Obras futuras - corecon

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nº
março/abril 2011
Publicação do Conselho Regional de Economia - 2ª Região - CORECON-SP
Obras
futuras
Economistas analisam tendências
e questões de infraestrutura do
Brasil pré-Copa e Olimpíadas
Economista,
uma profissão legal!
O registro representa o seu compromisso legal
com a sociedade. Só poderão exercer a profissão
de Economista os bacharéis em Ciências Econômicas devidamente registrados nos Conselhos Regionais de Economia (CORECONs) aos quais será
fornecida a Carteira de Identidade Profissional.
A profissão de Economista foi instituída pela Lei
1.411/1951, e regulamentada posteriormente pelo
Decreto 31.794/52 e Resoluções do Conselho Federal de Economia (COFECON).
A Carteira de Identidade Profissional é expedida
pelos CORECONs e constitui prova de identidade
para todos os efeitos legais, bem como para prova
do exercício profissional e tem fé pública em todo
o território nacional.
Também serão registradas as empresas, entidades e escritórios que explorem, sob qualquer forma, atividades técnicas de Economia e Finanças.
A falta do registro torna ilegal o exercício da
profissão de Economista, passível de punição.
O registro no Conselho Regional de Economia
não só habilita o Economista ao exercício da profissão, como protege a sociedade, não facilitando
a atuação dos maus profissionais.
Registre-se no CORECON-SP e tenha acesso a
diversos serviços e benefícios oferecidos aos profissionais e estudantes.
Fale com o Setor de Registros no fone (11)
3291-8716, ou envie um e-mail para registro@
coreconsp.org.br e receba as instruções para o
exercício legal da profissão. Acesse o site www.
coreconsp.org.br para obter a relação dos documentos necessários.
Conselho Regional
de Economia
2ª Região - SP
Sumário
Conselheiros efetivos: Antonio Luiz de Queiroz Silva, Carlos Alberto
Safatle, Celina Martins Ramalho, Gílson de Lima Garófalo, João Pedro da Silva, Manuel Enriquez Garcia, Marco Antonio Sandoval de
Vasconcellos, Nancy Goreti Gorgulho Chaves Braga, Pedro Afonso
Gomes, Synésio Batista da Costa, Wilson Abrahão Rabahy
Conselheiros Suplentes: Cláudio Gonçalves dos Santos, Francisco da
Silva Coelho, José Dutra Vieira Sobrinho, Modesto Stama, Orozimbo
José de Moraes, Paulo Brasil Correa de Mello, Paulo Henrique Coelho
Prado, Paulo Joel Bruno, Roberto Luis Troster, Simão Davi Silber, Teruo
Hida, Vera Martins da Silva
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Conselheiros por São Paulo do
Conselho Federal de Economia - COFECON:
Efetivos - Jin Whan Oh, Paulo Brasil Correa de Mello, Synésio Batista da
Costa, Waldir Pereira Gomes e Wilson Roberto Villas Boas Antunes
Suplentes - Antonio Luiz de Queiroz Silva, Carlos Eduardo S. Oliveira
Jr., Carlos Roberto de Castro, João Pedro da Silva, Pedro Afonso Gomes
Administração: Rua Líbero Badaró, 425 – 14º andar – Centro
São Paulo - SP – Tel.: (11) 3291-8700 – Fax: (11) 3291-8701
E-mail: [email protected]
Assessoria de imprensa: Hélio Perazollo
DELEGACIAS REGIONAIS
ABC – Delegado: Leonel Tinoco Neto
(11) 4436-6482 – www.abc.coreconsp.org.br
Araçatuba – Delegado: Alair Orlando Barão
(18) 3624-5311 - www.aracatuba.coreconsp.org.br
Bauru – Delegado: Reinaldo César Cafeo
(14) 3227-1646 – www.bauru.coreconsp.org.br
Campinas – Delegado: Paulo César Adani
(19) 3236-2664/9742 – www.campinas.coreconsp.org.br
Jundiaí – Delegado: Marino Mazzei Júnior
(11) 4586-6121 – www.jundiai.coreconsp.org.br
Presidente Prudente – Delegado: Álvaro Barboza dos Santos
(18) 3223-9015 – www.presidenteprudente.coreconsp.org.br
Ribeirão Preto – Delegado: Fabiano Augustio Alvarenga Guimarães
(16) 3610-6126 – www.ribeiraopreto.coreconsp.org.br
Santos – Delegado: Arnaldo de Almeida Carvalho
(13) 3284-9890 – www.santos.coreconsp.org.br
São José dos Campos – Delegado: Jair Capatti Jr
(12) 3941-5201 – www.saojosedoscampos.coreconsp.org.br
São José do Rio Preto – Delegado: Hipólito Martins Filho
(17) 3233-0154 – www.saojosedoriopreto.coreconsp.org.br
Sorocaba – Delegado: Sidney Benedito de Oliveira
(15) 3233-3552 – www.sorocaba.coreconsp.org.br
04
Editorial
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Giuliano Contento de Oliveira
06
Gesner Oliveira
09
Wilson Abrahão Rabahy
12
Teruo Hida
14
Vera Martins da Silva
Núcleo de Criação e Desenvolvimento
Rua Cayowaá, 228 - Perdizes
São Paulo - SP - CEP: 05018-000
Fones: (11) 3875-5627 / 3875-6296
Site: www.rspress.com.br
Jornalista responsável: Roberto Souza (Mtb 11.408)
Editor-chefe: Fábio Berklian; Editor: Faoze Chibli
Editores-assistentes: Thiago Bento, Rodrigo Moraes
Reportagem: Amanda Campos e Marina Panham;
Projeto gráfico e direção de arte: Leonardo Fial
Diagramação:
Leonardo
março/abril
2011Fial, Luiz Fernando Almeida e Felipe Santiago
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Editorial
Economista: profissão em alta
Em 2006, por meio do CORECON-SP, os economistas de São Paulo promoveram uma campanha para a retomada do Crescimento Econômico Sustentado, antevendo que o Brasil já reunia naquele momento todas as condições
para alçar um voo alto e duradouro.
Passados cinco anos, com a inflação controlada, apesar de ainda elevada,
com a consolidação do processo democrático após sexta eleição presidencial,
o mundo finalmente reconhece o Brasil como uma potência no presente,
realidade prevista por nós, economistas.
Mesmo diante de um cenário pós 2008 de crise na economia mundial,
a população brasileira vivia a tranquilidade e colhia os frutos das medidas
austeras propostas anos atrás pelos economistas brasileiros para o País.
Para a próxima década, mais precisamente 2022, quando o Brasil estará
comemorando do Bicentenário da Independência, os economistas terão mais
uma grande missão, para a qual deverão estar preparados: consolidar o atual crescimento e tornar perene essa experiência de estabilidade econômica
a qual já vivemos hoje, continuando a promover a racionalidade econômica
quer no âmbito do setor privado como público, visando superar dificuldades
como o elevado grau de desigualdade, as deficiências no sistema educacional
e envelhecimento da população brasileira, entre outras prioridades.
Há seis décadas quando nossa profissão foi regulamentada, pouco se falava em Economia e muito menos de economistas. Hoje, temos uma economista na Presidência da República, Dilma Rousseff, e é cada vez maior
a presença de economistas em importantes funções no setor privado e em
funções de governo estadual, municipal e de Ministro de Estado.
Neste ano de 2011 quando comemoramos 60 anos de regulamentação da
profissão, vimos que as questões econômicas são cada vez mais relevantes
do ponto de vista da política social. E essa é mais uma grande oportunidade
para o crescimento dos economistas no cenário nacional. Somos uma Classe
Profissional em alta, nas empresas, na mídia, na opinião pública e junto aos
formadores de opinião.
Brasil não é mais um sonho, mas sim realidade. E os economistas têm
muita responsabilidade nesse processo de crescimento sustentado e estabilidade econômica. A profissão economista não é mais do futuro, porque o
futuro já chegou e virou presente.
Um presente dos Economistas à sociedade brasileira.
Heron do Carmo, Presidente do CORECON-SP
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Artigo
Dilemas recentes de
política econômica
*Giuliano Contento de Oliveira
Depois de duas décadas perdidas,
a partir de 2004 a economia brasileira voltou a crescer a taxas mais
elevadas – com exceção de 2009, por
conta da crise global. Não se pode negar que o ambiente de farta liquidez
internacional e de redução do patamar médio da taxa de juros propiciou
margem de manobra para a realização
de políticas voltadas à ampliação da
demanda interna. O aumento do salário real e do emprego e a ampliação
dos programas de transferência de
renda concorreram para dinamizar a
demanda doméstica e incentivar os
investimentos privados.
Mais recentemente, contudo, a
estratégia de crescimento baseada
no mercado interno tem passado
por sérios constrangimentos, impondo relevantes dilemas de política
econômica. Em vista da defasagem
temporal entre a realização dos investimentos e a ampliação da capacidade produtiva, a inflação tem sofrido pressões de alta, movimento que
ensejou o início de um novo ciclo de
aumento da taxa básica de juros.
Nesse contexto, o debate econômico recente tem girado em torno
das medidas necessárias para con-
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ter as pressões inflacionárias. Para
os mais ortodoxos, as iniciativas
implementadas pelo governo para
conter a valorização cambial são
equivocadas, pois evitam contrapesar as pressões sobre a inflação
decorrentes do aumento dos preços
das commodities. Desconsideram,
porém, que a valorização excessiva
da taxa de câmbio, além de potenciar o desajuste das contas externas, afeta adversamente muitos
setores da economia, sobretudo os
mais intensivos em tecnologia.
Outros economistas têm recomendado um substancial aumento
do superávit fiscal primário para arrefecer o crescimento da demanda
interna e, por extensão, o aumento
da taxa básica de juros requerido
para viabilizar o cumprimento da
meta para a inflação em 2011. Não
obstante, essa medida pode implicar uma importante retração do
investimento público e, assim, recolocar as pressões sobre a inflação
mais adiante, ante as dificuldades
de redução substancial das despesas
correntes no curto prazo.
Diante da impossibilidade de
escolhas plenamente ótimas, uma
alternativa para lidar com os constrangimentos impostos pela conjuntura recente, sem comprometer
a capacidade de crescimento futuro
da economia brasileira, seria um esforço fiscal adicional e ajustar a margem da taxa básica de juros, além
de trabalhar com o teto da meta de
inflação em 2011 e flexibilizar o arcabouço do regime de metas.
Se, de um lado, uma inflação
maior tende a reduzir a participação
dos salários na renda nacional no
curto prazo, de outro, o menor aperto monetário e fiscal requerido afetaria menos adversamente o investimento público e as decisões privadas
de inversão, mantendo as condições
para a continuidade do crescimento
sustentado do emprego e da renda. Finalmente, o novo ciclo de alta
da taxa de juros, num contexto de
abundância de dólares no mundo,
pode exigir a imposição de medidas
governamentais adicionais para evitar a sobrevalorização cambial.
* Giuliano Contento de Oliveira é Professor Doutor do Instituto de Economia
da Universidade Estadual de Campinas
(IE/Unicamp)
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Entrevista
Gesner Oliveira
Por Amanda Campos
V
Economia
dinâmica
Ex-presidente da Sabesp, Gesner Oliveira
faz um balanço sobre sua gestão e aponta
quais avanços devem ser prioritários
em áreas como sustentabilidade e
ensino universitário no Brasil
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e rsatilidade. É o que o
mercado profissional exige, e o conceito que deve
ser adotado pelos profissionais da
economia, de acordo com Gesner
Oliveira. E desde que se graduou
economista pela Faculdade de
Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP),
Oliveira coloca isso em prática. O
economista já foi secretário interino de acompanhamento econômico do Ministério da Fazenda, presidente do Conselho Administrativo
de Defesa Econômica (CADE), da
Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e do próprio Conselho Regional de Economia de São Paulo
(CORECON-SP).
Hoje, como professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Oliveira
afirma que as universidades também precisam aderir ao conceito
dinâmico da profissão e que os
currículos devem sempre ser atualizados. Doutor em economia pela
Universidade da Califórnia (UCLA,
em inglês), nos EUA, e mestre na
área pelo Instituto de Economia da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Oliveira acredita
que para chegar à universalização
de políticas públicas como saneamento básico, o Brasil precisa atingir os “300%” ideais. “São 100%
de distribuição de água, 100% de
coleta de esgoto e 100% de tratamento de esgoto”, explica.
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Também sócio da GO Associados, o mestre em economia analisa a relação entre as áreas empresarial, acadêmica e social. Quem
souber atuar nos segmentos simultaneamente garantirá mais espaço
no mercado de trabalho, defende.
Segundo Oliveira, ter a capacidade de traduzir conhecimento econômico teórico em prático é importante, pois o economista deve
ter a preocupação de dialogar com
todas as ciências.
O Economista - Como avalia sua
gestão frente à Sabesp, de 2007
a 2010?
Gesner Oliveira – Avançamos
em vários aspectos importantes.
Vou enumerar os três principais. O
primeiro é que dobramos o patamar de investimento da empresa.
A Sabesp investia, entre 2003 e
2006, cerca de R$ 800 milhões ao
ano em água e esgotamento sanitário. De 2007 a 2010, passamos
para R$ 1,8 bilhão anuais. Mais
que dobramos o patamar de investimento. O segundo é a expansão
da Sabesp para novos municípios.
A companhia fez parcerias para
atuar em cidades onde ela antes
nunca havia atuado. É o caso de
Mogi Mirim, onde fizemos parceria com a OHL Brasil. Depois,
foi firmado acordo com a Foz do
Brasil para produzir água de reuso no pólo petroquímico de Capuava (SP). Não é água potável,
mas é importante para o processo
industrial, pois permite seu desenvolvimento. Houve ainda a geração de eletricidade por pequenas
centrais de hidroelétricas, o que
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é uma novidade. Terceiro aspecto importante é a difusão de uma
área sustentável na empresa. A
Sabesp não tinha área focada no
meio ambiente. Mas a companhia
se transformou em uma empresa
de soluções ambientais.
O Economista – Levantamento do IBGE realizado entre 2000
e 2008 define a região Sudeste
como a única do País onde todos
os municípios têm abastecimento
de água por rede geral em pelo
menos um distrito. O senhor acredita que esse é o grau máximo de
desempenho das instituições ligadas a distribuição de água?
Oliveira - A Sabesp hoje é um
modelo de empresa, de investimento. E avançou muito nesse
aspecto da distribuição de água.
Mas ainda há muito a ser feito.
Tem toda a meta de universalização. Onde queremos chegar? O
ideal é atingirmos, em todos os
municípios, o que nós chamamos
de “300%”: 100% de distribuição
de água, 100% de coleta de esgoto
e 100% de tratamento de esgoto.
Essa é a situação que podemos
considerar ideal.
O Economista - Sua experiência como presidente do CADE e
nas outras funções que o senhor
desempenhou em sua carreira influenciaram a atuação como professor da Fundação Getúlio Vargas
(FGV)?
Oliveira - Há alguma influência, sim. Nós sempre trazemos
para a sala de aula nossas experiências profissionais. Assim como
a experiência na administração
de uma empresa pública é um importante exemplo para os alunos,
a discussão sobre a presidência
do CADE também é relevante. Por
causa do conhecimento que essas oportunidades me deram. Em
relação ao CADE, me aprofundei
em casos de análise, carteis, abuso do poder econômico, etc. Esses
aspectos são inclusive temas de
debates na FGV, e me permitiram
também orientar teses de alunos
sobre o assunto e realizar uma série de atividades acadêmicas.
O Economista – Qual sua avaliação sobre a grade curricular dos
cursos de ciências econômicas?
Oliveira - Avançamos no ponto
de vista de difundir a função do economista no mercado de trabalho.
Mas eu ainda chamaria a atenção
dessas instituições para que a grade curricular do curso seja sempre
atualizada, seguindo o caráter dinâmico do mercado de trabalho. O
mercado exige hoje um profissional
com grande capacidade analítica e
bastante versátil, que possa aplicar
o instrumental teórico da economia
nos diferentes campos de atividade.
Hoje, acredito que a economia do
meio ambiente deva ser incluída
na grade. Porque abordaríamos as
soluções ambientais e da saúde.
O economista hoje é chamado
para um conjunto mais amplo de
atividades. E também para ações
multidisciplinares. O currículo de
economia e as faculdades devem
ter em mente que se deve formar
profissionais prontos para atuar
em empresas que precisam de res-
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postas muito mais abrangentes e
complexas do que em relação às
do passado.
O Economista – Então aumentaram as possibilidades de atuação
no campo profissional?
Oliveira - Sim. Mas é importante que principalmente os jovens
economistas trabalhem muito em
três aspectos: capacidade analítica, capacidade de resolver problemas com um instrumental teórico sólido e preocupação com o
diálogo. É muito importante saber
traduzir as boas ideias e conceitos teóricos para a população,
assim como a tomada de decisão
das empresas. É importante que o
economista tenha sensibilidade de
transitar bem do conceito teórico
para o empresarial. O economista sempre deve ter a preocupação
de dialogar com todas as ciências.
Tem que estar apto a filosofia, sociologia, bem como ciências físicas e químicas, importantes para
a economia de baixo carbono.
O Economista - Por causa do
vazamento nuclear na usina de
Fukushima, no Japão, muito se
comenta sobre a segurança do
meio ambiente e da população,
caso haja um problema semelhante em Angra dos Reis (RJ).
Em sua opinião, o Brasil estaria
preparado para administrar uma
situação dessas?
Oliveira - Essa é uma questão
fundamental para todos os países
que utilizam a energia nuclear.
Eu acho que existem salvaguardas para enfrentar situações de
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vazamento, mas o episódio de
Fukushima nos obriga a rever - e
isso não se limita ao Brasil, mas a
todos os países que utilizam energia nuclear - os sistemas de segurança e de revisão. É claro que
eles (japoneses) enfrentaram terremotos de enormes proporções,
mas acredito que o vazamento
ilustra o fato de que a tecnologia
precisa avançar muito para prevenir acidentes nucleares.
O Economista - No artigo “Tecnologia e eficiência no saneamento”, o senhor afirma que o
saneamento constitui um dos segmentos mais atrasados da infraestrutura brasileira. De que forma o
País pode reverter essa situação?
Oliveira - É inaceitável que o
saneamento continue tão atrasado no País. E para reverter essa
situação, são necessários alguns
ingredientes básicos. Você precisa de planejamento, um plano
nacional de saneamento previsto na lei. Precisa ter também um
plano nacional que oriente, por
exemplo, as carteiras de financiamento da Caixa Econômica e do
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Hoje você não tem plano
nacional. Cada estado e município precisa ter seus planos de saneamento. São obras grandes que
requerem tempo, recursos e que
não podem ser interrompidas, sob
pena de um custo muito alto. A
maioria das empresas estaduais
de saneamento apresenta problemas de gestão. É preciso haver um
esforço grande para reduzir esse
número. A perda média do Brasil
em distribuição de água é de 40%.
Em países como o Japão, esse índice é menor que 10%. São recursos perdidos que poderiam estar
investidos em outros setores.
O Economista - O senhor já presidiu o CORECON-SP, qual a importância de um economista no
comando de uma estatal com a
Sabesp?
Oliveira - A formação de economista ajuda muito na administração tanto pública quanto privada,
tanto na direta quanto na indireta.
A formação do economista permite abordar vários assuntos que
saem do cotidiano de um executivo. Ela também permite análise
do cenário macroeconômico, o
que ajuda a tomar decisões mais
adequadas para cada momento.
Nisso a formação de economista
ajudou bastante no trabalho.
O Economista - Foi essa versatilidade na profissão que o levou a
escolher a economia?
Oliveira - Confesso que se hoje
eu fosse entrar na universidade
novamente, eu escolheria o curso por essa razão. Mas optei pela
economia pelo poder de tratar
assuntos importantes do ponto de
vista da sociedade. A questão da
inovação, do progresso técnico,
são questões apaixonantes. Por
que um país se desenvolve e outras regiões do mundo não se desenvolvem? O que é preciso fazer
para darmos um salto nesse desenvolvimento? Foram respostas
que procurei na área.
março/abril 2011
Artigo
Uma análise do turismo no
Brasil e suas perspectivas
*Wilson Abrahão Rabahy
O turismo constitui-se em uma
importante atividade econômica,
capaz de impulsionar o crescimento
de algumas regiões no Brasil. As atividades turísticas preponderam nas
regiões mais desenvolvidas, mas,
em termos relativos, a renda gerada
pelo turismo no Nordeste corresponde a 6,5% do seu Produto Interno Bruto (PIB), enquanto que no
Sudeste, dada sua maior diversidade de atividades produtivas, representa apenas 1,8%, sendo a média
do País estimada em 2,5%. Assim,
a diminuição de desigualdades regionais de renda também é um dos
benefícios do turismo.
Além disso, por se constituir preponderantemente em uma atividade
do setor de serviços, que notadamente utiliza mão-de-obra de forma
mais intensiva, o potencial gerador
de emprego do turismo também é
muito relevante. Segundo pesquisa
do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), as atividades
características do turismo brasileiro
respondem por cerca de 6% do emprego total do País, sendo mais de
50% devido ao setor de alimentação,
que, como se sabe, atende também
o consumo dos não turistas. Numa
versão preliminar da Conta Satélite
do Turismo, estudo realizado pela
Fundação Instituto de Pesquisas
março/abril 2011
Econômicas (FIPE), estima-se que a
parcela exclusiva do emprego gerado
pelo turismo é da ordem de 3,3%.
O turismo também pode resultar como importante atividade geradora de divisas, particularmente
quando o excursionismo receptivo
internacional é expressivo. Não é o
caso ainda do Brasil, em que a relação do turismo interno é cerca de
nove vezes superior ao receptivo
de estrangeiros.
Tal situação é decorrente, de um
lado, da força do mercado interno
brasileiro, e, de outro, de sua localização, relativamente distante dos
principais emissores mundiais, Europa, Ásia e América do Norte, que
respondem por mais de 80% do
emissivo mundial. E há o efeito do
real valorizado. Assim, em termos do
mercado internacional, em número
de turistas, o Brasil detinha em 2009
apenas 0,54% do total.
Dado o tamanho de seu território,
com diversos atrativos e belezas naturais, é adequado dizer que o Brasil
ainda dispõe de enormes potencialidades para absorção de maiores
parcelas desse mercado mundial.,
Particularmente, na medida em que
aumenta o tempo de lazer, há o desenvolvimento da tecnologia dos
transportes diminuindo custos e o
tempo das viagens, e o País se torna
mais conhecido. Em especial, a partir da ocorrência de mega eventos,
previstos para os próximos anos,
como a Copa do Mundo em 2014 e
as Olimpíadas em 2016.
Mercado mundial
do turismo
O número de viagens internacionais realizadas em todo o mundo
vem crescendo consideravelmente
nos últimos 50 anos (taxas de crescimento de 5,5% a.a., contra 3,6%
a.a. do PIB mundial em valores constantes), embora, ao longo do tempo apresenta flutuações associadas
aos ciclos da economia mundial. De
certa forma, o movimento turístico
vem acompanhando com vantagens
o crescimento da economia mundial,
medido pelo PIB, e em relação ao total das exportações mundiais.
Perspectivas do turismo
brasileiro no mercado
mundial
Considerando que se verifica uma
grande concentração das viagens
na própria região de origem, a distante localização do País em relação
às principais fontes do emissivo
constitui-se em significativo fator limitante ao crescimento substancial
do receptivo brasileiro. O turismo
mundial atingiu, em 2008, a receita
9
Artigo
de US$ 944 bilhões, enquanto que o
Brasil arrecadou deste total apenas
US$ 5,78 bilhões, representando
somente 0,6%, o que o posiciona na
41ª colocação.
Nesse cenário, as possibilidades
de crescimento do turismo internacional no Brasil dependem principalmente, do desempenho econômico
de seus países fronteiriços, inclusive em termos de taxa de câmbio e
preços. Para os outros mercados as
perspectivas de sua ampliação devem se dar no médio e longo prazo,
a partir da valorização de atrativos
únicos de que dispomos, por meio
da melhoria da infraestrutura, dos
serviços de apoio ao turismo, da
intensificação dos mecanismos de
comercialização e de promoção do
turismo brasileiro, ações estas sustentadas pelo fortalecimento do
turismo doméstico, e agora favorecidas pela ocorrência de grandes
eventos no Brasil (Copa do Mundo
e Olimpíadas, entre outros).
O principal grupo emissivo ao
Brasil, em número de turistas, é a
América do Sul, com 44% do total,
seguido da Europa (34%) e da América do Norte (15,3%), com estas três
fontes acumulando 92,5%. Merece
destaque o aumento de participação da Ásia, que passou de 2,8%, em
1985, para 4,2%, em 2009.
Sabe-se também que os fluxos intercontinentais ao Brasil resultam
em receitas per capita superiores à
média do total das visitas internacionais, que incluem os países vizinhos. Isto ocorre porque o Brasil
representa, em número de turistas,
destino apenas marginal das viagens
intercontinentais, caracterizando-se
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como uma destinação menos massificada, própria de viagens de maior
distância e duração, em geral associadas ao maior nível de renda e de
gastos dos visitantes. A tese implícita a esta análise é a de que as viagens
intra-regionais, mais próximas, são
as mais importantes em número de
visitantes, mas são as que registram
menores gastos per capita e as mais
sensíveis às variações de câmbio e
preços relativos.
A Conta Viagens
Internacionais do Brasil
As variações cambiais acarretam
significativos impactos no saldo da
conta de viagens internacionais do
balanço em conta corrente no Brasil. A taxa de câmbio afeta, com
diferentes intensidades, o lado das
receitas (gasto de estrangeiros no
Brasil) e o das despesas (gastos dos
brasileiros no exterior).
Do lado das receitas, pesquisas
anteriores revelam que apenas os
países limítrofes respondem às variações do câmbio e dos preços relativos. Como resultado, os países
da América do Sul vêm revelando
perdas significativas na participação no receptivo brasileiro, que passa de 58% em 1985 para 44% em
2009, posição que vem sendo ocupada pela Europa (evolui de 22% em
1985 para 34% em 2009, devido, em
especial, a Itália, Alemanha, Portugal, Espanha e França), e pela América do Norte (Estados Unidos).
Quanto ao saldo da conta Turismo, alguns períodos se destacam.
Em um primeiro momento de valorização do real, particularmente
nos anos de 1997 e 1998, o déficit
dessa conta chegou a quase US$ 4,5
bilhões em 1997, por conta da aceleração das despesas. De outro lado,
com a desvalorização do real, observada em 2002 e 2004, são registrados saldos positivos na conta, devidos, principalmente, à expressiva
queda das despesas, que passam de
US$ 5,5 bilhões em 1997/1998, para
US$ 2,5 bilhões em 2003/2004. A
partir de 2005, com nova e gradual
valorização do real e o aumento da
renda do brasileiro, as despesas voltaram a crescer, o que resultou num
déficit na conta viagens de U$$ 10,5
bilhões em 2010. E nessa conta não
entram passagens aéreas.
Perspectivas do
Turismo no Brasil
Embora a importância do turismo em uma dada economia se associe com o significado do turismo
internacional, o que se verifica nos
principais países é que a base para
o crescimento deste setor seja propiciada pela formação e desenvolvimento do mercado interno. Mesmo
em alguns casos em que o mercado
externo se revela o mais importante, o mercado interno, em valores
absolutos, pode representar alta
significância no contexto total.
Na Espanha, um dos países mais
reconhecidos como receptivo do
turismo mundial, esta atividade
responde por 6,6% do PIB, sendo
a relação turismo interno/mundial
igual a um. Nos Estados Unidos, que
em valores absolutos é quase o dobro do receptivo mundial da Espanha, o seu mercado interno supera
em sete vezes as receitas provenientes de outros países. No Brasil esta
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relação está próxima de nove vezes,
em favor do mercado interno.
Assim, o Brasil está inserido no
grupo de países em que o mercado interno do turismo predomina
sobre o internacional, podendo se
constituir em importante base de
sustentação para o próprio turismo
internacional.
Mega Eventos
Os impactos derivados da ocorrência de mega eventos (do tipo
Copa do Mundo, Olimpíadas e Jogos Pan-Americanos), bem como
de outros eventos especiais (Grande Prêmio de Fórmula 1, Fórmula
Indy, festas de carnaval ou religiosas, e congressos internacionais,
entre outros), não se restringem
às avaliações de investimentos
com o enfoque do retorno privado.
Assim, devem ser avaliados seus
resultados sob outras óticas, que
envolvem aspectos de várias naturezas que se repercutem em prazos
mais longos, denominados “legados” desses investimentos.
Baseando-se na experiência dos
Jogos Pan-Americanos, tudo indica que o legado foi particularmente
desfavorável no que diz respeito à
gestão, com implicações nos custos, e quanto à utilização posterior
da infraestrutura de equipamentos
desportivos. As previsões do orçamento do evento foram fortemente
ultrapassadas na execução. Além
disso, os estádios, a vila olímpica, o
parque aquático, entre outros equipamentos desportivos, construídos
com recursos públicos, se transformaram, após o evento, em verdadeiros “elefantes brancos”, como o caso
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do Estádio Olímpico João Havelange, o Engenhão, no Rio de Janeiro
(RJ), que, por falta de previsão de
sua utilização posterior, foi cedido
a um clube de futebol em condições
vantajosas e com relativamente baixo retorno para a sociedade.
Essa parece ser também desde
já a perspectiva quanto à modernização ou construção de estádios
previstos para a Copa de 2014. O
governo federal, por meio do Banco
Nacional do Desenvolvimento (BNDES), se dispõe a financiar parte
significativa desses estádios, desde
que se demonstre um retorno adequado. Ora, até aqui os estádios no
Brasil têm sido utilizados apenas
para partidas de futebol. Vale mencionar que a frequência aos estádios
brasileiros em jogos do campeonato
da primeira divisão de 2009, alcançou média de 17.807 espectadores;
enquanto que, nos campeonatos
alemão e inglês, por exemplo, essa
média foi de 42.565, e 35.600, respectivamente. Na Copa de 2006
na Alemanha, 62% dos estádios
vieram de projetos de empresas de
vários setores. Enquanto isso, no
Brasil, estima-se que dos R$ 5,3
bilhões previstos oficialmente para
essa finalidade, R$ 3,5 bilhões serão
desembolsados pelos governos estaduais, com participação de financiamento federal de R$ 400 milhões
por unidade do BNDES.
Esse alto custo decorre de exigências da FIFA e que foram aceitas
pelo Brasil sem questionamentos
aumentando consideravelmente os
custos do evento. Vale lembrar a
propósito que, no caso de São Paulo, onde o maior estádio é de pro-
priedade de um clube privado, este
não teve condições de atender aos
requisitos da FIFA, que desejava
uma reforma de valor vultoso, e que
o clube não se viu em condições de
enfrentar, mesmo recorrendo a investidores privados.
Nesse cenário tudo indica que no
caso dos estádios será inevitável um
amplo legado de “elefantes brancos”. De qualquer forma, pela experiência do Pan, seria importante
um empenho muito maior na gestão desses empreendimentos, para
evitar que se tornem ainda mais
caros por revisões orçamentárias
injustificáveis e outras distorções
que costumam acontecer diante de
fatos consumados impostos pela
necessidade de concluir os estádios
a tempo do evento.
Na infraestrutura em torno dos
estádios, áreas adjacentes e para o
acesso ao mesmo é que há espaço
para um legado efetivamente utilizável pela população e capaz de gerar um retorno adequado. É aí que
o esforço governamental deve concentrar sua atenção, e novamente
de olho na gestão e execução dos
projetos, sem desconsiderar, contudo, os custos de oportunidade do
montante de gastos com esses investimentos em relação à escala de
prioridades da população brasileira.
*Wilson Abrahão Rabahy é Economista,
Titular do Curso de Turismo na Escola
de Comunicação e Arte da Universidade
de São Paulo (ECA/USP), Pesquisador
Sênior da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) e Conselheiro do
CORECON-SP
11
Artigo
Japão renascerá
após o tsunami
*Teruo Hida
Como descendente de imigrantes
japoneses e ainda mantendo fortes
laços de amizade e de negócios com
o Japão, quero retransmitir uma visão um pouco diferente daquela que,
assim como eu, todos vocês devem
estar sendo bombardeados por meio
da mídia sensacionalista.
A mensagem que descrevo abaixo,
o Japão pós-tsunami, como não poderia ser diferente, está atravessando
uma delicadíssima e grave situação
de infraestrutura, pois o setor energético e de transportes foi bastante
prejudicado e, somando-se a isso,
também como consequência deste
colapso, vemos uma piora nos seus
problemas
econômico-financeiro
que há alguns anos vêm enfrentando. Além de tudo isso, a população
sofre com falta de água, alimentos e
combustíveis.
Caos total, desespero, saques a
supermercados e postos de combustíveis e lojas, greve, fuga, corrida
aos bancos. Este seria o cenário na
maioria dos países que estivessem
nesta situação. Entretanto, não é
isso que vemos, mas, sim, o espírito
de reconstruir, de união, de ajuda e
respeito ao próximo.
Assim como ocorreu durante o
“pós-bomba atômica de Hiroshima
e Nagasaki” durante a 2ª Guerra
Mundial e no terremoto na cidade
12
de Kobe, o Japão sairá mais fortalecido e reconstruído, pois, apesar
dos inúmeros defeitos dos japoneses, o que impera é o respeito e ética
entre todos.
As informações desta matéria foram colhidas de dados recebidos de
amigos japoneses e descendentes, alguns residindo no país e outros com
fortes ligações com o Japão, os quais
relaciono abaixo:
Depoimento: Sr. Edson Kodama
– Secretário Geral da Junior Chamber
International Mundial (JCI), brasileiro nissei, que há 10 anos ocupa o
cargo máximo da JCI (www.jci.cc),
uma organização não governamental (ONG), que tem como objetivo
formar jovens líderes para realizar
mudanças positivas.
“Já na segunda-feira pós-tsunami,
não foi necessário colocar em prática os
cortes de energia e racionamento de água
planejados inicialmente pelo governo,
pois a população já estava fazendo por
conta.Existe, sim, um plano ordenado
de racionamento que está em vigor, mas
este já está abrandado devido à iniciativa da comunidade como um todo.
A verdade é que o povo japonês está
‘dando um show’ de civilidade e serenidade diante da tragédia. Este aspecto
está sendo gradualmente comentado
com frequência no noticiário aqui nos
Estados Unidos. Muitos comparam a
intervenção do exército nas filas para
receber comida ou água que eram disputados aos tapas e socos em outras
ocasiões em recentes tragédias em outros países, e contrapõem com a fila organizada e o respeito ao próximo mostrado desta vez no Japão.
Tenho certeza de que eles vão sobressair a mais este desafio. Estive em
Kobe há poucas semanas. A cidade foi
destruída por um terremoto em 1995.
Você vai hoje a Kobe e não encontra um
vestígio da tragédia.Temos também
Hiroshima, se formos mais para trás.
Reconstruir do nada tem sido a tônica
deste povo.Tenho a convicção de que
uma vez mais, eles vão surpreender a
todos nós. Por isso rezamos e torcemos
por eles. E por isso, a JCI está empenhada com o JCI Operation Hope”.
Depoimento: Sra. Chieko Aoki,
presidente da Blue Tree Hotels, brasileira, residindo parte do ano no
Japão e a outra aqui no Brasil. Foi
casada com o presidente da AOKI
Construction Corporation Japan, que
foi uma das maiores construtora do
Japão dos anos 1980. É uma das empresárias de destaque internacional.
“Onde moro não há este problema
de racionamento de energia porque
é região onde o governo tem grandes
equipamentos que não podem ser desligados. Hoje, por exemplo, fez muito
frio e, com o povo ligando aquecedores,
março/abril 2011
sobe o consumo. Em casa, estamos gastando o mínimo de energia, assim como
todos japoneses.
No mais, é realmente dramática
a situação no local do tsunami e em
menor extensão, mas também difícil.
Quem morava perto das usinas e teve
que evacuar. Imagine mais de 1,5 milhão de pessoas desabrigadas nesta
situação em cerca de 3,5 mil abrigos.
Com falta de gasolina e diesel que dificulta ajuda a locais atingidos. Porém
hoje se conseguiu cobrir a entrega de
produtos de necessidade a quase todos
os abrigos. As doações vêm de praticamente todas as empresas do Japão,
entregando seus produtos.
Solidariedade é um capitulo à parte
que vale a pena compartilhar.
O exagero da mídia é prejudicial, assim peço que compartilhe com o nosso
pessoal e para quem perguntar, porque Tóquio não é cidade fantasma por
conta de usina. Tudo é planejado para
racionamento de energia, com empresas dispensando funcionários mais
cedo para não congestionar somente
em determinados horários; com tragédia assim, as pessoas não ficam por aí
fazendo compras e comendo à vontade
nos restaurantes. O Japão é país solidário e grupal, assim, se uma parte
está sofrendo, todos sofrem juntos e,
nesse momento, o espírito é de “gaman”, que todo japonês está falando, ou
março/abril 2011
seja, saber suportar, ter paciência, ser
tolerante com as dificuldades. Outro
termo que está sendo bastante usado
é “kansha no kimoti”: espírito de gratidão. As pessoas estão valorizando a
vida, a energia, ajuda, etc. Agradeço a
preocupação e continuem orando pelo
povo japonês.”
Depoimento: Anne, uma jovem
japonesa local, moradora da cidade
de Sendai, centro da catástrofe no
Japão, que perdeu a sua casa durante o tsunami e atualmente reside na
casa de amigos, dividindo alimentos,
o teto, e auxiliando como voluntária
na recuperação da cidade.
“As coisas aqui em Sendai têm sido
mais que surreais, mas eu sou abençoada, pois tenho muitos amigos que estão
me ajudando muito. Após a catástrofe,
eu e meus familiares estamos morando
na casa de amigos. Nós dividimos tudo,
desde água, comida, querosene para
o aquecimento. Nós dormimos lado a
lado em um quarto, fazemos as refeições à luz de vela, dividimos histórias.
É muito caloroso, amigável e incrivelmente lindo, apesar de estarmos no
meio da tragédia.
Apesar de estar faltando tudo,
quando chegam suprimentos, todos se
alinham ordenadamente, sem bagunça,
com respeito aos mais velhos e fracos.
Todas as casas ficam abertas, por segurança aos tremores que continuam
a acontecer. Na última noite, tremores
ocorreram a cada 15 minutos, as sirenes não paravam de tocar e os helicópteros passavam a toda hora.
Não temos tomado banho há dias.
Sinto-me melada, mas não desconfortável, pois tem tantas outras coisas tão
mais importantes para se preocupar.
É muito lindo ver as pessoas deixando
de lado tudo o que é supérfluo, materialista, e retornando às nossas raízes,
buscando somente o necessário para a
nossa sobrevivência.
Hoje de manhã, acordei com um
galão de água e um pouco de verduras
na porta da minha casa. Não sei quem
deixou, mas estavam lá. Pessoas desconhecidas perguntam entre si se está
tudo bem, se necessitam de ajuda.
Com esta minha experiência real
nesta catástrofe, eu acredito que algo
muito revolucionário deve estar por
acontecer no mundo, pois sinto que
uma grande tsunami vai abraçar a humanidade e trazer algo muito melhor
para todos.”
E, para concluir, quero dizer que
o povo japonês irá sair desta delicada situação mais fortalecido e unido;
inclusive, trazendo junto mais adeptos à sua cultura e competência em
várias partes do mundo.
* Teruo Hida é Economista e Conselheiro
do CORECON-SP
13
Artigo
2010: o ano da recuperação
*Vera Martins da Silva
No início de março de 2011, a Fundação Instituto Brasileiro de Pesquisa
e Estatística (FIBGE) divulgou as informações das Contas Nacionais Trimestrais, com o Produto Interno Bruto (PIB) estimado em R$ 994 bilhões,
dos quais R$ 846 bilhões referem-se
ao valor adicionado a preços básicos e
R$ 148 bilhões referem-se aos impostos indiretos, líquidos de subsídios.
Segundo o FIBGE, responsável pelo
sistema de contas nacionais, o valor
do PIB em 2010 alcançou R$ 3.6785
bilhões, o que significa um crescimento real de 7,5% sobre o ano de 2009.
Sem dúvida, é um dado animador,
considerando que a maioria dos países
economicamente desenvolvidos ainda
se encontra patinando para a recuperação de suas economias. No entanto,
devemos notar que esse crescimento
é obtido sobre um período de relativa
estagnação da economia brasileira.
A tabela 1 e os gráficos mostram a
evolução dos agregados macro, a partir do primeiro trimestre do ano de
2007. O gráfico mostra claramente a
evolução recente do produto brasileiro em forma de “v”; a crise internacional teve, de fato, um impacto negativo
na economia doméstica, que passou a
desacelerar e a ter crescimento negativo a partir do último trimestre de
2008 até o último trimestre de 2009.
O ano de 2010 foi de recuperação da
economia, com crescimentos persistentes do PIB trimestral.
O gráfico 1 também mostra que o
investimento teve um desempenho
pior do que o PIB, descrevendo uma
trajetória de “v” mais pronunciada, o
que era de se esperar, por ser uma variável relativamente mais instável. A
tabela 1 também exibe que o terceiro
e quarto trimestres de 2010 tiveram
TABELA 1 - Grandes agregados macro -taxa acumulada em quatro trimestre's
Em relação ao mesmo
período do ano anterior
-%
Período
PIB
Consumo das
Famílias
Consumo do API
Formação Bruta
de Capital Fixo
Exportação
Importação
2007.I
4,2
5,4
3,2
9,1
4,4
19,5
2007.II
5,3
5,6
4,8
10,9
7,9
20,5
2007.III
5,6
5,7
6,1
12,7
6,0
20,1
2007.IV
6,1
6,1
5,1
13,9
6,2
19,9
2008.I
6,4
6,0
5,0
15,5
4,5
18,6
2008.II
6,4
6,2
3,5
16,2
3,1
19,8
2008.III
6,7
6,7
3,2
17,1
3,7
19,7
2008.IV
5,2
5,7
3,2
13,6
0,5
15,4
2009.I
2,9
4,7
3,0
5,5
-2,5
7,3
2009.II
0,5
3,8
3,5
-3,1
-6,8
-2,3
2009.III
-1,7
3,0
2,5
-11,1
-10,5
-11,2
2009.IV
-0,6
4,2
3,9
-10,3
-10,2
-11,5
2010.I
2,2
5,7
3,6
-1,0
-4,2
-0,3
2010.II
5,3
6,6
4,1
10,0
0,5
13,0
2010.III
7,5
7,0
4,8
20,2
6,7
29,4
2010.IV
7,5
7,0
3,3
21,8
11,5
36,2
Fonte: Contas Trimestrais, site da FIBGE, acesso em 06 de março de 2011.
14
março/abril 2011
um aumento significativo do investimento, o que indica um ambiente
favorável de expectativas empresariais e também o efeito positivo dos
investimentos públicos, certamente
ampliado pelo momento eleitoral.
O consumo das famílias, que estava crescendo aceleradamente entre
2007/2008, sofreu uma redução, mas
em nenhum momento do período
de crise teve uma queda absoluta, do
mesmo modo que o gasto do governo
(consumo da administração pública –
APU). De modo que o que salvou a economia no período de crise foi o consumo, no setor privado pelos incentivos
ao dispêndio por redução de impostos
e condições de financiamento e, pelo
lado do governo, pela adoção de uma
política anticíclica. Ver gráfico 2.
Em relação ao setor externo da economia, o gráfico 3 mostra que a crise
também derrubou as exportações e
importações, e que 2010 também foi o
ano da recuperação, com um aumento
significativo das importações, efeito
do recobramento econômico em si
mesmo e também de um câmbio apreciado em relação ao dólar americano.
A queda do valor do dólar é resultado
do acentuado crescimento da entrada
de recursos externos, principalmente
do investimento estrangeiro direto.
Para o consumidor é um bom momento para importar barato, mas
um grande problema para alguns setores industriais, que sofrem com a
competição de importados e alguns
sub-setores, em que as suas exportações deixam de ser competitivas.
* Vera Martins da Silva (Conselheira do
CORECON-SP e professora da Universidade
Federal de São Paulo (UNIFESP/Osasco)
março/abril 2011
15
ais do que um profissional, o economista reúne
todos os conhecimentos e habilidades para
promover o desenvolvimento social e econômico.
A atuação do Conselho Regional de Economia de
São Paulo busca valorizar cada vez mais a profissão e o
profissional de economia, unindo a categoria à sociedade.
Organiza e mantém o registro profissional, fiscaliza a
atuação dos economistas e incentiva os jovens a
optarem pela carreira.
O registro no CORECON-SP habilita o economista a
exercer a profissão e resguarda a sociedade da ação de
maus profissionais. Sem o registro, a atividade se torna
ilegal e o bacharel pode ser punido.
Registre-se no CORECON-SP e tenha acesso aos serviços
oferecidos a profissionais e estudantes.
www.coreconsp.org.br
,
a
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s
i
m
o
n
o
c
E
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n
a
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r
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s
n
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o mundo.
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