complexo gengivite-estomatite-faringite felina

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COMPLEXO GENGIVITE-ESTOMATITE-FARINGITE FELINA –
RELATO DE CASO
ANTONELLO, Thaís de Lara1; MARTINS, Danieli Brolo2.
Palavras Chave: Anemia. Imunossupressão. Gengivite.
Introdução
O Complexo Gengivite-Estomatite-Faringite Felina (CGEFF) também conhecida
como complexo gengivite estomatite linfocítica plasmocitária felina é uma doença que resulta
em inflamação grave e crônica ulcerativa proliferativa da gengiva, mucosa alveolar, arco
glossopalatino, atingindo também língua, faringe e orofaringe. Sua causa até hoje não está
determinada, assim como seu tratamento definitivo. Sabe-se que é uma doença com
envolvimento do sistema imunológico, e que na presença de agentes bacterianos ou virais
(ex.: doença periodontal, calicivirose e FIV/FeLV), responde de forma exagerada. Portanto a
doença periodontal com presença de placa bacteriana contribui para a exacerbação da doença,
devendo ser evitada (CARVALHO, [s/d]).
Este trabalho tem como objetivo apresentar e relatar a etiologia, os sinais clínicos, o
diagnóstico e o tratamento de um caso de complexo gengivite-estomatite-faringite felina.
Relato de caso
Chegou para atendimento no hospital veterinário da Universidade de Cruz Alta, um
felino, macho, sem raça definida (SRD), com 3 anos de idade, 3,450kg de peso vivo. O
proprietário relatou que o animal tinha tosse produtiva, a cada alimentação essa tosse
aumentava, com muita salivação, secreção nasal e ocular. Ainda, relatou que o mesmo animal,
no ano anterior, havia sido internado no mesmo hospital com Criptococose. No exame físico o
animal apresentou, além dos sinais citados anteriormente, roncos no trato respiratório
superior, gengivite, estomatite (disseminada em toda cavidade oral), e faringite.
O animal foi internado para iniciar tratamento, onde recebeu Bactrosina na dose de
0,2mg/kg, IM, BID. Maxican na concentração de 0,2%, 0,4ml, SC, SID. Tramal 0,15mg/kg,
1
Acadêmica do curso de Medicina Veterinária da Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ/RS.
([email protected]).
2
Professora do curso de Medicina Veterinária da Universidade de Cruz alta – UNICRUZ/RS.
([email protected]).
SC, BID. Cloridrato de bromexina 5mg/kg, SC, BID. Esse tratamento foi realizado por 15
dias e o animal deu alta por apresentar boa resposta ao tratamento.
Diversos estudos foram realizados na tentativa de se encontrar um tratamento efetivo
para esta doença sendo que, atualmente, pode-se optar pelo tratamento clínico, cirúrgico ou a
combinação de ambos, dependendo de cada caso; entretanto, estes procedimentos não se
mostram totalmente eficazes. As respostas variam entre cada paciente e, na maioria dos casos,
se mostra incompleto, transitório e de duração variável (NIZA et al., 2004).
Foram solicitados exames complementares para auxílio diagnóstico, tais como:
Hemograma, Bioquímico, Raio-x, Bacteriológico e Antibiograma.
Resultados e Discussão
No raio X, não foram observadas alterações significativas da região cervical e
torácica, porém, houve aumento na região dos linfonodos submandibulares.
O leucograma apresentou uma leucocitose por neutrofilia onde, no presente caso, é
causada principalmente pela inflamação e infecção bacteriana que o animal apresentava
(BUSH, 2004). Já no eritrograma, observou-se anemia macrocítica normocrômica,
consequentemente por este animal ser positivo ao vírus da Leucemia felina (FeLV), (o vírus
poder ficar na fase de latência na medula óssea e provocar anemia). Ainda no hemograma, a
concentração das proteínas plasmáticas totais indicou hiperproteinemia, devido à inflamação
crônica e a desidratação desse animal. Foi observado também, anisocitose moderada, devido à
variação no tamanho das hemácias. Presença de corpúsculos de Howell-Jolly, que são restos
nucleares visualizados nas hemácias estão associados à anemia regenerativa (THRALL,
2007).
O vírus da Leucemia felina (FeLV) causa imunossupressão e o animal fica propenso
ao aparecimento de lesões secundarias. É uma das doenças mais confusas para os
proprietários de gatos. O gato pode ficar agudamente doente; ou pode hospedar o vírus na
corrente sanguínea durante meses sem mostrar sinal clínico algum; ou ainda o sistema
imunitário do gato pode lutar contra a infecção. Neste caso, isso pode eliminar completamente
o vírus do organismo e imunizar o animal contra um contato secundário com o vírus, ou o
vírus pode ficar alojado na medula óssea, onde pode manter-se inerte durante semanas, meses
ou anos ou até durante toda a vida do gato. No entanto, se o sistema imunitário for atacado
por outra doença, o vírus desenvolve-se rápida e repentinamente (SWIFT, 1998).
No perfil bioquímico, um discreto aumento na atividade da enzina Alanina
aminotransferase (ALT) poder estar relacionada à congestão e esteatose hepáticas. Outra
causa de aumento da atividade da ALT, no presente estudo, pode ser a hemólise da amostra. A
ALT é hepato-específica para o gato. Aumento de sua atividade sérica em geral indica dano
dos hepatócitos com liberação da enzima para a circulação. Porém, pequenos aumentos da sua
atividade sérica não têm relevância. Ainda, aumentos discretos na atividade sérica da ALT
provavelmente são de pouca importância, porque uma das funções do fígado é a
desintoxicação, o que, às vezes, pode causar pequenas lesões aos hepatócitos (BUSH, 2004).
Com base no histórico do paciente e nos achados de exames físicos e laboratorial o
possível diagnóstico é de complexo gengivite estomatite faringite felina, tendo como causador
principal o FeLV, o que desencadearia as demais lesões. Segundo Nelson e Couto (2010), a
proliferação bacteriana e a produção de toxinas, geralmente associadas ao acúmulo de tártaro,
destroem as estruturas gengivais normais e resultam em inflamação. A imunossupressão
consequente à infecção pelo vírus da Leucemia felina pode predispor alguns felinos a
gengivite/periodontite. Muitos animais acometidos são assintomáticos, mas podem ocorrer
halitose, desconforto oral, anorexia, disfagia, salivação excessiva e perdas dentárias.
A terapêutica estabelecida obteve resultados satisfatórios, sendo o paciente liberado
15 dias após o início do tratamento. A Bactrosina (Amoxicilina trihidratada) na dose de
0,2mg/kg, IM, BID, foi utilizada como antibiótico de amplo espectro, agindo especialmente,
nesse caso, para Staphylococcus aureus, presente no swab nasal feito a partir da análise
bacteriológica desse animal. Maxican na concentração de 0,2%, 0,4ml, SC, SID, foi usado
para reduzir a inflamação causada pela infecção oral/nasal. Tramal (Tramadol) 0,15mg/kg,
SC, BID, foi utilizado em consequência da dor aguda presente na cavidade oral desse animal,
visto pela disfagia ao exame físico. E o cloridrato de bromexina 5mg/kg, SC, BID, utilizado
em quadros respiratórios em que há acúmulo de secreções, tendo em vista que no presente
caso, o animal apresentava estertor no trato respiratório superior.
Considerações finais
O complexo gengivite estomatite faringite felina, é um quadro clínico de difícil diagnóstico,
sendo que somente por exames laboratoriais e sorologia para busca de vírus na espécie felina
que causam imunossupressão, tem-se um resultado satisfatório em relação as lesões causadas
primariamente por essa patologia. Além disso, o prognóstico em geral, se torna de reservado a
desfavorável, tendo em vista que a enfermidade não possui tratamento definitivo. No relatado,
o paciente obteve melhora clínica e retornou para casa. Porém, sabe-se que, em condições de
imunossupressão e/ou outras infecções bacterianas, o animal poderá ter recidiva da doença,
em especial por ser FELV positivo.
Referências
BUSH, B. M. Interpretação de Resultados Laboratoriais para Clínicos de Pequenos
Animais. São Paulo: Roca, 2004.
CARVALHO, Joyce Katiuccia Medeiros. Clínica de Odontologia Veterinária –
OdontoPet. Membro da Associação Brasileira de Odontologia Veterinária – ABOV.
Disponível em: http://www.odontopetms.com.br/?pag=lst&tp=Artigos&id=35. Acesso em 06 de
outubro de 2013.
LOPES, Sonia T. dos Anjos; BIONDO, Alexander W.; SANTOS, Andrea P.; Manual de
Patologia Clínica Veterinária - 3. ed. - Santa Maria: UFSM/Departamento de Clínica de
Pequenos
Animais,
2007.
107
pg.
Disponível
em:
http://www.zoo.ba.gov.br/biblioteca/veterinaria/manual_patoclinvet.pdf. Acesso em: 07 de
outubro de 2013.
NELSON, R. W. COUTO, C. G. Medicina Interna de Pequenos Animais. 4ª Ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2010.
NIZA, M.M.R.E.; MESTRINHO, L.A.; VILELA, C.L. Gengivo-estomatite crônica felina –
um desafio clínico. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias, v.99, n. 551, p.127-135,
2004.
SWIFT, Dr. W. Bradford. Revista ANIMALS. Massachussetts Society for the Prevention
of
Cruelty
to
Animals.
Jan/Fev
1998.
Disponível
em:
http://www.felinus.org/index.php?area=artigo&action=show&id=645. Acesso em: 07 de
outubro de 2013.
THARALL, A. M. Hematologia e Bioquímica Clínica Veterinária. São Paulo: Roca, 2007.
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