alfabetização e letramento na geografia: breve discussão - Unifal-MG

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ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA GEOGRAFIA:
BREVE DISCUSSÃO
Milla Barbosa Pereira
[email protected]
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Geografia da
Universidade Federal de São João Del Rei – Bolsista da CAPES.
Profª. Drª. Carla Juscélia Oliveira Souza
[email protected]
Doutora do Departamento de Geografia e do Programa de
Pós-Graduação em Geografia pela Universidade Federal de São João Del-Rei.
Introdução
O presente texto é fruto de um levantamento preliminar sobre os termos
alfabetização e letramento a serem retomados no contexto do ensino da Cartografia. A
pesquisa tem como objetivo contribui para articular a discussão acerca dos conceitos
de alfabetização/letramento e estabelecer sua relação com o processo de
reconhecimento do espaço geográfico.
No estudo, a ideia de alfabetização abrange um complexo processo de
elaboração de hipóteses sobre a representação linguística e, portanto, verifica-se a
necessidade dos estudos sobre letramento, que compreende a dimensão sócio
cultural da língua escrita. Assim, o estudo entende a relação da construção da
alfabetização/letramento no aluno através de uma visão de leitura do mundo em
práticas e contextos sociais.
O estudo parte do pressuposto que em Geografia, a leitura do espaço
geográfico através dos mapas não é apenas uma técnica, porém utiliza desta com o
objetivo de auxiliar a criança à ler e representar o fenômeno observado. Pois, instruir a
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criança a se apropriar da leitura de sua realidade, interpretar e compreender os
conceitos que estão implícitos, faz parte do processo de alfabetização e letramento
cartográfico.
Como objetivos da pesquisa podemos citar: Conceituar e analisar Alfabetização
e Letramento enquanto um aprendizado não só da escrita, mas também de práticas e
contextos sociais; entender Letramento e Alfabetização Cartográfica e diferenciar e
analisar o processo de alfabetização e letramento cartográfico.
Metodologia
O conteúdo apresentado neste artigo resulta de revisões bibliográficas, com destaque
para autores considerados chave para a pesquisa. A saber: i) Para identificação e
conhecimento do uso do termo alfabetização e letramento no campo da linguística
utiliza de Emilia Ferreiro (Alfabetização e cultura escrita. 2003); Maria R.L. Mortatti (Os
sentidos da alfabetização. 2000); Magda Soares (Letramento: um tema em três
gêneros.1998); Angela Kleiman (Os significados do letramento, 1995); Emilia Ferreiro
e Ana Toberoky (Psicogênese da língua escrita. 1999). ii) Para a discussão e
entendimento dos termos alfabetização e letramento cartográfico utiliza se Elza Yasuro
Passini (Alfabetização Cartográfica e o livro didático: uma análise crítica. 1998);
Simielli, Maria Elena (O mapa como meio de comunicação – Implicações no ensino de
Geográfica do 10 Grau.1986). Nessa etapa e neste texto, a pesquisa é puramente
bibliográfica, passando pelo campo da linguística para o entendimento dos termos de
alfabetização e letramento, seguida da aplicação de tais conceitos no ensino de
cartográfica através da alfabetização e letramento cartográfico.
Resultados parciais
Os resultados apresentados referem-se à parte das leituras e discussões
referentes à alfabetização e letramento, conforme apresentado nos parágrafos
seguintes.
No final do século XIX, a alfabetização era considerada como o ensino das
habilidades de “codificação” e “decodificação”, mediante os métodos sintéticos
(silábicos ou fônicos) e os métodos analíticos (global), padronizado a aprendizagem da
leitura e da escrita (MORTATTI, 2000). A palavra alfabetizar, para o dicionário Aurélio,
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significa ensinar a ler, tendo ainda alguns autores no campo da Educação e da Ciência
Linguística1, que chama o ato de alfabetização de técnica em ler e escrever.
Nesse estudo, ler e escrever está engajada em práticas sociais interligadas à
cultura e uma sociedade centrada no sistema da escrita. Desta forma, o conjunto de
técnicas e métodos não traduz o significado de alfabetização, já que está inseria em
um sistema de concepção e construção de um resultado do esforço de diversas partes
interligadas ao conhecimento ou um objeto cultural, ou seja, alfabetizar está ligada a
prática social que abrange: família, aluno, professor, comunidade e todas as relações
de produção do espaço (SOUZA, 2011).
Ferreiro (2000), faz uma análise da psicogênese da língua escrita na qual a
escrita se constitui em um objeto de conhecimento para a criança, transferindo o foco
de diagnóstico do “como se ensina” para o “como se aprende”, tendo a escrita como
objeto sociocultural, antecedendo e extrapolando os limites escolares no processo de
alfabetização.
De acordo com Teberosky (1997, p. 67),
O conhecimento da escrita começa muito antes da criança freqüentar
uma escola. Portanto, sua origem é extra-escolar. Esse conhecimento
evolui, muda com a idade dos sujeitos, e não é possível estabelecer uma
relação direta entre o ensino sistemático e essa evolução, porque entre
outras razões não se ensinava a ler e a escrever.
Para Ferreiro (2003), é necessária uma nova didática da língua, sem acúmulos de
informações, uma alfabetização que se faça através da construção do conhecimento.
Ao se propor essa nova perspectiva de alfabetização, Ferreiro e Teberosky (1999),
contribuem para a reflexão sobre a condição oposta expressada pelo analfabetismo e
que representa estado ou condição de quem está alfabetizado.
A palavra letramento, segundo o dicionário Aurélio, é a capacidade de ler e de
escrever ou de interpretar o que se escreve, evento que ocasiona consequências
sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas e linguísticas para o indivíduo.
Porém o termo letramento, possui duas posições teóricas, a dos autores Soares,
Mortatti, Kleiman e Tfouni – que consideram alfabetização e letramento desassociados

¹“É esse, pois, o sentido que tem letramento, palavra que criamos traduzindo ‘ao pé da letra’ o
inglês literacy: letra – do latim littera, e o sufixo – mento, que denota o resultado de uma ação
(como, por exemplo, em ferimento, resultado da ação de ferir). Letramento é, pois, o resultado
da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um
grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita. Nesse
sentido já existem lugares, com em Portugal, quando se analisa os índices de analfabetismo,
se diferencia o índice de alfabetização do índice de letramento, pois este último tem relação
com as práticas sociais, ou seja, o uso que se faz da leitura e da escrita no cotidiano. Soares,
Magda (2002) – Letramento: um tema em três gêneros – Belo Horizonte, Ed. Autêntica, p.18.
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e a de Ferreiro, a qual reflete sobre o termo letramento, uma vez que se entende o
processo de alfabetização sócio cultural, pode se compreender o conceito de
letramento associado ao de alfabetização ou o contrário; alfabetização compreende
letramento.
Ferreiro e Teberosky (1999, p. 24) afirmam que,
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[...] no lugar de uma criança que recebe pouco a pouco uma linguagem
inteiramente fabricada por outros, aparece uma criança que reconstrói
por si mesma a linguagem, tomando seletivamente a informação que lhe
provê o meio.
Quando usam da “informação que lhe provê o meio”, as autoras expressam o
conhecimento prévio adquirido antes de ingressar na escola, são conhecimentos
ligados ao meio social que o indivíduo vive.
Os mapas, os jornais, as revistas e as cartas são instrumentos de comunicação
textual e intermediação cultural (LIBÂNEO, 2010), que envolvem o autor e o leitor. O
que separa esse linha de comunicação do entendimento cartográfico são as
representações espaciais, que transpassam informações a partir de uma linguagem
textual e icnográfica (FRANCISCHETT,2010), a partir do uso da linguagem,
representação e significado. Segundo Simielli (1986, p.75):
O signo é algo que representa o próprio objeto. Ele só é signo se tiver o
poder de representar este objeto, colocar-se no lugar dele, e, então ele
só pode representar esse objeto de um certo modo e com certa
capacidade. O signo só pode representar seu objeto a seu intérprete,
produzindo na mente deste um outro signo, considerando o fato de que o
significado de um signo é outro signo.
Por todo o disposto, justificado, a representação como forma de linguagem,
através da alfabetização e do letramento, serve como elemento de mediação na
aprendizagem de geografia. Pois o ser humano em sua natureza, é capaz de criar
diversas representações sobre o mundo em que vive. Estas se constituem e são
“oriundas das mais diversas formas de percepção tidas no interior e no movimento de
sua existência social, psíquica e orgânica” (KIMURA, 2008, p. 133). Sobre o tema,
ainda acrescenta:
As representações feitas pelos homens, ao falarem do mundo do qual
eles fazem parte, estão plenas de significado. Para sua elaboração,
exercem um papel essencial a linguagem e a criação de signos que são
suas expressões. A linguagem e a criação de signos, ao mesmo tempo,
são inerentes à constituição dos homens e dos significados contidos em
suas representações do mundo (KIMURA,2008, p. 133).
Considerações finais
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Entender os termos de alfabetização e letramento, na matriz teórica de Ferreiro
e Teberosky, permite considerar que no ensino de Geografia, especificamente em
cartografia, a leitura da paisagem e dos mapas não é apenas uma técnica com
métodos, mas se utiliza dela com o objetivo de dar ao indivíduo condições de ler e
escrever o fenômeno observado. Dessa forma, se apropriar da leitura e da
compreensão da realidade vivida, conseguir interpretar e compreender os conceitos
que estão implícitos nele, ou seja, é identificar o uso do letramento cartográfico.
O Letramento cartográfico permite a apropriação das habilidades de
representação espacial, entendendo o mecanismo de leitura que envolve: o sujeito
que produz, o usuário desta representação e os contextos espaciais e históricos
envolvidos.
No entanto, para que desenvolva habilidades e capacidades na leitura do
espaço geográfico é necessário reconhecer o processo de alfabetização cartográfica,
constituído de símbolos e significados (quer dizer “codificar” e “decodificar” métodos
novamente). Porém, não basta todo o universo simbólico dos mapas, é necessário
“criar condições para que o aluno seja leitor crítico de mapas ou um mapeador
consciente”, conforme discutido por Passini (1998).
Bibliografia
FERREIRO, Emília. A Construção do Conhecimento. Revista Viver Mente& Cérebro,
Coleção Memória da Pedagogia, Edição Especial Nº 5. Reflexões sobre Alfabetização.
25ª ed. São Paulo: Cortez, 2000.
__________ “Alfabetização e cultura escrita”, Entrevista concedida à Denise
Pellegrini In Nova Escola – A revista do Professor. São Paulo, Abril, maio/2003, p. 27 –
30.
FERREIRO, Emília. TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto
Alegre: Artmed, 1999. p 300.
FRANCISCHETT, Mafalda Nesi. A Cartografia no ensino de Geografia: abordagens
metodológicas para o entendimento da representação. Cascavel: Edunioeste, 2010.
KIMURA, Shoko. Geografia no ensino básico: questões e propostas. São Paulo:
Contexto, 2008. p.133
KLEIMAN, Ângela. Os significados do letramento. Campinas: Mercado de
Letras,1995.
LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências
educacionais e profissão docente. São Paulo: Cortez, 2010
MORTATTI, Maria Rosário Lengo. Os sentidos da alfabetização (São Paulo: 18761994). São Paulo: Ed. UNESP; CONPED, 2000.
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PASSINI, Elza Yasuro. Alfabetização Cartográfica e o livro didático: uma análise
Crítica. Belo Horizonte : Editora Lê, 1998.
SIMIELLI, Maria Elena Ramos. O mapa como meio de comunicação – Implicações
no ensino de Geografia do 10 Grau. Tese de doutoramento apresentada no
Departamento de Geografia da FFCLH. Universidade de São Paulo, 1986.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte, Minas
Gerais: Autêntica, 1998.
SOUZA, Marlete Meira. Alfabetização e Letramento. 2011 Disponível em:
http://www.webartigos.com/artigos/alfabetizacao-e-letramento.
Acesso
em:
08/02/2016.
TEBEROSKY. Ana. Além da alfabetização: a aprendizagem
ortográfica, textual e matemática. São Paulo: Ática, 1997.p.67
fonológica,
TFOUNI, Leda Verdiani. Letramento e alfabetização. São Paulo, Cortez,1995.
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