MENSAGENS PRINCIPAIS Para a Dra. Clarice Petramale, Ilma. Diretora da CONITEC Consulta Pública SCTIE/MS nº 12/2016 Posicionamento da AME – Amigos Múltiplos pela Esclerose 1. - A AME – Amigos Múltiplos pela Esclerose1 é uma associação civil, sem fins lucrativos, dedicada a promover informação sobre Esclerose Múltipla (EM). A AME acredita que produzir e compartilhar conhecimento sobre EM favorece a melhora da qualidade de vida das pessoas com EM, tanto no que se refere à aceitação da sua condição de saúde como no que diz respeito à sua plena vivência em sociedade. 2. - A AME é uma ONG independente que pauta suas ações no conceito de medicina baseada em evidências. Sempre que a ciência avançar em direção à melhora ou à cura da EM, a AME defenderá o acesso das pessoas com EM às tecnologias disponíveis, segundo o princípio da livre prescrição médica. 3. - A AME defende o fortalecimento contínuo e sem retrocessos do Sistema Único de Saúde (SUS). 4. - Considerando sua missão institucional, a AME tem participado ativamente do debate público nacional em torno do tratamento da EM no âmbito do SUS. O tema emerge como uma pauta urgente e necessária, em razão do debate sobre a possível inclusão ao SUS de um novo medicamento para tratamento de EM. 5. - A Consulta Pública (CP) nº 12/2016 da CONITEC propõe não incorporar ao SUS um dos novos medicamentos para EM, pelas razões expostas no Relatório Técnico de Recomendação da CONITEC2 e no Relatório de Recomendação à Sociedade3. Trata-se do Fumarato de Dimetila. 6. - O atual4 Protocolo Clínico para tratamento da EM no SUS foi atualizado em 1 Ver: www.amigosmultiplos.org.br 2 Ver: http://conitec.gov.br/images/Consultas/Relatorios/2016/Relatorio_Fumarato_EM_CP12_2016.pdf Ver: http://conitec.gov.br/images/Consultas/Relatorios/2016/Sociedade/RelatorioSociedade_Fumarat oDimetila_EscleroseMultipla.pdf Ver: http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/sas/mais-sobre- 3 4 maio de 2015, pela Portaria nº 391/2015, do Ministério da Saúde5. 7. - No sistema público da Grã-Bretanha, a lista de tecnologias com protocolo de acesso a pacientes (List of Technologies with approved Patient Access Schemes), em sua mais recente publicação6, de Março de 2016, expressamente inclui o Fumarato de Dimetila para o tratamento de adultos com esclerose múltipla remitente-recorrente ativa7. 8. - Algumas das principais conclusões do órgão que avalia novas tecnologias no sistema de saúde da Grã-bretanha, o NICE8, sobre o Fumarato de Dimetila, foram as seguintes: (i) “Fumarato de Dimetila é recomendado como uma opção para o tratamento de adultos com esclerose múltipla remitente-recorrente ativa (normalmente definida como 2 surtos relevantes nos últimos 2 anos), apenas: (a) se a sua esclerose múltipla remitente recorrente não é agressivamente ativa ou de evolução severa e (b) se o fabricante prover o medicamento com o desconto pactuado no protocolo clínico.”9 (ii) “Comparado com betainterferonas e com acetado de glatiramer, o Fumarato de Dimetila é mais efetivo em reduzir a taxa de surtos e é igualmente efetivo contra a progressão da incapacidade.”10 (iii) “Qualquer atraso no surto e na progressão da incapacidade, ou auxílio em comparação ao uso de medicamentos injetáveis ou corticosteroides, teria um impacto positivo na vida das pessoas com esclerose múltipla e na vidas das suas famílias”.11 5 6 7 sas/177-mais-sobre-sas/9665-outro Ver: http://conitec.gov.br/images/Protocolos/PCDT_EscleroseMultipla_06052015.pdf Ver: https://www.nice.org.uk/about/what-we-do/patient-access-schemes-liaison-unit/list-oftechnologies-with-approved-patient-access-schemes Ver: https://www.nice.org.uk/guidance/ta320/chapter/1-Guidance 8 NICE – National Institute for Health and Care Excellence: www.nice.org.uk 9 No original: “Dimethyl fumarate is recommended as an option for treating adults with active relapsing-remitting multiple sclerosis (normally defined as 2 clinically significant relapses in the previous 2 years), only if: they do not have highly active or rapidly evolving severe relapsingremitting multiple sclerosis and the manufacturer provides dimethyl fumarate with the discount agreed in the patient access scheme.” No original: “The Committee concluded that, compared with beta interferons and glatiramer acetate, dimethyl fumarate is more effective in reducing relapse rates and as effective for disability progression”. No original: “The Committee understood that any delay in relapse and progression of disability, or relief from using injectable treatments and corticosteroids, would have a positive impact on the lives of people with multiple sclerosis and their families.” 10 11 - 2/5 - (iv) “Como recomendado pelos protocolos clínicos da Associação Britânica de Neurologistas, à maioria dos pacientes que tiveram 2 surtos nos últimos 2 anos deve ser oferecida uma terapia de enfrentamento da doença e deve ser aplicado um protocolo de compartilhamento de risco”.12 (v) Um medicamento de uso oral pode dar às pessoas com esclerose múltipla remitente-recorrente uma alternativa valiosa às atuais opções de tratamento de primeira linha. Porém, comentários de profissionais da saúde e de pacientes indicam que o uso a cada dois dias pode diminuir a aderência em comparação com opções de tratamento diário.13 (vi) Segundo especialistas clínicos, o Fumarato de Dimetila pode ser considerado como uma opção de tratamento do mesmo nível das betainterferonas e do acetato de glatiramer.14 9. - As conclusões do NICE, baseadas em profunda análise técnica, demonstram tanto a eficácia do Fumarato de Dimetila como reconhecem a importância de um arsenal terapêutico para EM. 10. - À luz da competência da I. Conitec para avaliar o custo-efetividade dos medicamentos, é importante notar que o NICE expressamente condiciona o uso do medicamento no protocolo britânico ao desconto no preço. Esse é um elemento fundamental para o equilíbrio econômico do próprio SUS. 11. - A própria experiência da Conitec contém exemplos de incorporação condicionada à redução de preços, como no caso do fingolimode. A conclusão da I. Conitec acerca do fingolimode, em 2014, foi a seguinte: “Com discussão posterior à Consulta Pública, tendo como base a ausência de dados novos que superassem a incerteza quanto ao 12 13 14 No original: “The Committee heard from the clinical specialists that, as recommended in the Association of British Neurologists' guidelines, most patients who have had 2 relapses in the previous 2 years would be offered a disease‑modifying therapy and enrolled in the risk‑sharing scheme”. No original: “The Committee recognised that a drug taken orally may give people with relapsing‑remitting multiple sclerosis a valuable alternative to current first‑line treatment options, but acknowledged comments from professional and patient groups that its twice‑daily administration schedule may lower adherence compared with once‑daily options”. No original: “The Committee heard from the clinical specialists that dimethyl fumarate would be considered as a treatment option in the same way as beta interferons or glatiramer acetate in people with relapsing‑remitting multiple sclerosis eligible for active treatment under the Association of British Neurologists' guidelines”. - 3/5 - balanço de riscos e benefícios do uso do fingolimode em primeira e segunda linha, devido, sobretudo, aos potenciais eventos cardiovasculares relacionados à primeira dose do fingolimode, os membros do plenário, na reunião realizada nos dias 7 e 8/5/2014, deliberaram, por unanimidade, por não recomendar a incorporação do fingolimode para a primeira e segunda linha do tratamento da esclerose múltipla. Assim, foi mantida a posição favorável à incorporação do fingolimode para o tratamento de pacientes com esclerose múltipla na forma remitente-recorrente que apresentem falha ao uso de betainterferona (1a ou 1b) e de glatirâmer, que não estejam aptos ao uso do natalizumabe, além de não possuírem contraindicações ao uso do fingolimode. Tal incorporação fica ainda condicionada a: • Atualização de Protocolo Clinico e Diretrizes Terapêuticas de esclerose múltipla, contendo definição clara dos critérios de uso do fingolimode; • Disponibilização em centros especializados, com infraestrutura adequada ao monitoramento dos pacientes que utilizarem o medicamento; e • Redução de preço do fingolimode para que o custo anual do tratamento por paciente seja inferior aos dos tratamentos betainterferonas, glatirâmer e natalizumabe, já disponíveis no com SUS.”15 12. - Em suma, são três as principais razões para a inclusão do Fumarato de Dimetila ao protocolo para EM no SUS: (i) O medicamento é comprovadamente eficaz, nos termos da profunda análise-técnica realizada pelo NICE, sendo aprovado para uso na GrãBretanha; (ii) É fundamental agregar opções ao arsenal terapêutico colocado à disposição do médico e do paciente; e (iii) É possível a incorporação condicionada à redução de preços pela indústria. 13. - Considerando tudo isso, a AME vem a público se posicionar pela inclusão do Fumarato de Dimetila para Esclerose Múltipla no SUS, após primeira falha terapêutica. 15 Relatório de Recomendação da CONITEC n. 113 de 2014, http://conitec.gov.br/images/Incorporados/FingolimodeEM_FINAL.pdf - 4/5 - p. 53 e 54. Fonte: 14. - Considerando que o órgão do Ministério da Saúde (MS) que decide quais medicamentos devem ser fornecidos pelo SUS é a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE); e que as decisões da SCTIE são tecnicamente subsidiadas pela I. Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC), a AME, respeitosamente, requer: (i) Que o Relatório Final da I. CONITEC reveja a posição submetida à Consulta Pública, para recomendar a incorporação do medicamento ao SUS, à luz dos argumentos expostos; e (ii) Que essa I. CONITEC recomende ao Ilmo. Secretário da SCTIE/MS que convoque Audiência Pública, antes de sua decisão final. 15. - A AME permanece à inteira disposição de V.Sra. para os esclarecimentos que forem necessários. São Paulo, 25 de maio de 2016. AME – AMIGOS MÚLTIPLOS PELA ESCLEROSE - 5/5 -