TECNOLOGIA - Instituto Biológico

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TECNOLOGIA
SUSTENTÁVEL
TRICHODERMA
CLEUSA M. M. LUCON
PESQUISADORA CIENTÍFICA - INSTITUTO BIOLÓGICO
TECNOLOGIA
SUSTENTÁVEL
TRICHODERMA
CLEUSA M. M. LUCON
PESQUISADORA CIENTÍFICA - INSTITUTO BIOLÓGICO
COORDENAÇÃO:
HARUMI HOJO
PESQUISADORA CIENTÍFICA - INSTITUTO BIOLÓGICO
TECNOLOGIA
SUSTENTÁVEL
O avanço dos “biológicos”
O uso de componentes biológicos na formulação de defensivos ou de fertilizantes cresce
significativamente. Responde a uma demanda da sociedade de restringir e ampliar o cuidado no
manuseio e utilização dos componentes químicos e também pelo avanço significativo da pesquisa
no setor.
O controle biológico cresce com taxas de 15/20% ao ano. Novas empresas, inclusive
multinacionais da indústria agroquímica, começam a olhar com mais atenção para o setor. Além
disso, companhias estrangeiras têm investido na compra de brasileiras. Mas é preciso atenção e
cuidado. É vital oferecer um produto de qualidade.
Nos últimos anos, pelo menos quatro empresas brasileiras de controle biológico trocaram de
mãos, de olho na grande escala de produção de nossa agricultura. Considerado o futuro celeiro do
mundo, o Brasil é campo fértil para a comercialização de insumos para produção agrícola e necessita
ter compromisso permanente com a inovação.
Mas como todo produto, os de controle biológico também devem ter sua produção e seu
comércio fiscalizados. Às vezes, no ímpeto de tentar introduzir uma nova tecnologia, pode-se
oferecer materiais de empresas que não tenham a indispensável idoneidade. E o controle biológico
pode cair em descrédito.
A cultura do uso do produto químico é difícil de mudar. Porém, principalmente depois do
aparecimento da lagarta Helicoverpa armigera, o produtor passou a mudar um pouco sua cabeça. Já
aceita mais as novidades, por isso é um momento propício para o controle biológico.
O preço também entra em jogo e o produtor pode imaginar que sempre o biológico tem que ser
mais barato do que o químico. Mas isso não é uma realidade. De um modo geral, hoje ainda se busca
um produto mais barato, mas é preciso ver que, além do controle, com o biológico há as vantagens
ambientais e sociais.
Ninguém fará uma agricultura sustentável porque é amante do meio ambiente. Mas é essencial
certa coerência. Alia-se a isso o fato de que hoje em dia a população está mais cônscia da
responsabilidade de conseguir produtos melhores e saudáveis. Ela cobra isso e as empresas estão
sintonizadas com essa cobrança.
No Instituto Biológico da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo,
estamos fazendo nossa parte ao fomentar essa inovação, pesquisar e gerar alternativas.
Já estamos produzindo em Arujá ácaros predadores. Exportaremos nosso know-how de
fabricação de agentes biocontroladores para a Bolívia usar em sua plantação de soja em Santa Cruz
de la Sierra, fomentamos o uso do controle biológico da cigarrinha em cana-de-açúcar.
A adoção de “biológicos” veio para ficar, mas deve ser feito com esmero, sabendo que como na
natureza, tudo tem seu ritmo adequado e tempo certo.
Deputado Arnaldo Jardim
Secretário Estadual de Agricultura e
Abastecimento de São Paulo
Trichoderma: uso do bioagente na produção agrícola brasileira Cleusa M. M. Lucon Instituto Biológico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal, Laboratório de Bioquímica Fitopatológica, Caixa Postal 12.898, CEP 04010‐970 São Paulo, SP. E‐mail: [email protected], Introdução O Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos, com cerca de 19% do mercado global. Em 2013 esse mercado movimentou aproximadamente 11,5 bilhões de dólares, um crescimento de quase 50% em relação ao montante movimentado em 2010, sendo que as lavouras de soja, milho, algodão e cana‐de‐açucar representam 80% o total das vendas do setor. Segundo a Associação Brasileira de Saúde Coletiva, o modelo atual de desenvolvimento agrícola acarreta o uso em escalada ascendente de agrotóxicos e a contaminação do ambiente, impactando severamente a saúde pública. Para diminuir o uso de agrotóxicos nos sistemas de plantio, bem como atender a demanda crescente de alimentos mais saudáveis e produtos livres de resíduos químicos, o controle biológico de fitopatógenos constitui‐se uma alternativa indispensável. Dentre os microrganismos utilizados no controle biológico de doenças, espécies do fungo Trichoderma têm sido as mais estudadas e empregadas mundialmente. No mercado brasileiro as formulações disponíveis possuem como princípio ativo Trichoderma harzianum, T. asperellum, T. stromaticum e T. viride. O grande interesse nesse grupo de fungos é por serem organismos amplamente distribuídos em todos os ambientes terrestres, capazes de colonizar solo, substratos e o sistema radicular de diversos tipos de plantas e produzirem um grande número de substâncias, incluindo enzimas degradadoras da parede celular de outros fungos, antibióticos e outros compostos que interferem no crescimento e na defesa das plantas. 5 Trichoderma como agente de controle biológico Os principais mecanismos de ação utilizados por Trichoderma no controle de fitopatógenos são antibiose (interação onde o antagonista produz uma ou mais substâncias que inibe o crescimento ou a reprodução do patógeno), competição (relação onde o antagonista disputa os mesmos recursos, alimento e espaço com o patógeno), parasitismo (o antagonista se alimenta do patógeno) e indução de resistência (o agente benéfico/antagonista ativa os mecanismos de defesa da planta que fica mais resistente à entrada de um ou mais patógenos). A aplicação de Trichoderma pode ser realizada diretamente no solo; em substratos para a produção de mudas; em sementes ou outros materiais de propagação vegetal; na parte aérea das plantas; em resíduos de culturas ou outros substratos orgânicos; em frutos ou, ainda, nas plantas utilizadas na rotação de culturas. Bioprodutos comerciais a base de Trichoderma spp. têm sido empregados em cerca de 6 milhões de hectares no Brasil, principalmente para controlar doenças causadas por fungos de solo (Fusarium, Rhizoctonia, Sclerotinia, Verticillium, Phytophthora, Pythium, Armillaria e Roselinia) nas culturas de feijão, soja, milho, morango, frutas de caroço, maracujá, hortaliças e ornamentais. Alguns produtos também são recomendados para o controle de patógenos que causam lesões e podridões em folhas, ramos, caules, frutos e/ou flores, como é o caso de Botrytis cinerea, que causa o mofo cinzento em morango e plantas ornamentais É importante lembrar que as linhagens de Trichoderma atuam de forma preventiva e não curativa, isto é, a aplicação deve ser realizada antes da ocorrência da doença. Entretanto, como algumas linhagens do fungo são capazes de colonizar o solo e substratos orgânicos, podem agir na ausência da cultura de interesse, inativando estruturas infectivas e de resistência de patógenos presentes no solo, por exemplo escleródios de Sclerotinia sclerotiorum e Rhizoctonia solani, levando a uma diminução na incidência e/ou severidade da doença, no ciclo de cultivo seguinte. Além do controle biológico, embora pouco estudado no Brasil até o momento, estes fungos atuam no aumento do crescimento e da produtividade de diversas plantas. Este efeito é uma resposta à modificação que causam na arquitetura da raiz, levando ao uso eficiente da água e da maior aquisição de nutrientes minerais. Também podem melhorar os mecanismos ativos de absorção de vários minerais como cobre, fósforo, ferro e manganês, bem como aumentar a eficiência da planta na utilização de alguns nutrientes importantes, como o nitrogênio. O sucesso do emprego desses fungos depende do seu crescimento, colonização e sobrevivência nos ambientes onde são aplicados. Portanto, o tipo de solo, teor de matéria orgânica, pH, temperatura, disponibilidade de água, micro‐organismos presentes e disponibilidade de oxigênio e nutrientes, influenciam diretamente a atuação dos agentes de biocontrole. 6 Como utilizar corretamente produtos à base de Trichoderma Para que um bioproduto comercial a base de Trichoderma funcione é importante que a linhagem utilizada na formulação seja eficiente, que o lote esteja dentro do prazo de validade e que sejam seguidas rigorosamente as recomendações de uso fornecidas pelo fabricante no rótulo e na bula do produto, inclusive quanto à compatibilidade com outros produtos (químicos e biológicos) e a forma de armazenamento. Por conter organismos vivos, as aplicações dos bioprodutos devem ser feitas à tarde, quando as condições ambientais estão mais favoráveis, tais como umidade relativa elevada, temperatura amena e menor incidência de raios ultravioleta, que são prejudiciais às linhagens de Trichoderma. A forma de aplicação dos bioprodutos pode ser realizada via pulverização, irrigação, imersão ou polvilhamento, dependendo da cultura e do patógeno alvo. Recomenda‐se o uso de EPI, mesmo sendo considerados mais seguros que os agrotóxicos, pois eles podem causar alergias e infecções em pessoas com imunidade baixa. Outro cuidado importante é sempre utilizar produtos registrados, pois eles passaram por diversos tipos de análise para comprovarem que são seguros e eficientes antes de serem aprovados pelo MAPA, Anvisa e Ibama. A compatibilidade dos bioprodutos com os diferentes agrotóxicos deve ser fornecida pelas empresas que produzem o insumo biológico. Para alguns produtos recomenda‐se que a aplicação seja realizada de 10 a 14 dias antes ou depois da aplicação de fungicidas químicos, por exemplo. Considerações finais O Instituto Biológico possui 120 linhagens selecionadas de Trichoderma que vêm sendo utilizadas há 15 anos em diversas pesquisas aplicadas, inclusive em parceria com a iniciativa privada, com o objetivo de controlar importantes fitopatógenos de solo (Rhizoctonia solani, Pythium sp., Sclerotinia sclerotiorum e Fusarium spp.) e promover o aumento no crescimento e na produtividade de diversas culturas. A Instituição também presta serviços de análise quali‐quantitativa de produtos comerciais à base deTrichoderma spp., assessoria a biofábricas e identificação molecular de linhagens de interesse comercial. As pesquisas do IB em parcerias com empresas privadas resultaram no primeiro isolado de Trichoderma que está em processo de registro como bionematicida no Brasil. 7 Literatura consultada em https://www.embrapa.br/documents/1355163/2023605/doc241.pdf/b2e6d24
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