perfil profissional entrevista | Dr. Oscar P. dall’Igna Tecnologia auxilia pacientes comDoença de Parkinson Moderna técnica de neuroestimulação já é realidade no Rio Grande do Sul A Doença de Parkinson é uma doença neurológica progressiva que afeta 6,3 milhões de pessoas em todo o mundo de acordo com a Associação Europeia da Doença de Parkinson. Apesar de ainda não ter cura, o Parkinson é alvo de importantes estudos que visam amenizar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. De acordo com o neurocirurgião Oscar P. Dall´Igna, a reposição de neurônios mortos através de células-tronco vem apresentando resultados ainda pouco claros. Ao contrário da terapia com Estimulação Cerebral Profunda – DBS, que estimula áreas específicas do cérebro com sinais elétricos e tem sido vista como a grande revolução na última década para o tratamento da enfermidade. O DBS já é utilizado nos Estados Unidos e na Europa há cerca de dez anos. Segundo o Dr. Oscar, o Rio Grande do Sul conta com um dos mais experientes grupos na área em atuação no Brasil. “Tanto os planos de saúde quando o governo têm sistematicamente arcado com os custos desse tratamento”, reforça o especialista, que nesta entrevista também fala dos desafios da profissão de neurocirurgião e do quanto considera gratificante auxiliar seus pacientes com doenças neurológicas avançadas. 18 | REVISTA NEWS | NOVEMBRO 2012 Dr. Oscar P. Dall´Igna é graduado em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especializou-se em Neurocirurgia na Santa Casa de Porto Alegre com fellowship realizado na cidade de Phoenix, Estados Unidos – Barrow Neurological Institute. É membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia e realiza doutorado em Ciências Biológicas pela UFRGS. Integra a equipe de Neurocirurgia Funcional do Hospital Moinhos de Vento e atende há cinco anos em consultório privado em São Leopoldo (Basile Especialidades Médicas). REVISTA NEWS — Quando devo suspeitar que alguém próximo tem a Doença de Parkinson? Dr. Oscar P. Dall´Igna — A Doença de Parkinson caracteriza-se por tremor, que é o sintoma usualmente mais reconhecido, associado à lentificação e rigidez dos movimentos. Tais achados usualmente aparecem de forma gradual, no decorrer de vários anos, o que muitas vezes atrasa o diagnóstico e o tratamento adequado. NEWS — Atualmente sabese qual a origem dessa doença? Dr. Oscar — Ela é causada pela perda progressiva de neurônios de uma área específica no tronco cerebral. Apesar de haver casos transmitidos de pai para filho, a maioria dos Dr. Oscar — Diversos grupos vêm estudando a reposição de neurônios mortos através de células-tronco com resultados ainda pouco claros. Atualmente, grande foco tem-se dado à terapia com Estimulação Cerebral Profunda – DBS, a qual é a grande revolução na última década para o tratamento da Doença de Parkinson avançada. NEWS — Como funciona esse tratamento com Estimulação Cerebral Profunda? Dr. Oscar — Após adequada seleção dos pacientes, implanta-se um aparelho semelhante a um marcapasso que envia estímulos elétricos ultraprecisos ao cérebro. Esses buscam corrigir o funcionamento do cérebro doente e trazer uma melhora significativa dos sintomas quando comparado ao tratamento somente com remédios. O implante é feito com o paciente acordado e usualmente se observa melhora no tremor já no momento da cirurgia. NEWS — Esse tratamento já está disponível? Dr. Oscar — Esse tratamento já está em uso nos Estados Unidos e Europa há cerca de dez anos, e o nosso estado conta com um dos grupos com maior experiência na área no Brasil. Tanto planos de saúde quando o governo têm sistematicamente arcado com os custos desse tratamento. NEWS — Quem pode se beneficiar da estimulação cerebral profunda? Dr. Oscar — O grupo mais beneficiado é o de pacientes com a Doença de Parkinson avançada e que tenham bom estado geral de saúde. Todos os pacientes com Parkinson no qual os sintomas já persistem há alguns anos e não têm os sintomas controlados com medicação deveriam ser avaliados quanto à possibilidade de implantar um neuroestimulador. A cirurgia só é indicada após rigorosa avaliação multidisciplinar, mas por vezes o atraso na avaliação leva a uma perda de oportunidade para esse tratamento. NEWS — Quais são as perspectivas futuras desse tratamento? Dr. Oscar — A neuroestimulação já está liberada para outros distúrbios do movimento – como tremor essencial e distonias – e epilepsia. São realizadas cirurgias, após rigorosa seleção, também “Todos os pacientes com Parkinson no qual os sintomas já persistem há alguns anos e não têm os sintomas controlados com medicação deveriam ser avaliados quanto à possibilidade de implantar um neuroestimulador” Dr. Oscar P. Dall´Igna pacientes não têm histórico familiar ou qualquer registro de situação que possa ter causado a doença. NEWS — Como é feito o tratamento do paciente com Parkinson? Dr. Oscar — O aspecto essencial é o diagnóstico correto, feito por médico com experiência na área, pois outras doenças podem ter sintomas semelhantes. Após, o tratamento usualmente se baseia em medicamentos que repõe dopamina, substância que está em falta no cérebro com Parkinson. NEWS — Existe cura para essa doença? Dr. Oscar — Ainda não. Os medicamentos são muito úteis no controle dos sintomas. Com o passar dos anos e a progressão da doença, mesmo o melhor tratamento com fármacos em geral se torna insuficiente para o controle da doença. NEWS — Muito se fala de tratamento com célulastronco para a doença de Parkinson. Isso já é uma realidade? Esquema de implante de estimulador cerebral profundo em paciente com Doença de Parkinson para pacientes com distúrbio obsessivo-compulsivo, com bons resultados. Há pesquisas em andamento que estudam essa técnica para tratar depressão, Doença de Alzheimer e até mesmo obesidade. NEWS — Como você se interessou por esta área da Neurologia/Neurocirurgia? Dr. Oscar — O funcionamento do cérebro sempre me fascinou, assim como as modificações que nele ocorrem no curso das doenças. Esta área, chamada de neurocirurgia funcional, nos traz a incrível oportunidade de buscar modificar e normalizar as funções do cérebro, sem lesioná-lo, utilizando-se do que há de mais moderno em tecnologia no mundo. A rotina de trabalho nessa área, ajudando o paciente com doenças neurológicas avançadas, é muito gratificante. NOVEMBRO 2012 | REVISTA NEWS | 19