UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE ESTUDOS GERAIS MESTRADO – ESTUDOS DE LINGUAGEM MONIKA BENTTENMÜLLER AMORIM ORAÇÕES ADJETIVAS: uma abordagem funcionalista Niterói 2006 2 MONIKA BENTTENMÜLLER AMORIM ORAÇÕES ADJETIVAS: uma abordagem funcionalista – estudo das orações adjetivas do português, tomando-se como base os pressupostos teóricos da lingüística funcional – princípio de iconicidade; processo de gramaticalização através de cláusulas; questões relativas à freqüência e aos processos de classificação; vinculação dos princípios funcionalistas ao processo ensino/aprendizagem. Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Língua Portuguesa da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: Estudos de Linguagem. Orientadora: Profa Dra MARIANGELA RIOS DE OLIVEIRA Niterói 2006 3 A524 Amorim, Monika Benttenmüller. ORAÇÕES ADJETIVAS: uma abordagem funcionalista – estudo das orações adjetivas do português, tomando-se como base... / Monika Benttenmüller Amorim. – 2006. 221 f. Orientador: Mariangela Rios de Oliveira. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Letras, 2006. Bibliografia: f. 88-90. 1. Língua portuguesa – Estudo e ensino. 2. Língua portuguesa - Gramática. 3. Funcionalismo (Lingüística). I. 4 MONIKA BENTTENMÜLLER AMORIM ORAÇÕES ADJETIVAS: uma abordagem funcionalista Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Língua Portuguesa da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Língua Portuguesa. Área de Concentração: Estudos de Linguagem. Aprovada em março de 2006. BANCA EXAMINADORA _________________________________________________________________________ Profª Drª Mariangela Rios de Oliveira Universidade Federal Fluminense _________________________________________________________________________ Profª Drª Victoria Wilson Universidade Estadual do Rio de Janeiro _________________________________________________________________________ Profª Lygia Maria Gonçalves Trouche Universidade Federal Fluminense _________________________________________________________________________ Profª Drª Rosane Santos Mauro Monnerat Universidade Federal Fluminense _________________________________________________________________________ Profª Drª Violeta Virgínia Rodrigues Universidade Federal do Rio de Janeiro Niterói 2006 5 AGRADECIMENTOS À minha orientadora Mariangela Rios de Oliveira pela oportunidade de realização deste trabalho, pela presença segura, competente e estimulante. À minha família pelo apoio e compreensão. Ao meu pai, amigo, professor e orientador, pelo apoio, reflexões críticas e por acreditar que tudo daria certo. Ao Marcelo, companheiro e amigo, pelo estímulo e ajuda nos momentos de dificuldades. Ao Wellington, amigo, pela ajuda, reflexões e palavras de apoio. Aos colégios São Vicente de Paulo, Nossa Senhora da Assunção, Salesiano Santa Rosa, Instituto Abel e Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho, pela atenção e receptividade. Às professoras Maria Cristina e Rita Silva pela grande ajuda no trabalho de coleta de dados. 6 SUMÁRIO 1 Introdução 10 Pressupostos Teóricos 1.1 Língua, gramática, gramaticalização e discurso............................................ 1.2 Princípio de iconicidade................................................................................. 1.2.1 Subprincípio da quantidade............................................................... 1.2.2 Subprincípio da proximidade............................................................ 1.2.3 Subprincípio da ordenação linear..................................................... 1.3 Classificação e prototipicidade...................................................................... 1.3.1 Prototipicidade.................................................................................. 1.4 Gramaticalização através da integração oracional......................................... 13 13 16 18 18 19 20 21 23 2 Os PCN e o ensino/aprendizagem de língua portuguesa 26 2.1 Metalinguagem e o ensino de língua portuguesa........................................... 26 2.2 O texto como unidade básica do ensino......................................................... 29 3 Orações Adjetivas 31 3.1 Abordagem tradicional................................................................................... 31 3.1.1 Orações adjetivas e o pronome relativo............................................ 31 3.1.2 Orações subordinadas adjetivas restritivas....................................... 32 3.1.3 Orações subordinadas adjetivas explicativas.................................... 34 3.2 Outras abordagens.......................................................................................... 36 3.2.1 Orações adjetivas e o pronome relativo............................................. 36 3.2.2 Orações adjetivas, subordinação e coordenação............................... 37 3.2.3 Parataxe, hipotaxe e subordinação.................................................... 38 3.2.4 Orações adjetivas restritivas/explicativas “desgarradas”.................. 40 3.2.5 Orações adjetivas relativas “copiadoras”.......................................... 41 4 Procedimentos Metodológicos 4.1 O Corpus........................................................................................................ 4.2 Pesquisa de campo......................................................................................... 4.2.1 Elaboração do questionário e exercícios.......................................... 4.2.2 Perfil dos informantes...................................................................... 4.2.3 Perfil das instituições....................................................................... 4.2.4 Dificuldades encontradas................................................................. 43 45 45 45 47 48 48 5 Análises 5.1 Material didático adotado............................................................................... 5.2 Questionário dos docentes.............................................................................. 5.3 Análises da pesquisa piloto............................................................................ 5.3.1 Primeiro exercício dos alunos ......................................................... 5.3.2 Segundo exercício dos alunos ........................... ............................. 51 52 52 54 54 59 7 5.4 Análises da segunda etapa da pesquisa........................................................... 63 5.4.1 Exercício destinado aos alunos da 8ª série, ensino fundamental, sem a utilização de metalinguagem......................................................... 63 5.4.2 Exercício destinado a alunos do primeiro e terceiro anos, ensino médio, com utilização de metalinguagem ....................................................69 6 Proposta de interpretação para as adjetivas não prototípicas 77 7 Considerações Finais 82 8 Referências Bibliográficas 85 9 Anexos 88 8 RESUMO Estudo das orações adjetivas do português, tomando-se como base a orientação teórica postulada pela lingüística funcional, representada principalmente pelos estudos de Hopper & Traugott (1993), Votre, Cezario & Martelotta (2004), Furtado da Cunha, Oliveira & Martelotta (2003), Neves (2001) e Taylor (1989). Observa-se as orações adjetivas privilegiando-se o enfoque funcional, a partir da interdependência entre semântica e sintaxe e da perspectiva de se estudar a língua através de um continuum. Dá-se especial atenção ao princípio de iconicidade, ao processo de gramaticalização através de cláusulas e aos processos de classificação. Adota-se o procedimento de se pesquisar as orações adjetivas, através de coleta de dados em instituições de ensino público e privado, a fim de se analisar interpretativamente os aspectos semântico-pragmáticos envolvidos e de se verificar como os alunos, em geral, interpretam e classificam as orações adjetivas em sua forma padrão e em sua forma não prototípica. Adota-se, também, a aplicação de questionário a docentes das instituições pesquisadas e folhas de exercícios aos alunos dessas instituições. Procura-se, a partir dos postulados teóricos do funcionalismo, dos conteúdos apresentados pelas gramáticas normativas, gramáticas escolares, compêndios escolares e análises das classificações feitas pelos alunos aos exercícios propostos, discutir e refletir a respeito da classificação e/ou interpretação das orações adjetivas que não contemplam a forma padrão. Ao final, proposta de interpretação para as adjetivas não prototípicas. Palavras-chave: funcionalismo; orações adjetivas; ensino. 9 ABSTRACT A study of the relative clauses of the Portuguese language, having the functional linguistics theory as its basic support. The functional theory is mainly represented in this study by Hopper & Traugott (1993), Votre, Cezario & Martelotta (2004), Furtado da Cunha, Oliveira & Martelotta (2003), Neves (2001) and Taylor (1989). The relative clauses are analyzed with emphasis on their functional aspects, considering the interdependence between semantics and syntax and also from a perspective of studying the language from a continuum point of view. Special attention is given to the iconicity principle, grammaticalization process and linguistic categorization. The analyses are based on data collected in public and private schools in Niterói, in order to observe the pragmatic-semantics aspects involved and to verify how students, in general, interpret and classify the relative clauses when they are presented both in their prototype and non prototype form. A questionnaire was given to the teachers to be filled in and some exercises were applied to students. From the theories presented by the functionalism, the contents presented by the descriptive grammars, the grammar coursebooks analized, joined with the analyses and answers made by the students about the exercises they were submitted to, this study aims to discuss and reflect about the interpretation and categorization of the non prototype relative clauses. At the end, a proposal is presented to discuss a new way of interpreting the non prototype relative clauses. Key-words: functional linguistics; relative clauses; the learning process. 10 INTRODUÇÃO Ao observarmos a língua portuguesa em suas várias formas de manifestação, é possível verificar situações em que elementos gramaticais apresentam um emprego diverso daquele prescrito pelas orientações da gramática normativa, não de maneira aleatória, mas assinalando uma certa regularidade nos seus usos. O presente trabalho se propõe ao estudo das orações adjetivas do português no âmbito do ensino/aprendizagem através de uma perspectiva funcional, ou seja, a língua é analisada como uma estrutura sujeita a pressões oriundas das situações comunicativas e como resultado da interação discursiva. Temos, como foco principal, as orações adjetivas observadas dentro do contexto ensino/aprendizagem. Procuramos identificar e analisar como os alunos, em geral, classificam tais orações e possíveis dificuldades resultantes das interpretações efetuadas por eles, ao classificarem o sentido das orações adjetivas entre restritivas ou explicativas. Para a realização desta investigação, buscamos teóricos como Neves (2001), Taylor (1989), Hopper & Traugott (1993), Votre, Cezario & Martelotta (2004) e Furtado da Cunha, Oliveira & Martelotta (2003), como suporte de nossas considerações e análises. Desta forma, pretende-se, nesse trabalho, estudar as orações adjetivas do português, superando a abordagem tradicional desse tema; analisar como o referido conteúdo gramatical é apresentado e trabalhado no processo ensino/aprendizagem de língua portuguesa em algumas instituições de ensino público e privado, na cidade de Niterói-RJ . Ao longo do trabalho alguns questionamentos estão presentes: Os alunos apresentam dificuldades quando são solicitados a classificar os dois tipos de orações? Os professores consideram tal conteúdo gramatical relevante? Em algum momento de sua prática docente os professores teriam considerado a utilização ou a discussão a respeito de orações adjetivas não prototípicas em sala de aula? E os alunos? Como classificariam orações adjetivas não prototípicas? Postulamos como uma das hipóteses para a nossa pesquisa que o sentido explicativo, o qual veicula informação subsidiária, seja a opção mais recorrente nas classificações efetuadas pelos alunos, principalmente nos exemplos em que se verifique a alteração dos padrões prototípicos das orações adjetivas. Acreditamos, também, que períodos mais longos e posicionamentos deslocados das orações adjetivas dentro da cadeia lingüística podem concorrer para dificuldades de classificação das mesmas por parte dos alunos. Para o sentido restritivo, acreditamos que ele seja mais facilmente identificado e 11 classificado quando apresentado em sua forma prototípica, em que o antecedente é menos definido, com maior status informacional e, além disso, em períodos curtos. Apresentamos, no primeiro capítulo, os pressupostos teóricos que fundamentam nossa pesquisa. São introduzidos os princípios básicos do funcionalismo, tais como concepção de língua, gramática e discurso, iconicidade, gramaticalização, unidirecionalidade, parataxe, hipotaxe, subordinação e gramática funcional. Esses princípios são abordados segundo os estudos de Hopper & Traugott (1993), Votre, Cezario & Martelotta (2004), Furtado da Cunha, Oliveira & Martelotta (2003), Neves (2001) e Taylor (1989). Em alguns desses conceitos, como o de iconicidade, há exemplificações vinculadas ao tema orações adjetivas, através de textos retirados da mídia jornalística. O segundo capítulo é dedicado ao ensino/aprendizagem do português, segundo os princípios que constam nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Neste capítulo, procuramos relacionar as dimensões pragmática, semântica e sintática, na tentativa de se discutir os usos adjetivos em função das motivações discursivo-pragmáticas de sua articulação. O terceiro capítulo apresenta, em sua primeira parte, as orações adjetivas sob a abordagem tradicional, citando conceitos e descrições preconizados pelas gramáticas normativas e pelos compêndios escolares. Em seguida, apresentamos estudos de orações adjetivas não prototípicas, fazendo-se uma vinculação com as teorias de Hopper & Traugott (1993) e Taylor (1989). No quarto capítulo, há a descrição dos procedimentos metodológicos adotados: pesquisa de campo, constituição do corpus, preparação do questionário para os docentes, exercícios para os alunos, problemas surgidos na coleta de dados, perfil dos informantes, dos professores e das instituições pesquisadas. No quinto capítulo, são apresentadas as análises referentes aos dados provenientes dos questionários dos docentes e exercícios dos alunos observados na pesquisa piloto e na segunda etapa da pesquisa. Quadros com resultados quantitativos são dispostos com as respectivas conclusões e comentários. A pesquisa piloto, cuja validade foi aprovada na qualificação do trabalho, proporcionou a continuidade da pesquisa, gerando, na segunda etapa do trabalho, uma coleta de dados mais abrangente, em que são analisados e comentados os dados de novos exercícios propostos aos alunos, com os respectivos resultados ilustrados através de gráficos. No sexto capítulo, sugerimos uma nova possibilidade para interpretação das orações adjetivas, considerando-se a língua num continuum. Para nossas observações, levamos em conta os exemplos 12 de orações adjetivas não prototípicas encontrados durante a nossa coleta de dados, assim como as interpretações e classificações efetuadas pelos alunos para esse tipo de oração. Ao final do trabalho, apresentamos os anexos I, II, e III, com os questionários submetidos aos docentes, exercícios destinados aos alunos durante a pesquisa piloto e exercícios destinados ao alunos na segunda fase da pesquisa, respectivamente. Em face do quadro que configuramos para o nosso trabalho, acreditamos que o objetivo maior do ensino de língua portuguesa é o de desenvolver a competência comunicativa do aluno, a qual não pode ser atingida sem se trabalhar a dimensão formal da língua em conjunto com a dimensão significativa da mesma. A pesquisa teórica respaldada na prática foi significativa em nosso estudo, pois nos proporcionou questionar e observar, a cada nova experiência, o aprofundamento e enriquecimento de novas idéias. Em síntese, esse estudo apresenta-se como uma pesquisa da língua em que se considera a vinculação entre semântica e sintaxe, entre teoria e ensino/aprendizagem, com base na concepção funcional de que a língua é uma estrutura dinâmica. Mais do que procurar verdades ou respostas conclusivas, objetivamos uma pesquisa provocadora de reflexões, em que se tenta entender o uso lingüístico em processo de constante construção. 13 1. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS O presente trabalho tem como base a orientação teórica postulada pela lingüística funcional, representada principalmente pelos estudos de Hopper & Traugott (1993), Votre, Cezario & Martelotta (2004), Furtado da Cunha, Oliveira & Martelotta (2003), Neves (2001) e Taylor (1989). Dar-se-á especial atenção ao princípio de iconicidade, ao processo de gramaticalização através de cláusulas, a questões relativas à freqüência e processos de classificação. Assumiu-se o enfoque teórico desses autores, em que se preconiza o uso das expressões lingüísticas como meio para a interação verbal, “que é a interação social estabelecida por meio da linguagem” (Neves, 2001, p.21). A língua não é analisada como um objeto autônomo, mas como uma estrutura sujeita a pressões oriundas das situações comunicativas. Em outras palavras, a língua passa a ser vista como interação social e a estrutura que as formas lingüísticas assumem decorre da função comunicativa que desempenham na interação discursiva. Nessa perspectiva, observam-se as orações adjetivas do português privilegiando-se o enfoque funcional, a partir da interdependência entre semântica e sintaxe. 1.1 Língua, gramática, gramaticalização e discurso Ao discutirmos e analisarmos os usos lingüísticos, necessário se faz delimitarmos qual a concepção de língua, gramática, gramaticalização e discurso em que se pauta nosso trabalho. Língua, para a abordagem funcionalista, é tida como uma estrutura parcialmente maleável, fruto da interação social e sujeita às pressões do uso. Segundo Neves (2001, p. 43), a língua “não existe, em si e por si, como uma estrutura arbitrária de alguma espécie, mas existe em virtude de seu uso para o propósito de interação entre seres humanos”. Observamos uma clara ênfase na característica funcional da língua, ou seja, o estabelecimento do contexto interacional como locus da 14 configuração das regularidades do uso lingüístico. A comunicação é vista de forma mais abrangente, não estando restrita à transmissão e recepção de informação. Desta forma, no uso lingüístico, o funcionalismo, em suas discussões e análises, considera os sujeitos participantes da interação, a situação comunicativa e as circunstâncias discursivas presentes. Os diferentes tipos de textos são, também, levados em conta. Assim, textos narrativos, descritivos ou argumentativos por exemplo, motivam organização lingüística distinta. Concorda-se, então, que os domínios da sintaxe, da semântica e da pragmática1 são relacionados e interdependentes (Cezario, Costa & Cunha, 2003). Segundo Neves (2001, p.20), “em qualquer estágio da interação verbal o falante e o destinatário têm informação pragmática”. Abaixo, reproduzimos o modelo da expressão lingüística, nas considerações feitas pela autora: “Nesse modelo, a expressão lingüística é função: a) da intenção do falante; b) da informação pragmática do falante; c) da antecipação que ele faz da interpretação do destinatário. E a interpretação do destinatário é função: a) da expressão lingüística; b) da informação pragmática do destinatário; c) da sua conjetura sobre a intenção comunicativa que o falante tenha tido”(Neves, 2001, p.20). Por esse tipo de percepção do funcionamento da língua, a lingüística funcional não observará a língua enquanto um sistema fechado. Seguindo as palavras de Macedo, o ponto central do enfoque funcionalista é o fato de ser a estrutura da gramática explicada como resultado de funções de outras esferas, especialmente os níveis cognitivos e comunicativos. O que se procura é mostrar de que modo a estrutura gramatical espelha a situação comunicativa (Macedo, 1998, p. 73). 1 No paradigma funcional, a pragmática é vista como o quadro abrangente no qual a semântica e a sintaxe devem ser estudadas (Neves, 2001, p.46). 15 A gramática, por sua vez, representa o conjunto das regularidades da língua, a sua forma sistemática. Em Neves (2001, p. 15) temos: “por gramática funcional entende-se, em geral, uma teoria da organização gramatical das línguas naturais que procura integrar-se em uma teoria global da interação social”. Em Votre (2004, p. 16) registramos: “gramática é o conjunto de recursos e de procedimentos convencionais, mais ou menos regulares, resultantes da experiência corporal e físicosocial, e de faculdades inatas”. A maneira como uma determinada comunidade lingüística expressa-se regularmente, ou seja, o conjunto das formas eleitas por essa mesma comunidade, devido à freqüência de uso e convenções, será denominada de gramática; o padrão de uso. A gramática não se estabiliza completamente. Em Areas & Martelotta (2003), verifica-se que para compreender o fenômeno sintático, é preciso estudar a língua em uso, em seus contextos discursivos específicos, pois é nesse espaço que a gramática é constituída. Como exposto acima, pela perspectiva funcionalista, a descrição lingüística precisa fazer referência ao falante, ao ouvinte e ao contexto determinado socioculturalmente. Acrescente-se a isso a questão da freqüência, a qual exerce grande importância para a fixação de padrões gramaticais, já que há uma correlação estreita entre freqüência e regularização. De acordo com a freqüência, usos lingüísticos podem consolidar-se, sofrer mudanças ou desaparecerem. O termo gramaticalização foi introduzido por Meillet, no século XX. O autor define esse processo como “a atribuição de um caráter gramatical a uma palavra anteriormente autônoma” (Meillet, 1912/1948, p.131, apud Neves, 2001, p.113). Segundo Meillet, a palavra lexical é a fonte primeira da forma gramatical e o processo de transição se dá num continuum. Gramaticalização, segundo Kurylowicz2 (1975, apud Votre, 2004, p. 17), “consiste no aumento da atuação de um morfema, que avança de um status lexical para um status gramatical, ou de um status menos gramatical para um status mais gramatical; por exemplo, de formante derivativo para flexional”. Em Hopper & Traugott (1993, p.XV) temos que a gramaticalização é o processo pelo qual itens e construções gramaticais passam a servir a funções gramaticais e continuam a desenvolver novas funções gramaticais. 2 KURYLOWICZ, J. (1965/1975). The evolution of grammatical categories. In: ...Esquisses linguistiques, 2. 16 A título de exemplificação, Votre (2004) aponta que pensar vem do latim pensare, avaliar o peso de alguma coisa. Depois, “transferindo-se para a área intelectual, passou a significar estimar, pesar, avaliar o valor de uma idéia, de um raciocínio” (op. cit., p. 26). Neves (2001, p. 115) observa que o estudo da gramaticalização “põe em evidência a tensão entre a expressão lexical, relativamente livre de restrições, e a codificação morfossintática, mais sujeita a restrições, salientando a indeterminação relativa da língua e o caráter não-discreto de suas categorias”. Quanto ao discurso, diferente da lingüística estruturalista, a abordagem funcionalista o considera como a língua em uso. O discurso é a rede total de eventos comunicativos relevantes, incluindo gestos, expressões faciais, manifestações emocionais e outros (Neves, 2001). Considera-se o discurso como sendo motivado e influenciado pelo contexto. Dá-se ênfase, portanto, à interação e às motivações discursivas no âmbito da lingüística funcional. A esfera discursiva está no plano da escolha, da seleção do que é adequado ou inadequado, da individualidade expressiva de que os falantes fazem uso em uma comunidade e que os difere uns dos outros, seja no registro formal, seja no registro informal da língua. É nesse sentido que faremos menção a esse termo em nosso trabalho, ou seja, a língua em uso. 1.2 Princípio de iconicidade Os lingüistas funcionais defendem a idéia de que há na estrutura lingüística uma motivação proveniente da situação comunicativa. Esse fenômeno é denominado de princípio de iconicidade, o qual “prevê como motivado o binômio unidirecional função > forma” (Votre et al., 1999, p. 95). Segundo este princípio, existe uma relação não-arbitrária entre forma e função. Em Cezario, Costa & Cunha (2003, p. 30), temos que “a estrutura da língua reflete, de algum modo, a estrutura da experiência”. Em outras palavras, existe uma relação natural entre o código lingüístico, a forma, e a mensagem comunicativa. A codificação dos eventos, nas diferentes línguas, se dá através dos recursos que estão à disposição do falante. O que se observa é que ao optar pelo uso de uma determinada estrutura lingüística em detrimento de outra, haveria uma motivação maior (função), a qual resultaria em determinada(s) forma(s) lingüística(s). 17 A construção de uma motivação icônica para a forma lingüística implica admitir que a extensão ou a complexidade dos elementos de uma representação lingüística reflete a extensão ou a complexidade de natureza conceptual (Neves,2001). Seguindo os fundamentos do princípio de iconicidade, considera-se que ele se manifesta em três subprincípios: o subprincípio da quantidade, o subprincípio da proximidade e o subprincípio da ordenação linear. Observaremos como se dão tais manifestações teoricamente e destacaremos alguns exemplos de suas manifestações em orações adjetivas, retiradas de textos veiculados pela mídia jornalística. 1.2.1 Subprincípio da quantidade De acordo com o subprincípio da quantidade, quanto maior for o volume de informação a ser transmitida ao interlocutor, maior será a quantidade de forma utilizada para representar essa informação lingüisticamente. Ademais, haverá maior quantidade de forma, também, em situações de informações muito recentes ou imprevisíveis, ocorridas no ato da interação comunicativa. Em muitos casos, podemos observar que a utilização de um grande volume de forma por parte do falante em seu discurso tem como conseqüência uma estrutura gramatical mais elaborada e complexa, até mesmo em termos de conteúdo. As seqüências abaixo foram retiradas da Revista do jornal “O Globo”, em que temos um texto narrativo e um relato de opinião, respectivamente. Os textos tratam da discussão das pesquisas desenvolvidas para decifrar segredos dos cromossomos sexuais X e Y. Nas seqüências, destacamos a presença de orações adjetivas. (1) X versus Y “[...] Nas monótonas linhas das seqüências de milhares de bases que compõem o X estão informações que poderão explicar algumas das diferenças entre homens e mulheres e, mesmo, parte da receita genética que faz cada pessoa única em todo o mundo.” (O Globo – Revista, no. 35, p. 23, 27/03/2005) (grifo nosso) 18 (2) Barbie falava: “Matemática é difícil” “- Quando criaram a Barbie que falava, uma de suas frases era “Matemática é difícil”. Um brinquedo que é preferencialmente usado por meninas passava para elas desde cedo uma idéia negativa sobre a matemática. Criou-se um estigma. Como atribuir ao cérebro essa habilidade? Não há estudo científico que comprove essa “aptidão intrínseca” dos homens – afirma”. (O Globo – Revista, no. 35, p. 29, 27/03/2005) (grifo nosso) Observando-se as seqüências (1) e (2), podemos notar que os elementos lingüísticos utilizados para caracterizar, em (1), o cromossomo X, e, em (2), a Barbie, são vários, justamente porque encerram a informação mais importante, mais relevante e imprevisível. Em (1), o cromossomo X é descrito como aquele que pode explicar algumas das diferenças entre homens e mulheres e o “que faz cada pessoa única em todo o mundo”. Em (2), a Barbie é caracterizada como um brinquedo que fala, que é preferencialmente usado por meninas e que tal brinquedo passava para elas, desde cedo, uma idéia negativa sobre a matemática. Nos dois exemplos, verificamos a ocorrência de considerável quantidade de forma lingüística para que a informação nova pudesse ser compreendida de maneira mais clara, ilustrando, portanto, o subprincípio da quantidade. Paralelamente, observamos que houve também grande freqüência no uso de orações adjetivas restritivas. 1.2.2 Subprincípio da proximidade Nos exemplos (1) e (2), destacaremos as orações adjetivas restritivas presentes para ilustrarmos o subprincípio da proximidade, o qual preconiza que os conteúdos que se encontram mentalmente próximos colocam-se juntos sintaticamente no ato da fala e/ou comunicação. Em outras palavras, os conceitos mais integrados no plano cognitivo também se apresentam com maior grau de ligação morfossintática. 19 Ao aplicarmos esse postulado às orações adjetivas restritivas presentes nas seqüências (1) e (2), verificamos que há um nível de integração forte entre o SN e a oração adjetiva, característica essa que faz parte da definição clássica de oração adjetiva restritiva. Em Lima (1986, p. 242) temos: “A oração restritiva tem por ofício delimitar o antecedente, com o qual forma um todo significativo [...]”. Desta forma, em que compõem o X / que poderão explicar algumas das diferenças entre homens e mulheres / que faz cada pessoa única em todo o mundo presentes no exemplo (1) e em que falava / que é preferencialmente usado por meninas / que comprove essa “aptidão intrínseca” dos homens presentes no exemplo (2), percebemos traços que marcam freqüentemente a oração adjetiva restritiva padrão, a saber: o SN antecedente é menos definido, por isso mesmo mais dependente da restritiva, conseqüentemente a restritiva apresentando-se com maior status informacional. Além disso, um outro traço característico da restritiva padrão é a oração não se apresentar intercalada por inserções ou pausas (verifica-se tal ocorrência em todos os exemplos acima destacados). Em se tratando de inserções ou pausas, em Rios de Oliveira (2002), temos que o fluxo textual contínuo, evidenciado pela ausência de pausa e de demais termos entre antecedente e relativo, confirma a maior integração da seqüência assim organizada. É natural, portanto, que conteúdos tão próximos mentalmente se apresentem, em geral, próximos sintaticamente, confirmando, assim, o subprincípio da proximidade. 1.2.3 Subprincípio da ordenação linear “O grau de importância atribuído aos conteúdos de um texto pelo falante determina a ordenação das formas”(Neves, 2001, p. 108), constitui a idéia central do subprincípio da ordenação linear. Seguindo as palavras de Costa (2000), esse subprincípio parece ser motivado pelos mesmo fatores cognitivos que motivam o da proximidade. Como observado em 1.2.2, conteúdos próximos mentalmente tendem a se apresentar próximos sintaticamente. Além disso, a disposição dos elementos lingüísticos na frase segue uma ordem hierárquica. Para o falante, a ordem dos elementos presentes em seu discurso representa a ordem de importância assim considerada por ele. 20 Temos em (1) a ordem estrutural que compõem o X / que poderão explicar algumas das diferenças entre homens e mulheres / que faz cada pessoa única em todo o mundo, devidamente distribuída na cadeia discursiva, de acordo com o grau de importância que representa para o falante. Para o falante, seguir uma hierarquia na ordem em que os elementos de seu discurso se apresentam não será fortuito, mas previamente estabelecido por ele, ainda que esta não seja uma atitude conscientemente adotada. O exemplo clássico “Vim, vi e venci”, no qual as palavras se distribuem de acordo com a seqüência cronológica das ações descritas, ilustra claramente o subprincípio da ordenação linear. O subprincípio da ordenação linear, como mencionado anteriormente, estabelece que a informação mais previsível e mais tópica tende a aparecer em primeiro lugar e que a ordem das orações no discurso freqüentemente segue a seqüência temporal em que os eventos acontecem na realidade (Bispo, 2003, p. 40), como verifica-se em “Vim, vi e venci”. Acrescentamos, ainda, que as marcas lingüísticas vão configurar ou delinear o caminho pelo qual o falante poderá explicar o conteúdo de seu discurso. Observa-se, por exemplo, que uma mesma marca lingüística pode repetir-se em diversas situações de linguagem. Entretanto, a maneira como as palavras são distribuídas no texto, ou a ordem em que esses elementos são dispostos na cadeia discursiva implica diretamente a relação do que é dito e do que poderia ser dito. 1.3 Classificação e prototipicidade Em Taylor (1989) temos que a ciência lingüística, ao estudar e descrever o seu objeto de estudo, a língua, faz uso de classificações, agrupamentos e categorizações. Labov3 (1973, apud Taylor, 1989, p.1-2) coloca as seguintes questões: as classificações ou categorias das quais a lingüística faz uso teriam como base o mundo real, ou seriam criadas a partir da mente humana? Como são estruturadas internamente? Que tipos de relações existem entre as diferentes classificações? Taylor (op. cit) ressalta que, em geral, lingüistas e antropólogos concordam que nem o mundo real, nem as percepções constituem a base para as classificações. Para o autor, a prática de se 3 LABOV,W. (1973). The boundaries of words and their meanings. In Bailey and Shuy, p. 340-73. 21 classificar elementos é uma questão de convenção. Esse pensamento tem como suporte algumas considerações feitas pelo antropólogo Edmund Leach4: Eu postulo que tanto a realidade física, quanto a social são percebidas, pela criança, como um continuum. Os elementos não se apresentam no mundo separadamente. A criança, em seu devido tempo, é ensinada a interpretar a realidade por meio de ferramentas que a fazem distinguir o mundo como sendo composto por elementos separados. Para cada um desses elementos haverá uma nomenclatura específica. A realidade é, na verdade, a representação de nossas classificações lingüísticas, e não o contrário. E, por que a minha língua materna é o inglês, a mim parecerá evidente que “árvores” e “arbustos” são elementos diferentes. No entanto, o meu pensamento não seguiria esse mesmo raciocínio se eu não tivesse sido ensinado a interpretar a realidade dessa forma. (tradução nossa, Leach, 1964, apud Taylor, 1989, p. 2) Taylor, em comentário sobre o pensamento de Leach, acrescenta que se as classificações se dão de acordo com a língua a que se refere, é de se esperar, portanto, que línguas diferentes classifiquem a realidade de maneiras distintas (Taylor, op. cit). 1.3.1 Prototipicidade O ato de se classificar é uma maneira de se tentar organizar as estruturas lingüísticas em grupos distintos, de forma a reunir numa mesma categoria estruturas que compartilhem características semelhantes. Seguindo-se esse raciocínio, como observado anteriormente, línguas diferentes tendem a classificar suas estruturas lingüísticas de formas distintas. Ao observar os vários tipos de classificações em que determinados elementos são agrupados, Taylor (1989) ressalta a necessidade de também se considerar a existência de estruturas menos representativas dos padrões classificatórios adotados, ou seja, os elementos marginais, periféricos. Os 4 LEACH, E. (1964). Anthropological aspects of language: animal categories and verbal abuse. In E.H. Lenneberg (ed.), New directions in the study of language, 23-63. Cambridge, Mass: MIT Press. 22 elementos pertencentes a uma mesma categoria não possuem, necessariamente, o mesmo status no que se refere à questão da freqüência e de suas possíveis ramificações, por exemplo. Para Taylor, as estruturas, em geral, são classificadas de acordo com seus traços, similitudes, suas propriedades mais relevantes. Assim, estruturas pertencentes a uma mesma categoria compartilham características semelhantes. O autor cita como exemplo o subitem “cadeira”, que estaria incluído no item “mobília”, o qual pertenceria à categoria “manufatura”. Por sua vez, “cadeira de cozinha” seria um subitem de “cadeira”, funcionando como uma de suas possíveis ramificações, assim como “cadeira de jantar” e “cadeira de dentista”. O autor ilustra tal exemplo através do diagrama que reproduzimos abaixo, em que o eixo vertical concentra os elementos centrais, representativos, prototípicos e as linhas horizontais representam as suas margens, ramificações (Taylor, 1989, p.47, tradução nossa). MANUFATURA FERRAMENTA MESA CADEIRA DE JANTAR MOBÍLIA HABITAÇÃO CADEIRA CAMA CADEIRA DE COZINHA CADEIRA DE DENTISTA Ao aplicarmos a teoria classificatória de Taylor (op. cit.) às orações adjetivas, verificamos que tais orações são classificadas obedecendo-se suas características mais representativas e evidentes. Observa-se que a classificação das orações adjetivas do português em restritivas ou explicativas encontrada nas gramáticas tradicionais e nos compêndios escolares, apoiada, em geral, em exemplificação literária, é feita de acordo com os traços prototípicos de cada uma delas, levando-se em conta as características definidoras de cada classe. 23 Pela perspectiva funcionalista, no entanto, faz-se necessário que seja dada atenção à distinção de motivação, de produtividade e de configuração das adjetivas no uso contextualizado. Desta forma, em meio às orações adjetivas prototípicas, verifica-se que há significativo número de estruturas em posição marginal, ou seja, estruturas que não portariam os traços comumente usados para definir a restrição e a explicação. Para o presente estudo, será proposto e trabalhado um continuum de prototipicidade das adjetivas, tomando-se como referência estudos anteriores em que se enfatiza tal perspectiva. Esse tema será abordado mais detalhadamente no capítulo 4, “Orações Adjetivas/Outras abordagens”. 1.4 Gramaticalização através da integração oracional Observa-se que o discurso comum não consiste em unidades lingüísticas isoladas e descontextualizadas, mas em unidades interligadas, mutantes e dependentes. Essas unidades são geralmente expressas por orações, que por sua vez são constituídas por verbos e seus complementos. Em Hopper & Traugott (1993), o processo de gramaticalização, visto anteriormente no subitem 1.1, é considerado a partir de uma perspectiva mais ampla do que se verifica na abordagem tradicional. Os autores “propõem a combinação de dois critérios para o estabelecimento de um contínuo de orações: dependência e encaixamento” (Hernandes, 1998). Segundo eles, a combinação de orações pode ser vista como um declive unidirecional, ou seja, uma trajetória no sentido da menor para a maior integração das orações, em que há uma forte distinção entre a estrutura da oração subordinada e a estrutura da oração coordenada. Assim, estruturas caracterizadas pelo processo de justaposição, menos encaixadas, seriam relativamente mais livres em relação às combinações sintático-morfológicas mais gramaticalizadas, como nas orações mais encaixadas, as subordinadas. Hopper & Traugott (op. cit) dividem os processos de combinação oracional em três tipos: parataxe, hipotaxe e subordinação. Parataxe caracteriza-se por uma independência relativa entre as orações. Incluem-se nesse grupo os períodos compostos por justaposição. São orações que aparecem lado a lado, sem a presença de um conector. Hipotaxe caracteriza-se pela interdependência entre as orações, havendo uma oração-núcleo e margens compostas por uma ou mais orações. Incluem-se nesse grupo as orações adverbiais, as adjetivas explicativas e as coordenadas sindéticas. Subordinação 24 caracteriza-se pela dependência completa entre as orações, em que a oração marginal se integra totalmente ao núcleo. Incluem-se nesse grupo as subordinadas substantivas e as adjetivas restritivas. Os autores citados também representam, em forma de gráfico, níveis de combinações entre as orações, os quais seguiriam a trajetória parataxe > hipotaxe > subordinação. Tal proposta aponta uma trajetória unidirecional, no sentido da menor para a maior integração das orações. Teríamos assim (Hopper & Traugott, 1993, p. 170): parataxe > hipotaxe > subordinação (conteúdo) - dependente + dependente + dependente (expressão) - encaixada - encaixada + encaixada Hopper & Traugott (1993) afirmam que as orações subordinadas são provenientes de orações coordenadas, que são menos encaixadas, em decorrência do fenômeno de gramaticalização. A hipótese unidirecional prevê também que a subordinação tenha sido resultado da hipotaxe. Votre (2004) refere-se à hipótese segundo a qual, em sua primeira fase, as línguas seriam paratáticas, com predomínio de justaposição das orações, com iconicidade diagramática ( em que forma reflete o conteúdo). Posteriormente, as pressões de uso seriam a causa de uma progressiva hipotaxe (vide gráfico de Hopper & Traugott, acima). Nessa categoria estariam incluídas as construções com adverbiais e adjetivas explicativas. Em síntese, um período composto pode ser formado por um núcleo e um ou mais núcleos adicionais ou de um núcleo e uma ou mais “margens”, ou seja, orações relativamente dependentes que não podem ficar sozinhas e que, por outro lado, exibem diferentes graus de dependência. Entre as orações que formam margens, os autores apontam três tipos: aquelas que funcionam como sintagmas nominais (chamadas complementos), aquelas que funcionam como modificadoras de nomes (chamadas de adjetivas) e aquelas que funcionam como modificadoras de sintagmas verbais ou de proposições inteiras (chamadas de adverbiais). Em Rios de Oliveira (2001, ABRALIN), a autora ressalta que, fora do eixo básico de cada um dos três níveis acima, haveria a possibilidade de uma série de graus ou níveis de junção situados em espaço mais marginal. Tais níveis seriam exemplos de arranjos ou estruturas menos representativos de cada padrão classificatório. Seguindo essa abordagem teórica, as orações adjetivas explicativas e restritivas estariam em pontos distintos do eixo básico subordinação. Assim, as orações adjetivas explicativas, mais 25 independentes da oração principal, pertenceriam ao nível da hipotaxe. As orações adjetivas restritivas, por sua vez, mais integradas ao sintagma nominal (SN) antecedente, portanto mais dependentes da oração principal, pertenceriam ao nível da subordinação. Abordaremos tal tema mais detalhadamente no capítulo 3, subitem 3.2.3 “Parataxe, hipotaxe, subordinação”. 26 2. OS PCN E O ENSINO/APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA Neste capítulo, faremos algumas considerações acerca de determinados aspectos envolvidos no processo de ensino/aprendizagem da língua portuguesa nos níveis fundamental e médio. Em virtude de o presente trabalho estar vinculado à observação das questões teóricas funcionalistas e suas manifestações no processo ensino/aprendizagem, faz-se necessária a abordagem de conceitos presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais5 (PCN), os quais contêm proposições para o ensino. Tomaremos algumas dessas proposições como base de nossas considerações. 2.1 Metalinguagem e o ensino de língua portuguesa Durante os últimos anos, a crítica ao ensino de Língua Portuguesa, centrado principalmente em tópicos de gramática escolar, motivou indagações, pesquisas e diversos estudos dentro da ciência lingüística com o objetivo de se buscar uma abordagem mais funcional da língua. Tais estudos e pesquisas provocaram, por conseguinte, algumas revisões e incorporações de novas teorias nas práticas de ensino, levando alunos e professores a assumirem uma postura mais crítica no processo de ensino/aprendizagem, com maior reflexão, participação e interação entre discentes e docentes. No entanto, é importante que se destaque que uma visão mais funcional da língua, objetivando ensinar novas habilidades lingüísticas, não significa, necessariamente, desprezar a necessidade do conhecimento metalingüístico, já que a forma tem razões significativas de existência, mas de alcançar um “ensino produtivo” (Travaglia, 2000) . Seguindo as diretrizes dos PCN, temos que o modo de ensinar implica, muitas vezes, “chegar a resultados diferentes daqueles obtidos pela gramática tradicional, cuja descrição, em muitos aspectos, não corresponde aos usos atuais da linguagem, o que coloca a necessidade de busca de apoio 5 PCN- Documento elaborado pelo MEC, constituído por um conjunto de proposições com o objetivo de estabelecer referenciais para o processo de ensino-aprendizagem. 27 em outros materiais e fontes” (PCN, 1998, p. 29). Seguindo essa perspectiva teórica, a teoria funcional, assim como postulam os PCN, também procura observar e identificar motivações para as regularidades das estruturas lingüísticas e, a partir delas, as possíveis variações lingüísticas verificadas em determinados contextos. Trata-se de uma perspectiva de se observar a língua numa escalaridade, num continuum, em que feixes e traços estão presentes, porém as fronteiras entre uma categoria e outra não se apresentam nitidamente, numa perspectiva diversa do que se verifica, em geral, nos manuais tradicionais de gramática. Halliday, McIntosh e Strevens6 (1974, apud Travaglia, 2000, p. 39-40), ressaltam que não se trata de “alterar padrões que o aluno já adquiriu, mas aumentar os recursos que possui e fazer isso de modo tal que tenha a seu dispor, para uso adequado, a maior escala possível de potencialidades de sua língua, em todas as diversas situações em que tem necessidade delas”. Para o nível fundamental, os PCN estabelecem, dentre os seus objetivos gerais, que o aluno seja capaz de: • “utilizar a linguagem na escuta e produção de textos orais e na leitura e produção de textos escritos de modo a atender a múltiplas demandas sociais, responder a diferentes propósitos comunicativos e expressivos, e considerar as diferentes condições de produção do discurso; • utilizar a linguagem para estruturar a experiência e explicar a realidade, operando sobre as representações construídas em várias áreas do conhecimento: a) sabendo como proceder para ter acesso, compreender e fazer uso de informações contidas nos textos, reconstruindo o modo pelo qual se organizam em sistemas coerentes; b) aumentando e aprofundando seus esquemas cognitivos pela ampliação do léxico e de suas respectivas redes semânticas; • analisar criticamente os diferentes discursos, inclusive o próprio, desenvolvendo a capacidade de avaliação dos textos: a) contrapondo sua interpretação da realidade a diferentes opiniões; b) inferindo as possíveis intenções do autor marcadas no texto; 28 c) identificando referências intertextuais presentes no texto; d) percebendo os processos de convencimento utilizados para atuar sobre o interlocutor/leitor; e) identificando e repensando juízos de valor tanto socioideológicos (preconceituosos ou não) quanto histórico-culturais (inclusive estéticos) associados à linguagem e à língua; f) reafirmando sua identidade pessoal e social; • conhecer e valorizar as diferentes variedades do Português, procurando combater o preconceito lingüístico; • reconhecer e valorizar a linguagem de seu grupo social como instrumento adequado e eficiente na comunicação cotidiana, na elaboração artística e mesmo nas interações com pessoas de outros grupos sociais que se expressem por meio de outras variedades; • usar os conhecimentos adquiridos por meio da prática de análise lingüística para expandir sua capacidade de monitoração das possibilidades de uso da linguagem, ampliando a capacidade de análise crítica” (PCN, 1998, p. 32-33). Verifica-se, conforme descrito acima para o ensino fundamental, a valorização social do conhecimento produzido, de modo a permitir que o aluno se aproprie efetivamente das descobertas realizadas. Logo, prioriza-se a utilização da língua no questionamento e resolução de problemas da realidade e situações do cotidiano. Quanto ao ensino médio, os objetivos gerais contemplam, em grande parte, os mesmos tópicos centrais dos relativos ao ensino fundamental. Há, no entanto, no ensino médio, uma maior complexidade dos conteúdos ministrados e exige-se uma postura mais crítica por parte dos alunos. Os PCN estabelecem, dentre os objetivos para o ensino médio, que o aluno seja capaz de: 6 HALLIDAY, M.A.K.,McINTOSH, Angus & STREVENS, Peter (1974). As ciências lingüísticas e o ensino de línguas. 29 • “reconhecer, produzir, compreender e avaliar a sua produção textual e a alheia; • interferir em determinadas produções textuais (por exemplo, em sua própria ou na de colegas), de acordo com certas intenções; • incluir determinado texto em uma tipologia com base na percepção dos estatutos sobre os quais foi construído e que o estudante aprendeu a reconhecer (saber que se trata de um poema, de uma crônica, de um conto)” (PCN, 1998, p.55). Verifica-se, para o ensino médio, uma preocupação em desenvolver no aluno seu potencial crítico, sua percepção das múltiplas possibilidades de expressão lingüística. Leva-se em consideração o fato de que o aluno do ensino médio é mais experiente, pertence a uma faixa etária mais alta e, por isso mesmo, deve ter o seu potencial crítico e argumentativo mais estimulado. Busca-se, também, a capacitação do aluno como leitor efetivo dos mais diversos textos, assim como seu desenvolvimento como produtor textual. Valoriza-se a interação do social com o conhecimento, caracterizando-se, assim, uma abordagem funcional do processo de ensino/aprendizagem. 2.2 O texto como unidade básica do ensino Ao se admitir uma abordagem mais funcional no processo de ensino/aprendizagem de língua portuguesa, não há mais espaço para apresentação do funcionamento da língua de maneira fragmentada. Uma das proposições dos PCN é de que “a unidade básica do ensino só pode ser o texto”7 (PCN, 1998, p. 23). Ainda segundo os PCN, os textos selecionados deverão ser aqueles que, por suas características e usos, possam favorecer a reflexão crítica, o exercício de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas, “bem como a fruição estética dos usos artísticos da linguagem, ou seja, os mais vitais para a plena participação numa sociedade letrada”(op. cit., p.24). Petrópolis, Vozes. Emprega-se aqui o termo em sentido amplo, para designar também unidades básicas de outras linguagens além da verbal. Assim, um quadro, um balé, um ritual, podem ser considerados como textos (PCN, 1998, p.40). 7 30 De acordo com a afirmação acima de se considerar o texto como unidade básica do ensino, os PCN deixam claro que a observação e a análise demandam o exercício constante de articulação com os demais aspectos envolvidos no processo de ensino/aprendizagem, tais como: tipos de textos, tipos de linguagem (formal ou informal), aspectos pragmáticos e variedades lingüísticas, entre outros. Em Neves (2001, p.49) temos que “a língua em uso oferece complicadores no nível semântico e no nível pragmático-discursivo. E é a língua em funcionamento que tem de ser objeto de análise em nível pedagógico [...]”. Desta forma, há que se trabalhar a gramática no discurso, tornando o estudo da língua portuguesa mais dinâmico e mais interativo. Dentro da teoria funcional da linguagem, Halliday8 (1985, apud Neves, 2001, p. 50) estabelece três tipos de postulados para texto: a) O texto tem de ser visto como organização da informação – composto de unidades informativas que, em termos de delimitação e extensão, são independentes das unidades sintáticas. b) O texto tem de ser visto como organização da interação lingüística – é através da linguagem que se estabelecem e se mantêm as relações humanas. c) O texto tem de ser visto como organização semântica – na organização do conteúdo cognitivo se fazem opções marcadas pela coesão textual. Dentro da perspectiva de um ensino voltado para a produção e interpretação de textos, em que a língua é utilizada para estruturação e representação da realidade extra-lingüística, em que se almeja um aluno capacitado para produção textual e um leitor crítico, a atividade metalingüística deve ser instrumento de apoio, pois, como observado acima, aspectos pragmático-discursivos permeiam a língua em uso. Objetiva-se, assim, uma prática de ensino voltada para a interação da metalinguagem, semântica e pragmática, para que se desenvolvam habilidades de reflexão, interpretação, análise e síntese, permitindo-se uma comunicação mais ampla e eficaz dentro do grupo social. 8 HALLIDAY, M.A.K. An introduction to functional grammar. London, Edward Arnold, 1985. 31 3. ORAÇÕES ADJETIVAS Um dos recursos lingüísticos mais utilizados em produção textual ou em conversações espontâneas, as orações adjetivas são, no presente capítulo, discutidas e observadas nas perspectivas tradicional e funcional. Verificamos que a oração adjetiva, com valor adjetivo ou apositivo, com a função de delimitar o sentido de um elemento nominal a que faz referência, ou com a função de esclarecer, explicar o elemento antecedente, nos permite espaço para algumas considerações no que diz respeito à abordagem tradicional do tema. Entendemos por “tradicional”, a abordagem de conceitos gramaticais sem que se leve em conta a interdependência das dimensões pragmática, semântica e sintática da língua. Em tal abordagem, a língua não é concebida numa escalaridade, cujas fronteiras nem sempre são claras e bem definidas. Observamos, também, alguns princípios e categorias do funcionalismo desenvolvidos anteriormente em estudos e trabalhos de pesquisas dentro dessa perspectiva teórica, como suporte de nossas considerações. 3.1 Abordagem tradicional 3.1.1 Orações adjetivas e o pronome relativo As orações subordinadas adjetivas são descritas, nas gramáticas normativas e nos compêndios escolares, como orações que são introduzidas por um pronome relativo, que modificam um nome ou um pronome. São orações que valem por adjetivos e que funcionam como adjunto adnominal (Lima, 1986). “As orações subordinadas adjetivas vêm normalmente introduzidas por um pronome relativo, e exercem a função de adjunto adnominal de um substantivo ou pronome antecedente” (Cunha, 1985, p. 586). 32 “As orações adjetivas iniciam-se por pronome relativo que, além de marcar a subordinação, exerce uma função sintática da oração a que pertence” (Bechara, 2002, p. 486). “Orações subordinadas adjetivas são aquelas que exercem a função sintática de adjunto adnominal, função própria do adjetivo” (Terra, 1997, p.254). “Oração subordinada adjetiva é aquela que tem valor de adjetivo, pois cumpre o papel de determinar um substantivo (nome ou pronome) antecedente” (Magalhães & Cereja, 2000, p.33). Conforme previsto nas descrições acima, o pronome relativo assume um papel de grande importância para a estruturação das orações adjetivas, principalmente por sua dupla função: conectar as orações e retomar um elemento precedente. Câmara Jr. (2000) classifica o pronome relativo como uma conjunção subordinativa de tipo especial que, “além de operar a inserção de uma oração em outra, faz algo de que a conjunção não é capaz: representa, anaforicamente, a palavra com que a oração se relaciona” (Câmara Jr., apud Carone, 2001, p. 50). O grupo dos pronomes relativos é composto pelos termos: que, quem, o qual (e flexões), cujo (e flexões), quanto (e flexões), onde. Os manuais tradicionais, assim como os livros didáticos verificados no presente trabalho, no entanto, não distinguem a questão da freqüência desses constituintes, seu índice de ocorrência, o que faz com que o pronome “que” pareça uma mera alternativa de uso, e não o mais recorrente da categoria. Em estudo feito por Rios de Oliveira (2004), “Estratégias Discursivas e Gramaticais do Uso da Adjetiva”, constata-se, através de levantamento de 168 orações adjetivas, a utilização do conectivo que em cerca de 90% das orações adjetivas, sendo os demais conectivos utilizados esporadicamente. Dentre eles o conectivo cujo foi encontrado somente em editoriais, ou seja, textos de maior registro de formalidade. Na abordagem tradicional, as orações adjetivas são subdivididas em dois grupos: orações subordinadas adjetivas restritivas e orações subordinadas adjetivas explicativas. 3.1.2 Orações subordinadas adjetivas restritivas Em geral, as construções com relativas restritivas são descritas nas gramáticas normativas como aquelas que identificam, delimitam o antecedente que está em foco. 33 Temos assim descrito para as relativas restritivas: 1. “As restritivas, como o nome indica, restringem, limitam, precisam a significação do substantivo (ou pronome) antecedente. São, por conseguinte, indispensáveis ao sentido da frase; e, como se ligam ao antecedente sem pausa, dele não se separam, na escrita, por vírgula”. Ex: “És um dos raros homens que têm o mundo nas mãos” (Cunha, 1985, p.588). 2. “A oração restritiva tem por ofício delimitar o antecedente, com o qual forma um todo significativo; em razão disso, não pode ser suprimida, sob pena de a oração principal ficar prejudicada em sua compreensão”. Ex: “Os pecadores que se arrependem alcançam o perdão de Deus” (Lima, 1986, p.242). 3. “As restritivas servem para delimitar ou definir mais claramente o seu antecedente, o qual, sem a oração adjetiva, pode ou não fazer sentido ou dizer coisa diferente do que temos em mente”. Ex: “A ambição é um enredo que nos enreda por toda a vida” (Bechara, 2003, p.128). 4. “O homem que vinha a cavalo parou defronte da igreja. A oração adjetiva, proferida sem pausa e não indicada na escrita por sinal de pontuação a separá-la do antecedente, demonstra que na narração havia mais de um homem, mas só o “que vinha a cavalo” parou defronte da igreja. A esta subordinada adjetiva se chama restritiva”. (Bechara, 2002, p.343). Abaixo transcrevemos as definições de adjetivas restritivas encontradas em uma das gramáticas escolares e livro didático que compõem nosso corpus, em virtude do presente trabalho estar vinculado a questões teóricas e suas manifestações no processo ensino/aprendizagem. 5. “As restritivas restringem a significação do nome a que se referem”. Ex: “O homem que fuma vive menos”. (Terra, 1997, p.255). 34 6. “As restritivas são as que delimitam, restringem ou particularizam o sentido de um nome (substantivo ou pronome) antecedente. Na escrita, ligam-se ao antecedente diretamente, sem vírgulas”. Ex: “A criança que é ingênua deve ser mais orientada sobre violência familiar”. (Magalhães & Cereja, 2000, p.34). Verifica-se, também, que de acordo com as descrições acima, a relativa restritiva intervém para particularizar uma designação, na medida em que se considera que o substantivo, por si só, não é capaz de cumprir essa função. A particularidade da relativa restritiva reside, basicamente, na delimitação do referente, por fornecer uma descrição mais detalhada do mesmo. “Restringir” significa limitar e “restrição” é a condição que limita. (Houaiss, 2001, p.384) As restritivas são consideradas, pelas gramáticas tradicionais, essenciais, e em algumas gramáticas (Cunha, 1985, p.588) encontramos inclusive a expressão “indispensáveis” à estrutura da frase para o entendimento do enunciado. Temos, então, que “essencial para o entendimento do enunciado” preconizado pelas gramáticas tradicionais se dá na perspectiva semântica quando se trata de construção com restritivas, e não na formal, visto que o adjunto adnominal é termo acessório da oração. 3.1.3 Orações subordinadas adjetivas explicativas Para as orações adjetivas explicativas, temos assim descritas nas gramáticas tradicionais. 1. “As explicativas acrescentam ao antecedente uma qualidade acessória, isto é, esclarecem melhor a sua significação, à semelhança de um aposto. Mas, por isso mesmo, não são indispensáveis ao sentido essencial da frase. Na fala, separam-se do antecedente por uma pausa, indicada na escrita por vírgula”. Ex: “Tio Cosme, que era advogado, confiava-lhe a cópia de papéis de autos” (Cunha, 1985, p. 589). 35 2. “A oração explicativa é termo adicional, que encerra simples esclarecimento ou pormenor do antecedente – não indispensável para a compreensão do conjunto”. Ex: “Vozes d’África, que é um poemeto épico, representa um alto momento da poesia brasileira” (Lima, 1986, p. 242). 3. “As explicativas encerram uma simples explicação ou pormenor do antecedente, uma informação adicional de um ser que se acha suficientemente definido, podendo ser omitidas sem prejuízo”. Ex: “Afonso, que está aqui, ficará conosco por algum tempo” (Bechara, 2003, p. 128). 4. “[...] a adjetiva explicativa alude a uma particularidade que não modifica a referência do antecedente e que, por ser mero apêndice, pode ser dispensada sem prejuízo total da mensagem”. Ex: “O homem, que vinha a cavalo, parou defronte da igreja” (Bechara, 2002, p. 343). Temos assim descritas na gramática escolar e no livro didático consultado que constituem nosso corpus para as adjetivas explicativas: 5. “As explicativas não estão restringindo a significação do nome, mas acrescentando uma característica que é própria do elemento a que se referem”. Ex: “O homem, que é um ser racional, vive pouco” (Terra, 1997, p.255). 6. “As explicativas são as que acrescentam ao antecedente uma informação que já é de conhecimento do interlocutor; assim, generalizam ou universalizam o sentido do antecedente. Na escrita, vêm entre vírgulas”. Ex: “A criança, que é ingênua, deve ser mais orientada sobre violência familiar”. (Magalhães & Cereja, 2000, p.34). As construções com relativas explicativas são descritas como construções que enunciam uma particularidade do que está em foco. “Explicar” significa tornar compreensível, esclarecer, e “explicação” significa esclarecimento, comentário (Houaiss, 2001, p.191). Podemos dizer que a identificação do referente, na construção com relativa explicativa, já foi assegurada anteriormente. 36 Assim sendo, tendo em vista que a particularidade da relativa explicativa é a de veicular uma informação adicional, constatamos a necessidade da junção das perspectivas semântica e sintática para uma análise mais satisfatória dos elementos lingüísticos. 3.2 Outras Abordagens 3.2.1 Orações adjetivas e o pronome relativo De forma diferente da abordagem tradicional, alguns autores denominam o pronome relativo de transpositor anafórico (Azeredo, 1997), que modifica um nome ou um pronome. Carone (2001) denomina o pronome relativo de “translativo”, tendo ele a “propriedade de obrigar toda uma oração a comportar-se como parte de outra; [...] e o substantivo escolhido como ponto de inserção é exatamente aquele que o pronome, como anáfora, representa”(op. cit., p.49). Em Neves (2000, p.374) temos: “Os pronomes relativos iniciam orações adjetivas”. “Da evolução do pronome demonstrativo anafórico para pronome relativo nasceu a oração subordinada a que chamamos adjetiva ou relativa”, é o que ressalta Ali (2001, p.202). Encontramos em Azeredo (1997, p.89): “Chamam-se adjetivas as orações que, introduzidas por um transpositor anafórico, modificam um nome ou um pronome. Elas podem vir integradas ao SN, como um adjunto, ou logo após ele, como um aposto”. Azeredo acrescenta, também, que muitas construções adverbiais parecem “provir historicamente de construções adjetivas cujo transpositor se uniu ao antecedente numa locução de valor circunstancial”, principalmente nas construções temporais e comparativas. Ex: “As crianças gargalhavam cada vez que o palhaço dava uma cambalhota” (valor temporal) “Mário de Andrade escreveu mais cartas do que qualquer outro escritor brasileiro” (valor comparativo) (op. cit., p. 91). 37 3.2.2 Orações adjetivas, subordinação e coordenação Nas gramáticas normativas da língua portuguesa, encontramos a definição e classificação das orações adjetivas no capítulo referente ao período e sua construção. Em Lima (1986, p. 230 - 232) temos: Período é a frase formada de duas ou mais orações. De acordo com o modo como se dispõem e relacionam nele, apresenta o período duas estruturas nitidamente caracterizáveis. São os “processos sintáticos” : a) coordenação b) subordinação Coordenação é a comunicação de um pensamento em sua integridade, pela sucessão de orações gramaticalmente independentes [...]. No período composto por subordinação, há uma oração principal, que traz presa a si, como dependente, outra ou outras. Dependentes, porque cada um tem seu papel como um dos termos da oração principal. Seguindo a abordagem tradicional, as palavras “coordenação” e “subordinação” são encontradas na NGB (Nomenclatura Gramatical Brasileira) a partir do item relativo ao período composto (Carone, 2001). A autora faz uma crítica a tal procedimento, já que esse posicionamento pode induzir à conclusão de que esses mecanismos sintáticos não operam em nível inferior ao período composto. Segundo Carone (2001) e Azeredo (1997), quando as palavras se organizam para formar sintagmas, e estes se articulam para tecer uma oração, fazem-no graças à conexão sintática, que vem a ser a própria subordinação. Azeredo (1997) declara que a subordinação é o processo sintático por excelência. Segundo Azeredo, “a subordinação é um processo necessariamente intra-oracional, ao passo que a coordenação percorre todos os níveis, associando palavras, sintagmas, orações” (1997, p.49). Em Azeredo (1997), verificamos que as funções sintáticas – sujeito, predicado, objeto, predicador, modificador, determinante – resultam da subordinação das unidades que as desempenham. 38 Ele conclui que “enquanto a subordinação é um processo criador de funções, a coordenação consiste em conectar unidades da mesma função ou da mesma natureza” (1997, p.52). Said Ali (2001, p. 201) ressalta: “aos termos ‘coordenação’ e ‘subordinação’ prefere a lingüística moderna as expressões parataxe e hipotaxe”. Segundo Ali, na linguagem primitiva, o discurso tinha feição paratática. “Criando-se porém conjunções apropriadas, ou antes adaptando-se a esta função vocábulos de outra categoria, pôde-se por meio da linguagem estabelecer as variedades da parataxe e diferençar esta da hipotaxe” (op. cit. p. 202). O processo de subordinação envolve padrões lingüísticos mais elaborados, com a utilização de conjunções subordinativas e, muitas vezes, de orações mais longas. Seguindo os fundamentos do princípio da iconicidade, o qual prevê a motivação do binômio função > forma, postulamos, para o fenômeno da subordinação, a manifestação dos três subprincípios da iconicidade: o da quantidade, em que quanto maior a quantidade de informação, maior será também a quantidade de forma utilizada para representar essa informação; o da proximidade, em que conteúdos próximos mentalmente colocam-se juntos sintaticamente, e o da ordenação linear, em que a ordem das formas lingüísticas segue o grau de importância atribuído aos conteúdos pelo falante. No âmbito da subordinação, observamos a tendência natural de se utilizar as conjunções subordinativas para interligar as informações entre as orações. Nas orações subordinadas adjetivas, essa ligação entre as orações se faz através do pronome relativo. 3.2.3 Parataxe, hipotaxe e subordinação Em Hopper & Traugott (1993), há uma crítica às divisões clássicas: parataxe x hipotaxe; coordenação x subordinação. Os autores propõem considerar a combinação de orações do ponto de vista de um declive unidirecional, seguindo-se a trajetória parataxe > hipotaxe > subordinação, como já visto em 1.4 “Gramaticalização através da integração oracional”. Desta maneira, no que concerne ao português, via de regra, podemos considerar que as orações justapostas e coordenadas são classificadas como paratáticas; as orações adjetivas explicativas e adverbiais são classificadas como hipotáticas e as orações adjetivas restritivas e substantivas são classificadas como subordinadas. 39 Em conformidade com a categorização acima, as orações adjetivas explicativas, por serem mais independentes da oração principal e menos integradas ao SN antecedente, estariam na categoria de hipotaxe. As orações adjetivas restritivas, por serem mais dependentes da oração principal e mais integradas ao SN antecedente, estariam na categoria de subordinadas. No entanto, ainda que se considere a proposta de categorização de Hopper & Traugott (op. cit), verifica-se que há níveis centrais e marginais em tais classificações, como já visto no capítulo 1, subitem 1.3 “Classificação e prototipicidade”, de acordo com as propostas de Taylor (1989). Em Rios de Oliveira (ABRALIN, 99), por exemplo, foi observada a utilização da adjetiva restritiva em situações de intensificação de uma informação, como em (3). Em outras situações, a autora observou a utilização de adjetivas restritivas com efeito contrastivo, exemplo (4). Em outras palavras, em ambos os casos constata-se a não obediência do “limitar, precisar a significação do antecedente”, como função da adjetiva restritiva. Abaixo reproduzimos os exemplos citados: ( 3 ) O motorista de ônibus escolar do CEL (Centro Educacional da Lagoa)... no dia 25/08, às 6h50 da manhã, avançou o sinal do cruzamento da Rua Igarapava com Avenida Visconde de Albuquerque, colocando em risco a vida das crianças que estavam no ônibus, de pedestres que atravessavam o sinal e dos veículos que aproveitavam o sinal verde. (Carta Ônibus escolar) ( 4 ) O “rating”, isto é, a classificação de riscos, pode evitar que espertalhões montem arapucas para saquear a poupança doméstica vendendo seguros que não cobrem sinistros, contratos que não entregam casas ou planos de saúde que não abrem as portas dos hospitais. (Editorial Fugitivos da falência) Verificamos em (3) que estavam no ônibus / que atravessavam o sinal / que aproveitavam o sinal verde, formas de enfatizar, confirmar o SN antecedente, e não formas de delimitar o SN antecedente. No exemplo (4), que não cobrem sinistros / que não entregam casas / que não abrem as portas dos hospitais, são expressões empregadas com efeito contrastivo, novamente, distanciandose da característica básica das adjetivas restritivas de especificar, delimitar o SN antecedente. Em suma, são contextos em que a motivação pragmático-discursiva proporciona utilização distinta das adjetivas restritivas e explicativas daquela preconizada pelas gramáticas normativas. 40 3.2.4 Orações adjetivas restritivas/explicativas “desgarradas” Em outra abordagem para orações adjetivas, realizada por Decat (apud Braga, Bittencourt e Decat, 2001), foi verificado o emprego de orações adjetivas restritivas/explicativas portadoras de unidades informacionais à parte, ou seja, orações que fazem referência ao todo, não se referem a um elemento específico do SN anterior. Tais unidades foram classificadas pela autora como “desgarradas”, justamente por serem menos integradas ao SN antecedente. De acordo com essa classificação, estão incluídas nesse grupo as adjetivas explicativas/apositivas e as relativas “sem cabeça”. Segundo a autora, as orações adjetivas desgarradas funcionam como adendos, acrescentando uma informação suplementar. Em se tratando de relativa ‘sem cabeça’, a autora a define como “a construção que não se pode identificar o substantivo (o sintagma nominal, o referente) que a oração relativa modifica, realça”(op. cit., p. 106). Reproduzimos, abaixo, exemplos de oração adjetiva relativa “sem cabeça”, citados pela autora: ( 5 ) Estava sem assunto. O que não deve surpreender ninguém. Afinal, esta é praticamente uma constante. Estou sempre sem assunto. Mas aí tocou o telefone. Era a Adriane Galisteu. (Artur Xexéo, Jornal do Brasil, 3 de set. de 1999) ( 6 ) Os textos que mandei de Nova York foram publicados pelo Globo num caderno especial sobre os atentados, mas não foram distribuídos pela agência. Levando alguns dos meus 17 leitores a suspeitarem que eu estava num processo patológico de rejeição da realidade, o que não é o caso. Ainda. (F.Veríssimo – Fundamentalismos – Opinião – Estado de Minas – 18/09/2001 – p. 7) ( 7 ) Um dos passageiros, chinês, desesperou-se. Tentou abrir a porta de emergência assim que anunciaram o assalto. Foi contido sem violência pelos bandidos, que fizeram 41 piada sobre a tentativa de fuga pouco convencional. (Revista Época – n. 104 – 15/05/2000 Notícias) Em (5), O que não deve surpreender ninguém é um exemplo de oração desgarrada, sem integração evidente junto ao antecedente, já que faz referência ao todo. Percebe-se a autonomia da oração também na forma como foi pontuada, com ausência de vírgulas. Em (6), temos em que mandei de Nova York um exemplo de oração adjetiva restritiva padrão, com antecedente menos definido, representado por nome genérico no plural, “textos”, e adjetiva mais recortada, com maior status informacional. Ao final do parágrafo, no entanto, observamos a utilização de uma adjetiva não prototípica, “desgarrada”, nas palavras da autora. Na expressão o que não é o caso, há uma referência ao todo do enunciado novamente, e não a um antecedente menos definido. O antecedente possui mais status informacional. Em (7), que fizeram piada sobre a tentativa de fuga pouco convencional é um exemplo de adjetiva explicativa na forma “desgarrada”, um pouco diferente dos observados em (5) e (6). Ela funciona como adendo, acrescenta uma informação suplementar, porém, percebe-se que não se apresenta na forma padrão da adjetiva explicativa, ou seja, entre vírgulas, e sim ao final da frase, de forma menos integrada ao antecedente. Observamos que as orações relativas explicativas/apositivas e as relativas ‘sem cabeça’ estariam mais propícias ao desgarramento, face à sua característica de vinculação com o todo, como visto em (5) e (6), e não com um elemento anterior em específico. Segundo Decat (op. cit., p.109), “se não há um referente explícito, não há por que impedir o desligamento da oração como uma estrutura independente”. Ainda seguindo as palavras de Decat, essas estruturas têm uma certa independência informacional do restante do contexto. 3.2.5 Orações adjetivas relativas “copiadoras” Em estudo realizado por Bispo (2003), foi trabalhada outra forma possível de estruturação da adjetiva relativa. Trata-se das chamadas adjetivas ‘copiadoras’, ou seja, aquelas em que se “reproduz o 42 antecedente do pronome relativo, quer por um anafórico pronominal ou pela repetição do próprio elemento antecedente” (op. cit., p. 56). Baseando-se no Corpus Discurso & Gramática da cidade de Natal, Bispo selecionou alguns exemplos de tais ocorrências, retirados da modalidade de língua falada. Abaixo, reproduzimos alguns deles: ( 8 ) “...e tem aqueles que apenas utilizam aqueles rituais que é uma forma também de se chegar a Deus... e tem o espiritismo... que esse eu acho muito parecido com a igreja católica ... a única diferença que existe é que o espiritismo consegue explicar questionamentos que a igreja católica não consegue...” (Língua falada, ensino superior, p.63) ( 9 ) “...todo o nosso material de estudo ... saindo desse quarto... você dá de frente para um outro quarto... que esse quarto dá para a rua... esse é um quarto que eu fiz como um quarto de hóspedes...” (Língua falada, ensino superior, p. 58) Segundo Bispo, a utilização da estrutura relativa copiadora como em (8) e (9), vincula-se, no plano do discurso, a uma necessidade expressiva. A presença do pronome correferente, nos exemplos (8) e (9) representados pela expressão “esse”, funcionando como um “lembrete”, representaria, de acordo com o autor, um menor esforço no processamento do conteúdo informacional por parte do ouvinte. Bispo enfatiza que a relação icônica forma/função tem, para esse caso, sua base na necessidade pragmático-discursiva. Acrescente-se a isso o fato de os exemplos por ele explorados serem provenientes da língua falada, o que contribui para o surgimento das formas repetitivas, assim como a presença de pausas, com o intuito de se enfatizar ou de se assegurar um maior entendimento no processo comunicativo. Observa-se, também, que a oração adjetiva relativa copiadora, ao repetir o referente do relativo, obedece aos subprincípios da proximidade e quantidade, refletindo assim maior proximidade entre forma e conteúdo. Além disso, há a utilização de maior número de estruturas lingüísticas para representação da informação pretendida, mais uma vez, objetivando-se maior clareza na comunicação. 43 4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para o presente trabalho, que pauta suas considerações sob a orientação teórica funcionalista, adotou-se o procedimento de se verificar e analisar as orações adjetivas do português, através de coleta de dados em instituições de ensino público e privado. Tal procedimento nos permitiu analisar interpretativamente os aspectos semântico-pragmáticos e discutir a motivação da utilização de tais estruturas sintáticas. Desta maneira, observar e analisar as orações adjetivas do português, com base no aparato teórico do funcionalismo, possibilita-nos verificar a ocorrência de tais orações no âmbito do ensino; como elas são, em geral, percebidas nas suas particularidades. A realização de um trabalho de pesquisa em que se almeja a vinculação teoria/prática, no âmbito do ensino, reflete a necessidade de uma colaboração mútua entre pesquisador e professor. Nesse sentido, concordamos com Telles (2002) ao observar que O professor reflete e produz sentidos sobre suas ações e a sala de aula. O pesquisador, por sua vez, produz sentidos sobre aqueles produzidos pelo professor, construindo, assim, quadros de significados que comporão o conjunto de conhecimentos adquiridos através da pesquisa (Telles, 2002, p.98). No entanto, devido ao segregacionismo geralmente vivenciado entre a universidade e a prática pedagógica das escolas, deparamo-nos com algumas barreiras como: “O que será que ela quer saber sobre a minha sala de aula? No que minha instituição vai ser avaliada? Cobaia? Eu, hein!” (Telles, 2002, p.93). Segundo Telles (op. cit.), os casos em que as escolas procuram a universidade para realização de algum tipo de pesquisa parecem ser menos freqüentes do que o contrário. Assim, há que se promover uma relação de parceria em que o pesquisador possa discutir com o professor os conhecimentos adquiridos durante sua pesquisa ao vinculá-la com a prática, tornando-se, assim, os resultados dos estudos relevantes para ambos. Não entendemos o papel das instituições como sendo o de “cobaias”, mas como forma de vinculação da teoria com a prática e de desenvolver, cada vez mais, uma relação de proximidade e cumplicidade entre universidade e escola. 44 Com o propósito de construir significados a partir dos elementos advindos da coleta de dados de nossa pesquisa, estabeleceram-se contatos em cinco instituições de ensino diferentes, localizadas na cidade de Niterói-RJ. Foram selecionados os colégios São Vicente de Paulo, Colégio Nossa Senhora da Assunção, Colégio Salesiano Santa Rosa de Niterói e Instituto Abel, pertencentes à rede particular de ensino, e o IEPIC – Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho, pertencente à rede pública de ensino. A escolha por tais instituições se deu, principalmente, em virtude de tais estabelecimentos serem bastante tradicionais e representativos, na cidade de Niterói-RJ. Em cada uma dessas instituições o contato se deu através de uma breve entrevista junto aos docentes de língua portuguesa, níveis fundamental e médio. Foi solicitado aos docentes o preenchimento de um questionário, disposto no Anexo I. Foram entrevistados um total de doze professores da rede privada e cinco professores da rede pública. Alunos da rede particular de ensino foram contatados para o preenchimento de duas folhas de exercícios distintas sobre classificação de orações adjetivas (Anexo II). Na primeira etapa da pesquisa, denominada pesquisa piloto, analisamos os exercícios de dez alunos da rede particular. Na segunda etapa da pesquisa, analisamos os exercícios de noventa alunos da rede particular de ensino (Anexo III). Optamos por fazer algumas alterações nas folhas de exercícios da segunda etapa no que diz respeito à modalidade de língua a ser explorada. Todos os fragmentos de textos trabalhados com os alunos da segunda etapa são provenientes da mídia jornalística, na modalidade de língua escrita. Tal alteração se deu por entendermos que a língua escrita é fruto de uma elaboração mais cuidada, pensase e elabora-se internamente antes de sua produção gráfica. Há inclusive a possibilidade de se retornar ao que já foi produzido e modificá-lo ou reescrevê-lo. Ao observarmos a língua falada, ao contrário da língua escrita, verificamos que a presença do interlocutor, a utilização de recursos tais como gestos, expressões faciais, altura da voz, etc., tornam bem explícitas boa parte das informações transmitidas. A língua falada é espontânea, possui fluência e rapidez. Muitas vezes para que a informação não se perca, há a presença da redundância na oralidade. A seguir, são expostos a constituição do corpus, os procedimentos adotados para a pesquisa de campo, tais como: a preparação do questionário e folhas de exercícios; o surgimento de problemas e dificuldades; a abordagem; o perfil dos informantes e o perfil das instituições. 45 4.1 O Corpus O material utilizado para constituição do corpus desse trabalho é formado de pequenos fragmentos de textos veiculados pela mídia jornalística, em que se constata a presença de orações adjetivas prototípicas e não prototípicas. Há, ainda, a utilização de pequenos fragmentos de textos retirados de materiais didáticos utilizados pelas instituições de ensino pesquisadas. Foram utilizados questionários para o grupo de docentes entrevistados e folhas de exercícios para o grupo de alunos, a fim de se conseguir uma análise quantitativa mais abrangente, no que se refere à identificação ou não das orações adjetivas, por parte dos alunos. Tomamos como base o livro didático Português: Linguagens 8ª série, de William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães, adotado pelas instituições pesquisadas. Utilizamos, também, gramáticas normativas e escolares da língua portuguesa. Foram analisados dezessete questionários preenchidos por professores de língua portuguesa, ensinos fundamental e médio, e cem folhas de exercícios preenchidas por alunos pertencentes aos ensinos fundamental e médio. 4.2 Pesquisa de campo 4.2.1 Elaboração do questionário e exercícios Com o propósito de se obter algumas considerações provenientes de professores da rede de ensino público e particular relativas às orações adjetivas do português, foi elaborado um questionário, disposto no Anexo I, com sete perguntas, sendo seis objetivas e uma subjetiva, com o intuito de verificar, junto ao corpo docente, as suas impressões em relação ao modo pelo qual o aluno recebe e assimila tal conteúdo gramatical. O questionário é constituído por perguntas em que se abordam questões relativas ao material didático adotado, facilidades ou dificuldades apresentadas pelos alunos na distinção das orações adjetivas, opinião do professor quanto à relevância desse conteúdo gramatical e possíveis problemas já vivenciados pelos professores na distinção de tais orações. 46 Na pesquisa piloto, preparamos duas folhas de exercícios, dispostas no Anexo II. A primeira folha de exercícios é composta por quatro pequenos fragmentos de textos, retirados de crônicas veiculadas pela mídia jornalística, em que se encontram os dois tipos de orações adjetivas: restritivas e explicativas, em suas formas prototípicas. Submetemos a primeira folha de exercícios a dez alunos do ensino privado, inicialmente, para observarmos como, em geral, os alunos percebem a funcionalidade de tais orações e se conseguem, dentro de situações contextualizadas, identificar os dois tipos de orações adjetivas. Posteriormente, esses dez alunos foram submetidos a uma segunda folha de exercícios, disposta no Anexo II, a qual é composta por quatro pequenos fragmentos de textos, retirados de estudos sobre orações adjetivas. Os fragmentos de textos da segunda folha, entretanto, contemplam exemplos de orações adjetivas que fogem às características prototípicas das adjetivas do português, comumente encontradas nas gramáticas normativas, escolares e material didático consultados. Tais fragmentos foram retirados de pesquisas anteriores, como as encontradas nos trabalhos de Bispo (2003), Decat (2001) e Rios de Oliveira (1999), constantes no capítulo 3, “Orações Adjetivas”. Vale ressaltar que os exemplos referentes ao trabalho de Bispo (2003) são provenientes da língua falada. Na segunda etapa da pesquisa, foram elaboradas mais duas folhas de exercícios, contemplando-se exemplos de orações adjetivas restritivas e explicativas retiradas de fragmentos de textos da língua escrita. As folhas de exercícios dessa segunda etapa foram destinadas, especificamente, para alunos da 8ª série, ensino fundamental, e para alunos do 1º e 3º anos, ensino médio, pertencentes às instituições Colégio Salesiano Santa Rosa de Niterói e Instituto Abel (Anexo III). Seguindo o procedimento adotado na pesquisa piloto, os exemplos de orações adjetivas submetidos aos alunos nessa etapa contemplaram orações adjetivas prototípicas e orações adjetivas que fogem às características prototípicas. As duas folhas de exercícios da segunda etapa foram submetidas a um número maior de alunos pertencentes à rede particular de ensino: vinte e dois alunos da 8ª série, ensino fundamental, quarenta e cinco alunos do 1º ano e vinte e três alunos do 3º ano, ensino médio, perfazendo um total geral de noventa alunos. O ensino médio teve maior número de alunos, em virtude de no período de nossa coleta de dados o conteúdo gramatical “orações adjetivas” não ter sido ainda abordado, em algumas turmas do ensino fundamental. Há que se observar que a folha de exercícios destinada aos alunos da 8ª série, ensino fundamental, submetida ao Colégio Salesiano Santa Rosa, na segunda etapa, foi reformulada no que diz respeito à nomenclatura utilizada no comando dos exercícios. Procuramos respeitar a metodologia 47 adotada por tal instituição de ensino, a qual procura evitar a menção aos termos “restritiva” e “explicativa” na 8ª série do ensino fundamental, série em que ocorrem os primeiros contatos dos alunos com o referido conteúdo gramatical. Desta forma, a instituição procura, nesse primeiro contato dos alunos com o conteúdo gramatical “orações adjetivas”, trabalhar o mesmo através da percepção dos diferentes sentidos que cada uma dessas orações articula, não fazendo, assim, uso da metalinguagem. Tal procedimento metodológico parece seguir a proposta de “ensino produtivo” (Travaglia, 2000), em que se objetiva “ensinar novas habilidades lingüísticas” e “ajudar o aluno a estender o uso de sua língua materna de maneira mais eficiente”(op. cit., p.39), uma vez que leva o aluno a refletir sobre a língua. 4.2.2 Perfil dos informantes O grupo de docentes entrevistados para o preenchimento do questionário é composto por profissionais que possuem longa experiência de prática de ensino (em média, dez anos de prática docente), tanto os pertencentes à instituição pública, quanto os pertencentes à instituição privada (vide Anexo I). O grupo de alunos inicialmente pesquisados pertence à instituição de ensino privada. São alunos provenientes de uma classe social mais favorecida, com acesso a livros didáticos, biblioteca e computadores. O fato de a instituição de ensino pública ter passado por um período de greve impediu que conseguíssemos conciliar horário e espaços para realização do trabalho de coleta de dados na pesquisa piloto. Com o prolongamento do período de greve da rede pública, optamos por concentrar o trabalho, posteriormente, somente com os alunos da rede particular de ensino. Os alunos participantes da pesquisa piloto são provenientes do ensino fundamental e médio, num total de seis alunos do ensino fundamental (8ª série) e quatro alunos do ensino médio ( três alunos do 1º ano e um aluno do 3º ano), perfazendo um total geral de dez alunos (vide Anexo II). Não nos deparamos com dificuldades para a colaboração dos alunos desses estabelecimentos no preenchimento das folhas de exercícios. Os alunos participantes da segunda etapa são provenientes dos ensinos fundamental e médio, num total de vinte e dois alunos do ensino fundamental (8ª série), quarenta e cinco alunos do 1º ano e 48 vinte e três alunos do 3º ano, ensino médio, perfazendo um total geral de noventa alunos (vide anexo III). Assim como na pesquisa piloto, não nos deparamos com dificuldades para a colab oração dos alunos desses estabelecimentos para o preenchimento das folhas de exercícios. 4.2.3 Perfil das instituições Dentre as cinco instituições de ensino pesquisadas, quatro pertencem ao ensino privado e uma ao ensino público. As instituições de ensino privado pesquisadas são representativas no âmbito do ensino na cidade de Niterói-RJ e oferecem aos seus alunos facilidades como biblioteca atualizada, professores especializados, acesso a laboratórios e computadores. 4.2.4 Dificuldades encontradas Ao iniciarmos nossa coleta de dados, na pesquisa piloto, uma de nossas grandes dificuldades foi o acesso às instituições de ensino. As instituições escolhidas para a primeira etapa foram o Colégio São Vicente de Paulo, da rede particular de ensino, e o IEPIC – Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho, pertencente à rede pública de ensino. A instituição de ensino pública em referência passou por um longo período de greve. Quanto à instituição de ensino privada selecionada por nós para esta etapa, o Colégio São Vicente de Paulo, após os contatos iniciais pouco produtivos junto à coordenação geral da escola, houve alguns empecilhos em se contatar especificamente a coordenação de língua portuguesa, o que nos levou a uma espera de quase trinta dias, até que conseguíssemos uma junção de fatores, a saber: disponibilidade de horários do coordenador, autorização da escola e possibilidade de exposição de nossa pesquisa e respectivo questionário aos docentes. Após os primeiros contatos, conseguimos agendar uma data junto ao colégio, coordenador e professores para a exposição oral do trabalho e questionário. Na data marcada, estavam presentes um grupo de treze professores de língua portuguesa, juntamente com o coordenador da área. Durante a exposição junto à instituição de ensino mencionada, percebemos que, em geral, os professores mostraram interesse no tema e em colaborar no preenchimento do questionário. Ao final, os 49 questionários ficaram em posse do coordenador, o qual se prontificou em distribuí-los e recolhê-los após cinco dias. Retornamos ao colégio após o prazo acordado, mas somente conseguimos recolher cinco questionários preenchidos. A instituição de ensino pública contatada não possui coordenador específico para a área de língua portuguesa. Falamos, inicialmente, com a coordenação geral, a qual se prontificou a colaborar com nossa pesquisa. No entanto, alguns professores não demonstraram muito interesse em responder o questionário. Mesmo assim, conseguimos adesão de cinco professores. Em se tratando de coleta de dados/pesquisa, concordamos com Telles (2002) quando observa que a prática da pesquisa educacional deve ser emancipadora. Segundo Telles, como, quando e para quê receber um pesquisador nas escolas ou em salas de aulas são questionamentos que emergem quanto ao desenvolvimento e prática da pesquisa nas escolas. Para que os resultados de uma pesquisa sejam relevantes e possam contribuir para o desenvolvimento e aprimoramento de atividades educacionais, há que haver uma relação de parceria entre pesquisador e professor. Em outras palavras, a pesquisa deve ser provocadora de reflexões. No que tange aos alunos, conseguimos a colaboração de um grupo de dez alunos de instituições de ensino privada para o preenchimento das folhas de exercícios. Tal procedimento foi efetuado fora do horário de aulas, em espaço e local combinados previamente. Durante a resolução dos exercícios, alguns alunos demonstraram insegurança em relação ao assunto, o que nos levou a uma breve explicação e revisão do conteúdo gramatical. Na segunda etapa da pesquisa, obtivemos uma colaboração maior quanto ao acesso aos coordenadores de língua portuguesa das instituições contatadas. Para esta fase, foram selecionadas as instituições de ensino Colégio Salesiano Santa Rosa de Niterói, Colégio Nossa Senhora da Assunção e Instituto Abel, todos pertencentes à rede de ensino particular. Conseguimos um total de sete questionários respondidos por professores. Tais questionários foram preenchidos pelos professores que estavam ministrando o conteúdo gramatical “orações adjetivas” durante o período letivo, nas respectivas instituições. Entretanto, dentre as três instituições de ensino mencionadas para a segunda etapa, conseguimos a colaboração de apenas duas delas para o preenchimento das folhas de exercícios propostas aos alunos. O preenchimento do questionário, por parte dos professores, na segunda etapa da pesquisa, também foi precedido por uma breve exposição nossa a respeito do trabalho pretendido. Observamos, em alguns momentos da exposição, a manifestação de estranhamento por parte de alguns docentes em relação à hipótese da existência de orações adjetivas não prototípicas. Em outras palavras, na 50 percepção de alguns docentes, espera-se que as orações adjetivas sigam o padrão estrutural preconizado pelas gramáticas escolares e materiais didáticos. Verificaremos, no próximo capítulo, as análises resultantes de nossa coleta de dados, tanto da pesquisa piloto, quanto da segunda etapa da pesquisa. 51 5. ANÁLISES Neste capítulo, que se subdivide em análises da pesquisa piloto e da segunda etapa da pesquisa, serão apresentados os resultados de nosso trabalho de coleta de dados. Inicialmente, a coleta de dados foi efetuada através de uma pesquisa piloto, com a utilização de questionários direcionados a docentes e folhas de exercícios destinadas aos alunos. Foram analisadas dez folhas de exercícios preenchidas por alunos pertencentes aos níveis fundamental e médio, provenientes de instituições de ensino particulares. Foram analisados oito questionários preenchidos por professores: cinco pertencentes à instituição particular de ensino e três pertencentes à instituição de ensino pública. Nossas análises e comentários referentes à pesquisa piloto foram submetidos à qualificação do presente trabalho em Julho/05 e, a partir de sua aprovação, deu-se prosseguimento a uma segunda etapa do estudo. Para a segunda etapa, foram preparadas novas folhas de exercícios. Quanto à folha de questionário direcionada aos docentes, foi mantida a mesma da pesquisa piloto. Procurou-se contatar um número maior de instituições de ensino e alunos. Obtivemos um total de noventa folhas de exercícios preenchidas por alunos e de nove questionários preenchidos por professores. A partir dos questionários preenchidos pelos docentes, Anexo I, das folhas de exercícios preenchidas pelos alunos, Anexo II, ambas referentes à pesquisa piloto, e folhas de exercícios referentes à segunda etapa, Anexo III, apontamos, neste capítulo, algumas considerações no que diz respeito à percepção do conceito de orações adjetivas do português por parte de alunos e professores. Observamos como as orações adjetivas são, em geral, percebidas no que concerne às suas distinções; de que modo são interpretadas pelos alunos nas situações contextualizadas apresentadas, tanto em exemplos contemplando a abordagem tradicional, quanto em exemplos contemplando “outras abordagens”; como as orações são trabalhadas no ensino pelos docentes entrevistados e seus comentários em relação à produtividade dos alunos em sala de aula. 52 5.1 Material didático adotado Foi constatada a utilização dos seguintes materiais didáticos ou de apoio para apresentação do conteúdo gramatical orações adjetivas: o livro didático “Português: Linguagens 8a série”, de William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães, tanto na instituição de ensino pública, quanto na particular já citadas, textos literários e jornalísticos, gramáticas normativas e gramáticas escolares. Para o ensino fundamental, o livro didático mencionado é adotado juntamente com gramáticas normativas e textos veiculados na mídia jornalística. Para o ensino médio, o conteúdo gramatical é trabalhado mediante gramáticas normativas, textos literários, além dos textos jornalísticos. Verificamos que a abordagem do tema, proveniente dos materiais citados, sempre se dá por meio da língua escrita. Não foi observado nenhum exemplo de abordagem das orações adjetivas tomando-se alguns textos da língua falada, para efeito de ilustração do referido conteúdo gramatical. 5.2 Questionário dos docentes Conseguimos coletar um total de dezessete questionários preenchidos por professores, somando-se os pertencentes à pesquisa piloto e à segunda etapa da pesquisa. Abaixo apresentamos as respostas levantadas. Dentre os dezessete professores entrevistados, oito responderam que os alunos, em geral, têm dificuldades em diferenciar a oração adjetiva restritiva da adjetiva explicativa. Ao serem questionados sobre as prováveis razões de os alunos apresentarem tais dificuldades na diferenciação das orações, expuseram os seguintes argumentos: • os exemplos de orações adjetivas não se apresentam de maneira clara nos materiais utilizados .................................................................................................... 5 menções • os alunos demonstram pouco interesse no aprendizado............................. 4 menções 53 • a definição de oração adjetiva apresentada pelo material é imprecisa.................. ................................................................................................................... 2 menções • os alunos confundem a oração coordenada explicativa com a subordinada adjetiva explicativa.....................................................................................................1 menção • os alunos “não percebem a intenção expressiva do texto”...........................1 menção • os alunos “não entendem bem o conceito de “restrição”..............................1 menção • os alunos apresentam dificuldades para identificar classes de palavras........................................................................................................2 menções A questão da vinculação entre semântica e sintaxe, crucial para o entendimento de que as estruturas lingüísticas são sujeitas a pressões provenientes de situações comunicativas, não foi apontada como uma possível causa das dificuldades encontradas pelos alunos na distinção dos dois tipos de orações. Dentre os dezessete professores entrevistados, nove responderam que, em geral, os alunos conseguem distinguir a oração adjetiva restritiva da explicativa com facilidade. A facilidade apresentada pelos alunos na distinção das orações adjetivas, para esses professores, foi assim especificada: • o fato de o estudo de tais orações estar vinculado à interpretação de textos..................................................................................................................7 menções • a definição de oração adjetiva apresentada pelo material didático é bastante clara.................................................................................................................. 4 menções • os exemplos apresentados pelo material didático são muito básicos.............................................................................................................. 4 menções • os alunos demonstram interesse no aprendizado............................................... 1 menção 54 Observamos que a maior parte dos docentes atribuiu à facilidade dos alunos em distinguir os dois tipos de orações, devido aos exemplos estarem vinculados a uma contextualização, interpretação de textos. Acrescentamos que, apesar de a quantidade de docentes entrevistados não ter sido muito significativa (dezessete no total), grande parte dos docentes procurou enfatizar a dimensão do significado da língua em suas práticas pedagógicas, ao apontarem que o estudo do referido conteúdo gramatical está vinculado à interpretação de textos (sete menções). Tal procedimento parece contrariar o argumento “ a opção da escola brasileira tem sido essencialmente trabalhar com os ensinamentos lingüísticos no plano da forma e pouco ou nada com a dimensão do significado/significação/sentido” (Travaglia, 2001, p. 208). Ao analisarmos os resultados finais, no entanto, verificamos que, ao contrário do que foi mencionado pelos docentes, grande parte dos alunos apresentou dificuldades na distinção dos dois tipos de orações. Ao serem questionados se, em sua opinião, a distinção entre explicação e restrição é relevante, dentre os dezessete professores, doze consideram que sim, um professor considera a distinção relevante em algumas situações e quatro professores não consideram essa distinção relevante. Ao final, perguntou-se aos professores se, ao longo de sua prática docente, teriam se deparado com problemas na distinção da adjetiva restritiva e adjetiva explicativa. Três professores declararam que sim, sete disseram que isso se dá algumas vezes e sete responderam que não. Entendemos ser de grande produtividade na língua portuguesa a utilização do recurso sintático orações adjetivas restritivas/explicativas. Além disso, uma das metas do ensino de língua portuguesa é a capacidade ou habilidade de se usar a língua de forma adequada às diferentes situações de interação comunicativa. 5.3 Análises da pesquisa piloto 5.3.1 Primeiro exercício dos alunos Um grupo de dez alunos preencheu, inicialmente, uma folha de exercícios (Anexo II), constituída por quatro diferentes fragmentos de textos retirados de crônicas publicadas em jornais de 55 grande circulação. Foi solicitado aos alunos que sublinhassem as orações adjetivas restritivas e explicativas dos referidos fragmentos, nomeando-as. Abaixo, reproduzimos os fragmentos de textos com as respectivas análises iniciais: Fragmento 1 1- “Sinto um misto de revolta e inveja quando ouço alguém dizer que está sem nada para ler. Com a cabeceira entulhada de livros que só terminarei de ler com 217 anos, se a luz for suficientemente forte, e já convencido de que nunca cumprirei meu modesto projeto de vida, que é saber tudo sobre tudo, sinto-me ofendido com a queixa insensata”. [...] (Veríssimo, O Globo, 14 nov. 2002, Opinião). ALUNOS ADJ.REST. “que só terminarei de ler com 217 anos” ADJ.EXPLIC. “que só terminarei de ler com 217 anos” Aluno 1 ADJ.EXPLIC . “que é saber tudo sobre tudo” ADJ. REST. “que está sem nada para ler” 1 Aluno 2 1 1 Aluno 3 1 1 Aluno 4 1 1 Aluno 5 1 1 Aluno 6 1 1 Aluno 7 1 1 Aluno 8 1 1 Aluno 9 1 1 Aluno 10 1 1 TOTAL: 2 6 10 1 2 Quadro no. 1: Classificações efetuadas pelos alunos no fragmento 1, pesquisa piloto. No fragmento 1, todos os alunos conseguiram identificar a oração adjetiva explicativa “que é saber tudo sobre tudo” e dois alunos identificaram a adjetiva restritiva “que só terminarei de ler com 217 anos”. Seis alunos classificaram a adjetiva restritiva citada como adjetiva explicativa e dois alunos classificaram como adjetiva restritiva a oração subordinada substantiva objetiva direta “que está sem nada para ler”. 56 Fragmento 2 2- “[...] Além de conhecimento e audácia, falta-me convicção: ainda não escrevi um texto que merecesse ponto-e-vírgula. Um dia o escreverei e então tirarei o ponto-e-vírgula do estojo com o maior cuidado e com a devida solenidade o colocarei, assim; provavelmente no lugar errado, mas quem se importa ?” (Veríssimo, O Globo, 15 nov.2002, Opinião). No fragmento 2, nove alunos identificaram a oração adjetiva restritiva “que merecesse ponto-e-vírgula” e um aluno classificou a adjetiva restritiva em referência como adjetiva explicativa (vide quadro abaixo). ALUNOS ADJ.RESTRITIVA Aluno 1 1 Aluno 2 ADJ.EXPLICATIVA 1 Aluno 3 1 Aluno 4 1 Aluno 5 1 Aluno 6 1 Aluno 7 1 Aluno 8 1 Aluno 9 1 Aluno 10 1 TOTAL : 9 1 Quadro no.2: Classificações efetuadas pelos alunos no fragmento 2, pesquisa piloto. Fragmento 3 3- “[...] São as boas surpresas dessa cidade que às vezes é a mais violenta e às vezes a mais cordial do mundo; que é capaz de matar por bala perdida, mas também de reunir 2 milhões de pessoas no réveillon de Copacabana sem conflito [...]”. (Zuenir Ventura, O Globo, Opinião). 57 ALUNOS ADJ.REST. ADJ.REST. “que às vezes é a mais “que é capaz de matar por violenta e às vezes a bala perdida” mais cordial do mundo” Restritiva Explicativa Restritiva Explicativa Aluno 1 1 1 Aluno 2 1 1 Aluno 3 1 1 Aluno 4 1 1 Aluno 5 1 1 Aluno 6 1 1 Aluno 7 1 Aluno 8 1 Aluno 9 1 Aluno 10 TOTAL: 1 1 5 7 3 2 Quadro no. 3: classificações efetuadas pelos alunos no fragmento 3, pesquisa piloto. No fragmento 3, cinco alunos identificaram a primeira oração adjetiva restritiva “que às vezes é a mais violenta e às vezes a mais cordial do mundo”. Sete alunos, no entanto, classificaram a adjetiva restritiva mencionada como adjetiva explicativa. Três identificaram a adjetiva restritiva “que é capaz de matar por bala perdida”. Dois classificaram essa mesma adjetiva como adjetiva explicativa. Apenas três alunos (grifado em azul), identificaram as duas orações adjetivas restritivas. Fragmento 4 4- “Não sei se cheguei a ver todos os filmes da série “Star Wars”. Gostei do último mas não posso dizer se foi pela mesma razão que tenho ouvido muito: que ele só é bom em comparação com os últimos, que eram péssimos.” (Veríssimo, O Globo, 12 jun. 2005, Opinião). 58 ALUNOS ADJ.REST. “que tenho ouvido ADJ.EXPL. “que eram muito” péssimos” Restritiva Explicativa Explicativa APOSITIVA “que ele só é bom em comparação com os últimos” Restritiva Restritiva 1 2 1 1 3 1 1 4 1 5 1 1 6 1 1 1 7 1 1 1 8 1 9 1 1 10 1 TOTAL: 2 4 5 3 3 Quadro no. 4: Classificações efetuadas pelos alunos no fragmento 4, pesquisa piloto. Explicativa 1 1 2 No fragmento 4, dois alunos identificaram a oração adjetiva restritiva “que tenho ouvido muito” e cinco a oração adjetiva explicativa “que eram péssimos”. Quatro classificaram a adjetiva restritiva como adjetiva explicativa e três classificaram a adjetiva explicativa como adjetiva restritiva. Dois alunos classificaram a apositiva “que ele só é bom em comparação com os últimos” como adjetiva explicativa e três alunos classificaram a mesma apositiva como adjetiva restritiva. Comentários Observamos que em fragmentos de textos mais longos, em que a posição da oração adjetiva restritiva dentro do período ocorre ao final do enunciado, como constatado nos fragmentos 1 e 4, principalmente, houve dificuldades por parte dos alunos na identificação do sentido de restrição. Nesses exemplos, muitos alunos optaram por classificar as orações como adjetivas explicativas. A dificuldade apresentada na distinção dos dois tipos de orações adjetivas foi constatada nos quatro fragmentos de textos analisados. Observamos tendência em se optar pela classificação de adjetivas explicativas em lugar de adjetivas restritivas. Apesar de o número de alunos participantes, na pesquisa piloto, ser reduzido, a identificação do sentido explicativo para as orações apresentadas foi bastante recorrente. Segundo o subprincípio da ordenação linear (Capítulo 1, subitem 1.2.3), a disposição dos elementos lingüísticos na frase segue uma ordem hierárquica. Para o falante, a ordem dos elementos presentes em seu discurso representa a ordem de importância assim considerada por 59 ele. Desta forma, o foco de atenção do aluno está concentrado no início do fragmento de texto e, ao serem apresentados exemplos de adjetivas restritivas em finais de enunciados, o sentido restritivo mostra-se pouco evidente e, consequentemente, menos provável de ser detectado e/ou classificado. 5.3.2 Segundo exercício dos alunos Para a segunda folha de exercícios, reunimos um grupo de oito alunos da rede de ensino particular, pertencentes aos níveis médio e fundamental. Solicitamos que classificassem as orações adjetivas já sublinhadas em: restritivas (R), explicativas (E) ou outros casos (OC). Abaixo reproduzimos os fragmentos de textos e as classificações efetuadas: Fragmento 1 1- “Estava sem assunto. O que não deve surpreender ninguém. Afinal, esta é praticamente uma constante. Estou sempre sem assunto. Mas aí tocou o telefone. Era a Adriane Galisteu” (Artur Xexéo, Jornal do Brasil, 3 de set. de 1999). ALUNOS Aluno 1 Aluno 2 Aluno 3 Aluno 4 Aluno 5 Aluno 6 Aluno 7 Aluno 8 TOTAL: OUTROS CASOS 1 ADJ.REST. ADJ.EXPLIC 1 1 1 1 1 1 1 5 1 2 Quadro no. 5: Classificações efetuadas pelos alunos no fragmento 1, segundo exercício da pesquisa piloto. 60 No fragmento 1, cinco alunos classificaram a oração “O que não deve surpreender ninguém” como “outros casos”. Dois alunos a classificaram como adjetiva explicativa e um aluno a classificou como adjetiva restritiva. A oração citada consta no trabalho de pesquisa de Decat, 2001, abordada no capítulo 3, subitem 3.2.4, em que a autora classifica tal ocorrência como um tipo de oração “desgarrada”, por ser menos integrada ao SN antecedente. Esse tipo de arranjo oracional, fora do eixo prototípico da restrição e mesmo da explicação, dificulta a classificação (às vezes a inviabiliza). Trata-se de exemplo marginal, não prototípico. Fragmento 2 2- “...todo o nosso material de estudo ... saindo desse quarto... você dá de frente para um outro quarto... que esse quarto dá para a rua... esse é um quarto que eu fiz como um quarto de hóspedes...” (Língua falada, ensino superior, p. 58). ALUNOS Aluno 1 Aluno 2 Aluno 3 Aluno 4 Aluno 5 Aluno 6 Aluno 7 Aluno 8 TOTAL: ADJ. REST. 1 ADJ.EXPLIC. 1 1 1 1 1 1 1 4 4 Quadro no. 6: Classificações efetuadas pelos alunos no fragmento 2, segundo exercício da.pesquisa piloto. No fragmento 2, a oração “que esse quarto dá para a rua”, nomeada por Bispo (2003) como “copiadora”, foi classificada por quatro alunos como adjetiva explicativa e por quatro alunos como adjetiva restritiva. Ressaltamos que esse é um exemplo proveniente da língua falada. Fragmento 3 3- “Os textos que mandei de Nova York foram publicados pelo Globo num caderno especial sobre os atentados, mas não foram distribuídos pela agência. Levando alguns 61 dos meus 17 leitores a suspeitarem que eu estava num processo patológico de rejeição da realidade, o que não é o caso. Ainda” (F.Veríssimo – Fundamentalismos – Opinião – Estado de Minas – 18/09/2001 – p.7). ALUNOS 1ª ORAÇÃO “que mandei 2ª ORAÇÃO “o que não de Nova York” é o caso” Aluno 1 Adjetiva restritiva Adjetiva explicativa Aluno 2 Outros casos Adjetiva explicativa Aluno 3 Adjetiva explicativa Adjetiva restritiva Aluno 4 Adjetiva explicativa Outros casos Aluno 5 Outros casos Outros casos Aluno 6 Outros casos Adjetiva explicativa Aluno 7 Adjetiva restritiva - Aluno 8 Adjetiva explicativa - Quadro no. 7: Classificações efetuadas pelos alunos no fragmento texto 3,segundo exercício, pesquisa piloto. Para o fragmento 3, a primeira oração “que mandei de Nova York” foi classificada por dois alunos como adjetiva restritiva. Três a classificaram como outros casos e três alunos como adjetiva explicativa. A segunda oração “o que não é o caso”, no trabalho de pesquisa de Decat (2001) nomeada como “desgarrada”, foi classificada por três alunos como adjetiva explicativa, por dois alunos como outros casos e outros dois não a classificaram. Fragmento 4 4- “O motorista de ônibus escolar do CEL (Centro Educacional da Lagoa)... no dia 25/08, às 6h50 da manhã, avançou o sinal do cruzamento da Rua Igarapava com Avenida Visconde de Albuquerque, colocando em risco a vida das crianças que estavam no ônibus, de pedestres que atravessavam o sinal e dos veículos que aproveitavam o sinal verde” (Carta Ônibus escolar). 62 1ª ORAÇÃO 2ª ORAÇÃO Aluno 1 Outros casos Outros casos Outros casos Aluno 2 Adjetiva restritiva Adjetiva restritiva Adjetiva restritiva Aluno 3 Adjetiva explicativa Adjetiva explicativa Adjetiva explicativa Aluno 4 Adjetiva explicativa Adjetiva explicativa Adjetiva explicativa Aluno 5 Adjetiva explicativa Outros casos Adjetiva explicativa Aluno 6 Adjetiva restritiva Adjetiva restritiva Adjetiva restritiva Aluno 7 - - Adjetiva restritiva Aluno 8 Adjetiva restritiva Adjetiva restritiva Adjetiva explicativa ALUNOS “que estavam no ônibus” “que atravessavam sinal” 3ª ORAÇÃO o “que aproveitavam sinal verde” o Quadro no. 8: Classificações efetuadas pelos alunos no fragmento 4,segundo exercício, pesquisa piloto. O fragmento 4 possui exemplos de orações adjetivas restritivas com efeito de se intensificar uma informação, como já observado no trabalho de Rios de Oliveira (1999). Esse tipo de oração apresenta uma restrição formal, porém não recorta, não restringe, ela funciona como intensificadora do antecedente. De acordo com o quadro classificatório acima, dois alunos classificaram as três orações como restritivas e dois alunos como explicativas. Um aluno classificou as três orações como outros casos. Três alunos mesclaram as orações entre restritiva, explicativa, outros casos ou, sem classificação. Comentários Observamos que, para a segunda folha de exercícios, as orações do tipo “desgarrada” (Decat, 2001) e as orações intensificadoras de uma informação (Rios de Oliveira, 1999) foram classificadas, por alguns alunos, como “outros casos”, nos fragmentos 1, 3 e 4. Na pesquisa piloto, confirmamos que há significativos exemplos de estruturas adjetivas que não apresentam as características apontadas pelas gramáticas tradicionais, são aquelas que ocupam posição marginal na classe das adjetivas prototípicas. 63 Verifica-se, também, que mesmo dentro do universo das orações adjetivas prototípicas, o sentido de “restrição”, principalmente, não é identificado facilmente, levando alguns alunos a optarem por classificar determinadas orações adjetivas restritivas padrão como explicativas. Poderíamos cogitar, como possíveis razões de tais dificuldades para a classificação e distinção dos dois tipos de orações adjetivas, a motivação discursiva, a configuração da oração no texto, a presença do pronome relativo “que” com muita freqüência, o tipo de texto (gênero), a modalidade de língua, seja falada, seja escrita, o registro, formal ou não-formal, o próprio conteúdo da oração, ou seja, aspectos semânticos e estruturais a interferirem na configuração, na formalidade e, portanto, na identificação de tais arranjos oracionais. 5.4. Análises da segunda etapa da pesquisa Na segunda etapa da pesquisa, houve o preenchimento de novas folhas de exercícios, desta vez contemplando um número maior de alunos, pertencentes aos níveis fundamental e médio, perfazendo um total de noventa alunos. Observamos, nesta segunda etapa, como as orações adjetivas foram classificadas e interpretadas pelos alunos, no que se refere às suas distinções de sentidos, dentro das situações contextualizadas propostas. 5.4.1 Exercício destinado aos alunos da 8ª série, ensino fundamental, sem a utilização de metalinguagem Um grupo de vinte e dois alunos do Colégio Salesiano Santa Rosa de Niterói-RJ preencheu uma folha de exercícios (Anexo III), constituída por quatro fragmentos de textos, retirados de materiais didáticos e de crônicas publicadas em jornais de grande circulação. A folha de exercícios elaborada para este grupo, especificamente, diferencia-se das demais, no que se refere aos enunciados. Foi seguida a metodologia adotada pela instituição de ensino em 64 questão, a qual não faz uso da metalinguagem nesta fase inicial em que os alunos são apresentados ao referido conteúdo gramatical. Trabalha-se apenas a distinção de sentidos entre os dois tipos de orações. Vale ressaltar que a não utilização da metalinguagem, principalmente nas séries iniciais, está em conformidade com o preconizado pelos PCN, já que tal procedimento pode ser um passo para uma abordagem mais funcional da língua. Abaixo reproduzimos algumas orientações encontradas nos PCN: Os objetivos da nova educação pretendida são certamente mais amplos do que os do velho projeto pedagógico. Antes se desejava transmitir conhecimentos disciplinares padronizados, na forma de informações e procedimentos estanques; agora se deseja promover competências gerais, que articulem conhecimentos, sejam estes disciplinares ou não. Essas competências dependem da compreensão de processos e do desenvolvimento de linguagens, a cargo das disciplinas que, por sua vez, devem ser tratadas como campos dinâmicos de conhecimento e de interesses, e não como listas de saberes oficiais (PCN, 1998, p. 9). Os trabalhos escolares voltados para a mera análise gramatical, morfológica ou sintática não garantem a compreensão dos mecanismos da linguagem. O que se espera hoje é que o professor desenvolva a análise do discurso, valendo-se dos conhecimentos e das ferramentas que a gramática normativa, a lingüística e a semiótica tornaram disponíveis (PCN, 1998, p.43). Na folha de exercícios, solicitou-se aos alunos se, na opinião deles, haveria diferença de sentido entre as situações apresentadas. Em caso positivo, qual seria a diferença? Abaixo, reproduzimos os fragmentos dos textos com as respectivas análises e observações: 65 Fragmento 1a a) “Os alunos que foram mal na primeira avaliação terão aulas de reforço”. (Magalhães & Cereja, Gramática Reflexiva, 8ª série). 20 18,2% 15 10 5 Restritiva Restritiva Sentido não detectado Sentido não detectado 81,8% 0 Quadro no 9: Classificações para o fragmento 1a No exemplo 1a, dezoito alunos interpretaram o sentido do período como sendo restritivo e quatro alunos não perceberam o sentido de restrição. Observamos que o período do fragmento 1a segue o padrão das orações adjetivas, encontrado usualmente em materiais didáticos e em gramáticas normativas. Assim sendo, ratificamos a hipótese de que tal modelo padrão, ou prototípico, pode ter contribuído para que 81,8,% dos alunos percebessem o sentido de restrição presente no exemplo acima. Fragmento 1b b)“Os alunos, que foram mal na primeira avaliação, terão aulas de reforço” (Magalhães & Cereja, Gramática Reflexiva, 8ª série). 20 15 10 5 0 Explicativa 18,2% Explicativa Sentido não detectado Sentido não detectado 81,8% Quadro no 10: Classificações para o fragmento 1b. 66 No fragmento 1b, dezoito alunos interpretaram o sentido da oração adjetiva como explicativo e quatro alunos não identificaram o sentido de explicação na mesma. Observamos que a oração do fragmento 1b também segue o padrão das adjetivas explicativas, encontrado usualmente em materiais didáticos e em gramáticas normativas. Assim sendo, ratificamos a hipótese de que tal modelo padrão, ou prototípico, pode ter contribuído para que 81,8,% dos alunos percebessem o sentido de explicação. Fragmento 1c b) “Acabei de descobrir que eu queimei junto com os jornais velhos umas revistas de historinhas”. “Acabei de descobrir que eu queimei junto com os jornais velhos umas revistas de historinhas que o Felipe me emprestou”. (Quino. Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 1995, v.9, p.94-5) 20 Restritiva 15 10 5 4,3% Explicativa 17,4% 4,3% Explicativa Sentido não detectado Sentido não detectado Adverbial final Restritiva 73,9% Adverbial final 0 Quadro no 11: Classificações para o fragmento 1c. Nos fragmentos que compõem 1c, dezessete alunos não detectaram o sentido de restrição presente na oração “que o Felipe me emprestou”, três alunos detectaram a restrição, um aluno o classificou como explicação e um aluno classificou a oração como adverbial final. Observamos que nos fragmentos de texto que compõem 1c somente 17,4% dos alunos detectaram o sentido de restrição presente na segunda oração, ainda que a mesma seguisse o modelo prototípico de orações adjetivas restritivas. Confirmando as análises da pesquisa piloto, observamos que o sentido de “restrição”, principalmente, não é identificado facilmente por parte dos alunos, mesmo dentro do universo das orações adjetivas prototípicas, como pode ser verificado em 1c. Como uma das possíveis causas de tal ocorrência, poderíamos apontar que os períodos dos fragmentos que compõem 1c são mais longos em 67 relação aos fragmentos de textos constantes em 1a e 1b. Além disso, a oração restritiva em 1c apresenta-se ao final do fragmento, encerrando uma informação. Conforme o subprincípio da ordenação linear, a disposição dos elementos lingüísticos na frase segue uma ordem hierárquica, de acordo com o grau de importância atribuído ao conteúdo pelo falante. A informação de maior relevância tende a ocupar o início da cadeia lingüística. No exemplo do fragmento de texto 1c, a oração adjetiva restritiva ocupa o final do período, o que pode ter dificultado na classificação como restritiva por parte dos alunos. Na segunda parte da mesma folha de exercícios, foi solicitado que o aluno marcasse a opção que melhor representasse sua interpretação a respeito da oração sublinhada nos fragmentos de textos. Abaixo, reproduzimos os exemplos: Fragmento 2a a) “Estava sem assunto. O que não deve surpreender ninguém. Afinal, esta é praticamente uma constante. Estou sempre sem assunto. Mas aí tocou o telefone. Era a Adriane Galisteu”. (Artur Xexéo, Jornal do Brasil, 3 de set. de 1999) Classificações dos alunos: • é um comentário que possui caráter explicativo..................................................... 10 alunos • é um comentário que faz referência ao parágrafo inteiro....................................... 04 alunos • é um comentário de caráter explicativo que faz referência ao parágrafo inteiro........................................................................................................................08 alunos 10 Explicativo Explicativo 8 6 4 2 0 Parágrafo inteiro Explicativa de todo o parágrafo 36,3% 45,5% 18,2% Quadro no 12: Classificações para o fragmento 2a Parágrafo inteiro Explicativa de todo o parágrafo 68 No fragmento 2a, dez alunos, 45,5%, consideraram que a oração sublinhada possui sentido explicativo, quatro alunos, 18,2%, consideraram que é um comentário referente ao parágrafo inteiro e oito alunos, 36,3%, consideraram que é um comentário explicativo, referente ao parágrafo inteiro. O sentido explicativo, seja isoladamente (45,5%), seja de forma contextualizada (36,3%), excede significativamente o sentido de apenas ser um comentário. Novamente, observamos o subprincípio da quantidade, principalmente, presente nesse tipo de oração. Fragmento 2b b) “De posse do formulário, devidamente preenchido [...], dirija-se ao Departamento da Polícia Federal portando todos os documentos exigidos. Que não são poucos: carteira de identidade ou certidão de nascimento, prova de quitação [...]” – (Jornal de Casa, BH-MG, 9 a 15/05/95) Classificação dos alunos: • é um comentário que possui caráter explicativo..................................................11 alunos • é um comentário que faz referência ao parágrafo inteiro....................................05 alunos • é um comentário de caráter explicativo que faz referência ao parágrafo inteiro...................................................................................................................06 alunos 12 8 6 4 2 0 Explicativo Explicativo 10 27,3% Parágrafo inteiro Explicativa de todo o parágrafo 50,0% 22,7% Quadro no 13: Classificações para o fragmento 2b. Parágrafo inteiro Explicativa de todo o parágrafo 69 No fragmento 2b, onze alunos, 50%, consideraram a oração sublinhada como um comentário explicativo , cinco alunos, 22,7%, consideraram a oração como um comentário referente ao parágrafo inteiro e, seis alunos, 27,3%, consideraram que se trata de um comentário de caráter explicativo, referente ao parágrafo inteiro. Desta vez, a interpretação da oração sublinhada como sendo um comentário explicativo do SN antecedente “documentos exigidos” foi expressiva, 50%. Podemos observar em 2b que o sentido de explicação, seja isoladamente, 50%, seja contextualizado, 27,3%, foi interpretado e considerado pela maioria dos alunos. Os fragmentos 2a e 2b não possuem orações adjetivas explicativas prototípicas, ou seja, orações que acrescentem ao antecedente uma qualidade acessória, indicada, na escrita, por vírgulas. Segundo a perspectiva teórica de nossa pesquisa, são orações que fazem parte de um continuum, estão ocupando posição marginal dentro de um feixe de escalaridade, como visto em 1.4 “Gramaticalização através da integração oracional”. No entanto, o sentido de “explicação” foi percebido e interpretado por grande parte dos alunos, seja fazendo referência ao parágrafo inteiro, 18,2% para o fragmento 2a e 22,7% para o fragmento 2b, seja somente fazendo referência ao caráter explicativo, 45,5% para o fragmento 2a e 50% para o fragmento 2b. Este resultado nos leva a refletir que o sentido “explicativo” é detectado mais facilmente pelos alunos do que o sentido “restritivo”. A explicação ou reiteração é um recurso lingüístico que se apresenta constantemente na interação comunicativa. Os subprincípios da ordenação linear e da proximidade atuam de forma relevante para esse tipo de classificação e/ou interpretação de sentidos. 5.4.2 Exercício destinado a alunos do primeiro e terceiro anos, ensino médio, com utilização de metalinguagem Um grupo de quarenta e cinco alunos do primeiro ano e vinte e três alunos do terceiro ano, ensino médio, preencheu uma folha de exercícios (Anexo III), constituída por seis fragmentos de textos, retirados de materiais didáticos e crônicas publicadas em jornais de grande circulação. 70 Nesta folha de exercícios, além das classificações tradicionais, restritiva (R) e explicativa (E), os alunos tiveram como opção classificar as orações sublinhadas como Outros Casos (OC). O grupo de fragmentos de textos selecionado contempla orações prototípicas e não prototípicas. Abaixo, reproduzimos os fragmentos de textos com as respectivas análises: Fragmento 1 “Os alunos que foram mal na primeira avaliação terão aulas de reforço”. (Magalhães & Cereja, Gramática Reflexiva, 8ª série). Classificação dos alunos: • oração adjetiva restritiva............................................................... 60 alunos • oração adjetiva explicativa........................................................... 08 alunos • outros casos.................................................................................. 60 50 11,8% 0,0% Restritiva Restritiva 40 30 20 10 0 Explicativa Explicativa Outros Casos Outros Casos 88,2% 0 Quadro no 14: Classificações para o fragmento 1. Para o fragmento 1, observa-se significativa quantidade de alunos, sessenta, que interpretaram o sentido como sendo restritivo. A oração em referência contempla exemplo de adjetiva restritiva padrão, ou seja, o antecedente é menos definido, representado por nome genério no plural, “alunos”, e a adjetiva restritiva com mais status informacional. Tais características podem ter contribuído para que 88,2% dos alunos classificassem a oração como restritiva. 71 Fragmento 2 “Os alunos, que foram mal na primeira avaliação, terão aulas de reforço”. Classificação dos alunos: • oração adjetiva restritiva............................................................... 07 alunos • oração adjetiva explicativa........................................................... 61 alunos • outros casos.................................................................................. 70 0,0% 60 50 40 30 20 0 10,3% Restritiva Restritiva Explicativa Explicativa Outros Casos Outros Casos 89,7% 10 0 Quadro no 15: Classificações para o fragmento 2. Para o fragmento 2, observa-se significativa quantidade de alunos, sessenta e um, que interpretaram o sentido como sendo explicativo. A referida oração contempla exemplo de adjetiva explicativa padrão, ou seja, acrescenta uma informação adicional ao antecedente. Tal característica pode ter contribuído para que 89,7% dos alunos classificassem a oração como explicativa. Fragmento 3 “[...] Além de conhecimento e audácia, falta-me convicção: ainda não escrevi um texto que merecesse ponto-e-vírgula” (Veríssimo, O Globo, 15 nov. 2002, Opinião) 72 Classificação dos alunos: • oração adjetiva restritiva............................................................... 37 alunos • oração adjetiva explicativa........................................................... 14 alunos • outros casos.................................................................................. 17 alunos 40 35 30 25 Restritiva 20 Explicativa 15 Outros Casos 25,0% Restritiva 54,4% 10 20,6% 5 Explicativa Outros Casos 0 Quadro no 16: Classificações para o fragmento 3. No fragmento 3, trinta e sete alunos, 54,4%, classificaram a oração sublinhada como restritiva, quatorze alunos, 20,6%, classificaram a oração como explicativa e dezessete alunos, 25%, classificaram a oração como Outros Casos. O posicionamento da restritiva ao final do enunciado, ou seja, a configuração da oração no texto, não impediu que o sentido de restrição ficasse muito comprometido para a interpretação dos alunos, como verificado no fragmento 1c (75%). Ainda assim, no exemplo em questão houve 25% de interpretação da mesma como Outros Casos. Fragmento 4 “Estava sem assunto. O que não deve surpreender ninguém. Afinal, esta é praticamente uma constante. Estou sempre sem assunto. Mas aí tocou o telefone. Era a Adriane Galisteu. (Artur Xexéo, Jornal do Brasil, 3 set. de 1999) Classificação dos alunos: • oração adjetiva restritiva............................................................... 17 alunos • oração adjetiva explicativa........................................................... 06 alunos • outros casos.................................................................................. 45 alunos 73 50 40 24,6% Restritiva 30 Restritiva Explicativa 20 Outros Casos 65,2% 10 10,1% Explicativa Outros Casos 0 Quadro no 17 : Classificações para o fragmento 4. No fragmento 4, dezessete alunos, 24,6%, classificaram a oração sublinhada como restritiva, sete, 10,1%, como explicativa e quarenta e cinco alunos, 65,2%, classificaram a oração como Outros Casos. O fragmento 4 apresenta exemplo de oração adjetiva não prototípica, oração do tipo “desgarrada”, segundo as palavras de Decat (Decat, 2001). Tal arranjo oracional dificulta tanto a identificação, quanto a classificação da oração, fazendo com que, como confirmado acima, opte-se por classificá-la como Outros Casos. A classificação da mesma como explicativa obteve o menor índice, 10,1%. Fragmento 5 “[...] Quando a Rita, sua mulher, passou também a faturar mais algum graças ao seu talento na cozinha, até sobravam alguns trocados no fim do mês. Que davam direito a uma eventual pizzaria e até, imaginem, férias na praia, numa daquelas excursões de agência divididas em seis parcelas”. (Boris Feldman – Caderno Veículos – Estado de Minas, 11/06/2000, p.2) Classificação dos alunos: • oração adjetiva restritiva............................................................... 14 alunos • oração adjetiva explicativa........................................................... 17 alunos • outros casos.................................................................................. 37 alunos 74 40 35 20,6% 30 25 Restritiva 20 Explicativa 15 Outros Casos Restritiva Explicativa 54,4% 25,0% Outros Casos 10 5 0 Quadro no 18: Classificações para o fragmento 5. No fragmento 5, quatorze alunos, 20,6%, classificaram a oração sublinhada como restritiva, dezessete, 25%, como explicativa e trinta e sete alunos, 54,4%, classificaram a oração como Outros Casos. Repete-se, no fragmento 5, o ocorrido no fragmento 4. O índice de classificação como Outros Casos, 54,4%, superou significativamente o índice de classificação verificado para a opção como explicativa, 25%. Fragmento 6 “De posse do formulário, devidamente preenchido [...], dirija-se ao Departamento da Polícia Federal portando todos os documentos exigidos. Que não são poucos: carteira de identidade, ou certidão de nascimento, prova de quitação [...]”. (Jornal de Casa, BH-MG, 9 a 15/05/95) Classificação dos alunos: • oração adjetiva restritiva............................................................... 18 alunos • oração adjetiva explicativa........................................................... 11 alunos • outros casos.................................................................................. 39 alunos 75 40 35 26,5% 30 25 Restritiva 20 Explicativa 15 Outros Casos Restritiva Explicativa 57,4% 16,2% Outros Casos 10 5 0 Quadro no 19: Classificações para o fragmento 6. No fragmento 6, dezoito alunos, 26,5%, classificaram a oração sublinhada como restritiva, onze, 16,2%, como explicativa e trinta e nove alunos, 57,4%, classificaram-na como Outros Casos. O fragmento 6 confirma os resultados verificados anteriormente nos fragmentos 4 e 5. Comentários Os fragmentos 4, 5 e 6 ratificam os dados levantados na pesquisa piloto. Em outras palavras, em exemplos cujo arranjo oracional se distancia do eixo prototípico, há dificuldade maior em classificar as oraçõe de acordo com os modelos padrão, constantes na gramática normativa. No fragmento 4, quarenta e cinco alunos, 65,2% , classificaram a oração sublinhada como Outros Casos, no fragmento 5, trinta e sete alunos, 54,4%, classificaram-na como Outros Casos e no fragmento 6, 57,4%, classificaram a oração sublinhada como Outros Casos. As orações apresentadas em 4, 5 e 6 se colocam no período de forma menos integrada dentro da seqüência textual. Nos referidos fragmentos, as orações destacadas iniciam-se após pausa, caracterizando, assim, uma quebra dentro do fluxo textual. Além disso, são estruturas que possuem uma certa independência informacional em relação ao restante do texto. 76 Essa característica de independência informacional torna-se mais evidente nos fragmentos 4, 5 e 6 e pode ter contribuído como uma das possíveis razões para que os alunos optassem por classificar tais orações como Outros Casos. Lembramos que segundo o subprincípio da proximidade, o fluxo textual contínuo, evidenciado pela ausência de pausa, confirma a maior integração da seqüência assim organizada. Uma maior integração dentro de uma seqüência textual possibilita, também, uma maior integração semântica. Nos fragmentos 4, 5 e 6, sentidos e estruturas estão mais “desgarrados”, o que pode ter sido percebido pela comunidade estudantil, que, em sua maioria, optou por classificar esses arranjos como “Outros Casos”, e não como efetivas orações adjetivas explicativas. 77 6. PROPOSTA DE INTERPRETAÇÃO PARA AS ADJETIVAS NÃO PROTOTÍPICAS O presente estudo procura vincular as teorias preconizadas pelo funcionalismo lingüístico ao processo ensino/aprendizagem de língua portuguesa. Vemos, por conseguinte, a necessidade de identificarmos uma possível contribuição de nossa pesquisa, a partir dos resultados obtidos na pesquisa piloto e segunda etapa do trabalho, no que diz respeito à interpretação e classificação das orações adjetivas do português. O que pretendemos é, a partir dos postulados teóricos do funcionalismo, dos conteúdos apresentados pelas gramáticas normativas, gramáticas escolares, compêndios escolares e análise das classificações feitas pelos alunos aos exercícios propostos, discutir e refletir a respeito da categorização ou interpretação das orações adjetivas que não contemplam a forma padrão. Procuramos, assim, dentro desse conteúdo gramatical tão diversificado em suas manifestações de sentido e forma de organização estrutural, outras possíveis estratégias de interpretações para as orações adjetivas não prototípicas. Segundo os preceitos dos PCN, As práticas de linguagem são uma totalidade; não podem, na escola, ser apresentadas de maneira fragmentada. Ainda que didaticamente seja necessário realizar recortes e deslocamentos para melhor compreender o funcionamento da linguagem, é fato que a observação e análise demandam o exercício constante de articulação com os demais aspectos envolvidos no processo (PCN, 1998, p.36). Em nossa pesquisa, os alunos, ao analisarem e classificarem as orações adjetivas dos exercícios propostos (Anexos II e III), enquanto falantes do português como língua materna, mesmo sem um destaque especial nas aulas de português acerca do gradiente dos usos oracionais adjetivos, tendem a não incluir no rótulo “adjetiva” ou “restritiva” os casos marginais, os arranjos não prototípicos. O rótulo “explicativa” foi, dentre as opções disponíveis, o mais freqüente. Ao vincularmos os casos de orações adjetivas não prototípicas com o ensino, poderíamos fazer algumas reflexões: 78 - Mesmo não contempladas, em geral, pelos compêndios escolares e pelas gramáticas normativas, as orações adjetivas não prototípicas são passíveis de serem apresentadas em sala de aula como possibilidades de aprofundamento de conteúdos já tematizados. - O professor pode interpretar e discutir uma possível classificação de exemplos de orações adjetivas não prototípicas, advindos de materiais extra classe, tais como jornais, revistas, cartas de leitores e textos argumentativos em sala de aula. Abaixo reproduzimos um exemplo de texto de opinião retirado do jornal “O Globo”: Incapaz de continuar negando toda a corrupção de seu governo, Lula em seu discurso quis desviar a atenção de todos para suas supostas realizações na área econômica. Que, por sinal, só estão sendo possíveis graças à manutenção da política monetária do governo FHC, totalmente contrária aos seus discursos de campanha. E quando dizia “Fora, FMI”, se esqueceu de dizer que levariam todo o nosso dinheiro junto (grifo nosso) (Haroldo Weinert de M. Castro, Globo Online, 17/01/06). - O docente deve também envolver os alunos no processo ensino/aprendizagem, discutindo, a partir do exemplo citado acima, se o pronome relativo tal como apresentado nas orações não prototípicas não estaria funcionando mais como um operador discursivo; e, se assim for, seria mesmo o caso de se classificar tais orações como adjetivas? Verificamos que os usos adjetivos, tais como apresentados no corpus desse trabalho, superam a classificação binária restrição x explicação. Constatamos dificuldades, por parte dos alunos pesquisados, em classificar as orações adjetivas quando se apresentam na forma não prototípica. Observamos que em alguns dos fragmentos de textos propostos aos alunos, a opção por classificar as orações sublinhadas como Outros Casos superou consideravelmente a opção por classificá-las como restritiva ou explicativa (vide capítulo 5). Abaixo, reproduzimos novamente o quadro de vinculação das orações proposto por Hopper & Traugott (1993, p.170): 79 parataxe > hipotaxe > subordinação (conteúdo) - dependente + dependente + dependente (expressão) - encaixada - encaixada + encaixada Seguindo essa abordagem teórica, as orações adjetivas explicativas e restritivas estariam em pontos distintos do declive de integração oracional. Assim, as orações adjetivas explicativas, mais independentes da oração principal, pertenceriam ao nível da hipotaxe. As orações adjetivas restritivas, por sua vez, mais integradas ao sintagma nominal (SN) antecedente, portanto mais dependentes da oração principal, pertenceriam ao nível da subordinação. Lembramos que tais considerações, no entanto, referem-se às adjetivas restritivas e explicativas prototípicas. Além disso, o quadro acima configura, mesmo nos casos de adjetivas prototípicas, uma outra possibilidade de classificação das adjetivas, ou seja, hipotática explicativa para as adjetivas explicativas e subordinada restritiva para as adjetivas restritivas. Nosso estudo verificou que em exemplos como: “Os alunos que foram mal na primeira avaliação terão aulas de reforço” e “Os alunos, que foram mal na primeira avaliação, terão aulas de reforço” cujos arranjos oracionais seguem o modelo encontrado nas gramáticas normativas e nos compêndios escolares, o percentual de alunos que classificou e identificou a restritiva na primeira oração (82%), e a explicativa na segunda oração (82%) foi bastante expressivo. Esse resultado permite concluir que, em sua versão prototípica, essas estruturas são identificáveis como os exemplares ótimos da restrição e da explicação, respectivamente; que a comunidade estudantil conhece os traços básicos das duas modalidades padrão de articulação adjetiva. Entretanto, em exemplos de orações adjetivas não prototípicas a classificação apresentou resultados distintos (vide capítulo 5 ). Azeredo (1997), em suas considerações a respeito de coordenação e subordinação, ressalta que “a coordenação percorre todos os níveis, associando palavras, sintagmas, orações. A coordenação é uma forma de encadeamento, um mecanismo antes discursivo que sintático”( grifo nosso, op. cit., p. 80 49). Além disso, ele distingue a associação discursiva stricto sensu, que se dá no domínio da oração, e a associação discursiva lato sensu, que se dá além da oração. Nos exemplos de orações adjetivas não prototípicas encontrados em nossa pesquisa (capítulo 5), como em: “Estava sem assunto. O que não deve surpreender ninguém. Afinal, esta é praticamente uma constante. Estou sempre sem assunto. Mas aí tocou o telefone. Era a Adriane Galisteu”. o percentual de alunos que a classificou como Outros Casos foi de 65,2%; 36,3% a interpretou como sendo de caráter explicativo, porém fazendo uma referência ao parágrafo inteiro. Seguindo a proposta de Azeredo, poderíamos inferir que tal representação lingüística estaria funcionando como uma associação discursiva lato sensu, ou seja, além dos domínios da oração. Esse resultado permite nossa reflexão acerca do rótulo explicativa, abrangente demais para fins de classificação de um específico modo de vinculação semântico-sintática. Na verdade, trata-se de uma construção oracional portadora de grande independência de sentido e de forma, cuja associação discursiva, como apontou Azeredo, se dá além da oração. Tal tipo de construção, se comparado ao gráfico proposto por Hopper & Traugott (vide acima), estaria para além do eixo parataxe > hipotaxe > subordinação. Acrescente-se a isso que, se pensarmos em termos de pontuação, nos textos escritos, esse tipo de oração se destaca, inclusive, ao não se apresentar entre vírgulas, como usualmente ocorre com as adjetivas explicativas. A forma de pontuação escolhida pelo autor para iniciar uma frase reflete a sua intenção comunicativa que, no exemplo acima, poderia ser interpretada como um adendo ao pensamento original, uma informação extra, quase como um “pensar alto”. Característica essa que vem confirmar o traço de independência semântica mais evidenciado. Hopper & Traugott (1993) ressaltam que “as relativas apositivas podem, inclusive, carregar sua própria força ilocucionária, isto é, elas podem funcionar como atos de fala independentes do ato de fala da cláusula matriz” (op. cit., p.7). Eles acrescentam que tais orações podem funcionar como questões ou imperativos em afirmações, o que as orações canonicamente encaixadas (em nosso caso específico, as restritivas) não podem fazer. A partir das considerações acima, entendemos, portanto, que não cabe a classificação “adjetiva explicativa” para exemplos que fogem aos padrões preconizados pelas gramáticas normativas. Há que 81 se observar, antes, em tais orações, o aspecto discursivo que ela porta dentro do contexto apresentado para, posteriormente, interpretá-la e/ou classificá-la de acordo com uma perspectiva mais abrangente. Desta forma, poderíamos cogitar uma ampliação do eixo proposto por Hopper & Traugott, considerando o aspecto discursivo apresentado pelas orações adjetivas não prototípicas estudadas e observadas na presente pesquisa e propor: discurso > parataxe > hipotaxe > subordinação O referido eixo, dentro da perspectiva de se estudar as estruturas lingüísticas dentro de um continuum, daria mais flexibilidade para a classificação das orações adjetivas que fogem às características padrões preconizadas pelas gramáticas normativas e pelos compêndios escolares. 82 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nossa pesquisa procurou investigar as orações adjetivas do português, a partir da fundamentação teórica funcionalista. Observamos, por meio da análise de respostas de estudantes à classificação de orações adjetivas em pequenos fragmentos de textos e de entrevistas aos professores de língua materna da cidade de Niterói, as estratégias de organização das orações adjetivas dentro da cadeia lingüística e suas formas de estruturação. Vinculamos os subprincípios de iconicidade aos arranjos oracionais das orações adjetivas e procuramos exemplificar tais subprincípios através de fragmentos de textos retirados da mídia jornalística, em um primeiro momento, e, em uma segunda etapa, identificamos esses subprincípios nas interpretações efetuadas pelos alunos aos exemplos de orações adjetivas presentes nos exercícios propostos. Constatamos que as dificuldades apresentadas pelos alunos na classificação das orações eram maiores em períodos mais longos ou quando da presença de intercalações entre as orações. Em outras palavras, quando não se verificavam os subprincípios de proximidade e ordenação linear, respectivamente. Observamos como o processo de gramaticalização, através da integração oracional e da trajetória unidirecional, no sentido da menor para a maior vinculação das orações, é manifestado nas orações adjetivas do português. Concordamos com o gradiente proposto por Hopper & Traugott (1993), em que as adjetivas explicativas, mais independentes da oração principal, pertenceriam ao nível da hipotaxe, ou seja, seriam classificadas como hipotáticas explicativas. Quanto às restritivas, mais integradas ao sintagma nominal antecedente, pertenceriam ao nível da subordinação, ou seja, seriam classificadas como subordinadas restritivas. No entanto, verificamos alguns casos de orações adjetivas não prototípicas, cuja classificação não se enquadra no quadro de graduação proposto por Hopper & Traugott (1993). Tais orações, chamadas por alguns autores de “desgarradas”(Decat, 2001), estariam funcionando como uma “associação discursiva lato sensu (Azeredo, 1997), ou seja, além dos domínios da oração. São estruturas que apresentam um alto grau de independência semântico-sintática. A partir de tais constatações, alguns questionamentos emergem: O pronome relativo empregado nas adjetivas não prototípicas não estaria funcionando mais como um operador discursivo? Caberia, então, a classificação “adjetiva explicativa” para esse tipo de oração? Nossa proposta, a partir das observações e questionamentos acima, foi a de ampliar a trajetória unidirecional parataxe > hipotaxe > subordinação (Hopper & Traugott, 1993) para a trajetória 83 discurso > parataxe > hipotaxe > subordinação, em que as adjetivas não prototípicas do tipo “desgarradas” ocupariam a parte marginal da trajetória, ou seja, o nível do “discurso”. No que tange às adjetivas prototípicas, verificamos que as adjetivas explicativas são mais sensíveis a fatores de natureza pragmático-comunicativa. As explicativas veiculam informação subsidiária, tornam compreensível, esclarecem uma informação. Podemos constatar sua ocorrência maior, por exemplo, em textos de manifestação de opinião ou de convencimento. Por outro lado, quando há a preponderância do padrão mais regular e informativo, há tendência ao modelo restritivo. Percebe-se, no modelo restritivo, um estreitamento do vínculo de sentido e a proximidade linear entre a oração núcleo e a estrutura adjetiva, principalmente pela ausência de pausas entre as orações. A restrição e a explicação, portanto, possuem freqüência e motivação distintas. Com a pesquisa de campo e respectiva coleta de dados, procuramos analisar como as orações adjetivas são percebidas e trabalhadas pelos alunos, em instituições de ensino público e privado da cidade de Niterói e qual a opinião dos docentes desses estabelecimentos quanto à relevância de tal conteúdo gramatical. Ao analisarmos os exercícios propostos, verificamos grande número de ocorrências de classificação, por parte dos alunos, de orações adjetivas restritivas como adjetivas explicativas ou, ainda, como Outros Casos. Esse procedimento foi constatado tanto em estruturas de orações adjetivas padrão, quanto em estruturas de adjetivas não prototípicas. Observa-se que o sentido de “restrição”, principalmente, não é facilmente identificado pelos alunos. Além disso, os alunos, de acordo com nosso estudo, tendem a não incluir no rótulo “adjetiva”, principalmente, os casos marginais, não prototípicos. Tais orações, na percepção dos alunos, estariam fora do eixo hipotaxe > subordinação, apresentado no quadro de interação oracional proposto por Hopper & Traugott (1993). Quanto à relevância do conteúdo gramatical “orações adjetivas”, a maior parte dos docentes entrevistados considerou como sendo de grande importância. A partir do conhecimento teórico e das análises das classificações e interpretações efetuadas pelos alunos para as orações adjetivas, propomos que o ensino/aprendizagem dessas estruturas oracionais, tão produtivas dentro da língua portuguesa, leve em conta as motivações discursivas das orações adjetivas. Defendemos a adoção dessa abordagem, seja em sua forma prototípica, seja em sua forma não prototípica, a fim de se discutir e ilustrar a dinamicidade da língua. 84 Ao se trabalhar os aspectos pragmático-discursivos em sala de aula, importante se faz, também, que as orações adjetivas sejam vistas dentro de um continuum de prototipicidade (Taylor, 1989), observando a existência de estruturas menos representativas dos padrões classificatórios adotados, ou seja, os elementos marginais, periféricos. Para tanto, sugerimos, no capítulo 6, uma possível forma de interpretação para os casos de adjetivas não prototípicas, apresentados durante nossa coleta de dados, já que essas estruturas superam a classificação binária restrição x explicação, abordada nas gramáticas normativas e nos compêndios e gramáticas escolares. Acreditamos na importância de uma relação de parceria entre o pesquisador e o pesquisado; entre a universidade e a escola. Mais ainda, defendemos que os resultados obtidos a partir das pesquisas e coleta de dados em instituições sejam divulgados e discutidos com as pessoas e/ou instituições diretamente envolvidas. Desta forma, pode-se, cada vez mais, ampliar pontos de vistas, adquirir novas experiências e divulgar novos saberes. O conhecimento de formas lingüísticas alternativas de manifestação discursiva, como no caso da adjetiva “desgarrada” e seu aproveitamento em sala de aula são de grande importância para uma maior reflexão e envolvimento dos alunos no processo de ensino/aprendizagem. Como abordado no capítulo 2, em consonância com os PCN, almeja-se a formação de leitores e produtores textuais críticos e com poder argumentativo, dentro da perspectiva de um ensino voltado para a produção e interpretação de textos. É necessário, portanto, que se leve em conta a dimensão discursiva da língua em sala de aula, o contexto em que ocorre a interação, a tipologia textual, o registro lingüístico, seja formal ou informal, a língua falada e a língua escrita, entre outras dimensões. Por fim, acreditamos, também, que o presente trabalho não encerra a questão das orações adjetivas e suas possíveis classificações. Além disso, a ampliação do corpus com mais alunos de outras regiões do Brasil possibilitaria uma visão mais abrangente e diversificada de como as orações adjetivas são interpretadas e classificadas por alunos e professores. Em suma, acreditamos e defendemos uma prática de ensino voltada para a interação da metalinguagem, semântica e pragmática, para que se desenvolvam habilidades de reflexão, interpretação, análise e síntese. Assim, seria permitida uma comunicação mais ampla e eficaz dentro do grupo social, fazendo com que o aluno se sinta parte do processo de reflexão e questionamento acerca dos elementos lingüísticos que apresentam variações em seu uso e configuração semânticosintática. 85 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALI, M. Said. Gramática histórica da língua portuguesa. 8ª ed. São Paulo: Editora Melhoramentos Ltda e Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001. AREAS, Eduardo Kenedy; MARTELOTTA, Mário Eduardo. A visão funcionalista da linguagem no século XX. In: Lingüística funcional: teoria e prática. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, Cap.1. AZEREDO, José Carlos de. Iniciação à sintaxe do português. 4ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997. AZEVEDO, Ana Lucia; INTRATOR, Simone. X versus Y. O Globo, Rio de Janeiro, 27 mar. 2005. Revista O Globo, p. 23-29. BECHARA, Evanildo. Lições de português pela análise sintática. 16ª ed. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2003. __________________. 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IN: Caderno de Letras da UFF, no.26 – Letras Clássicas e Vernáculas. Niterói: Instituto de Letras da UFF, 2004 (p.111-129). VOTRE, Sebastião Josué; CEZARIO, Maria Maura; MARTELOTTA, Gramaticalização. Rio de Janeiro: UFRJ/Faculdade de Letras, 2004. Mário. 88 ANEXO I (Questionário dos docentes) 89 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Coordenação de Pós-Graduação em Letras Mestrado em Letras – Língua Portuguesa Orientadora: Mariangela Rios de Oliveira Mestranda: Monika Benttenmüller Amorim Professor(a): _____________________________________________ Tempo de prática docente: ___________________________________ 1- Qual o material didático adotado para o ensino de língua portuguesa ? ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ 2- Como, em geral, é feita a apresentação do conteúdo orações subordinadas adjetivas restritivas / explicativas ? ( ) livro didático ( ) gramática normativa ( ) aula expositiva ( ) Outros recursos. Quais ? __________________________________ 3- Os alunos, em geral ( ) conseguem distinguir a oração adjetiva restritiva da adjetiva explicativa com facilidade. Nesse caso, vá para a pergunta no. 4. ( ) têm dificuldades em diferenciar a oração adjetiva restritiva da adjetiva explicativa. Nesse caso, vá para a pergunta no. 5. 4- A facilidade apresentada pelos alunos na distinção das orações adjetivas restritivas/explicativas pode se dever a ( ) a definição de oração adjetiva apresentada pelo material didático é bastante clara. ( ( ( ) os exemplos apresentados pelo material didático são muito básicos. ) os alunos demonstram interesse no aprendizado. ) outras razões. Quais ?__________________________________________ 5- A dificuldade na diferenciação das orações adjetivas restritivas/explicativas pode ser atribuída a ( ) a definição de oração adjetiva apresentada pelo material didático é imprecisa. ( ) há exemplos em que a distinção das adjetivas não está bastante clara. ( ) os alunos demonstram pouco interesse no aprendizado. ( ) outras razões. Quais ? _____________________________________________ 6- Você considera a distinção entre explicação e restrição relevante ? ( ) sim ( ) não 7- Em sua prática docente você já teve problemas na distinção da adjetiva restritiva e explicativa ? ( ) sim ( ) não ( ) algumas vezes ( ) com freqüência 90 ANEXO II (Primeiro exercício dos alunos – Pesquisa piloto) 91 Universidade Federal Fluminense Mestrado em Letras – Língua Portuguesa Professora: Mariangela Rios de Oliveira Aluna: Monika Benttenmuller Amorim ORAÇÕES ADJETIVAS RESTRITIVAS/EXPLICATIVAS • Leia os textos abaixo e sublinhe as orações subordinadas adjetivas restritivas e explicativas, nomeando-as (Adj.R. ou Adj.E.): 1. “Sinto um misto de revolta e inveja quando ouço alguém dizer que está sem nada para ler. Com a cabeceira entulhada de livros que só terminarei de ler com 217 anos, se a luz for suficientemente forte, e já convencido de que nunca cumprirei meu modesto projeto de vida, que é saber tudo sobre tudo, sinto-me ofendido com a queixa insensata”. [...] (Veríssimo, O Globo, 14 nov. 2002, Opinião). 2. “[...] Além de conhecimento e audácia, falta-me convicção: ainda não escrevi um texto que merecesse ponto-e-vírgula. Um dia o escreverei e então tirarei o ponto-e-vírgula do estojo com o maior cuidado e com a devida solenidade o colocarei, assim; provavelmente no lugar errado, mas quem se importa ?” (Veríssimo, O Globo, 15 nov.2002, Opinião). 3. “[...] São as boas surpresas dessa cidade que às vezes é a mais violenta e às vezes a mais cordial do mundo; que é capaz de matar por bala perdida, mas também de reunir 2 milhões de pessoas no réveillon de Copacabana sem conflito [...]”. (Zuenir Ventura, O Globo, Opinião). 4. “Não sei se cheguei a ver todos os filmes da série “Star Wars”. Gostei do último mas não posso dizer se foi pela mesma razão que tenho ouvido muito: que ele só é bom em comparação com os últimos, que eram péssimos.” (Veríssimo, O Globo, 12 jun. 2005, Opinião). Nome: Série: 92 ANEXO II (Segundo exercício dos alunos – Pesquisa piloto) 93 Universidade Federal Fluminense Mestrado em Letras – Língua Portuguesa Professora: Mariangela Rios de Oliveira Aluna: Monika Benttenmuller Amorim ORAÇÕES ADJETIVAS RESTRITIVAS/EXPLICATIVAS • Leia os textos abaixo e classifique as orações adjetivas sublinhadas em restritivas (R) ou explicativas (E). Caso haja exemplos em que, na sua opinião, não se encaixariam em nenhuma dessas classificações, nomeie-a(s) como outros casos (OC): 1- Estava sem assunto. O que não deve surpreender ninguém. Afinal, esta é praticamente uma constante. Estou sempre sem assunto. Mas aí tocou o telefone. Era a Adriane Galisteu. (Artur Xexéo, Jornal do Brasil, 3 de set. de 1999) 2- “...todo o nosso material de estudo ... saindo desse quarto... você dá de frente para um outro quarto... que esse quarto dá para a rua... esse é um quarto que eu fiz como um quarto de hóspedes...” (Língua falada, ensino superior, p. 58). 3- “Os textos que mandei de Nova York foram publicados pelo Globo num caderno especial sobre os atentados, mas não foram distribuídos pela agência. Levando alguns dos meus 17 leitores a suspeitarem que eu estava num processo patológico de rejeição da realidade, o que não é o caso. Ainda” (F.Veríssimo – Fundamentalismos – Opinião – Estado de Minas – 18/09/2001 – p.7). 4- “O motorista de ônibus escolar do CEL (Centro Educacional da Lagoa)... no dia 25/08, às 6h50 da manhã, avançou o sinal do cruzamento da Rua Igarapava com Avenida Visconde de Albuquerque, colocando em risco a vida das crianças que estavam no ônibus, de pedestres que atravessavam o sinal e dos veículos que aproveitavam o sinal verde” (Carta Ônibus escolar). 94 ANEXO III (Exercícios da segunda etapa – Não utilização de metalinguagem) 95 Universidade Federal Fluminense Mestrado em Letras – Língua Portuguesa Orientadora: Mariangela Rios de Oliveira Mestranda: Monika Benttenmüller Amorim I) Leia as frases abaixo. Há diferença de sentido entre elas? Em caso positivo, qual? a) Os alunos que foram mal na primeira avaliação terão aulas de reforço. Os alunos, que foram mal na primeira avaliação, terão aulas de reforço. R: _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ b) Acabei de descobrir que eu queimei junto com os jornais velhos umas revistas de historinhas. Acabei de descobrir que eu queimei junto com os jornais velhos umas revistas de historinhas que o Felipe me emprestou. (Quino. Mafalda. São Paulo:Martins Fontes, 1995, v.9, p.945) R: _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ II) Marque a opção que melhor representa a sua interpretação sobre os textos abaixo: a) Estava sem assunto. O que não deve surpreender ninguém. Afinal, esta é praticamente uma constante. Estou sempre sem assunto. Mas aí tocou o telefone. Era a Adriane Galisteu. (Artur Xexéo, Jornal do Brasil, 3 de set. de 1999) A oração sublinhada no exemplo acima: ( ) é um comentário que possui caráter explicativo. ( ) é um comentário que faz referência ao parágrafo inteiro. ( ) é um comentário de caráter explicativo que faz referência ao parágrafo inteiro. b) De posse do formulário, devidamente preenchido [...], dirija-se ao Departamento da Polícia Federal portando todos os documentos exigidos. Que não são poucos: carteira de identidade ou certidão de nascimento, prova de quitação [...] – (Jornal de Casa, BH-MG, 9 a 15/05/95) ( ) é um comentário de caráter explicativo. ( ) é um comentário que faz referência ao parágrafo inteiro. ( ) é um comentário de caráter explicativo que faz referência ao parágrafo inteiro. 96 ANEXO III (Exercícios da segunda etapa com utilização de metalinguagem) 97 Universidade Federal Fluminense Mestrado em Letras – Língua Portuguesa Orientadora: Mariangela Rios de Oliveira Mestranda: Monika Benttenmüller Amorim I) Leia os textos abaixo e classifique as orações adjetivas sublinhadas em restritivas (R) ou explicativas (E). Caso haja exemplos em que, na sua opinião, não se encaixariam em nenhuma dessas classificações, nomeie-a(s) como outros casos (OC): 1- Os alunos que foram mal na primeira avaliação terão aulas de reforço. 2- Os alunos, que foram mal na primeira avaliação, terão aulas de reforço. 3- “[...] Além de conhecimento e audácia, falta-me convicção: ainda não escrevi um texto que merecesse ponto-e-vírgula.” (Veríssimo, O Globo, 15 nov. 2002, Opinião) 4- “Estava sem assunto. O que não deve surpreender ninguém. Afinal, esta é praticamente uma constante. Estou sempre sem assunto. Mas aí tocou o telefone. Era a Adriane Galisteu”. (Artur Xexéo, Jornal do Brasil, 3 set. de 1999) 5- “[...] Quando a Rita, sua mulher, passou também a faturar mais algum graças ao seu talento na cozinha, até sobravam alguns trocados no fim do mês. Que davam direito a uma eventual pizzaria e até, imaginem, férias na praia, numa daquelas excursões de agência divididas em seis parcelas”. (Boris Feldman – Caderno Veículos – Estado de Minas, 11/06/2000, p.2) 6- De posse do formulário, devidamente preenchido [...], dirija-se ao Departamento da Polícia Federal portando todos os documentos exigidos. Que não são poucos: carteira de identidade ou certidão de nascimento, prova de quitação [...]. (Jornal de Casa, BH-MG, 9 a 15/05/95)