Reação de espécies de cucurbitáceas à infecção com o Zucchini lethal chlorosis virus (ZLCV). José Segundo Giampan, Jorge A. M. Rezende. ESALQ/USP, Depto. Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola, C.P. 9, 13418-900, Piracicaba-SP. email: [email protected]. RESUMO O ZLCV é um tospovirus que infecta diversas espécies de cucurbitáceas e sua ocorrência tem aumentado significativamente nos últimos anos. Com a finalidade de avaliar a reação de sete espécies de cucurbitáceas à infecção com o ZLCV, foram instalados experimentos em campo e em casa de vegetação no Setor de Fitopatologia da ESALQ/USP. No experimento em campo, o delineamento experimental foi o quadrado latino. A infecção das plantas ocorreu naturalmente. Em casa de vegetação, as plantas foram obtidas em vaso e inoculadas mecanicamente com o ZLCV no estádio cotiledonar. A avaliação foi feita com base no monitoramento dos sintomas e por PTA-ELISA. A abobrinha de moita ‘Caserta’ e a abóbora híbrida do tipo Tetsukabuto apresentaram alta suscetibilidade em todos os testes. O pepino ‘Safira’ apresentou baixa infecção em campo e intermediária em casa de vegetação. Enquanto que maxixe do Norte, melancia ‘Crimson Sweet’ e abóbora rasteira ‘Menina Brasileira’ apresentaram valores menores de infecção. A moranga ‘Exposição’ não foi infectada tanto em campo como em casa de vegetação, sugerindo ser resistente. Palavras-chave: Cucurbita spp., Citrullus lanatus, Cucumis spp., resistência, tospovirus. ABSTRACT - Reaction of cucurbits species to infection with Zucchini lethal chlorosis virus (ZLCV). ZLCV is a tospovirus that infects species of cucurbits and its occurrence has increased significantly in the last years. The purpose of the present work was to evaluate the reaction of seven species of cucurbits to infection with ZLCV under field and greenhouse conditions at the Plant Pathology Section of ESALQ/USP. The field experiment was arranged in latin square. ZLCV infection occurred naturally. In the greenhouse, plants cultivated in pots were mechanically inoculated with ZLCV at the cotyledonal stage. The infection by ZLCV was based on symptoms expression and PTA-ELISA. Zucchini squash ‘Caserta’ and hybrid squash type Tetsukabuto showed high susceptibility in all trials. The cucumber ‘Safira’ presented low percentage of infected plants in the field and intermediate in the greenhouse. Northern gherkin, watermelon ‘Crimson Sweet’ and long neck squash ‘Menina Brasileira’ presented lower values of infected plants. Winter squash ‘Exposição’ was resistant to infection under field and greenhouse conditions. Keywords: Cucurbita spp., Citrullus lanatus, Cucumis spp., resistance, tospovirus. INTRODUÇÃO As cucurbitáceas são infectadas por diversos vírus, dentre os quais encontra-se uma espécie do gênero Tospovirus, caracterizada como Zucchini lethal chlorosis virus (ZLCV) (Bezerra et al., 1999), transmitida por Frankliniella zucchini. Nos últimos anos, o ZLCV tem sido encontrado com freqüência em alguns plantios de cucurbitáceas, estando normalmente associado a danos severos. O círculo de hospedeiros do ZLCV foi estudado por alguns autores em condições experimentais de casa de vegetação, tendo verificado que este infecta apenas espécies das famílias Amaranthaceae, Cucurbitaceae e Solanaceae. Dentre as cucurbitáceas, o vírus infectou abóbora rasteira ‘Menina Brasileira’, abobrinha de moita, melancia, melão e pepino (Rezende et al., 1997; Bezerra et al., 1999). Até o momento, não há medidas eficientes de controle dessa virose e não se conhece fontes de resistência a esse vírus. Assim, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a reação de diferentes espécies de cucurbitáceas à infecção com o ZLCV em campo e em casa de vegetação. MATERIAL E MÉTODOS A reação das diferentes espécies de cucurbitáceas à infecção natural com o ZLCV foi avaliada no campo experimental do Setor de Fitopatologia da ESALQ/USP, Piracicaba, onde é freqüente a alta incidência desse vírus. As espécies testadas foram: abobrinha de moita ‘Caserta’ (Cucurbita pepo), abóbora rasteira ‘Menina Brasileira’ (C. moschata), moranga ‘Exposição’ (C. maxima), abóbora híbrida (C. maxima x C. moschata) do tipo Tetsukabuto, melancia ‘Crimson Sweet’ (Citrullus lanatus), pepino ‘Safira’ (Cucumis sativus) e maxixe do Norte (C. anguria). O delineamento experimental utilizado foi o quadrado latino, com 2 blocos e 3 plantas por parcela. As plantas foram obtidas através da semeadura direta em covas previamente preparadas com adubo mineral e esterco curtido. A bordadura foi constituída por abobrinha de moita ‘Caserta’. A avaliação da infecção foi feita com base no aparecimento dos sintomas típicos da virose. A confirmação da infecção foi feita por meio do teste PTA-ELISA, usando antissoro policlonal específico para o ZLCV (gentilmente cedido pelo Dr. A.C. de Ávila, Embrapa, CNPH). A reação das mesmas espécies à infecção com o ZLCV também foi avaliada em dois experimentos independentes em casa de vegetação. As plantas-teste foram obtidas em vasos e inoculadas mecanicamente com o ZLCV no estádio cotiledonar. A avaliação foi feita com base nos sintomas e na indexação do vírus por PTA-ELISA. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados da reação das espécies de cucurbitáceas à infecção natural com o ZLCV estão apresentados na Tabela 1. A abóbora híbrida do tipo Tetsukabuto e a abobrinha de moita ‘Caserta’ mostraram alta suscetibilidade ao vírus. A abóbora ‘Menina Brasileira’, o maxixe do Norte, o pepino ‘Safira’ e a melancia ‘Crimson Sweet’ apresentaram menor suscetibilidade à infecção natural. Nenhuma planta de moranga ‘Exposição’ foi infectada com o ZLCV. Os resultados de dois testes realizados em casa de vegetação estão apresentados na Tabela 2 e corroboram aqueles obtidos em campo. A abobrinha de moita ‘Caserta’ foi altamente suscetível à infecção, seguida pela abóbora híbrida do tipo Tetsukabuto e pelo pepino ‘Safira’. A melancia ‘Crimson Sweet’, o maxixe do Norte e a abóbora rasteira ‘Menina Brasileira’ confirmaram a menor suscetibilidade exibida em campo. A moranga ‘Exposição’ novamente não apresentou nenhuma planta infectada. A resistência de cucurbitáceas a outros vírus tem sido bem estudada. Provvidenti (1982) foi o primeiro a reconhecer um caso de resistência de um acesso de moranga (ZR-1) a Papaya ringspot virus – type W (PRSV-W). Garcia-de-Salcedo (1984) descreveram 7 acessos brasileiros de moranga também resistentes ao PRSV-W. Maluf et al. (1986) também descreveram diversas fontes de resistência ao PRSV-W entre acessos brasileiros de moranga e de abóbora rasteira. A resistência de moranga ao PRSV-W é poligênica, com predominância de efeito de genes aditivos (Maluf et al., 1997). No caso de abóbora rasteira, Provvidenti et al. (1978) relataram a resistência dessa espécie ao PRSV-W, Zucchini yellow mosaic virus (ZYMV) e Cucumber mosaic virus (CMV). Brown et al. (2003) estudaram a herança dessa resistência e constataram que ela é monogênica dominante para o ZYMV e CMV e monogênica recessiva para o PRSV-W. Com base nos resultados pode-se inferir que a moranga ‘Exposição’ apresenta alto nível de resistência à infecção com o ZLCV. Estudos mais aprofundados estão sendo realizados para melhor caracterização da resistência e de sua base genética. LITERATURA CITADA BEZERRA, I.C., RESENDE, R.O.; POZZER, L.; NAGATA, T.; KORMELINK, R.; ÁVILA, A.C. Increase of tospoviral diversity in Brazil with the identification of two new tospovirus species, one from chrysanthemum and one from zucchini. Phytopathology, v.89, n.9, p.823-830, 1999. BROWN, R.N.; BOLANOS-HERRERA, A.; MYERS, J.R.; JAHN, M.M. Inheritance of resistance to four cucurbit viruses in Cucurbita moschata. Euphytica, v.129, p.253–258, 2003. GARCIA-DE-SALCEDO, M.J. Resistência ao mosaico da melancia raça 1 e sua herança em moranga Cucurbita maxima Duch. 1984. 76 p. Tese (Mestrado em Genética e Melhoramento de Plantas), ESALQ, USP, Piracicaba. MALUF, W.R.; MOURA, W.M.; SILVA, I.S.; CASTELO-BRANCO, M. Screening of Cucurbita spp. accessions for resistance to watermelon mosaic virus-1. Revista Brasileira de Genética, v.9, n.1, p.161–167, 1986. MALUF, W.R.; PEREIRA, J.J.; A.R. FIGUEIRA. 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Espécie Abobrinha de moita ‘Caserta’ Abóbora híbrida Tetsukabuto Abóbora ‘Menina Brasileira’ Maxixe do Norte Melancia ‘Crimson Sweet’ Moranga ‘Exposição’ Pepino ‘Safira’ No plantas infectadas/ no plantas avaliadas 12/24 33/46 8/47 5/31 2/24 0/46 6/39 % de infecção 50,0 71,7 17, 0 16,1 8,3 0,0 15,4 Tabela 2. Infectividade do ZLCV em sete espécies de cucurbitáceas inoculadas mecanicamente em casa de vegetação. Espécie Abobrinha de moita ‘Caserta’ Abóbora híbrida Tetsukabuto Abóbora ‘Menina Brasileira’ Maxixe do Norte Melancia ‘Crimson Sweet’ Moranga ‘Exposição’ Pepino ‘Safira’ No plantas infectadas / no plantas avaliadas Teste 1 Teste 2 Total 7/7 25/28 32/35 10/14 11/28 21/42 3/14 5/30 8/44 4/18 6/26 10/44 3/17 8/27 11/44 0/15 0/27 0/42 5/12 9/22 14/34 % de infecção 91,4 50,0 18,2 22,7 25,0 0,0 41,2