Diarlane Rodrigues Ferreira EXAMES COMPLEMENTARES LABORATORIAIS – IMPORTÂNCIA PARA CONCLUSÃO DIAGNÓSTICA : Relato de Caso – Leucemia Viral Felina em Felino Doméstico (Felis catus) Curitiba/PR 2015 Diarlane Rodrigues Ferreira EXAMES COMPLEMENTARES LABORATORIAI S – IMPORTÂNCIA PARA CONCLUSÃO DIAGNÓSTICA : Relato de Caso – Leucemia Viral Felina em Felino Doméstico (Felis catus) Monografia apresentada como requisito para conclusão do Curso de Pós-Graduação, Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais, do Centro de Estudos Superiores de Maceió, da Fundação Educacional Jayme de Altavila, orientada pelo Profo. Me. Jacques de Lima Ferreira. Curitiba/PR 2015 Diarlane Rodrigues Ferreira EXAMES COMPLEMENTARES LABORATORIAI S – IMPORTÂNCIA PARA CONCLUSÃO DIAGNÓSTICA : Relato de Caso – Leucemia Viral Felina em Felino Doméstico (Felis catus) Monografia apresentada como requisito para conclusão do Curso de Pós-Graduação, Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais, do Centro de Estudos Superiores de Maceió, da Fundação Educacional Jayme de Altavila, orientada pelo Profo. Me. Jacques de Lima Ferreira. Curitiba/PR, _______ de __________________ de 20___ – Orientador – Curitiba/PR 2015 Dedicatória Dedico este trabalho ao s magníficos e notáveis felinos, que nos seduzem e encantam por sua exuberância e estilo único. São seres enigmáticos, misteriosos, indecifráveis. Jamais se descobrirá todos os segredos que se escondem por detrás dos olhos ávidos e cheios de vida. Eles roubam nosso tempo e o coração, nosso apego a eles se torna inevitável , mesmo os mais relutantes se entregam, disto tenho provas!! Encaram-nos de frente, é um ser discreto, demonstrando amor nos pequenos gestos, gestos tão simples e despretensiosos. O amor deles se vê pelo olhar, pelo roçar e pelo seu ronronar. Depois que se tem um gato, aprende -se muitas coisas . Não nos permitem invad ir seu espaço, nos ensinam a respeitá -lo, amá-los e a compreendê-los. Só quem tem um gato sabe do amor tão grandioso que sentimos sem esperar nada em troca. Apenas o nobre olhar e a escapada de nossos abraços valem-nos. O amor que se tem por um gato é uma mistura de fascinação e admiração ! Agradecimentos Primeiramente a Deus, po r me conceder o privilégio de chegar até aqui, meu amado pai Joaquim Antonio Rodrigues, minha querida mãe Teresa de Brito Rodrigues, e minha irmã preferida Débora de Brito Rodrigues, pelo apoio e incentivo. À minha cunhada Noêmia Welupek . Aos meus filhos amados, Elisa Rodrigues Ferreira , Sarah Rodrigues Ferreira e Heitor Rodrigues Ferreira . Ao meu esposo, Sérgio Costa Ferreira, pelo estimulo e parceria. Ao Centro Médico Veterinário – VETSAN, e em especial ao Laboratório Clínico Veterinário – LABSAN pertencente a Dra. C ynthia Cristina Venâncio da Silva que prontamente se dispôs a compartilhar seus conhecimentos e experiências, com muito carinho, atenção, paciência . E ao meu Orientad or Dr. Jacques de Lima Ferreira que se dispôs prontamente a me orientar, a todos minha Gratidão ! “Gatos são criaturas gloriosas – que não podem, de modo algum serem subestimados . Seus olhos são profundezas inexpugnáveis dos mistérios felinos” (Lesley Ann Ivory) Resumo Exames de sangue começaram a ser utilizados em animais muito mais para pesquisas humanas do que para conhecer a fisiologia animal. Em animais os exames laboratoriais começaram a ser utilizados em cães e gatos com o propósito de diagnosticar doenças e avaliar o sucesso no tratamento de algumas enfermidades. A necessidade do Médico Veterinário em obter exames complementares para o auxilio no diagnóstico de uma suspeita clínica está cada dia mais presente, através deles confirma-se e complementa-se essa suspeita. Muitas clínicas e hospitais veterinários possuem seu próprio laboratório, outros ainda, dependem de laboratórios veterinários terceirizados para a realização de exames. Os principais tipos de exames feitos em clínicas, tanto para check-up, pré-operatório ou realmente para diagnóstico de alguma doença são: hemograma, urinálise, bioquímicos sanguíneos, dosagens hormonais, coproparasitológicos, microbiológicos, citológicos, líquidos cavitários, imunológicos, histopatológicos. A análise de sangue tornou-se muito importante, com o avanço nas pesquisas e da medicina veterinária, foi possível aprender que um simples hemograma pode dar muito mais informações do que se espera. Através dos exames laboratoriais possibilita analisar se um animal possui anemia e qual é a sua causa; se há uma infecção bacteriana, viral ou fúngica; se o prognóstico de algumas doenças é bom ou ruim; se há desidratação; se é crônico, como uma neoplasia; entre outros. Com as informações resultantes dos exames, faz-se o diagnóstico preciso e o tratamento específico à afecção do animal, o que em muitos casos é o principal quesito para o sucesso de sua recuperação. Esta monografia descreverá os principais exames realizados em laboratório clínico veterinário, relatando um caso clínico de Leucemia Viral Felina em felino doméstico (Felis catus) na cidade de Curitiba onde pelos sinais clínicos, dentre elas alterações oftálmicas, suspeitou-se da doença, foram solicitados exames e através destes foi confirmada a existência da enfermidade. A FeLV é uma dessas doenças sendo possível ser confirmada através dos exames laboratoriais, onde em muitos casos sua confirmação e o motivo de sua descoberta baseia-se no histórico clínico e na detecção da proteína do núcleo capsídeo do FeLV nos leucócitos, plasma, soro, saliva ou lágrima dos animais suspeitos. O diagnóstico de animais infectados, isolando-os e impedindo seu contato com animais susceptíveis é a forma mais efetiva de controle. O tratamento sintomático e contra as infecções secundárias deve ser realizado para melhorar o quadro clínico do animal. Concluiu-se uma doença grave, presente em muitos animais o qual a vacinação não é totalmente eficaz. Palavra-chave: laboratório, oftálmica, diagnóstico. Lista de Tabelas e Ilustrações Lista de Tabelas Tabela 1 - Painel PCR para avaliação de pacientes com diarréia, ............................................ 22 Tabela 2- Painel PCR para avaliação de pacientes com anemia e suspeita de doenças transmitidas............................................................................................................................... 23 Tabela 3 - Painel PCR para avaliação de pacientes com suspeita de micoses sistêmicas ........ 24 Tabela 4 – Resultado do Hemograma da paciente Isis, felina, ................................................. 33 Tabela 5 - Resultado da Urinálise da paciente Isis, felina, ....................................................... 34 Tabela 6 – Resultado dos Bioquímicos sanguíneos da paciente Isis, felina, ............................ 35 Tabela 7 - Resultado da relação Proteína/Creatinina urinária .................................................. 36 Tabela 8 - Resultado do PCR neurológico FeLV/FIV da paciente Isis, felina, ........................ 37 Tabela 9 - Resultado do PCR Micoplasmas hemotrópicos ...................................................... 37 Lista de Ilustrações Figura 1 – Contador CELM CC - 530 e Diluidor DA - 500, para diluição do sangue e contagem de células sanguíneas. .............................................................................................. 13 Figura 2 - Centrífuga e cartela de leitura para determinação do microhematócrito..................13 Figura 3 - Contador manual de células para auxiliar na contagem diferencial de leucócitos e microscópio óptico. .................................................................................................................. 14 Figura 4 - Esfregaço sanguíneo corado indicando ................................................................... 14 Figura 5 - Refratômetro utilizado para a determinação ............................................................ 16 Figura 6 - Analisador bioquímico semi-automático BioPlus - Bio 2000. ................................ 17 Figura 7 - Amostra de soro diluído em reagente próprio para determinação de glicemia. ...... 17 Figura 8 - Diluição de fezes para realização dos métodos de Faust e Willis, para exame coproparasitológico. ................................................................................................................. 18 Figura 9- Paciente Isis, felina, em consulta oftalmológica.... ................................................... 32 Figura 10 - Paciente Isis, felina, observação de neovasos (seta azul), hipópio (seta vermelha) e iris Bombée (seta preta). ........................................................................................................... 32 Lista de Abreviaturas ACTH Hormônio Adrenocorticotrófico ALT Alanina Amino Transferase CAAF Citologia Aspirativa por Agulha Fina CHGM Concentração de Hemoglobina Globular Média DNA Ácido Desoxirribonucleico EDTA Ácido Etileno Diamino Tetra Acético ELISA Enzyme-Linked Immunoabsorbent Assay FA Fosfatase alcalina FeLV Feline Leukemia Virus - Vírus da Leucemia Felina FIV Feline Immunodeficiency Virus - Imunodeficiência Viral Felina GGT Gama Glutamil Transferase HGM Hemoglobina Globular Média IFI Imunofluorescência Indireta NaCl Cloreto de sódio PCR Reação em Cadeia de Polimerase pH Potencial de Hidrogênio PIF Peritonite Infecciosa Felina RIE Radio imuno Ensaio RNA Ácido Ribonucléico RPM Rotações por minuto SRD Sem Raça Definida TGO Transaminase Glutâmico Pirúvico TSH Thyroid-Stimulating Hormone - Hormônio Estimulante da Tiroide VGM Volume Globular Médio Sumário INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 11 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................................... 12 1.1 Hematologia ................................................................................................................ 12 1.3 Bioquímica Sérica ....................................................................................................... 16 1.4 Coproparasitológico .................................................................................................... 17 1.5 Microbiológico ............................................................................................................ 18 1.6 Citológico .................................................................................................................... 18 1.7 Líquidos Cavitários ..................................................................................................... 19 1.8 Dosagens Hormonais................................................................................................... 19 1.9 Testes Imunológicos .................................................................................................... 20 1.10 PCR .......................................................................................................................... 20 2 LEUCEMIA VIRAL FELINA .......................................................................................... 25 2.1 Descrição do Caso Clínico .......................................................................................... 30 2.2 Discussão..................................................................................................................... 38 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 42 11 INTRODUÇÃO A especificidade dos exames e a confiabilidade nos resultados pelos valores de referencias específicos a cada espécie animal tem-se ampla segurança, sendo indispensáveis para a conclusão diagnóstica. Os exames vão além dos habituais para cães e gatos, se estendendo a ruminantes, equinos, mamíferos silvestres, aves e répteis, onde cada uma delas tem as suas particularidades desde a coleta, até o processamento e interpretação. O preparo e separação de amostras que podem ser de sangue, urina, líquido cavitário, fezes e outros materiais biológicos. Esses materiais passam por processos de homogeneização, centrifugação, separação por pipetagem, bioquímicos, realização, coloração e leitura de esfregaços sanguíneos, citologia, sedimentoscopia urinária e coproparasitológico. Nesta monografia com abordagens quantitativas e de estudo de caso como instrumento de investigação de pesquisa e análise de modo detalhado deste caso explica à dinâmica e a patologia da doença, identificando os elementos constituintes do objeto estudado, estabelecendo a estrutura e a evolução. No diagnóstico das infecções por FeLV por associação do exame clínico, com exames laboratoriais complementares, onde os testes sorológicos para detecção de anticorpos específicos ou antígenos virais são os mais utilizados; como o teste de ELISA e o PCR, são eficientes para a detecção do DNA pro viral. 12 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1 Hematologia O hemograma é um dos exames mais solicitados na rotina laboratorial. Para a realização do mesmo utiliza-se sangue total coletado e armazenado em frasco com anticoagulante ácido etileno diamino tetra acético (EDTA). O hemograma é dividido em eritrograma, leucograma, contagem de plaquetas e proteína plasmática. Fazem parte do eritrograma: a contagem total de eritrócitos, a hemoglobina, o hematócrito, e o cálculo dos índices hematimétricos (CHCM, HCM, VCM). A contagem total de eritrócitos, hemoglobina e a contagem total de leucócitos são determinadas pelo contador automático de células sanguíneas de uso veterinário, (CELM – CC 530) (Figura 1) (THRALL, 2007). Para a realização da contagem diferencial de células e da avaliação morfocolorimétrica é realizada a confecção do esfregaço sanguíneo com coloração de Romanowsky (Panótico Rápido). Na avaliação microscópica do esfregaço sanguíneo é possível analisar os eritrócitos e suas alterações morfocolorimétricas (VELOZ, 2015). O hematócrito é determinado pela técnica do microhematócrito, essa técnica consiste na separação do sangue em três partes: eritrócitos (volume globular ou hematócrito), leucócitos, plaquetas e plasma. O hematócrito refere-se à porcentagem de eritrócitos no volume total de sangue, e é obtido após centrifugação do sangue em tubo capilar a 11.500 rpm por 5 minutos. A leitura do hematócrito é feita em cartão de leitura próprio (Figura 2) (GALARÇA, 2012). Fazem parte do leucograma: a contagem total e diferencial de leucócitos. Na avaliação microscópica do esfregaço sanguíneo também podemos analisar as alterações morfocolorimétricas, e a contagem diferencial dos leucócitos (Figura 3). Os leucócitos dos mamíferos são divididos em: neutrófilos, monócitos, basófilos, eosinófilos e linfócitos, essa contagem diferencial é obtida através do contador manual diferencial de células, conta-se um total de 100 células, entre os leucócitos presentes, determinando campos e orientações adequadas para a leitura em microscopia óptica (Figura 4). Também é realizada a estimativa de plaquetas no esfregaço sanguíneo. A proteína plasmática é determinada por refratometria, quebrando-se um tubo capilar de microhematócrito, centrifugado, acima da camada de leucócitos, colocando-se 1 gota do plasma no refratômetro, o resultado é dado em g/dL (Figura 5) (BICHARD, 2008). 13 Figura 1 – Contador CELM CC - 530 e Diluidor DA - 500, para diluição do sangue e contagem de células sanguíneas. Fonte: Acervo particular Figura 2 - Centrífuga e cartela de leitura para determinação do microhematócrito. Fonte: Acervo particular 14 Figura 3 - Contador manual de células para auxiliar na contagem diferencial de leucócitos e microscópio óptico. Fonte: Acervo particular. Figura 4 - Esfregaço sanguíneo corado indicando os leucócitos dos mamíferos. Fonte: labmedvet.com.br 15 1.2 Urinálise Segundo Dalmolin (2011) a amostra de urina pode ser obtida por micção espontânea, sondagem uretral ou cistocentese, sendo a cistocentese o método de obtenção mais adequado para animais de pequeno porte, pela facilidade, baixo custo e confiabilidade no resultado do exame e representa a amostra mais adequada para urocultura. É necessário manter a urina em frasco estéril, refrigerado, não excedendo 4 horas de armazenamento até o momento da análise, retornando a temperatura ambiente previamente ao exame. A realização do exame de urina se dá em três etapas: o exame físico, químico e de sedimentos. O exame físico analisará (volume, cor, odor, aspecto e densidade): Volume – o laboratório registra o volume total de urina recebido para análise; Cor – a variação pode ser do amarelo claro ao escuro. Qualquer alteração na cor pode indicar uma patologia; Odor – é característico, mas pode apresentar alterações (pútrido, adocicado); Aspecto – indica a transparência, pode variar de límpido a turvo; Densidade – avalia a concentração de solutos na urina. É estimada por refratometria (Figura 5). O exame químico é realizado através de fitas reagentes de química seca e avalia pH, glicose, proteínas, bilirrubina, urobilinogênio, corpos cetônicos, sangue oculto, leucócitos e hemoglobina. O sedimento é avaliado após a centrifugação de 10 mL de urina a 1600 rpm por 10 minutos; transfere-se 1 gota do sedimento para lâmina de microscopia, cobre-se com lamínula. O sedimento será observado sob microscopia em objetiva de 10x e 40x. Pode ser observado: cristais, eritrócitos, leucócitos, células de descamação, cilindros, bactérias, muco, ovos de parasitas, espermatozoides (THRALL, 2007). 16 Figura 5 - Refratômetro utilizado para a determinação da densidade urinária e das proteínas plasmáticas. Fonte: sonambra.com.br 1.3 Bioquímica Sérica Para a realização dos exames bioquímicos sanguíneos, o sangue deve ser armazenado em tubo sem anticoagulante e centrifugado a 3600 rpm por 10 minutos, obtendose assim o soro que será utilizado para efetuar os exames. Alguns exames bioquímicos poderão ser realizados em amostras de plasma como glicemia. São realizados os seguintes exames: sódio, potássio,e cálcio ionizado em dosador de eletrólitos por íon seletivo. Ureia, creatinina, cálcio, fósforo, alanina amino transferase (ALT), aspartato amino transferase (AST), fosfatase alcalina (FA), gama glutamil transferase (GGT), proteínas totais, albumina, globulinas, bilirrubina, amilase, lipase, glicose, triglicerídeos e colesterol. Esses exames são realizados com amostra de soro ou plasma por espectrofotometria pelo analisador semiautomático Bio Plus – Bio 2000 (Figura 6). As amostras de soro ou plasma são diluídas em reagentes de trabalho específicos para cada teste. Calibra-se o aparelho conforme a bula do fabricante, com o reagente padrão específico ou através de soro controle, e do branco que é a leitura do reagente de trabalho puro (Figura 7) (ETTINGER, 2008). 17 Figura 6 - Analisador bioquímico semiautomático BioPlus - Bio 2000. Fonte: Acervo particular Figura 7 - Amostra de soro diluído em reagente próprio para determinação de glicemia. Fonte: Acervo particular 1.4 Coproparasitológico O exame parasitológico de fezes compreende primeiramente o exame macroscópico e, em seguida, o microscópico. Na análise macroscópica, observa-se consistência, odor, cor, presença ou ausência de sangue, muco, presença de proglotes ou parasitos adultos e outras condições anormais. Na análise microscópica, separa-se cerca de 4 gramas de fezes para a análise, utilizando dois métodos: Faust (solução de sulfato de zinco) e Willis (solução hipersaturada de NaCl). Para cada método é necessário aproximadamente 2 gramas de fezes, que será homogeneizada em 20 mL de cada solução, e filtrada para outro recipiente, que será coberto por lâmina de microscopia por 15 minutos (Figura 8); após esse período retira-se a lâmina e observa-se em microscopia (objetiva de 40x), (NAVONE, 2005). 18 Figura 8 - Diluição de fezes para realização dos métodos de Faust e Willis, para exame coproparasitológico. Fonte: Acervo particular 1.5 Microbiológico As amostras para análise microbiológica são coletadas e preparadas, em alguns laboratórios, e geralmente são encaminhadas para laboratório terceirizado. São realizados raspados superficiais de pele, pelos e crostas, swab de pele, ouvido, mucosa oral e ocular, urina e qualquer outro material biológico que necessite de cultura bacteriana e antibiograma ou cultura fúngica (ROCHA, 2008). 1.6 Citológico O exame citológico é indicado para diagnósticos rápidos, sem risco anestésico, além de ser acessível financeiramente. As informações determinadas por esse método podem direcionar conduta clínica, quimioterápica, radioterápica e cirúrgica. É indicado para avaliação de hiperplasia e tumores, que podem ser de pele e subcutâneo, ouvido, mucosas ou outro local onde seja possível e necessária a coleta. As amostras podem obtidas por citologia aspirativa por agulha fina (CAAF), imprint ou swab. O material obtido será estendido em lâmina de microscopia seguido de coloração de Romanowsky (Panótico rápido) e observado em objetiva de imersão (100x). Deve-se observar a presença e morfologia de células 19 epiteliais, eritrócitos, leucócitos, macrófagos, agentes infecciosos como bactérias, hifas fúngicas e alterações neoplásicas (ROSOLEM, 2013). 1.7 Líquidos Cavitários As vísceras são protegidas por uma pequena quantidade de líquido para a lubrificação dos órgãos. A análise dos líquidos cavitários tem grande valor para a classificação do distúrbio básico, e também podem ser detectados por ultrassonografia ou radiologia. A analise dos líquidos cavitários compreende na avaliação de: volume, cor, aspecto, densidade e odor; exame químico realizado por tiras reativas para obter pH, proteínas, glicose e sangue oculto, contagem de células (hemácias e leucócitos) que é realizada em Câmara de Neübauer. A contagem diferencial de células do líquido é feita em esfregaço corado por coloração de Romanowsky (Panótico Rápido) e observação microscópica em objetiva de imersão (100x). (BACIC, 2011) 1.8 Dosagens Hormonais As dosagens hormonais em grande maioria são realizadas por laboratórios terceirizados. O método utilizado é o de radioimunoensaio (RIE) e os mais comumente solicitados são: os hormônios tireoidianos (T4 total, T4 livre, T3 total e TSH); hormônios da glândula adrenal (cortisol, pré e pós estimulação com dexametasona ou supressão com ACTH). As amostras de sangue total são centrifugadas, o soro é separado e armazenado em eppendorf, onde são encaminhadas a laboratório terceirizado devidamente armazenado em isopor com gelo reciclável. Os hormônios atuam para manter a estabilidade, a secreção dos hormônios ocorre em resposta a uma mudança no meio, o que mantém a homeostasia (CARDOSO, 2014). 20 1.9 Testes Imunológicos Os testes imunológicos disponíveis em laboratórios veterinários compreendem testes rápidos de ELISA e imunocromatografia. Por afinidade e especificidade anticorpo reconhece o antígeno. (LENZ, 2004). O ELISA é uma técnica de Imunoensaio enzimático (EIA) heterogêneo, muito utilizada para diagnostico por detectar quantidades extremamente pequenas de antígenos ou anticorpos. Esse exame se baseia na detecção de anticorpos ou de antígenos específicos, através da reação anticorpo-antígeno. Esse método diagnostico pode ser feito, basicamente, de duas formas as quais são realizadas a partir de amostras sorológicas do paciente: ELISA Direto: técnica utilizada para a detecção de antígeno presente na amostra analisada. ELISA Indireto: técnica utilizada para a detecção de anticorpos presente na amostra analisada. Sendo que a eficiência desse exame é limitada pela reação de anticorpos de longa duração, presente em indivíduos que apresentaram a infecção e se encontram curados. (MONDESIRE,2007) Os principais agentes testados são: Parvovirose – Antígeno por ELISA ou Imunocromatografia Cinomose – Antígeno ou anticorpo por Imunocromatografia Giárdia – Antígeno por ELISA Ehrlichia canis, anticorpo, Anaplasma phagocitophilum, anticorpo, Dirofilaria imitis, antígeno, Borrelia burgdorferi ,anticorpo por ELISA FIV/ FeLV – Antígeno (FeLV), Anticorpo (FIV) por ELISA Lipase pancreática especifica canina ou felina – por ELISA 1.10 PCR Reação em cadeia da polimerase (PCR) é um processo que permite a produção de cópias virtualmente ilimitadas de material genético no laboratório. Teste de PCR identifica um patógeno com base na presença de DNA do agente patogênico ou de RNA nas amostras dos pacientes, antes de anticorpo pode ser detectado, tornando-o uma ferramenta de diagnóstico útil para a detecção precoce de doença em animais.. São oferecidos exames de 21 PCR em tempo real, em “Painéis” que pesquisam os principais agentes causadores de doenças em sistemas específicos de caninos e felinos. Os principais painéis são: diarréia, doença respiratória, anemia, neurológico, doenças transmitidas por vetores e carrapatos e doador sanguíneo. O PCR em tempo real é um processo simples que permite a produção de cópias virtualmente ilimitadas de material genético em laboratório. Esta técnica permite a identificação de um agente patogênico com base na presença do seu DNA ou RNA na amostra do paciente (FIGUEIREDO, 2011). Esses exames são encaminhados a laboratório terceirizado. Nas Tabela 1, Tabela 2 e Tabela 3 estão descritos os agentes pesquisados em cada painel. 22 Tabela 1 - Painel PCR para avaliação de pacientes com diarréia, doença respiratória e anemia. PAINEL AGENTES PESQUISADOS PCR CANINOS Vírus da Cinomose Canina (VCC), Coronavírus entérico canino (CECoV), Parvovírus canino 2, Clostridium perfringes enterotoxina A, Cryptosporidium spp., Giárdia spp. e Salmonella spp. Diarréia Bordetella bronchiseptica, Adenovírus canino tipo 2, Vírus da Cinomose Canina (VCC), Herpesvírus canino tipo 1 (CHV-1), Vírus da Influenza canina (H3N8), Vírus da Parainfluenza canina, Coronavírus respiratório canino (CRCoV), Vírus da influenza H1N1, Mycoplasma cynos e Streptococcus equi subsp. Zooepidemicus Doença Respiratória Anemia ELISA FIV/FeLV com para Fonte: IDEXX Laboratories _ FELINOS Clostridium perfringens enterotoxina A,Cryptosporidium spp., Coronavírus felino (FCoV), Vírus da Panleucopenia felina, Giárdia spp., Salmonella spp., Toxoplasma gondii e Tritrichomonas foetus Bordetella bronchiseptica, Chlamydophila felis, Calicivírus felino, Herpesvírus felino tipo 1 (FHV-1), Vírus da influenza H1N1 e Mycoplasma felis Anaplasma spp., Bartonella spp., Cytauxzoon felis, Ehrlichia spp., Micoplasmas Hemotrópicos Felinos (Mycoplasma haemofelis, ‘Candidatus Mycoplasma haemominutum’ e ‘Candidatus Mycoplasma turicensis’), FIV/FeLV, e ELISA para antígeno de FeLV e anticorpo para FIV 23 Tabela 2 - Painel PCR para avaliação de pacientes com anemia e suspeita de doenças transmitidas por vetores/carrapatos. PAINEL AGENTES PESQUISADOS PCR Anemia Doenças Transmitidas por Vetores/Carrap ato Teste quantitativo C6 para Doença de Lyme Doenças Transmitidas por Vetores/Carrap ato CANINOS FELINOS Anaplasma spp., Babesia spp., Micoplasmas Hemotrópicos Caninos (Mycoplasma haemocanis e ‘Candidatus Mycoplasma haematoparvum’), Ehrlichia spp., Hepatozoon spp., Leptospira spp., Febre Maculosa e, Lab 4Dx® (Snap 4Dx®: antígeno de Dirofilaria immitis e anticorpos antiAnaplasma phagocitophylum, anti-Borrelia burgdoferi e anti-Ehrlichia canis) Micoplasmas Hemotrópicos Caninos (Mycoplasma haemocanis e ‘Candidatus Mycoplasma haematoparvum’),Ehrlichia spp.,Hepatozoon spp.,Leishmania spp.,Neorickettsia risticii,Febre Maculosa e,Lab 4Dx® (Snap 4Dx®: antígeno de Dirofilaria immitis eanticorpos antiAnaplasma phagocitophylum, antiBorreliaburgdoferi e anti-Ehrlichia canis). Anaplasma Babesia Bartonella Micoplasmas (Mycoplasma haemocanis Mycoplasma Ehrlichia Hepatozoon Leishmania Neorickettsia Febre Maculosa Painel Doenças Transmitidas por Vetores/Carrap ato Fonte: IDEXX Laboratories Hemotrópicos e _ _ _ spp., spp., spp., Caninos ‘Candidatus haematoparvum’), spp., spp., spp., risticii, _ Anaplasma spp., Bartonella spp., Cytauxzoon felis, Ehrlichia spp., Micoplasmas Hemotrópicos Felinos (Mycoplasma haemofelis, ‘Candidatus Mycoplasma haemominutum’ e ‘Candidatus Mycoplasma turicensis’) 24 Tabela 3 - Painel PCR para avaliação de pacientes com suspeita de micoses sistêmicas, sinais neurológicos, para doador de sangue e suspeita de Micoplasmose. PAINEL AGENTES PESQUISADOS PCR Micoses Sistêmicas CANINOS Blastomyces Coccidioides Cryptococcus Histoplasma capsulatum dermatitidis, Blastomyces dermatitidis, spp., Coccidioides spp., spp., Cryptococcus spp., Histoplasma capsulatum Bartonella spp., Cryptococcus spp., Coronavírus felino (FCoV), FeLV, FIV, Toxoplasma gondii, ELISA para antígeno de FeLV e anticorpo para FIV _ Painel Neurológico PCR com ELISA FIV/FeLV Bartonella Borrelia Blastomyces Vírus da Cinomose Neurológico Coccidioides quantitativo para Cryptococcus Doença de Lyme Histoplasma Neospora Toxoplasma Vírus do Oeste do Nilo Doador Sanguíneo FELINOS spp., burgdorferi, dermatitidis, Canina (VCC), spp., spp., capsulatum, spp., gondii, Anaplasma spp., Babesia spp., Bartonella spp, Brucella canis, Micoplasmas Hemotrópicos Caninos (Mycoplasma haemocanis e ‘Candidatus Mycoplasma haematoparvum’), Ehrlichia spp., Leishmania spp., Lab 4Dx® (Snap 4Dx®: antígeno de Dirofilaria immitis e anticorpos anti-Anaplasma phagocitophylum, anti-Borrelia burgdoferi e anti-Ehrlichia canis). Teste para Micoplasmas Hemotrópicos Fonte: IDEXX Laboratories _ _ Anaplasma spp., Babesia spp., Bartonella spp, Brucella canis, Micoplasmas Hemotrópicos Caninos (Mycoplasma haemocanis e ‘Candidatus Mycoplasma haematoparvum’), Ehrlichia spp., Leishmania spp., (Snap 4Dx®: antígeno de Dirofilaria immitis e anticorpos anti-Anaplasma phagocitophylum, anti-Borrelia burgdoferi e anti-Ehrlichia canis). Mycoplasma haemofelis, ‘Candidatus Mycoplasma haemominutum’ e ‘Candidatus Mycoplasma turicensis’ 25 2 LEUCEMIA VIRAL FELINA O vírus da FeLV, é um retrovírus ácido ribonucleico (RNA), transmitido na via vertical e horizontal. É uma infecção cosmopolita, causando linfoma, leucemia, supressão da medula óssea, imunodeficiência e outras síndromes clínicas (SHERDING, 2008). É capaz de induzir uma perda progressiva de linfócitos CD4+ e CD8+, devido ao tropismo por linfócitos e macrófagos. Desta forma, pode permitir a ocorrência de infecções crônicas e recorrentes, causas significativas de morbidade e mortalidade nos felinos (SOBRINHO et al, 2011). O agente infeccioso da FeLV é um gammaretrovírus, que é capaz de se integrar ao DNA do hospedeiro, causando o aparecimento de diferentes condições citoproliferativas ou degenerativas, além de imunossupressão, ao alterar os mecanismos de defesa imune do hospedeiro (GONSALES, 2008). O FeLV é classificado em quatro subgrupos (FeLV-A, B, C e T), identificados geneticamente de acordo com diferenças no gene e funcionalmente, pela utilização de diferentes receptores para entrada na célula hospedeira. Somente o subgrupo A é transmissível entre felinos. A proteína de membrana hospedeira utilizada como receptor é a Feline highaffinity thiamine transporter 1 (feTHTR1), encontrada em tecidos de absorção como intestino delgado, fígado e rins, e também em células do sistema linfóide, essa ampla distribuição é consistente com o fato de que o vírus é encontrado nesses diversos tecidos e células (FIGUEIREDO e JUNIOR, 2011). Após a infecção com o subgrupo A do FeLV, ocorrem recombinações virais com o retrovírus endógeno felino, levando ao surgimento do subgrupo B, associado com imunossupressão e malignidade, depleção de linfócitos T CD4+ e T CD8+ formação de imunocomplexos e redução dos componentes do sistema complemento são algumas das disfunções citadas (GONSALES, 2011). Uma proteína do envelope viral (glicoproteína 70 - gp70) assume papel importante na manutenção da FeLV por mediar imunossupressão e anemia arregenerativa, promovendo a depleção de linfócitos T CD4+. A redução dos linfócitos T CD4+ resulta em um decréscimo da relação linfócitos T CD4+/CD8+ na fase inicial da infecção. Com a progressão da doença, há também redução dos linfócitos CD8+. Em felinos, a redução dos linfócitos T CD4+ pode ser indicativa da persistência da infecção e de prognóstico reservado. Assim, a avaliação do perfil de linfócitos CD4+ e de CD8+ em felinos persistentemente infectados, aliada às alterações clínicas pode fornecer subsídios para a formulação do 26 prognóstico bem como para a avaliação do tratamento e resposta dos felinos persistentemente infectados (GONSALES, 2011). Os felinos são capazes de produzir anticorpos neutralizantes contra a gp70 em níveis significativos, após a infecção inicial, então podem eliminar completamente o agente infeccioso (WARDINI, 2009). Para Grotti (2007) a infecção pelo FeLV pode ser classificada em quatro categorias: regressiva com infecção extinta (viremia transitória); progressiva (viremia persistente com progressão para os seis estágios); regressiva com latência e a forma atípica. Na infecção regressiva ocorre uma viremia transitória e o vírus é eliminado entre 4 e 8 semanas. Aproximadamente 40% dos felinos infectados tem capacidade de produzir anticorpos contra a gp70 que em níveis adequados restringe a replicação e expressão do vírus, o que extingue a infecção e tornará o felino resistente a infecções futuras. A infecção progressiva ocorre quando o vírus progride para todos os seis estágios e a viremia, persiste 4 a 6 semanas após a infecção. Isto ocorre devido a uma resposta imune não efetiva, com produção inadequada de anticorpos neutralizantes, tornando o felino persistentemente virêmico. Nesta condição o vírus é liberado constantemente e o felino desenvolve doenças associadas ao FeLV o que predispõe a morte entre dois e cinco anos após a infecção. A infecção regressiva com latência acontece quando o felino infectado é capaz de inativar o vírus, mas não eliminá-lo, podendo haver reativação da infecção caso haja imunodepressão e ocorre em cerca de 28% dos gatos infectado. O vírus e mantido na forma de pró-vírus integrado no genoma das células da medula óssea e linfonodos por semanas, meses a anos. Nesta fase os animais não são capazes de transmitir o vírus e os resultados dos testes diagnósticos são não reagentes até que ocorra reativação. A maioria dos felinos com infecção latente progride para infecção extinta e raramente revertem para infecção produtiva (GROTTI 2007). O FeLV-B é comumente associado a linfomas, essa variante surge da recombinação entre FeLV-A e sequências retrovirais endógenas. O subgrupo C é o mais patogênico, causa anemia aplásica e surge a partir de mutações na sequência da glicoproteina SU do FeLV-A. O FeLV-T foi originalmente isolado de um felino com FeLV induced immunodeficiency (FAIDS) (FIGUEIREDO e JUNIOR, 2011). Os felinos persistentemente infectados eliminam partículas virais em menor quantidade nas secreções respiratórias, lágrima, fezes, urina, sêmen e leite. Todavia, a via de transmissão efetiva ocorre na saliva, através de lambedura e compartilhamento de recipientes de água ou alimento. O vírus induz várias doenças proliferativas, como linfomas e leucemias, 27 e muitas enfermidades degenerativas associadas às propriedades imunossupressoras do vírus (SOBRINHO et al, 2011). Casos de linfossarcoma e leucemia linfocítica foram observados em felinos jovens durante muito tempo, até a descoberta em 1964 de partículas de retrovírus em um gato leucêmico. Com o passar do tempo o agente denominado Vírus da Leucemia Felina, foi isolado e demonstrou ser capaz de transmitir neoplasia linfocítica entre os felinos (LEVY, 2008). Para HAGIWARA (2007), o FeLV, está presente em 1 a 8 % entre os felinos sadios e mais de 30% entre os felinos doentes ou em grupos de animais nos quais a infecção foi recentemente introduzida. A incidência da infecção é significativamente maior em gatos que tem acesso à rua do que entre os animais confinados. O linfoma é a neoplasia mais frequentemente associada à infecção pelo vírus e ocorre em cerca de 20% dos animais infectados, apresentado risco 62 vezes maior do que felinos não infectados de desenvolver qualquer uma das formas anatômicas de linfoma. Neoplasias hematopoiéticas, mesmo menos frequentes, também podem ser observadas nos felinos infectados. A anemia não regenerativa, resultante de hipoplásica medular, é uma das consequências mais graves da infecção e pode ser complicada pela infecção por Mycoplasma haemofelis (HAGIWARA et al, 2007). Após a inoculação oronasal ou percutânea, o vírus se replica nos tecido linfoides, se progredir o vírus infecta a medula óssea induzindo a liberação de plaquetas e leucócitos infectados (viremia celular), que atingirá outros tecidos, como: glândulas salivares, glândulas lacrimais, glândulas mamária e mucosas, tornando os felinos infectados, fontes de contaminação (SHERDING, 2008). Os sinais clínicos mais comuns são mucosas pálidas, dispneia, letargia, anorexia, emagrecimento progressivo, febre, gengivite/estomatite, alterações intraoculares, diarreia, linfadenomegalia e abscessos recidivantes. Durante o exame físico é comum encontrar massas intra-abdominais palpáveis e organomegalia (baço, fígado e rins) e evidências de efusão pleural. As doenças proliferativas mais comuns associadas ao FeLV são linfoma, sarcoma, leucemia mielóide, leucemia linfóide e leucemia eritroide (GROTTI, 2007). De um modo geral os sinais clínicos em felinos virêmicos variam dependendo do tipo de doença e dos órgãos afetados (WARDINI 2009). Discretos tumores linfossarcomatosos da úvea anterior induzidos pelo FeLV são usualmente acompanhados por uveíte localizada. A inflamação imunomediada em resposta à deposição de imunocomplexos pode estar envolvida na patogenia, e a uveíte crônica pode ocorrer como resultado da infiltração uveal por células neoplásicas. A síndrome da pupila 28 espástica tem sido vista em alguns felinos positivos para FeLV, e é caracterizada por anisocoria ou discoria causada pela infiltração viral nos gânglios e nervos ciliares ou pelos efeitos neurológicos causados pelo FeLV (PONTES et al, 2006). A diminuição da visão, hifema, hipópio, alteração na coloração da íris (usualmente escurece), precipitados ceráticos, miose, dor, efusão coroidiana, granulomas, neurite óptica, descolamento de retina, hemorragia retiniana e opacidades vítreas também podem ocorrer na FeLV. A dor pode ser decorrente do espasmo muscular da íris e do corpo ciliar. O aumento de tamanho da íris com o espasmo muscular irá promover uma miose constante. (PONTES et al, 2006). Achados laboratoriais comuns incluem anemia arregenerativa, azotemia, enzimas hepáticas elevadas e hiperbilirrubinemia séricas. A leucometria é bastante variada podendo estar muito aumentada ou diminuída, com presença ou não de células jovens na circulação (SOUZA et al, 2002). Os neutrófilos são células da resposta imune inata e desempenham um papel importante na eliminação de diversos micro-organismos. Vários estudos com neutrófilos felinos infectados pelo FeLV demonstraram uma deficiência na capacidade fagocítica e microbicida dessas células. Animais persistentemente infectados se tornam imunossuprimidos e assim, estão mais suscetíveis a infecções oportunistas (WARDINI, 2009). O FeLV tem o potencial de desencadear reação imunológica com deposição de complexos do tipo antigeno-anticorpo (imuno complexos) na membrana basal glomerular, conduzindo a perda das suas funções de permeabilidade seletiva e a glomerulonefrite. Podendo ocorrer destruição tubular progressiva e subsequente Insuficiência Renal Crônica (IRC) (FRANCEY e SCHWEIGHAUSER, 2009). Segundo BICHARD (2003), distúrbios infecciosos e inflamatórios podem causar danos glomerulares ou tubulointersticiais que progridem para doença renal crônica. Uma lesão glomerular imunomediada como, por exemplo, uma glomerulonefrite, secundária a doenças inflamatórias ou infecciosas progride frequentemente para doença renal crônica. O diagnóstico da infecção é baseado na detecção de antígenos ou partículas virais, pelo método de ELISA ou por PCR. (HAGIWARA, 2007). O ELISA baseia-se na detecção da proteína de capsídeo p27 no soro ou plasma, onde é encontrada em abundancia em animais infectados, constituindo-se bom marcador para detecção da infecção. O teste detecta animais positivos a partir da quarta semana após infecção é recomendado como teste de triagem. Já a técnica da imunofluorecência indireta 29 (IFI) detecta a p27 presente em leucócitos e plaquetas, comprovando o comprometimento da medula óssea. Para este tipo de teste usa-se esfregaço de sangue periférico ou de medula óssea (ALMEIDA, 2009). Podem ocorrer falsos não reagentes para o FeLV caso o animal encontre-se no primeiro estágio da infecção (2 a 12 dias), em que a replicação ocorre fora da circulação e no caso de infecções latentes, quando o vírus pode ficar sequestrado na medula óssea ou em linfonodos por semanas. Frente a um resultado reagente para FeLV, o ideal e que esse exame seja repetido quatro a oito semanas após, pois o animal pode estar com infecção transitória (GROTTI, 2007). Alguns parâmetros devem ser avaliados em relação aos testes diagnósticos, como a sensibilidade, especificidade, praticidade e custo. O teste ELISA apresenta alta sensibilidade, detectando o vírus nos primeiros dias de infecção detectando o antígeno p27 na lágrima e na saliva, apesar de serem considerados métodos pouco invasivos, somente apresentarão positividade quando o animal estiver nos últimos estágios da infecção, por este mesmo motivo, podem ocorrer resultados falso-positivos. Uma amostra positiva para a IFI indica que o animal apresenta viremia persistente e está liberando constantemente o vírus. Resultados falso-negativos podem ocorrer devido a uma leucopenia e/ou trombocitopenia e falso-positivos devido à eosinofilia e/ou má confecção do esfregaço sanguíneo (esfregaços espessos) (ALMEIDA, 2009). Para Junqueira-Jorge, (2005), o teste ELISA e IFI apresentam concordância de, aproximadamente, 100% para as amostras com resultados negativos, que decresce porém para 90%, quando se trata de resultados positivos. Isto pode ser explicado pelo fato do ELISA detectar precocemente o vírus, quando ainda está ocorrendo a viremia primária, não havendo ainda comprometimento de medula óssea . A PCR detecta o ácido desoxirribonucléico (DNA) pro-viral na medula óssea ou em células de sangue periférico de gatos infectados pelo FeLV, e é indicado em casos de suspeita de infecção latente, onde o ELISA e a IFI apresentaram resultados negativos. O método apresenta alta sensibilidade e especificidade e vem sendo empregado atualmente no diagnóstico de infecção pelo FeLV (ALMEIDA, 2009). A prevenção e o controle da FeLV são facilitados pela fragilidade do vírus fora do organismo do hospedeiro, pois o vírus perde a viabilidade se exposto a superfícies seca, e é inativado em duas a três horas. Após a detecção de felinos contaminados, se estes forem afastados, a contaminação ambiental será facilmente inativada por meio de desinfecção de rotina, com o uso de alvejante diluído. Do mesmo modo em feiras ou clínicas veterinárias, a 30 exposição indireta entre felinos não representa risco, se estes não tiverem contato direto (LEVY, 2008). Não há um tratamento comprovadamente efetivo para infecção por FeLV, embora tenha se usado vários moduladores imunes e medicamentos antivirais, a qualidade e a longevidade dos felinos infectados são obtidas com cuidados gerais de saúde, terapia paliativa e tratamento das infecções secundárias (SHERDING, 2008). Para Ramsey (2010), vários tratamentos experimentais foram testados em felinos persistentemente virêmicos para FeLV, porém sadios, como a combinação de zidovudina, interferon-alfa e transferência de linfócitos T ativados, mostraram-se efetivos em 4 de 9 felinos. No entanto nenhum foi comprovadamente prático e bem-sucedido. Segundo Sherding (2008) para a prevenção da infecção por FeLV, há disponibilidade de vacinas inativadas, com ou sem adjuvante de uso parenteral,que é recomendada para felinos com risco potencial de exposição ao FeLV, especialmente filhotes, deve-se incluir felinos que vivem em ambiente externo e em domicílios com vários animais ou que convivem com animais infectados, bem como aqueles expostos a outros felinos com estado sanitário desconhecido. Os felinos são mais sensíveis ao desenvolvimento de viremia persistente após contato com FeLV entre 6 a 16 semanas, isto é, quando há diminuição do teor de anticorpos maternos e ainda houve desenvolvimento de resistência relacionada á idade, a época mais apropriada para vacinar é no inicio da vida, porem pode ser recomendada em qualquer idade (RAMSEY, 2010). 2.1 Descrição do Caso Clínico Paciente Isis, espécie felina, sem raça definida (SRD), fêmea, com 1 ano e 4 meses de idade, peso: 4,100 kg. Foi encaminhada de outra Clínica Veterinária para consulta oftálmica já com histórico laboratorial de anemia. No dia 03 de Maio de 2012, o Médico Veterinário especialista em oftalmologia, observou miose, pupila com margens irregulares, uveíte com íris bombée, superfície da íris demonstrando crescimento de neovasos e hipópio (Figura 9 e Figura 10). Suspeitou que as seguintes patologias: Peritonite Infecciosa Felina (PIF), Vírus da Imunodeficiência Felina (FIV), Leucemia Viral Felina (FeLV), Toxoplasmose e Mycoplasma haemofelis, solicitou-se então exame de PCR para diagnóstico. 31 No dia 07 de Maio de 2012, o animal retornou, pois houve piora no quadro clínico, apresentava inapetência, vômito e apatia. Na consulta clínica apresentou temperatura de 37ºC, taquicardia, desidratação, linfonodo submandibular infartado, mucosa hipocorada, e não caminhava. Realizou-se exame radiográfico da região tóraco-lombar e lombar em projeções ventro-dorsal e látero-lateral direito. Não foram observadas alterações radiográficas em coluna tóraco-lombar e lombar; comprimento dos rins superior a três vezes o comprimento da segunda vértebra lombar, com medida de aproximadamente 6,4 cm em rim direito e 7,0 cm em rim esquerdo, presença de conteúdo heterogêneo (fecal) em segmentos de alças intestinais, cólon descendente e reto. Após a constatação de alterações renais por meio da radiografia, foi solicitado hemograma, urinálise e bioquímica sanguínea (ALT, FA, uréia, creatinina, proteínas totais e frações) (Tabela 4,Tabela 5,Tabela 6 e Tabela 7). Foi administrado doxiciclina 5mg/kg, omeprazol 1 ½ comprimido ao dia, tramadol 2mg/kg quatro vezes ao dia, Osteocart® ¼ comprimido ao dia, e Meloxivet® 0,1 mg/kg. No dia 10 de maio solicitou-se novo exame ultrassonográfico, o qual foi descrito: vesícula urinária sem alterações, rim direito medindo 5,7 cm e esquerdo 5,8 cm de comprimento com arquitetura extremamente alterada, diferenciação córtico medular diminuída, ecogenicidade do parênquima aumentada e contornos irregulares. Presença de áreas ecogênicas em junção córtico medular (fibrose), sugerindo nefropatia crônica/pielonefrite. Baço com parênquima homogêneo, ecogenicidade mista com padrão rendilhado, contornos regulares, tamanho e volume preservado, a alteração sugere inflamação/infecção sistêmica. Fígado e vesícula biliar sem alterações. Em topografia do duodeno/jejuno observou-se parede intestinal com até 1,03 cm de espessura e sem diferenciação correta de camadas, peristaltismo evolutivo preservado. Achados em trato intestinal sugerem linfoma intestinal, inflamação crônica ou corpo estranho. A presença de conteúdo gasoso dificultou detalhes da visualização. No dia 15 de maio, o resultado do PCR comprovou a suspeita de doença infecciosa sendo positivo para FeLV (Tabela 8) e negativo para Micoplasmas hematópricos felino conforme (Tabela 9). A paciente foi internada no dia 16 de maio do decorrente ano, por apresentar apatia, inapetência, anorexia, mucosas pálidas e no dia 17 veio a óbito. 32 Figura 9- Paciente Isis, felina, em consulta oftalmológica, 03/05/2012. Fonte: Acervo particular Figura 10 - Paciente Isis, felina, observação de neovasos (seta azul), hipópio (seta vermelha) e iris Bombée (seta preta). Fonte: Acervo particular 33 Tabela 4 – Resultado do Hemograma da paciente Isis, felina, realizado em 03/05/2012 – LABSAN HEMOGRAMA VALORES DE RESULTADO REFERÊNCIA ADULTO Felinos UNIDADE ERITROGRAMA Eritrócitos 4,90 5,0 a 10,0 milhões/mm³ Hemoglobina 9,2 8,0 a 15,0 g/dL Hematócrito 28 24 a 45 % VGM 57,1 39 a 55 fL HGM 18,8 12,5 a 17,5 pg CHGM 32,9 31 a 35 % 13.200 5500 a 19500 /mm³ LEUCOGRAMA Leucócitos Eosinófilos 2% 264 100 a 1500 /mm³ Linfócitos 6% 792 1500 a 7000 /mm³ Linfócitos atípicos 0% 0 0 /mm³ Monócitos 4% 528 100 a 850 /mm³ Basófilos 0% 0 raros /mm³ Metamielócitos 0% 0 0 /mm³ Bastonete 0% 0 0 a 300 /mm³ Neutrófilos 88% 11.616 2500 a 12800 /mm³ Segmentados 88% 11.616 2500 a 12500 /mm³ PLAQUETAS PROTEÍNA PLASMÁTICA 320.000 250 a 330 mil/mm³ 7,2 5,8 a 8,0 g/dL OBSERVAÇÕES: Anisocitose intensa, Policromatofilia moderada, Corpúsculos de HowellJolly 2(+), Corpúsculos de Dohle 1(+), Linfócitos reativos 1(+), Monócitos ativados 1(+), Eritroblastos 1/100 leucócitos. Fonte: Laboratório Clínico Veterinário – LABSAN 34 Tabela 5 - Resultado da Urinálise da paciente Isis, felina, realizado em 09/05/2012 – LABSAN Urinálise Felina EXAME FÍSICO: Volume/Coleta Cor Resultado 12 ml / Cistocentese Amarela Aspecto Valores de Referência Felinos Amarela Discretamente turva Límpida Precipitado Positivo Negativo ou ausente Densidade 1030 1035 a 1045 EXAME QUÍMICO Urobilinogênio Negativo Até 1,0 mg/dl Cetonas Negativo Negativo ou ausente Proteínas 3(+) ou 300 mg/dl Negativo a traços 6,5 5,5 a 7,5 pH Sangue oculto 1(+) Negativo ou ausente Glicose Negativo Negativo ou ausente Bilirrubina Negativo Negativo ou ausente Nitrito Negativo Negativo ou ausente Ausentes 0 a 3 células/campo em 40x SEDIMENTOSCOPIA Queratinizadas Transicionais redondas Transicionais ovais 2 a 4 / campo raras a 1 / campo Transicionais caudadas Raras Renais raras a 1 / campo Muco 1(+) Eritrócitos 1 a 2 / campo Leucócitos 1 a 2 / campo 0 a 1 células/campo em 40x Positivo 0 a 1 cilindro/campo em 40x Cilindros Tipos de cilindros Microrganismos Cristais Tipos de cristais 0 a 3 células/campo em 40x Granulosos raros e Epiteliais raros Bactérias: cocos 1(+) Negativo ou ausente Ausentes Negativo ou ausente Ausentes Outros / Observações: Gotículas de gordura 1(+). Fonte: Laboratório Clínico Veterinário – LABSAN 35 Tabela 6 – Resultado dos Bioquímicos sanguíneos da paciente Isis, felina, realizado em 09/05/2012 – LABSAN BIOQUÍMICA TGP/ALT Fosfatase alcalina RESULTADO 36 24 Uréia 123 Creatinina 1,9 Proteína Total 5,4 Albumina 1,95 Globulina 3,45 Observações: Soro com hemólise e lipemia 1(+). Fonte: Laboratório Clínico Veterinário – LABSAN REFERÊNCIA FELINOS 06 a 83 UI/L 25 a 93 UI/L 30 a 60 mg/dL 0,5 a 1,9 mg/dL 5,4 a 7,8 g/dL 2,1 a 3,3 g/dL 2,6 a 5,1 g/dL 36 Tabela 7 - Resultado da relação Proteína/Creatinina urinária da paciente Isis, felina, realizado em 07/05/2012. RELAÇÃO PROTEÍNA/CREATININA URINÁRIA RESULTADO Proteína Urinária 181,2 mg/dL Creatinina Urinária 175 mg/dL Relação PrU/CrU 1,03 Fonte: LABSAN Interpretação: · Menor que 0,5 = Normal · Maior que 0,5 e menor que 1,0 = Suspeito 37 Tabela 8 - Resultado do PCR neurológico FeLV/FIV da paciente Isis, felina, solicitado em 07/05/2012. REAL PCR NEUROLÓGICO FELINO COM FELV/FIV RESULTADO Método: PCR em Tempo Real/ELISA PCR em Tempo Real Neurológico felino Bartonella spp. NEGATIVO Cryptococcus spp. NEGATIVO Coronavirus felino (FCoV) NEGATIVO FeLV POSITIVO FIV NEGATIVO Toxoplasma gondii NEGATIVO ELISA FeLV Ag FIV Ac POSITIVO NEGATIVO Fonte: IDEXX Laboratories Tabela 9 - Resultado do PCR Micoplasmas hemotrópicos da paciente Isis, felina, solicitado em 07/05/2012. MICOPLASMAS HEMOTRÓPICOS FELINOS REALPCR RESULTADO Método PCR em Tempo Real Micoplasma haemofelis NEGATIVO Candidatus M. haemominutum NEGATIVO Candidatus M. turicensis Fonte: IDEXX Laboratories NEGATIVO 38 2.2 Discussão Segundo Rosenthal (2004) o prognóstico para um felino persistentemente infectado, depende de vários fatores, sendo que a idade é um indicador prognóstico importante, os felinos infectados com menos de um ano apresentam um mau prognóstico, se infectados adultos podem apresentar um melhor prognóstico. Embora alguns animais possam parecer assintomáticos, quando um felino FeLV positivo adoece, independentemente de qual apresentação, o prognóstico não é favorável. No caso aqui descrito a paciente apresentou evolução rápida, após o aparecimento dos sintomas, confirmação da patologia e o óbito. Para Sykes (2009) a produção deficiente de eritrócitos decorrente da FeLV reflete uma alteração da função da medula óssea, normalmente causando uma anemia normocítica e normocrômica, não regenerativa. A paciente Isis apresentava uma anemia regenerativa por apresentar anisocitose intensa, policromatofilia moderada, corpúsculos de Howell-Jolly que indicam uma resposta regenerativa da medula óssea. Segundo Tatibana (2009) a ocorrência de anemia é comum em felinos infectados pelo FeLV, sendo esta na maioria das vezes de caráter não regenerativo, causada por doenças inflamatórias ou desordem primária da medula óssea. Uma anemia hemolítica imunomediada também pode estar presente em razão dos imunocomplexos na circulação que podem se depositar na membrana basal glomerular, levando a uma glomerulonefrite consequentemente a diminuição da secreção de eritropoietina levará a anemia ou em decorrência do parasito Mycoplasma haemofelis, que gera uma anemia regenerativa, mas conforme exames realizados da paciente em questão, o resultado foi negativo para o hematozoário. A baixa densidade da urina pode ser indicativo de insuficiência renal aguda ou crônica. A proteinúria pode indicar uma patologia tubular ou glomerular com perda funcional (LANIS, 2003). No caso da paciente Isis devido ao aumento do volume renal em radiografia e ultrassonografia, suspeitou-se de doença renal. O aumento da ureia e creatinina (azotemia), associada com a baixa densidade urinária e aumento da relação PrU/CrU, e a hipoalbuminemia, sugerem uma doença renal, como glomerulonefrite, e segundo CHEW et al (2012), agentes infecciosos como o vírus da FelV podem causar glomerulonefrite. Segundo Tizard, (2008) o FeLV é profundamente imunossupressivo. A infecção com o vírus persistente se associa com duas lesões imunopatológicas principais, sendo a destruição dos linfócitos e a supressão da sua função, levando a imunodeficiência, e a produção de uma grande quantidade de imunocomplexos, levando a uma glomerulonefrite 39 severa. Alguns felinos persistentes infectados pelo FeLV sofrem uma linfopenia severa, neutropenia ou ambas, corroborando com o resultado da paciente Isis (792 linfócitos/mm3). O motivo pelo qual a paciente Isis realizou consulta, foi pelas alterações oculares (miose, pupila com margens irregulares, uveíte com íris bombée, superfície da íris demonstrando rubeosis iridis, hipópio na câmara anterior). Em conhecimento às causas da patologia foi investigado a possibilidade de ser uma consequência à infecção pelo FeLV. AZEVEDO (2008) cita que alterações oculares estão associadas à infecção pelo FeLV principalmente devido à capacidade do vírus em induzir imunodepressão, alterações hematológicas e formação de tumores. A uveíte secundária ao vírus da FeLV que pode manifestar-se através de iridociclite, hipópio, precipitados de lípidos na córnea, glaucoma secundário, coriorretinite, descolamento da retina ou massas coriorretiniárias. Pode ainda existir ceratite, massas orbitais ou palpebrais, massas subconjuntivais e da membrana nictitante, tumores anteriores da úvea e da câmara anterior do olho. A infecção por FeLV pode levar a linfossarcoma infiltrativo da úvea, da conjuntiva, da córnea ou da órbita. Pode ainda haver restrição da motilidade da íris devido à infiltração da úvea anterior pelo tumor. A discoria e a anisocoria podem resultar dos efeitos neurológicos sobre os nervos ciliares provocados pelo vírus. A anemia induzida pelo FeLV pode ainda ocasionar uma hemorragia da retina (AZEVEDO, 2008). Na paciente Isis, observou-se, como já descrito: miose, pupila com margens irregulares, uveíte com íris bombée, sendo o corpo da íris deslocado anteriormente, superfície da íris demonstrando crescimento de neovasos (rubeosis iridis), hipópio na câmara anterior. Sempre que houver uveíte grave com hipópio em felinos sendo uni ou bilateral deve-se suspeitar de doenças sistêmicas, particularmente infecção por PIF, FeLV, FIV ou Toxoplasmose, isto na nossa casuística vernacular. Essas doenças infecciosas podem causar uveíte. Não é raro que a manifestação ocular seja o primeiro sinal clínico, senão o único delas, assim, o diagnóstico da uveíte torna-se importante também na descoberta da doença infecciosa que está acometendo o paciente. Pontes et al (2006) afirmam que a aderência da íris na face anterior da lente forma a chamada sinéquia posterior, que, se ocorrer em 360º, leva à obstrução da pupila, impedindo a passagem do fluido aquoso da câmara posterior para a anterior, formando a íris bombeé, caracterizado pelo deslocamento anterior da íris. Isso causa aumento de pressão levando ao glaucoma. A luxação de cristalino também pode ocorrer devido à degeneração inflamatória da zona lenticular ou ao aumento do globo, a neovascularização pode ser vista com frequência 40 nas camadas profundas da córnea, como vasos sanguíneos que se estendem da esclera, na região do corpo ciliar, sendo conhecida como congestão dos vasos circuncorneanos. O hifema e o hipópio correspondem, respectivamente, à hemorragia intra-ocular e ao extravasamento de células brancas que ultrapassam a barreira hematoaquosa, e se depositam na porção ventral da câmara anterior. A síndrome da pupila espástica tem sido vista em alguns gatos positivos para FeLV, e é caracterizada por anisocoria ou discoria causada pela infiltração viral nos gânglios e nervos ciliares ou pelos efeitos neurológicos causados pelo FeLV (PONTES et al, 2006). Portanto a uveíte pode ser a primeira indicação de que o animal é portador de doença infecciosa, sendo muitas vezes a única alteração encontrada. O Médico Veterinário deve estar atento e pesquisar essa possível associação, evitando complicações oftálmicas e sistêmicas para o paciente. Para Ramsey et al (2010) por não haver consenso entre os protocolos utilizados em vários experimentos sobre a vacina da FeLV, não se sabe qual propicia melhor proteção; a de vírus inativo, a recombinante e de subunidade. A vacina ideal contra a FeLV deve induzir a produção de anticorpos neutralizantes contra a FeLV-A e nenhuma atualmente propicia isso. Sherding (2008) evidencia o protocolo de vacinação para felinos sob alto risco de exposição ao FeLV, quando perambula livremente, com risco de brigas, contato com outros felinos de origem desconhecida, adotantes, sendo opcional acima dos 3 anos. Não recomenda para felinos adultos com o mínimo ou nenhum risco de exposição, e sem infecção pela FeLV. Segundo Ramsey (2010) a época mais apropriada para vacinar um felino é no início da vida, porém pode ser recomendada em qualquer idade. O teste para vacinação é altamente desejável, evitando a vacinação de felinos com infecção latente ou viremia persistente, não causará prejuízo nem benefício ao animal, mas prejudicando o controle da FeLV, já que animais nessas condições são potenciais fontes de infecção para outros felinos. A paciente Isis não recebeu protocolo de vacinação contra a FeLV, conforme pesquisas a vacina para a prevenção do FeLV. 41 CONSIDERAÇÕES FINAIS A presença do Médico Veterinário patologista laboratorial, é de fundamental essencialidade para complementar, o diagnóstico e prognóstico dos pacientes e o compromisso com a sociedade. Ter essa ferramenta em mãos nos dignifica e valoriza nossa profissão, nos proporcionando maiores e melhores resultados a que se está proposto. Para a Leucemia viral felina o emprego de técnicas de amplificação e quantificação de ácidos nucléicos, perrmitiram um refinamento da análise e classificação da evolução patológica desencadeada pela infecção do FeLV por serem mais sensíveis que as técnicas de detecção de antígeno e isolamento viral. Considerava-se anteriormente que gatos jovens e adultos eram capazes de eliminar a infecção pelo FeLV por não apresentarem antígeno viral circulante, intracelular ou por não ser possível o isolamento viral. Entretanto, foi possível detectar DNA pro viral e RNA viral nesses animais. O impacto desses animais na disseminação do vírus ou mesmo para compreender a evolução da infecção permanece um desafio, pode-se sugerir que o diagnóstico da infecção deve ser realizado em duas ou mais etapas, sendo preferível utilizar a PCR. Entretanto as vacinas não impedem a integração e a mínima replicação viral, pois os animais vacinados apresentam DNA pro viral e RNA após desafio e, portanto, as técnicas sensíveis de detecção viral ajudarão nos estudos de eficácia de vacinas. 42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, N. R., Ocorrência da infecção pelo Vírus da Leucemia Felina (FeLV) em gatos domésticos do município do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense e análise dos fatores de risco para a infecção. 2009. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp081065.pdf. Acesso em: 11/06/2015. AZEVEDO. V. L. 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