RELACIONAMENTO DO TREINADOR COM OS JOGADORES MAIS JOVENS A NDREIA S OFIA M ONTEIRO T EIXEIRA CURSO DE TREINADORES NÍVEL I 1 Í NDICE Andreia Sofia Monteiro Teixeira ............................................................................ 1 CURSO DE TREINADORES NÍVEL I ........................................................................... 1 Introdução.................................................................................................................................................... 3 Ser treinador de jovens ............................................................................................................................... 4 os jovens dos dias de hoje ........................................................................................................................... 5 a relação entre o treinador e os jogadores jovens ..................................................................................... 6 bibliografia ................................................................................................................................................... 9 2 I NTRODUÇÃO Este trabalho, Relacionamento do treinador com os jogadores mais jovens, tem como objectivo ilustrar como é que o treinador deve interagir com os jogadores mais jovens. Por opção própria, falarei da relação entre o treinador e os jogadores até 12 anos. Todos nós sabemos que as crianças destas idades devem praticar desporto. As actividades físicas e desportivas são fundamentais para o seu desenvolvimento psicomotor. É fundamental que as actividades tenham como um dos objectivos principais educar e formar estas crianças. É com esta perspectiva que reconhecemos que o treinador tem a responsabilidade de ser como um professor da escola primária. Ele é um dos primeiros agentes educativos a interferir na vida destas crianças e como tal, todas as suas acções, comportamentos e atitudes vão influenciar o desenvolvimento das capacidades de cada uma. Mais do que os conceitos do basquete, o treinador deve conseguir transmitir valores morais, sociais e culturais. Não nos esqueçamos que andamos no tempo da playstation e dos jogos de computador. É preciso cativar as crianças à prática desportiva e mais do que criar jogadores é importante formar jovens primeiro. Mas, como podemos medir o sucesso do treinador nestas idades em que o ganhar ainda não tem grande importância? O sucesso do treinador mede-se com aquilo que ele consegue atingir na formação de cada jogador. Cada conquista é importante e deve ser motivo de orgulho. Dada a importância do papel de treinador nestas idades, achei interessante desenvolver um pouco este tema e aproveitar para reflectir um pouco aquilo que penso e a pouca experiência que tenho. E aqui deixo uma citação: “Trabalhar com crianças, orientando a sua prática desportiva, é antes do mais assumir a sua responsabilidade de contribuir para o seu desenvolvimento e não para, através delas, alcançar objectivos de promoção pessoal” 3 S ER TREINADOR DE JOVE NS Afinal, o que é isto de ser treinador de jovens? Ser treinador de jovens significa ter grandes responsabilidades na formação pessoal destes. Através da sua actuação perante eles, o treinador tem influência sobre o seu desenvolvimento desportivo e ainda no seu desenvolvimento pessoal. O treinador tem que desempenhar vários papéis: dirigir, orientar, ensinar, demonstrar, corrigir, aprovar, estimular, motivar e ainda ser sensível às realidades de cada jovem. Não basta desenvolver os jovens desportivamente. É, sim, fundamental desenvolver as capacidades e qualidades inerentes a um ser humano. O treinador deve estar sempre atento ao comportamento, ao desenvolvimento das tais capacidades e qualidades, à formação de carácter, ao estado de espírito e ao ambiente envolvente de cada jovem. Estes aspectos a meu ver, são os mais importantes que um treinador deve ter em conta quando pensa em lidar com jovens. O treinador deve ser sensível a cada um deles pois eles são todos diferentes, requerem diferentes atenções e não podemos deixar ninguém de parte. Ao trabalhar com estas idades não podemos encarar o sucesso desportivo da mesma maneira que se encara com adultos. Ao trabalharmos com estas idades o nosso sucesso depende daquilo que conseguimos atingir com cada jogador individualmente. O treinador não deve dar importância a se ganham ou perdem jogos. Deve sim valorizar seu trabalho, ao ver que conseguiu que os seus jogadores evoluíssem, e reforçar esse mesmo trabalho, tanto na técnica individual e de equipa como nos valores sociais e morais. Cabe a este conseguir que eles ganhem esses conceitos de cooperação e amizade uns pelos outros, estando sempre disponíveis para se apoiarem. Conseguir um grupo estável, harmonioso e “feliz” deve ser um dos grandes objectivos do treinador em conjunto com a introdução dos conceitos básicos do basquete. 4 OS JOVENS DOS DIAS DE HOJE Como já disse anteriormente, vivemos numa sociedade em que as novas tecnologias predominam. Internet, consolas, computadores, um mundo sem fim de entretenimento a poucos segundos de nós. Quantos do nossos jovens não preferem ficar em casa a ver televisão ou a jogar computador em vez de irem dar um passeio com os pais ou até jogar à bola com os amigos? É por vivermos nesta sociedade que é importante que, sempre que aparecem crianças novas nos nossos treinos, as acolhamos e as consigamos motivar a voltarem no próximo treino. A grande dificuldade em hoje em dia lidarmos com esta geração é a grande disponibilidade e oferta de outros meios à diversão. Por exemplo: se uma criança que vai pela primeira vez a um treino em que o treinador, na óptica da criança, lhe está a exigir demasiado, ela no final vira as costas sem hesitar pois sabe que ao menos a jogar computador ninguém a chateia. É preciso a tomada de consciência da nossa realidade. Há poucos jovens a quererem praticar desporto e se os assustamos logo no primeiro treino exigindo mundos e fundos ficamos sem nenhum! Há que perceber também que nestas idades eles têm a mentalidade: “Eu vou para onde o meu amigo estiver.”, o que nos acresce à responsabilidade de conseguirmos motivar todos de igual forma mesmo que para isso tenhamos que utilizar “tácticas” diferentes para cada jovem. A forma como se motiva um jovem com grandes capacidades técnicas e atléticas não pode ser igual à forma como se motiva alguém com dificuldades coordenativas e técnicas. Os jovens devem sentir PRAZER na sua prática desportiva. 5 A RELAÇÃO ENTRE O TREINADOR E OS JOGADORES JOVENS É necessário começar desde cedo a construir uma boa relação entre o treinador e os jogadores jovens. Logo no início da época desportiva o treinador deve realizar um documento que visa as regras e o funcionamento da equipa ao longo do ano. Os jogadores têm de perceber desde cedo que o treinador é que dita as regras e o treinador tem que se dar ao respeito desde o início. Mas para isto ser possível o treinador tem que começar por ser um exemplo. Não adianta ter a filosofia “Faz o que eu digo não faças o que eu faço”. Essa só vai conseguir com que se fique sem atletas precocemente. É importante que na transmissão de conhecimento o treinador mostre interesse pelo atleta e na sua aprendizagem e evolução. Este interesse é a chave para se criar empatia com o atleta abrindo portas à sua acção como educador e formador. É fundamental que o treinador aceite e cumpra os regulamentos, as regras de jogo e as decisões de árbitros e dirigentes. É igualmente importante que este respeite a personalidade, saúde e integridade física dos atletas com quem trabalha. O treinador deve ser honesto, sincero e leal com os seus atletas. Cabe ao treinador fazer com que os seus atletas tenham prazer a praticar a modalidade. Como? Todos os atletas devem ser tratados da mesma maneira… O treinador deve transmitir uma sensação de segurança e de apoio aos atletas. Para um bom relacionamento com os jogadores jovens há aspectos a ter em conta, tais como: - Para ajudar uma criança a aprender é preciso dizer bem o que fazer e como fazer. Devemos sempre que possível exemplificar, acompanhá-los nas suas primeiras execuções e encorajá-los nas suas iniciativas. Temos que ter consciência que são apenas crianças e portanto temos de utilizar uma linguagem básica, clara, sem floreados e nunca podemos assumir que as crianças já sabem o que estamos prestes a ensinar. - Sempre que uma criança tem sucesso na sua execução é de bom tom elogiá-la e incentivá-la a que continue “no bom caminho”. Caso a criança não tenha sucesso, devemos encorajá-la novamente a repetir, corrigi-la e acompanhá-la na sua próxima execução tentando que tenha sucesso. Não devemos punir ou ser agressivos quando uma criança erra. Muito menos ter algum tipo de conduta que contrarie qualquer valor que queiramos passar para elas. 6 - Quando as crianças não respeitam as regras devemos ser claros com aquilo que esperamos delas. Temos de enfatizar a importância de se fazer parte duma equipa e enquadrar a criança nesse mesmo conceito. Positivismo acima de tudo! Castigar fisicamente, ameaçar ou ralhar com elas não funcionará. As crianças são seres sensíveis que reagem mal a estímulos agressivos. Temos de ter a capacidade de contornar a situação sem sermos nós agressivos. Relembro que o treinador deve ser uma figura que transmite confiança e que ao mesmo tempo impõe respeito. Estes valores devem ser sempre respeitados. Já disse e volto a dizer, ser treinador de jovens não é tarefa fácil. Temos sempre o dever de enquadrar todo o tipo de crianças no nosso grupo de trabalho. E mais, temos de ter a capacidade de conseguir com que cooperem umas com as outras e que ganhem o espírito de equipa juntas. Vou dar dois exemplos específicos em que acho que se deve dar atenção especial: - Se temos uma criança com algum tipo de atraso, devemos conseguir enquadrá-la com as outras crianças como se ela fosse normal. Para a criança em causa, é fácil ela enquadrar-se, mas por vezes surgem problemas… Nestas idades, ser-se diferente pode causar alguma confusão nas outras crianças levando-as a por vezes troçarem da que é diferente. É preciso educar o grupo a respeitar as diferenças e os ritmos de cada um. O próprio treinador tem que perceber que não pode exigir o mesmo dessa criança do que exige das outras. No entanto aplicam-se os mesmos valores: apoiar a criança no seu sucesso e fracasso incentivando-a sempre à sua melhoria e não deixando que a criança se consciencialize que é diferente e por isso tratada de maneira diferente. - Há crianças que vêm de ambientes familiares completamente distorcidos… Crianças em que em casa o pai bate na mãe ou vice-versa, os pais estão separados, não vive com os pais, etc… Também nestes casos temos de ter uma atenção especial. A maioria destas crianças cria sérios complexos na sua relação com os outros. Chegam mesmo a ter vergonha de ir treinar ou jogar, de falar com os colegas e até mesmo com o treinador. Mais uma vez aqui se realça o papel do treinador como formador e educador. O treinador tem que ter a sensibilidade de estimular a criança ao convívio com os colegas e mostrar o quão divertido é fazer parte duma equipa. Muitas das vezes o bom relacionamento com o treinador dá outra vida a estas crianças porque o espaço de treino passa a ser um espaço de lazer e prazer em que elas sentem que podem ser elas próprias sem medos. Por vezes a única pessoa com quem eles contam é com o treinador. 7 CONCLUSÃO O treinador destas idades assume um papel fundamental na educação e desenvolvimento das crianças. A sua relação com as crianças e o que consegue delas, quer desportivamente quer na sua evolução pessoal, é o factor determinante para o sucesso de um treinador destas idades. Não adianta ter uma equipa muito boa tecnicamente quando cada um joga por si, quando ninguém liga a conceitos como amizade, solidariedade ou espírito desportivo. A relação do treinador com os jogadores jovens é o pilar da nossa formação. Eu acredito que essa relação consegue influenciar em muito o desenvolvimento da prática desportiva em causa e o seu sucesso. Uma boa relação com o treinador de formação ajuda no gosto pela modalidade e ajuda a que as crianças queiram continuar. 8 BIBLIOGRAFIA Teotónio Lima, Carlos Gonçalves, Olímpio Coelho, Cecília Longo, Vasconcelos Raposo, Jorge Vieira, João Paulo Almeida - Manual do Monitor Manual de Metodologias e Didáctica Nível 1 9