Freud, Ana. O Tratamento psicanalítico de crianças

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apesar de introduzir desorganização em um sistema estável. Contém ela própria os
princípios de reorganização para a adaptação, se bem que em outro nível.
Morin não pretende que sua teoria responda aos problemas do E sobre o
homem, mas acredita que ela corresponda às questões que agora se consideram
fundamentais.
ELlDA SIGELMANN
Freud, Ana. O Tratamento psicanalítico de crianças - Preleções técnicas e ensaios.
Trad. bras. Rio de Janeiro. Imago, 1971.
Constituído de três capítulos principais, o livro de Ana Freud poderia, do ponto
de vista cronológico, ser dividido em duas partes, que representam duas épocas e
duas situações bem diversas quanto à experiência da autora. As duas primeiras
representam seus primeiros conceitos, ligados à primeira fase de sua experiência
em Viena: Introdução à análise de crianças (I926) e A Teoria da análise infantil
(1927). A última - Indicações de análise para crianças - data de 1945 e representa uma experiencia sedimentada, com a conseqüente revisão de conceitos e
posições. Segundo declara a própria autora, teriam influído para essa revisão os
aspectos culturais, decorrentes de maior penetração e assimilação dos conceitos
psicanalíticos no ambiente familiar e educacional da criança (prefácio da edição
inglesa).
Ao exame dos dois primeiros capítulos, o que se observa, na realidade, é que
o empenho ansioso em tornar a criança analisável conduziu Ana Freud a utilizar
recursos que ela própria considerava "não muito honestos" (sic), já estão totalmente inaceitáveis na análise do adulto. Dentre esses, podem-se citar a franca
sedução da criança, o esforço por torná-la dependente da analista, procurando esta
"não somente ser útil, mas interessante"; e o papel de autoridade substitutiva à
dos pais que, atribuído à analista, exigia que esta ao mesmo tempo analisassê e
educasse. Nessas atitudes, como também na introdução de um periodo preparatório à análise, eminentemente sedutor, pedagógico, e isento de interpretações,
consistia a principal divergência de Ana Freud com Melani Klein. Em função das
mudanças acima mencionadas, esse período preparatório é hoje consideradc por
Ana Freud como extremamente reduzido, praticamente dispensável, o que ela
acentua, no último capítulo. Este se refere precipuamente à triagem de casos para
tratamento analítico, e nele a autora acentua as vicissitudes a que está sujeito:
"Crianças seriamente doentes são afastadas da análise pelos pais, a quem cabe a
decisão ...". ". .. Por outro lado, certo número de crianças são encamir.11adas
para análise não porque sofram, de forma excessiva, de neurose infantil, mas porque seus pais, eles próprios analisando ou analistas, estão mais aptos que outros
para dt.tectare avaliar indícios de comportamento neurótico".
Resenha bibliográfica
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A posição de Ana Freud, considerando que a indicação de tratamento analítico deva ser limitada aos casos mais graves, é, sem dúvida, realista.
Um dos critérios expostos por ela para seleção de casos para tratamento é o
de distúrbio do desenvolvimento normal. "A sugestão, portanto, é avaliar a gravidade de uma neurose infantil, não de acordo com o prejuízo que causa às atitudes
da criança, de algum modo especial, ou em determinado momento, mas sim de
acordo com o grau em que (essa neurose) impede a criança em seu desenvolvimento posterior."
Um dos pontos altos do livro é a conceituação condensada, em poucas
linhas, dos mecanismos de defesa, assunto estudado pela autora em volume especial, que constitui um dos clássicos da psicanálise.
Desde que se tenha em mente a inadequacidade dos conceitos e atitudes
expostos pela autora em 1926 e 1927, e o exclusivo valor histórico de suas
experiências naquela época, o livro poderá ser eminentemente útil, pela clareza de
exposição, pela riqueza de exemplos clínicos, e pelo esforço pioneiro que representa.
ELISA DIAS VELLOSO
Cohen, David. Psychologists ou psychology. Nova York, Taplinger, 1977. 360p.
Ocorreu uma boa idéia a David Cohen. Resolveu entrevistar grandes figuras que
lidam com o campo psíquico. Todos do mundo ocidental. Escolheu americanos,
ingleses, um francés, um austríaco e um polonês radicado fora de seu país. Ao
todo 13, entre os quais podemos citar os de ,maior notoriedade: Chomsk.y,
Eysenck, Festinger, Laing, Mc Clelland, Skinner. Assim agiu porque considera ter a
psicologia passado a ser profissão muito importante. "Foi dito que os psicólogos e
especialmente os psicoanalistas tornaram-se os padres de uma época sem Deus."
A primeira entrevista, a de Mc Clelland, é a mais longa, a mais causticante,
talvez a mais brilhante. Coment~. que os psicólogos têm necessidade de exercer o
poder e que orientam sua vida com essa preocupação. Pouco ligam para o lado
econômico. Gostam de discutir e detestam estar errados. A motivação do poder
envolve desejo de sobressair, de destacar-se, a necessidade de produzir impacto e a
de fazer sentir sua influência, e, eventualmente, controlar as pessoas. Diz que
Freud tinha "complexo de Messias", gostava de ser encarado "como o Messias
oferecendo uma nova Bíblia". O perigo dessa motivação de poder é transformar-se,
como insinua certo pensamento superpessimista de Anne Roe sobre sua própria
classe, em más relações, isto é, o psicólogo não saber estabelecer relações. Impiedoso com seus compatriotas, Mc Clelland diz que a escola do condutismo
(behaviorismo) atrai o americano por ser muito simples, destituída de qualquer
trabalho intelectual. Watson obteve a ressonância conhecida porque criou a pri206
A.B.P.A. 4/78
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