Resumos de Histologia e Embriologia – Medicina Ano Lectivo 2006/2007 Tecido Conjuntivo Características Gerais: 3 classes principais de componentes: células, fibras e substância fundamental. O principal componente é a matriz extracelular – pode ser constituída por diferentes combinações de proteínas fibrosas e de substância fundamental, que não é mais do que um complexo viscoso e hidrofílico, de macromoléculas aniónicas (glicosaminoglicanos e proteoglicanos), e glicoproteínas multiadesivas (como a laminina e a fibronectina) que se ligam a proteínas receptoras (as integrinas) na superfície das cls. Existe uma ampla variedade de tecidos conjuntivos, resultante das variações na composição e na quantidade relativa dos seus constituintes fundamentais. Histogénese Geral: 3ª semana desenv.: gastrulação – surgem 3 folhetos embrionários: a ectoderme, mesoderme e endoderme. A mesoderme transforma-se rapidamente tecido conjuntivo embrionário/ mesênquima O mesênquima (com cls alongadas, de núcleo oval, cromatina fina e nucléolo proeminente, com muitos prolongamentos citoplasmáticos; imersas em matriz abundante e viscosa, com poucas fibras) vai originar os vários tipos de tecido conjuntivo, por migração dass cls mesenquimatosas, que envolvem e penetram nos órgãos; originam tb as cls do sangue, vasos sanguíneos e tecidos musculares. Algum TC da cabeça tem origem a partir de cls que migraram da crista neural (derivam da ectoderme). Principais Funções: Mecânica/estrutural - estabelecimento e manutenção da forma do corpo; suporte (nos órgãos, forma o estroma, que suporta as formações que constituem o parênquima); acondicionamento de tecidos e órgãos Biológica – reserva de hormonas de crescimento e diferenciação celular; meio de trocas entre células e suprimento sanguíneo; armazenamento de lípidos – isolamento térmico e reserva energética; protecção imunológica; regeneração tecidular. Células: Podem ser: - produzidas localmente e permanecer no tecido conjuntivo – cls fixas ex: fibroblastos - vir de outros territórios e habitar o tecido conjuntivo temporariamente – cls móveis ex: macrófagos, neutrófilos, eosinófilos, plasmócitos, etc Fibroblastos: - são as cls mais comuns do tecido conjuntivo - sintetizam colagénio e elastina, bem como factores de crescimento - Fibroblastos Intensa actividade de síntese Citoplasma abundante, rico em RER -1- Fibrócitos metabolicamente quiescentes menores, fusiformes Liliana Costa -2º ano Resumos de Histologia e Embriologia – Medicina Ano Lectivo 2006/2007 Muitos prolongamentos Núcleo ovóide, gde, fracamente corado Cromatina fina Nucléolo proeminente Ap. Golgi bem desenvolvido Raramente se dividem nos adultos poucos prolongamentos citoplasmáticos núcleo menor, escuro, alongado citoplasma acidófilo, com pco RER Nota: em caso de lesão tecidular, formam-se espaços que não regeneram, sendo preenchidos por cicatriz de tecido conjuntivo, sendo o fibroblasto a principal cl envolvida nessa cicatrização. Mediante determinado estímulo, os fibrócitos revertem para o estado de fibroblastos. Na reparação de feridas estão presentes miofibroblastos que são muito parecidos com os fibroblastos, mas contêm ainda quantidade aumentada de actina e miosina, que permite actividade contráctil para encerrar as lesões. Macrófagos e Sistema Fagocitário Mononuclear: - com características morfológicas variáveis - geralmente têm núcleo excêntrico oval ou em forma de rim - fagocitam corantes vitais, acumulando-os em grânulos ou vacúolos citoplasmáticos - apresentam superfície irregular com protusões e identações - Complexo de Golgi bem desenvolvido, mts lisossomas e RER proeminente - derivam de cls percursoras da medula óssea, que se dividem produzindo os monócitos (circulam no sangue). Estes podem cruzar as paredes de vénulas e capilares, penetrar no tecido conjuntivo e amadurecer formando os macrófagos. Estes podem proliferar localmente. - são cls de vida longa, maiores do que os mastócitos, e com maior capacidade de síntese. - nalgumas regiões recebem nomes especiais (cls de Kupffer, microglia, cls de Langerhans, osteoclastos). Funções: elementos de defesa, que fagocitam restos celulares, elementos anormais da matriz, cls neoplásicas, bactérias e elementos inertes que penetram no organismo; secreção; digestão parcial e apresentação de antigénios; participam no metabolismo de gordura e do ferro e na destruição de eritrócitos envelhecidos. Mastócitos: - cls globosas, grandes, com citoplasma repleto de grânulos secretores de mediadores químicos (como a histamina e os glicosaminoglicanos) que se coram intensamente. - com núcleo pequeno, esférico e central (dificilmente observável) - colaboram com reacções imunes - são fundamentais na inflamação, rx alérgicas e expulsão de parasitas - os grânulos são metacromáticos por causa da elevada concentração de radicais ácidos dos glicosaminoglicanos, isto é, mudam a cor de alguns corantes básicos, corando-se de cor diferente. - os grânulos segregam histamina (que aumenta a permeabilidade vascular no processo de inflamação), proteases neutras, ECF-A (factor quimiotáctico dos eosinófilos na anafilaxia), leucotrienos e SRS-A, que actuam localmente - 2 populações no tec. Conjuntivo: mastócitos do tecido conjuntivo e mastócitos da mucosa. Os primeiros segregam heparina; os últimos contêm, em vez da heparina, condroitim sulfatado. -2- Liliana Costa -2º ano Resumos de Histologia e Embriologia – Medicina Ano Lectivo 2006/2007 - têm origem de cls percursoras da medula óssea; circulam no sangue e depois penetram nos tecidos (atravessando os capilares), proliferam e diferenciam-se. - na sua superfície apresentam inúmeros receptores para IgE. - a libertação de mediadores químicos promove rx de hipersensibilidade imediata. Plasmócitos: - cls gds, ovóides, com citoplasma basófilo rico em RER. - núcleo esférico e excêntrico, com grumos de cromatina alternados regularmente com áreas claras. - pouco numerosos no tec. Conjuntivo normal - derivam dos linfócitos B e produzem anticorpos Cls Adiposas: - especializadas no armazenamento de energia na forma de triglicerídeos Leucócitos: - provenientes do sangue por diapedese - cls especializadas na defesa contra microorganismos agressores - importantes para o processo de inflamação, caracterizado por vermelhidão, inchaço, calor, dor e alteração da função começa com libertação local de mediadores químicos indução do aumento do fluxo sanguíneo e da permeabilidade vascular, quimiotaxia (tipos específicos de cls, como os leucócitos, são atraídos) e fagocitose. - não retornam ao sangue depois de residirem no tecido conjuntivo. Fibras: 3 tipos principais: colagénicas, reticulares e elásticas 2 sistemas de fibras: colagénico (fibras colagénicas e reticulares) e elástico (fibras elásticas, elaunínicas e oxitalânicas) A sua distribuição varia nos diferentes tipos de tecidos conjuntivos Colagénio: - família de proteínas produzidas por diferentes tipos de cls - tipo mais abundante de proteínas do organismo - vários tipos: a) os que formam longas fibrilas resultam da agregação de moléculas do tipo I (+ abundante), II, III, V e IX (nos ossos, dentina, tendões, cápsulas de órgãos, etc) b) os que estão associados a fibrilas estruturas curtas que ligam fibrilas umas às outras e a componentes da matriz: tipos IX e XII c) que forma rede tipo IV (lâminas basais – aderência e filtração) d) de “ancoragem”?/ ligação? tipo VII (nas fibrilas que prendem fibras de colagénio à lâmina basal) - constituído principalmente pelos aa glicina, prolina, hidroxiprolina, hidroxilosina - Tipos I, II e III: tropocolagénio agrega-se em microfibrilas, que se juntam para formar fibrilas (por pontes de H, interacções hidrofóbicas, lig. Covalentes – importância da lisil oxidase) - Tipos I e III: fibrilas associam-se – formam fibras - Tipo IV: não forma fibrilas nem fibras. - Síntese (Tipo I): -3- Liliana Costa -2º ano Resumos de Histologia e Embriologia – Medicina Ano Lectivo 2006/2007 1. formação do mRNA de cada tipo de cadeia alfa 2. síntese de preprocolagénio (nos polirribossomas associados à membrana do RER) 3. hidroxilação de prolinas e lisinas (acção das prolina e lisina hidroxilases) 4. glicosilação da hidroxilisina 5. quando cadeia polipeptídica é libertada, peptídeo sinal é quebrado – formação de procolagénio (em tripla hélice, com peptídeos de registo nas extremidades que garantem este seu arranjo espacial) 6.alinhamento dos peptídeos 7. transporte do procolagénio para o complexo de Golgi e empacotamento em vesículas 8. transporte das vesículas com procolagénio para a superfície celular e exocitose 9. procolagénio peptidase quebra peptídeos de registo formação do tropocolagénio insolúvel 10. tropocolagénio polimeriza formando fibrilas, em tripla hélice, e com aa de glicina a cada 3ª posição da sequência 11. estrutura fibrilar reforçada pelas pontes covalentes entre as molécs, pela acção da lisil oxidase. Como são muitos os passos envolvidos neste processo de síntese, é grande a probabilidade de erros durante o mesmo. A renovação do colagénio é, geralmente, muito lenta, exigindo primeiramente a sua degradação, que é iniciada pelas colagenases e depois concluída por proteases inespecíficas. Fibras de Colagénio tipo I: - são as mais numerosas do tecido conjuntivo - têm cor branca - são birrefringentes – constituídas por molécs alongadas arranjadas paralelamente umas às outras - Sirius Red é um corante usado como método específico para a detecção do colagénio. - Podem organizar-se em feixes - Para estudo, utilizam-se geralmente fibras do mesentério (porção central de tecido conjuntivo revestido em ambos os lados por epitélio pavimentoso – mesotélio). - ao microscópio de luz são acidófilas, corando rosa pela eosina, azul pelo tricromico de Mallory, verde pelo tricromico de Masson e vermelho pelo Sirius Red. Fibras Reticulares: - predomina colagénio tipo III - extremamente finas - nalguns órgãos, formam rede extensa - não são visíveis em preparações coradas com hematoxilina-eosina (HE) - facilmente coradas de preto por impregnação com sais de prata – são argirófilas - PAS-positivas - têm alto teor de cadeias de açúcar associadas - ao ME: estriação transversal; finas fibrilas, frágeis, unidas por pontes de proteoglicanos e glicoproteínas - coram de verde pelo Sirius Red -4- Liliana Costa -2º ano Resumos de Histologia e Embriologia – Medicina Ano Lectivo 2006/2007 - abundantes no musculo liso, endoneuro, órgãos parenquimatosos (rede ao redor das cls), órgãos sujeitos a mudanças fisiológicas de forma ou volume (rede flexível) e nas trabéculas de órgãos hematopoiéticos . Sistema Elástico: - 3 tipos de fibras: oxitalânica, elaunínica e elástica - 3 estágios de desenvolvimento: 1. Fibras Oxitalânicas – feixes de microfibrilas com glicoproteínas e fibrilina; encontram-se na zónula do olho e certos locais da derme; são altamente resistentes a forças de tracção 2. Fibras elaunínicas – resultam da deposição irregular de elastina entre as microfibrilas; encontram-se à volta das gls sudoríparas e na derme 3. Fibras elásticas – elastina ocupa todo o centro do feixe de microfibrilas; distendem-se facilmente quando traccionadas - produzidas principalmente pelos fibroblastos e pelo músculo liso dos vasos sanguíneos - a proelastina é um percursor da elastina - a elastina resiste à fervura, à extracção com alcalis e com ácido e à digestão por muitas proteases; é hidrolizada facilmente pela elastase pancreática; é rica em glicina, prolina, desmosina e isodesmosina (estes dois últimos responsáveis pela sua consistência elástica), que estabelecem ligações cruzadas. - pode ocorrer na forma não fibrilar – membranas fenestradas Substância Fundamental: Mistura complexa, incolor e transparente altamente hidratada de molécs aniónicas, como glicosaminoglicanos e proteoglicanos, e glicoproteínas multiadesivas, que preenche os espaços entre as cls e as fibras do tecido Actua como lubrificante e barreira a microorganismos Fixação precipitação dos componentes Glicosaminoglicanos: polímeros lineares de unidades repetitivas de dissacarídeos (geralmente ác. Urónico + hexosamina); exceptuando-se o ác.hialurónico, estas cadeias ligam-se covalentemente a eixo proteico, formando um proteoglicano. Proteoglicanos são intensamente hidrofílicos e actuam como polianiões (pk têm mts grupos hidroxilo, carboxilo e sulfato), podendo ligar-se a gde nº de catiões por ligações iónicas; são bastante hidratadas, por camada espessa de água de solvatação - apresentam gde diversidade, podendo localizar-se em grânulos citoplasmáticos, à superfície celular, nas membranas basais ou na matriz intersticial - Função: estrutural, fixação de cls à matriz, ligação a factores de crescimento, barreira a penetração de microorganismos invasores. - Síntese: 1- síntese do eixo proteico no RER 2- glicosilação inicia no RER e termina no C. Golgi 3- sulfatação Glicoproteínas Multiadesivas: proteínas (predominantes) + cadeias de glícidos ramificadas - Função: permitem interacção entre cls vizinhas, contribuem para adesão celular - Exemplos: a) Fibronectina – tem locais de ligação p/ cls, colagénio e glicosaminoglicanos -5- Liliana Costa -2º ano Resumos de Histologia e Embriologia – Medicina Ano Lectivo 2006/2007 b) laminina – participa na adesão de cls epiteliais à lâmina basal (as 2 são !!s p/ desenvolvimento embrionário e promovem a metastização de cls cancerígenas) As cls interagem com componentes da matriz por intermédio de integrinas – proteínas transmembranares que ligam ao colagénio, à fibronectina e à laminina ligação de baixa afinidade, dependente de Ca2+ e Mg2+; tb interagem com citoesqueleto (nomeadamente com a actina), contribuindo para a orientação das cls e dos elementos das matrizes. Todas estas interacções são mediadas por proteínas intercelulares (paxilina, vinculina e talina). Nota: a polaridade das cls epiteliais, a estabilidade do pólo basal, a organização do citosqueleto e algms funções metabólicas dependem da interacção das cls epiteliais com os componentes da matriz do tec. Conjuntivo subjacente. Fluído Tissular: Pequena quantidade de fluido existente nos tecidos, que contém uma pequena % de proteínas plasmáticas de baixo peso molecular, capazes de atravessar a parede dos capilares sanguíneos. O sangue traz até ao tecido os nutrientes p/ as cls e leva os produtos de excreção do seu metabolismo. Como? - por acção de forças de pressão hidrostática (do sangue) e de pressão osmótica (do plasma sanguíneo). - o bombeamento do sangue pelo coração gera pressão hidrostática, que leva à passagem de água através das paredes dos capilares (porção arterial), arrastando iões e pequenas molécs dissolvidos; as proteínas que ficam no plasma vão ser responsáveis pela pressão osmótica, que vai levar a que a água regresse aos capilares (na porção venosa). - da porção arterial para a porção venosa há, portanto, uma diminuição progressiva da pressão hidrostática, acompanhada pelo aumento da pressão osmótica. - a quantidade de água que sai dos capilares é maior do que a que regressa ao sangue. A água que fica retida no tec. Conjuntivo retorna ao sangue por via linfática. Em situações patológicas, a quantidade de fluido no tecido pode aumentar forma-se um edema. Causas de edema: a) obstrução de ramos venosos ou linfáticos b) diminuição do fluxo sanguíneo c) desnutrição crónica (deficit proteico) d) aumento da permeabilidade vascular do endotélio de vénulas pós-capilares TIPOS DE TECIDOS CONJUNTIVOS: a) TC Propriamente Dito: Laxo: - suporta estruturas sujeitas a pressão e atritos peqs. - pequeno número de cls (principais são os fibroblastos e os macrófagos) e pcas fibras de orientação irregular -6- Liliana Costa -2º ano Resumos de Histologia e Embriologia – Medicina Ano Lectivo 2006/2007 - subst. Fundamental abundante - bem vascularizado - encontra-se em: espaços entre grupos de cls musculares, a suportar cls epiteliais, ao redor dos vasos sanguíneos, nas papilas da derme, na hipoderme, nas serosas e nas gls. i. TC Reticular: - com rede delicada de fibras reticulares (colagénio tipo III) - cls estreladas, com finos prolongamentos citoplasmáticos - estrutura “esponjosa” - com cls do sistema fagocitário mononuclear dispersas - encontra-se no estroma da medula óssea, do baço, do timo e dos gânglios linfáticos. ii. TC Mucoso: - frequente no embrião (principal componente do cordão umbilical – forma geleia de Wharton) e na polpa jovem dos dentes - com gde quantidade de substância fundamental rica em ác. Hialurónico – consistência gelatinosa - poucas e finas fibras de colagénio - com poucas cls (principais: fibroblastos) iii. TC Elástico(? N sei de que tipo é…): - com feixes espessos e paralelos de fibras elásticas; entre elas tem fibras de colagénio e fibroblastos - cor amarela - gde elasticidade - não é muito frequente - encontra-se nos ligamentos amarelos da coluna vertebral e no ligamento suspensor do pénis Denso: - oferece resistência e protecção aos tecidos - menos cls - predominância de fibras colagénicas - menos flexível e mais resistente à tensão que TC laxo i. Irregular/ Não modelado: - feixes espessos de fibras colagénicas sem orientação definida, deixando pco espaço entre cls e subst. Fundamental - na derme, na cápsula de mts órgãos, na túnica albugínea do testículo e na dura-máter ii. Regular/ Modelado: - as fibras de colagénio estão orientadas paralelamente, fortemente justapostas, alinhadas com os fibroblastos - Ex: tendões Existem ainda outros tipos de tecido conjuntivo, que serão falados mais à frente: adiposo, cartilagíneo, ósseo, sangue e hematopoiético. -7- Liliana Costa -2º ano