Balanced scorecard e a gestão pública Por Murilo Baihe, Gestor Governamental Concebido em 1992 pelos professores da Harvard Business School, Robert Kaplan e David Norton, o Balanced Scorecard (BSC) alcançou, meritocraticamente, o status de sexta ferramenta de gestão mais utilizada no mundo, de acordo com a pesquisa da Bain & Company realizada em 2014. O BSC é um sistema de gestão estratégica que traduz a visão de futuro e a estratégia da organização em um conjunto de objetivos estratégicos, indicadores de desempenho e iniciativas estratégicas. Esses elementos são interligados por uma lógica de causa e efeito e distribuídos em um conjunto equilibrado de quatro diferentes perspectivas: financeira, clientes, processos internos e aprendizagem e crescimento. No BSC, a estratégia da organização é descrita e representada graficamente por meio de um Mapa Estratégico, uma ferramenta de gestão à vista fortemente utilizada para comunicar a estratégia e alinhar toda a organização. Segundo Kaplan e Norton (2000), o BSC foi criado como uma solução para o problema de avaliação de desempenho empresarial, porém, as empresas que começaram a implantá-lo, estavam utilizando-o para atender questões bem mais importantes como, por exemplo, comunicar, alinhar e implementar estratégias em toda a organização. Em poucos anos, evoluiu de um sistema de avaliação de desempenho aperfeiçoado para um robusto sistema de gestão estratégica. Originalmente construído para ser usado pelo setor privado, O BSC vem sendo largamente utilizado pela administração pública. Para Kaplan e Norton (1997), embora seu foco e aplicação iniciais estivessem voltados para o setor privado, a oportunidade de o BSC melhorar a administração de empresas públicas e instituições sem fins lucrativos é, no mínimo, maior. Esse avanço da ferramenta no setor público se deve principalmente a sua flexibilidade metodológica, transparência e sua forte orientação para resultados. Para que sua utilização por organizações públicas seja bem sucedida, algumas adaptações se fazem necessárias. Segundo Kaplan e Norton (1997), as quatro perspectivas originais do BSC devem ser consideradas como um modelo, não uma camisa de força. As duas perspectivas da parte superior do BSC, financeira e clientes, medem a eficácia da estratégia, são perspectivas de resultado. As duas últimas, de processos internos e aprendizado e crescimento, refletem a eficiência da estratégia, são perspectivas meio. Financeira Clientes Processos Internos Aprendizado e Crescimento Dito isto, uma primeira adaptação se faz necessária na perspectiva financeira. Para Kaplan e Norton (1997), a perspectiva financeira pode desempenhar um papel favorecedor ou inibidor, atuando como meio, não um resultado final a ser buscado por instituições públicas. Tendo em vista que o setor privado, diferentemente do público, tem como principal objetivo o aumento da rentabilidade financeira, é perfeitamente aceitável que a perspectiva financeira esteja no topo do BSC como sendo o resultado principal a ser buscado. Porém, no setor público, a rentabilidade financeira não costuma ser o resultado principal a ser buscado, o sucesso das organizações públicas deve ser medido pelo grau de eficácia e eficiência com que atendem às necessidades da sociedade, cumprindo a sua missão. Logo, a perspectiva financeira pode ser adaptada, não sendo mais alocada no topo do mapa, mas inserida na base, assim a lógica é invertida, deixando de ser um “resultado” buscado para ser apenas um “meio”, um insumo necessário para alcançar os demais objetivos. Outra maneira é simplesmente excluir a perspectiva financeira do mapa, tratando a questão como um objetivo estratégico que pode ser alocado na perspectiva de resultado, quando o desafio a ser enfrentado for a busca pelo equilíbrio fiscal. Pode ser inserido na perspectiva de processos internos, quando o desafio a ser superado for garantir a excelência na gestão dos recursos financeiros ou, por fim, pode ser alocado na perspectiva de aprendizado e crescimento, quando o desafio for garantir os recursos necessários para a execução da estratégia. Outra adaptação que também costuma ser realizada é em relação à perspectiva de clientes. No setor público, essa perspectiva normalmente recebe o nome de Sociedade e reúne os objetivos referentes aos resultados finalísticos que a organização pública pretende entregar. É importante destacar que nem toda organização pública adota a metodologia do BSC em sua completude, é comum vermos entidades públicas apenas adotando o Mapa Estratégico ou outros elementos do BSC isoladamente, moldando a ferramenta de acordo com sua necessidade ou fundido a metodologia com outras disponíveis no mercado. Analisando o avanço da utilização do BSC na administração pública de uma forma geral, verificamos que o Tribunal de Contas da União (TCU) adotou esta metodologia na construção do seu planejamento estratégico e a recomendou aos demais tribunais. Hoje, a metodologia já é adotada por todos os tribunais de contas do país. No poder executivo, a metodologia do BSC também é largamente utilizada, com destaque para os Governos Estaduais de Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul; Prefeituras de Porto Alegre/RS, Curitiba/PR; Fortaleza/CE; Osasco/SP; Ministérios como o do Planejamento, Orçamento e Gestão, Comunicações, Agricultura, Meio Ambiente; dentre outras entidades. Em Pernambuco, no escopo do processo de desdobramento vertical da estratégica de Governo iniciado em 2015, o BSC foi escolhido, juntamente com outras ferramentas de gestão, como metodologia para construção do planejamento estratégico de todas as Secretarias e Órgãos Estaduais, cumprindo assim uma das propostas do programa do atual governo, a de implementar processos permanentes de planejamento estratégico na administração estadual. Sugestões de leitura: Kaplan, Robert S. & Norton, David P., (1997), A Estratégia Em Ação, - Balanced Scorecard, Editora Campus Ltda., RJ, Brasil. Kaplan, R.S., Norton, D.P., (2000), Organização Orientada para a Estratégia, 4ª edição, Ed. Campus, RJ, Brasil.