTO DIURNO DOS ASTROS Se estivermos localizados em uma região do globo terrestre pela qual cruza o equador geográfico, então, necessariamente, o equador celeste cruza nosso zênite. Isso acontece porque o equador celeste é uma extensão do equador geográfico, uma vez que ambos são definidos pelo mesmo plano. Assim, quando nossa latitude é de 0º, o plano do equador celeste está exatamente na vertical, passando pelo zênite. Já se estivermos situados no polo norte geográfico, o equador celeste estará exatamente sobre a linha do horizonte. Assim, quando nossa latitude é de 90º, o plano do equador celeste está a 90º do zênite. Com base nesses exemplos, vemos que o ângulo entre o equador celeste e o zênite é igual à latitude na qual o observador se encontra. Como o polo celeste norte está localizado a um ângulo de 90º em relação ao equador celeste, então a altura do polo norte celeste é igual à latitude do observador; da mesma forma, como o polo celeste sul está localizado a um ângulo de -90º em relação ao equador celeste, a altura do polo sul celeste é igual a menos a latitude do observador. Isso é mostrado na figura 9.16. Figura 9.16: A altura do polo celeste norte para um observador situado no hemisfério norte. O valor de h é igual à latitude onde se situa o observador. A Terra realiza uma volta completa em torno do seu eixo a cada 24 horas. Um observador situado na superfície terrestre percebe uma rotação de toda a esfera celeste em torno dos polos norte e sul celestes. Com isso, um conjunto de fenômenos ocorre: 1) os astros no céu nascem e se põem, no horizonte. Isso ocorre porque somente podemos observar metade da esfera celeste em qualquer ponto sobre a superfície terrestre. Como a Terra gira de oeste para leste, com o passar das horas os astros que estavam abaixo do horizonte oeste sobem e nascem, enquanto que os astros acima do horizonte leste descem e se põem; 2) os astros no céu descrevem, em 24 horas, círculos sobre a esfera celeste. O tamanho do círculo depende da distância do astro ao equador, ou seja, de sua declinação: quanto mais distantes do equador, menor o círculo que o astro descreve. Além disso, quanto mais distante do equador estiver situado um observador, maior será a inclinação do círculo descrito pelos astros no céu; 3) exatamente na metade das 12 horas que separam o nascimento e o poente de um astro, ele atinge sua máxima altura. No instante em que ele atinge sua altura máxima, dizemos que ele está realizando a passagem meridiana; 4) os pontos localizados exatamente sobre os polos celestes nunca nascem ou se põem. Isso acontece porque os polos estão justamente sobre o eixo de rotação da esfera celeste e, sendo assim, são os únicos pontos fixos da esfera. A figura 9.17 mostra uma fotografia de longa exposição do céu noturno na direção do polo sul celeste. Nessa fotografia, cada linha curva no céu corresponde ao movimento de uma estrela durante o tempo de exposição da fotografia. Note que, quanto mais próximas do polo sul celeste, menos as estrelas se movimentam; Figura 9.17: Fotografia de longa exposição do polo sul celeste. Fonte: http://apod.nasa.gov/apod/ap061202.html 5) se estivermos localizados em uma certa latitude A na superfície da Terra, no hemisfério norte, então os astros que estiverem a um ângulo menor do que A graus do polo norte celeste nunca se põem. Da mesma forma, se estamos no hemisfério sul a uma latitude -B, então os astros a um ângulo menor do que B graus do polo sul celeste não se põem. Esses astros descrevem, ao longo de 24 horas, um círculo totalmente contido acima do horizonte. As estrelas que se comportam dessa forma para um dado observador são chamadas estrelas circumpolares; 6) se estamos localizados em uma certa latitude A na superfície da Terra, no hemisfério norte, então os astros que estiverem a um ângulo menor do que A graus do polo sul celeste não podem ser observadas. Da mesma forma, se estamos no hemisfério sul a uma latitude -B, então os astros a um ângulo menor do que B graus do polo norte celeste não podem ser observadas. Esses astros descrevem, ao longo de 24 horas, um círculo totalmente contido abaixo do horizonte e, sendo assim, nunca nascem. As estrelas que se comportam dessa forma para um dado observador são chamadas estrelas invisíveis. 5 O MOVIMENTO ANUAL DO SOL A Terra, além do movimento de rotação em torno do seu eixo, realiza um movimento de translação em torno do Sol. O tempo necessário para que a Terra realize uma volta completa em torno do Sol, ou seja, seu período orbital, é o período de tempo que chamamos de ano. Durante a noite, quando a atmosfera está livre de nuvens, podemos observar a luz emitida por diversos astros no céu – em particular, pelas estrelas. Quando o dia nasce, o céu fica saturado com a luminosidade do Sol e as estrelas deixam de ser visíveis, embora ainda estejam no céu. Uma pequena fração dessas estrelas fica totalmente encoberta pelo Sol; isso ocorre porque o Sol está situado exatamente entre essas estrelas e a Terra. Com o passar dos dias, a Terra translada em torno do Sol. Como, agora, é um outro conjunto de estrelas que está sendo encoberto pelo Sol, como mostra a figura 9.18, o Sol, visto da Terra, terá se deslocado sobre a esfera celeste. Ao longo de um ano, o Sol dá a volta em toda a esfera celeste, descrevendo um círculo máximo chamado de eclíptica. A eclíptica é o círculo máximo na esfera celeste delimitado pelo plano da órbita da Terra em torno do Sol. A região do céu em torno da eclíptica é chamada zodíaco. Figura 9.18: Conforme o Sol se desloca sobre a esfera celeste, mudam as estrelas que estão encobertas pelo seu disco (representadas por símbolos em vermelho). A eclíptica é o círculo máximo que o Sol descreve ao longo do ano, no céu. A região em torno da eclíptica é chamada zodíaco. Se o plano da órbita da Terra em torno do Sol fosse paralelo ao plano do equador celeste, ou seja, se os planos de rotação e de translação da Terra fossem iguais, então a eclíptica estaria superposta ao equador celeste. Nesse caso, ao longo de um ano, o Sol se deslocaria ao longo do equador celeste. Porém, o plano do equador celeste tem uma inclinação de 23,5º em relação ao plano da órbita da Terra em torno do Sol. Isso faz com que a eclíptica esteja também inclinada de 23,5º em relação ao equador celeste. A figura 9.19 mostra essa característica da eclíptica. Perceba que, na figura 9.19, a eclíptica cruza o equador celeste em dois pontos. Um desses pontos é o ponto vernal. O ponto vernal foi escolhido como referência para medidas da ascensão reta justamente porque se encontra em um dos dois cruzamentos entre a eclíptica e o equador celeste. Figura 9.19: A inclinação da eclíptica em relação ao equador celeste. 6 O MOVIMENTO MENSAL DA LUA A Lua, de forma semelhante à Terra, possui tanto um movimento de rotação em torno do seu eixo quanto um movimento de translação em torno da Terra. Os períodos de rotação e translação da Lua são, ambos, de aproximadamente 27,5 dias. Ao completar uma volta em torno da Terra, como a Terra também avançou em sua própria órbita em relação ao Sol, a Lua ainda precisa de mais dois dias para voltar à sua posição original no céu. Esse intervalo de tempo de aproximadamente 29,5 dias corresponde ao mês lunar. Ao longo do mês lunar, a Lua descreve um círculo máximo no céu, delimitado pelo plano da órbita da Lua em torno da Terra. Conforme a Lua percorre sua órbita em torno da Terra, as posições relativas da Terra, da Lua e do Sol se alteram. A Lua, assim como a Terra, não emite luz própria: a Lua somente pode ser observada devido ao reflexo da luz do Sol sobre sua superfície. Com essa mudança de posições relativas, a luz do Sol atinge a superfície da Lua com diferentes orientações. Essa mudança na orientação com que a luz solar atinge a Lua é vista na Terra na forma das fases da Lua. A figura 9.20 mostra como um observador situado na Terra percebe a Lua, no céu, ao longo do mês. No ponto A da órbita da Lua, sua face iluminada está voltada diretamente para a Terra. Um observador situado na Terra, durante a noite, vê o disco lunar totalmente iluminado. Nessa situação, a Lua está em sua fase cheia. Conforme se move em direção ao ponto B, a Lua passa a exibir uma fração de sua face escura para a Terra; no ponto B, apenas parte da face iluminada está voltada para a Terra; a Lua está em sua fase minguante. No ponto C, a Lua aponta sua face escura para a Terra e, portanto, não pode ser vista. Neste ponto, a Lua está na fase nova. Finalmente, no ponto D, a Lua mostra parte da face iluminada para a Terra; como a fração da face iluminada que pode ser vista está aumentando, a Lua encontra-se então em sua fase crescente. A figura 9.21 mostra a aparência da Lua nas diferentes fases, vistas da Terra. Figura 9.21: as fases da lua. Da esquerda para a direita: cheia, minguante, nova e crescente. Fonte: www.apstas.com Uma vez que o mês lunar é de aproximadamente 29,5 dias, podemos dividir esse período pelo número das fases lunares. Com isso, obtemos pouco mais de 7 dias, ou seja, uma semana. Assim, uma semana corresponde à duração aproximada de uma das fases da Lua. A Lua retorna à sua fase original a cada quatro semanas, ou seja, em um mês lunar. Na fase nova, dizemos que a Lua está em conjunção com o Sol, pois ocupa aproximadamente a mesma região do céu que o Sol. Na fase cheia, a Lua está em oposição, pois Sol e Lua se encontram em extremos opostos do céu. Finalmente, nas fases crescente e minguante, dizemos que a Lua está em quadratura com o Sol. 7 ESTAÇÕES DO ANO A inclinação da eclíptica em relação ao equador celeste faz com que a quantidade de radiação solar recebida por unidade de área, em um ponto qualquer na superfície na Terra, varie ao longo do ano. A figura 9.22 ilustra, para uma certa orientação entre a Terra e o Sol, a diferença na radiação solar recebida por unidade de área da superfície da Terra para diferentes latitudes. Um observador situado na região A está com o Sol exatamente no zênite; nesse ponto, os feixes de radiação solar indicados na figura e recebidos pela Terra estão espalhados pela superfície A. Já um observador situado na região B vê o Sol próximo do horizonte; os feixes de radiação solar que atingem essa região se distribuem sobre uma superfície B maior do que A e, sendo assim, cada unidade de área em B recebe menos radiação do que em A. Figura 9.22: A diferença entre a radiação solar recebida por unidade de área de superfície em duas regiões distintas da Terra. Ao longo do ano, o Sol se move ao longo da eclíptica na esfera celeste e, como a eclíptica está inclinada em relação ao equador celeste, a radiação solar recebida em qualquer ponto na superfície da Terra irá variar ao longo do ano. Isso é mostrado na figura 9.23. Quando a Terra está na posição 1, o polo sul geográfico é banhado pela radiação solar, enquanto que o polo norte geográfico está às escuras. Nessa posição, o hemisfério sul recebe mais radiação do que o hemisfério norte, e ocorre o verão no hemisfério sul, simultaneamente com o inverno no hemisfério norte. O pico de radiação recebido no hemisfério sul, nesse período, ocorre quando o Sol atinge o menor valor possível para sua declinação: -23,5º. Essa declinação é atingida pelo Sol no dia 21 de dezembro de cada ano. Essa é a data em que o Sol está em sua máxima altura quando faz a passagem meridiana e, portanto, passa mais tempo acima da linha do horizonte do que em qualquer outra data. Quando isso ocorre, temos o solstício de verão do hemisfério sul. Nas posições 2 e 4, a Terra recebe a mesma radiação em seus dois hemisférios; no hemisfério sul e no norte, temos as estações intermediárias, outono e primavera, respectivamente. As datas em que ambos hemisférios estão igualmente orientados em relação ao Sol são os dias 21 de março e 21 de setembro. Nessas datas, o Sol passa exatamente 12 horas acima da linha do horizonte, e 12 horas abaixo dessa linha, ou seja, o dia e a noite têm a mesma duração. Essas duas datas são chamadas, respectivamente, de equinócio de outono e equinócio de primavera do hemisfério sul. Já na posição 3, o hemisfério norte recebe mais radiação do que o hemisfério sul; esse é o período do inverno no hemisfério sul, simultâneo ao verão no hemisfério norte. O pico de radiação recebido no hemisfério norte, nesse período, ocorre quando o Sol atinge o maior valor possível para sua declinação, 23,5º. Isso acontece no dia 21 de junho de cada ano. Para um habitante do hemisfério sul, o Sol realiza sua passagem meridiana na menor altura possível nessa data e, por isso, passa menos tempo acima da linha do horizonte do que em qualquer outra data. Isso corresponde ao solstício de inverno do hemisfério sul. Figura 9.23: As estações do ano. No ponto 1 da órbita terrestre, temos o verão no hemisfério sul. No ponto 3, temos o inverno no hemisfério sul. As estações intermediárias, outono e primavera no hemisfério sul, ocorrem em torno dos pontos 2 e 4. Os trópicos são os paralelos de latitude na Terra que correspondem aos máximos e mínimos de declinação atingidos pelo Sol. No solstício de verão do hemisfério sul, o Sol atinge a declinação -23,5º; o paralelo de latitude que corresponde a essa declinação é chamado trópico de Capricórnio. No solstício de inverno do hemisfério sul, o Sol atinge a declinação 23,5º; a linha que delimita essa latitude é o trópico de Câncer. 8 ECLIPSES O plano da órbita da Lua em torno da Terra está inclinado a 5,2º em relação ao plano de translação da Terra em torno do Sol, ou seja, em relação à eclíptica, como ilustrado na figura 9.24. Como se pode perceber nessa figura, a eclíptica e o círculo máximo definido pelo plano da órbita da Lua se cruzam em somente dois pontos, chamados nodos. Podemos traçar uma linha imaginária que passa pelos dois nodos, linha essa chamada linha dos nodos, também mostrada na figura 9.24. Figura 9.24: O plano da órbita da Lua na esfera celeste, nodos e linha dos nodos. Com o passar dos dias, ao longo do ano, o Sol se move ao longo da eclíptica. Quando o Sol estiver passando por um dos nodos, estará também no plano da órbita da Lua. Se a Lua passar, por coincidência, sobre qualquer dos dois nodos nesse período, teremos um eclipse – a Terra, a Lua e o Sol estarão alinhados entre si. Os eclipses podem ser de dois tipos: os eclipses solares e os eclipses lunares. O eclipse solar ocorre quando a lua está no mesmo nodo ocupado pelo Sol. Nesse tipo de eclipse, a Lua se posiciona entre a Terra e o Sol, encobrindo a luz do Sol e produzindo uma sombra sobre a Terra. Como o disco da Lua é menor que o disco da Terra, apenas uma parte da superfície da Terra fica totalmente obscurecida em um eclipse solar. O eclipse lunar ocorre quando a Lua está no nodo oposto ao ocupado pelo Sol. Nesse caso, a Terra está entre a Lua e o Sol, impedindo a luz do Sol de atingir a lua diretamente e obscurecendo sua superfície. Num eclipse lunar, parte da radiação proveniente do Sol que é espalhada pela superfície terrestre ainda ilumina, embora fracamente, o disco da Lua, tornando-a escura e avermelhada. Uma vez que os eclipses tanto solares quanto lunares exigem que a Lua, a Terra e o Sol estejam alinhados, só podem ocorrer eclipses quando a Lua se encontra nas fases cheia ou nova. Na fase cheia, ocorrem os eclipses lunares; na fase nova, ocorrem os eclipses solares. Os eclipses solares e lunares podem ser totais ou parciais, dependendo da fração do disco do Sol encoberto pela Lua e da fração do disco da Lua que se encontra na sombra produzida pela Terra. Além disso, como a órbita da Lua não é totalmente circular, sua distância muda em relação à Terra ao longo do mês. Quando um eclipse solar se dá em torno da máxima aproximação da Lua com a Terra, a Lua pode ocultar totalmente o disco solar. Por outro lado, quando a Lua está em seu máximo afastamento da Terra, a parte periférica do disco do Sol ainda fica visível durante um eclipse solar. Um eclipse desse tipo é chamado eclipse anular. As figuras 9.25 a 9.28 mostram fotografias de diferentes eclipses lunares e solares. Figura 9.25: Eclipses lunares parcial (esquerda) e total (direita). Perceba que a Lua assume uma coloração avermelhada. Fonte: http://www.celestronimages.com/details.php?image_id=2018 (esquerda); http://www.universetoday.com/81716/total-lunar-eclipse-december-21-2010/ (direita). Figura 9.26: Eclipses solares parcial (esquerda) e total (direita). Fonte: http://www.celestronimages.com/details.php?image_id=5660 (esquerda); http://www.nightskyinfo.com/solar_eclipses/eclipse_nso.jpg (direita). Figura 9.27: Eclipse solar anular. Fonte: http://www.nightskyinfo.com/solar_eclipses/annular_eclipse.jpg. Figura 9.28: A sombra da Lua sobre a Terra durante um eclipse solar. Fonte: http://webecoist.com/2009/08/07/amazing-earth-photos-solar-eclipsesfrom-space/. ATIVIDADES Revise o conteúdo da aula de hoje, que é repleto de conceitos novos e de definições matemáticas. As aulas 10, 11 e 12 requerem o conhecimento de conceitos abordados na aula de hoje. RESUMO Nesta aula, você viu: Os sistemas de coordenadas utilizados para localizar astros no céu. As características dos movimento diário dos astros no céu. Os movimentos mensal da Lua e anual do Sol. As estações do ano. Os eclipses. REFERÊNCIAS COLLINS, George W. II. The foundations of celestial mechanics. 2.ed. Tucson: Pachart Publishing House, 2004. ROY, A. E.; CLARKE, D. Astronomy: principles and practice. 4.ed. Bristol: Institute of Physics Publishing, 2003. SANTIAGO, Basílio. Apostila de Astronomia Geodésica. http://www.if.ufrgs.br/oei/santiago/fis2005/textos/index.htm. Disponível Acesso: 23 em: maio 2011. VÁRIOS AUTORES. Astronomia: uma visão geral do universo. 2.ed. 3.reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008. VINCENT, Fiona. Positional astronomy. Disponível em: http://star-www.stand.ac.uk/~fv/webnotes/. Acesso: 23 maio 2011. AULA 10 – DETERMINAÇÃO DO RAIO DA TERRA OBJETIVOS: Ao final desta aula,, o aluno deverá: ter fixado conceitos de astronomia de posição aplicando aplicando-os os a uma prática; prática compreender eender os fundamentos do método utilizado por Eratóstenes para medir o raio terrestre terrestre. 1 INTRODUÇÃO O astrônomo, geógrafo e matemático grego Eratóstenes viveu entre os séculos III e II a.C. Nascido em uma região da atual Líbia, produziu a maior parte dos seus trabalhos no Egito. Entre seus feitos notáveis estão a invenção da geografia como a conhecemos, a elaboração do mapa da Terra mais completo da época e uma estimativa da distância entre a Terra e o Sol. Um de seus trabalhos, que vamos analisar na aula de hoje, foi o cálculo do raio da Terra com base em um experimento simples e engenhoso. Eratóstenes, em uma viagem à cidade de Siena, no Egito, percebeu que, ali, ao meio meio-dia do solstício norte, de o verão Sol do se hemisfério encontrava exatamente no zênite. Hoje sabemos que isso acontece porque a antiga cidade de Siena se encontrava sobre o trópico de Câncer. Posteriormente, Eratóstenes, de volta à cidade de Alexandria onde morava, percebeu que, na mesma data e no mesmo horário (meio-dia Figura 10.1: Eratóstenes. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/co mmons/a/a2/Portrait_of_Eratosthenes.pn g do solstício de verão do hemisfério norte), o Sol não se encontrava no zênite,, diferentemente do que acontecia na cidade de Siena Siena. Eratóstenes interpretou essa diferença considerando que a Terra era uma esfera, com algum diâmetro. Em um mesmo instante, dois is pontos diferentes da Terra recebem os raios solares com diferentes orientações devido à curvatura da Terra. Assim, medindo a variação da posição do Sol no céu nesses dois pontos da superfície da Terra, e com um pouco de trigonometria, seria possível det determinar o raio da Terra. Eratóstenes sabia que, para se deslocar de Alexandria a Siena, era preciso rumar quase em linha reta para o sul, ou seja, para Eratóstenes, Alexandria e Siena se encontravam sobre o mesmo meridiano. Sendo assim, a diferença entre a posição do Sol na esfera celeste nesses dois pontos era igual à diferença de latitudes entre Siena e Alexandria. A diferença de latitudes entre Siena e Alexandria foi medida por Eratóstenes a partir do comprimento da sombra produzida pelo Sol em um bastão fixo ao chão na vertical e de altura conhecida. A partir desse valor e da distância entre as cidades de Siena e Alexandria, Eratóstenes estimou o raio da Terra como aproximadamente 13.500 quilômetros, um valor excelente para a época. Nesta prática, vamos reproduzir um experimento semelhante ao de Eratóstenes e obter uma estimativa do raio da Terra. 2 METODOLOGIA Os únicos dados de que necessitamos para realizar nossa análise são os seguintes: 1) A distância entre Siena e Alexandria é de aproximadamente 850 km. 2) Um bastão de 1 m de altura fixado no solo, na vertical, na cidade de Alexandria, produz uma sombra de 13 cm no solo durante o meio-dia do solstício de verão do hemisfério norte. Utilizando essas informações, você pode estimar o raio da Terra. Para isso, siga os seguintes passos: 1) Usando trigonometria, mostre que o ângulo ߠ entre a posição do Sol ao meio-dia de Alexandria em relação ao zênite é dado por: ℎ ߠ = atan ൬ ൰, ݈ 10.1 onde ℎ é a altura do bastão e ݈ é o comprimento da sombra projetada pelo bastão. Para os dados obtidos, ℎ = 1 m e ݈ = 13 cm, calcule o ângulo ߠ. 2) Mostre que o ângulo ߠ obtido acima é igual à diferença entre as latitudes de Siena e Alexandria. Para isso, desenhe um círculo representando o globo terrestre, localize as cidades de Siena e Alexandria na borda do círculo e alguns raios de sol, todos paralelos, atingindo a superfície da Terra. 3) Utilizando trigonometria e aritmética, mostre que a circunferência ݏda Terra pode ser calculada a partir de ߠ e da distância ݀ entre Siena e Alexandria pela equação: =ݏ 2ߨ ݀ ߠ 10.2 Calcule o valor de ݏusando a distância entre Alexandria e Siena fornecida acima e o valor de ߠ calculado via equação 10.1. 4) Determine o raio da Terra, usando o valor de ݏcalculado via equação 10.2. 3 ANÁLISE DOS RESULTADOS Compare o valor que você encontrou para o raio da Terra com a estimativa moderna do raio médio da Terra, 6371 km. Analise os fatores que podem ter causado a diferença entre esses valores. Pense em quais seriam as formas possíveis de melhorar esse experimento, e discuta se essas modificações estariam ao alcance de Eratóstenes na época. RESUMO Nesta aula, você viu: Aplicações dos conceitos relacionados à astronomia de posição. Um método simples para determinar o raio da Terra, utilizado por Eratóstenes. REFERÊNCIAS ROY, A. E.; CLARKE, D. Astronomy: principles and practice. 4.ed. Bristol: Institute of Physics Publishing, 2003. AULA 11 – ANÁLISE DE TABELAS DE MARÉS OBJETIVOS: Ao final desta aula, o aluno deverá: ter compreendido a causa e as características das marés; ser capaz de vincular o comportamento das marés com os movimentos aparentes do Sol e da Lua. 1 INTRODUÇÃO As marés constituem um dos fenômenos cíclicos mais evidentes da Terra. Em todas as civilizações que já existiram, a alteração periódica no nível do mar ao longo dos litorais sempre foi observada e acompanhada, especialmente pela sua influência na navegação. Embora a humanidade estivesse ciente do fenômeno por milhares de anos, somente nos últimos quatrocentos anos é que temos à disposição uma teoria que explique, qualitativa e quantitativamente, as marés: a teoria da gravitação universal de Newton, assunto da aula 1. A Lua e o Sol, sendo dotados de massa, produzem forças gravitacionais sobre a Terra. Parte da constituição da superfície terrestre é composta por fluidos, como os oceanos. A parte fluida da superfície da Terra pode reagir às forças gravitacionais do Sol e da Lua de maneira parcialmente independente da sua porção sólida. Por outro lado, já sabemos que a força gravitacional entre dois corpos é tanto mais intensa quanto menor for a distância que separa os corpos que interagem. Isso faz com que a porção dos oceanos voltada para a Lua esteja mais próxima da Lua do que a porção oposta por um diâmetro terrestre. Assim, a força gravitacional que a Lua exerce sobre a porção dos oceanos voltada para ela é mais intensa do que a que atua em outras partes da Terra. Da mesma forma, essa força é menos intensa na porção oposta dos oceanos do que em qualquer outra parte da Terra. Isso produz uma espécie de alongamento nos oceanos, produzindo um aumento do nível dos oceanos nos dois extremos: na face voltada para a Lua e na face oposta. Considerações semelhantes podem ser feitas em relação ao Sol. A força gravitacional exercida pelo Sol sobre a Terra é mais intensa nas porções de água voltadas para ele, e menos intensa nas porções opostas. Assim, as marés ocorrem pelo efeito combinado das forças gravitacionais do Sol e da Lua sobre a Terra. Com isso, podemos descrever as variações nos níveis do mar a partir dos movimentos 9 0,145 0,223 0,304 0,340 0,357 0,338 0,278 0,182 0,147 0,119 0,121 0,154 0,229 0,316 0,394 0,440 0,456 0,412 0,313 0,231 0,140 0,059 0,016 0,020 10 0,081 0,130 0,233 0,319 0,369 0,366 0,363 0,288 0,208 0,152 0,120 0,130 0,159 0,208 0,272 0,342 0,365 0,362 0,308 0,221 0,146 0,059 0,002 0,010 8 0,102 0,082 0,103 0,141 0,216 0,336 0,412 0,492 0,533 0,480 0,411 0,280 0,183 0,123 0,062 0,080 0,157 0,212 0,309 0,367 0,381 0,366 0,310 7 0,193 0,140 0,128 0,152 0,233 0,314 0,446 0,530 0,576 0,564 0,484 0,379 0,261 0,141 0,040 -0,004 0,048 0,096 0,184 0,239 0,333 0,335 0,332 0,276 6 0,230 0,162 0,122 0,124 0,177 0,270 0,381 0,477 0,533 0,569 0,526 0,424 0,305 0,173 0,047 -0,030 -0,049 -0,021 0,086 0,176 0,253 0,284 0,307 0,269 5 0,216 0,141 0,106 0,078 0,098 0,174 0,283 0,400 0,499 0,557 0,544 0,474 0,350 0,215 0,081 -0,051 -0,133 -0,121 -0,049 0,029 0,111 0,192 0,241 0,246 4 0,196 0,153 0,112 0,066 0,065 0,118 0,209 0,332 0,443 0,537 0,582 0,558 0,471 0,324 0,182 0,039 -0,087 -0,146 -0,141 -0,054 0,025 0,101 0,162 0,187 3 0,171 0,154 0,103 0,057 0,042 0,014 0,074 0,175 0,308 0,439 0,534 0,559 0,525 0,422 0,289 0,138 -0,003 -0,127 -0,204 -0,168 -0,095 -0,008 0,096 0,145 2 0,167 0,163 0,141 0,098 0,074 0,063 0,061 0,117 0,239 0,323 0,460 0,542 0,560 0,530 0,423 0,304 0,140 -0,005 -0,090 -0,140 -0,118 -0,048 0,037 0,135 1 0,195 0,197 0,187 0,164 0,114 0,088 0,074 0,110 0,153 0,257 0,378 0,495 0,587 0,594 0,556 0,465 0,308 0,149 0,022 -0,074 -0,113 -0,097 -0,025 0,095 23h 22h 21h 20h 19h 18h 17h 16h 15h 14h 13h 12h 11h 10h 09h 08h 07h 06h 05h 04h 03h 02h 01h 00h Dia 2 0,250 aparentes do Sol e da Lua no céu, ou seja, a partir dos conceitos de astronomia de posição. Nesta aula prática, vamos analisar uma tabela de marés e interpretá-la a partir dos conceitos apresentados na aula 9. METODOLOGIA A tabela 11.1 fornece o nível do mar, a cada hora, no litoral da cidade de Arecibo, em Porto Rico, no intervalo de trinta dias a partir de primeiro de janeiro de 2011. O nível do mar é dado em metros, a partir de um nível de referência. A partir desses dados, você vai verificar que o ciclo das marés está associado ao mês lunar e às posições relativas da Lua e do Sol. Horário local 25 0,067 0,166 0,286 0,454 0,459 0,452 0,431 0,380 0,251 0,166 0,133 0,144 0,200 0,216 0,312 0,366 0,392 0,441 0,326 0,254 0,137 -0,003 -0,065 -0,065 26 -0,052 0,042 0,144 0,301 0,405 0,492 0,529 0,499 0,434 0,327 0,273 0,206 0,177 0,183 0,242 0,295 0,330 0,387 0,356 0,290 0,206 0,121 0,017 -0,045 24 0,027 -0,006 0,015 0,106 0,245 0,367 0,462 0,506 0,519 0,463 0,363 0,247 0,200 0,162 0,156 0,207 0,299 0,373 0,453 0,501 0,515 0,446 0,318 0,221 23 0,129 0,085 0,082 0,135 0,227 0,330 0,445 0,536 0,580 0,541 0,434 0,335 0,220 0,149 0,091 0,111 0,150 0,250 0,358 0,440 0,479 0,499 0,427 0,351 22 0,250 0,196 0,127 0,154 0,197 0,299 0,433 0,550 0,624 0,647 0,594 0,473 0,347 0,236 0,137 0,063 0,075 0,112 0,204 0,313 0,414 0,454 0,447 0,402 21 0,305 0,250 0,188 0,160 0,169 0,232 0,352 0,483 0,593 0,632 0,631 0,548 0,437 0,302 0,187 0,067 0,000 0,029 0,050 0,143 0,252 0,330 0,377 0,379 20 0,327 0,234 0,185 0,146 0,142 0,184 0,259 0,382 0,502 0,602 0,613 0,620 0,516 0,402 0,251 0,132 0,015 -0,020 0,003 0,050 0,156 0,227 0,298 0,344 19 0,332 0,300 0,252 0,185 0,135 0,169 0,211 0,342 0,451 0,547 0,612 0,617 0,591 0,489 0,358 0,256 0,084 -0,039 -0,050 -0,044 0,020 0,074 0,167 0,250 18 0,249 0,254 0,208 0,181 0,164 0,164 0,165 0,271 0,355 0,469 0,577 0,638 0,589 0,559 0,463 0,340 0,169 0,031 -0,073 -0,102 -0,067 -0,013 0,051 0,151 17 0,217 0,256 0,241 0,205 0,203 0,198 0,151 0,225 0,292 0,389 0,465 0,543 0,587 0,570 0,503 0,387 0,251 0,141 0,028 -0,036 -0,062 -0,048 0,016 0,105 16 0,196 0,254 0,273 0,270 0,244 0,235 0,222 0,216 0,258 0,316 0,394 0,442 0,501 0,546 0,529 0,483 0,393 0,300 0,169 0,095 0,034 -0,018 -0,006 0,038 15 0,100 0,150 0,223 0,196 0,222 0,221 0,221 0,184 0,190 0,212 0,270 0,341 0,408 0,447 0,507 0,476 0,435 0,341 0,253 0,143 0,039 -0,011 -0,045 -0,025 14 0,050 0,128 0,168 0,228 0,251 0,238 0,242 0,218 0,202 0,203 0,225 0,265 0,304 0,389 0,444 0,476 0,462 0,379 0,300 0,197 0,114 0,035 0,007 -0,009 13 0,041 0,093 0,185 0,249 0,313 0,304 0,285 0,279 0,251 0,224 0,199 0,197 0,232 0,316 0,363 0,402 0,403 0,410 0,350 0,289 0,184 0,126 0,063 0,047 12 0,053 0,107 0,172 0,230 0,290 0,333 0,343 0,339 0,305 0,241 0,190 0,162 0,180 0,208 0,274 0,342 0,365 0,373 0,346 0,320 0,246 0,151 0,068 0,037 11 0,032 0,056 0,119 0,197 0,269 0,338 0,369 0,346 0,305 0,235 0,188 0,110 0,099 0,141 0,186 0,252 0,306 0,354 0,371 0,337 0,291 0,180 0,112 0,038 0,051 0,142 0,213 0,107 0,100 0,221 0,242 0,196 0,201 0,246 0,243 0,242 0,270 0,259 0,227 0,272 0,310 0,240 0,206 0,281 0,299 0,227 0,179 0,273 0,276 0,206 0,175 0,239 0,224 0,197 0,183 0,205 0,190 0,215 0,234 0,197 0,181 0,239 0,297 0,205 0,166 0,290 0,371 0,257 0,208 0,410 0,469 0,306 0,250 0,482 0,528 0,401 0,330 0,540 0,564 0,483 0,401 0,565 0,521 0,517 0,485 0,533 0,448 0,582 0,514 0,460 0,354 0,523 0,495 0,371 0,228 0,486 0,438 0,249 0,098 0,362 0,326 0,132 0,022 0,234 0,224 0,057 -0,015 0,113 0,100 0,011 0,004 -0,027 0,022 0,011 0,033 -0,025 -0,022 27 28 -0,018 29 0,032 30 0,087 Tabela 11.1: Tabela horária de marés no litoral de Arecibo, em Porto Rico, no mês de janeiro de 2011. Fonte: tidesandcurrents.noaa.gov/. Para verificar a conexão das marés com as posições da Lua e do Sol, examinando a tabela 11.1, siga os seguintes passos: 1) Para cada dia mostrado na tabela, mostre que a maré sobe e desce duas vezes, e que as duas marés cheias ocorrem aproximadamente a cada 12 horas. 2) Mostre que as duas marés cheias que ocorrem por dia possuem níveis diferentes. 3) Mostre que o horário de ocorrência das marés cheias não se repete de um dia para o outro, mas se atrasa em, aproximadamente, uma hora por dia. 4) Mostre que a intensidade da maré cheia varia ao longo do mês. Mostre que existem dois períodos do mês, separados por aproximadamente 15 dias, em que a maré cheia é particularmente mais intensa do que nos outros períodos. 5) Tome nota de quaisquer discordâncias entre os quatro pontos anteriores e os dados da tabela 11.1. 3 ANÁLISE DOS RESULTADOS No experimento, você verificou que as duas marés cheias diárias são diferentes em intensidade. A maré cheia mais alta é provocada pela Lua quando está acima do horizonte. Isso ocorre porque, quando a Lua está acima do horizonte local, está mais próxima de nós por até um diâmetro terrestre do que quando está abaixo do horizonte. Você observou, também, que as marés altas se atrasam em aproximadamente uma hora por dia. Isso ocorre porque, durante o intervalo de tempo de 24 horas que a Terra leva para girar em torno do seu eixo, a Lua se move, nessas 24 horas, 1/28 de círculo na esfera celeste, já que leva 28 dias para percorrer sua órbita em torno da Terra. Assim, a cada dia, uma maré alta se atrasa em aproximadamente 51 minutos. Esse vínculo entre o avanço diário das marés e o movimento da Lua na esfera celeste mostra claramente a influência da Lua nas marés. A variação da intensidade da maré cheia, que você deve ter constatado na tabela 11.1, acontece porque, uma vez por mês, a Lua entra em oposição com o Sol, na fase cheia, e, também, uma vez por mês, está em conjunção, na fase nova. Nessas duas situações, as forças de maré da Lua e do Sol atuam em conjunto, produzindo marés mais altas do que no restante do mês. Essas marés são chamadas marés de sizígia. As marés que ocorrem nas fases crescente e minguante são chamadas marés de quadratura. Finalmente, sabendo que a fase nova da Lua se iniciou no dia 4 de janeiro, analise se o que foi explicado acima sobre as posições relativas da Lua e do Sol tem de fato conexão com a interpretação que demos para os dados da tabela. Existem diversos aspectos dos oceanos, da atmosfera e da interação entre a Terra, a Lua e o Sol que afetam a intensidade das marés. O sentido das correntes oceânicas locais e a ocorrência de ciclones, por exemplo, têm forte influência nas marés. Por isso, as características das marés em um ponto qualquer dos oceanos é algo específico das condições locais. Isso explica, em parte, os pontos de aparente discordância entre os dados da tabela 11.1 e o resultado da nossa análise. RESUMO Nesta aula, você viu: As propriedades e a interpretação astronômica do fenômeno das marés. Uma aplicação prática dos conceitos da astronomia de posição. AULA 12 – CRIAÇÃO DE CALENDÁRIOS OBJETIVOS: Ao final desta aula, o aluno deverá: ter compreendido a função e características dos calendários; entender os princípios fundamentais do calendário gregoriano; ser capaz de aplicar conhecimentos sobre o movimento dos astros na esfera celeste para desenvolver um calendário. 1 INTRODUÇÃO Um calendário é um sistema de organização dos dias que permite fazer referências exatas a um período do passado ou inferências sobre quando devem ocorrer eventos futuros. Quase todas as civilizações utilizaram calendários, seja adaptando um sistema existente em outra civilização ou desenvolvendo um próprio. Embora se possam elaborar calendários seguindo qualquer forma, regular ou não, de organizar os dias, os calendários mais comuns foram criados visando acompanhar um ou mais ciclos naturais. A razão para isso é que grande parte das atividades humanas está diretamente vinculada a esses ciclos: a época de plantio de uma cultura deve acompanhar ciclos de chuvas, temperaturas médias e insolação, e esses ciclos são anuais em grande parte das regiões do globo; as marés, como vimos na aula 11, estão associadas ao ciclo das fases lunares etc. Calendários que acompanham esses ciclos facilitam a previsão das melhores épocas de plantio, de navegação etc. Ao longo da história, os ciclos naturais mais comumente utilizados para a criação de calendários, como exemplificado acima, foram os movimentos aparentes do Sol e da Lua. O Sol leva aproximadamente 365,24 dias para percorrer a eclíptica. Calendários baseados no movimento aparente do Sol apresentam, portanto, um nível cíclico próximo de 365 dias, chamado ano; esse ciclo pode ser, também, dividido em um número de sub-ciclos. Calendários baseados no movimento da Lua possuem um nível cíclico de cerca de 30 dias, chamado mês, e em possíveis sub-ciclos, pois esse é o tempo que a Lua leva para dar uma volta completa na esfera celeste. Um exemplo de sub-ciclo lunar é a semana, que corresponde à duração aproximada de cada uma de suas fases. Calendários mistos utilizam ciclos sobrepostos, associados a mais de um fenômeno (como as fases da lua e o movimento do Sol no céu). A cada ciclo completo (ou a cada fração de ciclo), podemos atribuir um nome próprio ou um número, a partir de uma data de referência. Os anos, por exemplo, podem ser numerados, a partir de um ano qualquer. Os meses podem ser representados por nomes ou números. Dentro de cada ciclo, os dias são organizados por nomes próprios, ou também representados por números. Por exemplo, em um calendário anual, podemos numerar os dias de 1 a 365. Dentro do ciclo mensal, podemos numerar os dias de 1 a 30, ou dar nomes a eles. Dentro da semana, podemos numerar os dias de 1 a 7, ou dar nomes a eles. O calendário utilizado no Brasil e na maior parte dos países ocidentais, também considerado o calendário civil internacional, é o calendário gregoriano, introduzido pelo papa Gregório XIII em 1582. Esse calendário organiza as datas em ciclos anuais de 365 dias; a cada ciclo completo, ou ano, é dado um número que corresponde ao número de ciclos decorridos a partir do ano de referência, de valor 1. Alguns anos, chamados bissextos, possuem 366 dias, para compensar o fato de que o Sol não leva exatos 365 dias para percorrer a eclíptica. A introdução de um dia a mais a cada quatro anos, exceto em anos múltiplos de 100 e que não sejam divisíveis por 400, corrige o calendário gregoriano pela diferença sistemática de 0,24 dias que ocorreria de um ano a outro em um calendário de 365 dias. O ano, no calendário gregoriano, é dividido em 12 ciclos de duração aproximada de um ciclo lunar, ou meses, e cada um dos meses ganha um nome próprio: Janeiro, Fevereiro, Março etc. Os diferentes meses possuem durações distintas, de 28 a 31 dias, visando acomodar os 365-366 dias do ano. Dentro de cada mês, os dias são numerados de 1 a 31, dependendo da duração do mês. Sobreposto a esse sistema existe um sub-ciclo lunar, semanal, dentro do qual cada dia recebe um nome próprio. No Brasil, esses dias são chamados domingo, segunda-feira, terça-feira etc. O calendário Gregoriano é notavelmente preciso, uma vez que acompanha muito bem o movimento do Sol ao longo dos anos. O ciclo das estações é acompanhado tão bem pelo calendário gregoriano que são necessários 3300 anos para que o atraso entre a previsão do calendário gregoriano e o início de fato de uma estação do ano chegue a um dia completo de duração. Na aula de hoje, você vai elaborar calendários para planetas fictícios sujeitos a ciclos variados. Com isso, você vai não somente compreender a complexidade do problema de elaborar um calendário, mas reforçar os conceitos de astronomia de posição. 2 METODOLOGIA A tabela 12.1 fornece uma lista de planetas hipotéticos e suas características. Você vai elaborar um calendário para cada um desses planetas, utilizando os ciclos e especificações descritos na tabela. Planeta Características do planeta Características desejadas para o calendário A Leva 150,110 dias para completar Solar, dotado de subciclo com B sua órbita. qualquer número de divisões, mas Desprovido de “luas”. todas de mesma duração. Leva 211,500 dias para completar Solar, dotado de subciclo com sua órbita. qualquer número de divisões, não Dotado de uma “lua”, cujo ciclo é de necessariamente de mesma duração. 25,100 dias. Subciclo extra, lunar, com qualquer duração. C Leva 403,000 dias para completar Solar, dotado de subciclo com sua órbita. qualquer número de divisões, não Dotado de uma “lua”, cujo ciclo é de necessariamente de mesma duração. 100,750 dias. D Leva 442,128 dias para completar Solar, dotado de subciclo com sua órbita. qualquer número de divisões, mas Dotado de duas “luas”, chamadas todas de mesma duração e vinculado Lua Maior e Lua Menor, cujos ciclos de alguma forma ao movimento de são, respectivamente, 33,520 dias e uma das luas. 75,500 dias. Sub-ciclo extra, lunar, com qualquer duração, para a outra lua. E Leva 110,400 dias para completar Lunar, dotado de subciclo com sua órbita. qualquer número de divisões, não Dotado de uma “lua”, cujo ciclo é de necessariamente de mesma duração. 329,540 dias. Tabela 12.1: Características de cinco planetas hipotéticos e dos respectivos calendários desejados. 3 ANÁLISE DOS RESULTADOS Com base nos calendários que você criou, analise: 1) Qual deles você considera o mais complexo, e por quê. 2) Qual deles possui divisões de datas mais diretamente associadas com os ciclos naturais do planeta ao qual é direcionado. Essa associação tornaria os ciclos do calendário mais compreensíveis para os habitantes locais. 3) Qual deles possui divisões menos diretamente associadas com os ciclos naturais que pretende reproduzir. 4) Qual a imprecisão de cada um dos calendários que você criou, e como essa imprecisão se compara à imprecisão do calendário gregoriano. 5) Se foi necessário aplicar algum tipo de mecanismo de adição de datas, como os anos bissextos do calendário gregoriano, e por quê. RESUMO Nesta aula, você viu: O que são e como funcionam os calendários. Os princípios fundamentais do calendário gregoriano. O uso da posição dos astros no céu na criação de um calendário. AULA 13 – AS DISTÂNCIAS DOS ASTROS E AS CONSTELAÇÕES OBJETIVOS: Ao final desta aula, o aluno deverá: ter assimilado as definições e características das unidades de distância usadas em astronomia; ter compreendido os conceitos de paralaxe e de movimento próprio; entender o que são as constelações e saber reconhecer algumas delas em mapas celestes. 1 INTRODUÇÃO Até agora, neste curso, analisamos exclusivamente a posição dos astros projetada na esfera celeste, sem levarmos em conta as distâncias individuais que os corpos celestes apresentam em relação à Terra. Grande parte daquilo que observamos no céu pode ser explicado puramente mediante a astronomia esférica. Porém, existem fenômenos celestes que são provocados pelo fato de que a esfera celeste é apenas uma aproximação, e que cada corpo celeste tem uma posição própria em relação à Terra. Esta aula aborda as distâncias astronômicas, os fenômenos associados às diferentes posições relativas dos astros e a aparência do céu noturno. 2 UNIDADES DE DISTÂNCIA ASTRONÔMICA Quando um engenheiro projeta uma residência, planeja as dimensões de cada parte da residência usando um conjunto de unidades de medida. As residências típicas têm larguras, alturas e comprimentos da ordem de alguns metros (casas com extensões de alguns centímetros ou de alguns quilômetros são raras, para dizer o mínimo). É natural, portanto, que o engenheiro faça suas medidas em metros ou, em trechos mais detalhados e minuciosos da obra, em centímetros. Seria pouco usual, e pouco prático, medir as dimensões de uma residência em quilômetros, milímetros ou micrômetros: imaginem expressar a medida lateral de uma residência de 10 m como 10000000 ߤm! Da mesma forma, para medirmos as distâncias entre os astros, precisamos de unidades de medida adequadas. As principais unidades usadas em astronomia para expressar as distâncias dos corpos celestes são a unidade astronômica, o anoluz e o parsec. Vejamos a que correspondem essas unidades. 2.1 A unidade astronômica A Terra, conforme se move em torno do Sol, descreve em torno dele uma trajetória elíptica – sua órbita. A distância média da Terra ao Sol, durante o tempo em que percorre totalmente sua órbita, é de aproximadamente 149.600.000 km. Definimos a unidade astronômica como o valor da distância média da Terra ao Sol, o que equivale ao raio médio da órbita terrestre. Mais precisamente, uma unidade astronômica (símbolo UA) vale: 1 UA = 149.597.870,7 km 13.1 Usando a unidade astronômica para expressar distâncias dentro do sistema solar, vemos o quanto sua introdução facilita expressar esses valores e enxergar as relações entre eles. Por exemplo, a distância média entre o planeta Saturno e o Sol é de 1.429.400.000 km. Expressando-a em unidades astronômicas, temos 9,55 UA. Como a Terra está a 1 UA do Sol, fica fácil perceber que Saturno está quase dez vezes mais distante do Sol do que a Terra. A unidade astronômica é utilizada principalmente para medir distâncias dentro do sistema solar, ou entre o Sol e as estrelas mais próximas. 2.2 O parsec Para situações astronômicas nas quais as distâncias envolvidas são muito maiores do que uma unidade astronômica, é mais conveniente utilizar uma unidade diferente, mais extensa, de medida de distância. O parsec é uma unidade de medida de distância que utiliza o conceito de unidade astronômica em sua definição. Imagine que estejamos a bordo de uma nave espacial que se distancia do sistema solar. Em qualquer ponto de nossa viagem, podemos olhar em direção ao sistema solar e traçar mentalmente a órbita da Terra. Conforme nos afastamos, a órbita da Terra nos parece cada vez menor, porque o ângulo compreendido pela órbita da Terra em nosso campo de visão decresce. Se continuarmos a viagem indefinidamente, em algum momento observaremos o sistema solar de um ponto tão distante que o raio da órbita da Terra vai cobrir apenas um segundo de arco em nosso campo de visão – ou seja, 1/3600 graus. Nesse ponto, estamos, por definição, a um parsec do Sol. O parsec (símbolo pc) é definido, portanto, como a distância na qual uma unidade astronômica (o raio médio órbita da Terra) cobre um segundo de arco no campo de visão. Em quilômetros, um parsec vale: 1 pc = 31 × 10ଵଶ km 13.2 O parsec é uma unidade de medida conveniente para expressar as distâncias entre as galáxias e estruturas astronômicas em grande escala, além de suas extensões. 2.3 O ano-luz A luz, no vácuo, se desloca a uma velocidade ܿ igual a, aproximadamente, 300000 km/s. Se deixarmos um feixe de luz se propagar durante um intervalo de tempo Δ ݐconhecido, a luz irá percorrer uma distância ݀ igual a ܿΔݐ. Podemos usar essa distância ݀ como uma unidade de distância. Por exemplo, durante uma hora, a luz percorre uma distância ݀ = 300000 km/s × 3600 s = 1,08 × 10ଽ km. A distância ݀ é chamada hora-luz, ou seja, é a distância que a luz percorre em uma hora. Em um ano, a luz percorre uma distância ݀ de aproximadamente 9 × 10ଵଷ km. Chamamos essa distância de ano-luz. Assim, um ano-luz (símbolo al, ou mais comumente ly, do inglês light-year) é a distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano. Em quilômetros, um ano-luz vale exatamente: 1 ly = 9.460.730.472.580,8 km 13.3 O ano-luz tem utilização limitada na astronomia, sendo mais usado em obras de divulgação científica, já que é mais simples para o leigo compreender o que significa um ano-luz do que um parsec. 3 PARALAXE Se todos os astros estivessem mais ou menos à mesma distância da Terra, então, em qualquer horário, o céu noturno se mostraria com as mesmas características, exceto pelo movimento aparente do Sol, da Lua e dos planetas do sistema solar. Sendo assim, deveríamos esperar que, se as estrelas estão igualmente distantes da Terra, e todas a uma grande distância, as estrelas se distribuem em estruturas aparentes fixas na esfera celeste. Porém, embora isso seja uma excelente aproximação para a maior parte das situações, o céu noturno não apresenta exatamente a mesma aparência em duas datas distintas na Terra, ou mesmo em dois horários diferentes de observação. Isso acontece porque, como cada astro tem uma distância diferente em relação à Terra, conforme a Terra gira em seu eixo e se move em sua órbita, vemos os astros que estão mais próximos da Terra com orientações diferentes em relação aos astros mais distantes. Assim, os astros mais próximos parecem se mover sobre a esfera celeste. Chamamos essa variação da posição aparente de um astro na esfera celeste em diferentes linhas de visada de paralaxe. Existem dois tipos principais de paralaxe: a diurna, ou geocêntrica, e a anual, ou heliocêntrica. Vejamos com detalhes cada uma delas a seguir. 3.1 A paralaxe geocêntrica A figura 13.1(a) mostra um observador situado na posição A sobre a superfície terrestre e observando um planeta P no céu. Nessa posição, o observador vê o planeta no céu cercado pelas estrelas que estão mais distantes do que ele, na mesma linha de visada, como mostra a figura 13.1(b). A estrela indicada pela cor azul é a mais próxima do planeta, no céu. (a) (b) (c) (d) (e) Figura 13.1: (a) Um planeta P sendo observado na Terra, no ponto A. As estrelas na mesma linha de visada de P estão indicadas pela linha pontilhada e seriam vistas na Terra próximos ao planeta P, como mostrado em (b). (c) O mesmo planeta sendo observado doze horas depois; nesse momento, ele será visto, no céu, próximo das estrelas mostradas em (d). (e) A paralaxe geocêntrica do planeta P. Depois de doze horas a partir do instante de sua primeira observação do planeta P, o observador volta a contemplar o céu e olha na novamente na direção do planeta P, como mostra a figura 13.1(c). Note que, agora, as estrelas que estão na mesma linha de visada que o planeta P, para o observador, mudaram. Agora, como mostra a figura 13.1(d), o observador vê o planeta no céu cercado por um arranjo um pouco diferente de estrelas, como se o planeta tivesse se movido no céu. Na figura 13.1(e), as duas observações realizadas são mostradas simultaneamente, e vemos que o planeta P se moveu, ao longo de 12 horas, de um certo ângulo no céu. A metade desse ângulo é representada pela letra p e é chamada ângulo de paralaxe ou ângulo paralático. Representando o raio da Terra por ݎ, e a distância que separa o observador do planeta P pela letra ݀, é fácil demonstrar que: ݀= ݎ senሺpሻ 13.3 Como a distância do astro é inversamente proporcional ao seno do ângulo paralático, e como os ângulos paraláticos são geralmente pequenos, então quanto maior a paralaxe observada para um astro, mais próximo ele se encontra. Assim, podemos expressar a distância dos astros à Terra a partir de seus ângulos paraláticos geocêntricos. Na prática, a paralaxe geocêntrica é significativa somente para astros que pertencem ao sistema solar: a Lua, o Sol, os planetas e asteróides etc. 3.2 A paralaxe heliocêntrica O princípio da paralaxe heliocêntrica é semelhante ao da paralaxe geocêntrica, exceto que os dois pontos de observação passam a ser separados por seis meses, e não doze horas. Em seis meses, a Terra percorre metade de sua órbita, ou seja, se encontra em pontos diametralmente opostos em relação ao Sol. A figura 13.2 mostra duas observações de uma estrela S, realizadas em um intervalo de tempo de seis meses. As linhas de visada sobre a estrela S formam um ângulo, cuja metade é o ângulo paralático. Representando o raio da órbita da Terra por ܴ, e a distância que separa o Sol da estrela S pela letra ܦ, temos: =ܦ ܴ senሺpሻ 13.4 Figura 13.2: A paralaxe heliocêntrica. A estrela S é vista, no céu, contra um fundo diferente de estrelas em duas observações separadas por seis meses. O ângulo p indicado na figura é o ângulo paralático. Assim, podemos expressar a distância dos astros à Terra a partir de seus ângulos paraláticos heliocêntricos. A paralaxe heliocêntrica, por ser mais sensível às diferenças de distância entre os astros, é usada inclusive para astros fora do sistema solar, como as estrelas mais próximas do Sol. A tabela 13.1 mostra a lista das nove estrelas com maior paralaxe já observadas, ou seja, as nove estrelas conhecidas mais próximas da Terra. A tabela fornece o nome da estrela, duas coordenadas celestes equatoriais, seu ângulo paralático heliocêntrico e sua distância ao Sol. Perceba que o Sol, sendo uma estrela, também se encontra na lista. As coordenadas equatoriais do Sol mudam ao longo do ano, por isso não são indicadas. Estrela ࢻ ࢾ p (’’) D (ly) Sol - - - - Proxima Centauri 14h 29m 43,0s -62º 40’ 46’’ 0,7688 4,240 Alpha Centauri A 14h 39m 36,5s -60º 50’ 02’’ 0,7472 4,363 Alpha Centauri B 14h 39m 35,1s -60º 50’ 14’’ 0,7472 4,363 Estrela de Barnard 17h 57m 48,5s 04º 41’ 36’’ 0,5455 5,976 Wolf 359 10h 56m 29,2s 07º 00’ 53’’ 0,4191 7,779 Lalande 21185 11h 03m 20,2s 35º 58’ 12’’ 0,3932 8,290 Sirius 06h 45m 08,9s -16º 42’ 58’’ 0,3800 8,578 Sirius B 06h 45m 08,9s -16º 42’ 58’’ 0,3800 8,578 Tabela 13.1: As nove estrelas com maior paralaxe heliocêntrica, ou seja, as mais próximas do Sol. Nas colunas 4 e 5 estão a paralaxe da estrela, em segundos de arco, e sua distância em anos-luz. Fonte: www.recons.org. 4 MOVIMENTO PRÓPRIO Os planetas do sistema solar são, quase todos, conhecidos pela humanidade desde milênios, uma vez que apresentam uma característica importante que os distingue das estrelas no céu: ele se movem, visivelmente, no céu, ao longo dos dias, meses e anos. Isso se deve ao fato de orbitarem o Sol a distâncias relativamente próximas. Conforme percorrem sua órbita, mudam de orientação em relação às estrelas, o que é visto na forma de um movimento na esfera celeste. Porém, as estrelas, embora estejam muito mais distantes da Terra do que os demais planetas do sistema solar, também se movem no céu. Isso acontece porque cada estrela tem uma velocidade específica e particular no interior da nossa galáxia, a Via Láctea. Como todas as estrelas estão se movendo, então nenhuma estrela está de fato fixa na esfera celeste. Entretanto, as estrelas estão tão distantes umas das outras, inclusive do Sol, que não conseguimos perceber seu movimento no céu apenas comparando as posições das estrelas entre si ao longo dos anos e décadas, sendo necessários instrumentos astronômicos para o detectarmos. A esse movimento individual das estrelas na esfera celeste em relação às demais estrelas chamamos de movimento próprio. A figura 13.3 mostra o movimento aparente da Estrela de Barnard, a estrela com maior movimento próprio já detectado, num intervalo de tempo de vinte anos. Perceba, nessa figura, que, enquanto as outras estrelas permanecem com suas posições praticamente inalteradas nesse período, a Estrela de Barnard se desloca sensivelmente. Figura 13.3: A posição, no céu, da Estrela de Barnard entre 1985 e 2005. Fonte: http://readerfeedback.labs.wikimedia.org/wiki/Barnard's_Star O movimento próprio de uma estrela só pode ser observado se a estrela está muito próxima da Terra, situação em que um pequeno movimento já faz a estrela se deslocar muito em relação às estrelas mais distantes, ou se a estrela tem uma velocidade muito alta, mesmo estando muito distante. A tabela 13.2 mostra as nove estrelas conhecidas com maior movimento próprio. Nesta tabela, são fornecidos o nome da estrela, suas coordenadas celestes equatoriais e seu movimento próprio em segundos de arco por ano. Note que a Estrela de Barnard e Lalande 21185, que estão entre as nove estrelas mais próximas da Terra e constam na tabela 13.1, também estão entre aquelas com maior movimento próprio. Estrela ࢻ ࢾ Movimento próprio (’’/ano) Estrela de Barnard 17h 57m 48,5s 04º 41’ 36’’ 10,358 Estrela de Kapteyn 05h 11m 40,6s -45° 01’ 06’’ 8,671 Groombridge 1830 11h 52m 58,8s 37° 43’ 07’’ 7,058 Lacaille 9352 23h 05m 52,0s -35° 51’ 11’’ 6,896 Gliese 1 00h 05m 24,4s -37° 21’ 27’’ 6,100 HIP 67593 13h 51m 02,9s 23° 46’ 36’’ 5,834 61 Cygni A 21h 06m 53,9s 38° 44’ 58’’ 5,281 61 Cygni B 21h 06m 55,3s 38° 44’ 31’’ 5,172 Lalande 21185 11h 03m 20,2s 35º 58’ 12’’ 4,802 Tabela 13.2: As nove estrelas com maior movimento próprio. Fonte: http://www.recons.org/ 5 CONSTELAÇÕES Os planetas do sistema solar são, quase todos, conhecidos pela humanidade desde milênios, uma vez que apresentam uma característica importante que os distingue das estrelas no céu: ele se movem, visivelmente, no céu, ao longo dos dias, meses e anos. Isso se deve ao fato de orbitarem o Sol a distâncias relativamente próximas. Conforme percorrem sua órbita, mudam de orientação em relação às estrelas, o que é visto na forma de um movimento na esfera celeste. Na seção 4, vimos que as estrelas também mudam sua posição no céu ao longo dos anos. Porém, essa variação é, em geral, tão pequena que a configuração das estrelas no céu é muito aproximadamente constante. Como as estrelas no céu apresentam diferentes tamanhos e cores aparentes e não estão distribuídas de maneira uniforme, acabam produzindo eventuais padrões de organização que se são facilmente identificáveis e se destacam no céu. Esses padrões de estrelas no céu são conhecidos como constelações e, em geral, ganham seus próprios nomes. 5.1 Constelações: aspectos gerais As diferentes culturas ao longo da história da humanidade sempre identificaram, no céu, padrões de organização de estrelas a partir do ponto de vista de sua própria cultura. Assim, enquanto o desenho formado por um conjunto de estrelas pode ser visto como semelhante a um ser humano, um animal ou um objeto por uma cultura, pode ser visto com um significado totalmente diferente por outra. Além disso, os limites de um padrão de estrelas vistos por uma pessoa não necessariamente são os mesmos que qualquer outra pessoa escolheria. Assim, quando nos referimos a uma constelação no sentido mais amplo do termo, estamos, antes de qualquer coisa, nos referindo a uma cultura e a um grupo humano em particular. Existe outro significado para a palavra constelação, mais técnico do ponto de vista astronômico. Este significado decorre da necessidade de localizar com precisão a região do céu ocupada por algum objeto ou evento astronômico. Historicamente, grande parte da astronomia de posição utilizou informações sobre a localização de objetos no céu usando a constelação mais próxima da qual esse objeto se encontrava. Porém, essa indicação é muito imprecisa quando as constelações não apresentam fronteiras bem definidas. Em 1925, a União Astronômica Internacional decidiu especificar constelações com nomenclatura e fronteiras bem definidas, cobrindo a totalidade da esfera celeste. Tendo como base as constelações greco-romanas, a esfera celeste foi dividida em 88 regiões com limites bem definidos. A todas essas regiões, as constelações do ponto de vista astronômico atual, foram associados nomes em latim. Assim, qualquer ponto no céu está localizado em alguma constelação. Como exemplo, a figura 13.4(a) mostra uma região do céu, e a figura 13.4(b) mostra as constelações que ocupam essa região. Constelação Nome em português Sigla Andromeda Antlia Apus Aquarius Aquila Ara Aries Auriga Bootes Caelum Camelopardalis Cancer Canes Venatici Canis Major Canis Minor Capricornus Carina Cassiopeia Centaurus Cepheus Cetus Chamaleon Circinus Columba Coma Berenices Corona Australis Corona Borealis Corvus Crater Crux Cygnus Delphinus Dorado Draco Equuleus Eridanus Fornax Gemini Grus Hercules Horologium Hydra Andrômeda Máquina Pneumática Ave do Paraíso Aquário Águia Altar Carneiro Cocheiro Boieiro Buril Girafa Caranguejo Cães de Caça Cão Maior Cão Menor Capricórnio Carena do Navio Cassiopeia Centauro Cefeu Baleia Camaleão Compasso Pomba Cabeleira de Berenice Coroa Austral Coroa Boreal Corvo Taça Cruzeiro do Sul Cisne Golfinho Peixe Dourado Dragão Pequeno Cavalo Rio Eridano Fornalha Gêmeos Pássaro Grou Hércules Relógio Hidra Serpente do Mar And Ant Aps Aqr Aql Ara Ari Aur Boo Cae Cam Cnc CVn CMa CMi Cap Car Cas Cen Cep Cet Cha Cir Col Com CrA CrB Crv Crt Cru Cyg Del Dor Dra Equ Eri For Gem Gru Her Hor Hya Hydrus Indus Lacerta Leo Leo Minor Lepus Libra Lupus Lynx Lyra Mensa Microscopium Monoceros Musca Norma Octans Ophiucus Orion Pavo Pegasus Perseus Phoenix Pictor Pisces Pisces Austrinus Puppis Pyxis Reticulum Sagitta Sagittarius Scorpius Sculptor Scutum Serpens Sextans Taurus Telescopium Triangulum Triangulum Australe Tucana Ursa Major Ursa Minor Vela Virgo Volans Vulpecula Hidra Macho Índio Lagarto Leão Leão Menor Lebre Balança Lobo Lince Lira Mesa Microscópio Unicórnio Mosca Esquadro Oitante Serpentário Órion Pavão Pégaso Cavalo Alado Perseus Fênix Cavalete de Pintura Peixes Peixe Austral Popa do Navio Bússola Retículo Flecha Sagitário Escorpião Escultor Escudo Serpente Sextante Touro Telescópio Triângulo Triângulo Austral Tucano Ursa Maior Ursa Menor Vela do Navio Virgem Peixe Voador Raposa Hyi Ind Lac Leo LMi Lep Lib Lup Lyn Lyr Men Mic Mon Mus Nor Oct Oph Ori Pav Peg Per Phe Pic Psc PsA Pup Pyx Ret Sge Sgr Sco Scl Sct Ser Sex Tau Tel Tri TrA Tuc UMa UMi Vel Vir Vol Vul Tabela 13.3: As oitenta e oito constelações definidas pela União Astronômica Internacional em 1925. (a) (b) Figura 13.3: Mapa de uma região do céu noturno (a) e as constelações que ocupam essa região (b). As estrelas são representadas por pontos pretos. Note que toda a região está dividida entre as diferentes constelações. Fonte: Google Earth. A tabela 13.3 mostra as 88 constelações definidas pela União Astronômica Internacional, com seus nomes em latim e em português, e sua sigla. As figuras 13.5 a 13.8 são mapas celestes que mostram a localização das constelações no céu. Desses quatro mapas, dois são equatoriais, mostrando as constelações em torno do equador celeste, e dois são polares, mostrando as constelações em torno dos polos norte e sul celeste. É importante ter sempre em mente que as constelações não formam sistemas físicos, isto é, as estrelas que parecem próximas no céu e formando uma figura são vistas assim somente porque se encontram na mesma direção do céu, e não porque estejam, de fato, próximas. Figura 13.5: Mapa celeste mostrando as constelações em torno do polo norte celeste. Fonte: SFA Observatory. Figura 13.6: Mapa celeste mostrando as constelações em torno do polo sul celeste. Fonte: SFA Observatory. Figura 13.7: Mapa celeste mostrando as constelações em torno do equador celeste, desde o ponto vernal (ߙ = 0) até a ascensão reta ߙ=12 h. Fonte: SFA Observatory. Figura 13.8: Mapa celeste mostrando as constelações em torno do equador celeste, entre a ascensão reta ߙ=12 h e ߙ= 24h. Fonte: SFA Observatory. 5.2 O Zodíaco Na aula 9, vimos que o zodíaco corresponde à região do céu em torno da eclíptica. Com base no que vimos sobre as constelações nessa aula, podemos aprimorar essa definição. O zodíaco é o conjunto de constelações pelas quais passa a eclíptica. O zodíaco (“de animais”, em grego antigo) é assim chamado porque as antigas constelações gregas que eram cruzadas pela eclíptica eram todas ligadas a temas animais. Como a eclíptica é o caminho aparente do sol na esfera celeste, o Sol cruza todas as constelações do zodíaco ao longo do ano. São, no total, treze constelações, chamadas constelações zodiacais: Áries (constelação onde se situa o ponto vernal), Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Libra, Escorpião, Serpentário, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes. Você pode ver a localização dessas constelações nas figuras 13.7 e 13.8, que mostra a eclíptica como uma linha pontilhada. 5.3 As estrelas e suas constelações Assim como as constelações ganham nomes próprios, as estrelas mais brilhantes do céu também receberam nomes próprios em diferentes culturas ao longo da história. Alguns desses nomes são tão populares que, mesmo na época atual de grandes levantamentos estelares, em que cada estrela recebe em geral uma identificação alfanumérica, em vez de um nome propriamente dito, ainda se costuma referir-se às respectivas estrelas por esses nomes. A tabela 13.4 mostra os nomes de algumas dessas estrelas e as constelações onde se localizam. Paralelamente aos seus nomes próprios, as estrelas mais brilhantes do céu também podem ser referidas em uma ordem de importância dentro da constelação da qual faz parte, em relação ao seu brilho. Nesse sistema, cada estrela é representada por uma letra do alfabeto grego (tabela 13.4), em ordem alfabética, a partir da estrela mais brilhante, seguido do nome da constelação em latim no caso genitivo (o caso gramatical genitivo em latim indica posse). Assim, a estrela mais brilhante da constelação de Órion, por exemplo, é chamada α Orionis (Orionis = “de Órion”); a terceira estrela mais brilhante da constelação de Touro é γ Tauri (Tauri = “de Touro”), e assim por diante. A terceira coluna da tabela 13.5 mostra a identificação, nesse sistema, de algumas estrelas que possuem nome próprio. Letra Nome em português ߙ ߚ ߛ ߜ ߳ ߞ ߟ ߠ ߡ Alfa Beta Gama Delta Épsilon Zeta Eta Teta Iota ߢ ߣ ߤ ߥ ߦ ߧ ߨ ߩ ߪ ߬ ߭ ߶ ߯ ߰ ߱ Capa Lambda Mu Nu Ksi Ômicron Pi Rô Sigma Tau Upsilon Fi Chi Psi Ômega Tabela 13.4: O alfabeto grego. Nome da estrela Constelação Identificação Sirius Canopus Alnilan Betelgeuse Vega Antares Aldebaran Pollux Cão Maior Carina Orion Orion Lyra Scorpius Taurus Gemini α Canis Majoris α Carinae ε Orionis α orionis α lyrae α scorpii α tau β Geminorum Tabela 13.5: Algumas estrelas com nomes próprios e suas respectivas constelações. 5.4 Algumas constelações importantes Algumas constelações são mais “importantes” do que outras no sentido de possuírem estrelas notáveis (muito brilhantes, ou com comportamento peculiar), se situarem em determinadas regiões da esfera celeste (sobre o equador celeste, sobre a eclíptica, etc.), por possuírem grande extensão no céu etc. A seguir, são listadas algumas constelações importantes sob algum aspecto, com uma breve discussão sobre suas características e um mapa celeste mostrando a constelação. Cão Maior (Canis Major) A constelação do Cão Maior se situa no hemisfério sul celeste, mas bastante próxima do equador. Por esse fato, e por abrigar a estrela mais brilhante do céu – Sirius -, o Cão Maior é uma constelação facilmente identificável e útil para nos localizarmos na Terra. Figura 13.9: A constelação de Cão Maior. Fonte: União Astronômica Internacional – www.iau.org Cruzeiro (Crux) O Cruzeiro, ou Cruzeiro do Sul, é uma das constelações mais significativas do hemisfério sul celeste. É uma das poucas constelações em que se pode compreender de imediato a razão da escolha do seu nome: as estrelas mais brilhantes dessa constelação formam uma cruz quase perfeita. Além disso, seu eixo mais longo aponta aproximadamente para o polo celeste sul, o que é um auxílio na sua localização. Figura 13.10: A constelação do Cruzeiro. Fonte: União Astronômica Internacional – www.iau.org Centauro (Centaurus) A constelação do Centauro se situa no hemisfério celeste sul, e circunda a constelação do Cruzeiro. Suas duas estrelas mais brilhantes são facilmente identificáveis e apontam na direção do Cruzeiro. É na constelação do Centauro que se localiza a estrela mais próxima do Sol já detectada, Proxima Centauri, na mesma direção da estrela α Centauri. Figura 13.11: A constelação de Centauro. Fonte: União Astronômica Internacional – www.iau.org Escorpião (Scorpius) A constelação de Escorpião é uma das mais belas do céu. Rica em estrelas brilhantes e outros objetos astronômicos, é uma das constelações zodiacais e é facilmente reconhecível pelo formato espiral de uma de suas extremidades – a “cauda” do escorpião. Além disso, abriga a estrela Antares, de coloração avermelhada, cujo nome significa “rival de Marte”. Figura 13.12: A constelação de Escorpião. Fonte: União Astronômica Internacional – www.iau.org Orion (Órion) A constelação de Órion abriga algumas das maiores curiosidades do céu. A região de formação de estrelas mais próxima da Terra se situa em Órion. Na mitologia grega, Órion era um caçador, colocado no céu por Zeus na forma de constelação depois de sua morte, provocada pela picada de um escorpião. Assim, a constelação de Órion se encontra no extremo oposto do céu em relação à constelação de Escorpião, como se Órion fugisse dele, no céu. O cinturão de Órion é formado pelas estrelas Alnitak, Alnilam e Mintaka, as “Três Marias” como são chamadas popularmente. Figura 13.13: A constelação de Órion. Fonte: União Astronômica Internacional – www.iau.org Touro (Taurus) A constelação do Touro é notável por possuir dois aglomerados de estrelas: as Plêiades e as Híades. Ambos são vistos como pequenos enxames de estrelas, visíveis a olho nu. O que torna os aglomerados de estrelas tão especiais é que, nesse caso, as estrelas estão realmente próximas umas das outras no espaço. O Touro é uma constelação zodiacal do hemisfério norte. Figura 13.14: A constelação de Touro. Fonte: União Astronômica Internacional – www.iau.org Sagitário (Sagittarius) A constelação de Sagitário é zodiacal e se localiza no hemisfério sul celeste. Assim como Escorpião, possui diversas estrelas brilhantes e objetos astronômicos interessantes. Sagitário abriga, porém, algo único: é na direção de Sagitário que se localiza o centro da nossa galáxia. Figura 13.15: A constelação de Sagitário. Fonte: União Astronômica Internacional – www.iau.org ATIVIDADES Revise o conteúdo da aula de hoje. Você só irá ser capaz de entender as aulas 14, 15 e 16 se dominar esse conteúdo. RESUMO Nesta aula, você viu: As unidades de distância usadas em astronomia. O conceito de paralaxe. O movimento próprio das estrelas. A definição astronômica de constelação e as oitenta constelações definidas pela União Astronômica Internacional. e oito REFERÊNCIAS COLLINS, George W. II. The foundations of celestial mechanics. 2.ed. Tucson: Pachart Publishing House, 2004. RIDPATH, Ian. Guia ilustrado Zahar Astronomia. 2.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. ROY, A. E.; CLARKE, D. Astronomy: principles and practice. 4.ed. Bristol: Institute of Physics Publishing, 2003. SANTIAGO, Basílio. Apostila de Astronomia Geodésica. Disponível em: http://www.if.ufrgs.br/oei/santiago/fis2005/textos/index.htm. Acesso em: 23 maio 2011. VÁRIOS AUTORES. Astronomia: uma visão geral do universo. 2.ed. 3.reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008. AULA 14 – TRAÇANDO A ÓRBITA DE MARTE OBJETIVOS: Ao final desta aula, o aluno deverá: conhecer o método utilizado por Kepler para determinar a órbita de Marte; saber utilizar os conhecimentos de astronomia esférica e de paralaxe para determinar as distâncias dos corpos celestes. 1 INTRODUÇÃO Como vimos na aula 3, o astrônomo alemão Johannes Kepler, usando os dados coletados pelo astrônomo dinamarquês Tycho Brahe, mostrou que as órbitas dos planetas eram compatíveis com elipses, e não com círculos. De particular importância foram os dados do planeta Marte, coletados em diversas épocas do ano e em diversos anos diferentes. Nesta aula, vamos fazer uma análise simplificada de parte dos dados obtidos por Tycho Brahe e traçar a órbita de Marte com base nesses dados. O método de Kepler corresponde a uma aplicação do conceito de paralaxe, introduzido na aula 13. 2 METODOLOGIA A tabela 14.1 nos fornece a ascensão reta do Sol e de Marte em dez datas distintas. Os valores da ascensão reta estão em graus, diferente do padrão que é representar a ascensão reta em unidades de tempo. As posições do Sol e de Marte em um dia qualquer permitem somente dizer a direção em que Marte se encontra, mas não sua distância e, consequentemente, nada nos informa sobre sua órbita. Data Ascensão reta do Sol Ascensão reta de Marte 17/02/1585 20,62 135,20 05/01/1587 64,65 182,13 19/09/1591 174,22 284,30 06/08/1583 216,57 346,93 07/12/1593 94,12 3,07 25/10/1595 138,30 49,70 28/03/1587 343,17 168,20 12/02/1589 26,30 218,80 10/03/1585 0,32 131,80 26/01/1587 43,90 184,70 Tabela 14.1: A ascensão reta do Sol e de Marte medidos para dez datas diferentes. Dados obtidos por Tycho Brahe e publicados por Kepler em Astronomia Nova. Porém, usando o fato de que Marte leva aproximadamente 687 dias para dar uma volta completa em torno do Sol (o que já era conhecido em 1609, data da publicação do Astronomia Nova, de Kepler), quando observamos Marte em duas datas distintas separadas por um intervalo de 687 dias, estamos observando-o no mesmo ponto de sua órbita – mesmo que a Terra esteja em pontos diferentes de sua própria órbita nessas duas datas. Assim, podemos observar o efeito da paralaxe em Marte e utilizar esse efeito para determinar sua distância. Observe que, na tabela 14.1, cada par de linhas se refere a observações em dias separados por aproximadamente 687 dias. Isso significa que cada par de linhas contém observações de Marte quando ele se encontra no mesmo ponto de sua trajetória. Conhecendo a direção em que Marte se encontra no céu em cada uma dessas datas, o que é fornecido na tabela, e sabendo que essas duas direções se encontram em um ponto sobre a órbita de Marte, podemos determinar exatamente onde Marte se encontrava em relação à Terra e ao Sol. As dez linhas da tabela nos fornecem, assim, cinco pontos da órbita de Marte. Com esses cinco pontos, podemos traçar sua órbita em relação ao Sol e verificar seu formato e sua escala em relação à da Terra. Para isso, siga os seguintes passos: 1) A partir da segunda coluna da tabela (a ascensão reta do Sol), calcule o ângulo ߠ் que a Terra faz com o ponto vernal, do ponto de vista do Sol, para cada uma das datas mostradas na tabela. Esse ângulo é chamado longitude heliocêntrica, e ele será necessário para que sejamos capazes de representar a posição da Terra conforme se move em sua órbita. A longitude heliocêntrica ߠ் da Terra se relaciona com a ascensão reta ߙ⊙ do Sol por: ߠ் = 180 − ߙ⊙ 14.1 Se o resultado dessa operação for negativo, deve-se adicionar 360º ao resultado. 2) A figura 14.1 mostra a posição do Sol e a órbita da Terra (que, para nossos propósitos, será considerada aproximadamente circular). Ainda na figura 14.1, é indicada a direção do ponto vernal. Sobre essa figura, no círculo que indica a órbita da Terra, marque a posição da Terra em cada data da tabela 14.1. Para isso, use a longitude heliocêntrica obtida com a equação 14.1. O valor da longitude heliocêntrica será igual ao ângulo em que a Terra se encontra, em relação ao ponto vernal, a partir do Sol. Use um transferidor para marcar o ângulo ߠ் ou, se quiser, use as linhas radiais pontilhadas que estão na figura para marcar a posição da Terra. Cada linha radial está separada das vizinhas por 5º. 3) Para cada uma das posições ocupadas pela Terra, que você já marcou na figura 14.1, determine a direção em que Marte se encontra em relação à Terra. Essa direção é igual ao valor da ascensão reta de Marte, fornecido na terceira coluna da tabela 14.1. Determine a direção de Marte usando um transferidor, e faça uma linha reta longa (de uns 5 cm de comprimento) partindo da Terra e seguindo nessa direção. 3 ANÁLISE DOS RESULTADOS Após traçar as retas solicitadas sobre a figura 14.1, você vai perceber que as duas retas produzidas em cada par de linhas da tabela 14.1 se cruzam em um ponto. Cada um desses cinco pontos indica a posição ocupada por Marte nas duas datas. Tente traçar um círculo passando por esses cinco pontos de intersecção. Você verá que é difícil fazer um círculo passar por todos os pontos simultaneamente. Agora, tente traçar uma elipse sobre os pontos e perceba que essa tarefa é mais simples. Note, também, que a distância de Marte ao Sol muda sensivelmente ao longo do tempo, mais uma indicação de que sua órbita não é um círculo centrado no Sol. Figura 14.1: Esquema da órbita da Terra em torno do Sol. Sobre essa figura, você deve traçar a órbita de Marte, usando os dados da tabela 14.1. RESUMO Nesta aula, você viu: O método utilizado por Kepler para determinar a órbita de Marte. A aplicação dos conhecimentos de astronomia de posição e de paralaxe na determinação das distâncias dos corpos celestes. AULA 15 – LOCALIZANDO CONSTELAÇÕES, ESTRELAS E PLANETAS NO CÉU OBJETIVOS: Ao final desta aula, o aluno deverá: ter noções sobre a identificação de algumas das principais constelações no céu; 1 saber quais são os elementos que afetam a identificação das constelações. INTRODUÇÃO Na aula 13, apresentamos as oitenta e oito constelações que cobrem o céu, e exploramos com mais detalhes algumas das constelações mais importantes do céu. Nesta aula, vamos expandir esses conhecimentos e aplicá-los à localização de estrelas, planetas e constelações no céu. Para identificarmos corretamente um trecho qualquer do céu, é preciso conhecer como se distribuem as estrelas mais brilhantes das principais constelações. Isso às vezes não é suficiente, uma vez que as constelações mudam de orientação no céu com o passar das horas, e uma constelação que seria facilmente identificável vista em uma dada orientação pode deixar de sê-lo em outra. O brilho do céu noturno também afeta a identificação das constelações. Em noites de Lua cheia, por exemplo, seu brilho é tão intenso que esconde diversas estrelas. Além disso, eventualmente vamos nos esbarrar com estrelas brilhantes que parecem estar “sobrando” no desenho de uma constelação que conhecemos. Isso acontece porque os planetas do sistema solar também ocupam alguma posição no céu. Determinar que aquilo que parece uma estrela é, na verdade, um planeta, não é uma tarefa difícil, uma vez que os planetas não cintilam. Isso significa que os planetas não estão sujeitos à tremulação que toda estrela parece ter no céu. Isso os distingue das estrelas e nos permite localizá-los rapidamente. Nesta aula, não poderemos usar esse recurso, uma vez que vamos somente simular uma observação. Na aula de hoje, você vai ser exposto a um conjunto de imagens simuladas do céu noturno, tomando como referência geográfica o sul da Bahia, em diferentes datas e horários. Caberá a você, usando as cartas celestes fornecidas na aula 13, identificar os padrões das estrelas e dos planetas no céu. 2 METODOLOGIA E ANÁLISE As figuras de 15.1 a 15.4 mostram imagens simuladas de trechos do céu no sul da Bahia, em diferentes datas e horários. Você pode observar nessas imagens simuladas as estrelas e planetas marcados como pontos pretos, além da linha do horizonte local. Baseando-se somente nos padrões da distribuição das estrelas nessas imagens, você deverá identificar pelo menos duas constelações em cada uma das imagens. Quando tiver concluído essa identificação, analise os seguintes pontos: a) Quais foram, em cada caso, as pistas que o levaram a identificar as constelações? b) As cartas celestes de fato conseguem reproduzir a forma das constelações, ou as imagens estão distorcidas de alguma forma? c) Se você estivesse fazendo essa atividade usando o céu real, no que você esperaria encontrar diferenças? Em que situação você acha que seria mais fácil identificar as constelações? d) Em alguma das imagens, você identificou algum planeta? A presença do planeta no céu afetou de que forma a identificação das constelações subjacentes? e) Com base nas constelações que você identificou, você consegue ter uma ideia de onde se localizam o equador celeste, o ponto vernal, a eclíptica e os polos celestes sul e norte? Figura 15.1: Trecho do céu visto do sul da Bahia em uma data e horário específicos. Criado com o simulador Stellarium. Figura 15.2: Trecho do céu visto do sul da Bahia em uma data e horário específicos. Criado com o simulador Stellarium. Figura 15.3: Trecho do céu visto do sul da Bahia em uma data e horário específicos. Criado com o simulador Stellarium. Figura 15.4: Trecho do céu visto do sul da Bahia em uma data e horário específicos. Criado com o simulador Stellarium. RESUMO Nesta aula, você viu: Os fundamentos da localização de constelações no céu. As variáveis que afetam a identificação das constelações. AULA 16 – LOCALIZANDO-SE COM O AUXÍLIO DO CÉU OBJETIVOS: Ao final desta aula, o aluno deverá: ter noções sobre como utilizar as constelações identificadas no céu, a posição dos planetas, do Sol e da Lua para inferir a orientação local da esfera celeste; saber utilizar a orientação da esfera celeste para estimar sua localização na Terra, sabendo a hora e a data local. 1 INTRODUÇÃO Na aula 15, a partir de mapas do céu em uma região conhecida da Terra, identificamos constelações e planetas no céu. Nesta aula, vamos expandir essas técnicas, de forma a podermos determinar onde, sobre a superfície do planeta Terra, foram feitas as observações astronômicas, sabendo a época do ano e o horário local. Para sermos capazes de fazer tais previsões, é preciso ter clareza sobre as características da esfera celeste e do movimento dos astros no céu, de forma que tal prática ajuda a fixar os conceitos relacionados. Na aula de hoje, você vai ser exposto a um conjunto de imagens simuladas do céu noturno, tomando como referência mais de um ponto sobre a superfície terrestre, em diferentes datas e horários. Caberá a você, usando as cartas celestes fornecidas na aula 13 e seu conhecimento sobre a esfera celeste, estimar sua localização no globo. 2 METODOLOGIA E ANÁLISE As figuras 16.1 a 16.4 mostram imagens simuladas de trechos do céu tomadas em locais, datas e horários diferentes. O horário das observações é mostrado juntamente com cada imagem. Você pode observar, nessas imagens simuladas, as estrelas e planetas, representados como pontos pretos, além da linha do horizonte local. Baseando-se somente nos padrões da distribuição das estrelas nessas imagens, você deverá estimar em que ponto da superfície terrestre essas imagens simuladas foram obtidas. Essa atividade é mais difícil e mais complexa do que a realizada na aula 15, porque agora, além de você identificar as constelações e os planetas, deve traduzir esse conhecimento em uma orientação para a esfera celeste e, usando o horário e a data em que cada observação foi feita, estimar as coordenadas geográficas do ponto de observação. Siga essas dicas: 1) Com base no horário local, você tem condições de estimar a posição do Sol no céu. Como todas as imagens foram obtidas à noite, o Sol sempre estará abaixo da linha do horizonte. 2) Com base nos planetas e constelações que você identificar, e suas orientações e coordenadas obtidas pelas cartas celestes fornecidas na aula 13, você pode determinar a orientação da esfera celeste. 3) Com a orientação da esfera celeste e com as coordenadas celestes das constelações, você pode estimar em que ponto da esfera celeste o Sol se encontra e em que latitude aproximada as observações foram feitas. 4) Usando as coordenadas do ponto vernal e comparando com a posição do Sol na esfera celeste em cada figura, você pode estimar a longitude aproximada em que foram feitas as observações. Quando tiver concluído essa identificação, analise os seguintes pontos: a) Quais foram, em cada caso, as pistas que o levaram a identificar a orientação da esfera celeste? b) Em alguma das imagens, você identificou algum planeta? A presença do planeta no céu o ajudou de alguma forma a descobrir a orientação da esfera celeste? c) Você acha que seria capaz de utilizar esse método na prática? Que diferenças você acha que encontraria ao tentar aplicar esse método observando diretamente o céu? Figura 16.1: Trecho do céu observado às 22h 30min do dia 26/12/2010. Criado com o simulador Stellarium. Figura 16.2: Trecho do céu observado à 4h 50min do dia 19/03/2009. Criado com o simulador Stellarium. Figura 16.3: Trecho do céu observado à 5h 30min do dia 16/07/2009. Criado com o simulador Stellarium. Figura 16.4: Trecho do céu observado à 2h 40min do dia 05/09/2010. Criado com o simulador Stellarium. RESUMO Nesta aula, você viu: Como aplicar a identificação de constelações e planetas no céu para encontrar a orientação da esfera celeste. Como traduzir esse conhecimento em uma estimativa da localização do observador, na Terra, sendo conhecidos os horário e a data de observação.