Efeito da adubação fosfatada sobre a produção de melão

MENDOZA CORTEZ JW; CECÍLIO FILHO AB; GRANGEIRO LC; OLIVEIRA FHT. 2011.
Efeito da adubação fosfatada sobre a produção de melão. Horticultura Brasileira 29: S3876-S3882
Efeito da adubação fosfatada sobre a produção de melão
Juan Waldir Mendoza Cortez1; Arthur Bernardes Cecílio Filho1; Leilson Costa Grangeiro2;
Fábio Henrique Tavares de Oliveira2
1
Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Depto. de Produção Vegetal, Via de
acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n, 14884-900, Jaboticabal - SP, [email protected], [email protected];
2
Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Depto. de Ciências Vegetais, Depto. de Ciências Ambientais, Rodovia
BR 110, Km 47, s/n, Presidente Costa e Silva, 59625-900, Mossoró - RN, [email protected], [email protected]
RESUMO
No Agropólo Mossoró-Assu (RN), importante
ABSTRACT
zona produtora de melão da região Nordeste,
Effect of phosphate fertilization on the
necessita-se definir doses adequadas de
melon production
fósforo a fim de obter maiores produções com
In Agropólo Mossoró-Assu (RN) important
maior
melon-producing area in northeastern Brazil,
eficiência.
Foi
realizado
um
experimento na fazenda experimental “Rafael
need
Fernandes” da UFERSA, Mossoró (RN), com
phosphorus in order to obtain higher yields
o objetivo de avaliar a resposta do melão, cv.
with greater efficiency. An experiment was
Olimpic express, às doses de fósforo (0, 50,
conducted at the experimental farm "Rafael
100, 200, 300 e 400 kg ha-1 de P2O5). O
Fernandes" the UFERSA, Mossoró (RN) with
delineamento experimental utilizado foi o de
the aim of evaluating the response of melon
blocos casualizados, com seis tratamentos e
cv. Olimpic express, the levels of phosphorus
cinco repetições.
(0, 50, 100, 200, 300 and 400 kg ha-1 of
A parcela foi constituída
to
define
experimental
doses
design
of
por quatro linhas de 20 plantas cada uma,
P2O5).
sendo consideradas as linhas centrais para
randomized blocks with six treatments and
avaliação da produção. Verificaram-se efeitos
five replications. The plot consisted of four
significativos das doses de fósforo e ajustes
rows of 20 plants each, are considered the
quadráticos para a produção e número de
central lines to evaluate production. There
frutos comerciais por área. Maior número de
were significant effects of phosphorus and
frutos comerciais (18.136,9 frutos ha-1) e
quadratic fits for the production and number
maior produção comercial (29,1 t ha-1) foram
of marketable fruit per area. Increased number
obtidos com as doses de 320 e 311 kg ha-1 de
of commercial fruits (fruits 18136.9 ha-1) and
P2O5, respectivamente.
increased commercial production (29.1 t ha-1)
PALAVRAS-CHAVE: Cucumis melo,
were obtained with doses of 320 and 311 kg
fósforo, produtividade, número de frutos.
ha-1 of P2O5, respectively.
Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011
The
appropriate
was
S3876
MENDOZA CORTEZ JW; CECÍLIO FILHO AB; GRANGEIRO LC; OLIVEIRA FHT. 2011.
Efeito da adubação fosfatada sobre a produção de melão. Horticultura Brasileira 29: S3876-S3882
Keywords: Cucumis melo, phosphorus,
productivity, number of fruits.
INTRODUÇÃO
O melão é uma hortaliça de fruto muito apreciada e de grande popularidade no mundo. No ano
2009, a produção de melão foi de 27.726.563 toneladas, produzidas em 1.288.804 hectares, sendo
os maiores produtores a China, Turquia, Estado Unidos de América e Espanha (FAO, 2011). Nesse
mesmo ano, o Brasil produziu 383.193 toneladas, em 10.369 hectares. A região Nordeste foi
responsável pelo 93% da produção brasileira, com destaque para os estados de Rio Grande do Norte
(52.5%), Ceará (32,4%) e Bahia (8,4%) (IBGE, 2011).
O Agropólo Mossoró-Assu, localizado em uma parte da região semi-árida do Estado do Rio Grande
do Norte, caracteriza-se pela pouca ocorrência de chuvas, que favorecem a baixa incidência de
doenças em melão, melhorando assim a produção e qualidade de frutos. Esta região é a maior
produtora e exportadora de melões do Brasil. Em 2010, somente está região exportou 33.324
toneladas de melão fresco, com um faturamento de US$ 22.986.471, sendo os principais destinos
Estados Unidos de América, Países Baixos, Reino Unido e Espanha (SECEX, 2011).
Os solos do Brasil apresentam normalmente baixo teor de fósforo, constituindo-se como um dos
elementos que mais limitam a produção das diferentes culturas. Nesse contexto, é importante o
fornecimento de fósforo no solo, seja pela via mineral ou orgânica (Prado, 2008). As plantas
absorvem o fósforo no estado solúvel, mas quando é aplicado algum fertilizante fosfatado, mais de
90% dele passa a formas insolúveis, não disponíveis para as plantas. Assim, grande parte de
fertilizantes fosfatados aplicados no solo não são utilizadas pelas plantas, sendo armazenados no
solo (CIFACITA, 2004).
O fósforo é muito importante para o crescimento das plantas, pois está relacionada à síntese das
proteínas, por constituir nucleoproteínas necessárias à divisão celular e atuar no processo de
absorção iônica (Malavolta, 2006).
O fósforo tem uma alta concentração no meloeiro, e distribui-se preferentemente nos órgãos
relacionados com a reprodução (é imprescindível nas primeiras fases de elongação do tubo
polínico) e no sistema radicular, favorecendo desta maneira a absorção de água e nutrientes, e
aumentando a produtividade, peso médio e número dos frutos. Quando o fósforo é deficiente pode
reduzir o crescimento da parte aérea de 40 a 45%, que se manifesta na redução do número de folhas
e da superfície foliar, e em 30% da raiz. Assim mesmo, quando se tem deficiência de fósforo e
concentrações elevadas de nitrogênio durante a floração e fecundação, ocorre redução de até 70%
no potencial de floração e diminuição considerável do número de frutos fecundados (Moran, 2002;
CIFACITA, 2004).
Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011
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Na cultura do melão, são utilizadas diversas fontes de fósforo, tanto orgânicos como minerais. As
aplicações dos fertilizantes minerais e/ou orgânicos são feitas de diversos modos, tanto de modo
convencional (em fundação, antes do transplante) como em fertirrigação. Segundo Brito et al.
(1999), não se encontraram diferenças entre a aplicação de fósforo no modo convencional, nem em
fertirrigação sobre a produtividade e na massa dos frutos. Estes mesmos autores obtiveram as
maiores produtividades comerciais (27,4 e 25,9 t ha-1 com monoamônio fosfato e superfosfato
simples, respectivamente) quando os fertilizantes fosfatados foram aplicados de modo
convencional.
Na literatura brasileira existem poucas recomendações para aplicação de fósforo na cultura de
melão em relação à fertilidade do solo, que variam de 116 até 278 de kg ha-1 de P2O5 (Faria et al.,
1994; Brito et al., 1999; Abrêu, 2010).
Diante do exposto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar diferentes doses de fósforo aplicado
de modo convencional, sobre a produção de melão.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado no período de 30 de setembro a 10 de dezembro de 2010, na fazenda
experimental “Rafael Fernandes” da UFERSA, situada no distrito de Alagoinha em Mossoró (RN),
localizada a 5°03’37”S, 37°23’50”W, com altitude de 72 metros. O clima da região é do tipo
BSwh’, segundo classificação de Köppen, caracterizado por altas temperaturas e semi-aridez.
Durante o período experimental, não choveu, as temperaturas máxima, mínima e média foram 32,8;
20,8 e 26,3 °C, respectivamente, e as umidades relativas máxima, mínima e media de 81,5; 35,5 e
62,8 %, respectivamente.
O delineamento experimental utilizado foi blocos casualizados, com seis tratamentos e cinco
repetições. As doses de fósforo foram 0, 50, 100, 200, 300 e 400 kg ha-1 de P2O5 na forma de
superfosfato triplo, aplicadas no sulco antes do transplante das mudas. O tamanho da unidade
experimental foi de 8 x 6 m, e esteve constituída por quatro linhas de 20 plantas. A área útil para
coleta de dados foram as duas linhas centrais, excetuando-se as duas plantas do início e final de
cada linha. O espaçamento utilizado foi de 2 m entre linhas e 0,3 m entre plantas. Utilizou-se a
cultivar de melão cantaloupe ‘Olimpic express’.
O experimento foi feito em um solo classificado como Latossolo Vermenho-Amarelo eutrofico
argissólico (EMBRAPA, 2006), apresentando na profundidade de 0 a 20 cm: pH = 6,2; M.O. = 1,9 g
dm-3; 6,7; 80,7 e 16,7 mg dm-3 de P(Mehlich), K e Na, respectivamente; 21; 8,0; 0,0; 5,0; 31,8; 31,8
mmolc dm-3 de Ca, Mg, Al, H+Al, SB e CTC (efetiva), respectivamente; V = 87% e PST (sódio
trocável) = 2%, respectivamente.
O período de formação de mudas foi de aproximadamente 10 dias, sendo transplantadas no dia 0810-2010. O preparo do solo foi feito com aração, gradagem e posterior sulcado. Foram aplicados
Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011
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todos os tratamentos no sulco, que posteriormente foram cobertos. Foi utilizado o sistema de
irrigação por gotejamento, constituído por uma bomba (3,5 cv), filtros de disco, válvulas
reguladoras de pressão, um venturi e uma linha central (40 mm) que liga a bomba às mangueiras
(16 mm) com os gotejadores (1,5 L h-1), os quais estiveram espaçados em 0,3 m. A água utilizada
para irrigação é proveniente de um poço artesiano, com condutividade elétrica em torno de 0,57 dS
m-1 e pH de 8,8. Foi usado “mulching” de cor prata, para o controle de plantas invasoras e
manutenção da umidade do solo, em cada linha de plantio. Na linha de cultivo, sobre as plantas, aos
5 dias após o transplante (DAT), foram colocados tecidos de polipropileno de cor branca, de 15 g
m-2, para o controle de pragas, principalmente a mosca minadora de folhas.
A aplicação dos demais nutrientes (N, K, Ca, Mg, S e micronutrientes) foi feita via água de
irrigação, iniciada 2 DAT das mudas. O tempo e época de aplicação da fertirrigação variaram
segundo o desenvolvimento das plantas em campo. Foi feita o controle preventivo de pragas e
doenças com produtos registrados para a cultura.
Foram realizadas duas colheitas, aos 58 e 63 DAT. Os valores obtidos em cada colheita foram
somados para obtenção da produtividade comercial e do número de frutos comerciais por área. Os
dados foram submetidos às análises de variância e regressão polinomial.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A produção comercial de frutos de melão foi influenciada significativamente pelas doses de fósforo
e verificou-se ajuste dos dados ao modelo quadrático (Figura 1). A produção máxima foi 29,1 t ha1
, obtida com 311 kg ha-1 de P2O5. Acima dessa dose houve redução na produção comercial,
atingindo 27,6 t ha-1 com a dose máxima. Brito et al. (1999) obtiveram produções comerciais de
27,4 t ha-1, com fertilizante MAP, e 25,9 t ha-1, com superfosfato simples, quando os fertilizantes
foram aplicados em fundação, estando estes valores próximos ao obtido neste experimento. Faria et
al. (1994) também obtiveram produtividade (29,1 t ha-1) próxima ao deste trabalho, com 116 kg de
P2O5. Igualmente, na Espanha, importante região produtora de melão, encontraram-se produções
comerciais de 31,5; 28,9; 28,2; 28,0 e 26,4 t ha-1 utilizando diferentes fontes de fósforo mineral
CIFACITA (2004), sendo próximos ao verificado neste experimento. Diferente do observado no
trabalho, Abrêu (2010) obteve maior produção comercial (42,7 t ha-1) com menor dose de fósforo
(273,5 kg ha-1 de P2O5). Por outro lado, Silva et al. (2007) não encontraram efeito da aplicação de
fósforo sobre a produção de frutos de melão.
O aumento da produção de frutos comerciais entre o tratamento 1 (0 kg ha-1 de P2O5) e a produção
máxima obtida foi de 40,3 %. Por outro lado, Abrêu (2010) obteve um incremento na produção
comercial de 71,4 %, maior ao observado neste estúdio.
O número de frutos comerciais por área foi afetado significativamente pelas doses de fósforo, e as
médias ajustaram-se ao modelo quadrático (Figura 2). O maior número de frutos comerciais
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(18.136,9 frutos ha-1) foi obtido com 320 kg ha-1 de P2O5, representando um aumento de
aproximadamente 50% em relação ao tratamento sem fósforo (8.872,7 frutos ha-1). Acima da dose
que maximizou o número de frutos comerciais, houve diminuição de 587,4 frutos ha-1 em relação à
maior dose utilizada. Assim como na produção comercial, Abrêu (2010) obteve um incremento de
91 % entre o número máximo de frutos comercias (66.800 frutos ha-1com 278,4 kg ha-1 de P2O5) e o
número de frutos obtido sem aplicação de fósforo (60.800 frutos ha-1), maior que neste trabalho.
O efeito das diferentes doses crescentes de fósforo até alcançar os valores máximos da produção
comercial e número de frutos comerciais de melão, pode ser explicado pela importância que tem
este elemento na nutrição da planta, fazendo parte dos ácidos nucléicos, membrana celular,
fosfolipídios, enzimas e moléculas como o ATP, os quais participam em diferentes processos
fisiológicos e químicos dentro da planta, como a fotossíntese e respiração, afetando diretamente às
características avaliadas neste trabalho.
Conclui-se que houve alta resposta da fertilização fosfatada, em plantio, sobre a produção e número
de frutos comerciais por área de melão cantaloupe cv. Olimpic express, produzido num solo com
baixo teor de fósforo (6,7 mg dm-3).
REFERÊNCIAS
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CIFACITA. 2004. Fertilización fosfatada en cultivo de melón “Piel de sapo”. Revista Horticultura
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IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2011, 02 de abril. Produção agrícola
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MALAVOLTA E. 2006. Manual de nutrição mineral de plantas. São Paulo: Ceres. 638p.
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ZAMORANO. 64p. (Trabalho de graduação).
Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011
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Response of melon plants to nitrogen and phosphorus application. Revista Caatinga 20: 64-70.
Figura 1. Produção comercial (PC) de melão cantaloupe cv. Olimpic express, em função das doses
de fósforo. [Commercial production (PC) of cantaloupe melon cv. Olimpic express, as a function of
phosphorus doses]. Mossoró, RN, 2010.
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Efeito da adubação fosfatada sobre a produção de melão. Horticultura Brasileira 29: S3876-S3882
Figura 2. Número de frutos comerciais (NFC) de melão cantaloupe cv. Olimpic express, em função
das doses de fósforo. [Number of marketable fruit (NFC) of cantaloupe melon cv. Olimpic express,
as a function of phosphorus doses]. Mossoró, RN, 2010.
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