69 ESTRUTURA DE CAPITAL E RENTABILIDADE: ESTUDO LONGITUDINAL DE EMPRESAS LISTADAS NA BM&FBOVESPA CAPITAL STRUCTURE AND PROFITABILITY: LONGITUDINAL STUDY OF COMPANIES LISTED ON BM&FBOVESPA Resumo Este trabalho tem como objetivo analisar a estrutura de capital e rentabilidade de empresas dos setores de Bens Industriais, Consumo Cíclico e Materiais Básicos, listadas na BM&FBOVESPA, no período de 1988 a 2011. Para tanto, foram analisados com base no sistema Economática, os dados econômico-financeiros de 16 empresas de cada setor. Trata-se de uma pesquisa descritiva com procedimentos documental e levantamento, abordando o problema de forma quali e quantitativa. Os resultados mostram que, no período pesquisado, os três setores aumentaram sua dependência de capital de terceiros para financiar suas atividades. Nos setores de Bens Industriais e de Consumo Cíclico, os ativos não circulantes aumentaram, enquanto a rentabilidade diminuiu. Por outro lado, o setor de Materiais Básicos apresentou aumento relativo dos ativos de curto prazo, bem como na rentabilidade. Com isso, percebe-se um comportamento similar nos índices de dois dos três setores. Em comum os três setores tiveram aumento da dependência de capital de terceiros. Palavras-chave: Estrutura de capital; Rentabilidade; Análise setorial. Abstract This study aims to analyze the capital structure and profitability of companies in the Industrial Goods, Basic Materials and Cyclical Consumer, listed on the BM & FBOVESPA, in the period from 1988 to 2011. So, were analyzed based on Economática system, the economic and financial data of 16 companies in each sector. This is a descriptive survey and documentary procedures, addressing the problem of qualitative and quantitative way. The results show that in the period studied, the three sectors increased their reliance on debt capital to finance its activities. In sectors Industrial Goods and Consumer Cyclical, noncurrent assets increased while profitability declined. Moreover, the Basic Materials sector showed relative increase in short-term assets, as well as profitability. With this, we can see a similar behavior in the indices of two of the three sectors. Together the three sectors had 1 Doutor em Gestão de Negócios, professor da UFSC, [email protected] Graduanda em Ciências Contábeis pela UFSC, [email protected] 3 Doutora em Gestão de Negócios, professora da UFSC, [email protected] 4 Doutor em Gestão de Negócios, professor da UFSC, [email protected] 2 Endereço para contato com os autores: Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Ciências Contábeis. Campus-Trindade-CSE/CCN, Trindade, 88040-970 - Florianopolis, SC – Brasil, Telefone: (48) 37216634. Artigo editado por Luiz Carlos Marques dos Anjos. Recebido em 09/04/2013. Avaliado em 20/05/2013. Reformulado em 13/06/2013. Recomendado para publicação em 08/10/2013. ReCont : Registro Contábil – Ufal – Maceió/AL, Vol. 5, Nº 1 , p. 69-86, jan/abr. Darci Schnorrenberger1 Jessica da Costa Borba2 Valdirene Gasparetto3 Rogério João Lunkes4 70 increased dependence on third-party capital. Key-words: Capital structure; Profitability; sectoral analysis. Manter uma estrutura de capital e rentabilidade que propiciem o crescimento e sobrevivência de curto, médio e longo prazos, é um desafio contínuo para as organizações. Elas podem ser determinantes na decisão de investir ou não numa empresa ou projeto, pois são importantes indicadores da saúde financeira da organização. Nesse sentido, Carvalho e Schiozer (2012) afirmam que a gestão financeira inadequada é uma das principais causas de falência de empresas no Brasil. Nem sempre as organizações dispõem de recursos suficientes para realizar os investimentos pretendidos ou demandados. Nestas situações, Castro e Martinez (2009) asseveram que as empresas podem recorrer a recursos de terceiros, desde que a expectativa de retorno seja superior aos custos deste capital, para que a rentabilidade geral da organização não seja negativamente afetada. Lara e Mesquita (2008) defendem que o custo do capital é um importante indicador da saúde financeira de uma empresa, e empresas com custo de capital de terceiros igual ou menor do que o custo do capital próprio, tendem a ter melhores índices de rentabilidade. A decisão entre empregar capital próprio ou de terceiros depende da situação financeira e econômica, ramo de atuação, forma de gerenciamento, entre outros aspectos. Não há um modelo ideal válido para todas as organizações. Oro, Beuren e Hein (2009) observam que identificar a estrutura ótima de capital é assunto polêmico devido à divergência de opiniões. A exemplo das fontes de financiamento, sua aplicação também pode variar em função das características e propósitos da organização. Empresas que atuam no setor de bens industriais normalmente necessitam de significativas imobilizações, enquanto as de consumo cíclico podem apresentar altos volumes investidos em estoque. Essas diferenças são devido ao ramo de atividade, mas também podem decorrer de estilos de gestão e práticas de governança corporativa adotadas, mudanças históricas ou da estratégia organizacional (SILVEIRA, PEROBELLI e BARROS, 2008). Além disso, tanto a estrutura de capital quanto a rentabilidade e indicadores de saúde financeira das organizações, também podem ser afetados por fatores externos como mudanças no cenário econômico nacional e mundial. Tendo em vista tal problemática tem-se como tema a análise longitudinal da estrutura de capital e rentabilidade de empresas dos setores de Bens Industriais, Consumo Cíclico e Materiais Básicos listadas na BM&FBOVESPA. Como esses indicadores sofrem ajustes em função do meio em que atuam, do momento econômico e histórico, surge a seguinte questão-problema da pesquisa: qual o comportamento da estrutura de capital e rentabilidade das empresas dos setores de Bens Industriais, Consumo Cíclico e Materiais Básicos listadas na BM&FBOVESPA, ao longo das últimas décadas? Diante desta reflexão, emerge o objetivo do estudo que consiste em analisar a evolução da estrutura de capital e rentabilidade de empresas dos setores de Bens Industriais, Consumo Cíclico e Materiais Básicos listadas na BM&FBOVESPA, no período de 1988 a 2011. ReCont : Registro Contábil – Ufal – Maceió/AL, Vol. 5, Nº 1 , p. 69-86, jan/abr. 1 INTRODUÇÃO 71 A opção pelos setores investigados deveu-se a quantidade mínima padrão de empresas por setor, necessária para fazer a análise comparativa entre eles, associado com a disponibilidade de dados ao longo do período. Este trabalho está organizado em cinco tópicos, sendo o primeiro este, de introdução. O segundo traz a fundamentação teórica, onde se investiga o estado da arte dos temas que compõem o pano de fundo do estudo; o terceiro mostra os procedimentos metodológicos adotados para realizar a pesquisa; o quarto apresenta e analisa os resultados; e, no último, constam as considerações finais a partir da análise dos resultados, seguidas pelas referências. 2.1 Estrutura de Capital A estrutura de capital refere-se ao tipo de capital, próprio ou de terceiros, utilizado por uma organização para financiar suas atividades. As discussões sobre a estrutura de capital das empresas despertam interesse crescente desde os estudos pioneiros de Durand (1952) e de Modigliani Miller (1958 e 1963), reforçados com o estudo de Jensen e Meckling (1976), que abordam a teoria da agência. De acordo com a teoria da agência, a separação entre propriedade e controle produz conflitos, devido a duas razões principais (RAMDANI; WITTELOOSTUIJN, 2012): i) o principal e o agente podem perseguir objetivos diferentes, e ii) porque ocorre assimetria de informação entre o principal e o agente, que geram custos de agência. A assimetria de informações pode ocorrer nas decisões de endividamento, pois os gestores possuem mais informações sobre riscos e retornos do que os investidores. Assim, conforme Ferreira, Bertucci e Pereira Filho (2010), a estrutura de capital é uma combinação de recursos próprios e de terceiros, escolhidos pela empresa, e que possuem riscos e retornos distintos. Medeiros e Daher (2008) defendem que duas correntes teóricas competem pela explicação da estrutura de capital ideal das empresas: a Static Tradeoff Theory (STT), segundo a qual as empresas buscam uma estrutura de capital pré-estabelecida, com base no confronto entre custo e o benefício da dívida, e a Pecking Order Theory (POT), que defende que o endividamento é a diferença entre o fluxo de caixa gerado internamente e a necessidade de capital. Nesta teoria existe o pressuposto de que há uma hierarquia de endividamento a ser observada em que, inicialmente, uma organização busca se financiar com recursos próprios (lucros retidos), seguindo a captação via debêntures e, por fim, a emissão de novas ações. A relutância em captar por meio da emissão de novas ações deve-se ao receio de subprecificações pelo mercado, devido a assimetria de acesso às informações. Nela, os potenciais compradores, supondo que a organização emite novas ações apenas quando seu valor está superfaturado, num ato de autoproteção, subvaloriza este papel. Uma das formas de conhecer as estruturas de capital empregadas pelas empresas é a análise de balanços por meio de índices. Ribeiro (2009) defende que os quocientes de estrutura de capital evidenciam o grau de endividamento da empresa em virtude das origens ReCont : Registro Contábil – Ufal – Maceió/AL, Vol. 5, Nº 1 , p. 69-86, jan/abr. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Neste tópico serão discutidos os aspectos teóricos que comporão o pano de fundo do estudo. Neste sentido, incia-se com uma breve revisão sobre a estrutura de capital, seguida da rentabilidade, dos fatores externos que podem afetar os resultados de uma organização, fechando com um levantamento de estudos similares já desenvolvidos sobre o tema, visando prover suporte para o cotejamento posterior dos resultados destes estudos com o que será desenvolvido. dos capitais investidos. Lopes de Sá (2008) defende que na análise de balanços pode-se conhecer melhor a organização em termos de desempenho, estrutura e riscos do negócio por meio da decomposição de elementos e fatos contábeis. Marion (2007) alerta para dois aspectos importantes na análise da estrutura de capital, que são a quantidade e a qualidade da dívida. O primeiro refere-se aos montantes de recursos provenientes de fontes próprias e de terceiros. O segundo diz respeito ao perfil da dívida, ou seja, se é de curto ou longo prazo. Quanto às origens de recursos, Maffili, Bressan e Souza (2007) sustentam que a gestão do passivo envolve decisões referentes às fontes de recursos, inclusive tamanho do patrimônio líquido. Nesse caso, percebe-se que é útil estudar não apenas o capital de terceiros, mas também o integralizado pelos sócios ou decorrente de lucros retidos, que segundo Titman e Wessels (1988), constitui-se numa das mais importantes fontes de financiamento de uma empresa. Porém nas organizações também existem riquezas não evidenciadas nas demonstrações, mas que são percebidas e consideradas pelo mercado: trata-se dos intangíveis. Silveira, Perobelli e Barros (2008) argumentam que boas práticas de governança corporativa possuem forte influência positiva intangível numa estrutura de capital. Silva e Do Valle (2008) concluíram, em seus estudos, que quanto maior for a intangibilidade da empresa, maior é o seu valor de mercado. Por outro lado, como o intangível possui alto grau de risco inerente, estas empresas se tornam pouco atraentes ao olhar das instituições financeiras, que resistem em emprestar recursos e quando o fazem, cobram mais caro em função do risco percebido. Iudicibus (2009) ensina que o endividamento de uma empresa é verificado pelo uso da equação: exigível total dividido pelo exigível total + PL. Este cálculo resulta no quociente de participação de capitais de terceiros sobre os recursos totais. Pelos argumentos e resultados dos estudos dos autores acima, pode-se peceber que, mesmo um assunto aparentemente pacífico e consolidado na literatura, ainda há espaço para reflexões, reinterpretações e novas constatações e aprendizados decorrentes, principalmente, das constantes mudanças na realidade econômica e nos arranjos organizacionais. 2.2 Rentabilidade Se uma empresa investe recursos, sejam próprios ou de terceiros, espera um retorno maior do que o custo do capital investido. Uma das formas mais comuns de medir este retorno é a partir da rentabilidade. Uma boa rentabilidade pode fazer com que a organização não necessite captar muitos recursos no mercado. Titman e Wessels (1988) defendem que a retenção de lucros é uma das formas mais comuns e frequentemente utilizadas pelas empresas para se financiar. Verificar apenas o lucro da organização é uma informação em estado bruto. Para lapida-la, Matarazzo (2010) ensina que se deve comparar o lucro com o capital investido. Existem diferentes formas de medir a rentabilidade de uma empresa. Pode-se, por exemplo, comparar o patrimônio líquido de períodos diferentes, para conhecer o valor adicionado com as operações ou outros investimentos ou dividir o lucro líquido pelo patrimônio líquido menos o lucro do ano, e então conhecer o retorno sobre o capital próprio investido. Para Camargos e Barbosa (2010), o aumento da rentabilidade sobre os ativos existentes resulta em valor adicional. Assim, quanto mais lucro a empresa obtiver, mais rentável está sendo e mais valor está adicionando ao seu patrimônio líquido. Schmidt e Santos (2011) sustentam ser fundamental a existência de instrumentos que ReCont : Registro Contábil – Ufal – Maceió/AL, Vol. 5, Nº 1 , p. 69-86, jan/abr. 72 73 2.3 Influência de Fatores Externos nos Resultados das Empresas A organização afeta e é afetada pelo meio em que atua, o que interfere na forma como faz negócios e nos seus resultados. Questões alfandegárias, tributárias, políticas e governamentais geram mudanças no desempenho das empresas, e consequentemente, interferem na economia. De acordo com Silveira et al. (2005) e Soares e Pinto (2008), até meados de 1994, os brasileiros viveram tempos de economia volátil onde os preços dos produtos e/ou serviços sofriam ajustes frequentes. Estas oscilações constantes também afetavam os resultados das empresas e comprometiam a previsibilidade e comparabilidade dos resultados. Isto fazia com que a gestão fosse mais reativa do que preditiva, limitando a utilidade do uso das ferramentas de apoio à gestão. As constantes mudanças de preços representavam um desafio à gestão (MATARAZZO, 1994), já que num contexto inflacionário, segundo Assaf Neto (2012), perdese a comparabilidade quando se avalia valores em base histórica, o que leva à necessidade de trazer os valores para a mesma base de comparação. Com a implantação do plano real esta volatilidade diminuiu, trazendo ao Brasil um período de estabilidade econômica. Apesar de tentativas de acabar com a inflação por decreto, ela não desapareceu, mas foi fortemente desacelerada (SILVEIRA et al., 2005). No cenário pós-inflação as empresas voltaram a dar mais atenção para instrumentos de apoio à gestão como o planejamento e a análise dos resultados. Dentre as crises financeiras que causaram grande impacto na economia mundial e nacional no período estudado nesta pesquisa, pode-se citar as de 1998, 2001 e 2008. A primeira, segundo Schifferes (2008), teve como pivô a crise asiática e uma das principais vítimas, o fundo de investimentos americano LTCM (Long Term Capital Management) que, prometendo garantia contra as oscilações do mercado, captou grandes volumes de recursos junto a outras empresas. Quando suas previsões se mostraram equivocadas, não conseguiu honrar seus compromissos, forçando o governo americano a intervir, resultando na queda dos mercados de crédito americanos e aumento da taxa de juros. A segunda e terceira crises ocorreram nos Estados Unidos, no final dos anos 1990 e início do novo milênio. Neste momento, os cenários indicavam o crescimento acelerado de empresas ponto.com como a Amazon e a AOL. O prenúncio de uma nova era para a economia resultou em desaceleração da economia “tradicional” e redução de investimentos no ano seguinte (SCHIFFERES, 2008). Já em 2008, a preocupação com as hipotecas de alto risco nos Estados Unidos se ReCont : Registro Contábil – Ufal – Maceió/AL, Vol. 5, Nº 1 , p. 69-86, jan/abr. reflitam a rentabilidade gerada pelos clientes. Eles argumentam que habitualmente analisa-se o volume de negociação e não a rentabilidade em si. Frozza, Castro Neto e Fernandes (2006) afirmam que a rentabilidade é importante porque interpreta o retorno dos investimentos. Alertam, porém, que índices dissociados da interpretação conjunta não propiciam informações suficientes aos usuários. Em termos de influência sobre a rentabilidade, Lobato, Silva e Ribeiro (2009) afirmam, em pesquisa com empresas de departamentos e comércio varejista, que a liquidez e a rentabilidade são influenciadas, entre outros fatores, pela política de crédito. Prazos de recebimento longos tendem a aumentar a rentabilidade e reduzir a liquidez, enquanto prazos de recebimento curtos tendem a reduzir a rentabilidade e aumentar a liquidez. Para Fraga (2009), os bancos buscam trocar rentabilidade por liquidez em períodos com boas expectativas e o contrário quando existem expectativas ruins. 74 2.4 Estudos Similares Na literatura, os estudos sobre as estruturas de capital do ativo relacionados com as do passivo e rentabilidade, são escassos. Isso reforça a relevância deste estudo. Mesmo assim, há estudos sobre a estrutura de capital, como o de Bastos, Nakamura e Basso (2009), que investigaram as determinantes da estrutura de capital, sendo de 388 empresas pertencentes às maiores economias da América Latina (México, Brasil, Argentina, Chile e Peru), no período de 2001 a 2006. Concluíram que as empresas brasileiras apresentam o maior endividamento e as do Peru o menor. As dívidas, com exceção das empresas chilenas, se concentram mais no curto prazo. Costa et al. (2009) realizaram estudo sobre as maiores empresas do sul do Brasil, no ano de 2007. Perceberam que existe uma relação inversa entre o EBITDA e o endividamento. Os autores alinham tal observação à teoria de Pecking Order, pois as empresas que geram os melhores lucros, apesar de terem acesso mais barato a recursos de terceiros, optam por não fazê-lo para financiar suas atividades. García-Teruel e Martínez-Solano (2007) realizaram estudo sobre a estrutura de capital de micro e pequenas empresas espanholas e constataram que 69% dos recursos estão aplicados no curto prazo enquanto que 52% das obrigações são da mesma natureza. Procianoy e Schnorrenberger (2004) afirmam que o tamanho da empresa, sua lucratividade e variáveis indicadoras (que medem o efeito de ano e setor) influenciam na decisão sobre estrutura de capital. Loureiro, Gallon e De Luca (2011) elaboraram estudo sobre a evidenciação e rentabilidade de empresas brasileiras quanto às subvenções e assistências governamentais e destacaram que por conta de mudanças nessas subvenções existe uma variação positiva de rentabilidade e significativa participação dessas no capital próprio das empresas. No estudo de Martins et al. (2009), sobre relação entre rentabilidade e reinvestimento, confirma-se que a empresa que possui forte política de reinvestimento tem maior crescimento da rentabilidade, e nesse caso apresenta crescimento em potencial. Bokpin (2009) analisou empresas de 32 países emergentes no período de 1990 a 2006 e concluiu que existe correlação positiva entre financiamento externo e rentabilidade dos ativos, investimentos, conjunto de oportunidades e inflação. O autor também sustenta que os créditos bancários são relevantes no momento da escolha da estrutura de capital das empresas. Hove e Chidoko (2012) defendem que empresas mais lucrativas recorrem com menos frequência ao financiamento de suas dívidas, ao contrário das deficitárias. Para os autores, tal estudo foi inverso ao proposto pela teoria trade-off, na qual empresas rentáveis têm acesso a dívida mais barata. Mesmo assim, as empresas lucrativas podem não buscar financiamento, e sim quitar suas dívidas com recursos próprios apresentando adesão a teoria da Pecking Order. Quanto à rentabilidade, Gonçalves e Bispo (2012), em estudo sobre estrutura de capital e rentabilidade com base na BM&FBOVESPA no período de 2007 a 2009, apontam ReCont : Registro Contábil – Ufal – Maceió/AL, Vol. 5, Nº 1 , p. 69-86, jan/abr. disseminou pelo sistema financeiro e os bancos centrais de diversos países foram obrigados a injetar bilhões de dólares para garantir que as instituições financeiras mantivessem a liquidez do sistema financeiro mundial (SCHIFFERES, 2008). Estas crises, assim como outros eventos externos, afetaram as organizações pois a economia mundial está interligada e o enfraquecimento de um elo da corrente afeta todo o sistema, em maior ou menor escala. 75 que a rentabilidade no ramo da construção civil foi de 8,0% sobre o PL. Defendem também que a rentabilidade e a política de distribuição dos lucros podem influenciar no uso ou não do capital de terceiros para financiar suas atividades. A partir dessas pesquisas percebe-se que tanto a estrutura de capital quanto a rentabilidade são influenciadas por diversos fatores internos e externos. Sua mudança pode gerar impactos positivos ou negtivos no desenvolvimento das empresas. METODOLOGIA Esta pesquisa busca descrever as características dos dados e identificar fatores que contribuíram para estes resultados, sendo portanto quanto aos objetivos uma pesquisa descritiva, já que “observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los” (CERVO; BERVIAN, 2002). O problema de pesquisa foi abordado tanto de forma quanti como qualitativa, envolvendo o cálculo de índices e sua exploração nas análises. Beuren et al. (2003) lembram que na pesquisa quantitativa há uma preocupação com o comportamento geral dos acontecimentos, que são compreendidos com maior profundidade na abordagem qualitativa – neste trabalho a partir das análises. Quanto às estratégias para coleta dos dados, os recursos técnicos utilizados caracterizam esta pesquisa como documental, pois têm como base as demonstrações financeiras publicadas na BM&FBOVESPA, assim como os dados extraídos do Economática. Pádua (2004) afirma que a pesquisa documental é elaborada a partir de documentos autênticos e é muito utilizada nas ciências sociais. A população que serviu de base para compor a amostra da pesquisa, foram as empresas que operavam na BM&FBOVESPA, segregadas por setor de atuação. No sistema Economática, verificou-se a partir de qual ano havia disponibilidade de dados econômicofinanceiros e constatou-se que a maior concentração iniciava em 1988. Foram então identificados os setores da BM&FBOVESPA com maior número de empresas com os dados completos ao longo de todo o período e constatou-se os setores de Bens Industriais, Consumo Cíclico e Materiais Básicos, com 16, 24 e 20 empresas, respectivamente. A amostra inicial foi formada pelas empresas dos três setores que disponibilizavam os dados ao longo de todo o intervalo de 1988 a 2011. Pretendia-se realizar uma análise comparativa entre os setores, razão pela padronizou-se o número de empresas por setor. Nos setores com mais de 16 empresas, foram excluídas da amostra aquelas que possuíam o menor ativo total, resultando numa amostra final total de 48 empresas, conforme Quadro 1. Quadro 1 – Empresas da amostra por setor Bens Industriais WLM IND COM FORJAS TAURUS METISA BARDELLA INEPAR KEPLER WEBER NORDON MET WEG EMBRAER DHB Consumo Cíclico LOJAS AMERIC GUARARAPES SARAIVA LIVR MUNDIAL ALPARGATAS VULCABRAS BUETTNER DOHLER FAB C RENAUX KARSTEN Materiais Básicos PETROPAR EUCATEX FIBRIA KLABIN S/A SUZANO PAPEL VALE BRASKEM UNIPAR PARANAPANEMA CONFAB ReCont : Registro Contábil – Ufal – Maceió/AL, Vol. 5, Nº 1 , p. 69-86, jan/abr. 3 76 IOCHP-MAXION METAL LEVE MARCOPOLO PLASCAR PART TUPY WETZEL TEKA TEX RENAUX WEMBLEY CIA HERING MARISOL ESTRELA MANGELS INDL FERBASA SID NACIONAL GERDAU GERDAU MET USIMINAS Fonte: Dados da pesquisa. 4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Neste tópico serão apresentados e discutidos os resultados da pesquisa. Inicialmente será abordada a estrutura do ativo das empresas dos setores investigados, seguida dos passivos. Depois, será analisada a rentabilidade, fechando com um sub-tópico comparativo entre a estrutura de capital e a rentabilidade dos setores estudados. 4.1 Composição do ativo Neste tópico identificou-se onde as organizações da amostra aplicam seus recursos (ativo circulante dividido pelo ativo total), a partir do percentual médio de recursos aplicados no curto prazo e, por diferença, quanto é aplicado no não circulante. No Gráfico 1 pode-se verificar a representação gráfica da evolução média deste índice no período de 1988 a 2011, nos três setores analisados. Conforme Gráfico 1, os percentuais médios de recursos aplicados no curto prazo sofreram algumas oscilações com destaque para o ano de 1991, quando todos os setores apresentaram queda brusca, possivelmente impactada pela abertura dos mercados ocorrida no ano anterior, causando problemas de liquidez nas empresas que não estavam preparadas, estrutural e logisticamente para o aumento da concorrência. Gráfico 1 - Ativo circulante médio por setor ReCont : Registro Contábil – Ufal – Maceió/AL, Vol. 5, Nº 1 , p. 69-86, jan/abr. Em seguida, a partir de dados extraídos do sistema Economática, foram apurados os índices de estrutura de capital e de rentabilidade. Os índices de estrutura de capital utilizados no trabalho, foram: . Ativo circulante / ativo total . Ativo não circulante / ativo total . Passivo circulante / passivo total . (Passivo circulante + passivo não circulante) / passivo total . Patrimônio líquido / passivo total O índice de rentabilidade foi apurado pela equação: lucro líquido / (patrimônio líquido – lucro líquido do ano corrente). Os dados foram coletados das demonstrações consolidadas e, quando não existiam, das não consolidadas. Depois de apurados os índices por empresa, obteve-se médias aritméticas por setor. 77 Os setores de Bens Industriais e de Consumo Cíclico apresentaram níveis de investimento iniciais de 50,3% e 49,5%, respectivamente, e fecharam 2011 com reduções. O primeiro setor recuou para 48,9% (redução de 1,6%) e o segundo para 37,7%, representando uma redução de 23,8%. Já o comportamento do setor de Materiais Básicos foi diferente, pois em 1988, aplicava 29,9% dos seus recursos médios no curto prazo e fechou 2011 com aproximadamente 41,9%, apresentando um aumento de 40,1% neste grupo. De modo geral percebe-se que diferentemente do pressuposto inicial de que haveria grande concentração das aplicações no não circulante, as empresas dos três setores aplicam boa parte dos seus recursos em bens e direitos de curto prazo. Nos setores de Bens Industriais e de Consumo Cíclico houve reduções de 1,6% e 23,8%, respectivamente. Na outra ponta, o setor de Materiais Básicos apresentou um aumento de aplicações no curto prazo de 40,1%, ao longo do período investigado. Estes resultados diferem ligeiramente dos achados de Garcia-Teruel e Martinez-Solano (2009), que constataram que as micro e pequenas empresas espanholas aplicam, em média, 69,0% do seu capital no curto prazo. 4.2 Composição do Passivo 4.2.1 Capital de terceiros A exemplo do que ocorre com a aplicação de recursos, a origem também desperta interesse dos analistas. Para investigar a fonte financiadora, se de terceiros ou própria, divide-se o passivo circulante e não circulante pelo passivo total, indicando o percentual de recursos que têm como origem capital de terceiros. O Gráfico 2 traz a evolução deste índice no período. Conforme indica o Gráfico 2, ao longo do período analisado, o nível de endividamento aumentou significativamente nos três setores. De 1988 a 2002, os três setores apresentavam tanto comportamento quanto níveis de alavancagem com capital de terceiros similares. Este comportamento mudou a partir de 2003, quando o setor de Materiais Básicos reduziu seu grau de endividamento, o de Bens Industriais apresentou pequenas oscilações e o de Consumo Cíclico disparou, especialmente depois de 2008, ano de uma das crises financeiras recentes. No período analisado, o setor de Bens Industriais aumentou sua dependência de ReCont : Registro Contábil – Ufal – Maceió/AL, Vol. 5, Nº 1 , p. 69-86, jan/abr. Fonte: Dados da pesquisa. 78 capital de terceiros em 94,2%, saindo de um endividamento de 43,7% em 1988, para 84,9%, em 2011. O setor de Materiais Básicos, apesar de reduzir sua dependência de capital de terceiros na última década, no período analisado aumentou esse percentual para 81,9%, saindo de 34,5% em 1988 para 62,7%, em 2011. Apesar de apresentar comportamento similar aos dois outros setores, o setor de Consumo Cíclico destoou na sua magnitude ao apresentar um aumento de dependência de capital de terceiros médio, de 553,4% no período. Em 1988, este setor financiava apenas 34,6% de suas aplicações com recursos de terceiros. Em 2011, esta dependência havia saltado para 226,1%, ou seja, na média este setor passou a apresentar situação de passivo a descoberto, situação desconfortável em termos gerenciais e com prováveis consequências negativas no custo da dívida. Gráfico 2 - Capital de terceiros médio por setor 250% 200% 150% 100% 50% 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 CONSUMO CÍCLICO MATERIAIS BÁSICOS Fonte: Dados da pesquisa. A exposição e dependência de capitais de terceiros pode até ser benéfica. Esta foi a constatação de Bokpin (2009), que depois de estudar a relação entre o capital de terceiros e a rentabilidade de empresas de 32 países, no período de 1990 a 2006, concluiu que ela era positiva, ou seja, empresas mais dependentes de capitais de terceiros apresentavam melhor rentabilidade. Resta saber, porém, se esta também foi a realidade das empresas dos setores analisados neste estudo. 4.2.1.1 Composição do Endividamento Depois de conhecer as origens do capital, convém conhecer um pouco melhor o perfil da dívida com terceiros, ou seja, quanto desta dívida é de curto e quanto é de longo prazo. O cálculo do endividamento de curto prazo é apurado mediante a divisão do Passivo Circulante pelo Total de dívidas com Terceiros (PC + PNC). Ao calcular um, indiretamente obtém-se o outro. Ressalta-se que tais obrigações referem-se ao passivo como um todo e não apenas ao capital advindo de empréstimos e financiamentos. O Gráfico 3 ilustra a evolução deste índice no período analisado. Gráfico 3 - Obrigações médias, a curto prazo, por setor ReCont : Registro Contábil – Ufal – Maceió/AL, Vol. 5, Nº 1 , p. 69-86, jan/abr. BENS INDUSTRIAIS 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 0% 79 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% BENS INDUSTRIAIS CONSUMO CÍCLICO 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 0% MATERIAIS BÁSICOS No período analisado, em termos médios relativos, os três setores apresentaram reduções significativas no endividamento a curto prazo, apesar do aumento no endividamento geral, indicando o alongamento do prazo das dívidas das empresas. O setor de Bens Industriais apresentou redução de 29,4% na sua exposição de curto prazo em relação à exposição total, relativa. Em 1988, 80,2% do capital de terceiros era de curto prazo. Em 2011, esta exposição foi reduzida para 56,6%. O setor de Materiais Básicos também reduziu sua dívida de curto prazo em 36,2%, saindo de uma situação em que, em 1988, 68,6% da dívida com terceiros era de curto prazo, para 43,7% em 2011. O setor de Consumo Cíclico apresentou comportamento similar aos demais, alterando a composição da dívida com terceiros em 34,5%. Ou seja, em 1988, 81,4% das dívidas eram de curto prazo, ao passo que em 2011 este percentual reduziu para 53,3%. Estas reduções relativas à exposição a capitais de terceiros de curto prazo contrasta com os achados de Bastos, Nakamura e Basso (2009), que constataram que no período de 2001 a 2006 as empresas brasileiras, mexicanas, argentinas e peruanas, haviam aumentado o endividamento de curto prazo. Mesmo a notícia da redução relativa do endividamento a curto prazo das empresas destes setores não é tão animadora, porque ainda é superior aos 52,0% encontrados por Garcia-Teruel e Martinez-Solano (2007), nas micro e pequenas empresas espanholas. Convém ressaltar que esta aparente melhora indica apenas uma mudança no perfil do endividamento e não uma redução em termos absolutos, pois, conforme mostrou o Gráfico 2, os três setores aumentaram sua dependência do capital de terceiros, no período. Esta mudança pode ser decorrente de estratégia das empresas, do barateamento e aumento da oferta do capital de terceiros, da redução de lucros conforme defendido pela teoria de Pecking Order e confirmada pelos estudos de Costa et al. (2009) e de Hove e Chidoko (2012), que constataram que o aumento da geração própria de caixa via retenção de lucros havia implicado na redução da exposição ao capital de terceiros ou, então, indicar um agravamento da situação financeira das empresas. 4.2.2 Capital próprio Como uma empresa possui apenas duas formas de obter fontes para se financiar (terceiros ou próprios), esta análise complementa a anterior. Nela se verifica o percentual de recursos da empresa que são provenientes de fontes próprias. Este índice é obtido pela ReCont : Registro Contábil – Ufal – Maceió/AL, Vol. 5, Nº 1 , p. 69-86, jan/abr. Fonte: Dados da pesquisa. 80 divisão do patrimônio líquido pelo passivo total. O Gráfico 4 apresenta a evolução deste índice no período. Gráfico 4 - Patrimônio líquido médio por setor 100% 50% 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 0% -50% -100% -150% BENS INDUSTRIAIS CONSUMO CÍCLICO MATERIAIS BÁSICOS Se nas análises do tópico 4.2.1 constatou-se um aumento significativo da dependência do capital de terceiros, nesta, por complementaridade, pode-se visualizar uma forte redução da participação do capital próprio nas fontes de financiamento dos ativos nos três setores. O setor de Materiais Básicos, que possui o menor endividamento com terceiros, tem o maior patrimônio líquido entre os setores. Apesar disso, apresentou uma redução de 43,1% no período. Em 1988, financiava 65,5% dos ativos com recursos próprios e em 2011 este percentual recuou para 37,3%. O setor de Bens Industriais também apresentou redução da participação dos capitais próprios no financiamento das atividades da empresa na ordem de 73,2%. Em 1988, 56,2% das fontes de recursos eram próprias, e em 2011 este percentual recuou para apenas 15,1%. A exemplo dos outros setores, o de Consumo Cíclico também reduziu muito (292,9%) a participação dos recursos próprios no financiamento das atividades, ou seja, em 1988, 65,4% das fontes de financiamentos eram próprias e em 2011 o setor apresentou um PL médio negativo, indicando situação de passivo a descoberto, decorrente, principalmente, de vultosos e sucessivos prejuízos a partir de 2003. Conforme verificado até o momento, os três setores analisados registraram significativas alterações na estrutura de capital, especialmente nas suas fontes de financiamento, de 1988 para 2011. Resta investigar até que ponto os resultados foram afetados, sendo esta uma oportunidade para verificar a consistência da teoria de Pecking Order. 4.3 Rentabilidade Uma das métricas recorrentes, tanto na literatura quanto na prática, para saber se o investimento está dentro das expectativas é a rentabilidade, obtida pela divisão do lucro líquido do período pelo patrimônio líquido, descontado do lucro líquido do ano corrente. Quanto maior o índice, melhor para a empresa ou setor. O Gráfico 5 traz a evolução deste índice no período estudado, para os três setores da amostra. Gráfico 5 - Rentabilidade média por setor da amostra ReCont : Registro Contábil – Ufal – Maceió/AL, Vol. 5, Nº 1 , p. 69-86, jan/abr. Fonte: Dados da pesquisa. 81 250% 200% 150% 100% 50% 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 -50% 1988 0% -100% -150% -200% -250% BENS INDUSTRIAIS CONSUMO CÍCLICO MATERIAIS BÁSICOS Conforme indica o Gráfico 5, a rentabilidade dos setores analisados apresentou algumas oscilações pontuais bastante significativas. À exceção da redução brusca ocorrida em 1995 e da elevação, fora dos padrões, de 2002, o setor de Bens Industriais apresentou, no período investigado, redução na rentabilidade de 44,1%, passando de 19,3% em 1988, para 10,8% em 2011. O setor de Consumo Cíclico, também à exceção das rentabilidades fora do padrão ocorridas em 2000 e 2006, apresentou variação negativa de 80,5% no período. Em 1988, sua rentabilidade era de 8,2% e em 2011, de 1,6%. Já o setor de Materiais Básicos apresentou crescimento de 100,7% na rentabilidade do período, saindo de 5,6% em 1988, para 11,2% em 2011. As reduções na rentabilidade e aumentos no endividamento dos setores de Bens Industriais e de Consumo Cíclico estão alinhadas com o que defende a teoria de Pecking Order. Ou seja, a redução na geração de recursos próprios por meio de lucros, forçou as empresas destes setores a buscarem recursos de terceiros para se financiar. Sant`Ana (2001) num estudo sobre endividamento e rentabilidade das melhores e maiores empresas, eleitas pela Revista Exame, no período de 1996 a 2000, constatou uma queda brusca (-2.033,4%) na média da rentabilidade nessas empresas em 1999, seguido de uma rentabilidade positiva (695,8%) em 2000. Este comportamento é parecido ao do setor de Consumo Cíclico, evidenciado no Gráfico 5. Para o autor essas oscilações foram decorrentes da desativação da política de bandas cambiais, levando à desvalorização do real. Este é um exemplo clássico de como fatores externos podem afetar significativamente os resultados das organizações. 4.4 Estrutura de Capital versus Rentabilidade Constatou-se com o presente estudo que nos três setores pesquisados ocorreram significativas modificações na forma de financiamento. Em 1988, os três setores apresentavam estruturas nas quais aproximadamente 60% dos capitais eram próprios e os demais de terceiros. Já em 2011, esta relação mais do que se inverteu, fazendo com que os capitais de terceiros representassem acima de 60% do capital total. Mudou também o perfil destas fontes, migrando de endividamento de curto para longo prazo. Estas mudanças parecem guardar relação direta com a aplicação de recursos no longo prazo, visto que como o endividamento dos três setores aumentou, especialmente no longo prazo, as aplicações de mesma natureza também aumentaram e as de curto prazo ReCont : Registro Contábil – Ufal – Maceió/AL, Vol. 5, Nº 1 , p. 69-86, jan/abr. Fonte: Dados da pesquisa. 82 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Na presente pesquisa buscou-se analisar, ao longo de 24 anos, o comportamento tanto da estrutura de capital como da rentabilidade de empresas que operam no mercado acionário. Constatou-se que existem diferenças de estrutura de capital e de rentabilidade entre os setores, e como se identificou na literatura, os motivos podem ser decorrentes de questões de natureza operacional, estratégica ou, ainda, de fatores externos à organização, como crises econômicas ou políticas de governo. Verificou-se que a composição do ativo circulante sofreu reduções nos setores de Bens Industriais (1,6%) e Consumo Cíclico (23,8%), e aumento de 40,1% no setor de Materiais Básicos ao longo do período. Por definição, o não circulante teve um comportamento inverso. Os recursos provenientes de terceiros cresceram 94,0%, 553,0% e 181,0% nos setores Bens Industriais, Consumo Cíclico e Materiais Básicos, respectivamente, de 1988 a 2011. O passivo circulante reduziu-se em 29,4%, 34,5% e 36,2% nos setores de Bens Industriais, Consumo Cíclico e de Materiais Básicos, respectivamente. Em termos de rentabilidade, constatou-se que os setores de Bens Industriais e de Consumo Cíclico apresentaram reduções de 44,6% e 80,5%, respectivamente. Diferentemente, o setor de Materiais Básicos aumentou sua rentabilidade em 100,7%, no mesmo período mas ainda assim, continua baixa. A partir dos resultados da pesquisa, constatou-se que houve aumentos do capital de terceiros de longo prazo e dos ativos não circulantes e redução da rentabilidade nos setores de Bens Industriais e de Consumo Cíclico. Já no setor de Materiais Básicos houve aumento no capital de terceiros, nos ativos de curto prazo e na rentabilidade. Com isso, pode-se concluir que nos três setores analisados, o único comportamento padrão foi o aumento da dependência do capital de terceiros. Isso indica que essas empresas se alavancaram cada vez mais com capital de terceiros. Este aumento, não necessariamente é ReCont : Registro Contábil – Ufal – Maceió/AL, Vol. 5, Nº 1 , p. 69-86, jan/abr. diminuíram em dois setores (Bens Industriais e Consumo Cíclico) e aumentaram em Materiais Básicos. Este comportamento, em parte, confirma a teoria de que as captações de longo prazo devem ser para aplicações de mesma natureza. Percebe-se que no setor de Bens Industriais a participação do ativo circulante nos capitais totais variou apenas 1,6%. Por outro lado, o percentual de capitais de terceiros no capital total aumentou em 94,2%. A rentabilidade reduziu em 44,1% no período. Com isso, pode-se inferir que a mudança no perfil das fontes de financiamento afetou positivamente a aplicação dos recursos no não circulante e negativamente a rentabilidade. No setor de Consumo Cíclico, as constatações foram: i) a participação do ativo circulante no ativo total diminuiu em 23,8%, aumentando consequentemente o ativo não circulante, ii) as dívidas com terceiros aumentaram em 553,4% (levando o setor à situação de passivo a descoberto), e iii) a rentabilidade diminuiu em 80,5%. Com isso, percebe-se que o aumento das dívidas de longo prazo contribuiu para o aumento do ativo não circulante e do prejuízo. Por outro lado, o setor Materiais Básicos alterou sua estrutura do ativo, aumentando os ativos de curto prazo em 40,1% e as dívidas com terceiros, em 81,9%. A rentabilidade também aumentou em 80,2%. Este comportamento difere do verificado nos dois outros setores, não possibilitando, portanto, afirmar que existe uma relação direta entre os indicadores analisados. 83 negativo, desde que o retorno decorrente da aplicação destes recursos seja maior do que o seu custo de obtenção. Infelizmente, esta não foi a realidade das empresas dos setores de Bens Industriais e de Consumo Cíclico. Como sugestão para trabalhos futuros recomenda-se comparar os índices desta pesquisa com a variação da cotação das ações das empresas estudadas, visando identificar se há alguma relação entre elas. REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A.. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-financeiro. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2012. BASTOS, D.D.; NAKAMURA, W.T.; BASSO, L. F. C.. Determinantes da estrutura de capital das companhias abertas na América latina: um estudo empírico considerando fatores macroeconômicos e institucionais. Revista de Administração Mackenzie, São Paulo, v. 10, n. 6, p. 47-77, Nov./dez. 2009. BEUREN, I. M.; RAUPP, F. M.; SOUSA, Ma. B. de; COLAUTO, R. D.; PORTON, R. A. de B.. Como elaborar trabalhos monográficos em Contabilidade. São Paulo: Atlas, 2003. BRITO, G. A. S; CORRAR, L. J.; BATISTELLA, F.D. 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