TSP I: TEORIA COMPORTAMENTAL E COGNITIVISTA Introdução. A Psicologia não possui uma única unidade conceitual e nem metodológica, isso por que até hoje, esta ciência não chegou a um acordo de como estudar o seu objeto de estudo (o homem). Dentre algumas abordagens, podemos destacar como unidades de analise deste objeto de estudo: o comportamento, a mente, a existência, a personalidade, a subjetividade, dentre outras que surgem frente aos avanços e investimentos científicos que sustentam o deslanche desta ciência tão complexa e fascinante que é a psicologia. Nesta Disciplina, “TSP I: Teoria Comportamental e Cognitiva” vamos destacar a importância do comportamento humano como unidade de análise para a compreensão do homem enquanto objeto de estudo da psicologia, sob ao olhar da Analise do Comportamento que mantém suas raízes filosóficas no Behaviorismo Radical do Americano B.F. Skinner diferenciando-a do Behaviorismo Metodológico de J.Watson. Vamos também analisar algumas críticas equivocadas quanto à compreensão do que seja realmente a Analise do Comportamento, ou seja, vamos procurar separar o joio do trigo. Uma das causas para o levantamento de injustas críticas à Analise do Comportamento seria a concepção errada que alunos recebem na graduação, como por exemplo, generalizar o behaviorismo radical com o metodológico acreditando que tal abordagem ignora sentimentos, subjetividade, consciência e outros eventos de “natureza” interna. Alencar (2006) esclarece que quem passou pela graduação de psicologia certamente se deparou com várias terminologias que muitas vezes acabam sendo interpretadas como uma única coisa. Não conseguem diferenciar o que é Abordagem comportamental, Behaviorismo radical, behaviorismo metodológico, psicologia comportamental, analise do comportamento, analise aplicada do comportamento, analise experimental do comportamento, psicologia cognitivocomportamental, psicologia analítico-comportamental, psicologia cognitivista, psicologia experimental, psicologia da aprendizagem, comportamentalismo. O Behaviorismo Skinneriano e a Proposta de Classificação de Tourinho (1999) Na década de 30 do século 20, B. F. Skinner iniciou seus trabalhos em Psicologia em duas frentes durante o seu doutoramento: de um lado, realizou uma pesquisa histórica e conceitual sobre a noção de “reflexo” na Fisiologia e na Psicologia (uma tentativa de dar uma roupagem operacional ou estritamente funcional ao termo e adotá-lo como ferramenta explicativa em sua ciência). De outro, criou e adotou recursos metodológicos e técnicos em uma ampla linha de pesquisa experimental em laboratório. Some-se a isso que o interesse de Skinner na Psicologia, como atesta sua própria autobiografia, também foi fortemente marcado pela possibilidade de intervenção social, o que fica mais evidente com a publicação de sua novela utópica “Walden II” e de vários artigos sobre educação, que acabaram por conduzi-lo ao seu “Tecnologia do Ensino”. Note-se, então, que em Skinner também há diferentes modalidades de conhecimento convivendo no mesmo espaço. Em 1945, Skinner chama a sua versão de Behaviorismo de “Behaviorismo Radical” e o faz especialmente para diferenciar-se do Behaviorismo de Boring e Stevens, a quem chama de behavioristas, apenas, “metodológicos”. O Behaviorismo Radical seria a filosofia por trás da Ciência do Comportamento que ele estava tentando erguer e que deveria no futuro substituir a própria Psicologia, profunda e irremediavelmente impregnada por pressupostos mentalistas. Tal ciência foi chamada de “Análise Experimental do Comportamento”. Recentemente, Tourinho (1999) sugeriu uma reorganização terminológica para os diversos saberes behavioristas de tradição skinneriana. De acordo com a sua estrutura, a área ampla seria chamada simplesmente de Análise do Comportamento (AC). O seu braço teórico, filosófico, histórico, seria chamado de Behaviorismo Radical. O braço empírico seria classificado como Análise Experimental do Comportamento (as práticas de laboratório). O braço ligado à criação e administração de recursos de intervenção social seria chamado de Análise Aplicada do Comportamento (referese a prática do analista do comportamento). Para Tourinho (1999), as três subáreas estariam inter-relacionadas em um processo contínuo de alimentação recíproca e nenhuma das três existiria de forma autônoma. Seriam todos pressupostos engendrados por uma filosofia: o Behaviorismo Radical. Mas dizer que as três são interligadas seria insuficiente para a compreensão do que estaria interagindo. Portanto, voltaremos a falar em outro momento do nosso curso o que caracterizaria cada uma. Agora vamos conhecer um pouco da história do behaviorismo, começando por Watson, o seu fundador. HISTÓRICO: CONTEXTO DE ORIGEM DO BEHAVIORISMO Watson, pai do behaviorismo metodológico No ano de 1913 J.B.Watson fundou uma corrente de pensamento denominada Behaviorismo, no início quase um sinônimo de ciência do comportamento. Até a época de Watson a Psicologia havia dado grande importância para a Introspecção, a qual era o seu método de estudo dos chamados eventos mentais, o qual consistia em olhar para dentro do próprio corpo para explicar tais eventos. O problema era que esse método era subjetivo e de poucos resultados práticos. Entretanto, uma nova concepção de ciência havia nascido, com novos postulados, os quais constituem afirmações não passíveis de prova, mas que embasam qualquer ciência,. Era o Positivismo Comteano. Seu autor, o francês Augusto Comte, afirmava que uma ciência objetiva era aquela que considerava como fato científico apenas um evento visível por todas as pessoas, ou seja, publicamente observável. Essa postura ficou conhecida como verdade por consenso. Watson concordou com Comte. Augusto Comte O behaviorismo metodológico baseia-se no realismo definido por BAUM (1999, p.36) que “no contexto do realismo, um mecanismo compreensível significa um mecanismo real, que existe ‘fora’ do sujeito, e que vimos a conhecer à medida que o estudamos. [...] Sua existência ‘fora’ do sujeito torna-o objetivo [...]”. Dessa forma o behaviorismo metodológico distingue mundo objetivo de mundo subjetivo e a ciência deve lidar apenas com o mundo objetivo, ou seja, com o mundo “fora” do sujeito, sendo por isso o behaviorismo. Para Watson, portanto, apenas o que somos capazes de ver outra pessoa fazer (como por ex. andar, falar, pular etc.) deveria ser objeto de estudo da psicologia. A este novo objeto de estudo, ele chamou de comportamento; em contraposição aos sentimentos e pensamentos, até então os únicos objetos da psicologia. Mas por que Watson ignorou os sentimentos e pensamentos? Porque ambos não eram, e não são visíveis aos olhos dos outros. Por isso não podemos ter certezas quanto a eles Watson argumentava que qualquer observador pode medir objetivamente o comportamento publicamente observável justamente porque, diferentemente dos processos cognitivos, que são privados, o comportamento é público. Duas pessoas podem observar o mesmo comportamento - por exemplo, um rato virando à direita num labirinto - e concordar com o que observam. John B. Watson definiu o behaviorismo metodológico como se segue: "A psicologia, vista por Watson, constitui um ramo puramente objetivo da Ciência Natural. Seu objetivo teórico é a predição e o controle do comportamento. A introspecção não é parte essencial de seus métodos. Watson passou então a negar a própria existência dos pensamentos e sentimentos, o que não ficou imune a críticas severas. Devido às críticas, Watson amenizou sua posição afirmando que os eventos mentais até poderiam existir, mas que por não serem visíveis a todos, a ciência psicológica seria incapaz de estabelecer leis a seu respeito. Mas não bastava Watson eleger o novo objeto de estudo da psicologia, ele também carecia de Conceitos que explicassem o comportamento, mas que não fossem conceitos mentais, como percepção, cognição, sentimento, etc. Esses novos conceitos foram então importados da Rússia, onde um fisiologista chamado Ivan P. Pavlov realizava experimentos com cães, vindo a descrever o Condicionamento ou Reflexo Condicionado. Neste, se um estímulo incondicionado qualquer, como carne, for apresentado repetidas vezes logo após a outro estimulo, como uma sineta, o segundo (a sineta) será capaz de eliciar sozinha a salivação no cão, o que antes só o primeiro (a carne) era capaz de fazer. Pavlov e um cão Watson então passou a utilizar os conceitos do reflexo, para explicar tudo àquilo que ele chamava de comportamento. Esse conjunto de conceitos explicativos é chamado de Paradigma. Aparato utilizado por Pavlov em seu clássico experimento de Condicionamento. Com o seu critério de fato científico estabelecido, e seus conceitos também, Watson precisava de um Método, ou seja, de um caminho coerente com ambos, para que através dele pudesse continuar as pesquisas. O Behaviorismo de Watson ou Behaviorismo Metodológico aderiu então aos Experimentos Controlados com vários animais, especialmente ratos brancos, comparando os resultados de cada um e a partir daí, estabelecendo leis para o comportamento humano e animal. Mesmo a concepção de Watson sendo “incompleta”, ela estava de acordo com os postulados que adotou. A postura de Watson frente ao Homem é conhecida como Mecanicismo. Nesta “escola” filosófica entende-se que para toda causa há um efeito e vice-versa. Entende-se por ‘causa’ o gerador ou provocador de um ‘efeito’. Mas para isso acontecer, os eventos causais devem estar sempre próximos no tempo e no espaço, dos eventos ‘causados’. Entretanto, isso nem sempre acontece. Por esse motivo o Mecanicismo postula e então infere (uma inferência significa uma conclusão) que sempre deverá haver um mecanismo, uma ponte entre os dois, pela qual a ‘causa’ se propaga, provocando assim o seu ‘efeito’. No caso do condicionamento, adotado por Watson, o sistema nervoso fazia o papel de ponte entre o estímulo ambiental e a resposta do organismo. Tudo isso começou em 1913. Será que ainda existem pessoas que pensam como Watson, ou seja, será que ainda existem behavioristas metodológicos? Claro que existem, mas nem tudo está perdido. A ênfase de Watson nos experimentos controlados levou a Psicologia a mares nunca antes navegados... A visão de Homem de Watson, mesmo incompleta, possibilitou que inúmeras técnicas de sucesso fossem criadas, para o tratamento de diversos problemas humanos, até então sem solução. A ênfase de Watson foi considerada extrema, até mesmo na época. Burrhus Frederic Skinner critica Watson pela sua negação das características genéticas, assim como pela sua tendência a generalizar, sem base em dados reais. B.F.Skinner foi um behaviorista metodológico até 1945, quando rompeu definitivamente com este behaviorismo, por discordar de sua incompletude. Apresentou, então, outro ponto de vista sobre o comportamento humano, estritamente pessoal. B.F.Skinner é considerado o pai do behaviorismo radical Vamos utilizar como leitura complementar o texto dos autores: Diego Zílio e Kester Carrara. ______________________________________________________________________ UMA BREVE INTRODUÇÃO AO BEHAVIORISMO METODOLÓGICO Diego Zilio 1 Kester Carrara 2 Proposto como uma alternativa às psicologias estruturalistas e funcionalistas, o behaviorismo metodológico tem como principal precursor John B. Watson (1878-1958). O intento da Psicologia, segundo Watson, é prever e controlar seu objeto de estudo, isto é, o comportamento. O comportamento a nada mais equivaleria, numa primeira aproximação, do que respostas, reações, ou ajustamentos a certos eventos antecedentes (estímulos). Fisiologicamente, as respostas são mudanças observáveis do organismo referentes aos seus músculos e glândulas. Elas são causadas pela ação de estímulos, antecedentes imediatos às respostas, localizados no ambiente. A delimitação do objeto de estudo da Psicologia feita de tal maneira deixa transparecer muito a respeito da filosofia de ciência e metodologia que sustentam o behaviorismo metodológico. Watson se apoiava num determinismo materialista. Ou seja, apenas fenômenos físicos causariam fenômenos físicos, não havendo espaço para ontologia diferente. Outra característica do behaviorismo metodológico é a defesa da verdade por consenso. Trata-se da idéia de que o objeto de estudo tem que ser observável por mais de uma pessoa e que a verdade a seu respeito é fruto de pesquisas e experimentos cujos resultados são consensuais entre os pesquisadores. É por essa razão, pelo menos, que Watson nega veementemente a introspecção como método da Psicologia. O uso da introspecção seria o maior obstáculo ao progresso da Psicologia enquanto ciência. A mente, a consciência, as emoções, etc., por serem inobserváveis, foram ignoradas – ou, ao menos, evitadas - por Watson em seus estudos. Nada poderia ser dito a respeito desses fenômenos sem ferir os pressupostos metodológicos de seu behaviorismo. É importante notar, todavia, que Watson em momento algum nega a existência de tais fenômenos; apenas os exclui de uma análise científica. Em razão disso, há um debate sobre sua posição em relação ao problema mente-corpo. Seria Watson um dualista? Um epifenomenalista? Trata-se de uma questão em aberto. A definição de conceitos em termos observáveis também é de extrema importância para o behaviorismo metodológico. O pensar, por exemplo, para Watson, seria uma resposta não-observável, produto da linguagem, verbal ou não, do organismo 1 Aluno do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Bauru. Contato: [email protected] 2 Professor do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Bauru. Contato: [email protected] e, em decorrência disso, não passível de experimentação científica. O método de Watson para estudar tal comportamento verbal é semelhante, na prática, ao da introspecção. Muda-se, todavia, a interpretação do fenômeno estudado. Ao passo em que no experimento introspeccionista há um experimentador e um observador que relata suas experiências internas, no experimento behaviorista metodológico, o experimentador é o observador: ele observa o comportamento do sujeito experimental quando este relata suas experiências internas. Nesse sentido, para o behaviorismo metodológico, descrever o comportamento observável do sujeito é explicar tal comportamento (ainda que não, necessariamente, no sentido machiano). Portanto, para o behaviorismo metodológico, definir um fenômeno, um comportamento, um objeto, um fato da natureza, é descrevê-lo em termos objetivos. Watson, adepto do evolucionismo, realizou pesquisas tanto com seres humanos quanto com outros animais. Suas pesquisas com crianças foram as mais célebres. Levado pela discussão a respeito da questão do inato versus aprendido na psicologia do desenvolvimento, Watson resolveu aplicar sua metodologia em crianças recém-nascidas para, assim, levantar dados que delimitassem o que seria aprendido e o que seria herdado por elas. Ele traçou, passo a passo, o desenvolvimento de reações dessas crianças a diversos estímulos. Descobriu um grande repertório de atividades reflexas (chorar, piscar, fechar o punho, espirrar, etc.) que apareciam em uma seqüência bem definida em todas as crianças participantes dos experimentos. Localizou, também, três tipos de respostas emocionais (que foram definidas operacionalmente): medo, raiva e amor. A partir desses experimentos com crianças Watson desenvolveu parte de seu arcabouço conceitual. Pesquisou a respeito do reflexo condicionado (aprendido) e observou fenômenos como a transferência e o descondicionamento. O primeiro diz respeito à capacidade dos organismos para generalizar as funções dos estímulos para estímulos semelhantes. Um caso célebre, resultado de um experimento feito pelo próprio Watson, mostra, de forma clara, o que isso significa. Watson condicionou uma criança a ter medo (definido operacionalmente como prender a respiração, semicerrar as pálpebras e chorar) de um rato branco. Toda vez que o rato era colocado no mesmo ambiente que a criança, um som alto era produzido. O comportamento inicial da criança para com o rato era amistoso e exploratório, condição que se modificou após o pareamento do rato com o som alto. Toda vez que o rato era colocado no mesmo ambiente, depois do condicionamento, a criança apresentava comportamento de medo. Entretanto, o condicionamento não parou por aí. Sem a manipulação direta de Watson, a criança passou a ter medo, também, de qualquer objeto branco que fosse apresentado a ela. Incluem-se chumaços de algodão, coelhos, casaco de pele, e até uma máscara do Papai Noel com sua barba branca. A esse fenômeno Watson deu o nome de transferência. Outra preocupação de Watson diz respeito à possibilidade de descondicionamento. Ou seja, seria possível à criança antes citada desaprender a ter medo do rato branco e de objetos semelhantes a ele? Segundo Watson, sim. Em situações experimentais ele fez com que crianças desaprendessem a ter medo dos mais diversos objetos. Watson, tomado pelo sucesso de seus experimentos, chegou a negar a existência de qualquer influência hereditária nos comportamentos complexos dos adultos. Segundo ele, esses comportamentos seriam resultantes da aprendizagem (condicionamento) a partir das respostas básicas, como as localizadas nas crianças recém-nascidas de seus experimentos, não aprendidas (reflexos). Note-se que Watson não afirma que o organismo é uma tabula rasa, mas sim que o pequeno repertório de reflexos das crianças já é o bastante para possibilitar o surgimento de comportamentos complexos. Ele é contra, portanto, às idéias de “capacidades”, “dons”, “predisposições”, “talentos”, comumente presentes nos discursos de sua época. A questão é que a característica minimalista do reflexo não possibilita a ele ser chamado de “dom” ou “talento”. Por outro lado, o repertório de reflexos de uma criança recém-nascida, segundo Watson, possibilita o desenvolvimento de comportamentos complexos que, por sua vez, geram a ilusão da existência desses construtos. Por conseqüência, ocorre a falsa interpretação inatista do comportamento. Daí a frase célebre e controversa de Watson segundo a qual ele poderia transformar qualquer criança recém-nascida sadia no que ele bem quisesse, desde um artista até um ladrão. Watson foi uma figura polêmica da psicologia norte-americana. Seus textos são constantemente recheados de frases de caráter duvidoso e polêmico. Suas atitudes públicas, por sua vez, não perdem em teor polêmico para os seus textos. Entretanto, não podemos deixar de negar sua importância para o desenvolvimento de um programa de pesquisa dentro da Psicologia denominado behaviorismo. Watson mostrou uma possibilidade de caminho com sua ciência da Psicologia que resultou no surgimento de muitos outros teóricos e seus respectivos behaviorismos. É por causa desse fato que o presente texto se limitou a expor as idéias principais de tal teórico de uma forma acrítica. Idéias essas que muitas vezes, infelizmente, acabam se tornando “caricatas” dentro da Psicologia devido às críticas rasas que as têm como alvo. Um dos teóricos que, apoiado parcialmente nas idéias de Watson, construiu um neobehaviorismo foi E. C. Tolman (1886-1959). Todavia, mesmo tendo partido do behaviorismo de Watson, Tolman não o aceitou por completo. O arcabouço teórico de Watson, em que os estímulos e respostas seriam passíveis de definição em termos físicos (contrações musculares e percepções glandulares) foi veementemente negado por Tolman, pois não dariam conta de todo o fenômeno que envolve o comportamento. Dessa negação surge o seu, comumente denominado, behaviorismo cognitivo. Como o nome já evidencia, Tolman, ao mesmo tempo em que atribuía grande importância aos métodos experimentais propostos pelo behaviorismo, servia-se de explicações cognitivistas. Seria possível afirmar que, em grande medida, Tolman seguiu a lógica metodológica behaviorista em seus experimentos. Todavia, as explicações dadas por ele a respeito dos fenômenos estudados mesclavam características de uma abordagem cognitiva. É possível afirmar, portanto, que Tolman parte da negação do behaviorismo fisiológico de Watson. Sua alternativa, por sua vez, culminou no behaviorismo cognitivo. Isso se deu graças a sua aceitação das explicações intencionais e, por conseqüência, teleológicas do comportamento. Tolman acreditava que comportamentos complexos podiam ser explicados pela intenção-objetivo dos organismos. Trata-se, em poucas palavras, de atribuir a causa de um comportamento ao propósito ou intenção do organismo que se comporta. Um rato em privação de água pressiona uma barra. O comportamento de pressionar a barra é reforçado porque segue-se a ele uma gota de água. O rato em questão passa a se comportar dessa maneira continuamente. Tolman explicaria tal comportamento afirmando que o rato pressiona a barra porque tem a intenção ou propósito de beber água; e como ele sabe que, se a barrar for pressionada, ele obterá água, conseqüentemente, ele a pressionará quando esse for seu desejo. Tratase de uma explicação cognitivista (pois utiliza termos mentalista) que, por ser intencional, aceita uma causalidade teleológica. Para sustentar a possibilidade de que um organismo seja intencional e possua seus propósitos, Tolman sugeriu a existência de mapas cognitivos. Esses mapas seriam estados de prontidão do organismo cuja função seria orientá-lo em direção aos seus objetivos. Esses mapas cognitivos estariam bem próximos, em definição, de construtos cognitivos como “memória”, “atenção”, “consciência”, “processamento de informação”, etc. Ou seja, são processos cognitivos que possibilitariam ao organismo agir intencionalmente. Ao incluir termos cognitivistas em seu vocabulário também behaviorista, Tolman postula as chamadas variáveis intervenientes. Essas variáveis estariam no meio da cadeia causal do comportamento: entre os estímulos antecedentes e as respostas (o comportamento propriamente dito). Seriam variáveis intervenientes disposições do organismo (fome, sede, raiva, etc.), os mapas cognitivos, os pensamentos; enfim, os processos mentais de forma geral. Pode-se dizer que Tolman também foi influenciado pela psicologia da Gestalt. Essa influência é evidente em sua divisão do comportamento em duas esferas: molecular e molar. A primeira delas diz respeito aos estudos fisiológicos que envolvem o comportamento. Já a segunda seria a esfera própria da psicologia, pois trataria do comportamento como um fenômeno que emerge do mundo físico, mas que, ao mesmo tempo, é irredutível a ele. Em poucas palavras, embora possa ser particionado pela física e química, o comportamento como um todo é maior que a soma dessas partes. Outro teórico que também seguiu a linha behaviorista, mas que, assim como Tolman, discordou de Watson, foi C. L. Hull (1894-1952). Seu behaviorismo se fundamentou sobre a idéia do reflexo condicionado. Entretanto não se trata do reflexo condicionado tal qual Pavlov o concebia: para Hull tal reflexo seria uma situação de aprendizagem simplificada de grande importância às análises experimentais behavioristas. Para Hull, embora simples, os resultados e constatações adquiridas nas análises de tais situações de aprendizagem por meio do reflexo condicionado poderiam ser transferidas para situações mais complexas. Hull deu grande ênfase à lógica dedutiva e matemática em suas explicações. Essas dariam sustentação – ao menos argumentativa – para suas generalizações, em que leis situacionais que envolviam o reflexo condicionado eram utilizadas para explicar comportamentos mais complexos. Hull também acatou a idéia de variável interveniente de Tolman e, por conseqüência, acabou por admitir a existência de fenômenos mentais. Por essa razão, seu behaviorismo é comumente chamado de metafísico. Entretanto, as variáveis intervenientes de Hull se referiam às condições antecedentes do organismo como, por exemplo, o número de ensaios de reforço, a intensidade do estímulo e o tempo de duração dos experimentos. É possível afirmar, portanto, que Hull sempre prezou por uma definição objetiva das variáveis intervenientes. Por esse motivo, e devido à sua grande ênfase em uma metodologia objetiva, seu behaviorismo também é denominado fisicalista. Foi no campo das teorias da aprendizagem que as idéias de Hull surtiram mais efeito. Isso se dá, justamente, por sua definição de reflexo condicionado como sendo um processo de aprendizagem cujos resultados e constatações são transferíveis aos processos mais complexos. É, inclusive, por essa razão que o método de Hull pode ser denominado hipotético-dedutivo. Ou seja, ele generaliza seus postulados – construídos com base em situações experimentais simples – a situações complexas que dificilmente os sustentariam empiricamente. Todavia, em sua argumentação lógico-dedutiva e matemática, não havia incoerências em tais generalizações. Por essa razão, é comumente afirmado que o sistema teórico de Hull tinha aparência, mas não realidade. Depois de Hull vieram outros behavioristas e, conseqüentemente, outros behaviorismos. Entretanto, nenhum promoveu tanto impacto quanto o behaviorismo radical de B.F. Skinner. Bibliografia básica: CARRARA, K. (2005) Behaviorismo radical: Crítica e metacrítica. São Paulo: Editora Unesp. HULL, C. L. (1943). Principles of behavior. New York: Appleton. Keller, F. S. (1970). A Definição da Psicologia: Uma Introdução aos Sistemas Psicológicos (R. Azzi, Trad.). São Paulo: Herder (Trabalho original publicado em 1965). TOLMAN, E. C. (1922). A new formula for behaviorism. Psychological Review, 29, 44-53. Disponível em: http://psychclassics.yorku.ca/Tolman/formula.htm TOLMAN, E. C. (1932). Purposive behavior in animals and men. New York: Appleton. TOLMAN, E. C. (1948). Cognitive maps in rats and men. Psychological Review, 55, 85-112. Disponível em: http://psychclassics.yorku.ca/Tolman/Maps/maps.htm Watson, J. B. (1913). Psychology as the behaviorist views it. In: Psychological Review, 20, 158177. Disponível em: http://psychclassics.yorku.ca/Watson/views.htm Watson, J. B. (1924). Psychology from the Standpoint of a Behaviorist. Philadelphia, J. B. Lippincott Company. Watson, J. B. (1930). Behaviorism. New York: W. W. Norton and Company.