UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO CIÊNCIAS BIOLÓGICAS BIOLOGIA GERAL Professor: DIEGO DA SILVA FERREIRA Mônica Barbosa Cardozo Matrícula: 2008000219 ÍNDICE POLUIÇÃO DOS RIOS E MARES CONSEQUÊNCIA PARA A BIODIVERSIDADE3 O Desequilíbrio Ecológico.................................................................................... 3 Fatores Naturais de Desequilíbrio ............................................................................. 3 Fatores de desequilíbrio induzidos pelo Homem ................................................... 3 Poluição das Águas ..................................................................................................... 5 Chuva Ácida ................................................................................................................. 5 SOBRE A BACIA DA BAIA DA GUANABARA..................................................... 6 SOBRE O RIO TIETÊ .......................................................................................... 7 Vários alertas ................................................................................................................ 8 Histórico do descaso ................................................................................................... 9 O quadro de hoje ......................................................................................................... 9 ECONOMIA x MEIO AMBIENTE ......................................................................... 9 FONTES ................................................................................................................ 11 POLUIÇÃO DOS RIOS E MARES CONSEQUÊNCIA PARA A BIODIVERSIDADE BAIA DE GUANABARA E RIO TIETÊ - TIPOS DE POLUENTES - FONTE POLUIDORA O Desequilíbrio Ecológico Há na natureza um equilíbrio dinâmico entre os organismos vivos e o ambiente em que vivem. À interação desses elementos bióticos e abióticos damos o nome de ecossistemas, com suas trocas e influências entre os organismos e entre eles e o meio. Fator de desequilíbrio é qualquer acontecimento ou evento que venha a perturbar as características naturais de um ecossistema. Fatores Naturais de Desequilíbrio São eventos muito esporádicos, imprevisíveis, como grandes furacões, terremotos, tempestades, maremotos, vendavais, etc. , os quais tendem a gerar intensa destruição nos ambientes onde ocorrem. Dependendo do tipo de ecossistema atingido, os danos na comunidade biológica podem ser intensos, sendo necessários vários anos para a sua plena recuperação. Em alguns casos, eventos esporádicos, mas cíclicos (voltam a ocorrer em períodos de tempo longos, mas relativamente regulares), induzem as comunidades ao desenvolvimento de adaptações, como por exemplo, nos cerrados, onde o fogo é um fator estressante periódico, que ocorre em intervalos de alguns anos. Neste exemplo, muitas árvores e plantas já se encontram adaptadas ao fogo, algumas inclusive necessitando dele em alguns processos reprodutivos. Neste caso, o fogo do cerrado é um fator de desequilíbrio para alguns componentes do ecossistema, mas para outros não. Fatores de desequilíbrio induzidos pelo Homem Nesta categoria se encontram todos os tipos de estresse produzido pelo homem na natureza:. poluição atmosférica, poluição dos rios e lagos, poluição dos mares e oceanos, desmatamento de florestas, matas cilliares e mangues, depredação e captura de espécies para comércio, macacos, aves, focas, sobrepesca (captura excessiva de peixes, captura de peixes muito jovens e peixes em época reprodutiva), aquecimento global (efeito estufa), redução na camada de ozônio, explosão demográfica, etc. Estes e outros fatores, ligados às atividades humanas causam perturbações nos ecossistemas que vão desde efeitos imperceptíveis a curto prazo, até a total destruição de ecossistemas inteiros, como ocorre com os aterros de manguezais, queimadas na Amazônia, derrames de petróleo, etc. Um aspecto muito importante no que diz respeito aos fatores de desequilíbrio ecológico, é que estando todas as espécies interligadas em um ecossistema e dependendo do ambiente físico para viver, as perturbações ocorridas em uma espécie ou um compartimento ecológico (por exemplo, animais herbívoros), refletirão em toda a teia trófica, causando danos muito maiores, em todo o ecossistema. Exemplo: O ambiente - Os costões rochosos do litoral de São Paulo, situados nos cantos das praias, e nas ilhas, são ecossistemas ricos em diversidade e densidade de organismos, os quais são agrupados em produtores (algas verdes, vermelhas, pardas), herbívoros (caramujos pastadores, caranguejos, ouriços, etc), carnívoros (caramujos, siris, caranguejos, estrelas do mar), comedores de areia (pepinos do mar) e filtradores (cracas, mexilhões, ostras...). Todos estes organismos, cuja diversidade pode chegar a várias centenas de espécies, estão ligados pela teia trófica, na qual uns servem de alimento para outros. O fato - Um derrame de óleo atinge o costão recobrindo parte da comunidade presente nas rochas. Diversas espécies de algas morrem intoxicadas pelos compostos químicos do óleo, bem como estrelas do mar, anêmonas e ouriços. Caranguejos herbívoros e caramujos morrem asfixiados e recobertos pelo óleo. Conseqüências - Com a redução drástica das algas presentes na rocha, os herbívoros que sobreviveram não terão recursos para se alimentarem e sua taxa de mortalidade irá aumentar; conseqüentemente, os carnívoros que deles se alimentavam também irão iniciar um período de abstinência alimentar, e assim por diante ao longo de toda a teia alimentar. Por outro lado, com a morte das algas, muito espaço na rocha foi desocupado e as espécies mais resistentes e com grande capacidade reprodutiva, como as cracas, ocupam a rocha descoberta, em uma área diferente da sua área natural de ocupação. Com o tempo, um processo de sucessão ecológica se inicia, onde o ambiente passa por fases de recuperação até retornar às condições próximas às de antes do derrame de petróleo. A recuperação após perturbações ecológicas graves, pode durar muitos anos ou até décadas, como é o caso dos manguezais (desmatamento e aterro de manguezais não possibilitam a recuperação natural dos mesmos). A séria realidade do desmatamento da Amazônia é outro bom exemplo. A floresta vive sobre um sedimento extremamente pobre em nutrientes. Os sais, oligo elementos (substâncias vitais, mas necessárias em pequenas quantidades) e todos os nutrientes necessários às plantas são extraídos das camadas superficiais do solo onde se acumula grande quantidade de matéria orgânica vegetal e animal. Todo este material é constantemente decomposto pelas bactérias e fungos (decompositores) com o auxílio dos insetos que trituram e 'picotam' os restos vegetais, e os nutrientes retornam às plantas fechando um ciclo delicado e equilibrado. Com o desmatamento, para a formação de pasto para o gado, este ciclo da floresta é quebrado. O pasto que cresce no lugar da floresta logo extingue os poucos nutrientes do solo e não consegue mais resistir, tornando necessários novos desmatamentos. A própria queima, método utilizado no desmatamento já é bastante prejudicial ao solo. O desequilíbrio ecológico, resultante de atividades humanas desordenadas causa perturbações, a curto, médio e longo prazo nos ecossistemas naturais, mas também tende a reverter estas perturbações ao próprio homem, uma vez que ele vive e depende do meio ambiente para continuar a sobreviver. Sem água potável, sem ar respirável, sem florestas, sem fauna e flora em equilíbrio, a qualidade de vida do próprio homem se encontrará ameaçada. Há muitos indícios de que as mesmas espécies marinhas e terrestres que hoje estão se extinguindo estão levando consigo substâncias presentes em seus corpos que poderiam ser a solução de muitas doenças. Isto é especialmente verdadeiro para as centenas de espécies de plantas e animais desconhecidos da Amazônia, cujas populações inteiras, neste momento estão sendo destruídas, sem ter sido sequer descobertas e estudadas. Finalmente, o fato que é considerado a causa de muitos processos de desequilíbrio ecológico é a explosão demográfica da população humana, graças ao desenvolvimento da tecnologia, da medicina, da melhoria da qualidade de vida em geral. É importante se ter ciência de que a população humana está crescendo em progressão geométrica, mas os recursos necessários à nossa sobrevivência não. A pergunta é como irá se comportar o meio ambiente e os ecossistemas do planeta com este crescimento e desenvolvimento desordenado? É possível que a resposta, esteja ligada, pelo menos em parte, ao chamado desenvolvimento sustentado, no qual é possível o uso racional dos ecossistemas em benefício do Homem, sem que estes sejam destruídos, mas uns sustentem os outros. Poluição das Águas A ONU estima que dois terços da humanidade estarão ameaçados pela falta de água em menos de trinta anos. Esse risco ocorre porque a necessidade de água aumenta com o desenvolvimento das atividades humanas. Entretanto, o volume de água pura diminui com a poluição gerada por essas mesmas atividades. A indústria, a mineração e a agricultura são as principais fontes de poluentes tóxicos nas águas. Entre as substâncias poluidoras estão minerais, derivados de petróleo, mercúrio, chumbo (pelas indústrias), fertilizantes, pesticidas e herbicidas (pela agricultura), que são arrastados para os rios com as chuvas. Outra fonte importante de poluição são os esgotos, que degradam rios, lagos e áreas de mananciais. Os poluentes que entram em contato com o solo ou com a água podem contaminar também os lençóis de água subterrâneos. De acordo com dados do Bird, de 1999, os dejetos domésticos respondem por 85% da poluição das águas e os industriais, por 15%. As redes de esgoto atingem somente 5% da população da Região Norte e no Sudeste, que registra a maior taxa, chega apenas a 41% da população. Essas condições precárias favorecem a morte prematura de 8,5 mil pessoas anualmente. Além do esgoto doméstico e dos dejetos industriais, há outras fontes importantes de contaminação dos mananciais. Os agrotóxicos utilizados na agricultura acabam, por meio das chuvas, contaminando rios e lençóis freáticos. Os oceanos também recebem boa parte dos poluentes dissolvidos nos rios, além do lixo dos centros industriais e urbanos do litoral. Esse lixo, em geral, é despejado no mar sem nenhum tipo de tratamento. O excesso de material orgânico no mar leva à proliferação descontrolada de microrganismos, que matam peixes e tornam os frutos do mar inadequados para consumo. Outra conseqüência é o crescimento exagerado de algumas algas, a chamada "maré vermelha". Essas algas (dinoflagelados) impedem a entrada de luz na água e liberam substâncias tóxicas que levam outros seres vivos marinhos à morte. Mais recentemente, os rios e os mares têm sido afetados gravemente pela ocorrência de grandes desastres ambientais, como os vazamentos de petróleo pelas instalações da Petrobrás no Rio de Janeiro e Paraná. Segundo a Fundação Onda Azul, o garimpo lança, por ano, entre 35 mil e 40 mil toneladas de mercúrio nos rios da região Amazônica, contaminando cerca de 10 mil pessoas. O mercúrio é um metal tóxico que se acumula no organismo, podendo resultar em lesões no sistema nervoso central, problemas respiratórios ou mesmo morte. Entre as doenças mais comuns, provocadas por falta de condições sanitárias adequadas ou má qualidade da água, estão a diarréia, hepatite, febre tifóide, micose, otite, conjuntivite e parasitoses intestinais. Chuva Ácida A chuva ácida é um fenômeno que surgiu com a crescente industrialização do mundo, em relação direta com a poluição do ar, manifestando-se com maior intensidade e maior abrangência nos países desenvolvidos. Não obstante, tal fenômeno começa a manifestar-se também em pontos isolados, como por exemplo, o Brasil. As emissões de fumaça das usinas termelétricas à base de carvão, das industrias de celulose, das refinarias, dos veículos automotores, assim como qualquer poluente gasoso lançado na atmosfera, contribuem para a formação de chuva ácida. Compostos de enxofre e nitrogênio são os principais componentes desta chuva, que pode se manifestar tanto no local de origem, como a centenas de quilômetros de distância. Um exemplo disto ;é a mineração de carvão em Criciúma, em Santa Catarina, que é responsável pela chuva acidificada pelo enxofre emanado do carvão depositado, que se mistura às formações de nuvens, em suspensão no ar. Esta chuva quando transportada pelos ventos vai cair, por exemplo, no parque nacional de São Joaquim, também em Santa Catarina, situado a muitos quilômetros de distância. Nos gases produzidos por fábricas e motores (em especial quando há queima de carvão mineral) são liberados para a atmosfera óxidos de enxofre (SO 2) os quais reagem com o vapor da água produzindo ácido sulfúrico (H2SO4), que é diluído na água da chuva, dando origem à chuva ácida, com pH muito ácido. O pH (índice utilizado para medir acidez : quanto menor mais ácido), medido para a maioria das chuvas ácidas, assume valores inferiores a 4,5 (o pH de uma chuva normal é de 5,0). Este tipo de chuva, quando freqüente provoca acidificação do solo, prejudicando plantas, animais e a vida dos rios e florestas. Da mesma forma, as edificações presentes na área são afetadas. Um lago que tem seu pH reduzido a 4,5, por doses repetidas de chuva ácida, impossibilita condições de vida para vários organismos. Um pH 2,0, iguala-se ao pH do suco de limão. O excesso de nitrogênio lançado pela chuva ácida em determinados lagos também pode causar crescimento excessivo de algas, e conseqüentemente perda de oxigênio, provocando um significativo empobrecimento da vida aquática. A ingestão de água potável acidificada, por longos períodos, pode causar a doença de Parkinson e de Alzheimer, a hipertensão, problemas renais e, principalmente em crianças, danos ao cérebro. Estima-se que nos E.U.A. a chuva ácida é a terceira maior causa de doenças pulmonares. Continuando no ritmo atual de poluição do ar, nos próximos 30 anos a chuva ácida causará maiores alterações na química dos solos do que as florestas tropicais poderiam suportar. Este fenômeno pode ser reduzido pela instalação de equipamentos que evitem as emissões gasosas, principalmente de compostos de enxofre e nitrogênio. No Brasil, a mata atlântica é extremamente afetada pela chuva ácida, uma vez que muitos centros urbanos e industriais se localizam próximos ao litoral. Em Cubatão (São Paulo) vários programas de reflorestamento têm acontecido nos últimos anos, a fim de proteger as encostas cuja vegetação foi destruída. SOBRE A BACIA DA BAIA DA GUANABARA Os atuais níveis de poluição encontrados na Baía de Guanabara são decorrentes do processo de degradação, intensificado nas décadas de 50 e 60, com o elevado crescimento urbano do País, especialmente na Região Sudeste. O crescimento populacional e o desenvolvimento industrial trouxeram, além da poluição, questões ambientais de ordem física, tais como a destruição dos ecossistemas periféricos à Baía, os aterros de seu espelho d'água, o uso descontrolado do solo e seus efeitos adversos em termos de assoreamento, sedimentação de fundo, inundações e deslizamentos de terra. Ao mesmo tempo, sérios problemas de saúde pública vêm caracterizando a região da bacia hidrográfica da Baía de Guanabara, refletindo a inadequada gestão dos esgotos sanitários e dos resíduos sólidos urbanos. Durante todo esse tempo, a execução dos serviços de infra-estrutura de saneamento e drenagem não acompanhou o crescimento populacional. Frente a um quadro de degradação ambiental intenso, o Governo do Estado do Rio de Janeiro deu início, a partir de 1990, ao Programa de Despoluição da Baía de Guanabara - PDBG, com apoio financeiro do Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID e do Banco Japonês para Cooperação Internacional - JBIC. O principal objetivo do Programa é o atendimento às necessidades nas áreas de saneamento básico, abastecimento de água, coleta e destinação final de resíduos sólidos, drenagem, controle industrial e monitoramento ambiental. A avaliação dos dados do monitoramento da qualidade da água feito pela Feema, relativos ao período de 1990 a 2000, demonstra com maior clareza que a deterioração da qualidade da água da Baía de Guanabara, em termos de DBO - demanda bioquímica de oxigênio, coliformes e clorofila - A, foi mais significativa na sua parte nordeste, apesar de ter ainda melhor qualidade do que as áreas noroeste e oeste. A tendência mais preocupante do processo de degradação da Baía tem sido o rápido crescimento de algas. O elevado grau de eutrofização vem se espalhando das regiões oeste e noroeste, altamente urbanizadas, para as demais regiões. Outro aspecto igualmente importante da degradação da qualidade da água da Baía, é a acumulação de fósforo, nitrogênio e metais pesados nos sedimentos de fundo, em determinadas áreas, cujo resultado será a liberação contínua dessas substâncias para a água, por longo tempo, mesmo após a redução dos lançamentos diretos. Em relação aos rios da bacia, pode-se dizer que aqueles que atravessam as áreas mais densamente povoadas são verdadeiras canalizações de esgoto a céu aberto, recebendo ainda grandes contribuições de despejos industriais e lixo. Nessa situação estão incluídos os afluentes da costa oeste da Baía, que vão do Canal do Mangue ao Canal de Sarapuí, além dos rios Alcântara, Mutondo, Bomba e Canal do Canto do Rio, na costa leste. Estes rios são utilizados, basicamente, para diluição de despejos, embora o uso que lhes é recomendado seja a manutenção da harmonia paisagística e estética. Os demais rios da bacia são menos degradados. Para eles, pretende-se a manutenção da qualidade própria a usos mais nobres, tais como a preservação de flora e fauna, visando a preservação do ecossistema da Baía de Guanabara. O rio Guapi-Macacu tem a água de melhor qualidade da bacia, sendo fonte de abastecimento público para os municípios de Niterói e São Gonçalo, com captação no Canal de Imunana-Estação de Laranjal. As concentrações de metais pesados nos sedimentos superficiais da Baía são maiores na parte interna oeste (próximo às desembocaduras dos rios São João de Meriti, Sarapuí e Iguaçu), decrescendo em direção ao canal central e à entrada da Baía. Os picos de concentração de mercúrio, cromo, cobre e níquel são observados nos rios da costa oeste. Outros metais, como ferro, manganês, cádmio e zinco, encontram-se distribuídos ao longo da bacia, com maiores concentrações no lado oeste. As concentrações de mercúrio são maiores nos rios Acari e São João de Meriti, devido à influência da Cia Eletroquímica Panamericana. SOBRE O RIO TIETÊ Há poucas décadas atrás, no Rio Tietê - o rio mais extenso do Estado de São Paulo - foram registradas a realização de competições de remo e natação. Isso, hoje, não parece admissível, tendo em vista tratar-se de um rio praticamente morto, com águas negras, densas e malcheirosas. O Rio Tietê é, sem dúvida, um dos melhores exemplos de degradação ambiental, sendo considerado, hoje, um dos rios mais poluídos do mundo. A cada segundo, o rio Tietê e seus afluentes recebem, só na região metropolitana de São Paulo, cerca de 35 mil litros de esgoto, de acordo com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Em 24 horas, a quantidade lançada chega ao impressionante total de 3 bilhões de litros. Isso sem contar os dejetos que são lançados ao rio antes de ele chegar à capital e o lixo diretamente atirado em suas águas, como pneus, móveis, etc. Há quase 60 anos, o Tietê é um rio "morto" na região metropolitana de São Paulo. Biologicamente falando, isso significa que ele não apresenta suficiente oxigênio diluído para garantir a existência de um ecossistema. Porém, a definição biológica, por mais objetiva e esclarecedora que seja, não é a única interpretação para esse termo. Sob o ponto de vista urbano e social, o adjetivo ganha contornos um pouco mais complexos. Símbolo de glória na época das bandeiras, quando ainda levava o nome indígena "Anhembi" e seus mil quilômetros de extensão serviam de guia aos primeiros exploradores do interior do estado, e de progresso no início do século 20, hoje o Tietê é motivo de vergonha para os paulistanos. Como seu leito é usado para receber praticamente todo o esgoto produzido pelos municípios da Grande São Paulo, o principal rio do estado é lembrado apenas pela sua feiúra, mau cheiro, enchentes e pelas doenças que transmite. Por isso, os paulistanos preferiram virar as costas para aquele que, durante séculos, foi motivo de orgulho para a cidade. E que, hoje, não passa de um incômodo problema. Vários alertas Já nos idos de 1792, um relatório anônimo denunciava os primeiros sinais de degradação dos recursos hídricos de São Paulo, resultado da exploração do ouro e do ferro. Segundo o texto, o rio Juqueri, no encontro com o Tietê, estava poluído, "parece que vomitando sangue, tingindo o Tietê muitas léguas com barro das lavras de Santa Fé e minas do Jaraguá". Só que, naquela época, em vez dos 18 milhões de pessoas que hoje vivem na região metropolitana, a cidade não passava de uma pequena província, e contava com "dez carpinteiros, 21 alfaiates, 16 sapateiros, quatro ferreiros, quatro ourives e quatro pedreiros", segundo levantamento feito pelo historiador Humberto Mello Nóbrega, publicado em seu livro História do Rio Tietê. Algumas décadas depois, em 1820, o relato de dois irmãos, José Bonifácio e Martim Francisco Ribeiro de Andrada, confirmava que a situação não havia melhorado: "A primeira coisa que atraiu nossa atenção foi o miserável estado em que se acham os rios Tamanduateí e Tietê, sangrados em toda parte por sarjetas que formam lagos que inundam esta bela planície". Assim como esses, outros documentos denunciaram a precariedade dos rios paulistanos. Entretanto, até 1930, a poluição ainda não havia comprometido totalmente o Tietê. Suas margens eram um lugar aprazível, que convidava ao lazer e às atividades esportivas. Apenas na década seguinte, devido ao intenso processo de industrialização, as condições sanitárias começaram a se agravar. Nos anos 40, a água do rio, quando utilizada na irrigação de hortaliças, "queimava" as plantas. Em 1944, o ilustre esportista João Havelange, atleta da Associação Desportiva Floresta (Clube Esperia), em uma das disputas da tradicional Travessia de São Paulo a Nado, caiu doente, contaminado com febre tifóide, um sinal claro de que a saúde do Tietê não ia muito bem. A partir de então, o processo de degradação se acentuou e, em 1950, o moribundo Tietê foi, enfim, declarado morto. E assim ele permaneceu por mais de 40 anos, sem que nada fosse feito para tentar reanimá-lo. Um dossiê produzido anualmente pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) informa que a situação da bacia do alto Tietê - que inclui o trecho do rio compreendido desde a sua nascente, em Salesópolis, até a cidade de Pirapora do Bom Jesus, bem como seus afluentes - é extremamente grave. O relatório "Qualidade das Águas Interiores do Estado de São Paulo" afirma que, com exceção dos reservatórios de Juqueri, na serra da Cantareira, e Tanque Grande, em Guarulhos, "os demais rios desta bacia encontram-se totalmente comprometidos pelo grande aporte de esgotos domésticos e efluentes industriais, acarretando contaminação química, microbiológica e ausência total de oxigênio dissolvido". Há 102 anos, o engenheiro Joaquim José de Freitas, ao relatar a situação do Tietê ao secretáriogeral da prefeitura, já alertava os governantes para a importância de "tratar quimicamente os despejos, antes de lançá-los ao rio, na Ponte Pequena, na barra do Tamanduateí e no Bom Retiro". Porém, nada foi feito. Depois dele, outros especialistas também chamaram a atenção para as péssimas condições da água. "Mas, infelizmente, todas as soluções que surgiram foram ficando no papel. São Paulo sempre foi movida pelo progresso a qualquer custo. Jogar lixo no rio sempre foi a solução mais barata", lamenta Aristides Almeida Rocha, professor titular da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro Do Lendário Anhembi ao Poluído Tietê. Em 1926, o engenheiro sanitarista Saturnino de Brito, atendendo a um pedido do prefeito da época, Firmiano Pinto, criou o projeto intitulado Melhoramentos do Rio Tietê. Ele previa a redução da sua extensão de 46 para 26 quilômetros no trecho Guarulhos-Osasco, para aumentar e tornar constante a vazão da água. Também ressaltava a importância de reservar o rio para manancial de abastecimento da população e sugeria a construção de comportas para regularização do fluxo, de dois lagos com 1 milhão de metros quadrados de área junto à Ponte Grande e o represamento dos rios Biritiba, Jundiaí e Taiaçupeba, na altura de Mogi das Cruzes. O projeto era tão avançado que muitas das suas idéias acabaram sendo executadas nas décadas seguintes. Porém, na época em que foram propostas, nenhuma saiu do papel. Histórico do descaso O principal entrave ao projeto de Saturnino de Brito levava o nome de uma empresa canadense. "A Light é uma das grandes culpadas pela situação calamitosa em que o Tietê se encontra hoje", afirma Almeida Rocha. Segundo o professor, quando ela recebeu, em 1899, uma pioneira concessão para explorar os serviços de transportes urbanos na capital paulista, também precisou criar fontes de geração de energia para colocar os bondes em funcionamento. Por isso, solicitou ao governo uma autorização para represar o rio Guarapiranga. Em 1908, seu pedido foi atendido. "Outras concessões foram permitindo à empresa canadense deter o monopólio para gerar e distribuir energia elétrica em São Paulo, São Bernardo do Campo, Santo Amaro (então uma subprefeitura), Guarulhos, Parnaíba, Sorocaba, São Roque, Una (Ibiúna) e Jundiaí", informa o professor Almeida Rocha em seu livro. Para manter seu lucrativo monopólio, a Light fazia de tudo para barrar qualquer outra atividade nas águas da região metropolitana que não fosse a geração de energia. Foi por isso que, mesmo tendo se comprometido a estabelecer uma hidrovia para escoamento de mercadorias e produtos através dos rios Tietê, Pinheiros e Grande, o que possibilitaria o acesso fluvial até o alto da serra do Mar, a Light não executou a obra. Foi também por esse motivo que a empresa moveu uma intensa campanha alertando a sociedade para o perigo do uso do Tietê para consumo humano. A propaganda surtiu efeito: a população leiga foi mobilizada e bairros inteiros protestaram contra essa possibilidade. Só que a Light não divulgava o fato de que, naquela época, as técnicas de tratamento já existiam, e diversos especialistas, como o próprio Saturnino de Brito e Teodoro Sampaio, eram contra a idéia da campanha movida pela empresa. "O rio estaria, assim, irremediavelmente condenado a servir à geração de energia e a ser transformado em veículo transportador dos esgotos domésticos e resíduos das indústrias", aponta o professor Almeida Rocha em sua obra. O quadro de hoje Os anos da perversa atuação da Light e de políticas públicas que sempre atenderam aos interesses do capital privado geraram resultados tão danosos que, hoje, 40% do volume total do rio é formado por esgoto. Porém, a situação já foi pior. Desde que as obras de despoluição do rio efetivamente começaram, em 1995, o Tietê e seus afluentes deixaram de receber cerca de 800 milhões de litros de esgoto por dia, o serviço de coleta na região metropolitana aumentou de 70% para 80% e o tratamento, de 24% para 62%. "São ações de grande importância, mas de pequeno impacto para uma cidade de 10 milhões de pessoas", reflete Luís Eduardo Bevilacqua, gerente da Divisão de Qualidade de Águas da Cetesb. ECONOMIA x MEIO AMBIENTE Analisando a questão em seus aspectos econômicos, observamos que a degradação do meio ambiente está diretamente relacionada ao modelo de desenvolvimento adotado pelo sistema capitalista, que se baseia na lei da oferta e da procura de produtos e serviços. O estímulo permanente ao consumo é a base desse sistema, que tem a natureza como inesgotável fonte de energia e matéria prima e como receptáculo de dejetos produzidos por suas cidades e indústrias. A filosofia capitalista é sem dúvida uma força poderosa que se coloca por trás de decisões irracionais e impensadas, inserindo no seio da nossa sociedade valores ligados ao consumismo e ao individualismo, fazendo com que as pessoas deixem de considerar o meio ambiente como sinônimo de vida, para concebê-lo apenas como meio de adquirir bens materiais e lucro imediato. A predominância desta filosofia antiecológica tem impedido a adoção de posturas compatíveis ao desenvolvimento sustentável na sociedade, posto que o interesse das grandes potências é contrário a quaisquer iniciativas que lhes tragam prejuízos econômicos, ainda que em prol do bem geral. Exploram-se os recursos naturais sem que sejam apresentados projetos concretos para renovação das fontes energéticas, reciclagem de produtos e diminuição da carga de agentes poluentes despejados indiscriminadamente na água, no solo e no ar. Recentemente, observou-se que o lobby das grandes empresas americanas impediu a adesão dos EUA ao protocolo de kioto, um acordo internacional assinado por 178 países para controlar as emissões de carbono, responsáveis diretas pelo aumento da temperatura no Planeta. Os Estados Unidos não aceitaram estabelecer compromisso no sentido de minimizar a taxa de dióxido de carbono em 5,2% até 2012. Segundo afirmativa do Presidente George W. Bush, os esforços para limitar as emissões de dióxido de carbono não devem prejudicar o crescimento econômico. Nesse passo, se os americanos não aderirem ao esforço internacional para redução da emissão de poluentes, assumindo sua parcela de responsabilidade, as iniciativas no sentido de modificação do quadro atual não alcançarão o êxito pretendido. Este exemplo é importante para percebermos que enquanto persistir o dilema entre o desenvolvimento e a preservação ambiental, as medidas concretas - necessárias para redução da emissão de poluentes - não serão adotadas. Isto resultará no agravamento da crise ambiental, trazendo malefícios a todos os seres humanos. FONTES http://www.uniagua.org.br/website/default.asp?tp=1&pag=cont_131205.htm http://www.guiafloripa.com.br/energia/ambiente/ambiente_brasil.php http://www.meioambiente.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteu do=131 http://www.herbario.com.br/cie/ecol/eco9.htm http://www.mundojuridico.adv.br/cgi-bin/upload/texto623.doc