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TSP I: TEORIA COMPORTAMENTAL E COGNITIVISTA
Introdução.
A Psicologia não possui uma única unidade conceitual e nem metodológica, isso
por que até hoje, esta ciência não chegou a um acordo de como estudar o seu objeto de
estudo (o homem). Dentre algumas abordagens, podemos destacar como unidades de
analise deste objeto de estudo: o comportamento, a mente, a existência, a personalidade,
a subjetividade, dentre outras que surgem frente aos avanços e investimentos científicos
que sustentam o deslanche desta ciência tão complexa e fascinante que é a psicologia.
Nesta Disciplina, “TSP I: Teoria Comportamental e Cognitiva” vamos destacar
a importância do comportamento humano como unidade de análise para a
compreensão do homem enquanto objeto de estudo da psicologia, sob ao olhar da
Analise do Comportamento que mantém suas raízes filosóficas no Behaviorismo
Radical do Americano B.F. Skinner diferenciando-a do Behaviorismo Metodológico de
J.Watson. Vamos também analisar algumas críticas equivocadas quanto à compreensão
do que seja realmente a Analise do Comportamento, ou seja, vamos procurar separar o
joio do trigo.
Uma das causas para o levantamento de injustas críticas à Analise do
Comportamento seria a concepção errada que alunos recebem na graduação, como por
exemplo, generalizar o behaviorismo radical com o metodológico acreditando que tal
abordagem ignora sentimentos, subjetividade, consciência e outros eventos de
“natureza” interna. Alencar (2006) esclarece que quem passou pela graduação de
psicologia certamente se deparou com várias terminologias que muitas vezes acabam
sendo interpretadas como uma única coisa. Não conseguem diferenciar o que é
Abordagem comportamental, Behaviorismo radical, behaviorismo metodológico,
psicologia comportamental, analise do comportamento, analise aplicada do
comportamento, analise experimental do comportamento, psicologia cognitivocomportamental, psicologia analítico-comportamental, psicologia cognitivista,
psicologia experimental, psicologia da aprendizagem, comportamentalismo.
O Behaviorismo Skinneriano e a Proposta de Classificação de Tourinho (1999)
Na década de 30 do século 20, B. F. Skinner iniciou seus trabalhos em Psicologia em
duas frentes durante o seu doutoramento: de um lado, realizou uma pesquisa histórica
e conceitual sobre a noção de “reflexo” na Fisiologia e na Psicologia (uma tentativa de
dar uma roupagem operacional ou estritamente funcional ao termo e adotá-lo como
ferramenta explicativa em sua ciência). De outro, criou e adotou recursos
metodológicos e técnicos em uma ampla linha de pesquisa experimental em
laboratório. Some-se a isso que o interesse de Skinner na Psicologia, como atesta sua
própria autobiografia, também foi fortemente marcado pela possibilidade de
intervenção social, o que fica mais evidente com a publicação de sua novela utópica
“Walden II” e de vários artigos sobre educação, que acabaram por conduzi-lo ao seu
“Tecnologia do Ensino”.
Note-se, então, que em Skinner também há diferentes modalidades de
conhecimento convivendo no mesmo espaço. Em 1945, Skinner chama a sua versão
de Behaviorismo de “Behaviorismo Radical” e o faz especialmente para diferenciar-se
do Behaviorismo de Boring e Stevens, a quem chama de behavioristas, apenas,
“metodológicos”. O Behaviorismo Radical seria a filosofia por trás da Ciência do
Comportamento que ele estava tentando erguer e que deveria no futuro substituir a
própria Psicologia, profunda e irremediavelmente impregnada por pressupostos
mentalistas. Tal ciência foi chamada de “Análise Experimental do Comportamento”.
Recentemente,
Tourinho (1999) sugeriu uma reorganização terminológica para os diversos
saberes behavioristas de tradição skinneriana. De acordo com a sua estrutura, a
área ampla seria chamada simplesmente de Análise do Comportamento (AC). O seu
braço teórico, filosófico, histórico, seria chamado de Behaviorismo Radical. O braço
empírico seria classificado como Análise Experimental do Comportamento (as
práticas de laboratório). O braço ligado à criação e administração de recursos de
intervenção social seria chamado de Análise Aplicada do Comportamento (referese a prática do analista do comportamento).
Para Tourinho (1999), as três subáreas estariam inter-relacionadas em um
processo contínuo de alimentação recíproca e nenhuma das três existiria de forma
autônoma. Seriam todos pressupostos engendrados por uma filosofia: o Behaviorismo
Radical. Mas dizer que as três são interligadas seria insuficiente para a compreensão
do que estaria interagindo. Portanto, voltaremos a falar em outro momento do nosso
curso o que caracterizaria cada uma.
Agora vamos conhecer um pouco da história do behaviorismo, começando por
Watson, o seu fundador.
HISTÓRICO: CONTEXTO DE ORIGEM DO BEHAVIORISMO
Watson, pai do behaviorismo metodológico
No ano de 1913 J.B.Watson fundou uma corrente de pensamento denominada
Behaviorismo, no início quase um sinônimo de ciência do comportamento. Até a época
de Watson a Psicologia havia dado grande importância para a Introspecção, a qual era o
seu método de estudo dos chamados eventos mentais, o qual consistia em olhar para
dentro do próprio corpo para explicar tais eventos. O problema era que esse método era
subjetivo e de poucos resultados práticos.
Entretanto, uma nova concepção de ciência havia nascido, com novos
postulados, os quais constituem afirmações não passíveis de prova, mas que embasam
qualquer ciência,. Era o Positivismo Comteano. Seu autor, o francês Augusto Comte,
afirmava que uma ciência objetiva era aquela que considerava como fato científico
apenas um evento visível por todas as pessoas, ou seja, publicamente observável. Essa
postura ficou conhecida como verdade por consenso. Watson concordou com Comte.
Augusto Comte
O behaviorismo metodológico baseia-se no realismo definido por BAUM (1999,
p.36) que “no contexto do realismo, um mecanismo compreensível significa um
mecanismo real, que existe ‘fora’ do sujeito, e que vimos a conhecer à medida que o
estudamos. [...] Sua existência ‘fora’ do sujeito torna-o objetivo [...]”.
Dessa forma o behaviorismo metodológico distingue mundo objetivo de mundo
subjetivo e a ciência deve lidar apenas com o mundo objetivo, ou seja, com o mundo
“fora” do sujeito, sendo por isso o behaviorismo.
Para Watson, portanto, apenas o que somos capazes de ver outra pessoa fazer
(como por ex. andar, falar, pular etc.) deveria ser objeto de estudo da psicologia. A este
novo objeto de estudo, ele chamou de comportamento; em contraposição aos
sentimentos e pensamentos, até então os únicos objetos da psicologia. Mas por que
Watson ignorou os sentimentos e pensamentos? Porque ambos não eram, e não são
visíveis aos olhos dos outros. Por isso não podemos ter certezas quanto a eles
Watson argumentava que qualquer observador pode medir objetivamente o
comportamento publicamente observável justamente porque, diferentemente dos
processos cognitivos, que são privados, o comportamento é público. Duas pessoas
podem observar o mesmo comportamento - por exemplo, um rato virando à direita num
labirinto - e concordar com o que observam. John B. Watson definiu o behaviorismo
metodológico como se segue: "A psicologia, vista por Watson, constitui um ramo
puramente objetivo da Ciência Natural. Seu objetivo teórico é a predição e o controle do
comportamento. A introspecção não é parte essencial de seus métodos.
Watson passou então a negar a própria existência dos pensamentos e
sentimentos, o que não ficou imune a críticas severas. Devido às críticas, Watson
amenizou sua posição afirmando que os eventos mentais até poderiam existir, mas que
por não serem visíveis a todos, a ciência psicológica seria incapaz de estabelecer leis a
seu respeito.
Mas não bastava Watson eleger o novo objeto de estudo da psicologia, ele
também carecia de Conceitos que explicassem o comportamento, mas que não fossem
conceitos mentais, como percepção, cognição, sentimento, etc. Esses novos conceitos
foram então importados da Rússia, onde um fisiologista chamado Ivan P. Pavlov
realizava experimentos com cães, vindo a descrever o Condicionamento ou Reflexo
Condicionado. Neste, se um estímulo incondicionado qualquer, como carne, for
apresentado repetidas vezes logo após a outro estimulo, como uma sineta, o segundo (a
sineta) será capaz de eliciar sozinha a salivação no cão, o que antes só o primeiro (a
carne) era capaz de fazer.
Pavlov e um cão
Watson então passou a utilizar os conceitos do reflexo, para explicar tudo àquilo
que ele chamava de comportamento. Esse conjunto de conceitos explicativos é chamado
de Paradigma.
Aparato utilizado por Pavlov em seu clássico experimento de Condicionamento.
Com o seu critério de fato científico estabelecido, e seus conceitos também, Watson
precisava de um Método, ou seja, de um caminho coerente com ambos, para que através
dele pudesse continuar as pesquisas. O Behaviorismo de Watson ou Behaviorismo
Metodológico aderiu então aos Experimentos Controlados com vários animais,
especialmente ratos brancos, comparando os resultados de cada um e a partir daí,
estabelecendo leis para o comportamento humano e animal.
Mesmo a concepção de Watson sendo “incompleta”, ela estava de acordo com
os postulados que adotou. A postura de Watson frente ao Homem é conhecida como
Mecanicismo. Nesta “escola” filosófica entende-se que para toda causa há um efeito e
vice-versa. Entende-se por ‘causa’ o gerador ou provocador de um ‘efeito’. Mas para
isso acontecer, os eventos causais devem estar sempre próximos no tempo e no espaço,
dos eventos ‘causados’. Entretanto, isso nem sempre acontece. Por esse motivo o
Mecanicismo postula e então infere (uma inferência significa uma conclusão) que
sempre deverá haver um mecanismo, uma ponte entre os dois, pela qual a ‘causa’ se
propaga, provocando assim o seu ‘efeito’. No caso do condicionamento, adotado por
Watson, o sistema nervoso fazia o papel de ponte entre o estímulo ambiental e a
resposta do organismo.
Tudo isso começou em 1913. Será que ainda existem pessoas que pensam como
Watson, ou seja, será que ainda existem behavioristas metodológicos? Claro que
existem, mas nem tudo está perdido. A ênfase de Watson nos experimentos controlados
levou a Psicologia a mares nunca antes navegados... A visão de Homem de Watson,
mesmo incompleta, possibilitou que inúmeras técnicas de sucesso fossem criadas, para
o tratamento de diversos problemas humanos, até então sem solução.
A ênfase de Watson foi considerada extrema, até mesmo na época. Burrhus
Frederic Skinner critica Watson pela sua negação das características genéticas, assim
como pela sua tendência a generalizar, sem base em dados reais. B.F.Skinner foi um
behaviorista metodológico até 1945, quando rompeu definitivamente com este
behaviorismo, por discordar de sua incompletude. Apresentou, então, outro ponto de
vista sobre o comportamento humano, estritamente pessoal. B.F.Skinner é considerado
o pai do behaviorismo radical
Vamos utilizar como leitura complementar o texto dos autores:
Diego Zílio e Kester Carrara.
______________________________________________________________________
UMA BREVE INTRODUÇÃO AO BEHAVIORISMO METODOLÓGICO
Diego Zilio 1
Kester Carrara 2
Proposto como uma alternativa às psicologias estruturalistas e funcionalistas, o
behaviorismo metodológico tem como principal precursor John B. Watson (1878-1958).
O intento da Psicologia, segundo Watson, é prever e controlar seu objeto de estudo, isto
é, o comportamento.
O comportamento a nada mais equivaleria, numa primeira aproximação, do que
respostas, reações, ou ajustamentos a certos eventos antecedentes (estímulos).
Fisiologicamente, as respostas são mudanças observáveis do organismo referentes aos
seus músculos e glândulas. Elas são causadas pela ação de estímulos, antecedentes
imediatos às respostas, localizados no ambiente.
A delimitação do objeto de estudo da Psicologia feita de tal maneira deixa
transparecer muito a respeito da filosofia de ciência e metodologia que sustentam o
behaviorismo metodológico. Watson se apoiava num determinismo materialista. Ou
seja, apenas fenômenos físicos causariam fenômenos físicos, não havendo espaço para
ontologia diferente.
Outra característica do behaviorismo metodológico é a defesa da verdade por
consenso. Trata-se da idéia de que o objeto de estudo tem que ser observável por mais
de uma pessoa e que a verdade a seu respeito é fruto de pesquisas e experimentos cujos
resultados são consensuais entre os pesquisadores. É por essa razão, pelo menos, que
Watson nega veementemente a introspecção como método da Psicologia. O uso da
introspecção seria o maior obstáculo ao progresso da Psicologia enquanto ciência. A
mente, a consciência, as emoções, etc., por serem inobserváveis, foram ignoradas – ou,
ao menos, evitadas - por Watson em seus estudos. Nada poderia ser dito a respeito
desses fenômenos sem ferir os pressupostos metodológicos de seu behaviorismo. É
importante notar, todavia, que Watson em momento algum nega a existência de tais
fenômenos; apenas os exclui de uma análise científica. Em razão disso, há um debate
sobre sua posição em relação ao problema mente-corpo. Seria Watson um dualista? Um
epifenomenalista? Trata-se de uma questão em aberto.
A definição de conceitos em termos observáveis também é de extrema
importância para o behaviorismo metodológico. O pensar, por exemplo, para Watson,
seria uma resposta não-observável, produto da linguagem, verbal ou não, do organismo
1
Aluno do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Bauru.
Contato: [email protected]
2
Professor do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de
Bauru. Contato: [email protected]
e, em decorrência disso, não passível de experimentação científica. O método de
Watson para estudar tal comportamento verbal é semelhante, na prática, ao da
introspecção. Muda-se, todavia, a interpretação do fenômeno estudado. Ao passo em
que no experimento introspeccionista há um experimentador e um observador que relata
suas experiências internas, no experimento behaviorista metodológico, o
experimentador é o observador: ele observa o comportamento do sujeito experimental
quando este relata suas experiências internas. Nesse sentido, para o behaviorismo
metodológico, descrever o comportamento observável do sujeito é explicar tal
comportamento (ainda que não, necessariamente, no sentido machiano). Portanto, para o
behaviorismo metodológico, definir um fenômeno, um comportamento, um objeto, um
fato da natureza, é descrevê-lo em termos objetivos.
Watson, adepto do evolucionismo, realizou pesquisas tanto com seres humanos
quanto com outros animais. Suas pesquisas com crianças foram as mais célebres.
Levado pela discussão a respeito da questão do inato versus aprendido na psicologia do
desenvolvimento, Watson resolveu aplicar sua metodologia em crianças recém-nascidas
para, assim, levantar dados que delimitassem o que seria aprendido e o que seria
herdado por elas. Ele traçou, passo a passo, o desenvolvimento de reações dessas
crianças a diversos estímulos. Descobriu um grande repertório de atividades reflexas
(chorar, piscar, fechar o punho, espirrar, etc.) que apareciam em uma seqüência bem
definida em todas as crianças participantes dos experimentos. Localizou, também, três
tipos de respostas emocionais (que foram definidas operacionalmente): medo, raiva e
amor.
A partir desses experimentos com crianças Watson desenvolveu parte de seu
arcabouço conceitual. Pesquisou a respeito do reflexo condicionado (aprendido) e
observou fenômenos como a transferência e o descondicionamento. O primeiro diz
respeito à capacidade dos organismos para generalizar as funções dos estímulos para
estímulos semelhantes. Um caso célebre, resultado de um experimento feito pelo
próprio Watson, mostra, de forma clara, o que isso significa. Watson condicionou uma
criança a ter medo (definido operacionalmente como prender a respiração, semicerrar as
pálpebras e chorar) de um rato branco. Toda vez que o rato era colocado no mesmo
ambiente que a criança, um som alto era produzido. O comportamento inicial da criança
para com o rato era amistoso e exploratório, condição que se modificou após o
pareamento do rato com o som alto. Toda vez que o rato era colocado no mesmo
ambiente, depois do condicionamento, a criança apresentava comportamento de medo.
Entretanto, o condicionamento não parou por aí. Sem a manipulação direta de Watson, a
criança passou a ter medo, também, de qualquer objeto branco que fosse apresentado a
ela. Incluem-se chumaços de algodão, coelhos, casaco de pele, e até uma máscara do
Papai Noel com sua barba branca. A esse fenômeno Watson deu o nome de
transferência.
Outra preocupação de Watson diz respeito à possibilidade de
descondicionamento. Ou seja, seria possível à criança antes citada desaprender a ter
medo do rato branco e de objetos semelhantes a ele? Segundo Watson, sim. Em
situações experimentais ele fez com que crianças desaprendessem a ter medo dos mais
diversos objetos.
Watson, tomado pelo sucesso de seus experimentos, chegou a negar a existência
de qualquer influência hereditária nos comportamentos complexos dos adultos. Segundo
ele, esses comportamentos seriam resultantes da aprendizagem (condicionamento) a
partir das respostas básicas, como as localizadas nas crianças recém-nascidas de seus
experimentos, não aprendidas (reflexos). Note-se que Watson não afirma que o
organismo é uma tabula rasa, mas sim que o pequeno repertório de reflexos das crianças
já é o bastante para possibilitar o surgimento de comportamentos complexos. Ele é
contra, portanto, às idéias de “capacidades”, “dons”, “predisposições”, “talentos”,
comumente presentes nos discursos de sua época.
A questão é que a característica minimalista do reflexo não possibilita a ele ser
chamado de “dom” ou “talento”. Por outro lado, o repertório de reflexos de uma criança
recém-nascida, segundo Watson, possibilita o desenvolvimento de comportamentos
complexos que, por sua vez, geram a ilusão da existência desses construtos. Por
conseqüência, ocorre a falsa interpretação inatista do comportamento. Daí a frase
célebre e controversa de Watson segundo a qual ele poderia transformar qualquer
criança recém-nascida sadia no que ele bem quisesse, desde um artista até um ladrão.
Watson foi uma figura polêmica da psicologia norte-americana. Seus textos são
constantemente recheados de frases de caráter duvidoso e polêmico. Suas atitudes
públicas, por sua vez, não perdem em teor polêmico para os seus textos. Entretanto, não
podemos deixar de negar sua importância para o desenvolvimento de um programa de
pesquisa dentro da Psicologia denominado behaviorismo. Watson mostrou uma
possibilidade de caminho com sua ciência da Psicologia que resultou no surgimento de
muitos outros teóricos e seus respectivos behaviorismos. É por causa desse fato que o
presente texto se limitou a expor as idéias principais de tal teórico de uma forma
acrítica. Idéias essas que muitas vezes, infelizmente, acabam se tornando “caricatas”
dentro da Psicologia devido às críticas rasas que as têm como alvo.
Um dos teóricos que, apoiado parcialmente nas idéias de Watson, construiu um
neobehaviorismo foi E. C. Tolman (1886-1959). Todavia, mesmo tendo partido do
behaviorismo de Watson, Tolman não o aceitou por completo. O arcabouço teórico de
Watson, em que os estímulos e respostas seriam passíveis de definição em termos
físicos (contrações musculares e percepções glandulares) foi veementemente negado por
Tolman, pois não dariam conta de todo o fenômeno que envolve o comportamento.
Dessa negação surge o seu, comumente denominado, behaviorismo cognitivo. Como o
nome já evidencia, Tolman, ao mesmo tempo em que atribuía grande importância aos
métodos experimentais propostos pelo behaviorismo, servia-se de explicações
cognitivistas. Seria possível afirmar que, em grande medida, Tolman seguiu a lógica
metodológica behaviorista em seus experimentos. Todavia, as explicações dadas por ele
a respeito dos fenômenos estudados mesclavam características de uma abordagem
cognitiva.
É possível afirmar, portanto, que Tolman parte da negação do behaviorismo
fisiológico de Watson. Sua alternativa, por sua vez, culminou no behaviorismo
cognitivo. Isso se deu graças a sua aceitação das explicações intencionais e, por
conseqüência, teleológicas do comportamento. Tolman acreditava que comportamentos
complexos podiam ser explicados pela intenção-objetivo dos organismos. Trata-se, em
poucas palavras, de atribuir a causa de um comportamento ao propósito ou intenção do
organismo que se comporta. Um rato em privação de água pressiona uma barra. O
comportamento de pressionar a barra é reforçado porque segue-se a ele uma gota de
água. O rato em questão passa a se comportar dessa maneira continuamente. Tolman
explicaria tal comportamento afirmando que o rato pressiona a barra porque tem a
intenção ou propósito de beber água; e como ele sabe que, se a barrar for pressionada,
ele obterá água, conseqüentemente, ele a pressionará quando esse for seu desejo. Tratase de uma explicação cognitivista (pois utiliza termos mentalista) que, por ser
intencional, aceita uma causalidade teleológica.
Para sustentar a possibilidade de que um organismo seja intencional e possua
seus propósitos, Tolman sugeriu a existência de mapas cognitivos. Esses mapas seriam
estados de prontidão do organismo cuja função seria orientá-lo em direção aos seus
objetivos. Esses mapas cognitivos estariam bem próximos, em definição, de construtos
cognitivos como “memória”, “atenção”, “consciência”, “processamento de informação”,
etc. Ou seja, são processos cognitivos que possibilitariam ao organismo agir
intencionalmente.
Ao incluir termos cognitivistas em seu vocabulário também behaviorista,
Tolman postula as chamadas variáveis intervenientes. Essas variáveis estariam no meio
da cadeia causal do comportamento: entre os estímulos antecedentes e as respostas (o
comportamento propriamente dito). Seriam variáveis intervenientes disposições do
organismo (fome, sede, raiva, etc.), os mapas cognitivos, os pensamentos; enfim, os
processos mentais de forma geral.
Pode-se dizer que Tolman também foi influenciado pela psicologia da Gestalt.
Essa influência é evidente em sua divisão do comportamento em duas esferas:
molecular e molar. A primeira delas diz respeito aos estudos fisiológicos que envolvem
o comportamento. Já a segunda seria a esfera própria da psicologia, pois trataria do
comportamento como um fenômeno que emerge do mundo físico, mas que, ao mesmo
tempo, é irredutível a ele. Em poucas palavras, embora possa ser particionado pela física
e química, o comportamento como um todo é maior que a soma dessas partes.
Outro teórico que também seguiu a linha behaviorista, mas que, assim como
Tolman, discordou de Watson, foi C. L. Hull (1894-1952). Seu behaviorismo se
fundamentou sobre a idéia do reflexo condicionado. Entretanto não se trata do reflexo
condicionado tal qual Pavlov o concebia: para Hull tal reflexo seria uma situação de
aprendizagem simplificada de grande importância às análises experimentais
behavioristas. Para Hull, embora simples, os resultados e constatações adquiridas nas
análises de tais situações de aprendizagem por meio do reflexo condicionado poderiam
ser transferidas para situações mais complexas.
Hull deu grande ênfase à lógica dedutiva e matemática em suas explicações.
Essas dariam sustentação – ao menos argumentativa – para suas generalizações, em que
leis situacionais que envolviam o reflexo condicionado eram utilizadas para explicar
comportamentos mais complexos.
Hull também acatou a idéia de variável interveniente de Tolman e, por
conseqüência, acabou por admitir a existência de fenômenos mentais. Por essa razão,
seu behaviorismo é comumente chamado de metafísico. Entretanto, as variáveis
intervenientes de Hull se referiam às condições antecedentes do organismo como, por
exemplo, o número de ensaios de reforço, a intensidade do estímulo e o tempo de
duração dos experimentos. É possível afirmar, portanto, que Hull sempre prezou por
uma definição objetiva das variáveis intervenientes. Por esse motivo, e devido à sua
grande ênfase em uma metodologia objetiva, seu behaviorismo também é denominado
fisicalista.
Foi no campo das teorias da aprendizagem que as idéias de Hull surtiram mais
efeito. Isso se dá, justamente, por sua definição de reflexo condicionado como sendo um
processo de aprendizagem cujos resultados e constatações são transferíveis aos
processos mais complexos. É, inclusive, por essa razão que o método de Hull pode ser
denominado hipotético-dedutivo. Ou seja, ele generaliza seus postulados – construídos
com base em situações experimentais simples – a situações complexas que dificilmente
os sustentariam empiricamente. Todavia, em sua argumentação lógico-dedutiva e
matemática, não havia incoerências em tais generalizações. Por essa razão, é
comumente afirmado que o sistema teórico de Hull tinha aparência, mas não realidade.
Depois de Hull vieram outros behavioristas e, conseqüentemente, outros
behaviorismos. Entretanto, nenhum promoveu tanto impacto quanto o behaviorismo
radical de B.F. Skinner.
Bibliografia básica:
CARRARA, K. (2005) Behaviorismo radical: Crítica e metacrítica. São Paulo: Editora Unesp.
HULL, C. L. (1943). Principles of behavior. New York: Appleton.
Keller, F. S. (1970). A Definição da Psicologia: Uma Introdução aos Sistemas Psicológicos (R.
Azzi, Trad.). São Paulo: Herder (Trabalho original publicado em 1965).
TOLMAN, E. C. (1922). A new formula for behaviorism. Psychological Review, 29, 44-53.
Disponível em: http://psychclassics.yorku.ca/Tolman/formula.htm
TOLMAN, E. C. (1932). Purposive behavior in animals and men. New York: Appleton.
TOLMAN, E. C. (1948). Cognitive maps in rats and men. Psychological Review, 55, 85-112.
Disponível em: http://psychclassics.yorku.ca/Tolman/Maps/maps.htm
Watson, J. B. (1913). Psychology as the behaviorist views it. In: Psychological Review, 20, 158177. Disponível em: http://psychclassics.yorku.ca/Watson/views.htm
Watson, J. B. (1924). Psychology from the Standpoint of a Behaviorist. Philadelphia, J. B.
Lippincott Company.
Watson, J. B. (1930). Behaviorism. New York: W. W. Norton and Company.
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